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Profª. Ana Maria Melo de Pinho Compreensão básica: as teorias e técnicas psicoterápicas se inserem no campo da Psicologia Clínica Introdução Situar as articulações entre a clínica como campo de atuação da psicologia; As psicoterapias como saberes e práticas desenvolvidas a partir das demandas surgidas nesse campo; Definição: qual é o campo da clínica psicológica? Definição: O que é a psicoterapia?; Quais são as proposições das diversas psicoterapias? Questões Básicas O sentido da palavra clínica vem do grego kliné, que significa cama ou leito; Significações mais tradicionais em medicina: a concepção de que o saber médico é formado “ao pé da cama do doente”, “junto ao leito do paciente”; A clínica tradicional pauta-se, assim, no estudo de casos; Consolidação através do constante “olhar sobre o doente”. Etiologia e Origens da Concepção Psiquiatria, Psicologia Clínica e Psicoterapia Etimologicamente, as palavras psiquiatria e psicoterapia, derivadas dos termos gregos psiche = alma e iatreia e terapia que significam cura ou tratamento, vem ter o mesmo e idêntico significado; O tratamento ou cura das doenças da alma, em contraposição do tratamento e cura das doenças do corpo, de que trata a medicina geral e somática; Em termos do psiquismo, significa o tratamento ou cura das doenças da mente ou psíquicas; Segundo Cordioli (2008), a psicoterapia tem suas origens na medicina antiga, religião (cura pela fé e no hipnotismo); Final do séc. XIX: passou a ser utilizada no tratamento das denominadas doenças nervosas e mentais (atividade médica restrita aos psiquiatras e neurologistas). Influencia do modelo médico: foco na compreensão e tratamento da doença; Representação do psicólogo clínico tradicional: aproximação do modelo médico (doutor), lidar com queixa (problema, doença, transtorno, etc.), espera de solução rápida, “cura do mal”, explicação do sintoma; Clínica tradicional traz uma imagem carregada de estigmas: somente trabalha com “doentes mentais” (ainda hoje há bastante esta afirmação: “eu não preciso de psicólogo, não estou louco!”; Paciente busca somente o “tratamento” quando há um “fator imperativo”: problema que o incapacita, crise, transtorno, sintoma, etc.; Priorização da clinica individualizada, processos intrapsíquicos, e aspectos psicopatológicos; concepção de sujeito descontextualizado, ahistórico. Origem da Psicologia Clínica e suas representações Sec. XX: ao longo desse período até os dias atuais, a psicologia clínica é um campo especial e privilegiado de atuação dos psicólogos, de produção de saberes e práticas; Segundo Cordioli (2008), no período pós-guerra houve grande proliferação de modelos e métodos apoiados em diferentes concepções sobre os sintomas (compreensão do adoecimento, saúde, funcionamento mental, técnicas de tratamento); No Pós-guerra a sociedade científica promoveu congressos, cursos e formações; emergência de uma multiplicidade de visão e técnicas Origens e Evolução Segundo Cordioli (2008), houve esta preocupação a partir da década de 1950; “Experimentos” para avaliar a efetividade do método proposto (alcances e limites); Estudo de caso: tradicionalmente mais utilizado na clínica; Proposição do Inglês Eysenck: efeitos das psicoterapias eram devidos ao tempo e não as técnicas utilizadas; Carl Rogers, em 1950: afirmou que a técnica em si não era o principal aspecto terapêutico, mas a relação estabelecida: “fatores intrínsecos à relação humana que se estabelecia em qualquer terapia”; Em 1960 houve proposição de projeto de pesquisa de grande porte (Projeto Menninger e outros): objetivo de comprovar a efetividade das diferentes modalidades de terapia; Existe atualmente um “consenso” que as diversas psicoterapias são efetivas; Busca de Validação Científica Conservam aspectos comuns desde a origem médica: Paciente; Diagnóstico; Etiologia da doenças; Plano de tratamento; Prognóstico; Indicações e contra-indicações Diversidade x Aspectos Comuns Dados significativos sobre a atuação do psicólogo no Brasil: pesquisa recente do Conselho Federal de Psicologia (Who, 2001, pp. 7-9), apresentou que entre os psicólogos (75%) que estavam exercendo a profissão, a maioria (54,9%) se dedicava à clínica em consultório, e 12,6% atuava com Psicologia da saúde; No campo da saúde: a prática, na maioria das vezes, também é clínica; Interrogantes sobre a atuação do psicólogo, no Brasil: O que fundamenta a prática dos psicólogos em Políticas Públicas? O que é Psicologia clínica, em termos de atuação no campo da saúde? *Dutra (2004) revela que alguns conceitos são pertinentes à prática clínica: escuta clínica, sofrimento psíquico, subjetividade. Contexto Atual Desde o início do seu surgimento e consolidação, ocorreram diversas mudanças no campo da clínica psicológica nos últimos anos; Tradicionalmente: atuação como profissional autônomo, liberal, em consultório privado, clientela com poder financeiro capaz de “pagar pelo serviço”; Atualmente: atuação nas diversas políticas públicas, de saúde e assistência; Espaços diversos de atuação: hospitais, campo da saúde mental, atenção básica, comunidade, escola, consultório); Desafios Atuais Atuação em novos espaços: desafio de reformulação teórica e metodológica (ideologias, bases epistemológicas); Delimitação confusa quando há atuação nas instituições de saúde: o que então definiria uma atuação em clínica psicológica? Novos enfoques e práticas emergentes: Buscam o desenvolvimento humano, aperfeiçoamento, melhoria da qualidade de vida, plenitude (novas abordagens voltadas para o fortalecimento do aspecto saudável do indivíduo, não o foco em um problema); Atualmente parte da atuação no campo da saúde pública, busca trabalhar a promoção e prevenção em saúde mental, ultrapassando o modelo biomédico; Dutra (2004), propõe alguns aspectos, elementos que delimitam uma atuação clínica em diversos espaços, “noções pertinentes a área clínica”: escuta clínica, lidar com o sofrimento psíquico, lidar com a subjetividade, etc.; Desafios Atuais Segundo Fiorini (2008), no estado atual, as psicoterapias oferecidas pelas instituições assistenciais (hospitais, centros de saúde mental, hospital dia, CAPS, CRE, Atenção Básica, NASF, etc.), “surge um evidente problema fundamental: a falta da conceituação clara de suas técnicas.” (pg. 47). Origem da situação: desenvolvimento apenas empírico das terapias x aliada a uma demanda crescente que dificulta a elaboração teórica; Refletir sobre: falta de embasamento, falta de reflexão sobre os fundamentos da prática, de elaboração teórica, de pesquisa); Atuação mais pautada no senso comum, no que se refere as abordagens “mistura, salada entre as diversas abordagens”, utilização concomitante de técnicas referentes a cada uma delas sem distinguir a coerência teórico-metodológica que esta implícita, falta de avaliação da eficácia (resultados), falta de fiscalização da prática). Desafios Atuais Em muitos casos pode-se supor que a aplicação das diversas técnicas permanecem atreladas as exigências e demandas das instituições e do contexto institucional x a intuição individual do profissional (senso comum)- pressão da lista de espera, aceitação do tratamento, perfil do usuário, objetivos da instituição, queixas; problemáticas, demandas, política proposta, etc. Reconsideração do problema: Identificar as distintas estratégias psicoterapêuticas (apoio, esclarecimento e transferencial) , possibilidades de referencia aos instrumentos técnicos vinculados a cada uma delas, aplicadas também em terapias de grupos ou para diferentes idades; Desafios Atuais Fiorini (2008): propõe pensar a delimitação das técnicas em coerência com os objetivos, as estratégias e instrumentos particulares pensados dentro de cada abordagem; Abordagens: tem coerência interna no arcabouço teórico- metodológico, não explícita, mas implícita: são convergentes, coesão entre aspectos epistemológicos, teóricos conceituais , metodológicos e proposições (enquadre, vínculo terapêutico, diretivo/ não-diretivo, atitudes de intervenção, objetivos, métodos, recursos, técnicas propostas); Segundo Fiorini (2008, pg.48): “o que comprovamos é que qualquer uma das técnicas psicoterapêuticas tradicionais corresponde de um princípio de coerência interna. Essa coerência decorre em primeiro lugar da concordância entre objetivos que se propõe a alcançar e as estratégias de mudança adotadas para atingir esse objetivos”. Congruência entre teoria/ explicações/conceitos x técnica/ estratégia/ recursos x relação terapêutica (atitudes, direção, afeto, etc.) x resultados e objetivos esperados; Efeitos terapêuticos se relacionam com um conjunto de fatores comuns Psicoterapias Contexto interpessoal da terapia (não é solitária, autoanálise), aspectos colaborativos entre paciente e terapeuta(não unilateral) ; Existência de um Terapeuta: características pessoais do terapeuta, qualidades , habilidades, conhecimento, empatia, escuta qualificada, interesses em “auxiliar” (“lugar do suposto saber”, “poder que o paciente atribui”), calor humano, compreensão, etc.; Qualidade da relação terapêutica: proposição de trabalho, objetivos estabelecidos, técnicas, aliança, vínculo, etc.; Fatores do paciente: motivação para mudança, capacidade de vínculo, nível educacional, cultura, crenças, expectativas, maior flexibilidade, estrutura de personalidade, tipo de transtorno (defesas e resistências inconscientes), necessidade, exigências da “vida”, etc. Jung: pacientes que tem maior abertura para aceitar o que vem “de fora ou de dentro”, resiliência, etc. O que leva o paciente a mudar? Enigma da efetividade: o quanto e como cada um desse fatores irá interagir e agir para resultar efetivamente em mudanças; Tipo, natureza e alcance das mudanças: comportamento, atitudes, sentimentos, compreensão, modos de relacionamentos, estilo de vida, etc.); Ex: resistências, “fala como lugar da mentira” Debates Avanços nessa área: proposição de novos modelos e técnicas; Muitos deles propondo protocolos (manuais) e padronização, padronização de pesquisas, instrumento mais acurados para estabelecimento de diagnóstico, avaliação do prognóstico e do tratamento; “Maior confiabilidade no diagnóstico psiquiátrico” reunir amostras mais homogêneas de pacientes; Poder “testar” a efetividade da psicoterapia. Atualmente Trabalhar com o conceito de clínica psicológica; Definir esse campo de atuação do psicólogo através de uma análise histórica do surgimento dessa prática e de uma reflexão sobre os limites do modelo de clínica como prática individual de consultório; Contraposição a um modelo de clínica chamada social, que sustenta novas atuações no campo da Psicologia, no Brasil (SPINK, 2003 ). Contextualização Existe a possibilidade de indicar um “melhor ou mais adequado método” para cada paciente?; Relação das psicoterapias aliadas ao uso de psicofármacos; Panorama da eficácia, dos alcances e limites das diversas modalidades de psicoterapias; Segundo Codioli (2008), na atualidade: existem mais de 250 modalidades distintas (10 mil livros e artigos científicos); Busca de compreender a natureza do processo psicoterapêutico, e dos mecanismos de mudança, comprovar sua efetividade, condições que devem ser usadas para cada paciente; Persistem as controvérsias, reconhecimento como “ciência”, falta de fiscalização oficial, pouca exigência para a prática. Fiorini (2008) Crítica: ampliação para aspectos psicossociais; Novos espaços de atuação da clínica psicológica: serviços públicos de saúde Panorama das Psicoterapias na atualidade Segundo Strupp ( 1978) , há um consenso em considerar que “a psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele o procurou com essa finalidade” Conceito O termo paciente está relacionado ao modelo médico (mais usados em serviços de saúde), ou usuário, ou cliente, Segundo Cordioli (2008): pode-se dizer que a psicoterapia “é um tratamento primordialmente interpessoal, baseado em princípios psicológicos, envolve profissional treinado e um paciente com demandas : transtorno, queixas, problemas que necessita de ajuda, sofrimento psíquico, sintomas; Envolve um relação “face a face”; Conceito O que é psicoterapia? Como ela se distingue de outros tipos de relações humanas e profissionais? Relação de “ajuda” ou busca resolver” problemas pessoais? Que tipo de “problemas”, demandas, ou queixas se busca resolver (fisiológicos, cognitivos, emocionais, comportamentais, relacionais, existenciais, etc.)? Antes voltado para transtornos atualmente demanda da busca de autoconhecimento e qualidade de vida. Conceito Conversa com amigos, aconselhamento, métodos em crenças religiosas, ainda que provoquem alívio O que não é Distinguem-se quanto aos fundamentos teóricos- metodológicos (bases epistemológicas distintas): visão de homem, explicação para o processo de adoecimento/saúde); Quanto aos objetivos: tipos de mudanças que objetivam, concepção de cura, qualidade de vida; Concepção do processo terapêutico; Aspectos Metodológicos: técnicas, frequências sessões, tempo de duração (breves, crises, estruturais, foco no sintoma, dificuldades momentâneas, relação terapêutica, instrumentais utilizados, modalidade individual ou grupal; Tipo de clientela: criança, família, grupo; Indicações e contraindicações. Distinção entre as Psicoterapias Segundo Jerome Frank (1973), existem tem componentes comuns as psicoterapias: Ocorrem em contexto relacional emocionalmente carregado, relação de confiança ; O paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que o objetivo será alcançado; Busca um conhecimento, compreensão e explicação “racional”, “científica "para o problema (sintoma, demanda, sofrimento, etc.) Aspectos em comuns Conservam aspectos comuns desde a origem médica: Paciente; Diagnóstico; Etiologia da doenças; Plano de tratamento; Prognóstico; Indicações e contra-indicações Diversidade x Aspectos Comuns Consolidação a partir da prática clínica e da realização de pesquisa que comprovem sua efetividade; Critérios para validação: Embasado em uma teorização abrangente, ofereça explicação racional, sobre a a origem, manutenção dos sintomas e formas de eliminá-los; Modelos de Psicoterapia Consolidados Objetivos devem ser claros e especificados; Devem existir evidênciasempíricas da efetividade das técnicas propostas; Comprovação das mudanças, observação, decorrentes das técnicas utilizadas; Resultados mantidos a longo prazo; Comparação de custo/efetividade em relação aos outros modelos ou alternativas de tratamento; Critérios Psicoterapias baseasdas na Teoria psicanalítica: psicanálise (aspectos da estrutura da personalidade), psicoterapia de orientação analítica (maior intervenção, foco), psicoterapias de apoio ou breves (crises, momentos específicos da vida, ); Terapia Interpessoal (TIP)- desenvolvida por Gerald Klerman e Myrna Weissmann (1970): foco no tratamento para depressão; fundamento na teoria do apego, enfoque psicossocial de Adolf Meyer e Harry Stack Sullivan (valorização da relação do paciente com o grupo social e pessoas mais próximas como fatores dos problemas mentais) Principais abordagens Terapia Comportamental: Princípios da aprendizagem por condicionamento para explicar surgimento, manutenção ou mudanças dos sintomas; Condicionamento Clássico (Pavlov); condicionamento operante (Skinner), aprendizagem social (Bandura) e a habituação; Terapias Cognitivas: Aaron T. Beck (1960): transtornos depressivos, alimentares, transtornos de ansiedade, personalidade, dependência química, Foco de atenção na atividade mental consciente ou pré- consciente (crenças, pensamentos subjacentes, pensamentos automáticos, reações físicas, emoções, etc.); Terapia familiar e de casal: insatisfação com terapias com enfoque unicamente individual (implicações do meio familiar); estrutura familiar e não somente o indivíduo como foco para compreender o surgimento e a manutenção do transtorno, influencia no sistema, teoria dos sistemas (biólogo alemão Bertallanffy), teoria da comunicação, teoria dos pequenos grupos, psicodinâmica (relações de objetos), cognitiva-comportamental; Psicoterapia de Grupo Surgimento a partir da demanda de atender um maior número de pacientes; Pratt (1922): primeiros grupos voltados para pacientes tuberculosos (palestras para 20 a 30); Outros autores: Addler, Bion, Foulkes e Moreno destacam o estudo dos grupos; Principalmente durante a segunda guerra mundial: problemas psiquiátricos eram muitos e graves, equipes hospitalares limitadas (tratamento em grupo teve grande desenvolvimento); Faz uso de “ingredientes” terapêuticos próprios (fatores grupais); Fundamentos teóricos-metodológicos: aspectos epistemológicos, visão de ser humano, de adoecimento; conceitos, explicações, objeto de estudo, campo de atuação modo de pesquisa, Objetivos a serem alcançados: limites e possibilidades; tempo, aspectos focados; Agentes de mudança, estratégias e técnicas de intervenção (entrevista, diagnóstico, mediadores, instrumentos, dinâmicas, etc.) ; Tipo de patologia e sujeitos que se propõe a tratar; Tipo de relação terapeuta- paciente estabelecida (relação terapêutica e sua compreensão no processo, manejo direto ou indireto, habilidades, etc.); Indicação e contra-indicações; Resultados, avaliação, eficácia Aspectos a serem tratados em cada abordagem CORDIOLI. Como atuam as psicoterapias. In: CORDIOLI. Psicoterapias. Porto Alegre, Artmed, 2008. (Capítulos 2 e 3). DUTRA. Considerações sobre as significações da Psicologia clínica na contemporaneidade. Estudos em Psicologia, v.9, n.2, 2004 FIORINI, H. Teoria e Técnica de Psicoterapias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: ed. Jorge Zahar, 2003. SPINK, Mary Jane P. Psicologia Social e Saúde. Petrópolis: Ed. Vozes, 2003. Referencias
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