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B i a n c a L o u v a i n I m u n o l o g i a C l í n i c a | 1 ................. imunologia do transplante ................. O início da compreensão do transplante ocorreu na primeira metade do século XX através do sistema ABO/MHC, importante para entender o mecanismo de rejeição, já que antes apenas ocorreria transplantes entre indivíduos geneticamente iguais (gêmeos). O sucesso na aceitação dos transplantes foi conseguido, de fato, na década de 60/70 com a descoberta da ciclosporina, que é um fármaco imunossupressor, controlando esta resposta imunológica que é a chave para o transplante bem-sucedido. O transplante é o processo da retirada das células, tecidos ou órgãos, chamado de enxerto, de um indivíduo e colocando-os em um indivíduo (geralmente) diferente. O indivíduo que fornece o enxerto é chamado de doador, e o indivíduo que recebe o enxerto é chamado de receptor/hospedeiro. ............. TIPOS DE TRANSPLANTES ............. Sendo assim, o transplante é um tratamento utilizado para a substituição de órgãos e tecidos que não funcionam por órgãos ou tecidos saudáveis, mas que tipos de transplantes existem? Autoenxerto – transplante de uma parte do corpo para outra. Em geral feito com pele, como na cirurgia plástica reparadora da queimadura que cicatrizou de forma errada e resultou em prejuízo; Isoenxerto - entre indivíduos geneticamente idênticos, como entre gêmeos univitelinos; Alloenxerto - entre indivíduos de uma mesma espécie, normalmente de uma mesma família onde há maior chance de sucesso. Exemplo disso é quando há procura de um doador de medula óssea e a busca se inicia na família. É o tipo de transplante mais comum; Xenoenxerto - entre indivíduos de espécies diferentes. É comum o transplante do órgão de porco. Alguns exemplos de transplantes na prática clínica ocorrem: Rim – insuficiência renal crônica; Coração – insuficiência cardíaca congênita ou terminal; Pulmão – hipertensão pulmonar, fibrose cística; Córnea – distrofia, queratinite; Fígado – cirrose, câncer de fígado e atresia biliares; Pâncreas ou ilhotas – diabetes; Medula óssea – imunodeficiência, leucemia, doenças autoimunes; Intestino delgado – câncer; Pele – queimaduras. O transplante do pulmão e coração quando realizado junto é melhor. ............. DOADORES DE ÓRGÃO ............. O órgão pode ser transplantado de um indivíduo vivo relativamente saudável ou em um indivíduo sem atividade cerebral (confirmado por três neurologistas), da mesma forma como em um indivíduo que veio a óbito. A situação mais comum é o allotransplante com morte cerebral. Não há diferença importante entre o transplante de órgão de um indivíduo vivo e um indivíduo que veio a óbito. A única diferença é que um órgão de uma pessoa que veio a óbito sofreu algum tipo de hipóxia, o que faz com que ele sofra nos primeiros dias. B i a n c a L o u v a i n I m u n o l o g i a C l í n i c a | 2 ............. REJEIÇÃO DO TRANSPLANTE ............. O sucesso de qualquer transplante está na capacidade de controlar a resposta imune, permitindo a adaptação do transplante e evitando a sua rejeição. Há dois tipos de rejeição a transplantes: Rejeição do enxerto pelo receptor (HVGD) – o receptor atua contra o enxerto do órgão transplantado através do ataque das células T; Rejeição do receptor pelo enxerto (GVHD) – o enxerto é quem induz a resposta imunológica através das células do enxerto contra as células do hospedeiro. Pode ser usado para o tratamento do câncer, leucemia e linfoma. Sendo assim, o sistema imune do receptor consegue reconhecer a célula do doador como “estranha” e induzir uma resposta imune contra ela, já que não são geneticamente idênticas. A resposta imune irá variar com o grau de diferença, onde quanto mais diferente, maior a resposta imune. O MHC é quem irá induzir a rejeição ou não e é sintetizado a partir de genes polimorfos, ou seja, há uma grande variabilidade entre as moléculas do MHC da população que resulta em quanto maior a semelhança de MHC do doador e receptor, menor a chance de rejeição e maior vai ser a vida útil daquele enxerto. Figura 1: o MHCa, do primeiro caso, irá doar um enxerto de pele para um outro rato da mesma linhagem "a", nesse caso, então, não haverá rejeição. No segundo caso, um rato de MHCb ao doar um enxerto para um rato de linhagem MHCa, terá o enxerto inteiramente rejeitado. No terceiro caso, em um rato da linhagem MHCb que doa um enxerto para um rato de linhagem ab, ou seja, que tem tanto MHCa como MHCb, embora seja geneticamente diferente do doador, ele não rejeita o MHC do doador. Em um quarto caso, com um rato da linhagem MHCab doando um enxerto para o receptor de linhagem "a", o enxerto do tipo “a” do doador não será rejeitado, mas rejeitará o enxerto do tipo B. Tendo uma rejeição, contudo menos intensa e mais demorada que a rejeição total do segundo caso. RELEMBRANDO O COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE (MHC): os antígenos que estimulam a resposta imunológica adaptativa contra alloenxertos são proteínas de histocompatibilidade (MHC). O MHC apresenta peptídeos dos antígenos de forma a ser reconhecido pelas células T, ou seja, os antígenos que causam rejeição é uma consequência do reconhecimento de antígenos da célula T. O MHC humano é chamado de antígenos de leucócitos humanos (HLA). Os genes MHC podem ser divididos em duas classes: MHC de classe I – encontram-se em praticamente todas as superfícies celulares. Esta classe de MHC reconhece antigenos proteicos externos, incluindo tecidos transplantados e são reconhecidos por linfócitos T. Geralmente, as moléculas de classe I são reconhecidas por linfócitos T citotóxicos/CD8+; MHC de classe II – apenas se encontram em células que apresentam antigenos (APC) como os linfócitos B, macrófagos e células dendríticas. São os que desempenham o papel predominante na resposta imunitária inicial a antigenos de tecidos transplantados, ativando os linfócitos TH (helper ou CD4+) que, por sua vez, sofrem uma expansão clonal através da produção de citocinas reguladoras. ............. RESPOSTA IMUNE À ALLOANTÍGENOS ............. O processo de reconhecimento de antigenos transplantados é conhecido como allorreconhecimento e poderá ocorrer por duas vias: Via direta – as moléculas de MHC são exibidas pelas células do enxerto e são reconhecidas pelas células T receptoras sem a necessidade de processamento pelas APCs do hospedeiro (envolve os receptores dos linfócitos T do hospedeiro que reconhecem antígenos inteiros nas células do órgão transplantado); Via indireta – as moléculas de MHC (allogênicas) do doador são capturadas e processadas pelas APCs do receptor, e os peptídeos B i a n c a L o u v a i n I m u n o l o g i a C l í n i c a | 3 derivados das moléculas de MHC allogênicas são apresentados em associação a moléculas de MHC. Ou seja, requer uma célula apresentadora de antigeno (APC) que o processa e o apresenta às células CD4+. Em uma rejeição de transplante há reação de hipersensibilidade do tipo II, III e IV juntas. ............. ANTÍGENOS DE REJEIÇÃO À TRANSPLANTES ............. Antígenos reconhecidos pelos anticorpos pré-existentes no receptor: sistema ABO, Rh, MHC e auto-antígenos. Para evitar essa rejeição antes do procedimento é realizado: Reconhecimento dos anticorpos pré-existentes no receptor – se existe anticorpo contra aquele órgão. Ex: sistema ABO e MHC, principalmente nos politransfundidos e multíparas por serem imunizados contra vários alelos; Tipagem sanguínea – sistema ABO + Rh; Teste do Cross-Match – identifica os anticorpos pré-formados no receptor contra