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44 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 Como citar: Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55. DOI: https://doi.org/10.14436/ 1676-6849.17.5.044-055.epa Enviado em: 11/09/2018 - Revisado e aceito: 01/10/2018. 1 Graduado em Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil). 2 Especialista em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil). 3 Mestre em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil). Endereço para correspondência: Túlio Andrade - E-mail: tulio.andrade@gmail.com Eu penso assim Túlio Andrade1,2,3 MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 45 INTRODUÇÃO Nas duas últimas décadas, o uso de mini-im- plantes na Ortodontia se tornou uma das mais im- portantes ferramentas de ancoragem e mudou nos- so dia a dia clínico de forma a ampliar os limites do que é possível realizar com segurança e previsi- bilidade nos tratamentos de nossos pacientes. Den- tro do contexto de estudos acerca dos mini-implan- tes, em 2009 fui apresentado à técnica MARPE pelo Dr. Kee-Joon Lee, na Yonsei University, em Seul, e fiquei muito empolgado com a ideia de aumentar as possibilidades do tratamento ortopé- dico transversal da maxila, já largamente utilizado por nós para pacientes adultos jovens. Desde en- tão, o desenvolvimento da técnica avançou muito. A experiência clínica, a contribuição de diversos autores e, também, o desenvolvimento tecnológico da indústria foram fundamentais para que pudésse- mos desenvolver um protocolo de conduta clínica bastante seguro e possível de ser reproduzido, por qualquer ortodontista, com alto índice de sucesso e maior impacto esquelético. Uma consideração importante é que a preva- lência verificada para a deficiência transversa re- lacionada à mordida cruzada posterior é de 10% da população geral e 30% dos pacientes que buscam tratamento ortodôntico1,2. Apesar da alta prevalência entre os pacientes adultos e de saber- mos que uma correta relação entre maxila e man- díbula é pré-requisito para se obter uma oclusão bem ajustada ao fim do tratamento, a deficiência transversal da maxila parece não ser diagnosti- cada ou tratada da melhor forma na Ortodontia atual — possivelmente, devido à ausência de men- surações precisas e à limitação nos resultados de tratamentos não cirúrgicos3. A oclusão transversa inadequada tem sido relacionada: com o aumento do risco de expo- sição e desgastes cervicais4,5, como fator causal de recessões gengivais6, e com uma importante redução na capacidade mastigatória7, indican- do fortemente a necessidade de correção dos problemas transversais. DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO TRANSVERSAL O aspecto transverso da oclusão não está tão bem descrito e especificado como o aspecto sagi- tal, possivelmente devido à dificuldade em definir pontos anatômicos adequados para as mensura- ções transversais. A manifestação clínica dos pro- blemas transversos se dá pela discrepância nega- tiva da largura das bases ósseas da maxila e da mandíbula, com destaque especial para a largura reduzida da maxila, já que seu desenvolvimento está relacionado, além de fatores genéticos, à qua- lidade respiratória ao longo do desenvolvimento da face; que, por sua vez, está associado a fato- res ambientais. Outro ponto importante a conside- rar, tanto no diagnóstico quanto no planejamento transversal da abordagem ortodôntica, é a inclina- ção lingual, maior ou menor, dos dentes posterio- res. A combinação desses aspectos se apresenta clinicamente de diferentes formas (Fig. 1)8. Figura 1: Manifestações clínicas de problemas transversos: A) oclusão ideal vestibular; B) overjet vestibular insuficiente; C) compensação transversal; D) oclusão aberta lingual. Fonte: Lee et al.8, 2018. A C B D Andrade T © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 46 Para a análise quantitativa, alguns autores propu- seram mensurações no cefalograma posteroanterior usando como referência o osso basal, a exemplo de Ricketts9. Porém, essas medidas não correspondem à largura dos processos alveolares e, portanto, são imprecisas. Outra proposta é avaliar os modelos de estudo de acordo com a análise apresentada por Andrews, considerando como referência: a largura de borda WALA bilateralmente (em que a largura da maxila deve ser 5mm maior do que a da mandí- bula); a angulação lingual dos molares inferiores em relação ao plano de referência (deve ser próxima de 0° e, para cada 5° a verticalizar, é necessário 1mm de expansão superior); a relação de igualdade das distâncias entre as pontas de cúspides palatinas dos primeiros molares superiores e os fundos de fossa dos primeiros molares inferiores10. Na minha opinião, a análise de modelos é uma ferramenta muito inte- ressante e pode ser uma boa alternativa caso uma tomografia não esteja disponível. Como atualmente os custos para obtenção de uma tomografia da face diminuíram bastante e a sua disponibilidade está cada vez maior, penso que seja razoável utilizar um protocolo mais simples para a quantificação dos pro- blemas transversais. Entre os diversos protocolos já propostos, o que me parece mais simples, reprodutível e que contempla, ao mesmo tempo, os aspectos esquelé- ticos e dentários é a utilização do YTI (Yonsei Trans- verse Index, ou Índice Transversal de Yonsei), que usa como pontos de referência, para estabelecer as medidas de largura, os centros de resistência dos primeiros molares superiores e inferiores (loca- lizados na furca desses dentes), medidos na tomo- grafia. Uma vez aferidas as distâncias, o índice su- gere que a medida da maxila seja 0,39 ± 1,87 mm menor do que a medida da mandíbula. Utilizando o YTI, podemos indicar adequadamente a abor- dagem de expansão maxilar e, também, definir de forma mais previsível sua magnitude (Fig. 2)11. PREVISIBILIDADE Temos como premissa que o aumento da idade aumenta a complexidade das interdigitações nas su- turas da face até sua completa fusão e, assim, muito se discute no sentido de estabelecer um critério de Figura 2: Diferença transversa entre maxila e mandíbula (YTI). Fonte: Koo et al.11, 2017. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 47 prognóstico para a expansão maxilar não cirúrgica relacionado ao estágio de maturação das suturas, já que ela só seria possível no caso de a sutura pa- latina mediana não estar completamente fusionada. Porém, estudos recentes, realizados com o auxílio de tomografia computadorizada, demonstraram que a idade cronológica não é o único fator relacionado à maturação e ossificação da sutura palatina media- na, levantando a hipótese de também haver relação com aspectos funcionais, por exemplo12,13. Adicionalmente, em avaliação retrospectiva re- alizada na UCLA, o Dr. Won Moon e sua equipe (responsável por incorporar conceitos fundamentais à expansão maxilar ancorada em mini-implantes com maior impacto esquelético em pacientes mais maduros) analisaram o índice de sucesso da expan- são em adultos com auxílio de mini-implantes, rela- cionando-o à classificação da maturação da sutura palatina mediana, avaliada por tomografia compu- tadorizada, proposta por Angelieri et al.12 (Fig. 3). Constatou-se que, ao contráriodo esperado, nos indivíduos classificados no estágio E (sutura total- mente fusionada), o índice de sucesso foi maior do que nos indivíduos classificados no estágio D (sutura parcialmente fusionada). Pude observar, nos casos conduzidos por mim de 2010 até hoje e, também, em diversos outros conduzidos por colegas, que houve sucessos na disjunção também para indiví- duos que apresentavam sutura palatina classificada tanto em D quanto em E. Portanto, ainda não temos um recurso adequa- do que possa indicar um limite para a realização da técnica MARPE. Diversos centros de estudo têm buscado entender os fatores determinantes para o sucesso da técnica em adultos, tanto para aumen- tar seu percentual de sucesso, definido em 86,96% em pacientes adultos jovens, quanto para identifi- car fatores de contraindicação para a técnica14. CASO CLÍNICO 1 Um caso clínico realizado há alguns anos serve para demonstrar como a técnica MARPE pode ser bem-sucedida no rompimento da sutu- ra palatina mediana, gerando grande impacto esquelético no terço médio da face mesmo em pacientes adultos mais maduros. Figura 3: Desenho esquemático dos estágios de maturação observados na sutura palatina mediana. Uma simplificação da morfologia da sutura. Fonte: Angelieri et al.12, 2013. Andrade T © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 48 A paciente, do sexo feminino, com 56 anos de idade, apresentava equilíbrio facial nos aspectos vertical e sagital. Buscou tratamento devido à insa- tisfação estética com o sorriso, pois considerava-o muito estreito (Fig. 4). Na avaliação intrabucal, observou-se uma relação anteroposterior de Classe I, adequadas sobremordida e sobressaliência, mordida cruzada posterior bilateral e uma morfologia atrésica da ar- cada superior. Uma avaliação clínica simples que utilizo como recurso auxiliar de diagnóstico trans- versal é relacionar, na fotografia intrabucal frontal, as larguras da maxila e da mandíbula, medidas na altura da linha mucogengival e na região de primeiros molares (Fig. 5). Em casos com uma ade- quada relação transversal entre maxila e mandíbu- la, as larguras de ambas devem, idealmente, ser coincidentes. No presente caso, observou-se uma discrepância, com acentuada atresia maxilar. Levando em conta a necessidade de uma abordagem que garantisse um aumento da di- mensão transversal do ponto de vista esquelético, a expansão maxilar cirurgicamente assistida foi considerada. No entanto, o custo elevado e a Figura 4: Fotografias faciais pré-tratamento, mostrando a presença de corredores bucais. Figura 5: Fotografias intrabucais pré- tratamento: A, C) mordida cruzada bilateral; B) destaque para a discrepância transversal entre maxila e mandíbula; D, E) morfologia de ambas as arcadas, demonstrando a atresia da superior. A A D B B E C MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 49 Figura 7: Dispositivo cimentado e mini-implantes instalados. Figura 6: Esquema demonstrando a rigidez necessária entre os componentes de ancoragem esquelética, de forma a impedir a inclinação dos mini-implantes durante a ativação da expansão. Destaque especial para os tubos de 2mm de comprimento intimamente relacionados com os mini- implantes, gerando um contra-momento e, consequentemente, permitindo seu deslocamento de corpo. A ancoragem bicortical (corticais palatina e do soalho da cavidade nasal) também atua como contra- momento, no mesmo sentido de impedir a inclinação dos mini-implantes e, como consequência, permitir o movimento de corpo da maxila. morbidade do procedimento cirúrgico deixaram a paciente reticente quanto ao tratamento. Na oca- sião, já havíamos assimilado este conceito que considero fundamental para obter sucesso, mes- mo nos casos em que a ossificação e interdigita- ção da sutura seja maior: a importância de que os mini-implantes, ao atravessarem o torno expan- sor, estejam intimamente relacionados a um tubo de pelo menos 2mm de altura. O engajamento entre tubo e mini-implante tem o objetivo de evitar a inclinação desse último e garantir a transferên- cia da força gerada pelo torno expansor para o osso e para as suturas, preservando os dentes e suas tábuas ósseas vestibulares (Fig. 6). Para ga- rantir esse conceito, foram realizadas quatro per- furações em um torno expansor do tipo Hyrax (Morelli, Sorocaba/SP) com o diâmetro exato dos mini-implantes para MARPE: 11mm de com- primento, sendo 4mm de superfície lisa e 7mm de superfície com rosca (PecLab, Belo Horizon- te/MG). Os locais selecionados para a inserção dos mini-implantes foram na mesial e na distal dos primeiros molares, com um afastamento lateral de cerca de 3mm em relação à rafe palatina (Fig. 7). Andrade T © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 50 As ativações realizadas foram de ¼ de volta no torno expansor, iniciando no mesmo dia da instala- ção e continuando uma vez por dia até a abertura total de 11mm, o que pode ser chamado de uma expansão semirrápida. Esse é o protocolo de ativa- ção que utilizo, pois, nos casos de MARPE, como temos a ancoragem óssea, não existe necessida- de — para prevenir efeitos dentários — de uma ativa- ção tão rápida como se convencionou nas expan- sões ancoradas apenas em dentes. Considero uma abordagem de segurança o aumento gradual do stress aplicado aos mini-implantes, para evitar per- dê-los ao longo da expansão, por excesso de car- ga. Nessa paciente, os braquetes foram instalados imediatamente após o fim da expansão, para dar início à mecânica ortodôntica planejada (Fig. 8). Uma expansão maxilar de excelente qualida- de pode ser observada nas imagens geradas por tomografia computadorizada, com abertura de aproximadamente 7,5mm tanto na espinha nasal anterior quanto na posterior. O aumento transver- so da maxila foi de grande magnitude, pois essa era a necessidade que a condição clínica inicial impunha. Nota-se que o impacto na dimensão da cavidade nasal foi bastante grande, assim como em todas as estruturas da face média (Fig. 9). Figura 9: Tomografia de feixe cônico pós-expansão: A) corte axial com medidas demonstrando abertura de cerca de 7,5mm na região da sutura palatina mediana; B, C, D) renderizações nas vistas superior, frontal e posterior, mostrando abertura paralela e de grande magnitude da sutura palatina e estruturas adjacentes. Figura 8: Imagem intrabucal frontal imediatamente após a expansão e posicionamento dos braquetes. A C B D MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 51 Ao fim dos 29 meses de tratamento, podemos observar um melhor relacionamento entre a maxi- la e a mandíbula, uma adequada relação oclusal transversal, vertical e sagital, e o posicionamento dos dentes adequado para a reabilitação pro- tética planejada para o caso (Fig. 10). A face preservou o equilíbrio e o sorriso se apresentou melhor preenchido, especialmente no lado es- querdo, pela presença do segundo molar já ir- rompido, ao contrário do lado direito (Fig. 11). SELEÇÃO DO DISPOSITIVO Ao longo dos anos, uma série de dispositivos com diferentes desenhos foi proposta para a exe- cução da técnica MARPE. Um aspecto importante é definir qual o tipo de ancoragem mais adequa- do (somente em dentes, somente em osso ou uma combinação de ambos). A maioria dos protocolos atuais combina ancoragem em dentes e osso e, apesar de ainda existirem dúvidas a esserespeito, um estudo recente15, feito com elementos finitos, Figura 10: Fotografias intrabucais pós- tratamento ortodôntico: A, C) mordida cruzada corrigida; B) destaque para a melhora expressiva na proporção transversal entre maxila e mandíbula; D, E) morfologia de ambas as arcadas, demonstrando a correção da atresia superior. A D B E C Figura 11: Fotografias faciais pós-tratamento ortodôntico: proporções faciais equilibradas e corredores bucais reduzidos. A B C Andrade T © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 52 lançou luz sobre essa questão. Como pode ser ob- servado na Figura 12, os dispositivos ancorados somente em dentes geram uma boa distribuição de stress ao longo da sutura e alta concentração de stress na região vestibular de pré-molares e molares, expondo o periodonto a um risco inde- sejável. No modelo com ancoragem somente em mini-implantes, a distribuição de stress é muito po- bre ao longo da sutura, ficando concentrado bem próximo aos mini-implantes e expondo-os a uma carga acima da que seria razoável para preservar a ancoragem. E, finalmente, com a ancoragem em dentes e osso, observamos: uma boa distri- buição de stress ao longo da sutura palatina, o que é favorável ao seu rompimento; uma redução pela metade do stress acumulado no entorno dos mini-implantes, reduzindo a chance de perdê-los; e uma redução do acúmulo de stress na tábua ós- sea vestibular dos dentes, reduzindo os riscos de danos periodontais15. Quando se trata de expansão ortopédica da maxila, a minha escolha é sempre pelos disposi- tivos dento-osseossuportados, para garantir a se- gurança periodontal e uma expansão com maior impacto esquelético. Atualmente, temos à disposição dois tipos de dispositivos fabricados pela PecLab (Belo Hori- zonte/MG, Brasil) para a expansão maxilar de pacientes adultos com auxílio de mini-implantes: o modelo SL (com quatro slots) e o EX (para ca- sos de atresia extrema). O modelo SL (Fig. 13A) é bastante simples e versátil. O custo total para a construção do aparelho é reduzido e a instalação também é descomplicada, sendo indicado para casos em que é possível aproximar o torno até chegar a 1mm de distância da mucosa (Fig. 13B). A contraindicação de uso é para os casos de atre- sia mais extrema, em que não é possível acomo- dar o torno na distância adequada, visto que essa distância aumentada entre a base do expansor Figura 12: Modelos de elementos finitos mostrando a distribuição do stress de von Mises, sobre as estruturas circum-maxilares (g/mm2), provocado pela expansão rápida da maxila (ERM) induzida por três diferentes aparelhos: A) vista frontal; B) vista horizontal; C) sutura palatina mediana. » C-RPE = ERM convencional; » B-RPE = ERM com ancoragem exclusivamente óssea (mini-implantes); » MARPE = ERM com ancoragem em osso (mini- implantes) e dentes. (Fonte: Seong et al.15, 2018). A B C MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 53 e a cortical palatina poderia levar a uma baixa penetração dos mini-implantes no tecido ósseo e favorecer um amassamento ou, até mesmo, fratura dos mini-implantes, devido ao aumento do momen- to (calculado pelo produto de força x distância). Figura 13: Detalhes do expansor SL: A) imagem renderizada do expansor SL com quatro mini-implantes em posição; B) esquema demonstrando a distância ideal a ser respeitada no momento da construção do aparelho. Na minha prática clínica, esse é o dispositivo de escolha somente para casos em que é possível acomodar o torno de 11mm no fundo do palato, de forma que os mini-implantes mais posteriores fiquem próximos à distal dos primeiros molares. As versões de 6 e de 9mm, em geral, não são suficientes para promover a quantidade adequada de expansão em casos de grande atresia. Nas Figuras 14A e 14B, pode-se observar as fotografias oclusais do caso clínico de um paciente do sexo masculino, com 37 anos de idade, que foi submetido à técnica MARPE utilizando o ex- pansor do tipo SL. A expansão foi bem-sucedida e de grande magnitude, mostrando a eficiência do dispositivo, inclusive para pacientes mais maduros. Uma observação importante sobre o planeja- mento em qualquer caso de expansão em que se opte pela ancoragem em mini-implantes é que a condição ideal para posicioná-los é a instala- ção bicortical. A ancoragem na cortical palatina e na cortical do soalho nasal resulta em: aumento da estabilidade dos mini-implantes, redução da chance de sofrerem deformação ou fratura, uma expansão com maior magnitude e mais paralela no plano coronal. Em estudo realizado com ele- mentos finitos16, foram estudadas as profundida- des de penetração de 1mm e 2,5mm na cortical nasal; no segundo caso, observou-se um ligeiro aumento na estabilidade, redução do stress e magnitude da expansão (Fig. 15). Uma preocu- pação recorrente do clínico se refere ao possível dano que pode ser causado se os mini-implantes penetrarem na mucosa nasal. Porém, pela minha experiência clínica, não há razão para se pre- ocupar com infecção em tal mucosa. Jia et al.17 observaram, após a instalação de mini-implan- tes bicorticais com penetração no seio maxilar: um discreto espessamento temporário da mucosa nos casos em que a penetração foi de até 1mm de profundidade; e um espessamento temporário Andrade T © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 54 Figura 14: Fotografias oclusais de um paciente com 37 anos de idade, sexo masculino, com o expansor do tipo SL: A) pré expansão; B) pós-expansão, realizada em 12 dias de ativação (2/4 de volta por dia). Figura 15: Vistas, em corte coronal, da posição dos mini-implantes em três situações: monocortical, bicortical 1mm e bicortical 2,5mm (Fonte: Lee et al.16, 2017). Figura 16: Exemplo da importância do exame tridimensional em um caso de assimetria, entre os lados direito e esquerdo, na espessura dos tecidos moles, espessura dos tecidos duros e na altura do palato. Nesse caso, deveríamos planejar dimensões diferentes dos parafusos para MARPE em cada lado (Fonte: Andre18, 2018). de 88,2% nos casos que ultrapassaram 1mm de profundidade17. Considerando-se as característi- cas histológicas similares entre as mucosas nasal e do seio maxilar, é razoável afirmar que, ao pe- netrar até 1mm além da cortical do soalho nasal, podemos esperar discreto espessamento da mu- cosa nasal; já nos casos com penetração acima de 1mm, espera-se um maior espessamento dessa mucosa. Concluindo: o protocolo sugerido é bus- car uma penetração bicortical com profundidade de 1 a 2,5mm, de forma a garantir uma expan- são de qualidade, uma maior segurança e, ao mesmo tempo, minimizar efeitos inflamatórios mais expressivos na mucosa nasal. A B monocortical bicortical 1mm bicortical 2,5mm MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55 55 Referências: 1. 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Na próxima edição, daremos continuidade ao presente artigo, com destaque especial para as abordagens atuais dos casos complexos e extremos, onde os principais recursos utilizados são o expansor customizável do tipo EX, o pro- tocolo individualizado de planejamento virtual MARPE Guide, e a corticoperfuração da sutura palatina mediana. Além disso, discutiremos o im- pacto esquelético na face média e na qualidade respiratória advindo da expansão maxilar anco- rada em mini-implantes. E, finalmente, introduzi- remos as possíveis abordagens e benefícios da técnica MARPE nos pacientes em crescimento.
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