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FACULDADE ESTÁCIO DE SERGIPE NUTRIÇÃO CLÍNICA EM PEDIATRIA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO EM PEDIATRIA MATERIAL DIDÁDICO – AULA 3 OBJETIVOS DA AULA • Conceituar a Doença do Refluxo Gastroesofágico(DRGE) • Diferenciar a DRGE e regurgitação infantil • Detectar sinais e sintomas da DRGE • Entender a fisiopatologia da DRGE • Conhecer as consequências da DRGE em lactentes e crianças • Conhecer o tratamento nutricional da DRGE em lactentes e crianças MITO OU VERDADE??? • Toda regurgitação é patológica, podendo ser classificada como DRGE. • Criança com DRGE não deve ser amamentada. • Criança com DRGE precisa de alimentação especial. • O tratamento da DRGE é apenas clínico com mudança de hábitos ou de dieta. PROCESSO DIGESTIVO • Quando ingerimos um alimento, ele desce pelo esôfago até chegar no estômago. O estômago contém enzimas digestivas e uma acidez bastante pronunciada. Esse ácido não deve voltar para o esôfago, pois isso causa lesões (feridas) no esôfago. • Assim, para proteger o esôfago do ácido, no final dele há uma maior pressão da sua musculatura que, contraída, impede que o ácido gástrico volte para o esôfago. A essa região chamamos esfíncter inferior do esôfago - Cardia • O retorno do suco gástrico para o esôfago é chamado de refluxo gastroesofágico (do estômago – gastro – para o esôfago). O refluxo é considerado um dos problemas mais comuns do tubo digestivo e pode se manifestar com diversos sintomas. INTRODUÇÃO • Refluxo gastroesofágico (RGE): retorno do conteúdo gástrico ao esôfago (com ou sem regurgitação). • Considerado um processo normal, fisiológico, que ocorre várias vezes por dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, sendo uma das queixas mais frequentes em consultórios. • Mecanismo anti-refluxo é relativamente deficitário no recém nascido e no lactente jovem, agravado pelo decúbito horizontal. • Problema digestivo frequente sendo a condição mais comum que acomete o esôfago. – em 50% das crianças abaixo dos 3 meses, – em 67% na faixa etária de 4 a 6 meses – em 5% entre 10 e 12 meses de vida. – resolução espontânea em 90% ate a idade de 18 a 24 meses FERREIRA, CT et al, 2013; Accioly et al, 2009). INTRODUÇÃO • Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): refluxo gastro esofágico quando causa sintomas ou complicações, que se associam à morbidade importante. • Confusão entre RGE e DRGE: – Variabilidade das manifestações clínicas e do curso evolutivo – Falta de classificação que permita categorizar os pacientes – Carência de exames diagnósticos específicos – Nos lactentes os sintomas são muito inespecíficos, como choro, irritabilidade e recusa alimentar, não sendo suficientes para diagnosticar ou predizer a resposta à terapia. FERREIRA, CT et al, 2013. INTRODUÇÃO • Os episódios de refluxo fisiológico em indivíduos saudáveis são, na sua grande maioria de curta duração, geralmente pós- prandial (após refeição). • Na DRGE o retorno do conteúdo gástrico apresenta sintomas e provoca complicações. • Sintomas variam desde simples regurgitação até uma doença grave SINAIS E SINTOMAS O diagnóstico da DRGE é clínico, baseado nos sinais e sintomas que podem estar associados ao RGE: – Anemia – Apneia (parada respiratória) – Azia – Comportamento ruminativo (psic, repetitivos) – Disfagia (dificuldade de deglutir) – Dor torácica (no Torax) – Emagrecimento – Erosão dental Cont. SINAIS E SINTOMAS • Esofagite • Estenose de esôfago (estreitamento) • Hematêmese (vômito de sangue) • Inflamação de laringe/faringe • Déficit de crescimento • Irritabilidade • Odinofagia (dor durante a deglutição do alimento) • Recusa Alimentar • Rouquidão, sibilância (“chiado no peito”), tosse, vômitos • Esôfago de Barret - atinge a porção inferior do esôfago, cujas células originais são substituídas por células semelhantes às do intestino FISIOPATOLOGIA • O RGE ocorre quando existe falha dos mecanismos da barreira anti-refluxo • A DRGE se desenvolve quando, na presença do refluxo ocorre um desequilíbrio nos mecanismos de agressão e de defesa (esofagite). • A DRGE pode ocorrer em pacientes com quadro clínico típico (vômito, regurgitação) ou em pacientes nos quais o refluxo é oculto e somente suas consequências ou complicações se manifestam, após longos períodos assintomáticos. FISIOPATOLOGIA • Fatores predisponentes pela alta prevalência de RGE no 1º ano de vida e pela alta frequência de queixa de regurgitação e de vômitos: – Hábitos de vida – Aspectos anatômicos e funcionais do esôfago e estômago Quais hábitos de vida podem ser fatores predisponentes? FISIOPATOLOGIA Hábitos de vida - Dieta líquida e volumosa - Posição horizontal frequente - Necessidades calóricas elevadas - Esôfago abdominal mais curto - Relaxamento do esfíncter superior nos episódios de RGE - Menor clareamento esofágico em prematuros (processo pelo qual restaura-se o pH normal do esôfago após a ocorrência de refluxo) - Esvaziamento gástrico lento - Menor complacência gástrica (tónus muscular) Aspectos Anatômicos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E EVOLUÇÃO • Quadro clínico é diverso e com gravidade variável • Sintomas variam de acordo com a idade da criança e a presença de complicações e comorbidades (duas ou mais doenças) Regurgitação e vômito (RGE) Esofagite Estenose esofágica Esôfago de Barret * Respiratórias Otorrinolaringológicas Neurocomportamentais Orais, entre outras • Esôfago de Barret - atinge a porção inferior do esôfago, cujas células originais são substituídas por células semelhantes às do intestino MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E EVOLUÇÃO • Podem ocasionar retardo de crescimento e desnutrição • A esofagite de refluxo pode se manifestar com dor precordial(dor torácica), choro excessivo, irritabilidade, sono agitado, hematêmese(vômito de sangue), sangue oculto nas fezes(pequenas quantidades de sangue nas fezes ), melena (sangue nas fezes, pastosa, escura, fétidas), disfagia (dificuldade de deglutir), entre outros. • Leva a recusa alimentar e consequentemente à desnutrição MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E EVOLUÇÃO • Do ponto de vista respiratório pode estar associada a rouquidão, laringite, tosse, broncoespasmo (dificuldade em respirar), pneumonia, apnéia obstrutiva (parada respiratória), hipoxemia(baixa concentração de oxigênio no sangue arterial), bradicardia(retardo no ritmo cardíaco) • As manifestações orais são erosão dentária e halitose(mau hálito). Em pediatria o estudo da DRGE envolve três grupos distintos, com manifestações clínicas diferentes: lactentes, crianças maiores e grupos de risco DRGE em LACTENTES • RGE é comum e na maioria das vezes fisiológico com regurgitação e vômito iniciados entre 2º e 4º mês com involução espontânea entre 12 e 24 meses • Na DRGE ocorre uma irritabilidade e recusa alimentar (queimação retroexternal) • Difícil diferenciar entre os sintomas de DRGE e alergia alimentar ou cólica infantil = SINTOMAS INESPECÍFICOS! DRGE em LACTENTES • Sinais de alarme: • Abaulamento da fontanela • Convulsões • Diarréia • Distensão abdominal • Início dos vômitos após o 6º mês • Letargia(perda temporária ou completa da sensibilidade e do movimento ) • Perda de peso ou parada no crescimento • Sangramento gastrointestinal, entre outros DRGE e APLV• A DRGE e a APLV(Alergia a Proteína do leite de Vaca) são condições comuns na faixa etária pediátrica, especificamente no lactente. • Existe um subgrupo de lactentes pequenos, em geral menores de seis meses, que são portadores de APLV e se manifestam com vômitos e regurgitações, indistinguível de RGE. • Vários estudos apoiam a hipótese de que há uma relação causal entre as duas condições (estimativas de até 56%). • TESTE TERAPÊUTICO: 2 a 4 semanas com fórmulas extensamente hidrolisadas ou com fórmulas de aminoácidos e para os lactentes amamentados no seio, dieta materna sem leite de vaca e derivados. DRGE EM CRIANÇAS MAIORES • Evolução para crônica com maior frequência. • Períodos de remissão (não há sintomas) e de recidiva(reaparecimento da doença ou do sintoma) durante muito tempo, semelhante com a do tipo adulto. • Maior prevalência e gravidade das complicações esofágicas. DRGE em GRUPOS DE RISCO • Crianças neuropatas (distúrbio neurológico ) • Crianças operadas de atresia de esôfago (afecção congênita, caract. pela interrupção do desenvolvimento do esôfago.) • Portadores de hérnia hiatal • Portadores de fibrose cística (doença caracterizada pelo mau funcionamento das glândulas exócrinas) e transplante pulmonar • Crianças em quimioterapia • Prematuros • Crianças obesas Nestes pacientes a DRGE é mais grave e crônica, maior prevalência de complicações esofágicas, de mais difícil controle. Probabilidade maior de tratamento por mais tempo até por toda a vida. Crianças neuropatas, com alimentação por sonda DIAGNÓSTICO • História detalhada • Exame físico • Exames diagnósticos (radiografia contratada, cintilografia gastroesofágica, pHmetria esofágica, Ultrasonografia gastroesofágica, endoscopia digestiva alta com biópsia, entre outros) COMPLICAÇÕES • Esofágicas: - Esofagite de refluxo (inflamação da mucosa que recobre o interior do esôfago) - Estenose péptica (inflamação crônica da mucosa) - Esôfago de Barret (alteração do tecido mucoso da parte final do esôfago (próximo ao estômago) - Adenocarcinoma de esôfago (câncer) • Extraesofágicas: - Distúrbio do sono - Sintomas respiratórios alto e baixo - Sintomas otorrinolaringológicos TRATAMENTO • OBJETIVOS: – promoção de crescimento – ganho de peso adequado – alívio dos sintomas – cicatrização das lesões teciduais – prevenção da recorrência das lesões e das complicações TRATAMENTO LACTENTE • Lactente com RGE sem complicações, apenas orientações posturais e alimentares • Lactente com DRGE com complicações do RGE (esofágicas ou extra esofágicas) devem ser tratados com farmacoterapia, medidas anti-DRGE e dieta apropriada com orientação aos pais • Ausência de comprovação científica para uso de fórmulas com pré e pró-bióticos. ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS PARA LACTENTES • Educação e orientação aos pais – não usar roupas apertadas; sugerir a troca das fraldas antes das mamadas; evitar o uso de fármacos que exacerbam o RGE; orientar infusões lentas, nas crianças com sondas nasogástricas ( introduzido desde as narinas até o estômago); evitar o tabagismo (ativo ou passivo) • Leite materno de preferência, com orientação postural • Com introdução da alimentação complementar: espessar ligeiramente a alimentação • Fórmulas anti-refluxo (Nan –AR, Aptamil -AR): podem diminuir a regurgitação visível, mas não resultam em diminuição mensurável TRATAMENTO CRIANÇAS MAIORES E ADOLESCENTES • DRGE pode apresentar curso crônico e recidivante(repetitiva) • Tratamento clínico pode não surtir efeito completamente • Corrigir obesidade, caso necessário • Evitar chá, café, refrigerante, chocolate, alimentos gordurosos, • Evitar alimentar-se e dormir logo em seguida • Pequenas refeições em intervalos mais curtos (evitar refeições volumosas) • Não existem evidências para a retirada de frutas ácidas TRATAMENTO ORIENTAÇÃO POSTURAL • Para lactentes posição supina ou decúbito dorsal (face para cima) para dormir. Macacão antirefluxo??? Cadeirinha antirefluxo??? • Para crianças maiores de 1 ano pode ser indicado a posição prona ou decúbito ventral (face para baixo) para dormir • Alimentar a criança sempre com a cabeça e o torax elevados • Elevar a cabeceira da cama. Travesseiro antirefluxo. • Para adolescentes dormir em decúbito lateral esquerdo com cabeceira elevada. Pos prandial(após a refeição) decúbito lateral direito (↓RGE) TRATAMENTO • Tratamento medicamentoso – Ranitina – Cimetidina – Inibidores da bomba de prótons (Omeprazol, pantoprazol) • Tratamento Cirúrgico Indicada em crianças com esôfago de Barret ou estenose péptica (inflamação crônica da mucosa) EFEITOS COLATERAIS! REFERÊNCIAS • FERREIRA, C. et al. Doença do refluxo gastresofágico. In(CARVALHO, E. et al. Gastroenterologia e nutrição em pediatria). Manole, 2012. 91-133
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