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RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 5 AULA 01: TEORIA GERAL DOS RECURSOS .............................................................. 7 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 CONTEÚDO ..................................................................................................................................... 8 Origem histórica – 01 ...............................................................................................................8 Origem histórica – 02 ...............................................................................................................9 Conceituação ......................................................................................................................... 10 Natureza jurídica .................................................................................................................. 10 Princípios recursais ...............................................................................................................11 Classificação ...........................................................................................................................17 Efeitos dos recursos – Impedimento ao trânsito em julgado ..............................................21 Efeitos dos recursos – Suspensivo ........................................................................................23 Efeitos dos recursos – Devolutivo .........................................................................................24 Efeitos dos recursos – Regressivo e expansivo subjetivo ...................................................25 ATIVIDADE PROPOSTA ................................................................................................................ 25 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 26 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ............................................................................................................ 27 CHAVES DE RESPOSTA................................................................................................29 AULA 02: PRESSUPOSTOS RECURSAIS E SUAS PECULIARIDADES ..................30 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 30 CONTEÚDO ............................................................................................................... 31 Pressupostos de admissibilidade dos recursos ...................................................................31 Pressupostos subjetivos ........................................................................................................32 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 2 Legitimidade ..........................................................................................................................32 Interesse ....................................................................................................................................... 34 Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer ....................................34 Pressupostos objetivos ..........................................................................................................35 Previsão legal ou adequação .................................................................................................35 Tempestividade .....................................................................................................................35 Depósito recursal ...................................................................................................................36 Depósito recursal: discussões e alterações com a Reforma Trabalhista ..........................37 Súmula 128 do TST ................................................................................................................43 Regularidade de representação ............................................................................................55 Previsão de interposição por simples petição .....................................................................59 Irrecorribilidade das decisões interlocutórias ....................................................................61 Instância única nos dissídios de alçada ................................................................................61 ATIVIDADE PROPOSTA ................................................................................................................ 62 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 63 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ............................................................................................................ 64 CHAVES DE RESPOSTA................................................................................................67 AULA 03: RECURSOS EM ESPÉCIE ............................................................................69 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................66 CONTEÚDO ............................................................................................................... 67 Considerações sobre a Lei nº 13.015/2014 .........................................................................67 Objetivos da lei .......................................................................................................................67 Alterações da lei .....................................................................................................................68 Recursos em espécie ............................................................................................................. 68 Embargos (Artigo 894 da CLT) .............................................................................................69 Mudanças legislativas ............................................................................................................70 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 3 Decisões desarmônicas ........................................................................................................ 70 Recurso ordinário (Artigo 895 da CLT) ............................................................................... 70 Súmula nº 124 .............................................................................................................................. 73 Hipótese sumulada de não cabimento................................................................................. 73 Preparo e pedido liminar ...................................................................................................... 74 Fundamentação .................................................................................................................... 74 Embargos de declaração (Artigo 897-A da CLT) ................................................................. 75 Aspectos importantes dos embargos de declaração .......................................................... 76 Pedido de revisão do valor da causa .................................................................................... 80 ATIVIDADE PROPOSTA ........................................................................................................... 81 REFERÊNCIAS ............................................................................................................82 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ........................................................................................................... 83 CHAVES DE RESPOSTA................................................................................................86AULA 04: RECURSOS EM ESPÉCIE (CONTINUAÇÃO) ...........................................87 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................87 CONTEÚDO ...............................................................................................................88 Recursos em espécie ..............................................................................................................92 Peculiaridades do recurso de revista (considerando as referidas alterações legais) .... 92 Jurisprudência uniforme ...................................................................................................... 93 Da Orientação Jurisprudencial SBDI-I 147 .......................................................................... 93 Uniformização de entendimento jurisprudencial .............................................................. 94 Requisitos específicos .......................................................................................................... 95 Divergência jurisprudencial ................................................................................................ 96 Execução fiscal e controvérsia sobre CNDT .........................................................................97 “Defeito formal que não se repute grave” ........................................................................97 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 4 Julgamento do TST .................................................................................................................97 Agravo ................................................................................................................................. 102 Dos tipos de agravo ............................................................................................................. 104 ATIVIDADE PROPOSTA ............................................................................................................. 105 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................106 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ......................................................................................................... 107 CHAVES DE RESPOSTA..............................................................................................110 CONTEUDISTA .............................................................................................................111 5 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Esta disciplina abordará os conceitos, princípios e fundamentos dos recursos no processo do trabalho, proporcionando conhecimento sobre o assunto, bem como uma melhor atuação dos profissionais do ramo trabalhista e de áreas afins. Partindo do exame da legislação e dos princípios que diferenciam os recursos trabalhistas dos demais ramos do Direito Processual, examinaremos sua aplicação a casos concretos à luz da construção normativa, doutrinária e jurisprudencial. Dentro desse estudo, analisaremos, também, as fontes na fase recursal dentro do Direito Processual do Trabalho, com destaque para suas características, sua natureza jurídica, suas limitações, sua eficácia e aplicabilidade. Por fim, trataremos da clássica distinção entre os recursos no processo do trabalho e no processo civil, em sentido amplo e estrito, investigando seus institutos normativos e as regras a eles aplicáveis – a exemplo dos recursos ordinário e de revista, do agravo de instrumento e recursos da fase de execução, e das regras gerais de procedimentos processuais dos recursos. Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 1. Identificar os fundamentos básicos dos recursos no processo do trabalho; 2. Aplicar os princípios peculiares dos recursos articulados com as fontes gerais e específicas – pressuposto indispensável para a solução de casos concretos; 6 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 3. Diferenciar as regras recursais do Direito Processual Civil e do Direito Processual do Trabalho, para fins de aplicação das normas jurídicas pertinentes aos sujeitos da relação de emprego, com base em sua regulamentação geral e em suas peculiaridades. 7 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Introdução Este curso tem como um dos viés o processo do trabalho. Por isso, é de grande relevância o estudo dos recursos admissíveis nessa justiça especializada. A nossa abordagem procura sedimentar conhecimento acerca da teoria geral dos recursos, que é fundamental para posterior assimilação dos recursos em espécie e suas peculiaridades; trabalhar as inovações legislativas e seus influxos diretos na sistemática recursal; e, por fim, enfatizar o entendimento jurisprudencial, o qual, não raramente, servirá de norte tanto para os discentes em plena atividade profissional quanto para os que estão se dedicando, exclusivamente, à vida acadêmica. Objetivo: Conhecer os aspectos fundamentais da teoria geral dos recursos - Origem histórica, conceituação, natureza jurídica, princípios, classificação, efeitos e forma de interposição-, com ênfase na sistemática recursal do processo do trabalho. 8 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Conteúdo Origem histórica - 01 Segundo o professor Rogério Greco, a noção de recurso, ou seja, de um remédio que possibilite o reexame de decisões judiciais desfavoráveis, nasceu junto com a racionalidade humana, pois, quando alguém considerava uma decisão injusta, procurava revê-la. Muito antes do surgimento de institutos, como a appellatio romana, que moldaram os recursos que atualmente conhecemos, a antiguidade clássica conheceu inúmeros outros remédios que, ainda que não reformassem ou anulassem as decisões judiciais, possibilitavam ao vencido subtrair-se dos seus efeitos. (GRECO, Rogério. Princípios de uma teoria geral dos recursos. Revista Eletrônica de Direito Processual). Predomina na doutrina, contudo, que o marco histórico do sistema recursal é Roma Imperial pouco antes da era cristã, pois foi com a organização política desta e consequente concentração dos poderes na pessoa do imperador que a atividade jurisdicional se afastou da figura do árbitro privado e passou a ser legitimamente exercida pelo Estado. Nessa época havia o pretor oficial que representava o império estatal, denominado juiz da causa, cujas decisões passaram a poder ser impugnadas através de recurso dirigido ao imperador para reexame. Acompanhe! Portugal também teve um papel fundamental na sedimentação dos recursos processuais: com as Ordenações Afonsinas criou a apelação e com as Ordenações Manuelinas outras espécies recursais, como agravo no processo e agravo de petição. 9 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO A França, sob influência do liberalismo e do iluminismo, foi determinante na propulsão do sistema recursal, tendo consagrado o princípio do duplo grau de jurisdição e criado a Corte de Cassação, órgão auxiliar do Poder Legislativo destinado a anular as decisões que se apresentassem contrárias à lei. No Brasil, os primeiros registros datam de 1808, com a chegada da família real e criação de um Poder Judiciário independente, o que foi seguido pela Proclamação da Independência, em 1824, e a criação da Corte Suprema do Império, denominada de Superior Tribunal do Império, em 1828. Em 1832 foram veiculadas, no Código de Processo Criminal do Império, as primeiras previsões sobre matéria processual, em que se disciplinava a apelação como instrumento apto a impugnar decisões definitivas ou com força definitivas. Origem histórica - 02 Em substituição a esse diplomalegal, em 1973 foi promulgada a Lei nº 5.869/73 (CPC), com expressivas inovações recursais, entre as quais se pode citar a ampliação da apelação para todas as decisões terminativas, com ou sem julgamento do mérito, os embargos infringentes contra decisão não unânime proferida em apelação ou ação rescisória. O CPC de 1973, durante duas décadas, “operou satisfatoriamente”, porém, a partir de 1994, passou por sucessivas e necessárias reformas — inclusão do instituto da antecipação da tutela, em 1994; alteração do regime do agravo, em 1995; mudança na execução, em 2005/2006 —, o que acabou interferindo em seu arcabouço, seu sistema. A forma sistemática de normas processuais, no entanto, precisa ser preservada, porque se trata de tema não meramente acadêmico, mas de uma necessidade pragmática, qual seja: “grau mais intenso de funcionalidade”. 10 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Daí o Código de Processo civil de 1973 foi revogado pelo Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) que entrou em vigor em 16.03.2016. Registre-se, por fim, que simultaneamente aos debates finais em torno da reforma do CPC, em 21.07.2014, foi publicada a Lei nº 13.015/14, que promoveu alterações de peso no sistema recursal do processo do trabalho, as quais serão objeto de estudo no decorrer desse módulo. Conceituação Abalizada doutrina conceitua recurso, no processo civil, como sendo: O remédio idôneo a provocar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de uma decisão judicial. A partir desse conceito, recurso pode ser entendido como instrumento voluntário de que a parte se utiliza para impugnar decisão judicial que lhe foi desfavorável, o qual consiste em mero conteúdo do direito de ação e é desprovido de autonomia, pois com sua interposição não se origina uma nova ação, mas, apenas, se protrai o estado de litispendência. O Código de Processo Civil vigente, no Título II capítulo I destinado a recurso, furtou-se de definir tal instituto, tendo optado por tratar diretamente das espécies recursais (994 do CPC/15). A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por sua vez, também não o define, apenas enumera as espécies recursais no Artigo 893 e incisos. Natureza jurídica Ao tratarmos da natureza jurídica do recurso, pretendemos saber se o mesmo consiste em ação autônoma ou seria um prolongamento de ação já existente? Há divergência doutrinária, motivo pelo qual duas correntes surgiram: 1ª Corrente: O recurso tem natureza jurídica de ação autônoma de 11 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO impugnação. “Seria, pois, uma nova ação, de natureza constitutiva negativa, independente daquela que surgiu com a petição inicial”. (Carlos Henrique Bezerra Leite). Uma vez exercido o direito de recorrer, depois de proferida decisão terminativa, estar-se-ia diante do exercício do próprio direito de ação. O recurso se equipararia a uma ação rescisória. É defendida por Gilles, Betti, Provinciali, segundo o Professor Nelson Nery Júnior. Não identificamos autores nacionais que a defenda. Posição minoritária. 2ª Corrente: O recurso tem natureza jurídica de prolongamento do exercício do direito de ação e não pode ser entendido como exercício do próprio direito de ação, porque para a sua interposição pressupõe-se a existência de lide pendente de julgamento, isto é, acerca da qual não se operou a coisa julgada. É o entendimento majoritário e defendido por Sérgio Bermudes, Nelson Nery Júnior, Carlos Henrique Bezerra Leite, entre outros. Princípios recursais Os ditos princípios recursais são relevantes quanto à aplicação das regras da Consolidação das Leis do Trabalho e do sistema recursal como um todo. Porém, são tratados de maneiras diferentes, tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência, alguns, inclusive, sequer são reconhecidos. Escolhemos alguns que julgamos mais importantes. A seguir você conhecerá os princípios: do duplo grau de jurisdição; da unirrecorribilidade; e da fungibilidade ou conversibilidade. Princípio do duplo grau de jurisdição Segundo a Constituição Federal de 1988, “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (Art. 5º, LV). 12 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Aqui interessa questão levantada pela doutrina, que consiste em saber se, com tal previsão, o legislador constituinte originário assegurou ao jurisdicionado o duplo grau de jurisdição, como garantia fundamental. Luiz Guilherme Marinoni, ao tratar do caráter constitucional do duplo grau de jurisdição, afirma que o aludido inciso do Art. 5º garante os recursos inerentes ao contraditório, vale dizer, o direito aos recursos previstos na legislação processual para um determinado caso concreto, ressalvando que, para uma certa hipótese, pode o legislador infraconstitucional deixar de prever a revisão do julgado por um órgão superior. Esse autor registra, ainda, os inconvenientes causados pelo duplo grau de jurisdição, mormente no tocante ao princípio da oralidade e à credibilidade do Judiciário. Mas, respeitável doutrina se posiciona de forma contrária, defendendo se tratar de princípio de caráter constitucional, ligado à moderna noção de Estado de Direito. É importante frisar que até mesmo estes que defendem se tratar de garantia constitucional admitem a possibilidade de que, em dadas situações, seja tal princípio excepcionado, como se verifica no caso do julgamento de recurso de apelação, na forma do Art. 515, § 3º, do CPC. Outro exemplo dessa restrição seria a previsão da Lei nº 5.584/1970, Art. 2º, § 4º, segundo a qual, contra decisões prolatadas nos dissídios de alçada (que não ultrapassam dois salários mínimos vigentes quando do ajuizamento da ação) não caberá recurso, salvo se versarem sobre matéria constitucional. Por outro lado, convém registrar o fato de que o duplo grau de jurisdição é indissociável do interesse estatal de que as decisões proferidas pelo Poder Judiciário possam ser submetidas a uma nova apreciação, em reforço à ideia de controle das decisões judiciais. Nesse sentido, Antônio Carlo de Araújo Cintra (1999) ressalta o caráter político do duplo grau de jurisdição, nos termos seguintes: 13 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO ... o principal fundamento para a manutenção do princípio do duplo grau é de natureza política: nenhum ato estatal pode ficar imune aos necessários controles. O Poder Judiciário, principalmente, onde seus membros não são sufragados pelo povo, é, dentre todos, o de menor representatividade. Não o legitimaram as urnas, sendo o controle popular sobre o exercício da função jurisdicional ainda incipiente em muitos ordenamentos, como o nosso. É preciso, portanto, que se exerça ao menos o controle interno sobre a legalidade e a justiça das decisões judiciárias. Eis a conotação política do princípio do duplo grau de jurisdição. Princípio da unirrecorribilidade É também denominado princípio da singularidade ou da unicidade recursal. Significa que para cada decisão cabe um recurso, ou seja, não se admite que seja simultaneamente interposta mais de uma espécie recursal contra a mesma decisão. O Código de Processo Civil de 1939 fazia expressa previsão a esse princípio. O CPC de 1973 não o faz, porém, a doutrina o tem como regra implícita no sistema processual. A singularidade recursal é relativizada diante de dúvida objetiva, isto é, quando a lei não precisa do recurso a ser interposto e há divergência doutrinária e jurisprudencial. Nesse sentido decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por sua4ª Turma, no Recurso Especial nº 1.035.169/BA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, cuja ementa tem o seguinte teor: RECURSO ESPECIAL. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA PROFERIDA EM SENTENÇA. AGRAVO DE INSTRUMENTO E APELAÇÃO. INTERPOSIÇÃO CUMULATIVA. EXISTÊNCIA DE DÚVIDA OBJETIVA. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. CABIMENTO. 1. Aplica-se o óbice previsto na Súmula n. 282/STF quando as 14 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO questões suscitadas no recurso especial não tenham sido debatidas no acórdão recorrido. 2. Contra sentença complexa, isto é, aquela que decide questão interlocutória e de mérito, é cabível recurso de apelação. 3. Excepcionalmente, admite-se a interposição de agravo de instrumento contra parte da sentença que tenha conteúdo de decisão interlocutória e de apelação contra a questão de mérito, tendo em vista a existência de divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à matéria, o que configura dúvida objetiva e atrai a aplicação do princípio da fungibilidade. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido. “Costuma-se indicar exceções a esse princípio, principalmente no tange aos embargos de declaração e à hipótese descrita no art. 498 do CPC, em que seriam cabíveis, contra uma mesma decisão, recurso especial e recurso extraordinário, ao mesmo tempo, sob pena de preclusão. Porém, cada um dos recursos interpostos contra tais decisões tem função específica, não se confundindo com a finalidade da outra espécie recursal. Desta forma, ‘compreendendo que o princípio da unicidade preconiza que, para certa finalidade, contra certo ato judicial deve ser cabível apenas uma modalidade recursal, parece ser correto concluir que o princípio tem plena aceitação no direito brasileiro" (MARINONI, ARENHART, 2005, p. 511). Princípio da fungibilidade ou conversibilidade Fungibilidade recursal ocorre quando a parte interpõe um recurso quando, na verdade, a decisão deveria ter sido impugnada por outro, e, mesmo assim, admite-se a conversão daquele neste. Tem-se situação de clara aplicação do princípio da instrumentalidade das formas. A conversibilidade, todavia, pressupõe: 1º - Inexistência de erro grosseiro, ou seja, é necessário que não haja comando legal identificando o recurso cabível para aquela determinada situação, a dúvida quanto ao recurso a ser interposto deve ser razoável; 2º - Não preclusão do prazo recursal, isto é, o recurso erroneamente interposto tem que obedecer ao prazo legal para apresentação do recurso que seria cabível. 15 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO No que se refere ao prazo, temos: ● Orientação Jurisprudencial nº 69, SBDI-II, do TST: 69. Fungibilidade recursal. Indeferimento liminar de ação rescisória ou mandado de segurança. Recurso para o TST. Recebimento como agravo regimental e devolução dos autos ao TRT. Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da petição inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princípio da fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de não conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que aprecie o apelo como agravo regimental. ● Súmula nº 421, item II, do TST: EMBARGOS DECLARATÓRIOS CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR CALCADA NO ART. 557 DO CPC. CABIMENTO (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 74 da SBDI-2) - Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005 I - Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de recurso, prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo e conclusivo da lide, comporta ser esclarecida pela via dos embargos de declaração, em decisão aclaratória, também monocrática, quando se pretende tão-somente suprir omissão e não, modificação do julgado. II - Postulando o embargante efeito modificativo, os embargos declaratórios deverão ser submetidos ao pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo, em face dos princípios da fungibilidade e celeridade processual (ex-OJ nº 74 da SBDI-2, inserida em 08 nov. 2000). Vejamos decisão em que o Tribunal Superior do Trabalho empregou tal conversão: TST - MANDADO DE SEGURANCA MS 14957420115000000 1495- 74.2011.5.00.0000 (TST) Data de publicação: 18/11/2011 Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. 16 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. Nos termos do art. 235, VIII, do Regimento Interno desta Corte e pela aplicação analógica do item II da Súmula nº 421 do TST e em cumprimento aos princípios da fungibilidade e celeridade processual, convertem-se os presentes embargos de declaração em agravo regimental. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO MONOCRÁTICA. INDEFERIMENTO DA AÇÃO MANDAMENTAL IMPETRADA CONTRA DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. A decisão judicial que transitou em julgado não comporta impugnação por mandado de segurança, à vista do art. 5º, III, da Lei nº 12.016 /09, da Orientação Jurisprudencial nº 99 da SBDI- 2 e da Súmula nº 33/TST. Agravo regimental de que se conhece e a que se nega provimento. Na sequência e para finalizar, as informações sobre os princípios recursais que escolhemos, você conhecerá o princípio da voluntariedade e o da proibição da reformatio in pejus. Princípio da voluntariedade A sistemática recursal trabalhista também é norteada pelo princípio da voluntariedade, a parte interessada é que decide se vai recorrer e sobre o que tem interesse de manifestar impugnação. Em sendo o recurso um prolongamento do exercício do direito de ação, o órgão julgador não conhecerá de matérias não questionadas pelas partes, salvo as de ordem pública, sobre as quais, enquanto não houver o trânsito em julgado, não se opera a preclusão (ex.: Artigos 485, III e 337, § 5º ambos do CPC/15). O reexame necessário, também chamado de remessa de ofício, não constitui exceção a esse princípio, porque não tem natureza jurídica de recurso. Princípio da proibição da reformatio in pejus Significa que: “se um único dos litigantes parcialmente vencido impugnar a decisão, a parte desta que lhe foi favorável transitará normalmente em julgado, não sendo lícito ao órgão ad quem exercer sobre ela atividade cognitiva, muito 17 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO menos retirar, no todo ou em parte, a vantagem obtida com o pronunciamento de grau inferior (proibição da reformatio in pejus) (DIDIER JR.; CUNHA, p. 83). Segundo o prof. José Carlos Barbosa Moreira: a) Se o interesse recursal é pressuposto de admissibilidade recursal, seria verdadeira contradição imaginar que para o recorrente possa advir qualquer utilidade de pronunciamento que lhe é desfavorável; b) Se nem mesmo por provocação do apelante poderia o tribunal reformar a decisão para pior, menos ainda se concebe que pudesse fazê-lo sem tal provocação. (DIDIER JR.; CUNHA, 2012, p. 83-84). De acordo com o Artigo 1002 do CPC/15, a impugnação da decisão pode ser total ou parcial; o Artigo 1013 desse mesmo Código prevê que o recurso devolva ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada; e o Artigo 1008, também do CPC, diz que a decisão proferida pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso, quer dizer, que o que não foi recorrido transitou em julgado, não pode ser alcançado para prejudicá-lo. Agasalhando esse princípio, oK Superior Tribunal de Justiça editou o Verbete 45 de sua Súmula: “No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública”. A doutrina do professor Nelson Nery Júnior, todavia, é no sentido de que se tem privilégio odioso instituído em favor da Fazenda Pública, pois reexame necessário não pode ser entendido como recurso voluntário interposto pela parte. Então,caberia agravamento da situação do ente público sem que houvesse quaisquer ofensas a esse princípio. Classificação Ao classificar um instituto, é fundamental que seja informado qual o critério utilizado para tanto. Então, vejamos o recurso, quanto à extensão da matéria, à fundamentação, à forma de recorrer e à autoridade a que é dirigido. 18 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 01 - Quanto à extensão da matéria: Essa modalidade de classificação diz respeito à faculdade que tem o recorrente de decidir se impugnará todos os capítulos recorríveis da decisão, se apenas alguns deles, ou parte de um ou de vários. O recurso pode ser: Total - Diz-se total o recurso que compreende todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida. Nos reportamos a todo conteúdo passível de não conteúdo integral, porque há situações em que a própria lei restringe o que pode ser atacado via recurso, como ocorre, por exemplo, no caso dos embargos infringentes que foram extintos pelo Código de Processo Civil de 2015. Segundo o professor José Carlos Barbosa Moreira, O recurso é total quando o recorrente impugna toda a matéria impugnável, que pode não corresponder a toda a decisão. Se o autor perde em relação a um pedido e ganha em relação a outro, eventual recurso que interponha, contra o capítulo em que se julgou improcedente um de seus pedidos, será total, pois abrangente de todo o conteúdo impugnável, sem que isso signifique que tenha impugnado toda a decisão. Parcial - O recurso é parcial quando o recorrente delibera por se insurgir apenas contra parte do conteúdo da decisão, passível de impugnação. Mas, caso o interessado recorra da parte principal, eventual questão acessória será considerada abrangida no recurso, o que se dá, por exemplo, na hipótese de discussão acerca do termo inicial para fixação do valor de condenação pecuniária, em que o acolhimento do recurso repercutirá na data inicial para a incidência dos juros. A parte não recorrida e que não possa ser considera acessória será alcançada pelo instituto da preclusão, e, em sendo de mérito haverá coisa julgada. No que se refere às questões preliminares, há a especificidade de que, embora sejam comuns à parte recorrida e a não recorrida da decisão, o tribunal somente as conhecerá no tocante a parte impugnada no recurso. 19 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Atenção Atenção ao que diz José Carlos Barbosa Moreira sobre o recurso parcial: “...quaisquer questões preliminares, embora comuns à parte impugnada e à parte não-impugnada da decisão, só com referência àquela podem ser apreciadas pelo tribunal do recurso. Suponhamos, v.g., que a sentença, repelindo a alegação de faltar ao autor legitimatio ad causam, condene o réu ao pagamento de x. Apela o vencido unicamente pata pleitear a redução do quantum a y. Ainda que o órgão ad quem se convença da procedência da preliminar — que, em princípio, como é óbvio, levaria à declaração da carência da ação quanto ao pedido todo —, já não lhe será lícito pronunciá-la senão no que respeita a x-y, única parcela que, por força do recurso (e ressalvada a eventual incidência de regras como a do Artigo 475, nº I, que torne obrigatória a revisão) se submete à cognição do juízo superior. No tocante à parcela y, que não é objeto da apelação — nem, por hipótese, se devolve necessariamente —, fica vedado ao tribunal exercer atividade cognitiva: o capítulo correspondente passou em julgado no primeiro grau de jurisdição. Comentário ao CPC, 12. ed. 02 - Quanto à fundamentação: Esse critério refere-se à liberdade que o recorrente tem para definir a fundamentação do recurso que pretende interpor. O recurso pode ser: • De fundamentação livre: ocorre quando sua causa de pedir não é definida por lei, isto é, o recorrente tem liberdade para suscitar críticas, questionamentos diversos sobre a decisão. A exemplo do que ocorre com o recurso ordinário. 20 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO • De fundamentação vinculada: o recorrente tem o ônus de alegar um determinado vício, nos moldes delineados pelo ordenamento jurídico, sob pena de inadmissibilidade do recurso. Nessa hipótese, a causa de pedir é determinante, como ocorre, por exemplo, nos embargos de declaração, para cuja interposição se impõe que seja alegada omissão, contradição ou obscuridade. O acolhimento ou rejeição desses argumentos, todavia, é matéria de mérito que somente será aferida quando do julgamento. 3 - Quanto à forma de recorrer: Essa análise cinge-se à forma de materialização do recurso, se independente por si, ou condicionado à admissibilidade de um outro, dito principal. O recurso pode ser: • Principal: É assim denominado quando interposto no prazo legal, o que pode ser feito por uma ou mais partes, e independe do conhecimento de outro recurso de igual natureza. • Adesivo: É aquele interposto pela parte recorrida, no prazo para contrarrazões de um recurso principal, e que fica condicionado à admissibilidade deste. Registre-se, ainda, que em havendo desistência do recurso principal, o adesivo não será conhecido. 4 - Quanto à autoridade a que é dirigido: A abordagem aqui é no tocante à autoridade que julgará o recurso interposto pela parte. O recurso pode ser: • Próprio: é o julgado pelo órgão hierarquicamente superior, caso, por exemplo, da apelação que será submetida aos membros do Tribunal de Justiça, 21 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO do recurso ordinário trabalhista sujeito à apreciação do Tribunal Regional do Trabalho etc.; • Impróprio: denominado assim na hipótese em que o julgamento é de responsabilidade da mesma autoridade que proferiu a decisão judicial impugnada. É o caso dos embargos de declaração. Efeitos dos recursos - Impedimento ao trânsito em julgado A interposição do recurso resulta no prolongamento da litispendência, isto é, obsta que a decisão transite em julgado. Sobre esse tema surge a seguinte questão: qualquer recurso interposto impede o trânsito em julgado ou somente aquele que for admitido? Segundo o professor José Carlos Barbosa Moreira, somente o recurso admitido impede o trânsito em julgado. A jurisprudência, contudo, não está sedimentada, pois, ora admite que todo recurso impede que a decisão transite em julgado, ora afirma que o intempestivo ou manifestamente inadmissível não opera esse efeito. O ponto nodal dessa discussão é fixar a data em que a decisão transitou em julgado. Entendemos que seja mais adequado se trabalhar com a data da última decisão, sempre. Nesse sentido, decidiu a Corte Especial do STJ, no EREsp nº 441.252-CE, relatoria do Min. Gilson Dipp: Ementa processual civil - ação rescisória - prazo decadencial - Artigo 495 do código de processo civil - termo a quo - trânsito em julgado da decisão proferida sobre o último recurso interposto, ainda que discuta apenas a tempestividade de recurso - precedentes - embargos rejeitados. 22 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO I - Já decidiu esta Colenda Corte Superior que a sentença é una, indivisível e só transita em julgado como um todo após decorrido in albis o prazo para a interposição do último recurso cabível, sendo vedada a propositura de ação rescisória de capítulo do decisum que não foi objeto do recurso. Impossível, portanto, conceber-se a existência de uma ação em curso e, ao mesmo tempo, várias ações rescisória no seu bojo, não se admitindo ações rescisórias em julgados no mesmo processo. II - Sendo assim, na hipótese do processo seguir, mesmo que a matéria a ser apreciada pelas instâncias superiores refira-se tão somente à intempestividade do apelo - existindo controvérsia acerca desterequisito de admissibilidade, não há que se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda até que o último órgão jurisdicional se manifeste sobre o derradeiro recurso. Precedentes. III - No caso específico dos autos, a questão sobre a tempestividade dos embargos de declaração opostos contra sentença que julgou procedente o pedido do autor refere-se à alteração do serviço de intimação dos atos judiciais, que antes era feita pelo correio para o advogado residente em outra capital, e que posteriormente passou a ser por meio de publicação de edital. IV - Prevalecendo o raciocínio constante nos julgados divergentes, tornar-se-ia necessária a propositura de ação rescisória antes da conclusão derradeira sobre o feito, mesmo que a matéria pendente se refira à discussão processual superveniente. V - Desconsiderar a interposição de recurso intempestivo para fins de contagem do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória seria descartar, por completo, a hipótese de reforma do julgado que declarou a intempestividade pelas instâncias superiores, negando-se a existência de dúvida com relação à admissibilidade do recurso. VI - Embargos de divergência rejeitados. (original sem grifos) 23 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Efeitos dos recursos - Suspensivo Na sistemática processual civil brasileira vige a máxima de que os recursos, em regra, têm efeito suspensivo (Artigo 97 do CPC). O que, todavia, está com os dias contados, pois com a entrada em vigor do CPC/2015 (16.03.2016), o efeito suspensivo das decisões passa a constituir exceção, como se observa no Artigo a seguir: Artigo 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. (Original sem grifos) No processo trabalhista, desde 1968, vige a previsão de que, em regra, os recursos terão efeito meramente devolutivo. Isso viabiliza a execução provisória da decisão. O próprio ordenamento jurídico trata de excepcionar situações em que pode ser dado efeito suspensivo aos recursos, como ora se verifica: A Lei nº 7.701/88, que dispõe sobre a especialização de Turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos e dá outras providências, prevê a possibilidade de deferimento de efeito suspensivo, por prazo determinado, por parte do presidente do TST, nos termos seguintes: Artigo 9º - O efeito suspensivo deferido pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalho terá eficácia pelo prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias contados da publicação, salvo se o recurso ordinário for julgado antes do término do prazo. No mesmo sentido, dispõe a Lei nº 10.192/2001 que: 24 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Artigo 14. O recurso interposto de decisão normativa da Justiça do Trabalho terá efeito suspensivo, na medida e extensão conferidas em despacho do Presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Efeitos dos recursos - Devolutivo Significa que, com a interposição de recurso, transfere-se ao tribunal o conhecimento da matéria pela parte impugnada. O efeito devolutivo é comum a todos os recursos e convém que seja analisado sob dois prismas: Extensão: determina-se pelo conteúdo da impugnação (Artigo 515 do CPC/73 e Artigo 1.013 do CPC/2015). É necessário que seja precisado o que está sendo submetido ao julgamento pelo tribunal, que somente conhecerá a matéria impugnada. Tem-se a dimensão horizontal. Profundidade: precisa as questões que serão examinadas pelo tribunal para decidir o objeto litigioso do recurso. Consiste na análise do recurso em sua dimensão vertical. Tem previsão no Artigo 1.013, § 1º, do CPC/2015. 25 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Efeitos dos recursos – Regressivo e expansivo subjetivo Regressivo É também chamado de efeito de retratação e significa que o juízo que proferiu a decisão pode revê-la, tão logo tome conhecimento do recurso interposto, a exemplo do que ocorre no Agravo de Instrumento (Artigo 529 do CPC e 1.018, § 1º, do CPC/15); ou na apelação contra sentença que indeferiu o pedido inicial (Artigo 296, CPC/73; e 331, CPC/15). Expansivo subjetivo Refere-se à excepcional extensão subjetiva dos efeitos do recurso. “O que se chama de efeito expansivo subjetivo não é uma consequência natural do julgamento de um recurso, mas uma regra própria do litisconsórcio unitário, aplicável no âmbito recursal” (DIDIER JR.; CUNHA, 2012). Atividade Proposta Leitura do artigo: Princípios de uma teoria geral dos recursos. Revista Eletrônica de Direito Processual, Volume V. http://www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito- processual/volume-v/principios-de-uma-teoria-geral-dos-recursos 26 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Referências ALMEIDA, André Luiz Paes de. CLT e Súmulas do TST comentadas. 13. ed. São Paulo: Rideel, 2015. (Série Descomplicada). CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do processo. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 1999. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo J. Carneiro da. Curso de Direito processual civil. 10. ed. Salvador: JusPodiwm, 2012. GRECO, Rogério. Princípios de uma teoria geral dos recursos. Revista Eletrônica de Direito Processual, Volume V. Disponível em: http://www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito- processual/volume-v/principios-de-uma-teoria-geral-dos-recursos. Acesso em: 22 set. 2015, às 12h29. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense. NEVES, Daniel Amorim Assumpção; FUX, Luís (Org.). Novo Código de Processo Civil comparado – Lei 13.105/2015. 2. ed. revista. Rio de janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. SANTOS, J. M. de Carvalho. Repertório enciclopédico do direito brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Borsoi, v. XLV, p. 102. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumula s_Ind_401_450.html. Acesso em: 29 ago. 2015. 27 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Exercícios de fixação Questão 1 Em regra, o Recurso Ordinário: A. Terá apenas efeito devolutivo e suspensivo. B. É dirigido e interposto diretamente no Tribunal Regional do Trabalho competente. C. Exige pré-questionamento da matéria para sua admissibilidade. D. Terá efeito meramente devolutivo. Questão 2 Vênus foi dispensada da empresa Néctar dos Deuses S/A por justa causa. Ajuizou reclamação trabalhista para questionar o motivo da rescisão e postular indenização por dispensa imotivada. Ocorre que a ação foi julgada improcedente pelo juiz da Vara do Trabalho. Inconformada, Vênus resolveu recorrer da sentença. Nessa situação, é cabível interpor: A. Recurso ordinário, no prazo de 05 dias. B. Embargos de declaração, no prazo de 05 dias. C. Recurso de revista, no prazo de 08 dias. D. Apelação, no prazo de 15 dias. E. Recurso ordinário, no prazo de 08 dias. Questão 3 Sobre os recursos no processo do trabalho, marque a opção INCORRETA: A. Os Tribunais Regionais, divididos em Turmas, poderão designar Turma para o julgamento dos recursos ordinários interpostos das sentenças prolatadas nas demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo. 28 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO B. É cabível recurso ordinário para a instância superior das decisões definitivas ou terminativas dos Tribunais Regionais, em processosde sua competência originária, no prazo de 10 (dez) dias, quer nos dissídios individuais, quer nos dissídios coletivos. C. Da decisão denegatória dos embargos caberá agravo, no prazo de 8 (oito) dias. D. O recurso de revista, dotado de efeito apenas devolutivo, será interposto perante o Presidente do Tribunal Regional do Trabalho, que, por decisão fundamentada, poderá recebê-lo ou denegá-lo. Questão 4 A partir de súmula do TST, conclui-se que na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo na hipótese de decisão: A. Que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para juízo do mesmo Tribunal Regional daquele a que se vincula o juízo excepcionado. B. De Vara do Trabalho contrária à súmula ou Orientação Jurisprudencial do TST. C. De Turma do TRT contrária à súmula do mesmo Tribunal. D. Suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal. E. De Vara do Trabalho contrária à súmula ou Orientação Jurisprudencial do TRT a que se vincula. Questão 5 De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho, o Direito Processual Comum é fonte do Direito Processual do Trabalho. Neste caso, está sendo 29 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO aplicado, especificamente, o princípio: A. Da informalidade. B. Da celeridade. C. Da simplicidade. D. Da subsidiariedade. E. Do protecionismo ao trabalhador. Exercícios de fixação Questão 1 - D Justificativa: Artigo 899 da CLT. Questão 2 - E Justificativa: Fundamento artigo 895, inciso I, da CLT. Questão 3 - B Justificativa: Os recursos, no processo do Trabalho, são interpostos no prazo de 08 dias, Lei 5.584, de 1970, artigo 6º, salvo em relação aos Embargos de Declaração e Recurso Extraordinário. Questão 4 - C Justificativa: Com base na Súmula 214-b do TST. Questão 5 - D Justificativa: Artigo 769, da CLT e Artigo 15 do CPC. 30 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Introdução Dando continuidade à disciplina Recursos no processo do trabalho, abordaremos os pressupostos recursais e discussões diversas que surgem quando de sua análise, notadamente, frente à jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. Em seguida, analisaremos algumas das especificidades dos recursos trabalhistas. Objetivo: 1. Estudar os pressupostos recursais — subjetivos e objetivos — e suas peculiaridades; 2. Analisar algumas especificidades dos recursos trabalhistas. 31 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Conteúdo Pressupostos de admissibilidade dos recursos Seja qual for o embasamento jurídico que a parte utilize com o fim de ver seu recurso admitido, o mesmo decorrerá de duas fundamentações inerentes ao ser humano: a primeira consiste no fato de que o homem não se conforma com uma única decisão quando a mesma lhe é desfavorável; a segunda é referente à falibilidade humana. (André Luiz Paes de Almeida). Mas, para recorrer, não é suficiente a existência de vontade de interpor o recurso, por parte do interessado, é necessário também que sejam atendidos alguns requisitos, os quais aqui são chamados de pressupostos de admissibilidade. O juízo de admissibilidade sempre antecederá o de mérito, e o que for decidido nele será determinante para o exame ou não das questões de mérito. Ele pode ser: Positivo Quando o órgão julgador conhece o recurso, com consequente análise de seu mérito. Negativo Quando o recurso deixa de ser conhecido por faltar-lhe algum pressuposto de admissibilidade, seja intrínseco, seja extrínseco. Provisório Ocorre quando o recurso é protocolizado perante o órgão a quo, o qual é responsável pelo juízo provisório de admissibilidade. O que ocorre, por exemplo, com o recurso de apelação no processo civil, com o recurso ordinário no processo do trabalho. É importante que se registre, aqui, o fato de que o juízo 32 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO provisório de admissibilidade, quando negativo, é passível de recurso endereçado ao órgão ad quem. Definitivo Quando o juízo de admissibilidade é exercido diretamente pelo órgão ad quem. A título de exemplo podemos citar o agravo de instrumento. Nesse momento, tratemos dos pressupostos recursais genéricos, em suas modalidades: subjetivos (intrínsecos) e objetivos (extrínsecos), deixando para enfrentar os específicos (comum ao recurso extraordinário, embargos do TST e recurso de revista), quando do estudo dos recursos em espécies. Pressupostos subjetivos Conforme a denominação, os pressupostos subjetivos se referem à parte que tem legitimidade e interesse processual para recorrer e não teve seu poder de recorrer extinto. Os pressupostos subjetivos podem ser assim identificados: • Legitimidade; • Interesse; • Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. A seguir você conhecerá melhor cada um deles. Legitimidade Segundo o Artigo 499 do antigo CPC, “o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público”. Em harmonia com essa previsão o CPC/2015 dispõe que “o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica”. No processo do trabalho aplica-se a mesma sistemática, pois têm legitimidade para recorrer a parte, o terceiro interessado — nessa justiça especializada é 33 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO muito comum a interposição de recurso por parte do INSS —, ou o Ministério Público do Trabalho em hipóteses em que existe interesse de incapazes. “Parte” na concepção ora empregada tem sentido amplo, incluindo os terceiros que intervieram no processo. Nesse sentido é a doutrina do prof. Fredie Didier: Quando a lei menciona “parte vencida” como legitimada a recorrer, que referir- se não só a autor e réu, haja ou não litisconsórcio, mas também ao terceiro interveniente, que, com a intervenção, se tornou parte. O assistente, o denunciado, o chamado etc. recorrem na qualidade de parte, pois adquiriram essa qualidade com a efetivação de uma das modalidades interventivas. No conceito de “parte vencida” também deve ser incluído aquele sujeito processual que é parte apenas de alguns incidentes, como é o caso do juiz, na exceção de suspeição, e o terceiro desobediente, no caso de aplicação da multa do Artigo 77, § 2 do CPC/15. “Terceiro” é aquele que até a decisão recorrida não participava do processo, e com a interposição do recurso passa a fazer parte do mesmo. Segundo 996, parágrafo único do CPC/15 cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. O terceiro tem que comprovar ser titular da relação jurídica discutida em juízo ou de uma reação que com esta guarde conexão e que foi juridicamente prejudicado. O prazo para o terceiro recorrer é o mesmo de que dispõe a parte e terá o mesmo termo inicial e final, já que não existe sua intimação da decisão. O terceiro está obrigado a recolher as custas devidas para interposição do recurso, segundo o STJ: “O terceiro prejudicado que recorrer fará o preparo do seu recurso, independentemente do preparo dos recursos que, porventura, tenham sido interpostos pelo autor ou pelo réu” (Lei nº 11.636/2007, regimento de custas do STJ). 34 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Interesse Para que o recursointerposto seja admitido é necessário que esteja presente a utilidade, isto é, que com o uso desse meio de impugnação a parte espere situação de vantagem que a deixe em condições melhores que aquela em que lhe deixou a decisão recorrida. Além da utilidade, é imprescindível que o uso do recurso seja necessário para que a parte alcance o objetivo desejado. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer trata-se de “requisitos negativos de admissibilidade do recurso”, ou seja, situações que não podem ocorrer para que o recurso seja admitido. Segundo Fredie Didier, “é impeditivo do poder de recorrer o ato de que diretamente haja resultado a decisão desfavorável àquele que, depois, pretenda impugná-la. Por exemplo: da sentença que homologa a desistência, não pode recorrer a parte que desistiu”. Pode ser entendido como fato extintivo do poder de recorrer, por exemplo, o reconhecimento pelo réu da procedência do pedido inicial, a renúncia ao direito de recorrer, pois uma vez consumados não há mais que se falar em interesse de recorrer, pois resultaria em comportamento contraditório, em deslealdade processual. Atenção O Ministério Público tanto pode recorrer como parte quanto como fiscal da correta aplicação da lei. Nesse sentido é o enunciado 226 da Súmula do STJ: “O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente de trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado”. 35 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Pressupostos objetivos Os pressupostos objetivos são de grande relevância para se aferir a sua admissibilidade. São eles: • Adequação; • Tempestividade; • Depósito recursal; • Representação. A seguir conheça cada um deles! Previsão legal ou adequação A parte não pode criar uma espécie recursal ou impugnar a decisão como o recurso que bem entender, pois para cada situação recorrível há um recurso previsto em lei, o qual deve ser adequadamente manejado. A lei disciplina que das decisões definitivas ou terminativas das varas e juízos cabe recurso ordinário para instância superior, então, tendo interesse em recorrer, a parte tem o dever de fazer uso desse recurso, não pode, simplesmente, deliberar por interpor um recurso de revista, por exemplo, porque estará cometendo um erro grosseiro e o recurso será inadmitido. Tempestividade O recurso deve ser interposto no prazo legal, sob pena de ser considerado intempestivo e, por conseguinte, ter sua deserção decretada. Na CLT a regra é: todos os recursos devem ser interpostos no prazo de 08 dias. Quer dizer que, até o último dia do prazo o recurso poderá ser regularmente protocolizado, dentro do expediente de funcionamento do tribunal, asseverando que com a Reforma Trabalhista, Lei 13.467 de 2017, o art. 775 da CLT, 36 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO estabelece que a contagem dos prazos se darão em dias úteis e não mais em dias corridos, como era antes, mantendo a exclusão do dia do começo e a inclusão do dia do vencimento. E, em se tratando de processo eletrônico, o recurso poderá ser interposto até às 24h00min do último dia do prazo, pois essa data é que será considerada como sendo a da interposição. Os entes públicos têm prazo em dobro (Dec.-Lei nº 779/1969). Nesse sentido, veja a jurisprudência do TST: Depósito recursal O depósito recursal consiste em um pressuposto que foi instituído como mecanismo para obstar recursos meramente protelatórios, tendo em vista as peculiaridades dessa justiça especializada e o caráter social do processo do trabalho. Partindo da presunção de que somente o empregador demandado tem interesse em protelar a prestação jurisdicional, o depósito recursal é exigido apenas dele, isto é, o reclamante ou terceiro interessado, pretendendo recorrer, pode fazê-lo sem ultimar tal recolhimento. O valor do depósito recursal é fixado pelo presidente do TST, (Data da divulgação, DEJT-10/07/2015, vigência inicial 01/08/2015, ATO. SEGJUD. GP N°397/2015), e em setembro de 2015, está assim disciplinado: Atenção Embargos de declaração, com prazo de 05 dias, e, atualmente previsto no Artigo 897-A, da CLT; e o recurso extraordinário, com prazo de 15 dias, para alguns autores, constituem exceções ao texto da CLT. 37 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO • Recurso Ordinário: R$ 9.189,00; • Recurso de Revista, Embargos, Recurso Extraordinário: R$18.378,00; • Recurso em Ação Rescisória: R$18.378,00. Tal montante deve ser depositado na conta vinculada ao juízo e corrigido com os mesmos índices da poupança, onde ficará resguardado até julgamento final. Com o julgamento final há duas situações: Caso o recorrente logre êxito e afaste a condenação, o valor lhe será devolvido devidamente corrigido; Em sendo o recurso improvido, a quantia depositada poderá ser liberada em favor do reclamante, o qual poderá executar o acórdão quanto ao saldo remanescente. Depósito recursal: discussões e alterações com a Reforma Trabalhista Acerca desse pressuposto objetivo, convém abordar, ainda, as seguintes discussões, que são muito relevantes para a ordem prática: Ausência de condenação pecuniária: tal depósito é dispensável quando não houver condenação em dinheiro, como, por exemplo, nas hipóteses de condenação em dissídios coletivos, de a sentença ter reconhecido apenas o Atenção As custas correspondem a 2%, percentual este que incidirá sobre o valor da condenação, o valor da causa ou aquele fixado pelo juízo e também devem ser pagas e comprovadas no prazo do recurso, sob pena de deserção (Artigo 789, § 1º, da CLT). , entretanto com a Reforma Trabalhista, há um teto de até quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social (art. 789 da CLT), sendo que anteriormente não existia. 38 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO vínculo empregatício. Nesse sentido é o verbete da Súmula nº 161 do TST: “Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito de que tratam os §§ 1º e 2º do Artigo 899 da CLT”. Empregador beneficiário de gratuidade de justiça: O empregador beneficiário de gratuidade de justiça está obrigado a cumprir esse requisito, caso pretenda recorrer. Isso porque o depósito recursal consiste em uma garantia do juízo e não mera taxa. Beneficiário de gratuidade de justiça pode ser desobrigada de fazer o depósito recursal Cabeleireira obtém isenção de recolhimento de depósito recursal (RR 81/2006- 008-03-40.0) O empregador pessoa física, beneficiário da justiça gratuita, pode ser dispensado do recolhimento do depósito exigido para a interposição de recurso na Justiça Trabalhista. Com esse entendimento, a Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho deu provimento a um recurso de revista e reformou decisão anterior, que exigia o pagamento do depósito recursal. Trata-se de ação trabalhista movida por uma pedicure contra uma cabeleireira. As duas dividiam o trabalho em um salão de beleza em Belo Horizonte e, após cinco anos, romperam a relação profissional. Em ação trabalhista, a pedicure conseguiu obter sentença da 8ª Vara de Trabalho de Belo Horizonte que reconheceu o vínculo trabalhista e determinou o pagamento de verbas rescisórias, no valor aproximado de R$ 10 mil. A cabeleireira entrou com recurso ordinário contestando a sentença, mas o Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região o rejeitou, em razão da não comprovação do depósito recursal, o que caracteriza deserção. O TRT fundamentou sua decisão no entendimento de que a exigência do depósito é pressuposto objetivo para a admissão do recurso.Além disso, também considerou que, embora o juiz de primeiro grau tivesse isentado a cabeleireira 39 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO do pagamento das custas processuais, a isenção não se estendia ao depósito recursal. Ela então apelou ao TST, mediante recurso de revista. Sustentou que estaria desobrigada de tal exigência, alegando não dispor de dinheiro para arcar com as despesas do processo. Mencionando sua condição de pessoa física e beneficiária da justiça gratuita, destacou que a própria Justiça do Trabalho atestara, nos termos da lei, o reconhecimento de sua situação de pobreza. O relator do processo, ministro Pedro Paulo Manus, após ressalvar seu entendimento pessoal no sentido de que a isenção do depósito recursal não está compreendida entre os benefícios da justiça gratuita, manifestou-se pelo provimento ao recurso, tendo em vista o entendimento predominante na Sétima Turma. Citou, como precedentes, três decisões do ministro Ives Gandra Martins Filho. Curvo-me ao entendimento da maioria, ressaltou. Em seu voto, Pedro Paulo Manus assinalou que a Constituição Federal assegura a assistência do Estado, conferindo isonômico acesso à Justiça, com igualdade de tratamento para os que não têm disponibilidade financeira para custear o processo. Constatada, assim, a violação ao direito assegurado no Artigo 5º, capítulo LXXIV, da Constituição Federal, a Turma determinou a reforma da decisão que havia considerado a deserção do recurso e o retorno dos autos ao TRT de origem, para prosseguir no julgamento da questão. 40 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Depósito recursal, massa falida e liquidação: o depósito recursal é ônus atribuído por lei à pessoa jurídica que pretende recorrer de decisão terminativa e tem como objetivo garantir a execução, ainda que parcialmente. O TST, no verbete nº 86 de sua Súmula, sedimentou entendimento no sentido de que massa falida pode recorrer sem cumprir com a obrigação de promover o depósito recursal. Isso, certamente, para evitar maiores prejuízos a esta, ratificado pela Reforma Trabalhista, no art. 899, parágrafo décimo, da CLT. Verbete 86. Deserção. Massa falida. Empresa em liquidação extrajudicial. Não ocorre deserção de recurso de massa falida por falta de pagamento de custas ou de depósito do valor da condenação. Esse privilégio, todavia, não se aplica à empresa em liquidação extrajudicial. Observamos, contudo, que esse mesmo entendimento jurisprudencial consolidado deliberou por afastar desse privilégio as sociedades empresárias que se encontrarem em liquidação extrajudicial. Depósito recursal e pessoa jurídica de direito público: Segundo o Artigo 790-A da CLT, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, suas autarquias e fundações estão isentas do pagamento de custas. Por força das previsões do Decreto-Lei nº 779/69, os entes públicos estão isentos da obrigação de fazer o depósito recursal. Mas, as pessoas jurídicas que explorarem atividade econômica, ainda que vinculadas à Administração Pública, não estão isentas de custas e do depósito recursal (OJ SBDI-I, 13). As sociedades de economia mista também não estão isentas de custas e do depósito recursal, como se conclui do verbete nº 170 da súmula do TST: 170. Sociedade de economia mista. Custas. Os privilégios e isenções no foro da justiça do trabalho não abrangem as sociedades de economia mista, ainda que gozassem desses benefícios anteriormente ao Decreto-Lei nº 779, de 21.08.1969. Cumpre destacar que com a Reforma Trabalhista, o parágrafo nono reduziu pela metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempresas e empresas de 41 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO pequeno porte. O parágrafo décimo isenta, os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial. Além dos itens que você acabou de ver, é muito importante discutir também: Comprovação do depósito recursal depois de interposto o recurso: é admissível que a parte recorrente interponha o recurso em um dia e em outro peticione juntando a comprovação do depósito recursal, desde que tais atos sejam praticados dentro do prazo recursal. Neste sentido é o verbete nº 245, da Súmula do TST: Verbete 245. Depósito recursal. Prazo. O depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo alusivo ao recurso. A interposição antecipada deste não prejudica a dilação legal. Depósito recursal e ação rescisória: Em se tratando de ação rescisória o depósito recursal é exigível na hipótese de ter sido o pedido julgado procedente e de ter havido imposição de condenação pecuniária. Neste sentido é o verbete nº 99, da súmula do TST: Verbete 99. Ação rescisória. Deserção. Prazo. Havendo recurso ordinário em sede de rescisória, o depósito recursal só é exigível quando for julgado procedente o pedido e imposta condenação em pecúnia, devendo este ser efetuado no prazo recursal, no limite e nos termos da legislação vigente, sob pena de deserção. Depósito recursal e ação de indenização: a EC/45 operou mudança no Artigo 114, da Constituição Federal, ampliou a competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização decorrentes de relação de trabalho. Em ratificação a essa previsão legal o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula vinculante nº 22: Súmula 22. A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente 42 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004. Atenção Com isso, o TST editou a Instrução Normativa nº 27/2005, a qual disciplina as normas procedimentais aplicáveis ao processo do trabalho que versem sobre ação de indenização, ressaltando a sistemática recursal e obrigatoriedade de realização do depósito recursal em caso de interposição de recursos. A propósito, vejamos o Artigo 2º dessa Instrução Normativa: Artigo 2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolidação das leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada, aos prazos e às competências. Parágrafo único. O depósito recursal a que se refere o Artigo 899 da CLT é sempre exigível como requisito extrínseco do recurso, quando houver condenação em pecúnia. Assim, caso a sentença arbitre condenação a ser paga pelo empregador, este, para recorrer, terá que fazer o depósito recursal, sob pena de deserção. Diferença de depósito recursal ou custas: havendo diferença do valor recolhido a título de custas ou do depósito recursal. Em caso de condenação solidária, se uma das rés efetuar o depósito, este beneficiará as demais, desde que a parte responsável pelo recolhimento não postule, nas razões de recurso, sua exclusão da lide. A seguir, conheça a Súmula nº 128 do TST e a Instrução Normativa nº 39 do TST. 43 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Súmula 128 do TST 128. Depósito recursal. I – É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, integralmente, em relação a cada novo recurso interposto, sob pena de deserção. Atingido o valor da condenação, nenhum depósito mais é exigido para qualquer recurso. II – Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para recorrer de qualquer decisão viola os incisos II e LV do art. 5º da CF/1988. Havendo, porém, elevação do valor do débito, exige-se a complementação da garantia do juízo. III – Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal efetuadopor uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o depósito não pleitei sua exclusão da lide. Conforme a Instrução Normativa nº 39 do TST Art. 10. Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do parágrafo único, do art. 932, do CPC, §§ 1º a 4º, do art. 938 e §§ 2º e 7º do art. 1007. RESOLUÇÃO Nº 203, DE 15 DE MARÇO DE 2016. Edita a Instrução Normativa n° 39, que dispõe sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do Trabalho, de forma não exaustiva. O EGRÉGIO PLENO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, em Sessão Extraordinária hoje realizada, sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Presidente do Tribunal, presentes os Excelentíssimos Senhores Ministros Emmanoel Pereira, Vice-Presidente do Tribunal, Renato de Lacerda Paiva, CorregedorGeral da Justiça do Trabalho, João Oreste Dalazen, Antonio José de Barros Levenhagen, João Batista Brito Pereira, Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Aloysio Corrêa da Veiga, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Maria de Assis Calsing, Dora Maria da Costa, Guilherme Augusto Caputo Bastos, Márcio Eurico Vitral Amaro, Walmir Oliveira da Costa, Maurício Godinho Delgado, Kátia Magalhães Arruda, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire 44 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO Pimenta, Delaíde Alves Miranda Arantes, Hugo Carlos Scheuermann, Alexandre de Souza Agra Belmonte, Cláudio Mascarenhas Brandão, Douglas Alencar Rodrigues, Maria Helena Mallmann e a Excelentíssima Vice-Procuradora-Geral do Trabalho, Dr.ª Cristina Aparecida Ribeiro Brasiliano, considerando a vigência de novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 17.03.2015) a partir de 18 de março de 2016, considerando a imperativa necessidade de o Tribunal Superior do Trabalho posicionar-se, ainda que de forma não exaustiva, sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015, aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do Trabalho, considerando que as normas dos arts. 769 e 889, da CLT, não foram revogadas pelo art. 15, do CPC, de 2015, em face do que estatui o art. 2º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, considerando a plena possibilidade de compatibilização das normas em apreço, considerando o disposto no art. 1046, § 2º, do CPC, que expressamente preserva as “disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis”, dentre as quais sobressaem as normas especiais que disciplinam o Direito Processual do Trabalho, considerando o escopo de identificar apenas questões polêmicas e algumas das questões inovatórias relevantes para efeito de aferir a compatibilidade ou não de aplicação subsidiária ou supletiva ao Processo do Trabalho do Código de Processo Civil de 2015, considerando a exigência de transmitir segurança jurídica aos jurisdicionados e órgãos da Justiça do Trabalho, bem assim o escopo de prevenir nulidades processuais em detrimento da desejável celeridade, considerando que o Código de Processo Civil de 2015 não adota de forma absoluta a observância do princípio do contraditório prévio como vedação à decisão surpresa, como transparece, entre outras, das hipóteses de julgamento liminar de improcedência do pedido (art. 332, caput e § 1º, conjugado com a norma explícita do parágrafo único do art. 487), de tutela provisória liminar de urgência ou da evidência (parágrafo único do art. 9º) e de indeferimento liminar da petição inicial (CPC, art. 330), considerando que o conteúdo da aludida garantia do contraditório há que se compatibilizar com os princípios da celeridade, da oralidade e da concentração de atos processuais no Processo do Trabalho, visto que este, por suas especificidades e pela natureza alimentar das pretensões nele deduzidas, foi concebido e estruturado para a outorga rápida e impostergável da tutela jurisdicional (CLT, art. 769), considerando que está sub judice no Tribunal Superior do Trabalho a 45 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO possibilidade de imposição de multa pecuniária ao executado e de liberação de depósito em favor do exequente, na pendência de recurso, o que obsta, de momento, qualquer manifestação da Corte sobre a incidência no Processo do Trabalho das normas dos arts. 520 a 522 e § 1º, do art. 523, do CPC, de 2015, considerando que os enunciados de súmulas dos Tribunais do Trabalho a que se referem os incisos V e VI, do § 1º, do art. 489, do CPC, de 2015 são exclusivamente os que contenham os fundamentos determinantes da decisão (ratio decidendi - art. 926, § 2º), RESOLVE Aprovar a Instrução Normativa nº 39, nos seguintes termos: INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 39/2016. Dispõe sobre as normas do Código de Processo Civil, de 2015, aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do Trabalho, de forma não exaustiva. Art. 1° Aplica-se o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja compatibilidade com as normas e os princípios do Direito Processual do Trabalho, na forma dos arts. 769 e 889, da CLT e do art. 15, da Lei nº 13.105, de 17.03.2015. § 1º Observar-se-á, em todo caso, o princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias, de conformidade com o art. 893, § 1º, da CLT e Súmula nº 214 do TST. § 2º O prazo para interpor e contra-arrazoar todos os recursos trabalhistas, inclusive agravo interno e agravo regimental, é de oito dias (art. 6º, da Lei nº 5.584/70 e art. 893 da CLT), exceto embargos de declaração (CLT, art. 897-A). Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: I - art. 63 (modificação da competência territorial e eleição de foro); TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO TRIBUNAL PLENO II - art. 190 e parágrafo único (negociação processual); 46 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO III - art. 219 (contagem de prazos em dias úteis); IV - art. 334 (audiência de conciliação ou de mediação); V - art. 335 (prazo para contestação); VI - art. 362, III (adiamento da audiência em razão de atraso injustificado superior a 30 minutos); VII - art. 373, §§ 3º e 4º (distribuição diversa do ônus da prova por convenção das partes); VIII - arts. 921, §§ 4º e 5º, e 924, V (prescrição intercorrente); IX - art. 942 e parágrafos (prosseguimento de julgamento não unânime de apelação); X - art. 944 (notas taquigráficas para substituir acórdão); XI - art. 1010, § 3º (desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na apelação); XII - arts. 1043 e 1044 (embargos de divergência); XIII - art. 1070 (prazo para interposição de agravo). Art. 3° Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: I - art. 76, §§ 1º e 2º (saneamento de incapacidade processual ou de irregularidade de representação); II - art. 138 e parágrafos (amicus curiae); III - art. 139, exceto a parte final do inciso V (poderes, deveres e responsabilidades do juiz); IV - art. 292, V (valor pretendido na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral); V - art. 292, § 3º (correção de ofício do valor da causa); VI - arts. 294 a 311 (tutela provisória); VII - art. 373, §§ 1º e 2º (distribuição dinâmica do ônus da prova); VIII - art. 485, § 7º (juízo de retratação no recurso ordinário); IX - art. 489 (fundamentação da sentença); X - art. 496 e parágrafos (remessa necessária); XI - arts. 497 a 501 (tutela específica); XII - arts. 536 a 538 (cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade 47 RECURSOS
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