Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ARTIGO INÉDITO24 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 EU PENSO ASSIM MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 25 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Túlio Andrade INTRODUÇÃO O uso da expansão maxilar em pacientes adultos com ancoragem em mini-implantes vem ocupan- do um espaço cada vez maior nas abordagens or- todônticas em indivíduos com deficiência trans- versal da maxila. Os limites são testados a cada vez que nos deparamos com um caso mais complexo ou, até mesmo, quando observamos insucesso to- tal ou parcial na execução da técnica. A experiência mais recente na avaliação tridimensional através da tomografia de feixe cônico trouxe luz à existên- cia de uma série de características específicas que tornam alguns casos mais complexos que outros. O ponto central é que, ao identificar esses aspectos, podemos determinar protocolos bem definidos que permitam ao clínico tratar de seus pacientes com maior segurança e consistência, mesmo em situa- ções mais desafiadoras. CASOS COMPLEXOS Uma questão muito frequente é a definição de uma idade limite para se executar com segurança a téc- nica MARPE. Como já discutido anteriormente, a idade cronológica do paciente ou a maturação da sutura, avaliada por meio de tomografia, não de- vem ser critérios de contraindicação, e sim servir para determinar o prognóstico de possibilidade1,2. Considerando, então, os pacientes adultos mais maduros (com 30 anos ou mais) e aqueles que na avaliação tomográfica apresentem, ao menos par- cialmente, ossificação da sutura (classificação D ou E)3, podemos inferir que a força necessária para romper a sutura palatina mediana deve ser mais elevada. Partindo dessa premissa, nesses ca- sos eu prefiro não exceder o limite de 1/4 de volta por dia na ativação do torno expansor, garantindo maior tempo de concentração de forças na sutura MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 Andrade T26 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 1: Corte sagital da maxila de um paciente que apresenta espessura extremamente reduzida nos sítios utilizados para fixação dos mini-implantes MARPE, de- monstrando fragilidade na ancoragem. Figura 2: Corte sagital da maxila de um paciente que apresenta espessura aumentada nos sítios utilizados para fixação dos mini-implantes MARPE e na região da sutura palatina mediana, demonstrando grande área de interface entre as hemimaxilas. e menor risco de perda dos mini-implantes devido à sobrecarga. Adicionalmente, a realização de cor- ticoperfurações ao longo da sutura é utilizada com a intenção de fragilizá-la2. A espessura óssea na região parassutural é variá- vel em diferentes pacientes. Considero mais deli- cadas as situações de osso muito fino (menos de 2mm de espessura) e de osso muito espesso (mais de 6mm de espessura). Quando a espessura óssea é muito reduzida, a an- coragem dos mini-implantes fica comprometida e, por isso, a preferência no protocolo de ativação é de no máximo 1/4 de volta por dia no torno ex- pansor. O risco de perda de ancoragem dos mini- -implantes é aumentado nesses casos e, portanto, é importante redobrar a atenção aos dentes de suporte do expansor, para identificar se eles estão sofrendo vestibularização (Fig. 1). nesse cenário é que a ancoragem dos mini-im- plantes pode ser de maior qualidade. É importante destacar que, com o aumento da espessura, au- mentam as chances de falha na obtenção de bicor- ticalidade e, portanto, faz-se mais importante a realização de medidas precisas para maximizar as chances de sucesso, já que as chances de in- sucesso aumentam muito com a ancoragem mo- nocortical (Fig. 2). Já quando a espessura óssea é muito alta, o que preo- cupa é que a interface sutural entre as hemimaxilas possui área maior e, portanto, pode ser necessária maior força para o rompimento. O fator positivo Outro aspecto que adiciona complexidade é a pre- sença de assimetrias ao longo da sutura palatina mediana: as mais comuns que encontramos e que interferem na execução da técnica são da sutura em si com desenho sinuoso, da espessura diferen- te entre os lados direito e esquerdo e da inclina- ção do septo nasal. Nos casos em que se observa um desenho atípico da linha que define a sutura palatina, seja um des- vio para um dos lados ou até mesmo um contorno sinuoso na vista oclusal, a definição da posição dos mini-implantes se torna crítica. Obviamente, se um ou mais mini-implantes ficarem posicionados de forma a tocar tridimensionalmente na região MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 27 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 3: Corte axial da maxila de um paciente, na região da sutura palatina mediana, com aspecto de desvio si- nuoso, demonstrando a necessidade de atenção na cons- trução do aparelho para MARPE. Figura 4: Corte coronal da maxila de um paciente com diferentes espessuras de tecidos moles e duros entre os lados direito e esquerdo, demonstrando dificuldade em posicionar o torno expansor e definir o comprimento dos mini-implantes. ocupada pela sutura, o rompimento dessa pode ser comprometido ou a abertura pode ocorrer de forma assimétrica3. Como a posição de instalação dos mini-implantes é definida pela posição do tor- no expansor conforme ficar definido no momento da construção do aparelho, essa etapa é crítica no processo e deve, necessariamente, estar associada ao diagnóstico. Na prática, é necessário que se de- fina a posição do torno levando em consideração as variações anatômicas observadas nas imagens da tomografia, de forma a definir a melhor posi- ção. A transposição das características anatômi- cas para o posicionamento físico durante a etapa laboratorial deve ser realizada de forma bastante criteriosa ou, preferencialmente, com o auxílio do planejamento virtual (Fig. 3). Nessas situações, os maiores desafios são definir a correta inclinação do torno expansor e o com- primento dos mini-implantes de forma a garantir a ancoragem bicortical, que deve ser inegociável4. Essa inclinação deve ser definida com muito cri- tério, respeitando o plano oclusal que, em geral, coincide com o plano palatino. Como o impacto es- quelético da técnica MARPE é muito grande, uma inclinação inadequada pode resultar em indesejá- vel desnível do plano oclusal (Fig. 5). De acordo com as espessuras, tanto de tecidos moles quanto de te- cidos duros, são diferentes entres os lados, muitas vezes é necessário selecionar configurações dife- rentes de comprimento dos mini-implantes para cada lado. Mais uma vez, a avaliação tridimensio- nal, garantida pela tomografia, se faz necessária. A transposição das medidas de espessura, obtidas preferencialmente seguindo protocolo rigoroso5 ou com o auxílio do planejamento virtual, deve ser observada, para garantir a ancoragem na cortical do soalho nasal. O planejamento virtual também pode ser utilizado como recurso para definição da inclinação do torno expansor de forma precisa. Alguns casos apresentam a anatomia bastante di- ferente entre os lados direito e esquerdo, com dife- rentes espessuras de tecidos moles e duros (Fig. 4). Andrade T28 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Outra característica anatômica importanteque pode interferir na execução da técnica MARPE é a inclinação acentuada do septo nasal. Se con- siderarmos a instalação vertical e paralela dos mini-implantes na direção do septo, existe um ris- co aumentado de invasão tridimensional da sutura. Essa invasão poderia impedir o rompimento da su- tura ou interferir na sua abertura, resultando em movimento assimétrico da maxila. Uma possibili- dade de lidar, na prática, com essa condição seria instalar o mini-implante relacionado com a assi- metria, de forma inclinada para a lateral (Fig. 6). Figura 5: Cortes coronais de um paciente adulto, antes e depois de expansão ancorada em mini-implantes, demons- trando desnível do soalho nasal, provocado pelo procedimento coincidente com a inclinação do torno expansor. Obser- va-se, também, alto impacto esquelético transversal, inclusive na altura do arco zigomático. Figura 6: Corte coronal na região de primeiro molar, onde nota-se a inclinação do septo nasal, demonstrando a necessidade de atenção extra na direção de inserção dos mini-implantes, para evitar que ela ocorra na área da sutura palatina. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 29 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Finalmente, uma das condições clínicas mais desa- fiadoras é a que chamamos de atresia extrema. São casos onde a anatomia do palato é bastante cons- trita, dificultando inclusive a acomodação do torno expansor de forma adequada para a construção do aparelho. Nesses casos, a solução sugerida é o uso de um expansor desenvolvido especialmente para essa finalidade. Atualmente, temos à disposição o torno expansor para MARPE do tipo EX, fabricado pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil), que possibilita o posicionamento suspenso, assim ampliando a indi- cação de MARPE para os pacientes que apresentam atresias extremas. A possibilidade de individualizar a altura de cada um dos quatro pés do expansor também confere a ele características ideais para a aplicação em casos de assimetrias (Fig. 7). Figura 7: Detalhes do ex- pansor EX: (A) Corte coronal de um paciente com maxi- la atrésica e, em detalhe, o expansor de 11mm posicio- nado durante planejamen- to virtual, com a impossi- bilidade de adaptação mais profunda nesse caso indi- cando o MARPE suspenso EX; (B) desenho esquemático demonstra como, em casos de extrema atresia, o tor- no expansor precisa ser des- locado em direção oclusal para que possa se adequar em tamanho e possibilitar o correto posicionamento dos mini-implantes; (C) ima- gem renderizada do expan- sor EX, com detalhe para os pés configuráveis em dife- rentes alturas, individuali- zando cada caso; (D) expan- sor EX instalado. A B C D Andrade T30 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 O aparelho construído com o torno do tipo EX, chamado de expansor MARPE suspenso, pos- sui características biomecânicas diferentes que merecem atenção especial. A distância entre os mini-implantes anteriores e os posteriores é maior, de forma que é possível que os anterio- res fiquem localizados em uma área de maior espessura óssea (na distal de primeiros pré-mo- lares) e os posteriores mantenham sua posição bem posterior (em geral na distal dos primeiros molares). Essa dinâmica parece combinar uma excelente ancoragem na região anterior, com a aplicação de forças bem para posterior e próxi- ma das regiões de resistência, o que torna seu uso ainda mais interessante no tratamento dos casos complexos. O MARPE suspenso também possibilita uma quantidade maior de expansão, pois, como o torno se afasta do palato, o espaço transversal disponível aumenta e possibilita o uso de um pa- rafuso de maior tamanho. O torno maior permite expandir mais sem precisar substituir o apare- lho, aumentando a qualidade da expansão de forma simples. PLANEJAMENTO VIRTUAL A Odontologia contemporânea tem se apropria- do da tecnologia de ponta nas mais diversas áreas. É notório o protagonismo que a tecnolo- gia CAD/CAM vem ganhando nas diversas espe- cialidades, trazendo previsibilidade, precisão e qualidade final aos tratamentos clínicos. Na Or- todontia não é diferente e, com toda a tecnologia disponível, foi possível desenvolver um protoco- lo de planejamento virtual para a realização da técnica MARPE de forma precisa e consistente mesmo em casos complexos. Chamamos o pro- tocolo de MARPE guide, o qual foi desenvolvido com o auxílio dos radiologistas Vinícius Macha- do e Cristiane Barros. Com o MARPE guide é possível definir as dimen- sões exatas dos mini-implantes de forma indi- vidualizada. É impossível correlacionar cortes tomográficos em planos coronais padrão com a trajetória dos mini-implantes na anatomia real do paciente, já que essa varia para cada caso. As medidas de espessura realizadas nos cortes coronais da tomografia são um guia importante, mas, se desejamos um alto nível de precisão ou se estamos diante de um caso complexo, o plane- jamento virtual é desejável. CASO CLÍNICO Um caso clínico planejado com o protocolo MARPE guide ajuda a demostrar a precisão da técnica. A paciente, do sexo feminino, com 32 anos de idade, apresentando face com caracte- rísticas de equilíbrio vertical e sagital, procurou tratamento para melhorar a estética do sorriso, queixando-se que esse era estreito. Observou-se presença de corredores bucais, mordida cruzada posterior bilateral e maxila deficiente em relação à mandíbula (Fig. 8). Para a realização do planejamento virtual, foi feita a separação dos elementos #16 e #26 com o auxílio de elásticos separadores. Os separadores foram re- movidos após 7 dias em posição e, no mesmo mo- mento, foi feito o escaneamento intrabucal com o scanner Trios (3shape), além de tomografia da face com o tomógrafo i-CAT (cortes de 0,2mm). Foram obtidos, então, o modelo 3D da maxila e o volume MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 31 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 8: Fotografias iniciais intrabucais e extrabucais: (A) presença de corredores bucais; (B) morfologia adequada da arcada, apesar da deficiência observada no sorriso e na relação oclusal; (C e E) mordida cruzada direita e esquerda; (D) maxila mais estreita do que a mandíbula, na avaliação intrabucal frontal. da face, os quais foram digitalmente sobrepostos com o uso de software. O modelo 3D garante a pre- cisão principalmente nos limites dos tecidos mo- les, enquanto a tomografia registra todos os deta- lhes anatômicos importantes ao planejamento do caso (Fig. 9). Um modelo 3D do torno expansor EX é, então, adi- cionado para definir a exata posição do aparelho e dos mini-implantes, usando como referência a anatomia real da paciente. Esse modelo foi esco- lhido porque é o único que possui uma perfuração cilíndrica e sem abertura anterior, o que impede qualquer variação na inclinação dos mini-implan- tes e, portanto, garante a precisão do protocolo guiado. O uso do modelo SL permite a inclinação anteroposterior e, com a alteração de trajetória, podemos ter alteração nas distâncias atravessadas pelos mini-implantes e consequente falha no obje- tivo, que é a ancoragem bicortical. No corte coronal, A B C D E Andrade T32 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 é possível definir com precisão a inclinação do expansor, relacionando-a como plano palatino (definido pelo soalho nasal) e com o plano oclu- sal (Fig. 10). Nos cortes sagitais, faz-se a definição do posicionamento anteroposterior e, também, da inclinação, de acordo com a anatomia do paciente, considerando-se, inclusive, as regiões com espes- sura óssea mais adequada para ancoragem dos mini-implantes (Fig. 11). Finalmente, no corte axial se define a trajetória dos mini-implantes de forma precisa, evitando proximidade com a sutura, bila- teralmente, mesmo em casos assimétricos (Fig. 12). Figura 9: (A) Tomografia de feixe cônico renderizada, com destaque para a trajetória dos quatro mini-implantes finali- zando dentro da cavidade nasal; (B) modelo 3D renderizado, com o torno posicionado e as trajetórias dos mini-implantes sendo definidas. Figura 10: Vista do corte coronal da tomografia, com o torno posicionado (em vermelho), durante o planejamento virtual para definição precisa da inclinação desse em relação aos planos oclusal e palatino. A B MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 33 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 12: Corte axial feito durante o planejamento virtual, no momento de determinar a trajetória dos mini-implantes em relação à sutura palatina mediana. Figura 11: (A, B) Vistas dos cortes sagitais direito e esquerdo, respectivamente, com o modelo 3D sobreposto (linha roxa) e torno representado em vermelho, durante o planejamento virtual para definir as trajetórias ideais dos mini-implantes e posição precisa do expansor MARPE. A B Andrade T34 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Uma vez definida virtualmente a posição do ex- pansor, medidas são realizadas aferindo a espes- sura óssea e espessura da mucosa na trajetória exata dos mini-implantes (Fig. 13). Essas medidas são, então, utilizadas para definir o comprimento mais adequado do mini-implante, tanto de trans- mucoso (região lisa) quanto de ponta ativa (região com espiras). Como já discutido previamente, a ancoragem bicortical deve ser obtida e, dessa for- ma, o transmucoso deve ter 2mm para atravessar os anéis do aparelho, 1mm para superar a distância do aparelho ao palato, e um comprimento variável para passar pela mucosa. A parte ativa deve ter o comprimento necessário para atravessar o osso e, no mínimo, 1mm a mais, para garantir ancoragem adequada na cortical do soalho nasal. Figura 13: (A, B) Cortes sagitais parassuturais, respectivamente direito e esquerdo, mostrando a trajetória planejada para os mini-implantes e as medidas de espessura de tecidos ósseo e mucoso a serem utilizadas para selecionar o compri- mento dos mini-implantes. Para transpor o que foi planejado virtualmente para a boca do paciente, uma guia é gerada vir- tualmente (Fig. 14) e impressa em 3D, junto com o modelo 3D da maxila. A guia se encaixa nos dentes anteriores do modelo e possui um encaixe perfeito para a peça central do expansor, de forma a defi- nir sua posição tridimensional (Fig. 15). Após a sol- dagem das hastes nas bandas, os quatro pés são posicionados e fixados, preparando-os para serem soldados (Fig. 16). Um aspecto importante quanto ao expansor EX é que a soldagem dos pés deve ser feita com solda a laser, pois o aquecimento exces- sivo da solda a prata destempera as guias. Se ocor- rer superaquecimento das guias, elas podem sofrer deformação durante a expansão, devido às forças muito elevadas características da técnica. A B MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 35 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 14: Renderização de uma guia do MARPE guide em posição, encaixada no modelo e com o torno EX posiciona- do para a construção do aparelho, transpondo o posiciona- mento planejado virtualmente. Figura 15: Etapa laboratorial com a posição do torno EX tridimensionalmente definida pela guia do MARPE guide e estabilizada para realização da soldagem a laser. Figura 16: (A) Etapa laboratorial de construção de um aparelho MARPE EX com a fixação dos quatro pés em posição; (B) detalhe da solda a laser uti- lizada para fixar os pés à parte central do torno; (C) aparelho pronto para utilização na paciente. A C B Andrade T36 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Considerando-se que, pela idade da paciente, o caso poderia apresentar maior dificuldade para o rompimento da sutura, optou-se por realizar corticoperfurações ao longo da sutura palatina mediana. Esse procedimento tem por objetivo fragilizar a sutura palatina mediana, na inten- ção de aumentar as chances de sucesso da ex- pansão maxilar mesmo em pacientes adultos maduros ou em casos considerados mais com- plexos, com osso da maxila muito fino ou muito espesso. O protocolo utilizado no presente caso foi de realizar perfurações bem centralizadas na rafe palatina, iniciando-se logo atrás da segun- da ruga palatina e se estendendo distalmente a cada 2mm, até o fim do osso palatino. A fresa uti- lizada foi a broca corticoperfuração, desenvolvi- da pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil), que pos- sui 1,5mm de diâmetro e 6mm de comprimento, com um stop que impede a penetração além dos 6mm de profundidade (Fig. 17). O procedimento de perfuração pode ser realizado manualmente ou com o auxílio do motor elétrico. Figura 17: (A) Fotografia oclusal com de- talhes das corticoperfurações realizadas antes da cimentação do aparelho expan- sor; (B, C) respectivamente, cortes axial e sagital da tomografia realizada logo após a instalação do MARPE, demonstrando o posicionamento e a profundidade das perfurações realizadas para fragilizar a sutura palatina mediana. A C B MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 37 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Para os ortodontistas que não possuem motor elétrico, recomenda-se realizar as perfurações palatinas manualmente, usando a chave de mão ortodôntica fabricada pela Peclab (Belo Horizon- te, Brasil). Sendo mais preciso, é necessário com- binar a peça de mão que compõe essa chave com um contra-ângulo 1:1 convencional, de forma que torne-se possível girar a fresa manualmente e, com bastante firmeza manual, é possível realizar o procedimento com segurança e previsibilida- de (Fig. 18). Para os que preferirem usar o motor elétrico e o contra-ângulo redutor 20:1, o proce- dimento pode ser realizado de forma mais con- fortável. Nesse caso, o protocolo é usar 800RPM e sempre com irrigação, para prevenir aqueci- mento ósseo e consequente necrose. Figura 18: À direita, a chave de mão ortodôntica desmontada; à esquerda, a peça de mão para encaixe no contra-ângulo de baixa rotação. É relevante destacar a importância de se reali- zar as perfurações antes da instalação do apare- lho, para que toda a extensão do palato possa ser acessada, pois, do contrário, somente seria possí- vel fragilizar a sutura nas regiões anterior e pos- terior ao torno. Logo após a finalização das corti- coperfurações, foi feita a cimentação do expansor e, com a mucosa já anestesiada, procedeu-se a instalação dos mini-implantes. Como já discutido previamente, o comprimento dos mini-implantes foi selecionado de acordo com as medidas determinadas pelo planeja- mento virtual. Os mini-implantes utilizados são produzidos pela Peclab (Belo Horizonte, Brasil) em diversasdimensões, facilitando a indivi- dualização de acordo com as condições clíni- cas de cada paciente. Após calcular as medidas de forma precisa, é necessário adaptá-las para os tamanhos disponíveis comercialmente: meu critério é sempre adicionar pelo menos 1mm, para garantir a penetração da cortical do soalho nasal. A preparação de uma tabela é bem-vinda, para organizar os números e facilitar o plane- jamento, determinando o comprimento de cada um dos quatro mini-implantes (Fig. 19). É inte- ressante observar que, nesse caso em especial, nenhum dos mini-implantes planejados e utili- zados teve a mesma dimensão. Com isso, temos um bom exemplo, que destaca a importância do planejamento virtual do MARPE guide. Instalados os mini-implantes, temos, então, uma perfeita adaptação do expansor e dos mesmos em boca (Fig. 20). A precisão do posicionamento dos mini-implantes, inclusive com perfuração da cor- tical nasal, foi obtida e, enfim, todo o procedimento de instalação foi finalizado. Andrade T38 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 19: Quadro utilizado para organizar as medidas obtidas com o MARPE guide e facilitar a seleção do mini-implante adequado para cada sítio. Figura 20: (A) Vista oclusal após finalizada a instalação do aparelho e ancoragem esquelética; (B) renderização no pós-operatório imediato, com destaque para a penetração dos quatro mini-implantes no soalho da cavidade nasal. A B ESPESSURA ÓSSEA (mm) ESPESSURA DA MUCOSA (mm) TUBO E DISTÂNCIA DA MUCOSA (mm) TOTAL (mm) MINI-IMPLANTE A1 (dir.) 6,51 1,78 3 13,5 7 x 8 mm P1 (dir.) 1,80 1,44 3 9,09 7 x 4 mm A2 (esq.) 6,32 1,59 3 10,91 7 x 6 mm P2 (esq.) 3,75 1,15 3 7,90 5 x 4 mm MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 39 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 21: (A, B) Fotografias intrabucais imediatamente após finalizada a expansão com MARPE e removidas as hastes, mantendo-se o núcleo e os mini-implantes como ancoragem, e já com os braquetes instalados, para início da biome- cânica ortodôntica; (C, D) imagens renderizadas da tomografia realizada após expansão, mostrando abertura da sutura palatina mediana de forma quase paralela. O início das ativações foi imediato, aplicando-se o protocolo definido em 1/4 de volta, ou 0,2mm, por dia até o rompimento da sutura, com a ob- servação da abertura do diastema entre os in- cisivos centrais. Nesse momento, as ativações foram aumentadas para 2/4 de volta por dia, de forma a acelerar a conclusão da expansão, já que não existia mais resistência tão grande na região da sutura palatina mediana. Após 21 dias de ativações, a expansão maxilar foi finalizada e uma reavaliação tomográfica foi rea- lizada, a fim de verificar o impacto esquelético ob- tido com o procedimento. Para a sequência clíni- ca ortodôntica, as hastes ligadas às bandas foram removidas, mantendo-se o núcleo do torno expan- sor e os mini-implantes como recurso de ancora- gem, para aguardar a neoformação óssea (Fig. 21). Por meio da sobreposição das tomografias inicial e pós-expansão, foi possível observar a consis- tência do impacto esquelético obtido, com desta- que especial para as regiões posterior e superior. Na expansão maxilar clássica, a abertura é bem maior nas regiões anterior e oclusal; mas, na ex- pansão ancorada em mini-implantes (especial- mente quando temos a ancoragem bicortical), o impacto esquelético se reflete de forma mais am- pla inclusive ao nível do soalho das órbitas e da espinha nasal posterior (Fig. 22). A C B Andrade T40 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 Figura 24: (A, B) Fotografias oclusais imediatamente antes e depois da remoção do núcleos do torno expansor EX e dos quatro mini-implantes, destacando-se a condição de inflamação observada no entorno dos mini-implantes, devido à higienização dificultada na região. Figura 23: Corte tomográfico axial quatro meses após a expansão, demonstrando boa qualidade de neoformação óssea na região da sutura palatina mediana. A B C A B Figura 22: (A-C) Respectivamente, vistas frontal, superior e oclusal da sobreposição tomográfica, demonstrando a mag- nitude do impacto esquelético da expansão com MARPE, in- clusive na espinha nasal posterior e ao nível da órbita. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2 41 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41 1. Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila: parte 1. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Out-Nov;17(5):44-55. 2. Suzuki H, Andrade TR. Ancoragem Esquelética na Expansão da Maxila. Ortod SPO. 2017;50(2):174-81. 3. Cantarella D, Dominguez-Mompell R, Mallya SM, Moschik C, Pan HC, Miller J, et al. Changes in the midpalatal and pterygopalatine sutures induced by micro- implant- supported skeletal expander, analyzed with a novel 3D method based on CBCT imaging. Prog Orthod. 2017;18:34 4. Lee RJ, Moon W, Hong C. Effects of monocortical and bicortical mini-implant anchorage on bone-borne palatal expansion using finite element analysis. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2017 May;151(5):887-97. 5. André CB. Análise tomográfica para a técnica MARPE. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Ago-Set;17(4):50-3. 6. Bazargani F, Magnuson A, Ludwig B. Effects on nasal airflow and resistance using two different RME appliances: a randomized controlled trial. Eur J Orthod. 2018 May 25;40(3):281-4. 7. Ludwig B, Baumgaertel S, Zorkun B, Bonitz L, Glasl B, Wilmes B, et al. Application of a new viscoelastic finite element method model and analysis of miniscrew- supported hybrid hyrax treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2013 Mar;143(3):426-35. 8. Carlson C, Sung J, McComb RW, Machado AW, Moon W. Microimplant-assisted rapid palatal expansion appliance to orthopedically correct transverse maxillary deficiency in an adult. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2016 May;149(5):716-28. REFERÊNCIAS: Como citar: Andrade T. MARPE: uma alternativa não cirúrgica para o manejo ortopédico da maxila - parte 2. Rev Clín Ortod Dental Press. 2018 Dez-2019 Jan;17(6):24-41. Enviado em: 03/10/2018 - Revisado e aceito: 27/11/2018 DOI: https://doi.org/10.14436/ 1676-6849.17.6.024-041.epa Endereço para correspondência: Túlio Andrade E-mail: tulio.andrade@gmail.com O autor declara não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publi- cação de suas fotografias faciais e intrabucais, radiografias ou outros exames imagiológicos e informações diagnósticas. Túlio Andrade1,2,3 1. Graduado em Odontologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia (Belo Horizonte/MG, Brasil). 2. Especialista em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil). 3. Mestre em Ortodontia, Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas/SP, Brasil). Após o período de quatro meses pós-expansão, uma avaliação tomográfica na região da sutura pa- latina mediana demonstrou um bom nível de ma- turação óssea já calcificada (Fig. 23). Foi realizada, então, a remoção dos mini-implantes e do núcleo do expansor, e conduzida a sequência da biome- cânica ortodôntica planejada. Na mucosa ao redor dos mini-implantes, foram observadas áreas de in- flamação,provocadas pela deficiência de higieni- zação no entorno dos mini-implantes. A remoção mecânica da placa fica bastante comprometida na região, pela barreira física imposta pelo aparelho expansor; dessa forma, pode ser adequado com- plementar o controle bacteriano na região com o uso de clorexidina tópica (Fig. 24). CONCLUSÃO A ancoragem esquelética vem quebrando paradig- mas na Ortodontia nos últimos anos, e na expansão maxilar não é diferente. Desde que a técnica seja aplicada de forma precisa e consistente, podemos ampliar o número de pacientes que se beneficiam da abordagem ortopédica não cirúrgica. A magnitude do impacto esquelético também aumenta significa- tivamente, melhorando os resultados nas bases al- veolares3 e nas vias respiratórias6. A possibilidade de se aplicar esse efeito esquelético para tração anterior em pacientes com deficiência no desenvolvimento anterior da maxila também vem sendo bastante ex- plorada, com o aumento da idade em que é possível se obter bons resultados ortopédicos7,8.
Compartilhar