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PAPER COMPLETO - SEMINÁRIO DE PRÁTICA VII

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ECOS AFRICANOS NA LITERATURA BRASILEIRA
Acadêmicos¹: Sócrates Luiz de Melo
Tutor Externo²: Zeneida Martins da Silva
	
RESUMO
Este trabalho tem como cerne interpretativo analisar as influências culturais recíprocas que há entre o continente africano e o Brasil, principalmente no que diz respeito à literatura de língua portuguesa que é produzida nos países africanos, pautados neste mesmo raciocínio, verificaremos o interesse recente que essa literatura tem despertado no leitor brasileiro. Vamos analisar também qual a importância da criação da Lei 10.639/03, a qual traz a inserção da temática alusiva à História e a Cultura Afro-Brasileira e também Indígena, no currículo oficial da rede de ensino. Refletiremos sobre os avanços que ela trouxe à abordagem do ensino de Literatura dentro da sala de aula, com inferências pedagógicas dos professores, especificamente os de língua portuguesa, quanto ao uso da Literatura Afro-brasileira no processo ensino-aprendizagem, tendo em vista que um dos objetivos primordiais da educação é construir leitores proficientes que sejam capazes de desmitificar os preconceitos construídos historicamente em torno dessa Literatura.
Palavras-chave: Literatura Africana. Literatura Afro-Brasileira. Ensino de Literatura. 
1. INTRODUÇÃO
	Sabe-se que o ensino de literatura aqui no Brasil, ainda é algo a ser muito trabalhado e desenvolvido, há quem questione por que estudar a Literatura Portuguesa e os reflexos da literatura Africano na Brasileira? Ao abordarmos sobre Literatura, é imprescindível destacarmos que esse assunto foi, e ainda é, objeto de muitas discussões entre professores e pesquisadores da área. É conhecido, todavia, que nos diferentes momentos em que ela se manifesta, são-lhes dirigidas funções e características múltiplas, em convergência com a realidade cultural e social de cada época histórica/geográfica. Coaduna com essa propositura, o que diz Nicola (1999):
a literatura portuguesa, que já abrange oito séculos de produção, pode ser dividida em três longos espaços de tempo, acompanhando as grandes transformações vividas pela Europa: Era Medieval, Era Clássica e Era Romântica ou Moderna. Essas três grandes eras apresentam-se subdivididas em fases menores, chamadas de escolas literárias ou estilos de época. (NICOLA; 1999, p. 28).
	Os povos negros e indígenas brasileiros, por sua vez, exercem grandes influências tanto no folclórico como também no exótico, porém não sendo destacados como sujeitos históricos e partícipes, desse processo todo. Isso é um acontecimento que, infelizmente, arraigou-se há séculos na nossa cultura, poucos eram os professores, por exemplo, até uma década atrás, que discorriam a produção intelectual negra ou a colocavam, nas ementas escolares, fatos historicamente construídos e vividos por africanos e aqueles também escravizados no Brasil. Outro fato a ser destacado é que as práticas pedagógicas que são utilizadas aqui no Brasil têm, portanto, sua origem na filosofia ocidental. Os especialistas e intelectuais africanos são totalmente desconhecidos dos cursos universitários brasileiros, onde as abordagens acadêmicas que predominam são da história eurocêntrica, tomando como referências as quatro emblemáticas cronologias, quais sejam: antiga, medieval, moderna e contemporânea. Conforme mencionado por Gomes (2010), esta tradição histórica curricular é um dos fatores que tem impedido que o ensino de História da África e também sua Literatura, libertem-se das “armadilhas do quadripartismo histórico.”
	Diante disso, no item 2 (dois), na Fundamentação, iremos analisar as concepções tanto históricas quanto teóricas sobre a valorização das Produções Literárias Afro-brasileira, bem como a importância da Literatura dentro do contexto social e como nós professores podemos trabalhá-la em sala de aula. Depois disso, no item 3 (três), destacaremos quais foram os materiais e os métodos utilizados para a confecção deste Seminário de Prática VII. E por fim no item 4 (quatro), refletiremos quais foram os resultados e as discussões desenvolvidas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
É sabido que a aprovação e valorização dos Escritos Literários, que são vindos da África, sofreram uma gama de preconceitos nefastos ao longo dos tempos, o filósofo Friedrich Hegel, que foi um dos criadores do idealismo absoluto em sua famosa Filosofia da História (2008), chegou a mencionar que a África era apenas um “rebento de selvageria, aquém da luz da história consciente”. Com respeito a isso, Achille Mbembe (2001) nos aponta que a discriminação, quanto aos escritos da Literatura Africana, representa um dos efeitos da filosofia eurocêntrica sobre a produção do conhecimento na África e sobre a África, que são frequentemente alicerçadas em vários significados normatizados e que se referem diretamente à escravidão e também ao colonialismo. 
	De acordo com o que ratificam Ali Mazrui e J. F. Ade Ajayi (2011), esse colonialismo provocou, dentre vários problemas, a inibição do desenvolvimento e criação de uma filosofia e também de uma ciência que fossem independentes da relação com o ocidente e à difusão africana moderna. Entre os fatores que impediram essa produção está, por exemplo, o processo de ensino utilizado na África e nas suas ex-colônias. Esses autores mencionam que a educação escolar, no continente africano, esteve mais relacionada à promoção religiosa que ao ensino científico propriamente dito, uma vez que a maior parte das escolas era na verdade subvencionada por missionários cristãos (MAZRUI ET AL., 2011, p. 769).
	As técnicas, tanto de leitura quanto da escrita, as quais são necessárias para a sociedade, atualmente seguem os avanços experimentados por elas. A variedade de propagação de informações, dos mais variados gêneros textuais, requer do leitor um maior grau de letramentos. Termo relativamente novo, colocado na Língua Portuguesa e utilizado para nomear essa habilidade da leitura, cujo significado ultrapassa o simples ato de alfabetizar, ou seja, atualmente o indivíduo necessita mais do que ser alfabetizado, precisa ser letrado.
(...) porque só recentemente passamos a enfrentar esta nova realidade social em que não basta apenas saber ler e escrever, é preciso também saber fazer uso do ler e do escrever. Saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente – daí o recente surgimento do termo. (SOARES, 2012, p. 20).
	Portanto, para a formação de um cidadão pleno, é necessário que se tenha a responsabilidade de capacitá-lo nas competências de uso da leitura e também da escrita, em todo o âmbito da sociedade, ou seja, estabelecer essas competências em instrumentos de vivência, com independência, dentro da sociedade. O teórico Goulart (2007, p. 40) apresenta-nos o processo de letramento como sendo “espectros de conhecimentos desenvolvidos pelos sujeitos nos seus grupos sociais, em relação com outros grupos e com instituições sociais diversas”. Explicitando, dessa forma, que os mesmos estão inseridos na vida cotidiana e também na vida social, com o manuseio do processo de linguagem escrita de forma tanto explícita como implícita em seus vários graus de maior ou menor complexidade. A escola, nesse víeis, é vista como a instituição principal responsável pelo estabelecimento desse processo de letramento, e para isso, apoia-se nas disciplinas que formam o currículo. A literatura, neste caso, corresponde a uma das maiores aliadas ao incentivo do hábito da leitura e, consequentemente, de leitores possuidores de várias competências. Cosson (2011) confirma a presença e importância da leitura literária no processo de letramento dos alunos em sala de aula.
Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem (COSSON,2011, p. 30).
	Outro teórico, Compagnom (2009) acreditava que a literatura favoreceria a reflexão, através do diálogo entre seus textos e os leitores, onde o resultado de tudo isso recaía sobre uma análise das relações estabelecidas de formas complexas que formam toda a natureza humana. De acordo com ele, a literatura pode sim, fazer com que as pessoas fiquem mais sensíveis e também melhores.
A literatura nos liberta de nossas maneiras convencionais de pensar a vida – a nossa e a dos outros – ela arruína a consciência limpa e a má fé (...) – ela, resiste à tolice não violentamente, mas de modo sutil obstinado. Seu poder emancipador continua intacto, o que nos conduzirá por a querer derrubar os ídolos e a mudar o mundo, mas quase sempre nos tornará simplesmente mais sensíveis e mais sábios, em uma palavra, melhores. (COMPAGNON, 2009, p. 50). 
2.1 REFLEXOS DA LITERATURA AFRICANA NA BRASILEIRA
	Verificamos que a educação básica, de um modo geral, vem passando por profundas mudanças, desde a promulgação da Constituição Federal, no ano de 1988. Uma grande parte dessas mudanças tem como objetivo o fortalecimento da cidadania brasileira; e nisso inclui-se a população negra. Observamos que nas duas últimas décadas, várias outras leis foram sancionadas e políticas públicas estabelecidas com o propósito de oferecer uma resposta, principalmente as muitas demandas desse grupo da população do Brasil. Nesse interim, políticas de aspectos curriculares também começaram a alterar a imagem da educação brasileira. Em referência a essas políticas, elas têm como objetivo a criação de projetos com atuações diretas na educação, a intenção é dar acesso não só ao conhecimento, mas também, fortalecer o surgimento de valores, posturas e atitudes que criem nas pessoas o espírito de verdadeiros cidadãos e dessa forma garantir a coesão nacional (SILVA, 2010a).
	A literatura enquanto reprodução subjetiva de uma dada realidade e também das ações, das reações e visões humanas, representa toda a complexidade do real, embora este não seja a intenção de quem a cria. Por isso, é comum encontarmos a ficção propiciando o reflexo sobre algumas temáticas ou contextos que foram vivenciados pela sociedade. Com efeito a isso, Cosson (2011), ao mencionar a leitura da literatura, chamo-nos a atenção que a mesma não pode ser construída na escola de forma aleatória ou apenas por fruição de algum conteúdo, mas pelo contrário, afirma que o trabalho com literatura deve ser organizada de acordo com: “os objetivos do aluno, compreendendo que a literatura tem um papel a cumprir no âmbito escolar” (COSSON, 2011, p. 23). 
	Dessa maneira, esse o autor incube à literatura um papel relevante no que tange ao social, o que compreendemos como sendo um fator que atua diretamente na formação do processo ensino-aprendizagem dos alunos, o qual contribuirá para que eles adquiram, nessa formação, o hábito da leitura, como também na forma como pensar e ver o mundo. Por isso, segundo o autor, não podemos criar uma visão de que a literatura nos atrapalha; muito pelo contrário, devemos torná-la acessível ao aluno. “Ler implica troca de sentidos não só entre o escritor e o leitor, mas também com a sociedade onde ambos estão localizados, pois os sentidos são resultados de compartilhamento de visões do mundo entre os homens no tempo e no espaço” (COSSON, 2011, p. 27). 
	Com estas inferências, a literatura poderá, nos vários processos de leitura literária, ser convergente dos temas preconizados transversais, ou ainda, tematizar as práticas que são interdisciplinares, uma vez que, na sua complexidade, não podemos colocá-la em separado dos outros conteúdos e disciplinas que compõem o currículo escolar. Nesta análise, é que a Lei 10.639/2003, ao alterar a Lei 9394/96, acrescendo o Artigo 26-A, incluindo que seja obrigatória a abordagem sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, no ensino básico, em seu parágrafo segundo destaca: “Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras” (B l, 2003). Tendo em vista que isso vai de encontro às intenções dos que defendem a produção literária apenas como arte, cuja finalidade não ultrapasse à fruição nem o prazer estético, verifica-se nesse momento, uma função social para o ensino da literatura nas escolas, uma vez que a sua própria escolarização já desfaz a sua exclusividade para a fruição, conforme afirma Moreira (2011):
A literatura por meio de sua linguagem ficcional pode ser utilizada de maneira positiva para uma releitura da realidade, uma crítica de situações preconceituosas, permitindo ao professor trabalhar com o imaginário da criança e/ou adolescente, de modo a fazê-lo refletir sobre sua maneira de se ver e ver o outro (MOREIRA, 2011, p. 01).
	Em uma análise poética, destacamos duas obras, a primeira, Poemas negros (BRASIL, 2008), de Jorge de Lima, que justamente vai tratar da influência do escravo na cultura brasileira, esse livro pertence à segunda fase modernista aqui no Brasil, formado por quatro coletâneas poéticas num volume: Novos poemas (1928), Poemas escolhidos (1932), Poemas negros (1947) e Livros de sonetos (1949). Em Poemas negros, na qual em sua poesia afro-nordestina é notadamente a expressão real do Brasil, adotada pela influência da cultura africana, de acordo com Ivan Junqueira, na exposição do livro de Jorge Lima, apresenta: “Bicho Encantado”, “Banguê”, como também: “Histórias”, “Democracia”, “Passarinho Cantando”, “Poema de Encantação”, “Olá! Negro” (“E o teu riso, e a tua virgindade, e os teus medos, e a tua bondade/ mudariam a alma branca cansada de todas as ferocidades!”). 
	O Negro em versos, constitui a segunda obra dessa análise poética, estruturado por Luiz Carlos dos Santos entre outros, traz em sua coletânea, cordel (com Firmino Teixeira do Amaral, Neco Martins e Leandro Gomes de Barros), A música popular brasileira (com Pixinguinha, Eduardo das Neves, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Itamar Assunção, Chico César), com apresentações bibliográficas ao final. O negro constitui-se em um tema central nesse livro, é o indivíduo que fala, fato este oposto do que ocorria na literatura brasileira do século XIX, que era marcada pela ausência do negro. Alguns escritores renomados desse período ao atual marcam presença com poemas neste livro, como por exemplo: Gonçalves Dias, Machado de Assis, Castro Alves, dentre outros. Ao final desse livro, o Escritor Oswaldo de Camargo retoma a abordagem sobre o quilombola e poeta Paulo Colina: "[...] o poema continua um quilombo no coração". 
	Outrossim, dois personagens se destacam numa análise biográfica, Zumbi e Chica da Silva. São constituintes da coleção: A luta de cada um, com a obra Zumbi o último herói dos Palmares (BRASIL, 2009), de Carla Caruso. Os subtítulos da obra mostram para o leitor a narrativa, numa compreensão em sequência da histórica em textos verbais e também visuais. 
	Outra bibliografia a de Chica da Silva, escrava alforriada negra, é mencionada em pelo menos três obras da coletânea do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE. Enquanto Antonio Callado a representa em uma peça teatral: O tesouro de Chica da Silva, em Para conhecer Chica da Silva, obra subdividida em três partes: A menina escrava, em contato com O sinhozinho do reino, com quem teve seus treze filhos, chegando a se tornar: A grande senhora, constituindo-se o mito Chica da Silva. Sem dúvidas, uma das obras mais importantes de todo o acervo da Literatura Afro- Brasileira, tendo em vista que a escrava alforriada ocupa o lugar de Senhora, status que era ocupado apenas pelas mulheres brancas que tinham o aval, destacando assim sua colocação, o que recaiu sobre si o mito de ex-escrava que extrapolou com os preconceitos impostos pela sociedade. 
	A terceira obra biográfica: Chica e João, é uma obra agraciadíssima criada por Nelson Cruz, que se sobressai pela integração de textos tanto visuaiscomo verbais. Essa obra é narrada em primeira pessoa, ou seja, pelo ponto de vista de Chica: “Aqui vivi minha história de escrava”. Mais à diante, ela destaca a mudança que aconteceu na sua vida: “Meu dedo toca o traço fino que desenha a estrada onde encontrei João Fernandes", mais na frente, “desviou rios e, entre montanhas, criou o mar que eu queria”. Nas páginas principais dessa obra, Chica e João se veem em dupla página, estando coloridos e também apaixonados. A partir desse momento, as cores são tenebrosas, pois mostram a ausência de João Fernandes. 
2.2 A IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DA LEI Nº 10.639/2003, PARA A LITERATURA AFRO-BRASILEIRA.
	Podemos observar que a partir do ano de 2003, muitos pesquisadores fizeram reflexões não somente sobre o ensino da Literatura Afro, mas também da História Africana, como um todo, que constitui umas das problemáticas propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 
	Um marco importantíssimo para o reconhecimento e da importância do professor, especificamente o de Língua Portuguesa, trabalhar com a Literatura Afro-brasileira em sala de aula, foi justamente a partir da publicação, em março de 2003, da Lei 10.639/003, e no ano seguinte a criação do Parecer 003/004 o qual regulamenta a implantação da referida lei, várias foram as manifestações em relação à criação da nova lei, alguns estudiosos a acharam um tanto quanto desnecessária, outros , no entanto, consideraram-na um grande avanço para a educação do Brasil. 
	Os que a criticavam, encontravam-se aqueles que a consideravam desnecessária, uma vez que os conteúdos já estavam elencados na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e por atentar contra a autonomia curricular dos estados brasileiros. Por outro lado, faz-se necessário salientamos a importância de reconhecermos que a criação dessa lei convergiu, favoravelmente, para o estabelecimento do ensino e valorização da Literatura Afro-brasileira e também para conhecer a história deste povo que se tornou um importante aliado para o nosso país. 
	Segundo o poeta e historiador Alberto da Costa e Silva, “a história da África é importante para nós, brasileiros, porque ajuda a nos conhecermos melhor. E também, pelo seu próprio valor e porque nos mostra melhor o grande continente que fica em nossa fronteira leste e de onde proveio quase a metade de nossos antepassados”. Isso corroborou para que fossem criadas, em várias partes do Brasil, como por exemplo: na Bahia, São Paulo etc. Centros Avançados de Estudos Africanos.
	Na propositura da Lei nº 10.639/03, os gêneros apresentados trazem, no seu universo africano, as narrativas, ainda pouco conhecidas no ambiente escolar, porém tão presente nos falares, nas histórias e estórias que são contadas por nossos antepassados, e até mesmo pela geração mais jovem do Brasil. Observam-se vários elementos culturais, certas expressões que foram sendo reformuladas, ganhando novas abordagens semânticas. 
	Ainda sobra a Literatura Africana na Brasileira, destacamos os Cadernos negros volume 30: contos africanos (BRASIL, 2009), foi a primeira obra composta e organizada por Esmeralda Ribeiro e Márcia Barbosa (BRASIL, 2007), há um trecho de extrema relevância: “Estamos limpando nossos espíritos das ideias que nos enfraquecem”. Essa obra possui vários contos de 25 autores negros que vêm lutando em busca de possibilidades, em um compromisso político: “Os contos trazem a diversidade [...] ao fundo existe sempre o rumor das questões que nos atingem no dia-a-dia. Há a dor e o desespero, mas há também a ironia e o humor”. Vale salientarmos que é importante dar ênfase as falas, para que possamos questionar e posteriormente levar para a sala de aula estas reflexões de forma precisa e também planejada (BRASIL, 2004). 
	As Obras Literárias em Os Cadernos negros fazem surgir uma literatura que mostra um lugar político dos autores, usando a escrita literária, como ponto de partida em busca da nossa própria identidade nacional e mestiça. Existe nessas literaturas o olhar negro sobre como ver o mundo, vários a cognominam de literatura negra, outros afro-brasileira. N abordagem de Pereira (2014), a literatura é tão somente literatura e devemos, portanto, pensar sobre ela como sendo a construção social, cultural e política das diferenças em contextos que envolvem poder, sempre pairando no ar um padrão em que toda a diferença gera uma certa tensão, e isso pode ser vislumbrado pelas leituras e releituras. 
	Em se tratando de Contos e lendas afro-brasileiros, destacamos a obra “A criação do mundo”, do escritor Reginaldo Prandi (2007), no seu preâmbulo traz a personagem Adetutu, a qual em um navio que carregava negros, ela tem um sonho com a criação do mundo; a cada capítulo isso vai desenrolando-se, a Terra se molda, o mar mexe-se em fúria, um rio passa pela montanha, céu e Terra distanciam-se um do outro e, em todo esse ritual, unem-se. 
	Mencionamos ainda, na terceira obra, Lendas de Exu, narra a história de um herói todo atrapalhado o qual está ligado à vitalidade, ao prazer, ao bem estar e à descontração das emoções, a qual Exu encontra-se em diversas situações. Já na quarta obra, a do Professor de Literatura Africana, Rogério Andrade Barbosa, O segredo das tranças e outras histórias africanas (BRASIL, 2009), traz várias estórias dos cinco países africanos lusófonos, quais sejam: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Essas obras são respectivamente: O segredo das tranças; Maria e o condão; O menino e a cegonha; A herança maldita; e A tartaruga e o gigante. Por fim a quinta obra, Mãe África: mitos e lendas, fábulas e contos, é uma abordagem renovada dos contos e que é capaz de criar uma memória fenomenal.
2.3 A PRESENÇA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NA SALA DE AULA 
	É notório que a inclusão da literatura afro-brasileira nas aulas de literatura reflete, também, a importância que o professor dá ao assunto. Ele como mediador do conhecimento, em sala de aula, deve dialogar com os estudantes, traçando dessa forma a importância desse debate, criando uma ponte de ligação entre o dia a dia dos alunos e a temática dos textos literários, especificamente os Afro-brasileiros. 
	O professor, bem esclarecido sobre as questões étnico-raciais e possuidor dos conhecimentos acerca da literatura afro-brasileira, questionará com seus alunos sobre o tema dentro do ambiente escolar. Esse trabalho com os textos e escritores afro-brasileiros, principalmente em sala de aula, nas escolas públicas do ensino médio, poderá despertar no aluno sua vocação em querer ser mais, de acreditar em si mesmo e dessa forma elevar sua autoestima, desenvolvendo também uma visão diferente, daquela impregnada historicamente, da importância do povo negro dentro da sociedade brasileira. De acordo com Freire (2003, p. 102), “[...] Quanto mais investigo o saber do povo com ele, tanto mais nos educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais continuamos investigando [...]”. Coaduna com isso o que diz Ianni (1988):
[...]. Há uma relação dialética entre a literatura afro-brasileira e a vivência de muitos jovens. Os estudantes, sobretudo os negros, oriundos das escolas públicas, podem, por meio do diálogo, entender a sua história e a história do outro; o outro, subscrito nos livros de literatura ou na figura do próprio professor. Por essa razão, é necessário um cuidado especial ao se abordar essa literatura. Um conhecimento aprofundado daquilo que se irá falar, para construir pontes em vez de obstáculos. Neste momento, cabe destacar que [...] a literatura não só expressa como também organiza uma parte importante da consciência social do negro [...] (IANNI, 1988, p. 98).
	Diante disso, o questionamento inicia-se a partir do propósito de provocar nos alunos esses sentimentos, despertando também no professor o interesse pelo ensino da cultura e literatura afro-brasileira, onde nesse envolvimento, todos como cidadãos, em uma relação mútua de aprendizado, saem ganhando.
	Depois da reviravolta que houve, com o surgimentoda linguística no campo da filosofia, concluímos que o processo da linguagem não é apenas uma simples representação da realidade. A linguagem está, sem dúvida, estreitamente relacionada ao real. Alicerçando nossas colocações sobre as teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas, é salutar enfatizarmos a proposição de que não podemos pensar sobre a linguagem afastando-a da esfera político-social, tendo em vista que toda expressão da linguagem possui um local da fala. Coaduna com isso o filósofo Derrida (2002).
Este: o próprio do homem, sua superioridade assujeitante sobre o animal, seu tornar-se sujeito mesmo, sua historicidade, sua saída da natureza, sua sociabilidade, seu acesso ao saber e à técnica, tudo isto, e tudo o que constitui o próprio do homem, consistiria neste defeito originário, em verdade neste defeito de propriedade, neste próprio do homem como defeito de propriedade – e ao “é preciso” que encontra aí seu impulso e seu elã. (DERRIDA, 2002, p.83).
	Nesse interim, havemos de inferir que a educação é a arma mais forte na formação dos indivíduos de forma geral, sendo ela um meio a ser usado na transformação social. Diante disso, cabe à escola a função de conscientização de seus educandos, no que diz respeito às diversidades culturais nas quais eles estão incluídos. Nesse contexto, o estudo da Cultura e Literatura Afro-Brasileira, proporcionará ao aluno a constituição de seu senso crítico-reflexo da situação real do negro no Brasil, criando, dessa forma, um ambiente para a sua inclusão e também a cidadania.
É necessária a inclusão da discussão da questão racial, como parte integrante da matriz curricular tanto dos cursos da licenciatura para a educação infantil, aos anos iniciais e finais da educação fundamental, educação média, educação de jovens e adultos, como processos de formação continuada de professores, inclusive de docentes no ensino superior (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2004, p. 23).
	Destacamos que o Ministério da Educação, junto ao governo federal, vem fazendo ao longo dos anos normas para a correção das muitas injustiças sociais, como formas de acabar com o preconceito racial e estabelecer a inclusão e também a cidadania de todos no sistema educacional do Brasil. “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e particulares, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. (LDB, pág.20).
	Nas considerações de SANTOS (2013), essa lei trouxe meios de podermos alterar o histórico do país e fazermos com que o negro seja considerado como um dos principais agentes formadores da população e também construtor da sociedade brasileira. Por outro lado, o estudo dessas literaturas favorece uma análise aprofundada de nossas raízes, tanto históricas quanto culturais, como uma maneira de extirpar preconceitos e discriminações, os quais foram gerados pelo movimento escravocrata que viveu o Brasil por mais de três séculos de história. O estudo sobre a literatura afro-brasileira é necessária que haja em sala de aula, pois favorece ao educando a criação de opiniões e interação perante o assunto. Pois é dessa forma que preconiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação e também das relações Étnico-raciais, para o Ensino-aprendizagem tanto de história como de Cultura Afro-Brasileira:
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira. (DCN, 2004, p. 31).
	Ratificamos, oportunamente, que é de grande importância que a escola mencione a literatura negra em seu processo pedagógico, pois além de fazer surgir o prazer e o hábito da leitura, a prática de literatura torna-se uma grande ferramenta na formação dos indivíduos, uma vez que desperta a visão crítica e também reflexiva, fazendo surgir a conscientização, nos educandos, com respeito à diversidade étnico-racial, com o objetivo de um bom convívio social. Por outro lado, estudar a literatura afro-brasileira é, portanto abordar textos que mostram a vida e o cotidiano do negro, sua luta e participação em toda a construção histórica e cultural do Brasil. Converge com isso, Santos (2013, P. 83): “A cultura popular brasileira tem uma forte característica do povo negro como nas cantigas, nos poemas demarcados em diversas regiões como Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro entre outras”. 
	Outrossim, destacamos que apesar da criação da Lei 10.639/03, ainda muitas dificuldades são vislumbradas, no que tange à aplicabilidade dela dentro do contexto escolar. Diante disso, é importantíssimo compreender que para a referida lei seja colocada, de fato, em prática, é mister que os profissionais da educação e também as escolas possuam meios que favoreçam isso. 
As Leis 10.639/03 e 11.645/08 é simbolicamente uma correção do estado brasileiro pelo débito histórico em políticas públicas em especiais para a população negra e indígena. Neste contexto, a publicação de livros didáticos pertinentes a História da África, Cultura Afro-Brasileira e indígena, para o Ensino Fundamental I, torna-se uma alternativa eficaz para o ensino-aprendizagem nas escolas públicas e particulares sobre o ensino das relações étnicos e raciais. Visto que a docência tem questionado em órgãos públicos sobre a carência de livros didáticos para a efetivação das leis supracitadas. (SANTOS, 2010, p. 01)
	Diante dessa análise, é de suma importância que os professores, principalmente os de Língua Portuguesa, criem meios para que haja espaço para discussão étnica e racial em sala de aula, com fins à formação de indivíduos reflexivos, críticos e que reconheçam e respeitem a diversidade cultural da qual estão todos nós estamos inseridos. É imprescindível a existência de práticas pedagógicas contestatórias e também emancipadoras, as quais sejam capazes de fomentar um conhecimento alicerçado sobre as novas bases epistemológicas da atualidade. 
	Um dos grandes problemas que encontramos no sistema educacional do Brasil, diz respeito à negação de que ainda estamos inseridos dentro de uma sociedade racista, isso dificulta a discussão do assunto em sala de aula. Esse problema teve como um dos fatores gerados, a falta de uma formação mais abrangente dos docentes, que deveriam ser capacitados em trabalhar o conhecimento histórico e cultural afro-brasileiro, em suas práticas pedagógicas.
As escolas, ao não estarem atentas aos aspectos culturais e às relações raciais e desprivilegiarem discussões sobre esses temas, acabam por adotar práticas e discursos que valorizam determinada ordem social, estimulando os alunos a se adaptar a ela e aceitar como natural que desigualdades sociais e culturais sejam consideradas “déficits” individuais. (SOUZA, p. 03).
	Levando em consideração toda essa discussão, torna-se explícito que as instituições de ensino, devem manifestar uma atenção detalhada no que diz respeito à cultura e literatura negra, a fim de proporcionar aos seus alunos, a importância em se estudar tanto a história, quanto a cultura dos povos negros que tanto ajudaram na formação e construção da população brasileira. Portanto é função não só da escola, mas também de seus educadores trabalhar a literatura afro-brasileira em todo o contexto escolar, contribuindo para a construção de uma sociedade, tanto mais justa quanto mais igualitária.
	Outrossim, destacamos que o estudo da literatura por muitos anos resumiu-se em decorar estilos e épocas, sem contextualizá-los, isto justifica porque muitos alunos têm uma certa aversão por literatura, especificamente a Afro-brasileira. As dificuldades de conquistar o leitor passam pela maneira como a literatura é abordada em sala de aula, ou seja, como pretexto reduzido também à aprendizagem da leitura e da gramática apenas. Entretanto quando o leitor se senteprovocado pelas palavras lidas, realiza-se a função formadora da leitura, que introduz o indivíduo a melhor conhecer a si mesmo a ao mundo que o cerca.
	É de suma importância que o professor trabalhe com Literatura em sala de aula, pois é através dela que o leitor busca novas formas de dizer, amplia sua capacidade linguística, lança hipóteses, experimenta, duvida, exercita, descobre, cresce, modifica sua leitura de mundo e assume uma postura crítica-reflexiva da realidade. 	Entre os muitos modos de conceber a literatura, está a visão de Antônio Candido (1997, p. 26) que a define “como um conjunto de textos escritos (muitas vezes também fixados na oralidade), esteticamente elaborados a partir da linguagem comum, que dão conta da especificidade cultural de uma comunidade.”
3. MATERIAIS E MÉTODOS
	Para a realização deste Trabalho de Seminário de Prática VII, foram utilizados vários materiais bibliográficos de várias obras, dentre elas: livros, revistas, artigos, dissertações e referências sobre o tema, abordados por diversos teóricos das áreas de História e Literatura Afro-brasileira, cujos materiais foram devidamente publicados em sites oficiais, a fim de que pudéssemos traçar os aspectos gerais e históricos que envolvem a didática dessa Literatura, bem como sua aplicabilidade em sala de aula. Utilizei também para a construção deste trabalho, de uma forma mais observacional, vídeos aulas disponíveis na internet.
	Os dados levantados, nesta pesquisa, tiveram como base uma pesquisa qualitativa, através dos instrumentos os quais foram descritos acima. Foram analisados, levando em consideração, os seguintes itens: abordagem conceitual do tema, instauração do “contrato didático” e sua relação com o cotidiano da sala de aula, estabelecimento da correlação entre os conceitos e importância da Literatura Afro-brasileira na prática docente, a estrutura de participação e reflexões dos trabalhos pesquisados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
	É indiscutível que houve uma evolução quanto à abordagem e consideração das várias manifestações da Literatura Afro-brasileira, porém há muito ainda a ser discutido e também evoluído sobre o tema. Observamos ao longo dessa discussão, que o nosso sistema educacional persiste com alguns dos ditames dos antigos métodos de se conceber a literatura como um todo, em sala de aula e também certa divergência entre os professores com respeito ao ensino dela, conclui-se que um dos fatores propulsores dessa realidade, diz respeito a maneira como a escola reflete essa realidade. 
	Apesar de os povos negros e também indígenas brasileiros, exercem bastantes influências dentro da cultura e no folclore brasileiro, ainda há muito a ser trabalhado, a fim de que essa tão justa valorização seja de fato reconhecida e vivenciada, principalmente no processo educacional. Vimos que Autores como Gomes (2010), ratifica-nos que a tradição histórica curricular desenvolvida é um dos fatores que tem impedido que o ensino de História da África e também sua Literatura, liberte-se das inferências do quadripartismo histórico, que são os conceitos arraigados nas concepções das idades antiga, medieval, moderna e também contemporânea.
	Um outro entrave que nós observamos ao longo deste trabalho, foi aquilo mencionado pelo historiador Achille Mbembe (2001), ele denomina o povo africano como sendo um povo selvagem distante da luz da história consciente, isso faz referência ao que nos aponta alguns dos efeitos da filosofia eurocêntrica de encarar a produção do conhecimento na África e sobre a África.
	Vimos também na obra de Ali Mazrui e J. F. Ade Ajayi (2011), que o período de colonialismo sofrido pelo povo africano ao longo dos séculos, acabou provocando, dentre vários problemas, o impedimento, o desenvolvimento e a criação de uma filosofia e também de uma ciência que fossem independentes das inferências com o ocidente, essa discussão levou-nos a perceber que dentre os vários fatores que inibiram essa produção cultural está o processo de ensino utilizado na África e nas suas ex-colônias. Pois esses eram mais voltados aos ritos religiosos do que os educacionais. 
	Ao longo desse trabalho de Seminário de Prática VII, procuramos responder a uma das perguntas, a qual consideramos importantíssima, por que estudarmos Literatura Afro-brasileira e reconhecer sua participação direta na nossa Literatura? Como já foi dito anteriormente, a nação brasileira recebe influências históricas da Cultura Africana e também por reconhecermos de larga escala, que a Literatura exerce um papel indispensável em todo o processo ensino-aprendizagem em sala de aula, pois as técnicas, tanto de leitura quanto da escrita, as quais são imprescindíveis para a sociedade em geral, atualmente seguem os avanços experimentados por elas. Para tanto autores como Soares (2012) nos confirmaram que para enfrentarmos a toda realidade social, em que estamos inseridos, faz-se necessário não apenas saber ler e escrever é necessário também que nós saibamos saber fazer uso do ler e do escrever. Isso corrobora com os conceitos de multiletramentos, os quais nós vislumbramos neste trabalho, ou seja, levarmos nossos a alunos a se posicionarem de forma ativa e também crítica-reflexiva.
	Converge com essa colocação o que vimos nas palavras de Cosson (2011), onde ele confirma a importância da presença da leitura literária no processo de letramento dos alunos em sala de aula, pois nos ajuda a ler melhor o mundo.
	Foi observado também, neste trabalho, que a criação da Lei 10.639/2003, que alterou a antiga Lei 9394/96, especificamente acrescendo o Artigo 26-A, incluiu a obrigatoriedade da abordagem sobre História e Cultura Afro-Brasileira, no ensino básico, destacando que os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Essa Lei, de acordo com a maioria dos teóricos, contribui significamente para a valorização do ensino da Literatura Afro-brasileira em sala de aula.
5. CONCLUSÃO
	Há muito ainda a ser discutido, entre os teóricos e especialistas dessa área, pois o enfrentamento das dificuldades que ainda insistem em continuar, no que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem da Literatura Afro-brasileira e o reconhecimento das influências da Cultura Africana em nossa Literatura, perpassam pelo reconhecimento de que, no tempo presente, temos conceitos, como os dos multiletramentos, que vão convergir justamente pela manifestação da diferença e capacidade de reconhecimento não só da escrita como também da leitura. 
	A tradição Literária Africana, que ainda é um pouco excluída das fontes históricas legítimas, vem à tona nos últimos anos, dado aos trabalhos de vários especialistas, como os citados ao longo deste trabalho, que se debruçaram e ainda hoje se empenham na árdua tarefa de desconstruir a história que foi profundamente distorcida. Essa tarefa é imprescindível às atuais práticas pedagógicas contestatórias e por sua vez emancipadoras, que são capazes de fomentar um conhecimento alicerçado sobre as novas bases epistemológicas e etnografias.
	Por outro lado as discussões em torno da inserção da Lei nº 10.639/03, a qual foi intitulada nacionalmente como a Lei África, ajudam na inclusão, não só no aspecto social, mas também curricular das escolas, no que diz respeito aos estudo da História da África, Literatura Afro-brasileira e também dos povos Africanos, da luta dos negros aqui no Brasil, da vasta cultura negra brasileira e da participação do negro na formação da sociedade brasileira, trazendo em evidência a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política nacional, sem esquecermos do viés literário que a eclética Literatura Negra alcançou. 
	Outrossim, destacamos o uso da literatura produzida e que foi largamente disponibilizada para a construção dos nossos leitores e consequentemente da identidade literária nacional e também mestiça. Elencamos ainda, que as literaturas africanae afro-brasileira, como por exemplo: Novos poemas (1928), Poemas escolhidos (1932), Poemas negros (1947) e Livros de sonetos (1949), a partir da promulgação da lei, acima mencionada, têm todas as chances de construir, em seus interlocutores, conceitos desmistificadores pregoados pela cultura eurocêntrica, trazendo assim mudanças relevantes, que melhorarão substancialmente, o rendimento de leitura e escrita, além de possibilitar que se trabalhe o multiculturalismo e as várias manifestações não só artísticas como também literárias.
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