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Ciência Política INTRODUÇÃO A CIÊNCIA POLÍTICA 1 Sumário Introdução ............................................................................................................................. 2 Objetivos ............................................................................................................................... 2 1. Da Ciência Política ........................................................................................................ 2 1.1. O que é Ciência Política? ............................................................................................ 2 1.2. Métodos ....................................................................................................................... 4 1.3. Ciência Política versus Filosofia Política .................................................................. 5 Exercícios ............................................................................................................................... 7 Gabarito ................................................................................................................................. 7 Resumo .................................................................................................................................. 8 2 Introdução Bem-vindo ao estudo introdutório da Ciência Política, a partir de agora você será levado (a) a conhecer como esse importante ramo das Ciências Sociais é essencial para a investigação da conjuntura política de um povo. Diariamente somos confrontados com o termo política e muitas vezes não sabemos exatamente o que é política e qual campo estuda Ciência Política. Por isso, estudar Ciência Política é conhecer um pouco da História de um povo e de suas formas de governo, é pensar o Direito, os movimentos sociais, é formar opiniões sobre o poder, estabelecer o conceito é refletir sobre a democracia, sobre o Estado, teorias, partidos e sistemas políticos como um todo. Objetivos • Compreender a definição da Ciência Política e do método de estudo. • Diferenciar Ciência Política e Filosofia Política. 1. Da Ciência Política 1.1. O que é Ciência Política? A Ciência Política opera dentro do amplo campo das Ciências Sociais e em um sentido amplo é o estudo das estruturas e dos fenômenos políticos realizado a partir de um esforço científico que envolve coleta e análise de dados reais, ou seja, como toda ciência, a Ciência Política preocupa-se em desenvolver suas teorias partindo de uma metodologia estritamente empírica. Ao longo da história diversos autores como Maquiavel, inauguraram o que seria considerado futuramente pela Ciência Política, de Pensamento Político. Thomas Hobbes, Montesquieu, Jean Jacques Rousseau, Puffendorf, Spinoza, e no contratualismo John Locke, Hobbes e Rousseau e outros tantos ao tratarem de temas como a moral a ética, a religião e o poder, são hoje considerados os grandes clássicos da disciplina. Esses autores são responsáveis por estudar a política, ou seja, analisar separadamente esses temas bem como os temas referentes ao Estado, ao direito divino, a soberania, ao poder e seus reflexos na sociedade da época e futura. A Ciência Política tem seus pilares construídos na base da produção intelectual que lhe é anterior. Nas obras desses citados grandes clássicos da Filosofia Política e encontramos a gênese do estudo do fenômeno do Poder, ou seja, da 3 Política. Assim, se por um lado a Filosofia Política compreende como deveria ser Política, como deveria ser fenômeno do Poder segundo a ação humana motivada por uma determinada moralidade (ética), a Ciência Política parte dessa referência histórica e normativa para produzir uma Sociologia da Política, compreendendo elementarmente o fenômeno sociológico do poder sob o ponto de vista de seus motivos, ou seja, o Poder em uma sociedade é como é Neste sentido também, há de se esclarecer que a Ciência Política, como o estudo das causas existentes na disputa por poder, mediada por especificidades sociais lidas com a moralidade e a ética, bifurcando-se em dois possíveis pontos de vista: A Ciência Política enquanto estudo do Poder, ou seja, assume-se que há na sociedade diversas esferas de disputa, da família ao Estado, do que é considerado como privado ou que é claramente público; Ou a Ciência Política enquanto estudo do Estado, onde impõe-se determinar que este é o local onde as disputas por poder se apresentam de forma privilegiada. Os regimes políticos, as formas de governo, são debates possíveis em ambas as formas, por exemplo, é possível debater Democracia do ponto de vista dos processos democráticos, representativos e participativos no Estado, ou seja, nos locais institucionalizados de tomada de decisão, e também observando as oportunidades de participação dos operários de chão de fábrica, por exemplo. Concluímos então que foi através do esforço racionalista e do registro histográfico que legamos dos grandes clássicos a compreensão das formas e das causas das disputas por Poder capazes de gerar, por exemplo, a queda e a ascensão de novos regimes, sistemas e formas de governo. É da nossa humanidade a inescapável coexistência entre teoria e práxis. Toda a humanidade ocidental foi imaginada, registrada e complexificado pelos estudiosos dos respectivos tempos, da filosofia antiga aos contratualistas do Estado Moderno, onde a política e o poder esteve sempre em pauta. E foram essas contribuições que tornaram possível que no século XIX a Ciência Política fosse considerada como uma disciplina cientifica autônoma. 4 IMPORTANTE! SAIBA MAIS! 1.2. Métodos A partir de uma pesquisa empírica a Ciência Política busca a objetividade dos fatos, tratando assim o estudo da política como ciência. Nesse sentido, os cientistas políticos recorrem a diferentes metodologias de acordo com o que se pretende investigar. Por certo, convém destacar que de acordo com Maurice Duverger (1981, p. 33) é natural que a Ciência Política utilize os métodos aperfeiçoados por cada ciência social, na medida em que possam ser aplicados a seu domínio. Sendo desejável que a Ciência Política desenvolva os seus próprios métodos. A Ciência Política compreende o processo político, isto é, o esforço de localizar as causas atuais não pode ser feito ignorando o caráter processual dos fatos sociais, impondo-se assim que não ignore o historicismo de seu objeto de estudos. O fazer científico dessa ciência se dá mediado pela análise comparativa dos dados colhidos, das informações diversas e muitas vezes contraditórias que se extrai dos diversos contextos sociais, verificando similaridades, recorrências que tornam o estudo da Política uma ciência de fato. Em qualquer pesquisa o cientista precisa fazer uma A concepção da disciplina “sociologia” é usualmente atribuída a Comte (1798-1857): “O termo sociologia” foi criado por Augusto Comte em 1839, no IV volume de seu Curso de Filosofia Positiva, para designar a ciência da sociedade” (DUVERGE: 1966:1). Monarquias podem ser democráticas, como exemplo temos as Monarquias Parlamentaristas do Reino Unido, da Suécia e do Japão. Uma Monarquia pode ser tanto uma Autocracia, como é o caso das Monarquias Absolutistas, como pode ser uma Democracia, como é o caso das Monarquias Constitucionais (parlamentaristas). E uma República pode ser tanto democrática quando não democrática. O Brasil, por exemplo,pós Golpe Militar de 1964 não deixou de ser uma República, apenas passou a ser uma República Autocrática. 5 escolha metodológica, colher dados qualitativamente ou colher dados quantitativamente, o que significa optar por compreender o problema do ponto de vista numérico, ou da experiência de quem vive o problema. Em termos práticos, significa compreender a pobreza, por exemplo, através de dados estatísticos, ou através do relato de famílias em situação de extrema vulnerabilidade social. Também é perfeitamente possível que uma pesquisa se valha de ambas possibilidades. Seguindo com o exemplo já dado, compreender a pobreza do ponto de vista da Ciência Política sugere que o caminho de pesquisa deve compreender o Estado como central no processo político, ou seja, compreender como o Estado lida com o problema da pobreza, se há políticas públicas de combate à pobreza. Assim, tanto qualitativamente quanto quantitativamente os dados devem ser colhidos e lidos do ponto de vista da estrutura do Estado. Quantitativamente, quais são as medidas e o nível de eficiência da atuação do Estado; qualitativamente, o que as experiências das pessoas contempladas ou não pela ação do Estado tem apresentado a respeito do problema público. Do ponto de vista da Ciência Política como uma ciência do Poder, compreender a pobreza qualitativamente é compreender as causas do problema social segundo o espectro amplo da sociedade, é compreender qualitativamente como o pensamento social contribui para a normalização da pobreza, da exploração, da opressão, da segregação, por exemplo. Compreender quantitativamente é buscar em termos numéricos como os índices de pobreza estariam relacionados talvez com índices como o de industrialização, o de crescimento urbano e o de nível de escolaridade. DICA! 1.3. Ciência Política versus Filosofia Política Sabemos que durante o século XIX foi reconhecida à emancipação da Ciência Política, como novo ramo científico das Ciências Sociais e por isso, ainda que sua base tivesse assentada em pensamentos filosóficos políticos, tal ciência desvinculava-se daquela. O sentido original de ‘filosofia’, atribuído a Pitágoras, é o “amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria Confira o artigo: A utilização de métodos qualitativos na Ciência Política e no Marketing Político, escrito por Luciana Veiga e Sonia Maria Guedes Gondim, publicado na Revista Opinião Pública, vol. 7, nº 1, Campinas, 2001. 6 ignorância” (HOUAISS, 2009: 897). Ao longo dos séculos a definição do que é filosofia tomou novos formatos e dimensões, mas há dois aspectos constantes que a Filosofia é implicada: “1.° posse ou aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo possível; 2.° uso desse conhecimento em benefício do homem” (ABBAGNANO, 2007: 514). Genericamente compreende-se por sociologia, o “estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas e das leis fundamentais que regem as relações sociais e as instituições” (HOUAISS, 2009: 1762). Mas especificamente, sendo a Sociologia “a ciência da sociedade, entendendo-se por sociedade o campo das relações intersubjetivas” (ABBAGNANO, 2007: 1083), entende-se então tratar de “qualquer tipo ou espécie de análise empírica ou teórica que se refira aos fatos sociais, ou seja, às efetivas relações intersubjetivas, em oposição às ‘filosóficas’ ou ‘metafísicas’ da sociedade, que pretendem explicar a natureza da sociedade como um todo, independentemente dos fatos e de modo definitivo” (ABBAGNANO, 2007: 1083). PRATIQUE! Visto que ambos tratam do campo da ‘Política’, e isto é o mesmo que afirmar que ambas tratam de compreender o elemento ‘Poder’ presente nas relações sociais, a diferença fundamental entre Filosofia política e Ciência política é que a Filosofia política busca determinar como o mundo ‘deveria ser’, ou seja, possui um caráter fortemente normativo de observação racional da realidade e projeção de um ideal a ser aplicado. Já a Ciência Política não é mera observação, , a busca é por descobrir os motivos que justificam o mundo ser como é. É necessário afirmar que por vezes há um certo grau de normatividade na Ciência Política, são os casos de cientistas que além de compreender a causa das relações políticas, também apresentam possíveis soluções para problemas identificados, tornando tênue o limiar entre Filosofia e Ciência Política. A teoria política de Sartori caminhava entre a normatividade (leis gerais/ regras passiveis de generalização/ pertence ao campo da filosofia) e a empírica (comprovação científica/ administração de provas/ pertence ao campo da ciência): A Aproveite o tema para pesquisar e comparar o pensamento político filosófico de Aristóteles, com a atualidade! 7 priorização feita por Sartori ao campo da ciência, da demonstração da realidade enquanto método empírico, não gerou o abandono completo da possiblidade de projeções utópicas (normativas) estarem presentes em sua teoria. O autor contempla tal relação de coexistência normativa e empírica através das ‘regras de conversão’, que seriam “um meio-termo entre princípios básicos e a realidade, i.e., definem as condições de aplicação dos princípios básicos” (LETSTER, 2013: 70). Os princípios básicos pertencem ao campo da utopia e da normatividade, e a realidade pertence ao campo da empiria, da comprovação científica: “os princípios básicos ou puros são os ideais que formam a teoria normativa da democracia e, por outro lado, que a realidade ou os dados empíricos formam sua versão empírica, então as regras de conversão são a tradução dos ideais para a realidade, i.e., são um meio de aplicar os ideais ao mundo, considerando, como comentamos no nível da metafísica, que ideais podem ser ‘parcialmente’ realizáveis (ou seja, realizáveis sob condições). Essas regras compõem o plano teórico médio ou intermediário comentado na epistemologia.” (LETSTER, 2013: 70 – 71). Compreendemos nesta apostila que a Ciência Política tem suas fronteiras no estudo das possíveis noções de poder, ou seja, nas configurações que as correlações de forças podem assumir no interior de uma determinada sociedade e suas instituições. Tal estudo tem como variáveis atores políticos, sistemas e regimes de governo, projetos políticos e a própria complexidade do pensamento social de cada grupo sociológico. Exercícios 1. Defina Ciência Política. 2. Diferencie Filosofia Política de Ciência Política. 3. Explique a partir de uma pesquisa empírica o que busca a Ciência Política? Gabarito 1) A Ciência Política opera dentro do amplo campo das Ciências Sociais e em um sentido amplo é o estudo das estruturas e dos fenômenos políticos realizado a partir de um esforço científico que envolve coleta e análise de dados reais, ou seja, como toda ciência, a Ciência Política preocupa-se em desenvolver suas teorias partindo de uma metodologia estritamente empírica. 2) A Ciência política: investiga os fatos desde uma ótica empírica, na busca por aprimorar a vida das sociedades reais. Já a Filosofia política: possui uma perspectiva ontológica visando a constituição racional dos sistemas políticos. 8 3) Ela busca a objetividade dos fatos e para alcançá-la utiliza-se princípios lógicos, sistemáticos, coerentes e verdadeiros valendo-se de enfoques e métodos investigativos. Resumo Vimos que a Ciência Política tem por finalidade realizar pesquisas no campo da vida política verificando o critério de aceitabilidade dos resultados,valendo se de técnicas capazes de dar uma explicação causal do fenômeno investigado e a abstenção de juízos de valor. Além disso, vimos que diversos pensadores foram responsáveis por estudar a política, ou seja, analisando–a separadamente de temas como a moral, a ética, a filosofia e a religião, bem como temas referentes ao Estado, a soberania, a política, ao poder e seus reflexos na sociedade da época e futura. Vimos ainda que a partir de uma pesquisa empírica a Ciência Política busca a objetividade dos fatos tratando assim o estudo da política como ciência. Nesse sentido, os cientistas políticos recorrem diferentes metodologias de acordo com o que se pretende investigar. E por fim vimos que a Filosofia, diversamente da Ciência Política, é única em proporcionar uma ampla visão da realidade requerendo legitimações epistemológicas e uma experiência ética. Já a Ciência política tem seus limites e obrigações filosóficas por seu compromisso teórico e compromisso participativo. 9 Referências bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007 BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília- UNB, 1998. DIAS, Reinaldo Ciência Política – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2013. DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1981. FILOMENO, José Geraldo Brito, Teoria geral do Estado e da Constituição, – 10.ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016. GÜNTHER, Hartmunt. Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa. In Ver. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210. LETSTER, Ana Carolina; CHIAPPIN, José R. N. Teoria da Democracia de Sartori: uma defesa da democracia representativa. In Revista Política Hoje, v. 22, n. 2 Recife: UFPE, 2013. MIGUEL, Luis Felipe. Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento. Bíb., São Paulo, v., n. 59, p.5-42, set. 2006. SARTORI, Giovanni. A Política: lógica e método nas ciências sociais. Trad. De Sérgio Bath – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2ª Ed., 1997. SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas partidários. Brasília: UnB, 1982.
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