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FUNDAMENTOS DE GESTÃO AULA 2 Prof. Cláudio Aurélio Hernandes CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos falar a respeito de alguns conceitos básicos relacionados às funções exercidas pela equipe e desempenhadas pelo gestor no ambiente organizacional. O conteúdo vem dividido em cinco temas principais: (i) cultura e background; (ii) gestão de equipes; (iii) liderança; (iv) descentralização e controle e (v) decisão. O objetivo principal desta aula é contemplar práticas e funções de gestão que integram a realidade das organizações, pois todas dependem da ação individual e coletiva das pessoas para serem dirigidas. Discutiremos inicialmente o papel que as culturas cumprem sobre o desempenho coletivo e como algumas culturas são criadas no contexto das próprias organizações. No tema 2, trataremos de elementos que determinam o papel de gerência de grupos que compõem equipes no ambiente de trabalho. Complementarmente, o tema seguinte tratará da atuação dos diferentes tipos de liderança que influenciam as equipes e os grupos nas empresas. Por fim, as duas últimas partes tratarão de questões que compõem respectivamente elementos sobre a estrutura organizacional em favor do controle das operações organizacionais e o processo decisório no contexto principalmente das organizações empresariais. CONTEXTUALIZANDO Quando passamos a atuar como colaboradores em uma empresa, percebemos que as pessoas que integram as equipes de trabalho apresentam modos particulares de interagir e se comportar. Muitas vezes, essas pessoas compartilham linguagens, ideias e princípios, atributos que compõem parte do que chamamos de cultura organizacional. Outro aspecto que caracteriza esse contexto é o comportamento daqueles indivíduos que se destacam entre os grupos de trabalho e que são capazes de influenciar o comportamento de seus colegas. A relação entre os grupos de trabalho e os indivíduos identificados com a figura de liderança é determinante no alcance ou não de resultados pelas organizações. Por fim, é preciso compreender que o modo de ordenamento da estrutura hierárquica nas organizações empresariais, pode estar relacionado com as estratégias e os objetivos delimitados pelos seus dirigentes, os quais atuam na gestão tomando decisões cotidianas que, muitas vezes, seguem 3 padrões e também se tornam alvo de estudo da ciência que investiga o comportamento de gestores. TEMA 1 — CULTURA ORGANIZACIONAL E BACKGROUND Para podermos abordar a cultura organizacional, é necessário compreender a noção mais ampla de cultura. Trata-se de um conceito essencialmente discutido no âmbito das Ciências Sociais, com ênfase na Antropologia Social, área que busca compreender o comportamento humano ao longo do tempo e em diferentes grupos sociais. 1.1 Conceito amplo de cultura A noção de cultura organizacional constitui para nós, portanto, uma delimitação específica de características culturais percebidas no âmbito das organizações sociais de caráter corporativo, orientadas pela divisão do trabalho, na qual predomina essencialmente o modelo hierárquico de estrutura de organização. Compreender a cultura organizacional possibilita entender determinadas ações da organização e dos indivíduos que a integram, permitindo distinguir seu modo de atuação. A cultura organizacional também pode refletir aspectos da cultura mais ampla de um país ou região, na medida em que, nesse contexto, se refletem as características da cultura regional. Por fim, a cultura organizacional, para alguns estudiosos, pode ser manipulada a serviço de interesses da própria organização como instrumento de direcionamento do comportamento de seus indivíduos. De acordo com Maximiano (2002), a identificação de elementos da cultura organizacional é percebida de diversas formas, por meio de aspectos materializados em objetos que compõem a estrutura física da empresa e a linguagem e o repertório de comportamentos dos seus colaboradores, como elementos não observáveis diretamente, tais como histórias compartilhadas entre eles, e, em um nível ainda mais abstrato, crenças e valores. O autor distingue em um nível mais concreto os seguintes componentes da cultura organizacional: artefatos, tecnologias e costumes. Os artefatos compõem todo tipo de elemento material que caracteriza a organização, desde a arquitetura de suas instalações até o vestuário de seus 4 empregados. Enquanto a arquitetura de órgãos da administração pública pode manter um padrão estético caracterizado pela imponência de suas construções, outras empresas, do setor de tecnologia, por exemplo, dão ênfase ao conforto e aos recursos tecnológicos disponíveis para expressar sua identidade. O vestuário também pode dizer muito sobre a cultura da organização: enquanto em uma empresa do setor financeiro ou jurídico os empregados costumam adotar um padrão sóbrio e bastante formal, de forma a transmitir uma mensagem de confiança e estabilidade a clientes e à opinião pública, empresas do ramo esportivo e de tecnologia muitas vezes estimulam seus empregados à manutenção de padrões menos formais. Algumas empresas de tecnologia inclusive buscam transmitir, com isso, a ideia de que seus empregados trabalham em ambientes descontraídos, uma vez que têm liberdade para trabalhar mais à vontade. As tecnologias adotadas no contexto das empresas também dizem muito sobre a cultura da organização de acordo com Maximiano (2002). Segundo esse autor, a tecnologia compreende não apenas objetos físicos, mas também conhecimentos empregados para resolver problemas. A tecnologia abrange desde as informações, os produtos e as práticas empregados para a fabricação de pães artesanais até atividades de investigação científica e produção de materiais sofisticados. Portanto, a tecnologia utilizada em uma empresa evidencia os valores adotados por ela, atrelada ao tipo de atividade e ou negócio da organização. Empresas de energia que têm em seu quadro engenheiros estão geralmente envolvidas com a adoção e o desenvolvimento de novas tecnologias, ao passo que empresas preocupadas com a produção de alimentos saudáveis podem valorizar tecnologias ancestrais baseadas em práticas de produção de alimentos fermentados e com poucos aditivos químicos, por exemplo. Os símbolos também integram o conjunto de elementos que caracterizam uma cultura organizacional e que são passíveis de serem observados. Os símbolos carregam consigo mensagens e significados que apontam formas compartilhadas de agir e pensar entre os integrantes de uma cultura. Os símbolos se expressam principalmente por meio da linguagem, de costumes, rituais e cerimônias (Maximiano, 2002). A linguagem, por exemplo, possibilita inclusive identificar subculturas que compreendem especificidades dentro da cultura organizacional de uma 5 empresa. A linguagem dos profissionais de marketing, expressa pelo repertório de termos adotados pelos seus integrantes — com o uso de palavras como: “target”, “Market-share”, “briefing” — revela uma atividade e um modo de realizar as atividades naquela área. Histórias relativas ao pioneirismo do sócio-diretor de algumas grandes empresas, e que são propositalmente compartilhadas pelos gestores, têm o objetivo de incutir nos empregados os valores de seu dirigente, de forma a alcançar seu comprometimento com os propósitos da organização (Vecchio, 2008). Rituais identificados entre algumas empresas, tais como cerimônias específicas para a transferência de comando entre dirigentes, transmitem a noção de identidade compartilhadaentre eles e os empregados. Todos esses elementos mais ou menos visíveis possibilitam identificar aspectos mais profundos de uma cultura e que estão associados ao sistema de valores e crenças compartilhadas pelos indivíduos que compõem a organização. O sistema de valores aponta a hierarquia de princípios reconhecida e compartilhada, ao passo que o sistema de crenças revela modos de pensar e enxergar a realidade baseados nas próprias experiências pessoais e que também podem ser compartilhadas entre os indivíduos. A cultura organizacional pode representar uma função estratégica na condução do comportamento organizacional na medida em que se toma consciência da sua existência. De acordo com Robbins (2010), a cultura organizacional serve para distinguir a organização das demais; proporcionar um senso de identidade entre seus colaboradores, facilitando assim o comprometimento com algo que vai além dos interesses individuais; estimular a estabilidade do sistema social integrado pelos colaboradores e influenciar o controle comportamental dos empregados. Entre os elementos que, de acordo com Robbins, agem na criação e manutenção de uma cultura organizacional, estão a divulgação de ideais e princípios, tais como a filosofia dos fundadores da empresa, a missão, a visão e os valores. As políticas de seleção de empregados também são fundamentais nesse processo, pois possibilitarão a identificação de profissionais que mais se adequam ao perfil associado à cultura vigente. Além disso, os processos de socialização e treinamento de empregados também são diretamente relacionados com a capacidade da empresa de garantir que aspectos da cultura organizacional existente sejam mantidos. 6 1.2 Cultura organizacional x cultura regional No contexto global, empresas que atuam além de suas fronteiras nacionais têm de lidar com as diferenças culturais que posicionam sua cultura original com aquela em que passa a ter sua atuação comercial, seja no seu contexto interno, com o quadro de empregados, seja com clientes e stakeholders (Governos, fornecedores, comunidade). As diferenças de estilo comportamental, valores e linguagens devem ser alvo da preocupação dessas empresas quando passam a atuar em contextos culturais diversos, a fim de garantir a efetividade de seu quadro de pessoal junto aos clientes e parceiros externos. TEMA 2 – GESTÃO DE EQUIPES Para compreender o processo de gerenciamento de equipes, é preciso iniciar a discussão de alguns aspectos que dizem respeito ao comportamento humano de cada indivíduo. Quando tratamos de aspectos comportamentais, é preciso ter em mente que existe um grau de incerteza associado à personalidade e que cada indivíduo apresenta características diversas baseadas na sua vivência pessoal. No entanto, alguns padrões de comportamento são passíveis de serem observados, facilitando assim a compreensão de indivíduos e coletividades. De acordo com Robbins (2010), há pessoas que aceitam com mais ou menos facilidade as condições que lhes são impostas pelo grupo ou pelo ambiente em que estão inseridas. Dos que aceitam, diz-se que possuem um centro de controle externo, ao passo que daqueles que têm dificuldade em aceitar tais imposições, diz-se que possuem um centro de controle interno. As pessoas também podem apresentar diferentes graus de assunção ao risco, ou seja, da propensão a assumir mais riscos, sendo essa uma característica que as associam a personalidades mais despojadas ou mais conservadoras. Segundo Vergara (2006), é possível que, no contexto de um grupo social que se compõe como equipe a ser gerenciada, diferentes tipos de inteligência se destaquem em cada indivíduo, tais como aqueles que possuem uma inteligência lógico- matemática aguçada, outros uma inteligência associada ao uso da linguagem e outros ainda que se destacam pela inteligência interpessoal na capacidade de lidar e compreender os outros. Vergara entende ainda que as diferenças pessoais de um grupo compreendem também valores, crenças e visões de 7 mundo, motivações distintas, habilidades específicas para com o trabalho, caráter e temperamento. Por outro lado, a formação de equipes de trabalho, as quais não deixam de caracterizar um grupo social, também será influenciada por condições externas aos indivíduos, impostas ao próprio grupo pelo contexto em que está inserido, como: o processo de seleção e avaliação de desempenho a que seus integrantes foram e são submetidos; a estrutura de autoridade que lhe é imposta, ou seja, quem exerce a autoridade formal sobre ele; os valores, recursos e estratégias da organização. Outro aspecto externo que Robbins (2010) destaca é que as características de cada equipe de trabalho variam de acordo com os propósitos a que estão vinculadas. Assim, há equipes associadas a atividades de caráter criativo, voltadas para a atividades de criação e ou solução de problemas e, nesse sentido, seus integrantes devem apresentar habilidades específicas e complementares; já para outras equipes, pode ser necessária a capacidade de autogerenciamento, pois os indivíduos assumem responsabilidade pelas decisões. Por fim, em equipes de caráter multifuncional, predominam habilidades complementares entre os indivíduos que interagem para executar determinadas tarefas. Para compreender melhor a dinâmica de grupos e equipes é preciso compreender sua estrutura. De acordo com Vecchio (2008), os grupos de trabalho geralmente apresentam um líder formal a quem os indivíduos se reportam e que exerce autoridade, detendo o poder sobre os demais. Geralmente, os grupos também seguem regras e normas específicas, que podem ter um caráter formal ou mesmo estar baseadas em acordos informais entre seus membros. Os indivíduos ainda podem, de acordo suas habilidades e características pessoais, assumir papéis ou funções específicas e uma posição (status) diferenciado perante os demais. Por exemplo, o indivíduo mais velho de um grupo, ao deter o reconhecimento de sua experiência diante dos demais, pode assumir uma posição de destaque na tomada de decisão quando o grupo reconhecer tal aspecto como importante. Por fim, o grau de coesão de um grupo diz respeito ao grau de atração e desejo que seus membros têm de permanecer no grupo, caracterizando o grau de união entre os membros. Alguns autores, como Robbins (2010), entendem que existem diferenças entre equipes e grupos de trabalho. Enquanto grupos de trabalho seriam 8 representados por coletivos que se obrigam a trabalhar em conjunto, compartilhando a subordinação a determinada autoridade e interagindo para a realização de trabalhos conjuntos, as equipes se constituiriam pela soma de esforços entre os indivíduos a fim de gerar resultados singulares, caracterizando o que se denomina de sinergia, que acontece devido ao alto grau de coesão entre seus membros. Mas como obter um maior grau de coesão? De acordo com Vecchio (2008), existem fatores que podem influenciar a manutenção e estreitamento da coesão de um grupo. Veja alguns: A similaridade de atitudes e afinidades entre os indivíduos facilitam sua convivência, de modo que se sentem mais aptos a perpetuá-la. Situações externas que representem ameaças ao grupo, como a perspectiva de mudança na alta direção ou uma mudança na política de remuneração podem aumentar a coesão do grupo, ao passo que o estímulo à concorrência entre os membros pode diminuí-la. Existe uma tendência de que grupos com menos indivíduos sejam mais coesos, visto que possibilitam mais oportunidades de interação entre todos os membros. Sistemas de reconhecimento e retribuição por desempenhopara o grupo, e não pelo desempenho individual, também podem ser uma forma de influenciar positivamente a coesão do grupo. O isolamento do grupo, em relação a outros indivíduos, também pode influenciar positivamente a coesão entre os seus membros, uma vez que é estimulado o senso de objetivo comum e a defesa do grupo em relação a ameaças externas. TEMA 3 – MODELOS DE LIDERANÇA A liderança nas organizações é um tema que tem sido amplamente difundido, mas, muitas vezes, tratado e discutido com falta de propriedade e conhecimento adequados. Isso ocorre porque existem inúmeros estudos e pesquisas realizados sobre a questão, mas, devido a sua relação com o complexo comportamento humano, muitas vezes não podem ser replicados ou reproduzidos. 9 O papel do líder nas organizações está associado à sua capacidade de influenciar pessoas a concentrarem seus esforços na busca de resultados e, por essa razão, o tema é tão caro no mundo em que vivemos. O líder comumente não reproduz tal comportamento baseado em manuais ou treinamentos sistemáticos, mas demonstra características da sua personalidade, dos liderados ou relacionadas a fatores contextuais. O líder basicamente pode ser conceituado como aquele capaz de influenciar o comportamento de um grupo de acordo com seus interesses (Vecchio, 2008). Ainda de acordo com esse autor, o líder não é necessariamente aquele indivíduo que exerce o cargo de gerência ou de autoridade formal sobre um grupo. Quando isso ocorre, a empresa se beneficia dessa condição, porém o líder pode emergir de modo informal. Durante bastante tempo, os estudos sobre liderança tiveram como ênfase identificar as características que compõem as atitudes e a personalidade de um líder. No entanto, para que a liderança se manifeste, de acordo com Maximiano (2002), outros elementos devem ser considerados, como: as características dos liderados, as características das atividades a serem realizadas, além da conjuntura social, econômica e política. 3.1 Liderança situacional A liderança situacional pressupõe a compreensão de que o comportamento de um indivíduo assume características de um líder de acordo com a necessidade exigida por cada situação. Decorre, portanto, de fatores contextuais. Mas como se pode avaliar em qual situação emerge qual tipo de liderança? Baseados em diversas pesquisas, alguns modelos foram propostos por estudiosos do tema. 3.1.1 Teoria da liderança situacional Apesar de pouco pesquisada, segundo Vecchio (2008), essa teoria tem sido bastante empregada em programas de capacitação gerencial. Basicamente, ela propõe que a efetividade do comportamento de liderança depende da maturidade dos seguidores do líder, a qual é avaliada de acordo com a capacidade dos liderados em assumir responsabilidades, fixar metas e ao seu alto grau de educação e experiência em relação a uma determinada tarefa. 10 Portanto, um indivíduo pode estar maduro para uma determinada tarefa e imaturo para outra. Tal maturidade apresenta ainda duas componentes: uma relacionada ao cargo ou ao conhecimento para execução da tarefa e outra, a maturidade psicológica, que é associada à autoconfiança para aceitar as responsabilidades da tarefa. A teoria propõe que quanto maior a maturidade do liderado, mais o líder deve adotar um comportamento orientado ao relacionamento e não à tarefa. Quanto menor a maturidade demonstrada, mais direto e autocrático o líder deve se comportar, ou seja, explicando claramente o que os subordinados devem fazer. Quanto maior a maturidade dos liderados, mais o líder deve dispor de habilidades interpessoais que foquem no relacionamento, buscando inclusive a participação dos subordinados nas decisões. A partir de determinado grau de maturidade, os subordinados são capazes de se autodirigir. As comprovações desses comportamentos não são consenso, segundo Vecchio (2008), porém o apelo intuitivo da teoria torna a sua aplicação atrativa para diversos corpos gerenciais. 3.2 Outros tipos de liderança As teorias comportamentais que passaram a substituir as teorias baseadas nos traços dos líderes buscaram identificar se estilos específicos de atitudes de líderes estavam associados às atitudes e desempenho dos colaboradores. 3.2.1 Liderança carismática A liderança carismática, segundo Vecchio (2008) e Maximiano (2002), está baseada na percepção que os liderados têm da capacidade do líder de mobilizar e influenciar o grupo. O consenso aponta que o carisma está atrelado à autoconfiança do líder, a seu senso de finalidade e sua capacidade de articular uma visão que os liderados estão propensos a aceitar. Outra característica relacionada ao líder carismático é sua disposição em assumir riscos devido às suas fortes convicções e sua rejeição à autoridade formal. O lado negativo da liderança carismática, no entanto, segundo os autores, é a capacidade que o líder tem de incentivo à devoção ao seu próprio ego, ou seja, a capacidade de orientar o comportamento dos liderados à satisfação do 11 seu poder pessoal, visando à autoglorificação em detrimento do reconhecimento dos liderados. 3.2.2 Liderança transacional Em oposição à liderança carismática, o conceito de liderança transacional remete àquele líder que recorre à promoção de recompensas ou a ameaças para conseguir influenciar seus seguidores. O líder transacional pode se valer, portanto, de promessas de benefícios como promoções, aumentos salariais, autonomia e liberdade no uso do tempo, ou pode ainda ameaçar a retirada desses mesmos benefícios. De acordo com Etzioni (apud Maximiano, 2002), esse líder faz uso do poder manipulativo e é muito comum no ambiente corporativo. TEMA 4 – DECISÃO DE DESCENTRALIZAÇÃO E CONTROLE Para tratar da decisão de descentralização e controle, é preciso inicialmente distinguir os conceitos de descentralização e delegação para evitar confusões e erros de interpretação. A delegação de autoridade representa o processo de transferir autoridade de um nível hierárquico para outro. O trabalho baseia-se na quantidade de autoridade e responsabilidade delegada de um chefe a seu subordinado (Stoner; Freeman, 1994). Assim, a descentralização ocorre quando a transferência de autoridade ocorre para níveis hierárquicos inferiores. Já a centralização ocorre no sentido inverso, quando a transferência ocorre para níveis hierárquicos superiores. Na centralização, portanto, a autoridade está concentrada no topo da hierarquia organizacional. Outra distinção que é necessária é entre os conceitos de descentralização e divisionalização. Alguns leitores podem interpretar que a estrutura divisionalizada (estrutura organizacional segmentada por órgãos associados a regiões, a tipos de negócios, tipos de produtos, por exemplo) possa ser associada à estrutura descentralizada, no entanto, isso nem sempre é verdade. Podem haver estruturas divisionalizadas bastante centralizadas ou estruturas funcionais (em que a estrutura organizacional de seus órgãos é ordenada por funções administrativas, técnicas e de negócios) bastante descentralizadas. 12 A decisão pela centralização ou descentralização, implicando transferência de autoridade entre níveis hierárquicos está associada a cada contexto e circunstância. Stoner e Freeman (1994) destacam alguns dos fatores que conduzem as organizações por esta ou aquela forma de projetar a estrutura de autoridade associada à centralização e descentralização, como as características da organização considerando custos e riscos associados à decisão, relação de confiança entre superior e subordinados, culturaorganizacional e capacidade dos subordinados; o tamanho e a taxa de crescimento, além da estratégia e do ambiente da organização. Esses últimos elementos requerem uma explicação mais detalhada: Estratégia e ambiente da organização: De acordo com Stoner e Freeman (1994), a estratégia da organização influencia os tipos de mercado e os produtos com os quais a empresa atuará no mercado. Consequentemente, a forma de atuar no ambiente externo da organização estará diretamente relacionada. Os reflexos no ordenamento interno da organização também serão influenciados pela forma de atuação no ambiente externo. Empresas que têm suas estratégias de mercado fortemente associadas ao desenvolvimento de novos produtos em diferentes segmentos de mercado acabam adotando estruturas internas descentralizadas, como é o caso da General Electric (Stoner; Freeman, 1994). Outras empresas que atuam em mercados mais estáveis, desenvolvendo produtos tradicionais, muitas vezes apresentam a tendência de uma estrutura organizacional centralizada. Tamanho e taxa de crescimento: a possibilidade de ampliação das operações de uma empresa demanda do comando central a delegação de autoridade para os níveis mais baixos da hierarquia, a fim de que decisões sejam tomadas sem perder as oportunidades que o negócio e os mercados exigem. A tendência é que, quando a administração superior diminua o processo de delegação, a taxa de crescimento do negócio também se reduza. Custo e risco associados: quando a percepção dos administradores é de cautela quanto ao controle de gastos e assunção de riscos — e quando usamos esses termos estamos nos referindo aos sócios diretores ou 13 diretores executivos da organização —, pode haver uma tendência a diminuir o processo de delegação e, assim, a descentralização. Relação de confiança entre administrador e subordinados: o perfil dos administradores pode afetar o processo de delegação. Quando os diretores não confiam em seus subordinados, a tendência é que haja um mínimo de delegação e a estrutura se mantenha centralizada. Cultura organizacional: o perfil do administrador é capaz de provocar ainda a reprodução de uma cultura mais ou menos centralizada. A empresa pode ser reconhecida pela sociedade e pelo mercado pela sua cultura interna de centralização ou descentralização. Capacidade dos subordinados: a capacidade dos subordinados estará relacionada com as oportunidades que lhes são dadas para exercerem a tomada de decisão. Se nunca lhes é facultada a delegação de autoridade, nunca poderão avaliar suas reais capacidades. Portanto, a falta de delegação torna improvável a capacitação desses empregados e, por conseguinte, impede que ocorra um processo intencional de descentralização de forma eficaz. TEMA 5 – DECISÃO De acordo com Braga (1987), o processo decisório pode ser definido como o pensamento e a ação que resultam em uma escolha. Essa escolha consiste em selecionar entre cursos alternativos de ação ou mesmo aceitar ou rejeitar uma determinada ação. O processo decisório é considerado de grande importância para o gerenciamento eficaz das organizações, influenciando tanto os papéis de liderança como o efetivo desempenho administrativo e organizacional. Na visão de Silva (1989), o processo decisório pode ser caracterizado por três modelos distintos, quais sejam: Modelo racional: o processo decisório deve se basear na racionalidade, buscando sempre a melhor alternativa com base no cálculo de benefício. Modelo organizacional: considera que as decisões na organização são influenciadas pelo grupo e visam perseguir a decisão, sendo satisfatória em determinado momento. Modelo político: considera a decisão como resultado da negociação entre grupos de interesse distintos. 14 Neste estudo, vamos dar ênfase à relação entre o processo decisório e o comportamento individual para posteriormente tratarmos da relação entre o processo decisório no contexto das organizações. O processo decisório muitas vezes conta com um conjunto incompleto de informações que lhes servem de subsídio. Nesses casos, os indivíduos devem estar atentos até mesmo às previsões meteorológicas, ainda que estas sejam passíveis de enganos. Nesse sentido, consciente da imperfeição das informações disponíveis, o agente decisor deve se utilizar do maior número de recursos informacionais possíveis para minimizar os efeitos de uma escolha prejudicial. A argumentação sobre a limitação da escolha racional devido à falta de informações, segundo Maximiano (2002), foi desenvolvida por Herbert Simon e deu origem ao conceito de “racionalidade limitada”. Esse argumento indica que os indivíduos tendem a tomar decisões lógicas dentro das restrições impostas pela disponibilidade de informações que possuem. O processo decisório nem sempre segue critérios únicos ou padronizados para cada indivíduo. Diversos critérios podem ser empregados e, portanto, compreender os critérios que determinam as escolhas dos indivíduos representa um aspecto-chave para a tomada de decisão. Tversky e Kahneman apontaram que as pessoas adotam princípios heurísticos ou regras próprias para simplificar o processo de tomada de decisão. De acordo com Stoner (1998), modelos heurísticos podem aparecer de forma repetida na tomada de decisão: existe a tendência de que as pessoas julguem a possibilidade de que um evento ocorra com base em acontecimentos recentes e que estão mais acessíveis à memória. Portanto, pode haver a tendência de acreditar que eventos ocorridos, baseados na experiência pessoal, sejam frequentes. Por exemplo, um indivíduo que tenha sido afetado por uma enchente a qual tem previsibilidade de ocorrer uma vez a cada 50 anos, pode acreditar que tais fenômenos sejam frequentes e levar este fato em consideração nas suas decisões futuras. Em decorrência do processo heurístico, os autores reconhecem uma série de “armadilhas psicológicas”, às quais estamos sujeitos em face dos fatores que influenciam nossas decisões. Descreveremos a seguir algumas dessas “armadilhas” e que poderão ser úteis nas suas escolhas: 15 Armadilha de ancoragem: a população da Turquia é de 35 milhões de habitantes? Qual sua estimativa para a população da Turquia? A primeira pergunta pode provocar no entrevistado a tendência a responder a segunda pergunta tendo como referência o número indicado de 35 milhões, ou seja, um número próximo. Portanto, busque enxergar mais de uma perspectiva e busque informações que possam validar ou invalidar aquelas informações que foram colocadas à disposição no momento das escolhas. Armadilha do status quo: ocorre quando o indivíduo se depara com uma situação que não conhece e tende a prorrogar a tomada de decisão. Nesses casos, recomenda-se verificar se a prorrogação da decisão não compromete o resultado das escolhas que estão em xeque. Então, busque listar alternativas avaliando os pontos positivos e negativos de cada curso de ação e mantenha a calma para avaliar os reais riscos envolvidos no processo de escolha. Proteção de escolhas anteriores: seu carro quebrou e você tem a opção de consertá-lo ou vender e comprar um novo. Você optou pelo conserto, porém três meses depois novo problema ocorre. Qual decisão tomar? Às vezes, existe a tendência de persistir ou reproduzir decisões anteriores e, neste caso, a opção poderia novamente o conserto. No entanto, nem sempre essa poderá ser a decisão mais adequada, mas ela acaba sendo tomada somente para manter a coerência com decisões anteriores. Armadilhas estruturais, eventos dramáticos e a negligênciade informações relevantes: segundo Hammond, Keeney e Raiffa (1999), uma série de comportamentos humanos baseados em seu processo cognitivo pode determinar a escolha em um processo decisório e, em muitos casos, em direção oposta à melhor opção, ainda que esta seja a escolha desejada. Uma dessas armadilhas psicológicas consiste na tendência dos seres humanos de preverem as chances de que determinado evento ocorra com base em sua própria experiência. Dessa maneira, caso o indivíduo tenha experimentado situações extremas, como um acidente aéreo, por exemplo, haverá a tendência de que ele exagere ao afirmar a probabilidade de ocorrência desse evento, com base na sua própria experiência. 16 Para minimizar as consequências de tais comportamentos, os autores recomendam que, ao tentar prever ou estimar algo, deve ser examinado o maior número de informações estatísticas a respeito. Afirmam ainda que ignorar qualquer dado relevante pode causar uma compreensão errônea de um problema, conduzindo a um processo de escolha da decisão contrária àquela considerada ideal. TROCANDO IDEIAS Recentemente, o Brasil viveu um período de intensas manifestações de caminhoneiros, cansados das condições de trabalho a que estão sujeitos. O Governo teve de negociar com essa categoria de trabalhadores visando garantir a estabilidade nas estradas e também nas relações econômicas afetadas pelas paralisações. Na sua opinião, qual o papel das lideranças existentes entre os profissionais do transporte no planejamento dessas ações reivindicatórias? Como foi possível fazer com que tantos profissionais do transporte aderissem a esse movimento? NA PRÁTICA Vamos considerar que você é diretor de uma empresa e precisa decidir sobre a reformulação das operações de comercialização de produtos. Cabe a você a decisão sobre a estratégia de crescimento da empresa e uma das alternativas apresentada por sua equipe de marketing é a criação de divisões regionais nas cidades em que seu produto é pouco conhecido. Atualmente, o seu departamento de marketing apresenta uma estrutura enxuta com divisões ordenadas por processos: planejamento, comunicação, comercialização e pós- venda. Neste caso, você recomendaria uma mudança na estrutura em benefício das recomendações da equipe? Com base em que justificativa você tomaria sua decisão? Com base em aspectos discutidos no tema 4, relativo às estratégias de centralização e descentralização, posicione seu curso de ação. Alternativa 1: A mudança de estrutura por região é coerente com uma estratégia de expansão, portanto, se existem razões para expandir os negócios, essa pode ser uma alternativa. 17 Alternativa 2: Se a mudança representa uma iniciativa que pode comprometer os gastos da empresa ou, ainda, se a estratégia de expansão não é a mais adequada nesse momento, sem uma motivação clara para obtenção futura de retorno financeiro, cabe avaliar se essa é a melhor alternativa. FINALIZANDO Buscamos, até aqui, discutir aspectos que contemplam elementos que compõem a realidade interna das organizações e as dinâmicas sociais associadas. Assim, entendemos que o comportamento dos indivíduos se expressa tanto nas dinâmicas de interação das equipes quanto na ação das lideranças e, da mesma forma, o gestor é exigido em relação às decisões que toma, e todos esses aspectos merecem a atenção de quem pretende estudar o modo como as organizações empresariais funcionam. O comportamento individual, por sua vez, tem reflexos em dimensões mais amplas que afetam as organizações. A cultura organizacional, bem como sua estrutura hierárquica – de acordo com as quais se estabelecem as relações entre gerentes e subordinados – também podem ser afetadas pela influência de um líder ou pelas decisões tomadas por um executivo. Por isso, dimensões relacionadas ao comportamento individual podem ter reflexos em um escopo mais amplo da organização e essa complexidade de inter-relações deve fazer parte das preocupações daqueles que exercem a gestão organizacional. 18 REFERÊNCIAS BRAGA, N. O processo decisório em organizações brasileiras. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro. v. 21, n. 3, p.35-57. jul/set. 1987. HAMMOND, J. S. KEENEY, R. L. RAIFFA, H. Smart Choices: a Practical Guide to Making Better Decisions. Boston: Harvard Business School Press. 1999. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ROBBINS, S. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2010. STONER, J. A. F. FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC. 1999. VECCHIO, R. P. Comportamento organizacional. São Paulo: Cengage Learning, 2009. VERGARA, S. C. Gestão de pessoas. 6. ed. São Paulo: Atlas. 2006.
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