Buscar

ANÁLISE CRÍTICA PG 119 A 149 PSICOSSOMATICA HOJE - VERSÃO FINAL

Prévia do material em texto

ANÁLISE CRÍTICA DE TRECHO DO LIVRO “PSICOSSOMÁTICA HOJE”
PÁGINAS 119-149
Mello Filho, J. de, & Burd, M. (2010). Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artmed.
No trecho analisado o autor inicia a discussão com o tópico acerca da cultura empresarial. Conforme o trecho analisado toda a análise acerca da construção da cultura empresarial é construída de uma análise de macro para micro. O autor aponta que a cultura seria um produto de ideias, atitudes e condutas compartilhadas entre as pessoas em sociedade e também pelas transformações que essas percepções e demais características possam causar. É caracterizado pela potencialização de adaptação do ser humano quanto a sua cultura estabelecida pela sua identidade em sociedade. 
Com o conceito de cultura internalizado se tem que existem influências de cunho cultural que são representadas pelas manifestações psicossomáticas. Aqui se percebe a ligação e importância entre a cultura e também como ela pode originar as manifestações psicossomáticas dos indivíduos. O autor destaca com exemplificação a atuação cultural no sistema do indivíduo como o surgimento de sintomas ocasionados pela ingestão de alimentos combinados que, segundo a cultura, não deveriam ser comidos de forma conjunta. 
Outro exemplo extremamente pertinente é a sensação de home em horários específicos conforme cada cultura e como essa fome é saciada, pois indo mais a fundo, a cultura no Brasil é de extrema valorização do horário de almoço no meio do expediente de trabalho, enquanto que nos Estados Unidos, por exemplo, horários de almoço por vezes são até pulados, pois essas pausas para refeição atrapalhariam na produtividade laboral. Isso mostra claramente a influência da cultura no aspecto psicossomático. 
Esses processos e revelações das atitudes das pessoas em sociedade são os chamados processos psicossociais. São as percepções e ações das pessoas conforme o elemento cultural que apresentam vínculo, reprodução e até mesmo recriação de diversos aspectos da realidade. 
Como se tem a ligação entre o aspecto psicossomático e a cultura, também é válido apresentar que a cultura possui ligação de suma importância com o meio ambiente. Aqui meio ambiente é a vida cotidiana da sociedade, ou seja, pode ser considerado como o meio ambiente cultural ou social e não quanto ao meio ambiente relacionado ao ecossistema. É apontado no trecho analisado estudos realizados por Wittkower sobre estresse cultural, apontando acerca da relação entre as respostas psicossomáticas e também a cultura. 
Um dos campos que são expressados também com uma cultura por vez própria, é o ambiente de trabalho. Toda empresa é um conjunto sociocultural, com alta complexidade e organizado para que exista a realização de serviços, fabricação de algo ou transformação de algo. Toda empresa possui uma finalidade comercial e para que isso ocorra, porquanto, sua missão corporativa seja cumprida, é necessário que esta tenha a construção de uma rede com associação a diversos atores para a sua continuidade no mercado empresarial. 
Um dos componentes para a existência da empresa são os colaboradores que atuam em suas funções determinadas para que assim a empresa possa existir de fato. Contudo, em teoria existe uma certa valorização do indivíduo na cultura empresarial, entretanto, na realidade a teoria não passa apenas de utopia. A prática revela que a cultura empresarial apresenta o colaborador como uma figura segmentada: o indivíduo em sua forma singular e o indivíduo colaborador da empresa. O indivíduo que é o colaborador da empresa apresenta um esquecimento de suas características particulares, sendo somente notório suas habilidades e capacidade para realização de suas tarefas.
Esse indivíduo segmentado é denominado pelos autores como o “homem organizacional”. A sua atuação na empresa é vista como um dos componentes. Muitas empresas, inclusive, veem sua atuação apenas como mais um maquinário. Boa parte do tempo diário do homem organizacional é passada nas intermediações da empresa realizando suas tarefas para atingir o objetivo de cumprir aquilo que foi contratado para fazer, e por muitas vezes, ir além do que suas funções seriam se fosse de acordo com o contrato celebrado entre o homem organizacional e a empresa. 
Na cultura empresarial o trabalho é um fator básico na empresa. Diversas podem ser as funções ou então finalidades de uma empresa, para alcançar os mais diversos objetivos dentro de seu propósito empresarial. O trabalho dos colaboradores é o seu esforço para o cumprimento da finalidade da empresa. É o investimento de energia para as atividades empresariais, sendo assim caracterizadas como a sua força de trabalho. 
Contudo, o trabalho não é somente visto pelo aspecto organizacional. Envolve também as demandas individuais dos colaboradores em conjunto com as demandas da organização. Quando não existe o atendimento de uma das demandas a sinergia necessária é prejudicada e o vínculo existente entre o colaborador e a empresa é modificado e assim criam-se diversas consequências, como o desligamento, perda de promoções e até mesmo isolamento na carreira profissional. Essa ausência da sinergia é responsável pelo surgimento de conflitos, que são decorrentes da incompatibilidade das necessidades pessoais e organizacionais existentes de forma simultânea e de forma conflituosa. 
Esses conflitos também dão origem as chamadas doenças de trabalho e também, especialmente para a análise, as doenças psicossomáticas. Essas doenças são mecanismos de defesa, manifestos pela transformação feita pelo indivíduo de um problema de origem psicológica para um problema fisiológico. Os autores destacam o entendimento de Levi (1971) que apontou que muitas pesquisas realizadas mostraram a relação entre o conflito e metas da empresa e das necessidades individuais de autonomia e identidade formavam um grande conflito que originava um grande agente estressor. 
Os autores apontam um estudo realizado pela American Management Association com executivos de diversas empresas que buscavam as suas necessidades pessoais em face da empresa a que prestavam serviços. Diversas foram as respostas como: recompensa material, progresso de carreira, reconhecimento e status na comunidade organizacional e diversos outros fatores. 
Essas necessidades se não atendidas geram os estressores psicossociais, pois a organização anula a subjetividade do indivíduo, o que gera assim um conflito na relação estabelecido entre ambos. Esses conflitos tendem a ser ajustados pelos indivíduos, que podem manifestar dois tipos de ajustes: ativo e passivo. O ajuste ativo seria voltado para a manifestação do desejo na mudança de estrutura ou também o afastamento ou pedido de mudança do serviço sendo feito pelo indivíduo de forma voluntária. O ajuste passivo já é manifesto de forma mais comum, mais envolvido quanto a condução de alienação, em termos sociológicos. 
Esses estressores psicossociais influenciam de forma direta a saúde dos indivíduos. Contudo, destaca-se que a saúde não é algo espontâneo da natureza, mas sim uma construção do ser humano, assim como as doenças também são. Como esses fatores são de construção do homem existe então assim uma articulação necessária entre poder, corpo e também a busca pela sobrevivência, ao qual possuem relação as patologias do trabalho. Com a origem dessas patologias existem as respostas psicossomáticas, porquanto, vistos como recursos ou mecanismos de resistência desenhados para a sobrevivência do indivíduo. 
Em um trecho delineado, escrito por Rodrigues e Campos (2010) acerca da Síndrome de Burnout consideram, em apoio com diversas pesquisas produzidas desde a década de 1970 o conceito, as características e principais fatores que dão início a Síndrome. O Burnout é apresentado como um constructo utilizado para o esclarecimento da redução do desempenho, de forma qualitativa e também quantitativa, do indivíduo na sua atuação em seu trabalho. 
As pessoas que passam pela Síndrome experienciam distress biopsicossocial, que afeta de forma diretaa sua resposta para situações de exposição a agentes estressores e situações de frustação, assim como envolve também a capacidade de mobilização de ferramentas de enfrentamento dessas condições para ataque as situações que envolvem os agentes estressores. 
Essa síndrome apresenta vasta complexidade. Sua investigação, para um melhor entendimento pode ser realizada tanto de forma individual, mas também a nível coletivo com analise da organização. Muitos estudos mostraram, em início ao reconhecimento da Síndrome de Burnout que poderia ser nada mais que a variação da síndrome depressiva. Contudo, foram apontados no estudo analisado cinco diferenças entre as síndromes: “1. aparentam mais vitalidade e são mais capazes de obter prazer nas atividades; 2. raramente apresentam perda de peso, retardo psicomotor e ideação suicida; 3. os sentimentos de culpa, se os têm, são mais realistas; 4. atribuem à sua indecisão e inatividade a fadiga; 5. a insônia é com mais frequência inicial, e não terminal” (Mello Filho & Burd, 2010).
A Síndrome, conforme um dos estudos destacados que se destacaram de forma contundente ao conteúdo produzido no trecho analisado, seria uma mecanismo de defesa visto como uma resposta à exposição a situações de estresse crônico causado pelas relações internas com outras pessoas no ambiente de trabalho ou também quanto as expectativas produzidas pelos indivíduos no âmbito organizacional e a frustração pelo não alcance das suas expectativas. A experiência da síndrome se daria pelos indivíduos sentirem que contribuem de forma massiva a organização, mas em contrapartida não recebem um contraposto com relação ao que oferecem. Isso gera uma extrema insatisfação e frustração que ocasionam como fatores de gatilho para a síndrome. Três são os fatores que são características da Síndrome de Burnout: 1. exaustão emocional; 2. Despersonalização e 3. redução da realização pessoal e profissional.
A exaustão emocional está relacionada a vasta carga emocional derivada do contato frequente com as pessoas ou situações problemáticas ao que podem desencadear no indivíduo uma exaustão emocional. Nota-se pelo esgotamento, pouca energia disponível para os dias de trabalho e sensação de nunca conseguir recuperar essa energia, mesmo com o melhor descanso possível. Essa ausência de energia também pode desencadear intolerância, irritabilidade, nervoso e também irritabilidade com o ambiente de trabalho e expandido para o ambiente familiar e também com amigos. 
A despersonalização é representada pelo distanciamento emocional denotado pela frieza e indiferença que o indivíduo pode apresentar em relação ao reconhecimento da necessidade do outro e também até a irritabilidade. Quanto ao terceiro aspecto, a redução da realização pessoal e profissional, pode se manifestar nas áreas de mais propícia para a realização das suas expectativas quanto a sua carreira. Esses fatores acima destacados também são associados com as fontes da síndrome, sendo: o envolvimento com as pessoas e o contexto social e do trabalho.
A síndrome ainda pode apresentar graus de ocorrência. Nota-se que um alto nível de burnout está associado a um baixo nível de satisfação com a organização, enquanto que um alto nível de exaustão emocional está relacionado a baixas avaliações nas facetas pessoais e no trabalho. 
Nota-se, portanto, que a cultura empresarial, conforme os casos relatados pelos autores, identifica o indivíduo não como uma engrenagem importante na empresa, mas apenas um ativo substituível e altamente descartável. Isso gera o conflito na sinergia necessária e também há muito esquecida que é o reconhecimento do colaborador como um ativo carente de investimento, porquanto, o reconhecimento do colaborador como o capital humano, tão importante quanto o aspecto financeiro e também o maquinário da empresa. Fatores psicossomáticos na atualidade, frequentemente expressos pela síndrome são comuns, pela interposição de uma realidade organizacional cada vez mais voltada para a busca da satisfação das necessidades organizacionais e esquecendo as necessidades pessoais no processo.

Outros materiais