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Psicodiagnóstico - Cap 4

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O contato com o paciente
Maria da Graça B. Raymundo
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fi expressão contato, da raizlatina contactum
/Lì(Carvalho, 1955), quer dizer exercitar o tato,
com vistas ao toque dentro de uma relação de
influência e de proximidade (Ferreira, 1986).
De forma metafórica, no processo psico-
diagnóstico, o papel do psicólogo é o de tate-
ar pelos meandros da angústia, da desconfi-
ança e do sofrimento da pessoa que vem em
busca de ajuda. Tatear, então, é lidar com as
inúmeras resistências ao processo, sentimen-
tos ambivalentes e situações desconhecidas.
Primeiramente, é preciso ter clareza de que a
sintomatologia já se fez presente e manifesta
em período anterior à marcação da consulta, e
de que, certamente, várias formas de driblar o
sofrimento foram experimentadas e várias ex-
plicações foram empregadas, resultando no
incremento da angústia. Essas resistências po-
dem passar, também, pelo desconhecimento
do que seja o trabalho com um profissional em
psicologia, pelos estereótipos culturais em tor-
no da área psi e dos preconceitos sobre quem
requer esse atendimento. No caso de crianças
ou adolescentes, as dificuldades são freqüen-
temente relacionadas com a influência de com-
panheiros, atribuídas à indisciplina ou a ,,pro-
blemas de idade".
As resistências mais imperiosas ficam por
conta das questóes internas, pois estão sob a
regência de ananke, a Necessidade, a Grande
38 Junrvn Arcrors CuruHR
Senhora do Mundo Subterrâneo ou mundo
psíquico inconsciente (Hillman, 1997). Ela ma-
nifesta sua força inexorável por desvios, como
a desordem, a desarmonia, a aflição diante de
si próprio e no trato com as coisas do mundo
circundante. Como conseqüência, a própria
pessoa procura conviver com os seus sintomas,
e a família tenta tolerá-los, mas há limites para
o sofrimento e para a tolerância. Freqüente-
mente, os sintomas são observados por alguém
mais, por uma pessoa com certo poder de in-
fluência, que pode assumir o papel de agente
de saúde, como um professor, uma assistente
social, um médico, ou, provavelmente, uma
dessas pessoas é procurada, para apoio e acon-
selhamento, de onde surge a decisão de busca
de ajuda.
A pessoa em sofrimento chega para o pri-
meiro contato com o psicólogo premida pela
necessidade de ajuda e pela necessidade de
rendição e de entrega.
A atitude de respeito do psicólogo, ou seja,
o "olhar de novo", com o coração, em conjun-
to com o paciente para a sua conflitiva, livre
de críticas, menosprezo e desvalia, é basilar no
exercício de tocar a psique, para uma ligação
de confiança. Estabelecer a proximidade neces-
sária para a consecução do processo significa
mostrar ao paciente que as dificuldades pare-
cem não ir embora enquanto não forem pri-
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meiro bem acolhidas. A solução só ganhará
espaço e lugar se houver contato.
As atitudes de esperança (Hillman, 1993) e
da aceitação por parte do psicólogo, da an-
gústia e "da luta entre os opostos", enquanto
expressão da "verdade psicológica do eterno
jogo de antagonismos" (Silveira , 1992, p. 1 1 6),
são fundamentais para a pessoa que vem para
o primeiro contato, dentro do processo psico-
diagnóstico.
MOTIVOS CONSCIENTES E INCONSCIENTES
A marcação da consulta formaliza um proces-
so de trabalho psicológico já iniciado (Jun9,
1985), precedido de intensa angústia e ambi-
valência. Corresponde à admissão da existência
de algum grau de perturbação e de dificuldades
que justificam a necessidade de ajuda. A emer-
gência de fortes defesas nesse período pode, por
vezes, mascarar as motivações inconscientes da
busca pelo processo psicodiagnóstico.
Também, nos casos em que o Paciente é
encaminhado por outrem ao psicólogo, o mo-
tivo aparente pode ser a própria solicitação do
exame ou fato de ter sido mobilizado por cole-
gas, amigos, parentes. Nessas circunstâncias,
o paciente pode ter uma percepção vaga de
sua problemática, mas preferir chegar ao psi-
cólogo pelo reforço de um encaminhamento
médico, por exemplo. Pode haver algum nível
de consciência do problema e lhe ser muito
dolorosa a situação de enfrentamento de sua
dificuldade. Assim, por suas resistências, o pa-
ciente pode negar a realidade e depositar num
terceiro a responsabilidade pela procura.
Portanto, há uma tendência para que o
motivo explicitado ao psicólogo seja o menos
ansiogênico e o mais tolerável para o paciente
ou, ainda, para o responsável que o leva. Em
geral, não é o mais verdadeiro.
Conseqüentemente, há tendência para ex-
plicitação dos mottvos, conforme a gradação
e apropriação, pela consciência do paciente'
As motivações inconscientes estão no nível
mais profundo e obscuro da psique. Consti-
tuem-se nos aspectos mais verdadeiramente
responsáveis pelas afliçóes do paciente.
Cabe ao psicólogo observaç percebeç es-
cutar com tranqüilidade, aproximar-se sem ser
coercitivo, inquiridoç todo-poderoso' Somen-
te assim se criam o silêncio necessário e o es-
paço para que o paciente revele sua intimida-
de, ou senão, denuncie os aspectos incoerentes
e confusos de seus conflitos. Para tanto, é sobre-
modo importante observar como o paciente tra-
ta a si próprio e as suas dores. lsso passa pelo
vestir-se, pelo comunicar-se verbalmente e não
verbalmente, pela linguagem corporal, pelo con-
teúdo dessas comunicaçóes. Todo movimento
corpóreo deve ser considerado como indicativo
da realidade interior e expressão do psiquismo
(Zimmermann, 1992). Assim, o psicólogo pode
decodificar as variadas mensagens que recebe,
discriminando o quanto há de reconhecimento
do sofrimento, das motivações implicadas, deli-
neando o seu Projeto de avaliação.
Quando os pais levam a criança ou o ado-
lescente ao psicólogo, pode ocorrer que o su-
jeito constitua "o terceiro excluído ou incluí-
do" (Ocampo & Arzeno, 1981, p'36). Se ignora
o motivo, é excluído. Mas é preciso investigar
se está realmente incluído, porque pode ocor-
rer o fato de os pais verbalizarem o motivo,
porém não o mais verdadeiro ou o mais autên-
tico, dentro de sua percepção. lsso se dá em
função de fantasias sobre o que pode aconte-
cer em face da explicitação do que é mais do-
loroso e profundo e, portanto, do mais oculto'
Se a realidade está sendo distorcida, podem
advir algumas dificuldades para o psicodiag-
nóstico, caso o psicólogo não perceba e/ou não
altere essa situação. Em primeiro lugar, o pro-
cesso pode ser iniciado com o conflito deslo-
cado, comprometendo a investigaçáo. Em se-
gundo lugar, o paciente percebe a discrepân-
cia e projeta no material de teste suas dificul-
dades, enquanto o psicólogo "finge estar in-
vestigando uma coisa, mas sorrateiramente
explora outra socialmente rejeitada" (Ocampo
& Arzeno, 1981, p.37). Em terceiro lugar, ou-
tras dificuldades podem ocorrer, no momento
da devolução: a) no caso do parecer técnico
estar contaminado e distorcido; b) porque o
psicólogo entra em aliança com os aspectos
patológicos; c) por adotar uma atitude ambí-
gua, não sendo devidamente explícito; ou, ain-
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Psrcootncruosrtco - V 39
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da, d) deixando claros somente os pontos to-
lerados pelo paciente e por seu grupo familiar.
Em quarto lugaç as autoras salientam o com-
prometimento que pode sofrer a indicação para
a terapia, visto que o paciente temerá repetir
o mesmo vínculo dúbio e falso.
Pelo exposto, ficam claras a importância e
a complexidade, para o psicólogo, em abarcar
o continuum de consciência-inconsciência do
paciente, em relação a seus conflitos. Todos os
dados psíquicos são relevantes, e cada um ga-
nha múltiplos significados. Compete ao psicó-
logo abordar cada dado sob vários aspectos,
até que seu sentido adquira maior consistên-
cia e especificidade.
Quando o pacientechega por encaminha-
mento, deve-se esclarecer quem o encaminhou,
em que circunstância ocorreu o encaminha-
mento e quais as questões propostas para a
investigação. lsso pode ser feito ou comple-
mentado através de comunicação telefônica.
MacKinnon e Michels (1981) informam que al-
guns profissionais optam por esse procedimen-
to, enquanto outros preferem desconhecer
qualquer informação diversa da que lhe che-
ga, por escrito ou verbalmente, via paciente.
Conclui-se que é fundamental que o psicólo-
go esclareça, o mais amplamente possível e de
forma objetiva, as motivações conscientes indi-
cadas e as inconscientes envolvidas no pedido
de ajuda. Cabe ter-se sempre presente que a na-
tureza humana, como já foi dito por Heráclito,
tem predileção por ocultar-se, embora a psique
aspire a expressão e reconhecimento constantes.
Nessa linha de pensamento, a consideração
da objetividade e quantidade de informações
parece emprestar um peso para a coleta de
dados prévios sobre o caso, especialmente
quando os motivos explicitados não parecem
corresponder aos reais. Portanto, quanto me-
nos consciente o paciente parecer de sua pro-
blemática ou quanto mais fora da realidade
parecer estar, mais se torna importante a con-
sideração de informações de terceiros. De qual-
quer modo, sob o nosso ponto de vista, não se
pode prescindir totalmente de informações
subsidiárias, no sentido de melhor entender por
que o sujeito seleciona certas respostas para
lidar com seu ambiente.
40 JuRrvn Arcroes CuruHn
O esclarecimento dos motivos aparentes e
ocultos não só permite a determinação dos
objetivos do psicodiagnóstico como também
fornece dados sobre a capacidade de vincula-
ção e de concretização da tarefa pelo paciente
e/ou responsável.
rDENïrFrCAçÃO OO PACTENTE
A discriminação entre os motivos explícitos e
implícitos para a busca de ajuda colabora para
que o psicólogo identifique quem é o seu ver-
dadeiro paciente: a pessoa que é trazida ou
assume a procura, o grupo familiar ou ambos.
Em face do encaminhamento e do primeiro
contato do psicólogo com o paciente e/ou com
seu grupo familiar, a tarefa fundamental que
se lhe apresenta é definir quem é o paciente,
em realidade, levantando todas as indagações
possíveis em torno dele e da totalidade da si-
tuação envolvida na busca de ajuda, passando
pelo grau de consciência das dificuldades.
Ocampo e Arzeno (1 981) referem que, com
freqüência, dentre um grupo familiaç o elemen-
to trazido ao psicólogo e apresentado como
doente é, realmente, o menos comprometido
da família. Cabe ao psicólogo estar alerta e
identificar se o sintoma apresentado é coeren-
te ou não para o paciente e sua família.
De forma abrangente, a identificação do
verdadeiro paciente verifica-se desde o momen-
to em que ele procura o psicólogo, através de
contato telefônico ou pessoalmente, ou quan-
do outro profissional refere ter feito o encami-
nhamento, até o momento final da entrevista
devolutiva.
O psicólogo começa a conhecer "quem é"
o seu paciente, por meio de perguntas iniciais
quando do primeiro contato.
DINÂMrcA DA TNTERAçÃo cr-írurcn
Aspectos conscientes e inconscientes
A interação clínica psicólogo-paciente verifica-
se ao longo de todo o processo psicodiag-
nóstico.
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Essas duas pessoas entram em relação e
passam a interagir em dois planos, ou seja, o
de atitudes e o de motivaçóes. Ambas têm suas
funções e papéis e estão na relação diagnósti-
ca não só como psicólogo e paciente, mas,
antes de tudo, como pessoas. No plano das
atitudes, está o psicólogo com sua função de
examinador e clínico, e está o paciente com
sua sintomatologia e necessidade de ajuda.
No plano das motivações, estão o psicólo-
go e o paciente com seus aspectos inconscien-
tes, assumindo papéis de acordo com seus sen-
timentos primitivos e suas fantasias.
No plano inconsciente, têm-se os fenôme-
nos de transferência e de contratransferência.
O primeiro é experienciado pelo paciente ao
se relacionar, no aqui e agora da situação diag-
nóstica, com o psicólogo, não como tal, mas
como figura de pai, irmão, mãe. A contratrans-
ferência verifica-se no psicólogo na medida em
que assume papéis na sua tarefa, conforme os
impulsos de seus padróes infantis de figuras
de autoridade ou outros padrões primitivos de
relacionamento.
O fenômeno transferencial não tem um ca-
ráter só positivo ou negativo, mas consiste na
"recriação dos diversos estágios do desenvol-
vimento emocional do paciente ou reflexo de
suas complexas atitudes para com figuras-cha-
ve de sua vida" (MacKinnon & Michels, 1981,
p.22).
Na situação de psicodiagnóstico, observam-
se ocorrências de transferência na necessida-
de do paciente de estar agradando, de se sen-
tir aceito pelo psicólogo, como, por exemplo,
nos pedidos de horário e acerto financeiro es-
peciais.
Pod em verif ica r-se situaçÕes tra n sferencia i s,
envolvendo sentimentos competitivos, como
no caso do paciente que compete no horário
de chegada, ou daquele que desafia e agride o
psicólogo, atacando o consultório ou ele pró-
prio (linguagem, vestimentas, conhecimentos,
etc. ).
É importante que a transferência não seja
confundida com o vínculo estabelecido com o
psicólogo, na medida em que este se centra
na realidade da avaliação, através da intera-
ção entre os aspectos de ego mais sadios do
psicólogo e do paciente, e é baseado na relação
de confiança básica entre a mãe e a criança.
A resistência do paciente à tarefa também
se constitui em uma forma de transferência. O
paciente compete, ou tenta obter provas da
aceitação do psicólogo, buscando manipular a
situação de testagem, ou espera ser aliviado
de seus sintomas, magicamente, por meio do
poder que atribui ao psicólogo. O silêncio pro-
longado e sistemático ou o paciente que fala
sem parar também são manifestações de re-
sistência à avaliação.
lgualmente, o paciente pode usar mecanis-
mos de intelectualizaçáo muito fortes, buscan-
do o apoio e a concordância do psicólogo.
Outras formas de resistência são a insistên-
cia do paciente em só falar sobre seus sinto-
mas, ou, ao contrário, falar sobre banalidades,
evitando os motivos mais profundos, assim
como as demonstrações excessivas de afeto
para com o psicólogo.
A conduta de atuação também encerra re-
sistência e se manifesta nas faltas, nos atra-
sos, em freqüentes pedidos de troca de horá-
rio, em ir ao banheiro várias vezes durante a
sessão, por exemplo.
É necessário que se saliente que essas con-
dutas devem merecer adequada e sensível ava-
liação do psicólogo, buscando seu significado
dentro da relação vincular com aquele pacien-
te, diante da sua história e do aqui e agora do
processo diagnóstico.
Em termos de fenômeno contratransferen-
cial, o psicólogo pode ficar dependente do afe-
to do paciente, deixando-se envolver por elo-
gios, presentes, propostas de ajuda; pode fa-
cilitar ou não horários; pode exibir conhecimen-
to e pavonear-se; ou pode proteger o paciente
contra os seus sentimentos agressivos. O psi-
cólogo pode se ver tentado a prolongar o vín-
culo além do que é necessário, ou a competir
com o paciente, ou ainda, a conduzir a tarefa
como se o fizesse consigo próprio.
É fundamental que o psicólogo esteja sem-
pre alerta à contratransferência, no sentido de
percebê-la e entendê-la como um fenômeno
normal, buscando dar-se conta de seus senti-
mentos, não permitindo que eles atuern no
processo psicodiagnóstico.
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Psrcoorncruosrrco 
- 
V 41
Por outro lado, os sentimentos contratrans-
ferenciais podem ser considerados adequados
na medida em que possibilitam que o psicólo-
go perceba o inconsciente do paciente.
Outro aspecto importante a ser considera-
do no psicodiagnóstico é a percepção que o
paciente tem dos objetivos da avaliaçãoe de
como ela vai transcorrendo' O psicólogo deve
estar atento às manifestaçóes ocultas e apa-
rentes de como o paciente está se sentindo e
está se percebendo ao longo da tarefa' Assim,
também é imprescindível investigar a motiva-
ção do paciente em termos de conhecimentos
e de atitudes. Pope e Scott, já em 1967 , enfati-
zavam esse aspecto como a " pre-disposr'ção ati-
tudinal e cognitiva" do paciente ao psicodiag-
nóstico e sugeriam que o psicólogo efetuasse
uma entrevista após a aplicação de testes, ao
final da sessão, buscando detectar os dados
assinalados (p.28).
Com relação ao psicólogo, os mesmos au-
tores fazem comentários sobre a atitude de
estímulo, apoio, encorajamento, bem como
sobre a atitude distante na produção do pa-
ciente à testagem. A propósito, citam um es-
tudo americano, que objetivou avaliar a in-
fluência do rapport positivo e negativo na pro-
dutividade de respostas ao Rorschach, bem
como avaliar características de personalidade
do psicólogo intervenientes nessa testagem' Os
resultados apontaram para o fato de que a
personalidade dos psicólogos exerce maior in-
fluência do que o clima emocional da situação
de teste. Outrossim, os índices mais produti-
vos no Rorschach foram associados à forma
positiva com que foi administrado o teste (psi-
cólogo afável e compreensivo)' e os índices
mais comprometidos e menos sadios foram
associados à administração negativa (psicolo-
go distante e autoritário). À forma de adminis-
tração chamada neutra (psicólogo "cortês, mas
metódico") corresponderam índices interme-
diários entre elevada e baixa produtividade
(p.30).
Trinca (1983) assinala que o psicólogo se
sente ansioso ante os inúmeros dados que
emergem durante o exame psicológico. Em
função dessa ansiedade, podem ocorrer erros
na formulação diagnóstica, visto que, de for-
42 Junevn Arctors CuruHn
ma onipotente, pode considerar as "impressÕes
iniciais" com amplitude inadequada. Portan-
to, é fundamental para o psicólogo o conheci-
mento de si próprio, devendo estar alerta para
o movimento dos processos inconscientes, não
deixando de lado, em nenhum momento, a sua
dimensão única como Pessoa.
Definiçáo de problemas e necessidades
do psicólogo
Na tarefa de psicodiagnóstico, o psicólogo so-
fre pressóes do paciente, do grupo familiar, do
ambiente, de quem encaminhou o paciente e
dele próprio.
O paciente quer ser ajudado e quer respos-
tas.
O meio ambiente, ou seja, o local de traba-
lho do psicólogo, os colegas, as chefias, mui-
tas vezes, bem como uma equipe multiprofis-
sional ou não, conforme o caso, também exer-
cem suas pressões sobre a condução do caso,
planificação e manejos finais. Num trabalho em
equipe formalizado, ou mesmo entre a própria
classe dos psicólogos, os aspectos competiti-
vos e invejosos são intensamente mobilizados.
A situação de psicodiagnóstico torna-se impor-
tante em termos de afirmação e valorização
da tarefa do psicólogo. A percepção do am-
biente sobre o seu trabalho é uma das pres-
sões exercidas sobre ele.
Por outro lado, a sua própria percepção de
como exerce e maneja sua tarefa também é
um fator de pressão sobre a sua auto-imagem'
A pessoa que efetuou o encaminhamento
aguarda respostas específicas, as quais a auxi-
liarão no seu atendimento e/ou reforçarão ou
não a confiança no papel do psicólogo.
O psicólogo necessita obter dados que pos-
sam ser por ele empregados, no sentido de
respostas, bem como precisa que esses fatos
sejam úteis para a atribuição de escores na tes-
tagem.
Dessa forma, o psicólogo espera que o pa-
ciente colabore, seja franco, forneça todos os
dados necessários e seja "comportado", man-
tendo-se no seu papel. Ora, essa exigência é
fantasiosa e decorre da onipotência e arrogân-
j.:
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ll, r.:
... 
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cia do psicólogo, assim como do desejo de
satisfazer as suas necessidades internas e ex-
ternas.
Ele pode ter dificuldades em reconhecer
percepções, quer por falta de clareza, quer
pelos dados serem muito precários. Pode re-
correr à capacidade de representação, como
uma forma complementar (Kast, 1997), até que
rmagens mais claras tenham se estabelecido.
Em inúmeras situaçóes, o psicólogo é driblado
por sua própria expectativa.
Não raro se depara com estudantes e pro-
fissionais da psicologia frustrados, porque o
seu paciente não forneceu os dados que e/es
precisavam nem correspondeu ao que e/es es-
peravam do paciente.
Caso o paciente se mostre resistente, atra-
ves de condutas negativistas, evasivas, ou, ao
contrário, provocadoras, com excessiva loqua-
cidade, o psicólogo pode experienciar senti-
mentos de raiva e intolerância, os quais, se não
detectados e conscientizados, podem interfe-
rir gravemente ou até invalidar o processo ava-
liativo.
Afinal, consiste em sabedoria para o psicó-
logo compreender e aceitar que a psique se
revela, ao mesmo tempo que se esconde e, ao
esconder-se, dá-se a revelação (López-Pedra-
za, 1999).
Variáveis psicológicas do psicólogo
e do paciente
Schafer (1954) refere algumas das necessida-
des inconscientes e permanentes mobilizadas
no psicólogo-pessoa, durante a tarefa de tes-
tagem. Esse autor as considera e denomina de
constantes, por estarem presentes no psicólo-
go, independentemente de aspectos pessoais
ou circunstanciais e de reaçóes que o profis-
sional tenha diante de pacientes específicos.
Essas constantes relativas ao papel de psi-
cologo são as seguintes:
a) aspecto "voyeurista", ou seja, o psicólo-
go examina e perscruta com "vários olhos" o
interior dos pacientes, enquanto se mantém
preservado pela neutralidade e curta duração
do vínculo;
b) aspecto autocrático, salientando o po-
der do psicólogo no psicodiagnóstico, na me-
dida em que diz ao paciente o que deve fazer,
de que forma e quando;
c) aspecto oracular, pois o psicólogo proce-
de como se tudo soubesse, tudo conhecesse,
tudo prevesse, aspecto esse reforçado pelo
encaminhamento, porque o psicólogo vai for-
necer as respostas;
d) aspecto santificado, pelo qual o psicólo-
go assume o papel de salvador do paciente.
Na realidade, a situação de psicodiagnósti-
co apresenta "componentes irracionais que
correspondem a tendências inconscientes, im-
plícitas, primitivas, subjacentes aos aspectos
socialmente aceitáveis", que não podem ser
encarados como patológicos no psicólogo
(Cunha, 1984, p.13).
lglesias (1985) comenta que essas constan-
tes, mencionadas por Schafer, diferem da con-
tratransferência, já que este é um fenômeno
específico, que irrompe a partir da mobiliza-
ção despertada por determinados pacientes.
Schafer (1954) aponta algumas constantes
do paciente na interação clínica:
a) "auto-exposição, com ausência de con-
fiança; intimidade violada", no sentido de que
o paciente se sente exposto, vulnerável ao psi-
cólogo, que o devassa; de forma inconsciente,
acha que está psicologicamente se exibindo ao
psicólogo (este como voyeur);
b) "perda de controle sobre a situação", pois
o paciente fica à mercê do psicólogo, na situa-
ção de testagem, passando a adotar uma pos-
tura defensiva, já que deve cumprir ordens e
manejar situaçóes e dificuldades a ele impostas;
c) "perigos de autoconfrontação", já que
para o paciente, sofrendo a ambivalência de
querer ajuda e recear a confrontação de as-
pectos dolorosos e rechaçados, a testagem
implica ataque aos processos defensivos que
vem utilizando;
d) tentação de reagir de forma regressiva,
pela dificuldade de aceitação das próprias difi-
culdades;
e) ambivalência diante da liberdade, uma
vez que, embora podendo enfrentar a testa-
gem com liberdade relativa, tem também de
enfrentar os riscos de se expor, e assim, no
ii];
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V 43
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Rorschach, por exemplo, o paciente experien-
cia simbolicamente oenfrentamento da "au-
toridade real e fantasiada, presente e ausen-
te", sendo-lhe oferecida excessiva liberdade
para o seu grau de tolerância (p. 34-43).
Tais constantes reforçam ou provocam rea-
ções transferenciais e defensivas, que merecem
cuidadoso exame para a ampliação do enten-
dimento do paciente.
A situação psicodiagnóstica envolve, pois,
uma dinâmica específica, num vínculo relati-
vamente curto, em que se entrelaçam dois
mundos, o do psicólogo e o do paciente, pas-
sando a interagirem duas identidades. É uma
situação ímpat à qual o psicólogo deve dedi-
car merecida atenção e valorização.
lmportância para o psicodiagnóstico
Em defesa da propalada neutralidade científi-
ca, muitos psicólogos não valorizam os aspec-
tos dinâmicos da interação clínica, por consi-
derarem que esses dados podem ser fontes de
erro para a precisão das mensurações que de-
vem ser efetuadas (Pope & Scott, 1967). Entre-
tanto, a tarefa do psicólogo, num psicodiag-
nóstico, não se restringe à de um psicometris-
ta, assim como também é um erro crasso vê-lo
tão-somente como um aplicador de técnicas
projetivas. Mesmo quando o objetivo do psi-
codiagnóstico parece bastante simples, o psi-
cólogo não pode perder de vista a dimensão
global da situação de avaliação, levando em
conta todos os padrões de interação que se
estabelecem. Portanto, é essencial enfatizar a
necessidade de o psicólogo estar consciente,
atento e alerta tanto para as suas próprias con-
diçoes psicológicas, para o uso que faz de seus
recursos criativos e expressivos, como para as
reações e manifestações do paciente, perceben-
do a qualidade do vínculo que se cria e levan-
do em conta todos esses aspectos para o en-
tendimento do caso.
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44 JuRerraR Arooes CuruHn

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