Buscar

370531375-Apresentacao-Livro-Ler-e-Escrever-compromisso-em-todas-as-areas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 11
Introdução 15
Artes visuais
Ler e escrever em artes visuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 23
Isabel Petry Kehrwald
iências
Idéias e palavras na/da ciência ou leitura e escrita:
que a ciência tem a ver com isso? 37
"esar V Machado Lopes e Elaine B. Ferreira Dulac
Educação física
Ler e escrever também com o corpo em movimento . . . . . . . . . . . . . .. 47
ílézio J. S. Gonçalves l'
eografia
Leitura e escrita na geografia ontem e hoje. . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . .. 67
iuilherme Reichwald Jr.
Ler e escrever a geografia
para dizer a sua palavra e construir o seu espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 73
Nestor André Kaercher
I.cr a paisagem, o mapa, o livro ...
Escrever nas linguagens da geografia.
Neiva Otero Schãffer
. 86
Ilistória
Leitura e escrita na história ..
l/emando Seflner
. 107
Língua estrangeira
Os desafios (?) do ensinar
a ler e a escrever em língua estrangeira, ' '
Maria da Graça Gomes Paiva
"
'I
Língua portuguesa
Não apenas o texto mas o diálogo em língua
escrita é o conteúdo da aula de português '
Paulo Coimbra Guedes e Jane Mari de Souza
Literatura
A literatura e o leitor
Diana Maria Marchi
Ler e escrever literatura: a mediação do professor, '
Angela da Rocha Rolla
'r,:
j' /,,;
166
.,('.' i'·
Matemática
Ler, escrever e compreender a matemática,
ao invés de tropeçar nos símbolos ","
Renita Klüsener ;' I' ,I ';1' i,I::
, '
,,,',, !'U?:,
J." ! ' ..q ',GI .I._~!
},',. \ j''J.!. ;:",,1'92,;
, ',1, \ \Leitura e escrita na matemática ,
Lúcia Helena Marques Càrrasco
..........
,li"" ' .. i" .
\
' .' , ,,:,,'~~../,~, ,'.. '(I,.".Música ,"'.;1, I""",'~"l-,.' 1
Sobre as múltiplas fonri~~ ô~ l~~e ~~áeveFinúsia t,> '. :'.'! ',:',:,i07~
Jusamara Vieira Souza i,',','" \','" I, I,,'"
Biblioteca escolar
Le~ e escrever nabibliotecá:,n',"" ,,'«,; f':
lara Conceição Bitencourt Neves
'l~:Lr .:~ ''.'·':~l.)
," -: ./' ,:1,:' í':"i:;;",\' ~\?:
Os autores, ' , .. ' , . ' , ' .: ... l: ;,',~,I': ,~ ,I, d." .rv..; ;',';::',,;;\';:~:i~I ••"."'.:,'~',,,:,,~ 2~'i!
,("\\ . ', \ '/-0" l\.,\. t '\1..)',,; .:;',/'
.'.'
~','\('} .r"r.~·~.I". :~:·v\~;.r',·,=.t'; L ::"j,1
',';\,~i:'{': :~<_:.,,:rl·.'~..' ~.I,:', ··'~.~r·." ....:-'.1;;: t
\~. .~. -. 1_\'." \ :::\/~
',i, " : ",i J i
\:' t-: l,,~' ! (.' .»._1 .,J f' ~: ' ;' \ .' \
,:', <, \ ',1,;" ~\ .•..~'; ",
123
~~~
137
159
t,'.\i
,I,
('
'l,"'
"Apresentação
. -' '
Lere escrever: , ;'t c
• \. ,'.' - ••. 1 , \.. "~, ••um CQroprOlPl~SQ,;
de todas 'as areas,,' .' " , ; ,,--, i
"i
t : 1 ~ I,'
;,,;
Assumir que ensinar a ler e a escrever é tarefa de todas as áreas,
um compromisso da escola e não exclusivamente doprofessorde pór-
(uguês.foi o desafio enfrentado pelos professores'quéintegram a equipe
do Núcleo de Integração UnlvérSidade8tEscola (NIUElúFRGS), Re-
.lamarnos da má qualidade da leitura e' da escrita dos' estudantes em
crál, rrlaSãqu~tea responsãbIIldaae~derevgHer essa situa-
ção? Para r~sppn'dera' esse desáfio forátp~roJ1'J.ôv1.dasdiv~~~a{çpor-
Iunidades para re~omar 'o terna, rediscuti-lo, ~prof~q.~~-lo,'estabelecer
novas relações entre (Js olharesdas váriasáreas é, acrescentar outros a
'lisas relações com a leitura e a escrita.",,' " ',:,
O que seria íer~escrever nas diferentes áreas do currículo' escó-
, l'·,. "t' -'1',,_ ':', j.j • _.,:' '_, ,,' I, "i,,::', I' ,I .. ,-_, • ."
lnr?Esse é ~m q()s';objetivosque e,st<,lbçlecem,ospara este livrórdéscon-
linar a discussão, sobre leitura é escrita, ampliando' o seu' âmbito desde a
hjb1i~tec~~' a,~~I~~ê~,'~9~ug~êsp,a;àto~a,~ ,~s:c?la:E u~ :dos,lIl~nfQs
(lesse desconfinarnento foí a descoberta da leitura e da escnta como con-
l'Iuêri6iáSmÚltidisCípltnaies,!);rraà'refle{(ão e !ação~eclagÓgic~,.•' •..: ' .
Os artigos qrie'Q ~ompoem· inost~arri as' Idéias firmád~~ :sôbre ler
(' escrever corno compromisso daescola, Neles surgem as questões que
.crcam tal dlscussão1como a participáção do professor, a'ciiáção de
sspaçós coletivos para iif.çªdp~d~j~gica: 'ÇOl!,lI,i.!Ú,'a 'm"q'riip1iCídid~de
Iinguagens.:e]Ienovôs códigº§gQ~_provocam, na escola.aadóção de
()lItros~compoitãffiéritos~rMassalienta-sé, sobretudo,' à Únpôrtâqda'de
que cada professor tenha um conhecimento profundodasçaracterísti-
.~asdo ler e do escfêvefna sua área de atuação 'para que entre eLªs o. . -.•. '..• ,...-- -, .. ;.).; ..~.
diálogo se faça com segurança e fecundidade.j
Ler e escrever: um compromisso de todas as áreas 11
Em todos os textos reforçamos nosso entendimento inicial: ler e
escrever não é questão exclusiva da aula de português, mas compro-
misso da escola como um todo. Respeitada essa premissa, particulari-
zamos nossos procedimentos disciplinares desenvolvendo a visão do
ler e do escrever nas diversas áreas, seus mecanismos, estratégias e
práticas. Por tal razão, os artigos se apresentam numa seqüência alfa-
bética das áreas, sem P'Q~~giar-n(mhuma delas, inclusive e so5~
do língua ortuguesa. m artigo final busca salientar a incompletude I
p ma escola a o"nela é inexistente ou inoperante a biPJio~,....J
'cOIDO o es~o mais público dentre os espaços escolar~
Éuma obra que seoifige1fiüifo esp-e-c-iãlmenteao professor que
atua no ensino fundamental e médio, visto por nós como o principal
mediador de leituras e escritas significativas, promotoras do crescimen-
to pessoal e social de cada estudante. ~..s leitores, professo-
~.~es de fazer a sua escrita, a sua comunic~~
s~quakl!!.~LgosSilJi~nç_a naspráticas tradi-;
~~tit~~
Temos claro que ler e escrever sempre foram tarefas indissociá-
veis da vida escolar e das atribuições dos professores. Ler e escrever bem
forjaram o padrão funcional da escola elitizada do passado, que atendia
a parcelas pouco numerosas da população em idade escolar. Ler e es-
crever massiva e superficialmente .tem sido a questão dramática da es-
cola recente, sem equipamentos e.estendida a quase toda a população.
A sociedade vê a escola come-e éspaç~vilegiado para o desen-
volvimento da leitura e da escrita, já que é nela que se dá o encontro deci-
sivo entre a criança e a leitura/escrita. Todo estudande deve ter acesso a
ler e a escrever em boas condições, mesmo que nem sempre tenha uma
caminhada escolar bem traçada. Independente de sua história, merece res-
peito e atenção quanto a suas vivências ~ expectativas. Daí a importância
da intervenção mediadora do professor e da ação sistematizada da escola
na qualificação de habilidades indispensáveis à cidadania e à vida em so-
ciedade, para qualquer estudante, como são o ler e o escrever.
a professor é aquele que apresenta o que será lido: o livro, o texto,
a paisagem, a imagem, a partitura, o corpo em movimento, o mundo.
É ele quem auxilia a interpretar e a estabelecer significados. Cabe a
ele criar, promover experiências, situações novas e manipulações que
conduzam à formação de uma geração de leitores cápazes de dominar
as múltiplas formas de linguagem e de reconhecer os variados e irio-
vadores recursos tecnológicos, disponíveis para a comunicação humana
presentes no dia-a-dia.
I'
12 Ler e escrever
A escola é aqui unanimemente responsabilizada pela tarefa de le-
VIII'o aluno a atrever-se a errar; a construir suas próprias hipóteses a res-
pci to do sentido do que lê e a assumir pontos de vista próprios para es-
rrcver a respeito do que vê, do que sente, do que viveu, do que leu, do
que ouviu em aula, do que viu no mundo lá fora, promovendo em seus
Il'xtOS um diálogo entre vida e escola, entre a disciplina e o mundo.
Nestes textos, o professor encontrará uma outra unanimidade: sem
ilunos e professores lendo e assumindo sua tarefa de mediadores de lei-
urra, escrevendo e dialogando, nada mais haverá na escolaalém da re-
produção. Essa é a prática que rejeitamos: as atividades de leitura e es-
'f'i ra, nas diversas modalidades, transformadas em ritual burocrático, no
qual o aluno lê sem poder discutir, responde questionários mecanicamen-
li' C escreve textos buscando concordar com o professor. a que deseja-
1110S é um aluno - e também um professor -leitor e produtor de textos.
Daí decorre um outro entendimento. Mais importante que reter
I informação obtida pela leitura tradicional dos muitos textos, nas mui-
IIIS áreas que compõem o cotidiano na escola, os exercícios de leitura
(I de escrita devem propiciar aos alunos condições para que eles pos-
IIn, de forma permanente e autônoma, localizar a nova informação,
I'cla leitura do mundo, e expressá-Ia, escrevendo para o mundo.
Ler e escrever são tarefas na escola, em cada sala de aula e na
hlhlioteca, esta como o espaço convergente de todas as atividades. É
nela que se estimula a circulação e a transferência da informação, que
, favorece a convivência dos diferentes segmentos da comunidade
I!Ncolar,pertencendo, portanto, a todos os usuários e, ao mesmo tem-
po, não sendo propriedade exclusiva de uns ou de outros. A escola que
11110 olha para sua biblioteca, que não a vê como espaço do professor-
rum livros para seu aperfeiçoamento continuado! e do aluno, descura
tlu leitura e da escrita que realiza.jl.er e escrever, portanto, implica re-
rllmensionar nossas práticas e nossos espaços.
Nossos textos visam provocar uma reflexão sobre a nossa rela-
çno pessoal com o desenvolvimento da leitura e da escrita em nossas
da de aula e, no limite, propõem desencadear novos comportamen-
los em relação ao ler e ao escrever na escola.
Esse objetivo ambicioso pressupõe que a leitura deste livro não
;.ia seletiva. É uma obra que desejamos seja lida, nos seus diversos
111'1 igos, por todos os professores. Que o livro não seja tomado na par-
IIl. na área de cada um, mas que seja uma leitura para a escola, para
rodos os professores. Que suscite uma discussão e uma aproximação
'\!llre aqueles que hoje, isoladamente, participam da mesma grande ta-
II:r e escrever: um compromisso de todas as áreas 13
refa: a forma ãode novos cidadãos para um mundo em permanente
.mudan~a n ~'suas escritas, e cada veifilaisexigente quanto àqualidã-
de da le~~ - - - --.-.------------
.',Esperamos que os textos possam provocar um olhar e um refle-
tir sobre a ação da escola, sobre seu compromisso. Que eles venham a
abrir perspectivas para que, 'na escola, um.pergunte.ao.outro sobre o
que pensa ser o ler e escrever em sua área; que desperte o interagir ori-
eritadopara.umaformação mais ampla, completa e'dinâmica; Que en-
caminhe-ações interdisciplinares possíveis e desejáveis, como os tan-
tos exemplos apontados nos textos que seguem.
,Com este livro, a equipe do Núcleo de Integração Universidade
& Escola/UFRGS.assume um dos compromissos básicós.dauniversi-
dade.oda extensão daquilo que pesquisa. Com ele procura provocar,
entre os colegas professores das universidades e das escolas de ensino
.básico, um diálogo. a respeito das atividades de ler e escrever, isto é,
sobre a nossa atividade de ensinar.propiciando a nós e a nOSS0Salu-
.nos a oportunidade de construir sentido e produzir conhecimento. Esta
é apenas uma primeira tomada da palavra, Umprimeiro turno de uma
conversação que ora se inicia: i"
OS ORGANIZADORES
:.,
. '!.::)
14 Ler e escrever
)',
H
L·
.'~'
Introdução
Leitura .eescríta
ào..·tar~f;jS:,idâ'~escQla:.;·;,
I l}<19 só.doprofessor-.
e português
,
I'AULO' COIMBRA' ClUEDES'
,II\ME MARfoE SOUZA"::·
;1' ,.
I : ~
\ ,. ,""",
A tarefade~nsinar~ler ea escrever uili.téxjh'dê'hí'St6h~édo
1I1()rcssor'â~ hist9ri~~~~(): do pr9i~ss()Fci~'pb~túguê~:..A.\~r#Nd~e.p,:.
nur a lerea esctever um texto de ciências édo professor de ciências'
IlllnO ciopr,ofe~sqr,qep?r.tug.uês. A tar,e~adeel1s~l1ar,aler~â"~s.crti~ér
11111 Idto denlatemáticaé" dó professor clelllateIliática e 'n~odopro-
IIlNN'orde'portu'gúês.:'A,tar.ef~de' énsinara lere ·aescr.e~~r~jlnextodb
~\:;~'~~~'d':'1âl~d?~!\Y~~·.~t$e~~;~~t~ajr:J~b~~b(atoI~hc9iç~b~fs~2Uagf~~,
111() rc~~~i'd~ ed~,é'<l:Çãdií~.iC~é:óão1o'prpfb,s'sór d~'P9h~g4~si'A t~r~t~
11II professor dep()rtug~ês é ensinar alê'f a literáturhbrasiléir&.'." , ..
,r;e~e.éscf~veÍ-' sM ,iili~i,asd~ ~s:cola,qu~stge,s p~f'dQdas<lsái~.:,
il~t 1I1r1avez,que'são'h:ibílidadesindispensáveis para á formaçaôde úlh
I' 'I ,,' ,,' c'.;'.: r::" .'q-", ,,"',: ':' ':": I,.f.", ;0, ,ti " \ '"",, -'. -Ó:- i. ~,', . ':'! ~;', " s c 1 ',,:; .~,.': ~ t . 'I. f,
I'Nllldahte;que~responsabilid<\de dá esc,0la, Ensinar é dar cóúdições
.tu nhlno paraqll~'ele'se 'aproprie dot()nhechne~to'histb~cam~n~~,S~ri.\S.~
Illddo e s."einsir"<l,11~ssaç9n,êt~çãoso,m~procll,lt()ricle,e:?Ilhecill}entó.
I'III~Inar éen~inaia ler pata queóaluno setórne'capaza~ssa'apropria-
~'n(I, i?Õi~."b'~~~tl.t~~c:un:,~lâd9;es.fá.:e~critb;!eWll~~osl.\r~yl~,tâ~'"
/1111111 Is, reiatoTlOs"ar!1Ulv()~.,pqslhar e ensInar 11es~orque. ~ re-
I/!\xhó sóbre a produção de coriheCimento sé expressa por escrito. .
I , II!lrH e escrita são tarefas da escola .. " 15
Numa primeira instância, ensinar a ler e escrever é alfabetizar,
levar o aluno ao domínio do código escrito. E já aqui é preciso rever a
crença de que ao alfabetizar-se o aluno não está propriamente apren-
dendo uma língua, mas apenas transpondo a língua que já fala para um
outro código. Isso não é verdade para nós, aqui no Brasil. Os estudos
de nossa língua falada, levados a efeito por vários pesquisadores, en-
tre eles um grande grupo de lingüistas de todo o Brasil reunidos no
Projeto de Gramática do Português Falado, estão mostrando não só que
há uma grande variação lingüística (geográfica e social) interna no País
- ao contrário do que sempre disse o mito da unidade lingüística brasi-
leira -, mas também que a língua que falamos difere muito da língua
falada em Portugal, a qual deu origem ao português escrito. Na verda-
de, hoje podemos dizer que falamos uma língua e temos de aprender a
ler e escrever em outra língua.
E esse novo saber que a ciência da linguagem nos proporciona
faz duas revelações de transcendental importância a nosso respeito:
a) nós, de fato, falamos muito maio português, não porque seja-
mos estúpidos, incompetentes, vagabundos, desleixados, incapazes,
como sempre tentaram nos fazer crer, mas porque falamos - muito bem,
tão bem quanto qualquer outro povo do mundo - uma outra língua, pa-
recida com o português, com a qual somos capazes de dar conta de
nossas necessidades expressivas; ,
b) nós falamos uma língua apenas parecida com o português e,
por razões de política cultural, temos de aprender a ler e escrever em
português.
Por que são tão importantes essas revelações? Porque, em pri-
meiro lugar, podemos deixar de nos culpar por não termos aprendido
a ler e escrever direito na escola, pois a escola tentou ensinar-nos a ler
e escrever em português como se fôssemos falantes de uma língua eu-
jas frases têm sujeito e predicado, cujos pronomes pessoais mudam de
forma conforme a função sintática que exercem na frase, com desinên-
cias verbais próprias para as segundas e as terceiras pessoas, cujos fu- .
turos são simples e em que o adjetivo concorda com o substantivo.
Como a língua que falamos não tem nada disso, agora podemos pôr a
culpa na escola, que não nos ensinou direito e nos culpou por não ter-
mos aprendido.
Em segundo lugar, porque podemos, agora, começar a pensar num
modo mais adequado de ensinar a ler e escrever nessa língua que não
falamos, nessa língua apenas parecida com a língua que falamos, nessa
língua estrangeira. E aí está um rumo: o aprendizado de uma língua es-
16 Ler e escrever
I I
uuugcira começa pela familiaridade que desenvolvemos com ela. Logo,
111)1'1só vamos aprender a ler e a escrever em português se praticarmos
"",~fllntea leitura e aescrita em português, se praticarmos muito mais
.111que nos mandaram praticar. Onde? Só tem um lugar: na escola.
E só tem um meio: nós, professores de todas as áreas, em vez de
11111'1limitarmos a choramingar que nossos alunos não têm o hábito da
"'llunt, devemos nos dedicar a proporcionar muitas e muitas oportuni-
d"dl,;spara que todos descubram que ler é uma atividade muito interes-
tinle, que a leitura nos proporciona prazer, diversão, conhecimento, li-
111-rdade, uma vida melhor, enfim. E essas oportunidades terão de ser tan-
JIIN quantas forem necessárias para que o aluno passe a gostar de ler e,
11111'isso, contraia a necessidade da leitura e que esta vire hábito.
Oportunidade de ler o quê? Tudo, pois o único lugar onde a tele-
\'IHL10ainda pode ser desligada é na escola. A sala de aula é o único
111",lIronde as crianças podem ser colocadas quietas nos seus cantos
1I"n um livro na mão para aprender que ler é um diálogo solitário com
11111texto que se vai desvelando ao seu olhar. E para a grande maioria
,11'nossas crianças a escola é o único lugar onde há livro - e não só as
rln clusse popular, onde não sobra dinheiro para comprar livro, mas tam-
111'111na classe média, onde o dinheiro que sobra não costuma comprar
11V 1'0.Ler tudo, desde as banalidades que possam parecer divertidas
Ille us coisas que o professor julga que devem ser lidas para o desen-
vnlvimento pessoal do aluno como pessoa sensível, civilizada, culta,
, IIi110cidadão, para o estabelecimento de seu senso estético, de sua so-
1IIIIII'icdadehumana, do seu conhecimento.
Isso é tarefa do professor de português? É. É tarefa do professor
dl\ história, de ~e<?grafia,de ciências, de artes, de educação física, de
uuuemãtica ... E. E tarefa da escola: a escola - os professores reunidos
1111mais básica das atividades interdisciplinares - vai reservar alguns
1"\1rodos da semana para que os alunos se dediquem, em suas salas de
IIltllI,à leitura individual, solitária, silenciosa de todo tipo de material
11I'IH'eSso:livros, jornais, revistas noticiosas e especializadas, romances,
, IIfllos, ensaios, memórias, literatura infanto-juvenil, literatura adulta,
[uuudidáticos de todas as áreas, textos de todo tipo, enfim, postos à sua
dlllposição para que o exercício da leitura os transforme em leitores. E
VIII I ler a respeito de quê? Nessa leitura interdisciQlinar de forma..Çl!od~.
1I'II000osvão ler, principalmente,o-que acharem interessante: começan-
1IIIpor hlstória~ .de_ª~;ãe deamor, que sâtisfaçam s'üãllêcessloade
Ih.''nntasi~ p~ssando-por,põemãs dtlO:4óJipo, que dêem'v:lZãoaosseús
1IIIlirnentose os organizem, passando por reportagens de atualídãcles,
, IIllru e escrita são tarefas da escola ... 17
de divulgação científica,-'l!:!~_n~~lIl?inhemsua curiosidade e fQIQ~
uma base Qaradimensionar o mundo em que-vivem, notícias sobre a ci-
dade,-sõbre o estado.opaís, ensaios sobre história do Brasil, daAilléri-
ca,o.QmUflQ()-,_sobie"üsproblemas do presente, sobre outros {l~~on-
témporâneos ou antigos, sobre a política, os costumes, os esportes, a tec-
nologia, as.cíêncíaa.as.aneaetc.c. -- -
Trata-se fundamentalmente de exercitar a leitura para praticar,
numa primeira instância, a decodificação da escrita, adestrando o olho
para enxergar mais do que uma letra de cada vez, mais do que apenas
uma palavra, para entender os processos de construção das palavras
(os radicais, os afixos, as desinências), para enxergar as discrepâncias
que caracterizam a ortografia, para atribuir significado a expressões,
a metáforas, para familiarizar-se com a sintaxe da língua escrita (a con-
cordância verbal e nominal, as formas e os tempos verbais, o uso das
preposições, as conjunções e outros nexos), para entender o significa-
do dos sinais de pontuação, o das letras maiúsculas e o das minúscu-
las, o das margens do texto, para construir um repertório de enredos,
de personagens, de raciocínios, de argumentos, de linhas de tempo, de
conceitos que caracterizam as áreas de conhecimento, para, enfim,
movimentar-se com desenvoltura no mundo da escrita. Esta leitura de
formação de leitor visa desenvolver no aluno a familiaridade com a
língua escrita através da leitura de todo o tipo de texto, numa quanti-
dade tal que o faça gostar de ler e de perceber a importância da leitura
para sua vida pessoal e social, transformando-a num hábito capaz de
satisfazer esse gosto e essa necessidade.
E como os professores trabalhariam com esses livros? Ensinan-
do a ler, começando por colocar o aluno na mais adequada postura para
ler: sentados em silêncio - administrando a retirada dos livros, conver-
sando com o aluno que solicitar orientação a respeito do assunto do
livro, incentivando-o a olhar no dicionário alguma palavra-chave para
o entendimento do texto, ajudando o aluno a usar o dicionário, forne-
cendo-lhe indicações bibliográficas nas quais poderá procurar mais
informações a respeito de um assunto que lhe despertou interesse mais
forte, estimulando esse interesse, incentivando-o a falar aos colegas ti
respeito do que está lendo, a trocar impressões com os colegas a res-
peito de leituras comuns.
E por que em sala de aula e não na biblioteca? Porque a sala de
aula é o lugar onde o professor ensina, onde ele mostra, por sua pre-
sença e sua atuação, a importância da leitura: ele traz os livros, apre-
senta-os, quer que todos escolham o que vão ler, fica sabendo do in
18 Ler e escrever
n-rcsse que se vai formando em cada um, faz sugestões, discute e
iprofunda os assuntos, responde perguntas e lê com seus alunos. A
hihlioteca é o lugar de outra magia: lá está o tesouro inesgotável do
Iunhecimento construído historicamente pela humanidade. Na bibli-
IIIoca, o aluno, explorando o seu acervo, vai expandir seus interes-
111';:vai descobrir que existem enciclopédias, mapas, atlas, manuais,
u-vlstas, livros de todo o tipo e sobre todos os assuntos, ou vai con-
11"ltrar-se numa leitura de aprofundamento de um determinado inte-
II'SSU criado na leitura em sala de aula. A sala de aula é lugar da cria-
\) de um vínculo com a leitura, pela inserção do aluno na tradição
11IIconhecimento. A biblioteca é o lugar do cultivo pessoal desse vín-
11110;lá se processa o amadurecimento intelectual.
Ao lado dessa atividade de leitura orientada pelo gosto, pelo pra-
1'1'de atribuir sentido a um texto, cada professor, na aula de sua respec-
IIVII6rea (ou dois ou mais professores em trabalho multidisciplinar), vai
1\lIImovera leitura de textos que valem a pena ser aprofundados: agora
111111lS vão viver o encantamento da descoberta dos muitos sentidos em
1IIIIIextodecisivo para o conhecimento produzido pela humanidade. Esta
I11IIII'ade inserção do aluno no universo da cultura letrada desenvolve a
11111111idade de dialogar com os textos lidos, através da capacidade de ler
1111profundidade e interpretar textos significativos para a formação de
1111cidadania, cultura e sensibilidade.
O mesmo para a escrita: se nós, professores de todas as áreas, pro-
I""l'ionarmos a nossos alunos oportunidades para que escrevam muito
I111111dizer coisas significativas para leitores a quem querem informar,
, 1111vencer, persuadir, comover, eles acabarão descobrindo que escrever
110116aquela trabalheira inútil de preencher 25 linhas, de copiar livro
,IIIII11icoe pedaços de enciclopédia. Nossos alunos descobrirão que são
I "Iulzesde escrever para dizer a sua palavra, para falar deles, de sua gente,
1""11contar a sua história, para falar de suas necessidades, de seus an-
, 11IS, de seus projetos e acabarão por descobrir que são gente, que têm
'I qlle dizer, que têm história, que têm necessidades, anseios, que têm
"I,,-Iroa satisfazer suas necessidades, a fazer projetos, que podem aspi-
1,11/I lima vida melhor, enfim.
Por isso, cada professor em sua sala de aula vai vincular - atra-
I'" ela produção escrita - conteúdos específicos das áreas com a vida
01,IH.:US alunos, solicitando-Ihesque escrevam sobre aspectos de
IIIIH vidas, propondo que esses textos sejam lidos para os colegas
rllxcutidos em sala de aula. Cada professor lerá esses textos com
un-rcsse pelo que dizem e não apenas para corrigir o português ou
1,1111111c escrita são tarefas da escola ... 19
)
verificar o acerto de suas respostas. Orientará a reescrita desses tex-
tos para que digam com mais clareza e mais precisão o que querem
dizer. E mandará ler um poema, uma notícia, um conto, uma repor-
tagem, um artigo, um livro que diga coisas interessantes a respeito
de um tema suscitado nas discussões desses textos, aprofundando
essa leitura com os alunos e pedindo que voltem ao assunto para
incorporar os dados novos trazidos por essa leitura, dando conti-
nuidade à discussão.
20 Ler e escrever

Outros materiais