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Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG CONTEXTO MUNDIAL ↳ 13 milhões de pessoas possuem diagnóstico de Diabetes Melito (DM). O número de pessoas com DM foi projetado para superior a 642 milhões em 2040. ↳ A OMS estima que a hiperglicemia é o terceiro fator, em importância, da causa de mortalidade prematura, superada apenas por HAS e tabagismo. ↳ O aumento da prevalência do diabetes é multifatorial: rápida urbanização, transição epidemiológica, transição nutricional, maior frequência de estilo de vida sedentário, maior frequência de excesso de peso, crescimento e envelhecimento populacional e, também, aumento da sobrevida dos indivíduos com diabetes. ↳ O baixo desempenho dos sistemas de saúde, pouca conscientização sobre diabetes entre a população geral e os profissionais de saúde e início insidioso dos sintomas ou progressão do diabetes tipo 2 culmina na não detecção precoce do DM, dando oportunidade para o desenvolvimento de suas complicações: complicações micro e macrovasculares. Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes DEFINIÇÃO ↳ A DM é uma síndrome do metabolismo defeituoso de carboidratos, lipídios e proteínas, causada tanto pela ausência de secreção de insulina como pela diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina. ↳ Normalmente, o organismo transforma grande parte dos alimentos ingeridos em glicose. Essa glicose é transportada pelo sangue até as células onde será usada como fonte de energia. Para facilitar esse transporte, o corpo humano produz uma substancia chamada insulina. Nos diabéticos, ela não é produzida, a quantidade não é suficiente ou a insulina produzida não funciona adequadamente. Daí o aumento da quantidade de glicose no sangue. ↳ Existem dois tipos gerais de diabetes melito: 1. Diabetes Tipo 1 Também chamado de diabetes melito dependente de insulina (insulinodependente), é ocasionado pela ausência de secreção de insulina 2. Diabetes Tipo 2 Também chamado de diabetes melito não dependente de insulina, é inicialmente provocado pela diminuição da sensibilidade dos tecidos-alvo ao efeito metabólico da insulina. Essa sensibilidade reduzida à insulina é frequentemente chamada de resistência insulínica. ↳ Em ambos os tipos de diabetes melito, o metabolismo de todos os nutrientes está alterado. O efeito básico da ausência de insulina ou da resistência à insulina no metabolismo é impedir a captação eficiente e utilização da glicose pela maioria das células do organismo, exceto do cérebro. ↳ Como resultado, a concentração de glicose sanguínea aumenta, a utilização celular da glicose cai ainda mais, e a utilização dos lipídios e das proteínas aumenta. FISIOLOGIA NORMAL ↳ Quando o corpo identifica níveis elevados de glicemia (e isso ocorre principalmente após as refeições, pois há absorção dos nutrientes ingeridos), ocorre o estímulo para liberação da Insulina pelas células beta pancreáticas. Inicialmente ocorre a liberação do hormônio armazenado e, logo em seguida, do que está sendo recém-sintetizado. ↳ O objetivo principal desse hormônio é fazer com que a glicose vá para o meio intracelular dos diversos tecidos, onde ocorrerá glicólise para geração de energia (principalmente em miócitos e hepatócitos) e o que sobra é utilizado na formação de glicogênio hepático, mecanismo de armazenamento energético. ↳ Esse sistema levará à formação de macromoléculas, como carboidratos, proteínas e lipídios, e por esse motivo dizemos que a insulina é um hormônio anabólico. ↳ Já o glucagon, hormônio contrarregulador da insulina, é produzido pelas Células Alfa Pancreáticas e possui o efeito oposto, sendo catabólico (juntamente com outras substâncias). Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ A partir do momento em que o corpo detecta baixos níveis glicêmicos, sua produção e liberação são estimuladas. Nesse estado (fisiologicamente em jejum prolongado), estimula-se o uso das reservas hepáticas de glicogênio (glicogenólise) e posteriormente a síntese de glicose (gliconeogênese) através de moléculas não glicídicas, como o lactato dos músculos. Ocorre lipólise, e os ácidos graxos passam a ser substrato energético para a maior parte do corpo. Se esse mecanismo ocorre em excesso, acontece a cetogênese através dos hepatócitos. DIABETES TIPO 1 – DEFICIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE INSULINA PELAS CÉLULAS BETA DO PÂNCREAS ↳ O diabético se alimenta → o estômago transforma a comida em glicose → a glicose entra na corrente sanguínea → o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina → a glicose não consegue entrar nas células e se acumula no sangue→ paciente é obrigado a aplicar insulina. PESSOA SAUDÁVEL: DIABÉTICO: ↳ Início: a partir dos 14 anos (diabetes melito juvenil). Não obstante, pode acontecer em qualquer idade. Além disso, é o tipo de diabetes menos comum. ↳ Em geral, são pacientes jovens que procuram atendimento, a maioria entre 4-6 ou 10-14 anos. Exceções existem, no entanto, e a doença pode se manifestar em idades mais avançadas. Quando surge após os 30 anos, chamamos de Diabetes Tardia ou LADA. ↳ Pode se iniciar de modo repentino, em período de alguns dias ou semanas, com três sequelas principais: 1. Glicose sanguínea aumentada 2. Aumento da utilização de lipídios como fonte de energia e para a formação de colesterol pelo fígado 3. Depleção das proteínas do organismo ↳ A ausência de insulina reduz a eficiência de utilização periférica da glicose e aumenta a produção de glicose, elevando a taxa plasmática dessa e causando efeitos múltiplos por todo o organismo. ↳ A glicose alta no sangue faz com que mais dela chegue aos rins em quantidade maior do que pode ser reabsorvida e o excesso é eliminado pela urina. Isso acontece quando o nível da glicose fica acima de 180mg/100ml, o “limiar” sanguíneo para o aparecimento de glicose na urina. ↳ A glicose não se difunde facilmente pelos poros das membranas celulares, e o aumento da pressão osmótica nos líquidos extracelulares causa transferência osmótica de agua para fora das células e, por conseguinte, grave desidratação celular em todo o organismo. Além disso, a perda da glicose na urina causa diurese osmótica, o que significa que o efeito osmótico da glicose nos túbulos renais reduz muito a reabsorção tubular de líquidos. ↳ O efeito global, então, é a perda maciça de liquido na urina, ocasionando desidratação do liquido extracelular, que, por sua vez, causa desidratação compensatória do liquido intracelular. Assim, a poliúria (excreção excessiva de urina), as desidratações intracelulares e o aumento da sede são sintomas clássicos do diabetes. ↳ Quando a glicose fica mal controlada por muito tempo, diversos vasos sanguíneos começam a funcionar anormalmente e passam por alterações estruturais que resultam em aporte inadequado de sangue para os tecidos, aumento o risco de ataque cardíaco, derrame, doença renal, retinopatia, cegueira, isquemia e gangrena nos membros. Tipo especial ou evolução de processo necrosante, cujas características variam. Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ A hiperglicemia crônica também causa: Neuropatia periférica, que é o funcionamento anormal dos nervos periféricos. Disfunção do SNA ↳ Essas anormalidades podem resultar em alteração dos reflexos cardiovasculares, deterioração do controle vesical, diminuição da sensibilidade nas extremidades e outros sintomas de lesão dos nervos periféricos. ↳ Em estágios avançados de um ou outrotipo, quando não se administra insulina exógena nem medicações que auxiliem a contornar a situação, a glicose passa a servir quase que exclusivamente aos neurônios. Mas por que isso acontece? Isso se deve ao fato de que os neurônios não precisam da insulina para receber glicose. Portanto, continuam a funcionar normalmente sem esse hormônio. O problema é que isso os torna especialmente sensíveis tanto à hiper quanto à hipoglicemia, fazendo com que as manifestações neurológicas sejam as primeiras a aparecer em quadros de descompensação aguda. ↳ Além disso, a hipertensão, secundaria a lesão renal, e a aterosclerose, secundaria ao metabolismo anormal dos lipídeos, frequentemente acontecem nos diabéticos e amplificam as lesões teciduais. ↳ No DM1, há alteração do metabolismo de carbos para o metabolismo de lipídios, o que aumenta a liberação de cetoácidos no plasma muito mais rápido do que as células teciduais conseguem capta-los e fazer sua oxidação. Como consequência, ocorre acidose metabólica pelo excesso de cetoácidos, que associada a desidratação já citada acima, pode provocar acidose grave. Esse cenário rapidamente pode caminhar para coma diabético e morte, ao menos que o paciente receba tratamento com grande quantidade de insulina. ↳ Compensações da acidose diabética: 1. Respiração rápida e profunda Provoca aumento da expiração de CO2, que age como tampão para a acidose, mas também reduz as reservas de bicarbonato do liquido extracelular. 2. Redução de excreção de bicarbonato pelos rins Isso gera novo bicarbonato que é devolvido ao liquido extracelular. ↳ Como na DM1 não há possibilidade de usar a glicose como fonte de energia, ocorre o aumento da utilização e a diminuição do armazenamento das proteínas e dos lipídios. Assim, a pessoa que tem esse tipo de diabetes não grave não tratado apresenta perda de peso rápida e astenia (ausência de energia). ↳ Em resumo, a falta de insulina representa para o corpo um jejum, sendo que não vai ocorrer a entrada de glicose na célula. Essa não entrada significa para o corpo que ele não está recebendo energia e a criança começa a desenvolver fome e comer em excesso. Mesmo assim, não dá para transferir a glicose para dentro da célula e a criança começa a emagrecer. Como a glicose vai aumentando no sangue porque a pessoa está comendo muito e a acumulando ali, há aumento da osmolaridade, ou seja, muito soluto no solvente, fazendo com que o indivíduo beba muita agua. Os rins então, excretam muito essa e a glicose levando a uma poliúria. Adiciona-se a esse quadro a cetoacidose. DIABETES TIPO 2 – RESISTÊNCIA AOS EFEITOS METABÓLICOS DA INSULINA ↳ O diabetes tipo 2 é o mais comum, correspondendo a mais de 90% dos casos de DM no total. ↳ Na maioria dos casos, inicia-se depois dos 30 anos, geralmente entre os 50 e 60 anos, e a evolução da doença é gradual. Por isso, ela é frequentemente descrita como diabetes do adulto. ↳ Nos últimos anos, ocorreu um aumento significante de indivíduos mais jovens (menores de 20 anos) com DM2. Esse fato se relaciona a prevalência de obesidade, que é FR da DM2 em crianças e adultos. PRECEDENTES DO DESENVOLVIMENTO DO DM2 ↳ No diabetes melito tipo 2, além de hiperglicemia ocorre no corpo também hiperinsulinemia (aumento da concentração de insulina plasmática). O que acontece é que as células β do pâncreas começam a produzir muita insulina para tentar vencer a resistência à insulina que os tecidos-alvo apresentam. A redução dessa sensibilidade à insulina faz com que a glicose não consiga entrar na célula, prejudicando o uso e o armazenamento dos carboidratos, assim, temos um aumento da glicose no sangue, aumentando mais ainda o estimulo nas células β pancreáticas para que elas aumentem de modo compensatório a secreção de insulina. ↳ O desenvolvimento da resistência à insulina e do metabolismo alterado da glicose é geralmente um processo gradual que começa com o excesso de peso e obesidade. Entretanto, os mecanismos que relacionam a obesidade à resistência insulínica ainda não estão bem esclarecidos. Estudos sugerem menor número de receptores de insulina nos indivíduos obesos, entretanto, a maior parte da resistência é provocada por Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG anormalidades nas vias de sinalização que ligam a ativação do receptor a diversos efeitos celulares. A alteração na sinalização é consequência dos efeitos tóxicos do acumulo dos lipídios nos tecidos, como o mus. Esquelético, tecido adiposo e fígado, em consequência do ganho excessivo de peso. ↳ O diabético tipo 2 muitas vezes apresenta desenvolvimento silencioso da doença, sendo assintomático por vários anos até iniciar quadro de alterações macrovasculares (IAM, Doença Arterial Periférica, AVE) e microvasculares (retinopatia, nefropatia, neuropatia), que são doenças relacionadas ao longo tempo de hiperglicemia. ↳ A síndrome metabólica é, então, a base da evolução para essas situações clínicas. Os critérios para avaliação da síndrome metabólica são: Obesidade (analisada principalmente pela circunferência abdominal) Homem > 102 cm Mulher > 88cm HAS > ou igual 130x85 mmHg Triglicerídeos > ou igual 150 mg/dl HDL Homem < 40 mg/dl Mulher < 50 mg/dl Glicemia em jejum > ou igual 100 mg/dl ↳ Esses critérios estão intimamente relacionados ao acumulo do excesso de tecido adiposo na cavidade abdominal em torno das vísceras e fazem parte dos critérios que predispõe o desenvolvimento do Diabetes Melito tipo 2. FISIOPATOLOGIA DA DM2 ↳ Essencialmente, precisamos entender que a Diabetes Mellitus tipo 2 ocorre quando, por fatores genéticos (forte componente) ou ambientais, temos um déficit no funcionamento habitual da insulina, seja ele advindo do aumento da resistência a esse hormônio ou pela diminuição da sua produção. O que se sabe hoje é que o mecanismo principal na DM2 tende a ser o aumento da resistência insulínica. Entretanto, com os tecidos mais resistentes, as Células β pancreáticas começam a ter que produzir mais hormônio e aos poucos vão sendo levadas à exaustão. Dessa forma, todos os caminhos podem levar ao déficit de produção insulínica, em algum momento. ↳ Essa resistência insulínica incialmente irá conseguir ser plenamente compensada pela maior produção através das células β, o que normaliza os níveis glicêmicos e mascara a doença. Devido a isso, é comum que diagnostiquemos a DM2 em pacientes cujas células β já perderam 50% da sua capacidade de produção e a doença será mais difícil de controlar. É por isso que em pacientes com risco maior, como parentes de primeiro grau portadores da doença, podemos realizar o exame HOMA- IR, que é capaz de medir a resistência insulínica em progressão, tomando medidas que impeçam o estabelecimento da doença. ↳ Se as células estão recebendo menos glicose, o organismo interpreta como um estado de hipoglicemia e as células alfa do pâncreas são estimuladas a produzir glucagon, que atuará de forma semelhante à descrita lá na fisiologia normal. ↳ Resumidamente, o que temos no paciente diabético é: 1. Aumento da secreção de Glucagon, pois o organismo interpreta um falso estado de Jejum. 2. Diminuição posterior da secreção de insulina, pois à medida em que se estimula as células alfa, inibe-se as células β. 3. Aumento da geração de glicose hepática (Gliconeogênese), para compensar essa “hipoglicemia” percebida. 4. Diminuição cada vez maior da captação de glicose circulante, levando a elevadosníveis de glicemia. 5. Diminuição do efeito Incretina, que consiste na secreção de insulina dependente da ingestão de glicose (abordaremos melhor esse mecanismo mais à frente). 6. Aumento da lipólise como fonte de energia, uma vez que a glicólise está prejudicada. 7. Aumento da recaptação da glicose nos néfrons, também devido à falsa percepção de hipoglicemia. ↳ A velocidade de progressão da doença vai depender da compensação obtida dos níveis glicêmicos, através da terapia apropriada (farmacológica e não farmacológica) Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG introduzida o mais cedo possível. Os portadores da DM2 que não conseguem segurar essa progressão, aos poucos alcançam a falência total das células beta, e assim se tornam semelhantes aos portadores de DM1. FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS Não Caucasianos e Não Asiáticos; Idade ≥ 45 anos; Parentes de 1º Grau Portadores de DM; MODIFICÁVEIS IMC ≥ 25kg/m²; Obesidade Central; Sedentarismo; RELACIONADOS À GESTAÇÃO Mulheres que tiveram Diabetes Gestacional; Nascidos com mais de 4kg; RELACIONADOS A OUTRAS DOENÇAS Hipertensos; Portadores de Doença Cardiovascular Manifesta; Portadoras de Síndrome dos Ovários Policísticos; HDL<35 ou TG>250. RELACIONADOS A DEFICIÊNCIA INSULÍNICA EM PROGRESSÃO Acantose Nigricans (principal manifestação precoce da resistência insulínica); Pré-Diabéticos; QUADRO CLÍNICO Poliúria (aumento do volume urinário); Polidipsia (aumento da sede); Polifagia (aumento da fome); Perda ponderal inexplicada. ↳ O mecanismo básico da ocorrência deles é a hiperglicemia, pois a glicose será mais excretada na urina, o que aumenta a liberação de água, levando à poliúria, e essa perda líquida excessiva leva ao aumento da sede. ↳ O aumento da fome ocorre porque o organismo interpreta a falta de glicose como baixa ingesta de carboidratos, levando assim à polifagia. Se a glicose intracelular está baixa, reduz-se a formação de ácidos graxos, e esses passam a ser utilizados como substrato energético, levando à perda ponderal, além do constante estímulo à liberação do glucagon, hormônio catabólico. RASTREAMENTO DA DIABETES MELITO RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DE DM GESTACIONAL Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG Os testes citados aqui estão explicados no próximo tópico. ↳ No primeiro trimestre da gestação, na primeira consulta de pré-natal, sugere-se investigar DM preexistente por meio dos exames habituais. Gestantes com diagnóstico de DM no primeiro trimestre da gestação (critérios diagnósticos de DM em não gestantes) devem ser consideradas portadoras de DM preexistente; elas apresentam maior risco de malformações fetais e outras complicações gestacionais e neonatais. ↳ Vale ressaltar que o valor de corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal para não gestantes, sendo < 92 mg/dL em qualquer fase da gestação. Valores entre 92 e 126 mg/dL são diagnósticos de DMG em qualquer fase da gestação. ↳ Sugere-se que toda mulher sem diagnóstico reconhecido de DM francamente manifesto ou DMG seja submetida a TOTG com 75 g de glicose após jejum calórico mínimo de 8 horas, entre 24 e 28 semanas de gestação, com coleta de glicose em jejum, 1 e 2 horas após sobrecarga, conforme recomendação da IADPSG e da OMS. ↳ É importante reforçar a manutenção de dieta sem restrição de carboidratos nos 3 dias anteriores ao exame, sendo um único valor alterado no teste suficiente para o diagnóstico de DMG. DIAGNÓSTICO DE DM ↳ Na história natural do DM, alterações fisiopatológicas estão presentes antes que os valores glicêmicos atinjam níveis supranormais. ↳ A condição na qual os valores glicêmicos estão acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM, denomina-se pré-diabetes. A resistência à insulina já está presente e, na ausência de medidas de combate aos fatores de risco modificáveis, ela evolui frequentemente para a doença clinicamente manifesta. A ADA (American Diabetes Association) previamente havia atribuído os termos “glicemia de jejum alterada” e “tolerância à glicose diminuída” a essas condições de risco aumentado de doença cardiovascular e complicações em longo prazo. Na maioria dos casos de pré-diabetes, a “doença” é assintomática e o diagnóstico deve ser feito com base em exames laboratoriais. Mesmo o DM estando presente do ponto de vista laboratorial, seu diagnóstico clínico pode tardar até anos pelo fato de a doença ser oligossintomática em grande parte dos casos, por isso a importância do rastreamento na presença dos fatores de risco. ↳ As categorias de tolerância à glicose têm sido definidas com base nos seguintes exames: 1. Glicose Urinária Casual: ↳ Se o paciente é daqueles que apresentam os quatro sintomas clássicos, ele está no único grupo que pode ser diagnosticado através da Glicemia Urinária Casual (aquela colhida em qualquer momento através do glicosímetro), desde que apresente valores acima de 200mg/dl. 2. Glicemia em jejum: deve ser coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8 horas. ↳ O nível de glicose sanguínea em jejum no começo da manhã está, normalmente, entre 80 e 90 mg/100 ml, e o valor de 110 mg/100 ml é considerado o limite superior da normalidade. ↳ O nível de glicose sanguínea em jejum acima desses valores, com frequência, indica DM ou, pelo menos, resistência acentuada à insulina. ↳ Nos indivíduos DM1, os níveis de insulina plasmáticos são muito baixos ou indetectáveis durante o jejum e até mesmo depois de uma refeição. ↳ No DM2, a concentração de insulina plasmática parece ser várias vezes mais alta que o normal e, em geral, aumenta em maior grau depois da ingestão de uma carga padrão de glicose, durante o TOTG. 3. TOTG: consiste em medir a glicemia do paciente após administrar 75g de glicose por via oral e aguardar algumas horas (consideramos principalmente o valor encontrado após 2h). ↳ Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. ↳ Permite avaliação da glicemia após sobrecarga, que pode ser a única alteração detectável no início do DM, refletindo a perda de primeira fase da secreção de insulina. ↳ Quando uma pessoa normal, em jejum, ingere 1g de glicose por kg do seu peso corporal, o nível sérico de glicose aumenta de cerca de 90mg/100ml p/ 120 a 140mg/100ml e volta para o nível abaixo do normal em cerca de 2 horas. ↳ No diabético, a concentração de glicose sanguínea de jejum está, quase sempre, acima de 110mg/100 ml e, com frequência, acima de 140mg/100ml. O teste de tolerância Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG a glicose também está quase sempre anormal. Com a ingestão de glicose, essas pessoas apresentam elevação muito acima da prevista para o seu nível de glicose sanguínea, como vemos na curva abaixo na imagem, e o nível dessa somente retorna ao valor de controle de 4 a 6 horas; além do mais, não chega a cair abaixo do nível de controle. ↳ A queda lenta dessa curva e a sua incapacidade de cair abaixo do nível de controle demonstram que (1) o aumento normal na secreção de insulina após a ingestão de glicose não ocorre; ou (2) existe redução da sensibilidade à insulina. O diagnóstico de diabetes melito pode, em geral, ser estabelecido com base em curva como essa,e os tipos 1 e 2 do diabetes podem ser distinguidos um do outro por meio de dosagens de insulina plasmática, e, no DM1 a insulina se encontra baixa ou indetectável, e aumentada no DM2. 4. Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. ↳ Esse exame reflete uma média do controle glicêmico do paciente nos últimos meses porque a glicose circulante tende a realizar certa ligação à hemoglobina, tornando-a glicada, sendo esse processo mais ou menos frequente de acordo com os níveis séricos. O tempo que ele traduz é justamente o tempo de vida médio das hemácias. ↳ Vale reforçar que se trata de medida indireta da glicemia, que sofre interferência de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias e uremia, nas quais é preferível diagnosticar o estado de tolerância à glicose com base na dosagem glicêmica direta. ↳ Outros fatores, como idade e etnia, também podem interferir no resultado da HbA1c ↳ A confirmação do diagnóstico de DM requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia. 5. Hálito Cetônico ↳ Pequenas quantidades de acido acetoacetico no sangue, que aumenta muito no DM grave, são transformados em acetona, que é volátil e vaporizada no ar expirado. Assim, com frequência, da para diagnosticar DM1 só pela presença de acetona no hálito do individuo. Além disso, os cetoácidos podem ser detectados por meios químicos na urina e se quantificados, podemos saber a gravidade do DM. ↳ Nos estágios iniciais do DM2, no entanto, os cetoácidos não são, geralmente, produzidos em quantidade excessiva. Mas quando a resistência à insulina é grave e existe grande aumento da utilização de lipídios como fonte de energia, os cetoácidos são, então, produzidos pelas pessoas portadoras de diabetes melito tipo 2. ↳ Em tese, podemos solicitar qualquer um dos três (TOTG, g. em jejum e HbA1c), pois possuem igual valor diagnóstico. Entretanto, como a Glicemia em Jejum é um exame mais fácil e mais barato de ser realizado, geralmente é o exame de escolha. ↳ Atenção! Para diagnosticarmos a Diabetes Mellitus sem os sintomas clássicos, são necessários dois resultados diferentes de exames, podendo ser dois do mesmo ou um de cada tipo. O mesmo é válido para o diagnóstico da pré- diabetes, caso encontremos os valores intermediários que citamos anteriormente. Nesses casos, no entanto, o ideal é que o segundo exame seja o TOTG, pois só com ele poderemos avaliar a resposta do paciente à glicose ingerida, o que nos diz mais sobre a capacidade de secreção e funcionamento insulínico, discriminando a glicemia em jejum alterada da tolerância diminuída à glicose oral. ↳ Se você pedir dois diferentes, um vier alterado e um vier normal, o que você faz? Pede ao paciente para repetir o exame alterado e, caso venha novamente com os mesmos valores, pode fechar o diagnóstico. Critérios laboratoriais para diagnostico de normoglicemia, pré- diabeticos e diabéticos, adotados pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), no quadro abaixo. Glic. jejum TOTG Glicose ao acaso HbA1 c (%) Obs Normal < 100 < 140 - <5,7 OMS emprega valor de corte de 110mg/dl p/ normalidade da glicose em jejum Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG Glic. jejum TOTG Glicose ao acaso HbA1 c Observação Pré-DM 100 a 125 140 a 199 - 5,7 a 6,4 + de qualquer dos parâmetros confirma diagnóstico de pré-DM DM ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 c/ sint. inequívoco s de hiperglice mia ≥ 6,5 + de qualquer dos parâmetros confirma DM. Na ausência de sintomas de hiperglic., repetir teste para confirmação ↳ O diagnóstico da DM1 se dá exatamente da mesma forma do diagnóstico da DM2, associando a clínica com os níveis glicêmicos. A diferença principal consiste nos grupos mais jovens e compostos principalmente por pacientes magros (o que tem mudado devido ao crescimento da obesidade infantil no mundo), que já aparecem sintomáticos (com os 4Ps), devido à deficiência insulínica. ↳ Assim, exames específicos são necessários apenas quando não se pode diferenciar tão facilmente, como em pacientes mais velhos que não estão respondendo ao tratamento. Para esses casos, podemos solicitar o ICA, Anti-GAD e Anti-IA2, anticorpos relacionados à destruição celular pancreática. ↳ Não se rastreia os demais pacientes através desses anticorpos porque mesmo que se identifique, ainda não há formas descritas na literatura de impedir o desenvolvimento da doença, entretanto, podem ser solicitados para pacientes com história familiar importante, apenas para fins de orientações precoces e para início da MEV (que retarda um pouco a progressão). O quadro apresenta os estágios do DM1 autoimune propostos pela Associação Americana de Diabetes (ADA) para estadiamento, baseados nos níveis glicêmicos e na sintomatologia. Na prática clínica, não se recomenda rotineiramente a investigação de autoimunidade com dosagem dos autoanticorpos. Estágios 1 2 3 Autoimunidade + + + Níveis glicêmicos para diagnóstico Normoglicemia: glicemia de jejum, TOTG e HbA1c normais Disglicemia: níveis glicêmicos alterados, compatíveis com pré-DM Hiperglicemia evidente e de inicio recente, critérios clássicos de (jejum entre 100 e 125mg/dl, 2h no TOTG entre 140- 199mg/dl, ou HbA1c entre 5,7 e 6,4% diagnostico de DM (glicemia de jejum ≥126, 2h no TOTG ≥ 200, ou HbA1c ≥ 6,5% Sintomas Ausentes Ausentes Presentes METAS E ACOMPANHAMENTO ↳ Após o diagnóstico, você deve sempre acompanhar os níveis glicêmicos do seu paciente para medir a eficácia do tratamento atual. Para isso, dois exames são essenciais no acompanhamento, a Glicemia em Jejum, para termos ideia do estado atual do paciente e a Hemoglobina Glicada, para podermos avaliar a efetividade a longo prazo. ↳ Para entender melhor a necessidade desses dois exames, imagine que a Glicemia em Jejum funciona com o Saldo da sua conta corrente, mostrando o que temos nesse momento. Já a Hemoglobina Glicada funcionará como um extrato, mostrando as alterações dos últimos 2-4 meses! ↳ A recomendação é que se solicite a HbA1c pelo menos duas vezes ao ano, em pacientes estáveis e quatro vezes ao ano quando estamos alterando as medicações. O TOTG não deve ser solicitando no acompanhamento. Porém, em casos especiais em que o controle não está sendo alcançado, podemos solicitar a aferição da glicemia pós- prandial através do glicosímetro, e por isso também temos valores de referência para tal. Em suma, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o nosso objetivo é alcançar: Ideal Tolerável Glicemia em jejum < 110 mg/dl <130mg/dl Glic. pós-prandial <160 mg/dl <180mg/dl HbA1c <7% <7,5 a 8,5% ↳ Quando falamos em valores toleráveis, estamos nos referindo a dois pontos-chave que se deve ter atenção: 1. Cada medicação é capaz de reduzir uma certa quantidade desses valores, mas algumas estão associados a um risco de hipoglicemia maior, ou outros efeitos adversos importantes. Dessa forma, o risco-benefício pode não valer a pena e aceita-se valores ligeiramente superiores. 2. Pacientes idosos têm um risco maior de apresentarem hipoglicemia e consequênciasimportantes dessa condição. São nesses grupos tende-se a flexibilizar um pouco mais, podendo tolerar uma glicada de até 8,5%. Mas cada caso deve ser avaliado individualmente. Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO 1. Explicar a condição atual ao paciente e mostrar a ele quais os seus fatores de risco; 2. Orientá-lo quanto: Importância de uma dieta adequada, com menor ingesta de carboidratos (principalmente os de absorção rápida) e gorduras, variedade nos alimentos, ingesta de frutas, verduras, legumes e cereais. Tente não ser tão radical de uma só vez, pois isso diminui as chances do paciente realmente seguir a reeducação alimentar. O ideal é introduzir as mudanças gradualmente. Se o seu paciente tiver possível acesso, encaminhe-o para um nutricionista, que possui maior conhecimento nessa área e certamente fará um excelente trabalho; 3. Reduzir o IMC do paciente para 20-25, o que melhora a resistência periférica à insulina, bem como a capacidade de secreção de insulina em resposta à glicose. 4. Cessar o tabagismo e redução na ingesta alcoólica 5. Prática de exercícios físicos regularmente É fundamental para os diabéticos, auxiliando da correção da hiperglicemia, obesidade, HAS e no risco cardiovascular. O mais indicado são caminhadas de 30min/dia, 5 vezes na semana. Quanto maior a massa magra, mais fácil de perder peso, pois o músculo irá consumir energia durante o exercício; ↳ Tenha sempre cuidado para adaptar as sugestões à realidade do paciente, pois assim você aumenta as possibilidades de adesão ao tratamento. Assim, faz sentido que se acompanhe nas consultas subsequentes a assiduidade dessas práticas. TRATAMENTO DA DIABETES MELITO TIPO 2 MEDICAMENTOS ↳ Didaticamente, os medicamentos serão dividos aqui em quatro principais grupos, de acordo com seu mecanismo de ação. Ninguém aqui está dizendo que elas são da mesma classe ou necessariamente possuem ação parecida, estamos apenas agrupando classes para facilitar o aprendizado! rs ↳ Dito isso, existem os Antidiabéticos que: 1. Atuam na Resistência Insulínica Biguanidas Glitazonas 2. Aumentam a Secreção Independente de Insulina Sulfonilureias Glinidas 3. Aumentam a Secreção de Insulina Glicose- Dependente Análogos do GLP1, Inibidores do DPP-IV 4. Não relacionados (diretamente) à Insulina Inibidores de SGLT2 Inibidores da Alfaglicosidase ANTIDIABÉTICOS QUE ATUAM NA RESISTÊNCIA INSULÍNICA ↳ Como visto anteriormente, a resistência insulínica é um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento e progressão da diabetes mellitus, e é justamente nesse mecanismo que esses medicamentos irão atuar, em menor ou maior escala. Biguanida (Metformina): ↳ Esse é o medicamento mais utilizado pelos diabéticos. Apesar de ajudar na sensibilização periférica à insulina, sua principal ação consiste em reduzir a gliconeogênese hepática, principal responsável pela hiperglicemia em jejum. Já nos tecidos periféricos, em menor escala, aumenta a translocação do GLUT4, proteína responsável pela passagem da glicose através da parede celular, ajudando na ação insulínica. Por não aumentar a secreção do hormônio, não aumenta peso, podendo inclusive ajudar a reduzir. ↳ Ela é amplamente utilizada devido à sua indicação, pois deve ser iniciada (juntamente com a MEV) em todos os pacientes diabéticos que não apresentam contraindicações. Também podem ser indicados aos indivíduos pré- diabéticos de alto risco, pois fará com que o paciente tenha mais tempo para esperar os efeitos da MEV. Lembre-se que quando o paciente se torna diabético, esse diagnóstico é eterno. Assim sendo, quanto mais retardarmos esse processo, melhor. ↳ Efeitos adversos: Principalmente gastrointestinais, como dor abdominal, diarreia e “empachamento”. Podem Gliconeogênese: processo que converte precursores (lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos) em glicose. MEV: mudança do estilo de vida Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ser evitados com a introdução gradual da droga, partindo de baixas doses que aumentam progressivamente, ou utilizando a versão XR, de atuação mais longa, que costuma manifestar menos efeitos adversos. ↳ Contraindicações: Pacientes com acidose lática grave, insuficiência renal, cardíaca e respiratória, hepatopatia com transaminases elevadas 3x acima dos valores normais, gravidez e situações de estresse agudo em pacientes maiores de 80 anos. Glitazonas (Plioglitazona) ↳ Essas irão ter efeito principal na sensibilização periférica, promovendo a entrada de glicose nas células. Atuam também nos adipócitos, estando intimamente relacionada à fisiopatologia da DM, pois estimulam os periféricos – sensíveis à insulina (o que pode gerar ganho de peso através da adiposidade periférica), mas não possuem efeito nos adipócitos centrais. Esse ganho de peso muitas vezes é o que faz com que os pacientes não tenham adequada adesão ao tratamento. ↳ Outro efeito adverso comum é o edema, sendo contraindicado em pacientes com ICC, classes funcionais III e IV e gravidez. ↳ Além disso, são contraindicados em portadores de insuficiência hepática e deve-se acompanhar as aminotransferases desde o início do tratamento, suspendendo a medicação caso se elevem mais do que 3x em relação aos valores normais (mesma situação da metformina). Atenção: As glitazonas possuem ação genômica, e por esse motivo podem demorar semanas para começar a agir. Isso também faz com que elas ocasionalmente diminuam a ação de drogas que utilizam o citocromo P450 3A4, como alguns anticoncepcionais orais, sendo necessário rever as doses prescritas desses medicamentos. ANTIDIABÉTICOS QUE AUMENTAM A SECREÇÃO INDEPENDENTE DE INSULINA Sulfonilureias: ↳ Estimula a secreção basal de insulina pelas células beta através do bloqueio de canais de potássio ATP dependentes, o que promove o influxo de cálcio e degranulação, com consequente liberação de insulina. Já que atuam diretamente no pâncreas, precisam de células beta funcionantes para sua ação, estimulando majoritariamente a liberação da insulina pré-formada, mas não sua síntese. Dessa forma, indivíduos em fases avançadas da doença que já perderam a função das células beta não se beneficiam com essas drogas. ↳ São bastante eficazes e preferidas em pacientes com glicemia entre 160 e 270 (valor em que normalmente a disfunção predomina em relação à resistência). ↳ São exemplos a Tolbutamida (primeira geração), Glicazida e Glibenclamida (segunda geração) e Glimepirida (terceira geração). ↳ Efeitos adversos: por estimularem a insulina, podem gerar ganho de peso, o que dificulta a perda pretendida para o paciente. Também podem causar hipoglicemia (principal efeito adverso), especialmente em pacientes mais sensíveis. ↳ Contraindicações: Insuficiência Renal ou Hepática grave e Gravidez. Não é recomendado o uso em idosos, devido ao risco de hipoglicemia. Obs.: A Clorpropamida é tida como obsoleta e não é mais recomendada na prática clínica. Glinidas ↳ Atuam de forma semelhante às sulfonilureias, estimulando a liberação de insulina. A principal diferença consiste na meia vida dessas drogas, que é muito mais curta. Por conta disso, são usadas antes das refeições para Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG reduzir a glicemia pós-prandial, de forma semelhante às insulinas pré-prandiais.Mais caras e não disponibilizadas pelo SUS, são pouco utilizadas na prática. Uma das indicações mais clássicas é para pacientes sem horário fixo das refeições, como cirurgiões, para garantir cobertura das medicações basais nos picos de glicemia irregulares. ↳ Não podemos utilizá-las isoladamente, uma vez que o paciente precisa ajustar seus níveis basais. Entretanto, não se deve utilizar Sulfonilureias e Glinidas no mesmo paciente, pois atuam no mesmo receptor. ↳ Efeitos adveros: Possuem os mesmos efeitos adversos (hipoglicemia e ganho de peso), porém em menor intensidade. Não são contraindicadas na insuficiência renal e hepática, já que o risco de hipoglicemia é menor. AUMENTAM A SECREÇÃO DE INSULINA DEPENDENTE DE GLICOSE: ↳ Quando um alimento ingerido passa através do trato gastrointestinal, as incretinas (GIP e GLP1) entram em ação estimulando a liberação de insulina. Dessa forma, o efeito Incretina é benéfico ao indivíduo, pois estimula a liberação de insulina somente em momentos que haverá pico de glicose. Sua atuação dura até o momento em que começa a atuar a enzima DPP-IV, que inativa essas moléculas e encerra o estímulo anteriormente realizado. É sobre esse mecanismo que atuarão as medicações a seguir: Análogos do GLP1: ↳ Atuam de forma análoga à incretina, estimulando as células beta. Sua vantagem sobre os secretagogos independentes é que não apresentam risco de hipoglicemia, pois quando os níveis de glicose ingerida estão baixos eles deixam de estimular a liberação de insulina. Seu principal efeito adverso são as náuseas. Não aumentam peso e não trazem risco de hipoglicemia. ↳ Uma observação importante é que os análogos do GLP1 possuem administração subcutânea, de forma semelhante à insulina exógena. Dessa forma, estão aqui incluídos entre os antidiabéticos orais apenas para fins didáticos, pois devemos entender que também constituem uma opção à insulinoterapia. Inibidores da DPP-IV: ↳ Como o próprio nome diz, atuam inibindo a DPP-IV, enzima que inativa tanto a GLP1 quanto a GIP. Ao desativarmos essa enzima, fazemos com que as incretinas permaneçam atuando por mais tempo, estimulando a liberação de insulina para conter os picos glicêmicos da alimentação. ↳ São drogas muito bem toleradas e possuem poucos efeitos adversos, que podem incluir nasofaringite, cefaleia, tontura e diarreia. ↳ São mais caras, mas praticamente não possuem contraindicações, sendo necessário apenas ajustar a dose em portadores de insuficiência renal e hepática. Não têm influência no peso e, por estarem relacionado às incretinas, também não trazem risco de hipoglicemia. NÃO RELACIONADOS (DIRETAMENTE) À INSULINA: ↳ Por fim, duas classes totalmente distintas integram esse grupo. Inibidores da Alfaglicosidase (Acarbose) ↳ A alfaglicosidase é uma enzima necessária para a digestão de carboidratos, pois cliva polissacarídeos complexos em glicose, facilitando a absorção. Os inibidores dessa enzima (único representante é a Acarbose) tornam esse processo de clivagem lentificado, fazendo com que a absorção de glicose se dê de maneira mais insidiosa, reduzindo os picos de glicemia e facilitando o controle natural do organismo. ↳ São boas drogas de escolha para diabéticos que conseguem controlar a glicemia em jejum, mas apresentam pós-prandial elevada. Pode ser indicada também para pacientes com intolerância à glicose. ↳ Efeitos adversos: por lentificarem a absorção dos carboidratos, seus principais efeitos adversos são relacionados ao trato gastrointestinal, principalmente a flatulência. Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ Também por esse motivo, são contraindicados em pacientes com Doença Inflamatória Intestinal. Evitar o uso em grávidas. Inibidores de SGLT2: ↳ Como mencionamos anteriormente, a recaptação renal de glicose é estimulada nos diabéticos, pois o organismo interpreta uma falsa hipoglicemia. O SGLT2 é o principal cotransportador associado à recaptação da glicose nos néfrons. Quando inibimos essa proteína, excretamos mais glicose e reduzimos a glicemia do paciente. ↳ Causa, portanto, glicosúria, e essa é a principal causa dos seus efeitos adversos, como o favorecimento de infecções na região genitourinária e a perda de peso. ↳ Contraindicado em casos de candidíase de repetição e em nefropatas com clearence de creatinina abaixo de 60, pois é preciso um rim funcionante para que atuem corretamente. ESCOLHA DO MEDICAMENTO ↳ Como vimos, cada uma dessas drogas possui suas especificidades e contraindicações. Logo, devemos analisar individualmente cada caso para definir se o paciente pode receber essa indicação, quais são as suas metas, seus atuais valores glicêmicos em jejum, pós- prandial e HbA1c, se ele é obeso, sua idade e possíveis interações com outros medicamentos. ↳ Nos Pré-Diabéticos, a indicação inicial é apenas da MEV, e iniciamos uso de Metformina apenas em situações de alto risco, que são: Idade ≥60 anos, IMC ≥35kg/m², passado de Diabetes Mellitus Gestacional e HbA1c piorando mesmo com a MEV. ↳ Para os diabéticos, de uma maneira geral, além da MEV (ela é sempre indicada, não se esqueça), indica-se inicialmente a Metformina para qualquer paciente recém diagnosticado. ↳ A partir disso, devemos avaliar o grau de manifestações da doença para decidir como proceder. Manifestações Leves Se o paciente possui glicemia inferior a 200mg/dl, com sintomas leves ou ausentes, devemos evitar Secretagogos, principalmente se ele for obeso. Isso porque a princípio ainda podemos regularizar a glicemia sem forçar ainda mais as células beta! Iniciamos com a monoterapia (é nesse grupo que podemos utilizar apenas a Metformina). Manifestações Moderadas Se estivermos lidando com uma glicemia entre 200 e 300mg/dl, mas sem manifestações graves, temos indicação para o uso da Metformina associada a outro agente hipoglicemiante. O ideal é que, havendo condições para tal, se indique os Secretagogos (Sulfonilureias e Glinidas) apenas aos pacientes com baixo peso. Na atenção básica entretanto nem sempre isso é possível, dada a baixa disponibilidade de opções! Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG Manifestações Graves Quando a glicemia está acima de 300mg/dl e temos manifestações graves (perda de peso importante, cetonúria, sintomas graves), a indicação é de insulinoterapia. ↳ Podemos manter o uso de sensibilizadores concomitantes, mas o uso de Secretagogos passa a ser contraindicado, afinal, não podemos estimular células que já estão em falência. INSULINOTERAPIA ↳ Existem cinco indicações para início da Insulinoterapia em pacientes portadores de DM2, que são: Falência terapêutica de medicações orais combinadas; Hiperglicemia acima de 300mg/dL no diagnóstico, ao menos em fases iniciais da terapia; Gestantes (pois outros antidiabéticos orais são contraindicados); Emagrecimento progressivo atribuído à DM; Situações de estresse agudo, como diabéticos que passaram por cirurgias, episódios de AVC, IAM etc., pois nesses casos uma hiperglicemia compensatória pode dificultar a produção de insulina endógena. Devemos controlar os níveis sistêmicos e conferir se a capacidade de produção foi recuperada, para depois suspender o uso. ↳ Evidentemente, essas indicações terapêuticas são apenas iniciais, como teste, e devemos acompanhar o paciente para fiscalizar sua adesão e os resultados obtidos, ajustando as doses e acrescentando ou substituindomedicações quando necessário. ↳Se o paciente diabético alcança os estágios indicados anteriormente, em que o pâncreas se torna incapaz de produzir insulina, é hora de administrar Insulina Exógena por via subcutânea, para que ela se comporte como a insulina fisiológica deve estar se comportando. ↳ Primeiro é preciso entender como a insulina fisiológica é liberada em indivíduos não diabéticos. Essencialmente, temos um nível basal de reserva que tende a ser constante durante todo o dia, sendo mantido através dos hormônios reguladores e contrarreguladores. Acima disso, temos os picos de insulina que acontecem após as refeições, de forma semelhante ao gráfico abaixo: ↳ Visando simular esse funcionamento, foram criadas insulinas exógenas com diferentes tempos de ação e cada uma com seus picos. São dividas nos grupos de ação ultrarrápida, rápida, intermediária e prolongada. Na tabela abaixo é possível conferir as principais representantes de cada classe: ↳ Essas informações em um gráfico: Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ Observe com atenção a curva que cada uma delas imprime, e volte a observar o gráfico de insulina fisiológica, a fim de encontrar semelhanças. ↳ É importante entender como se dá o tratamento através da Insulinoterapia: quando prescrevemos, na prática, a Insulinoterapia, podemos lançar mão de três esquemas de aplicação para os pacientes que necessitam: O de múltiplas aplicações (basal-bolus), o de duas aplicações e o de infusão contínua. Múltiplas Aplicações (basal-bolus): ↳ Como vimos no gráfico da insulina fisiológica, devemos simular dois mecanismos principais. O primeiro é a insulina basal, que não possui picos, e deve se manter constante ao longo das 24h do dia. O segundo é o pós- prandial, que consiste em picos rápidos de insulina para compensar os picos de glicemia que surgem após as refeições. ↳ Entendemos assim que o ideal e mais parecido com o fisiológico, seria uma aplicação de Glargina (prolongada) por dia, que seria suficiente para manter constante a insulinemia durante as próximas 24h, e uma aplicação de Lispro ou Aspart (ultrarrápidas) antes de cada refeição principal, simulando os picos pós-prandiais, tornando o gráfico do paciente diabético muito semelhante ao do não-diabético. ↳ Resumidamente, precisaríamos que o paciente utilizasse a Glargina/Detemir uma vez ao dia, pela manhã, e a Lispro/Aspart três vezes ao dia, 15min antes de cada refeição principal. O resultado se aproximaria do gráfico abaixo, sobre secreção fisiológica: ↳ Obs: Os picos de ultrarrápidas são diferentes pois a dose deve ser calculada e ajustada de acordo com as refeições! E↳ ntretanto, nenhuma delas é amplamente disponibilizada pelo SUS, cuja distribuição geral se limita às insulinas Regular e NPH. ↳ Dessa forma, a NPH (intermediária) passa a ser utilizada como insulina basal e a Regular (rápida) como pós- prandial. O problema é que isso expõe o paciente a um risco maior de hipoglicemia, pois a NPH apresenta picos que a insulina fisiológica basal não apresentaria, enquanto que a regular estaria agindo por mais tempo do que duram os picos de glicemia pós-prandiais. ↳ Como a NPH dura metade do tempo, são necessárias duas aplicações, uma pela noite (antes do jantar ou antes de dormir – bed time) e três aplicações da regular, 45min antes das refeições (seu início demora mais do que o das ultrarrápidas). ↳ Como existem diversas situações possíveis e diferentes respostas de cada organismo, esses sistemas são passíveis de adaptações! Pode-se dividir a dose da prolongada em duas aplicações ao dia ou da intermediária em três, por exemplo, além de ser possível mesclar prolongada com rápida e intermediária com ultrarrápida. Tudo vai depender de como seu paciente está reagindo ao longo do dia e dos valores de glicemia constatados! Outra variação possível é que se utilize insulina ultrarrápida antes das outras refeições do dia (lanches e ceia). Duas Aplicações: ↳ As insulinas NPH e Regular são as únicas que podem ser administradas em conjunto, de uma só vez. Isso pode ser interessante para facilitar a adesão ao tratamento, pois reduz consideravelmente o número de vezes em que a “furada” é necessária! ↳ Quando se opta por esse esquema de aplicação (que não é o ideal), deve-se aplicar 2/3 da dose total pela manhã e 1/3 pela noite, antes do jantar. Entenda o que acontece quando realizamos duas aplicações através da imagem abaixo, com a aplicação exógena sobre o que seria a fisiológica: Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ Dessa forma, espera-se que as respectivas glicemias sejam cobertas por: Glicemia Matinal NPH Noturna Glicemia Matinal Regular Matinal Glicemia Pré-Almoço NPH Matinal + Regular Matinal Glicemia Pós-Almoço NPH Matinal Glicemia Pré-jantar NPH Matinal Glicemia Pós-Jantar Regular Noturna ↳ Perceba que as novas curvas diferem mais da secreção fisiológica, se comparadas ao esquema de múltiplas aplicações. Um dos problemas mais comuns, inclusive, é a hiperglicemia matinal que acontece por mecanismos de resposta fisiológica – os chamados Fenômeno do Alvorecer e Efeito Somogyi. ↳ Fenômeno do Alvorecer: elevação matinal da glicemia em resposta aos hormônios liberados durante o sono. ↳ Efeito Somogyi: hiperglicemia compensatória, pois a insulina administrada a noite faz pico e leva à hipoglicemia. ↳ Para resolvê-los, seria necessário passar a NPH de antes do jantar para antes de dormir (bed time), o que faria com que o esquema de aplicações deixasse de ser duas, para se tornar múltiplas, pois a NPH seria separa da Regular, que só pode ser administrada antes da refeição. ↳ Além disso, outras desvantagens são que a NPH matinal pode ser insuficiente para controlar a glicemia pós- almoço, e que o paciente perde a flexibilidade dos horários, devendo realizar suas refeições regularmente nos horários pré-definidos. ↳ Ambos os esquemas devem ser monitorados através da aferição da glicemia antes e depois das três principais refeições. Dessa forma, é possível realizar ajustes direcionados ao horário que mais necessita! ↳ Em pacientes portadores de DM2 que utilizam terapia oral combinada e ela foi efetiva, mas não suficiente, podemos iniciar gradualmente o uso de insulina somado aos medicamentos utilizados (desde que não sejam Sulfonilureias ou Glinidas), através da NPH bed time ou Glargina/Detemir pela manhã. Dessa forma, o mais comum é que não iniciemos com um dos esquemas prontos, e sim com a introdução gradual, ajustando as doses de acordo com as glicemias pré e pós-prandiais obtidas, podendo aumentá-las até que se alcance os esquemas supracitados. Infusão Subcutânea Contínua ↳ O terceiro (e mais caro) esquema, consiste numa bomba de infusão que administra insulina subcutânea no paciente através de um catéter, posto por ele mesmo, e substituído a cada 3 dias. ↳ Pode ser programado para liberar insulina basal em horários pré-definidos e bolus de acordo com a demanda, quando as refeições estiverem próximas. Para os dependentes de insulina exógena, este método pode representar um grande facilitador para o tratamento. TRATAMENTO DA DIABETES MELITO TIPO 1 ↳ O tratamento para esse tipo de diabetes é a insulina. ↳ Se não se tem mais células beta funcionantes, as demais terapias associadas à liberação endógena de insulina perdem o sentido. Inicia-se assim que possível a Insulinoterapia desses pacientes, idealmente no esquema basal-bolus.↳ Portadores de DM1 devem ser acompanhados com ainda mais atenção, pois devido á deficiência total apresentada e à administração exógena, estão muito mais sujeitos a episódios de hipoglicemia – e é por isso que muitos usam documentos/tatuagens que os identifiquem como portadores da doença, a fim de obter auxílio mais rapidamente. COMPLICAÇÕES PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES AGUDAS Hipoglicemia Cetoacidose Diabética Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar não cetótico; Cetoacidose Alcoólica PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS Retinopatia Diabética ↳ Rastrear através da Fundoscopia, que deve ser solicitada para portadores de DM1, 5 anos após o estabelecimento da doença e para os portadores de DM2, imediatamente após o diagnóstico, pois não se pode precisar quando ela, de fato, começou. Repetir anualmente caso negativo. Nefropatia Diabética Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ Identificada através de microalbuminúria em amostra isolada (Exame de Urina Tipo 1) ou Urina de 24h. Neuropatia Diabética ↳ Sempre realizar o teste de monofilamentos e ficar atento às possíveis queixas focais do paciente. Pé Diabético PÉ DIABÉTICO AVALIAÇÃO ↳ A avaliação requer duas medidas extremamente simples: história clínica e exame dos pés. O exame inicia- se pela remoção dos calçados e das meias, os quais também devem ser avaliados ↳ Fatores de risco para ulceração dos pés: A tríade de ulceração é constituída por PND, deformidades e trauma (63%), sendo a isquemia (35%) o fator associado à amputação. ↳ Além disso, ressaltam-se a duração do DM (> 10 anos) e o mau controle glicêmico, fatores psicossociais correlacionados com a depressão, que favorece instabilidade postural e quedas, desmotivação e baixa aderência ao autocuidado da úlceras de pé diabético (UPD). ↳ Ao exame físico, outras manifestações dermatológicas, como pele seca, rachaduras, unhas hipotróficas ou encravadas, maceração interdigital e micose, calosidades, ausência de pelos e alteração de coloração e temperatura (indicando isquemia), constituem condições pré- ulcerativas decorrentes de PND e DAP. FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA E DA PRESSÃO PLAMAR 1. ESTESIÔMETRO OU MONOFILAMENTO DE NAILON ↳ O estesiômetro de Semmes-Weinstein apresenta-se em um kit com monofilamentos de náilon. O de cor laranja, de 10 g, detecta alterações de fibras grossas (β e A-α) relacionadas com a sensibilidade protetora. A SBD adota a recomendação de Boulton et al, para o teste de quatro áreas plantares: hálux (região plantar da falange distal), primeira, terceira e quinta cabeças de metatarsos. ↳ Áreas de teste (A). Aplicação do monofilamento de 10 g. Deve-se solicitar ao paciente que diga “sim” ou “não” durante o toque nas áreas de teste (para confirmar a existência ou não de sensibilidade), aplicando força apenas o suficiente para curvar o monofilamento; procede-se a uma aplicação simulada e a uma aplicação concreta nas mesmas áreas, para confirmar a identificação, pelo paciente, do local testado: se duas respostas estiverem corretas, descarta-se perda de sensibilidade protetora (PSP). Qualquer área insensível indica sensibilidade protetora alterada (B, C). 2. Diapasão 128 Hz, martelo e pino ou palito ↳ O diapasão 128 Hz e o martelo testam fibras grossas sensitivas (β) e motoras (A-α), para avaliação de sensibilidade vibratória e reflexos aquileus, respectivamente, enquanto o pino (neurotip) – ou palito – descartável avalia fibras finas sensitivas (tipo C), para teste de sensibilidade dolorosa, ou o pinprick, que é a percepção da diferença entre uma ponta romba e outra pontiaguda. 3. Bioestesiômetro e neuroestesiômetro ↳ Ambos são instrumentos que quantificam o limiar da sensibilidade vibratória (LSV) mediante aplicação de uma haste de borracha dura na face dorsal do hálux, registrandose em volts (V) a leitura da percepção do estímulo vibratório (0 a 50 no bioestesiômetro; 0 a 10 no neuroestesiômetro). Principais Polineuropatia diabética (PND) Deformidades (PND motora, biodinâmica e Limitação de mobilidade articular – LMA) Trauma Doença Arterial Periférica (DAP) Histórico de úlcera e de amputação Outros Doença renal do diabetes e retinopatia Condição Socioeconomica Individuo que mora sozinho e inacessibilidade ao sistema de saúde. Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG ↳ As recomendações da ADA e da AACE para rastreamento de PND e risco neuropático de ulceração são mostradas no Quadro 2. 4. PRESSÃO PLANTAR ↳ A PP pode anteceder os achados clínicos de PND. Há uma variedade de métodos que avaliam a PP, como simples plantígrafos sem escala de força ou com escala de força validado em relação ao pedobarógrafo, os quais, como as plataformas e as palmilhas dotadas de sensores, captam, por meio da pisada, a pressão anormal. ↳ O ponto de corte, indicativo de PP elevada, varia conforme os sistemas empregados. A PP torna-se mais relevante como risco de ulceração quando relacionada com a PND, inclusive para nortear a confecção e a distribuição de palmilhas. TRATAMENTO DA ULCERAÇÃO ↳ Como conduta inicial, deve-se classificar a lesão (neuropática, neuroisquêmica ou isquêmica) conforme história e exame clínico. ↳ O passo seguinte consiste em efetuar o diagnóstico clínico de infecção, com base na presença de sinais ou sintomas de inflamação (GRADE Forte | Baixa), e avaliar a gravidade de qualquer infecção confirmada, usando-se as classificações da Infectious Disease Society of America (IDSA) e do IWGDF (GRADE Forte | Moderada), como mostra o quadro da próxima página – Infecção no Pé Diab. ↳ Para descartar osteomielite, os seguintes procedimentos devem ser realizados, se a UPD for profunda: Prova óssea (positiva se houver toque do osso com a espátula de metal) Marcadores inflamatórios (velocidade de hemossedimentação [vhs] > 70 mm; proteína c reativa [pcr] elevada) Radiografia de pé, ressonância magnética (rnm) Cintilografia com leucócitos marcados, caso haja dúvida na imagem radiológica. ↳ Dois testes positivos são fortemente preditivos. ↳ A cultura do fragmento da lesão é feita após a limpeza cirúrgica, sendo conduzida em até 24 horas, idealmente, não se indicando o uso de swab. ↳ A prescrição de antibioticoterapia (ATB) deve basear- se na sensibilidade e na resistência da microbiota local, verificando se o paciente foi encaminhado de comunidade ou de instituições de assistência à saúde (unidades de pronto atendimento [UPAs], hospitais, clínicas de diálise, instituições de longa permanência para idosos, penitenciárias etc.). Não há, ainda, consenso a respeito da ATB (via de uso e tempo de administração). ↳ Para fins práticos, a recomendação é: 1 semana (Leve| Grau 2) ou 2 sem (Moderada | Grau 3 ou Grave | Grau 4). ↳ Devem-se considerar imagem vascular e revascularização na presença de DAP e de úlcera sem melhora por mais de 6 semanas, independentemente dos testes prévios, a fim de restaurar a circulação arterial. ↳ Durante a internação hospitalar e o seguimento ambulatorial, é preciso oferecer ao paciente meios de descarga do peso (offloading), segundo as condições de mobilidade. Para UPD neuropática, o gesso de contato total é o padrão-ouro. Na impossibilidade, deve-se Diabetes Melito Aline Custódio – Turma 9 - UNIVAG oferecer descarga com bota removível, assegurando a proteção adequada do pé. ↳ Após a cicatrização, estimula-se ouso de calçados apropriados. Estima-se que 40% dos pacientes com histórico de UPD apresentem recorrência em 1 ano; 60%, em 2 anos; e 65%, em até 5 anos. Assim, é importante promover a adesão do paciente a processo educativo, estimulando o autocuidado e consultas/visitas regulares para avaliação por equipe especializada. O quadro abaixo resume as diretrizes brasileiras para a abordagem de UPD com infecção.
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