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gestão empresarial planejamento e gestão estratégica O pensamentO estratégicO 5 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Apresentar as principais abordagens do pensa- mento estratégico. COmpetênCias Identificar, reconhecer e articular as principais aborda- gens do pensamento estratégico. Habilidades Compreender a evolução do pensamento estratégico. planejamento e gestão estratégica O pensamentO estratégicO ApresentAção Nesta quinta Unidade de Aprendizagem você irá conhe- cer um pouco das dez escolas de pensamento estratégi- co mais comuns da área empresarial. Assim você poderá obter uma ampla perspectiva sobre o processo de for- mulação de uma estratégia. Verá ainda alguns modelos básicos de abordagem que explicam a criação de uma estratégia organizacional. Você perceberá como o pensamento estratégico é in- crivelmente variado e complexo. Por meio desta unida- de, você poderá se tornar mais preparado para pensar as questões estratégicas de uma empresa. Prepare-se para uma viagem pelo mundo da estratégia! pArA ComeçAr Qual a melhor forma para se pensar as questões estra- tégicas da empresa? Como isso deve ser feito? De uma maneira formal e estruturada, ou intuitiva e ao longo do tempo, de acordo com as mudanças que ocorrem no ambiente? Há um processo melhor, ou uma metodologia correta para formular e implementar decisões estratégi- cas que levem a uma maior competitividade? Dúvidas como essas fazem parte do campo da estra- tégia empresarial. Você deve ter percebido também que nada é definitivo e nem sempre há um melhor jeito ou caminho a ser seguido. Vários fatores e circunstâncias devem ser considerados. O pensamento estratégico é bastante variado e foi in- fluenciado por diversos pesquisadores e estudiosos. É importante que você tenha uma correta noção sobre es- sas variações. Assim você pode se tornar um estrategista organizacional mais consciente das possibilidades e mais bem preparado para formular e implementar estratégias que tragam maior competitividade à sua organização. Você está pronto para começar sua viagem pelas dife- rentes escolas do pensamento estratégico? Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 4 Para iniciarmos, realize a seguinte tarefa: → Assista aos vídeos disponíveis na área Navegando por aí com Tom Peters e Kenichi Ohmae, dois grandes estudiosos da administração, e pense em como os conselhos dados podem ser úteis aos formula- dores de estratégia nas empresas. Não se esqueça de fazer as suas anotações. Você precisará delas para escrever um texto para o seu portfólio ainda nesta Unidade! Atenção Na área da estratégia empresarial, nada é definitivo e nem há uma melhor maneira de se fazer as coisas. Pelo contrário, este campo ainda é novo, está em desenvolvimento e há várias linhas ou escolas de pensamento diferentes. Olá e bem-vindo à unidade cinco! Temos certeza de que você se surpre- enderá com a grande variação e riqueza existentes no pensamento estra- tégico empresarial. FundAmentos 1. Há Um melHOr CaminHO para se pensar e Criar estratégias? Segundo Mintzberg e Quinn (2001, p. VII), “não existe um ‘melhor caminho’ para se criar estratégia, tampouco existe um ‘melhor caminho’ para orga- nização. Formas bem diferentes funcionam em contextos particulares”. Segundo eles, conhecer a variedade de pensamentos possibilita maior apreciação da área da estratégia e enriquece a capacidade do administra- dor de entender e gerenciar o modo pelo qual as estratégias são forma- das e, em última instância, do processo estratégico como um todo. 2. as esCOlas de pensamentO estratégiCO segUndO mintzberg e seUs COlabOradOres As escolas de pensamento estratégico se referem principalmente ao processo de formulação de estratégias. Elas abordam aspectos diferen- tes e específicos de como se formular a estratégia numa organização. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 5 Mintzberg et al (2000) fizeram extensa revisão da literatura existente so- bre o assunto e chegaram a dez pontos de vista ou perspectivas distintas. Embora o pensamento estratégico possa ir além do processo de formula- ção, compreender as dez escolas implica conhecer mais sobre as diversas dimensões da administração estratégica como um todo. Conheça um pouco, a seguir, sobre cada uma dessas dez escolas: 2.1. Escola do dEsign Esta escola, tida por Mintzberg et al (2000, p. 29) como a mais influente de todas, preconiza o estabelecimento da adequação entre as capacidades internas da empresa e as possibilidades externas do mercado. Ou seja, a formulação da estratégia deve levar em conta tanto as forças da empresa quanto as oportunidades disponíveis do mercado. A estratégia deve unir ambas, utilizando as competências próprias da organização para aprovei- tar as circunstâncias favoráveis existentes no mercado. Envolve, portanto, um processo de concepção da estratégia pela combinação do ambiente interno da empresa com o ambiente externo a ela. Você se lembra da ma- triz SWOT, estudada nas disciplinas de marketing? Pois ela é a ferramenta principal desta escola (LOBATO et al, 2009), auxiliando na concepção da estratégia pelo ajuste ou encaixe entre forças e fraquezas da empresa com as ameaças e oportunidades do seu ambiente externo. Para a escola do design, a formação da estratégia deve ser um processo deliberado, consciente, racional, em que as estratégias deveriam ser simples, claras e explícitas. Consiste num processo de desenho, projeto ou concepção da estratégia. Daí a origem de seu nome. Mintzberg et al (2000) criticam a suposição dos autores desta escola de que ela seja a melhor maneira de se formular uma estratégia e também a falta de consideração pelas estra- tégias emergentes que poderiam surgir ao longo do tempo com efeito do aprendizado da organização ao lidar com seu ambiente em mutação. Mas reforçam a contribuição essencial da escola do design de inserir a ideia de estabelecimento de adequação entre as oportunidades externas e as capacidades internas da empresa como algo essencial no processo de formulação de uma estratégia. 2.2. Escola do planEjamEnto Envolve uma maneira controlada, formal, programada, sequenciada em várias etapas distintas para a formulação da estratégia. Deveria haver uma equipe de planejadores para dar conta deste processo estruturado, sistemático e burocratizado. Diversas técnicas, análises e listas de checa- gem deveriam apoiar o processo de formação da estratégia da empresa. Para facilitar a implementação, as estratégias deveriam, por sua vez, ser subdivididas em subestratégias. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 6 A formalidade era uma característica essencial desta escola, bem como a utilização pesada de métodos quantitativos. Seria mais um modo de levantar e analisar dados do que gerar estratégias propriamente ditas. A principal crítica a esta escola diz respeito a sua dificuldade em gerar op- ções estratégias de fato criativas para a atuação de uma empresa. 2.3. Escola do posicionamEnto Esta escola aceitou boa parte das premissas das escolas anteriormente citadas, mas acrescentou conteúdo por meio de estratégias específicas, as famosas estratégias genéricas elaboradas por Michael Porter, da Universi- dade de Harvard, o principal expoente desta escola de pensamento. As es- tratégias genéricas correspondem a posições no mercado de atuação da empresa que o estrategista deveria selecionar, como a liderança no custo total, a diferenciação e o foco (ou enfoque). A escola do posicionamento introduziu ainda importantes ferramentas analíticas, como a cadeia de valor e o modelo das cinco forças. A escolha da posição estratégica no se- tor de atuação da empresa deveria ser feita a partir da análise minuciosa deste setor ou mercado. Asopções estratégicas genéricas preconizadas por esta escola foram consideradas limitadas por Mintzberg et al (2000). As técnicas analíticas de Porter também não seriam muito úteis à criação de opções estratégicas às organizações. Em compensação, os diversos instrumentos apresentados por esta escola, como a cadeia de valor, mostrada na Figura 1, introduzi- ram significativo arsenal na etapa de análise, que representa um passo importante no processo de formulação estratégica das organizações. margem atividades de apoio atividades primárias logística interna operações logística externa marketing & vendas serviço infra-estrutura da empresa gerência de recursos humanos desenvolvimento de tecnologia aquisição A figura 2 ilustra outra ferramenta analítica fundamental da escola de posicionamento, o modelo ou estrutura das cinco forças para a análise estrutural das indústrias. Essas duas ferramentas servem de apoio ao pro- cesso de formulação de uma estratégia empresarial e tornaram-se ampla- mente conhecidas e utilizadas. Figura 1. A Cadeia de Valores Genérica. Fonte: PORTER, 1989. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 7 entrantes potenciais ameaça de novos entrantes substitutos ameaça de produtos ou serviços substitutos compradores poder de negociação dos compradores fornecedores poder de negociação dos fornecedores concorrentes na indústria rivalidade entre as empresas existentes As três escolas de pensamento estratégico abordadas até aqui se referem àquelas de natureza prescritiva, ou seja, que dizem como a estratégia de- veria ser formulada. As próximas seis escolas dizem respeito a como a estratégia é de fato formulada, ou seja, tem natureza descritiva. 2.4. Escola EmprEEndEdora Esta abordagem “não só focalizou o processo de formação de estratégia exclusivamente no líder único, mas também enfatizou o mais inato dos estados e processos – intuição, julgamento, sabedoria, experiência, cri- tério” (MINTZBERG et al, 2000, p. 98). A escola empreendedora percebe a formação da estratégia como um processo visionário, pessoal, baseada na experiência e intuição do líder da organização ou do seu fundador. A formação da estratégia nesta escola, portanto, se dá pela visão do líder da organização e busca aproveitar as oportunidades do ambiente, sendo o crescimento uma preocupação importante neste processo. Visão, portanto, é a palavra–chave associada a esta escola. Ela representa a ideia na mente do líder da empresa sobre como deve ser a estratégia da organização. Mas a empresa que depende de um líder visionário para formular a sua estratégia pode ficar em maus lençóis se esse mesmo líder morrer, por exemplo. Afinal, a formulação seria um processo desconheci- do e que não poderia ser reproduzido a não ser na mente daquele líder, o que faria a organização totalmente dependente dele. 2.5. Escola cognitiva A abordagem da escola cognitiva envolve a formação da estratégia como um processo mental e baseia-se fortemente na psicologia cognitiva para Figura 2. Forças que Dirigem a Concorrência na Indústria. Fonte: PORTER, 1991. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 8 tentar desvendar o funcionamento da mente do estrategista. A estratégia surge na mente do estrategista como uma perspectiva, na forma de con- ceitos, esquemas e mapas. A abordagem da escola cognitiva busca sondar a mente do estrategista e a forma como a estratégia emerge em sua cabe- ça. Seria uma escola ainda em formação, mais valiosa pelo seu potencial do que pela sua contribuição de fato já feita. 2.6. Escola dE aprEndizado Aqui parte-se da premissa que os estrategistas aprendem ao longo do tempo, a passos curtos, conforme lidam com diferentes situações e se adaptam a elas. As iniciativas dos membros da organização podem, ao longo do tempo, convergir para determinados padrões de comportamen- to, que se configurariam em estratégias emergentes. A estratégia surgiria, assim, por aprendizado, individual ou coletivo, principalmente. Envolve tentar coisas que possam vir a funcionar, mesmo com o risco de errar e, com o tempo, reconhecer as coisas boas, transformando-as em estra- tégia. Ao invés de uma formulação única, clara, visionária, na escola do aprendizado a estratégia é formada aos poucos, por meio do aprendizado do que de fato funciona e dá certo para a organização. 2.7. Escola dE podEr Nas palavras de Mintzberg et al (2000, p. 174) “a escola de poder abre o jogo e caracteriza a formação de estratégia como um processo aberto de influência, enfatizando o uso do poder e política para negociar estratégias favoráveis a determinados interesses.” Envolve, portanto, confrontações, barganhas, alianças, coalizões, jogos políticos, grupos de interesses diver- sos. O poder, entendido aqui como o exercício da influência, determina a formação da estratégia, que tende a ser do tipo emergente. Atenção Uma ampla gama de perspectivas sobre a estratégia e seu processo de formação irá enriquecer o pensamento estraté- gico do administrador. 2.8. Escola cultural A formação da estratégia como um processo coletivo é a base da escola cultural. Enquanto a escola do poder focava o interesse próprio na forma- ção da estratégia, a escola cultural, ao contrário, focaliza o interesse co- mum da organização. A estratégia surge da interação social dos membros Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 9 da organização, assumindo a forma de uma perspectiva comum baseada nas crenças e valores compartilhados por todos os colaboradores. A for- mulação da estratégia está, portanto, enraizada na cultura da empresa e constitui-se num processo coletivo e cooperativo. 2.9. Escola ambiEntal A formação da estratégia na escola ambiental, segundo Lobato et al (2009, p. 43), “[...] é entendida como um processo reativo: uma resposta aos de- safios impostos pelo ambiente de negócios no qual a organização está in- serida”. A estratégia surge, portanto, como reação ou resposta às mudan- ças no ambiente da empresa. O ambiente passa a ser um ator central no processo de formação da estratégia, enquanto a liderança da organização é considerada um elemento essencialmente passivo. A iniciativa da for- mulação estaria no contexto externo da organização, que a pressionaria a reagir e a escolher uma estratégia dentre as opções possíveis oferecidas. A escola seguinte, a última do conjunto de Mintzberg e seus colabora- dores, é tida como híbrida, ou seja, tem tanto características prescritivas quanto descritivas, caracterizando-se mais como uma combinação das demais escolas já apresentadas. 2.10. Escola da configuração A integração das diferentes noções das nove escolas anteriores é a princi- pal característica da escola da configuração, que vê a formação da estra- tégia como um processo de transformação. Envolve o saltar de um estado para outro, de uma configuração de organização para outra. A organiza- ção passaria por períodos de estabilidade dentro de determinada confi- guração e então interrupções geradas por processos de transformação levariam a outro estado ou configuração. ConCeito É preciso combinar os diferentes aspectos das dez escolas de pensamento estratégico estudadas aqui. Uma única escola talvez seja insuficiente para se lidar com a administração es- tratégica e seus desafios! Ufa! Percebeu como o pensamento estratégico pode ser variado? Como foi dito no começo da seção, não há uma maneira única de se pensar e formular a estratégia da empresa. Para facilitar um pouco a sua compre- ensão, apresentamos na Tabela 1 a seguir um resumo das dez escolas de Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 10 pensamento estratégico segundo a maneira como cada uma formula a estratégiada organização. escOla de pensamentO fOrmulaçãO da estratégia cOmO um Escola do Design Processo de Concepção Escola do Planejamento Processo Formal Escola do Posicionamento Processo Analítico Escola Empreendedora Processo Visionário Escola Cognitiva Processo Mental Escola do Aprendizado Processo Emergente Escola do Poder Processo de Negociação Escola Cultural Processo Coletivo Escola Ambiental Processo Reativo Escola da Configuração Processo de Transformação As escolas de pensamento estratégico apresentadas podem ainda serem divididas naquelas de natureza prescritiva, nas de natureza descritiva e uma última tida com híbrida, como já foi mencionado. As de natureza prescritiva buscam explicar como as estratégias devem ser formuladas, e incluem as escolas do design, do planejamento e do posicionamento. Já as escolas de natureza descritiva procuram explicar como as estra- tégias são de fato formuladas. Incluem-se aqui as escolas empreendedo- ra, cognitiva, do aprendizado, do poder, cultural e ambiental. A escola da configuração é considerada um tipo de combinação das demais escolas. Tenha em mente que o processo de formulação da estratégia nas or- ganizações ainda tem muito que evoluir. Escolas como a cognitiva ainda estão em formação. Da mesma forma, novas escolas de pensamento es- tratégico deverão provavelmente surgir ao longo do tempo. Existem outras abordagens e visões relevantes sobre estratégia que valem a pena você conhecer. Afinal, quanto mais rica for sua noção de estratégia e sobre como formulá-la, melhor tende a ser a sua capacidade de criar estratégias eficazes para uma organização, não é mesmo? Vamos conhecer um pouco mais sobre algumas dessas outras abordagens rela- cionadas ao pensamento estratégico? 3. a estratégia e a CriaçãO de valOr Para Kluyver e Pearce II (2007, p. 5), o pensamento estratégico “[...] con- centra-se em seguir abordagens diferentes para entregar valor ao clien- te e em escolher conjuntos diferentes de atividades que não podem ser Tabela 1. As 10 Escolas de Pensamento Estratégico Segundo Mintzberg e Colaboradores. Fonte: Adaptado de MINTZBERG et al, 2000. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 11 facilmente imitados.” Eles citam como exemplo a empresa Dell, que pro- jetou cada detalhe de seu modelo de negócio voltado à venda direta e sob encomenda de computadores pessoais, incluindo aí o processo de manufatura, pedidos e vendas, estoques etc. Assim, a estratégia incluiria a noção básica de que ela deve criar valor por meio da satisfação das necessidades e dos desejos dos clientes, e de uma forma melhor que os concorrentes. Kluyver e Pearce II (2007, p. 13) entendem ainda que o processo de criação de uma estratégia possa ser desenvolvido respondendo-se a três questões fundamentais: → Onde estamos? → Para onde vamos? → Como chegaremos lá? Para a primeira pergunta a empresa deve avaliar a sua visão de longo pra- zo e o desempenho atual da organização. Também devem ser levadas em conta as tendências do ambiente externo, as oportunidades e ameaças existentes e os pontos fortes e fracos internos. A questão “para onde vamos?” serviria para gerar opções estratégicas, como ser o líder inovador em um setor com produtos diferenciados ou ser um concorrente de baixo custo. Também poderia servir à definição de em quais setores ou mercados a organização deveriam entrar ou continuar. A terceira questão possibilita identificar o que é necessário para se atin- gir os objetivos desejados. Ela auxilia no levantamento das inciativas ne- cessárias para a implementação da estratégia escolhida. Os autores lembram ainda que “O teste definitivo de qualquer estraté- gia é verificar se ela produz vantagem competitiva com retornos acima da média” (KLUYVER; PEARCE II, 2007, p. 15). Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 12 4. a estratégia imaginandO nOvOs merCadOs COmpetitivOs Dois proeminentes autores da área de estratégia ofereceram às empresas uma visão relevante sobre como competir e sobre o pensamento estraté- gico em geral. Ambos criticam a preocupação excessiva das empresas ten- tando se posicionar no espaço competitivo existente em vez de procurar criar um espaço competitivo essencialmente novo. Mais do que tentar ser o melhor nos mercados atuais, Hamel e Prahalad (1995, p. XIV) insistem em que as organizações deveriam ter um pensamento estratégico olhan- do para frente a fim de imaginar mercados e então atuar para criá-los, ou ao menos transformar os setores já existentes. Segundo eles, “A capaci- dade de inventar novos setores e reinventar os antigos é um pré-requisito para chegar primeiro ao futuro e uma pré-condição para permanecer na frente.” (HAMEL; PRAHALAD, 1995, p. 22). A Tabela 2 a seguir mostra em- presas que reinventaram os seus setores de atuação, regeneraram suas estratégias centrais ou fizeram ambos ao mesmo tempo. reinventaram O setOr regeneraram a estratégia CNN x Wall-Mart x ISS x Service Corp. Int’l x AT&T x Compaq x J. P. Morgan x Bankers Trust x Merck x x Bell Atlantic x x British Airways x x Hewlett-Packard x x De acordo com Hamel e Prahalad (1995, p. 26), “A competição pelo futuro é uma competição pela criação e domínio das oportunidades emergentes – pela posse do novo espaço competitivo”. Essa visão de estratégia pres- supõe, portanto, primeiro a imaginação do futuro, para em seguida partir para a sua criação. Consiste numa visão de competição mais proativa em vez de reativa. Eles chamaram esse processo de “arquitetura estratégica”. A vantagem competitiva alcançada por meio da estratégia das regras simples não tende a ser sustentável, devido às características de rápi- da mudança, turbulência e imprevisibilidade destes mercados. Setores Tabela 2. Empresas que reinventaram o setor, regeneraram a estratégia ou ambos. Fonte: HAMEL; PRAHALAD, 1995. Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 13 complicados exigiriam das empresas estratégias simples justamente como forma de tentar reduzir a complexidade na atuação (EISENHARDT; SULL, 2001, p. 116). Veja na Tabela 3 uma comparação das três abordagens à es- tratégia mostradas neste tópico, segundo Eisenhardt e Sull (2001, p. 109). posição recursos regras simples lógica estratégica Estabelecer posição Alavancar recursos Perseguir oportunidades passos estratégicos Identificar um mercado atrativo, encontrar uma posição, fortalecer- se e defender-se Estabelecer uma visão, construir recursos e alavancá-los em vários mercados Inserir-se na confusão, continuar se movendo, aproveitar as oportunidades e terminar fortalecido questão estratégica Onde deveríamos estar? O que deveríamos ser? Como deveríamos proceder? fonte de vantagem Posições únicas e valiosas por meio de um sistema de atividades integrado e encaixado Recursos únicos, valiosos e inimitáveis Processos chave e regras simples únicas funciona melhor em Mercados de lenta mudança e bem estruturados Mercados de mudança moderada e bem estruturados Mercados complicados e de rápida mudança duração da vantagem Sustentável Sustentável Imprevisível risco Será muito difícil alterar posições com a mudança de condições A empresa será muito lenta para construir novos recursos com a mudança de condições Gerentes serão muito hesitantes na execução de oportunidades promissoras objetivo de desempenho Lucratividade Domínio de longo prazo Crescimento Enquanto as duas primeiras abordagens à estratégia podem ser com- preendidas como complementares, com mudança apenas de ênfase na dimensão abarcada, a estratégia das regras simples se mostra mais ade- quada à circunstância específica de mercados em rápido movimento, ins- táveise imprevisíveis, como os de alta tecnologia em geral. Esperamos que nesta unidade de aprendizagem você tenha compre- endido um pouco sobre o pensamento estratégico, suas diferentes abor- dagens e evolução. Se for preciso, releia a seção fundamentos refletindo sobre o assunto e fazendo as suas anotações. Assim, você poderá estar mais bem preparado para ser um grande estrategista nas empresas. Tabela 3. Comparação dos três modelos básicos de abordagem à estratégia. Fonte: Adaptado de EISENHARDT; SULL, 2001. antena pArAbóliCA Diante da globalização, ou seja, de um processo cada vez maior de integração social, cultural, econômica, política, tec- nológica etc., o pensamento estratégico torna-se mais abran- gente. Agora o concorrente é global, assim como os fornece- dores e os clientes da organização. Isso traz desafios extras e maior complexidade ao processo estratégico nas organi- zações. A concorrência aumenta na mesma proporção em que os mercados se expandem. Oportunidades e ameaças jorram em um ambiente de atuação global amplo e diverso. Você está preparado para identificar, analisar e reagir eficaz- mente aos desafios estratégicos num mundo globalizado? Lembre-se As dez escolas de pensamento estratégico de Mintzberg e seus colaboradores referem-se principalmente ao processo de formulação da estratégia. Mas fornecem uma perspecti- va sobre o processo de estratégia como um todo, ou seja, sobre diversos aspectos da ad- ministração estratégica de empresas. e AgorA, José? Vamos ver um resumo dos principais pontos cobertos por esta UA? 1. O pensamento estratégico é bastante variado e foi in- fluenciado por diversos pesquisadores e estudiosos. Não existe uma maneira única ou definitiva de se pen- sar nas questões estratégicas da empresa; 2. O pesquisador Henry Mintzberg e seus colaboradores descreveram e analisaram dez escolas de pensamen- to estratégico; 3. As dez escolas são divididas em prescritivas, descriti- vas e híbridas; 4. As escolas prescritivas são aquelas que explicam como a estratégia deve ser formulada: escola do design, do planejamento e do posicionamento; 5. As escolas descritivas procuram explicar como a estra- tégia é de fato formulada: escola empreendedora, cog- nitiva, de aprendizado, de poder, cultural e ambiental; 6. A escola da configuração é a única escola híbrida do grupo e contém traços tanto das escolas prescritivas quanto das descritivas; 7. É preciso combinar os diversos aspectos das diferentes escolas para a formulação da estratégia em uma em- presa. Uma única abordagem seria provavelmente in- suficiente diante da complexidade do assunto; 8. Outra forma de pensamento estratégico coloca a cria- ção de valor ao cliente como ponto central no proces- so de formulação de uma estratégia; 9. Segundo os pesquisadores Hamel e Prahalad (1995), a empresa deveria pensar em estratégia buscando um novo espaço competitivo, imaginando novos merca- dos e trabalhando para criá-los, em vez de tentar se posicionar em mercados já existentes. E então? Você já se sente melhor preparado para enfrentar o processo de formulação de estratégias em uma empresa? Você viu que o assunto tem diferentes pontos de vista e é bem variado, não é mesmo? Planejamento e Gestão Estratégica / UA 05 O Pensamento Estratégico 16 glossário Cultura organizacional: conjunto complexo de crenças, valores, códigos e padrões da organização. Poder: exercício da influência. Cognitivo: relativo ao conhecimento ou aos processos mentais relativos à aquisição do conhecimento. Reativo: que reage a uma determinada situação já estabelecida, em contraposição à iniciativa de uma ação antecipada. reFerênCiAs BARNEY, JAY. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Ma- nagement, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991. 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