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UNIVERSIDADE POTIGUAR – CAMPUS MOSSORÓ/RN Francisca Ronicleide de Oliveira Gomes FUNÇÃO DO COMPORTAMENTO E DO DSM: TERAPEUTAS ANALÍTICO- COMPORTAMENTAIS DISCUTEM A PSICOPATOLOGIA Mossoró/RN 2019 RESENHA CRÍTICA BANACO, R. A., ZAMIGNANI, D. R & MEYER, S. B. Função do Comportamento e do DSM: terapeutas analítico-comportamentais discutem a psicopatologia. In: Emmanuel Zagury Tourinho; Sergio Vasconcelos de Luna. (Org.). Análise do Comportamento: Investigações Históricas, conceituais e aplicadas. 1° ed. São Paulo: Roca, v. 1, p. 175-191, 2010. A análise do comportamento, enquanto abordagem teórica, foi desenvolvida num período em que a própria psicologia buscava estabelecer sua identidade enquanto ciência. Sua inserção no contexto clínico tem início com os trabalhos experimentais de Skinner e outros importantes profissionais da área, realizados com pacientes psicóticos, visando a modificação de comportamentos tidos como disfuncionais, no início da década de 50. Nesse período, ainda que considerado tardio em comparação com outras abordagens, a análise do comportamento desenvolveu técnicas que rompia com o modelo médico de diagnóstico e tratamento, que na época exercia grande influência na área da saúde. Nesse sentido, pode-se inferir que essa abordagem surge para contrapor às concepções de homem estabelecidas, até então, quando forneceu possibilidades inovadoras (para a época) de tratamento e conhecimento sobre psicopatologias. Vale ressaltar que, até aquele momento, o comportamento disfuncional era entendido por meio de concepções metafísicas que, muitas vezes, ignorava a interferência do ambiente sobre o comportamento. Um pensamento contrário ao que era defendido por Skinner. Posteriormente, no início dos anos 2000, com o surgimento do termo “analítico-comportamental” a análise do comportamento obteve destaque, no que se referiu a produção de conhecimento sobre o comportamento humano, reforçando a visão de homem como um ser único, ignorando conceitos meramente estatísticos, testes e/ou escalas de avaliação, favorecendo reflexões sobre o tema. Reafirmando, assim, sua identidade ao se utilizar de critérios avaliativos funcionais do comportamento e considerando a interferência do ambiente no comportamento humano. Sobre os critérios de produção de conhecimento a respeito das patologias mentais destaca-se o Manual Diagnóstico e estatístico de Doenças Mentais (DSM), um manual estatístico que lista todas as descrições a respeito dos transtornos mentais que buscou, em sua formulação, o consenso entre os saberes de centenas de profissionais da área da saúde, mas que, segundo os autores, fornece dados meramente estatísticos e centrados em modelos médicos de descrição de transtornos, ainda que seja considerado sua objetividade no que se refere as delimitações a respeito das psicologias. Sobre o uso do DSM como instrumento de trabalho do analista comportamental e inúmeras áreas do conhecimento humano, os autores buscam discorrer sobre os mais variados aspectos que atravessam a criação desse manual e promovem uma análise detalhada dos conceitos que atravessam sua idealização. Discutindo sobre os pontos principais que compõe o manual. Um dos pontos que merecem destaque na discussão sobre o DSM é o aspecto estatístico do manual. No que diz respeito à criação topográfica de dados e números, pois considera a formação de conhecimento baseado em grandes populações e o que, por vezes não considera as particularidades de cada indivíduo na produção dos conteúdos. Nesse sentido, embora seja relevante a preocupação com as questões que afetam a população em um contexto global, as subjetividades também devem ser consideradas. Segundo os autores, os aspectos de ordem interna do sujeito não contemplam os preceitos preconizados pela análise do comportamento, pois esta visa identificar qual a funcionalidade dos comportamentos dos sujeitos, frente às psicopatologias, ao invés de verificar os transtornos de maneira topográfica, que lista as disfuncionalidades do comportamento como adjacente a outro transtorno. Um outro ponto que merece reflexão, segundo os autores, se refere ao conceito de “transtorno”, trazido pelo manual. Transtorno diz respeito a uma desordem mental, e que, por esse motivo, descaracteriza-o como um objeto a ser considerado pela ciência. No entanto, para o modelo analítico- comportamental é preciso considerar a interação do sujeito com o ambiente como fator importante no diagnóstico. Transtorno, nesse sentido, teria que considerar todos os aspectos que são passiveis de promover adoecimentos nos sujeitos. Ainda que o DSM seja considerado no fazer psicológico do profissional analítico-comportamental a utilização do mesmo deve também servir como forma de reflexão a respeito de como a ciência conduz os vários aspectos de produção de conhecimento sobre o adoecimento das pessoas e os métodos eficazes de enfrentamento de tais demandas. Sendo assim, ao buscar compreender os aspectos que influenciam no comportamento, não se deve desconsiderar o DSM na procura por conhecimento a respeito dos transtornos mentais. Não cabe somente discorrer sobre as implicações que modelos estatísticos, instrumentos psicológicos e/ou saberes, que inicialmente divergem sobre os conhecimentos produzidos para buscar entendimentos sobre o homem, exercem sobre a produção do conhecimento, mas promover um diálogo eficaz na busca por uma melhor relação entre as mais diversas formas de saberes e seu valor na produção de conhecimento para a psicologia. Portanto, um dos grandes desafios para o profissional, cuja abordagem de trabalho é o modelo analítico-comportamental, não somente diz respeito a sua adequação à utilização de instrumentos clínicos de avaliação, como o DSM e sua importância como mecanismo de conhecimento sobre problemas psicológicos, mas também estar sempre buscando refletir sobre até onde esses instrumentos consideram uma análise mais integral do indivíduo, na busca por uma melhor qualidade de vida. O que, por si só, já exige do profissional uma reflexão crítica de seu papel enquanto analista comportamental e/ou demais profissionais da psicologia, inseridos num contexto também atravessado por múltiplos de saberes que podem contribuir com seu trabalho, visando se tornar um profissional mais comprometido com a ciência psicológica.
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