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Resumo Giorgio Agamben: O que é o povo? (pp. 31-34)

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GIORGIO AGAMBEN: O QUE É O POVO? 
Nas línguas europeias a palavra ​Povo pode designar não só o sujeito político constitutivo 
(o conjunto dos cidadãos como um corpo unitário), mas também o ​povo, ​a classe pobre e 
excluída da política. Uma oscilação de dois polos opostos: um corpo político integral e o 
subconjunto povo como multiplicidade fragmentária de corpos excluídos. No primeiro, uma 
inclusão que se pretende sem restos, no segundo uma exclusão que se sabe sem esperança. 
O povo existe desde sempre e deve se auto purificar aderindo à nação, à ​identidade 
comum (Língua, etnia, cultura). Ou seja, o povo com P minúsculo precisa se “purificar” e aderir 
a nação que o Estado que ela está inserida , mesmo que não seja sua própria nação. Abrindo mão 
da sua própria identidade para adaptar-se ao ​Estado-nação​. 
A luta de classes mencionada por Marx, nada mais é que esta guerra que divide cada 
povo, e chegará ao fim apenas na sociedade sem classes. Quando Povo e povo coincidirem e não 
se falar mais de nenhum dos dois. Apesar dessa luta entre os povos exista desde sempre, ela com 
o tempo sofreu mudanças. Na Roma antiga há a divisão entre populus e plebs, tendo cada um 
suas próprias instituições e magistrados. Já na Revolução Francesa o Povo torna-se o 
depositário único da soberania, e o povo transformou-se em uma presença embaraçante, surgindo 
pela primeira vez, como um escândalo, a exclusão e a miséria. É nessa época que distingue de 
fato o ”Povo” e “povo”, aquele com voz política, e aquele sem. 
Deste modo, na era moderna, a miséria e a exclusão não são apenas conceitos 
econômicos e sociais, mas também políticos (todo o economicismo e o socialismo que parecem 
dominar a política moderna tem na realidade um significado biopolítico). ​O projeto da 
biopolítica busca homogeneizar as nações, excluindo o povo e tornando-o Povo, ao gosto da 
nação. Sendo um projeto excludente e agregacional. Nesse sentido, a nossa época é uma tentativa 
de preencher a cisão que divide o povo, eliminando radicalmente o povo dos excluídos. Um 
exemplo é a Alemanha nazi, o qual o Povo seria aqueles que integram o corpo político nacional; 
e o povo, os judeus. Hoje de maneira diferente, mas análoga, o projeto democrático-capitalista de 
eliminação das classes pobres, através do desenvolvimento, reproduz o povo dos excluídos. 
Deste modo, só uma política que saiba ter em conta essa cisão biopolítica fundamental do 
Ocidente poderá deter esta oscilação e pôr termo à guerra civil que divide os povos. 
 
Agamben, Giorgio. “O que é um povo?”. In. A política dos muitos. Lisboa. Tinta-da-China, 
2010, pp. 31-34.

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