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Existem alguns princípios fundamentais contidos na Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, os quais alicerçam a atuação do conciliador (GABBAY, 2013, p. 50): Decisão Informada: é a garantia, às partes, para ser informadas dos acordos que serão efetuados ou dos procedimentos; Confidencialidade: é o sigilo das informações expostas, salvo autorização expressa das partes, afronta à ordem pública ou às leis vigentes, em que o conciliador e observadores não podem servir como testemunhas do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos; Princípio da Imparcialidade: em que o conciliador deverá agir com imparcialidade, sem preferências, ou seja, seus valores e conceitos não devem interferir nas posições das partes; Princípio da Independência e Autonomia: é a garantia dos conciliadores atuarem com liberdade, podem recusar, suspender ou interromper a sessão se não atenderem aos requisitos mínimos; Princípio do Empoderamento: em que o conciliador estimula a prática da autocomposição pelas partes, expondo seus benefícios; Princípio do Respeito à Ordem Pública e às Leis Vigentes: o conciliador adverte as partes para não pactuarem acordo ou procedam com atitudes que violem a ordem pública ou infrinjam as leis vigentes. 04. CARACTERISTICAS, MODELOS E TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 4.1. Características da mediação A mediação tem como objetivo a transformação do padrão de comunicação e relacionamento dos envolvidos, com o propósito de entendimento. Por isso, apresenta as seguintes características: Quanto ao processo É um processo participativo e flexível; É confidencial. Quanto à metodologia Trabalha parte a parte o problema a ser resolvido pelos próprios envolvidos (protagonismo); Não existe julgamento ou oferta de soluções. As saídas são encontradas no consenso das partes. Quanto aos aspectos comunicacionais • Devolve às pessoas o controle sobre o conflito; • Trabalha a comunicação e o relacionamento das partes A mediação constitui um instrumento formado por técnicas que impõe capacitação específica. (Lei n° 13.140/2015 – art. 9º e 11). Art. 9º. Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados – ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos 4.2 Tipos de mediação A mediação é um processo que facilita o diálogo e auxilia a construção de soluções cooperativas. Atualmente o processo de mediação privilegia as relações interpessoais, e por isso é importante que se perceba as particularidades de cada situação, considerando a natureza de cada conflito. De acordo com UCB (2009), temos os seguintes tipos de mediação: Mediação técnica: o processo de mediação técnica está associado a empresas. Nesse contexto, “os mediadores são geralmente técnicos recrutados por uma instituição que recebem formação específica e atuam em nome dessa instituição na mediação de conflitos”. (UCB, 2009). Os mediadores possuem formação específica (direito, psicologia e pedagogia) e muitos possuem vínculo empregatício. Mediação comunitária: esse processo aparece relacionado aos conflitos da comunidade. Os mediadores são membros da própria comunidade e muitas vezes recebem formação específica para atuarem nos processos de mediação. Mediação forense: refere-se aos processos de mediação realizados nas unidades do poder judiciário. Mediação penal: realizada em alguns países como forma de resolver problemas existentes nos presídios, como a superlotação carcerária. Mediação familiar: é o processo que oferece à família em crise, estrutura e apoio profissional para resolução dos conflitos com o mínimo de comprometimento da estrutura psicoafetiva de seus membros. É importante destacar que essas divisões são apenas didáticas, pois, na prática, muitas vezes os modelos se associam. Veja alguns exemplos hipotéticos: A Lei n° 13.140/2015 apresenta duas modalidades de mediação: Mediação judicial: mediação realizada por intermédio do poder judiciário, ou seja, acompanhada por ele, por meio de solicitação homologada; Mediação extrajudicial: mediação realizada fora do poder judiciário. 4.3 Modelos de mediação Enquanto os tipos apontam e reforçam os campos de utilização, os modelos se relacionam com diferentes aspectos teóricos-metodológicos (diferentes escolas), que servem de subsídio para a condução do processo de mediação. De acordo com Suares (1997 apud PADILHA) são três os modelos de mediação mais utilizados nos Estados Unidos: o Modelo Tradicional-Linear de Harvard, o Modelo Transformativo de Bush e Folger e o Modelo Circular-Narrativo de Sara Cobb. 4.3.1 Modelo tradicional-linear Esse modelo teve origem em Harvard e está focado na resolução de problemas ou na construção de um acordo. Está orientado para o passado, ou seja, o que levou a acontecer o conflito e como podemos resolver. A mediação é o processo para buscar este acordo. O mediador, nesse caso, dentro de um processo linear, claro, e em etapas pré-estabelecidas, apenas ajuda às partes a chegar em um acordo satisfatório para todos, dentro de um amplo espectro de atuação. Dentro dessa vertente, mediação é o termo genérico de toda intervenção de terceiro em um conflito, sendo o termo “conciliação” um objetivo natural do mediador. 4.3.2 Modelo transformativo Esse modelo foi criado a partir da teoria de Robert Bush e Joseph Folger e o objetivo não é única e exclusivamente o acordo, mas as diversas possibilidades advindas da mediação. Sua orientação é o futuro, ou seja, o que for estabelecido como solução auxiliará no futuro da relação entre as partes. Nesse modelo, diz-se que o acordo deixa de ser focado, passando a se focar nas próprias pessoas ou no tipo de conflito e colaborando para que as pessoas reconheçam, em si mesmas e no outro, necessidades, possibilidades e capacidade de escolha e de decisão, promovendo a transformação na relação e viabilizando, como consequência natural, o acordo. Para os adeptos desse modelo, há uma grande diferença entre o que seria conciliação e mediação, pois aquela seria o modelo centrado no acordo, e essa o modelo centrado nas pessoas ou no conflito. (arcos.org.br) 4.3.3 Modelo Circular Esse modelo criado por Sara Cobb busca unir os modelos tradicional-linear e transformativo, pois foca tanto nas relações das pessoas envolvidas no conflito, quanto no acordo. De acordo com o modelo, o conflito, as pessoas e o contexto (história) não podem ser vistos de forma isolada, mas sim de forma inter-relacionada. “Dentro dessa vertente, o pensamento sistêmico, a teoria das narrativas e o enfoque em redes sociais são as bases para a atuação do mediador”. 4.4 Técnicas de mediação Cada um dos modelos que você estudou no item anterior traz um conjunto de técnicas, alinhando a natureza do conflito ao foco que se propõe a alcançar, ao processo e a formação do mediador 4..4.1 Do modelo tradicional-linear Conforme Bispo, as técnicas utilizadas nesse modelo estão relacionadas aos quatro princípios de negociação de Harvard, que envolvem: Separação das pessoas do problema; Focalização dos interesses e não nas posições; Criação de opções para o benefício mútuo; e Utilização de critérios objetivos. Seguindo esses quatro princípios, o mediador deve: Analisar as partes envolvidas em relação à capacidade de cada uma, sua influência no ambiente, bem como observar qual o objeto da disputa, sua importância e possibilidade de resolução; Reforçar às partes que osinteresses de cada um(a) pode ser convergido em um meio-termo. As posições antagônicas, em geral, não sofrem declinação muitas vezes pelo simples orgulho ou teimosia; Sugerir que as partes cheguem a uma solução boa para ambas; Ponderar as possíveis soluções encontradas pelas partes, no sentido de que sejam possivelmente exequíveis e legais O mediador tem como funções facilitar o diálogo centrado no verbal e estabelecer a ordem a partir do caos de pensamentos, percepções e sentimentos. 4.4.2 Do Modelo transformativo As técnicas associadas ao modelo transformativo possibilitam o reconhecimento do outro como protagonista do processo. Sendo assim, buscam promover a análise conjunta da situação. O mediador motiva as partes para que juntas possam tomar decisões. 4.4.3 Modelo circular As técnicas utilizadas no modelo circular buscam a preservação do vínculo dos envolvidos, estimulam a reflexão sobre o conflito e a reação das partes envolvidas; Muitas vezes, o mediador modifica os significados de fatos ocorridos, para que as partes percebam as possibilidades para solução do conflito. Cabe observar nas técnicas descritas que, independente do modelo, o diálogo entre as partes é estimulado. Seja para rever as causas do conflito ou para verificar as possibilidades de soluções. De acordo com UCB (2009), autores mais contemporâneos apostam num modelo de mediação híbrido e flexível, no qual o mediador seja um facilitador, ou seja, o mediador guia as partes, buscando o equilíbrio de poder e o compartilhamento de responsabilidades, por meio dos processos de comunicação e cooperação para que as partes, em conjunto construam um acordo ou entendam o conflito. 5.2 Ações do mediador Por fim, oportuno o resumo apresentado por Francisco José Cahali sobre a atuação do mediador no processo da mediação, in verbais: (a) contato com os interessados, explicando o instituto, suas vantagens e desvantagens; (b) identificação das questões, baseando-se na técnica do looping, ou seja, questões circulares reflexivas; (c) reflexão sobre o exposto entre as partes; (d) identificação e sugestão, sem vinculação, pelas partes de possíveis soluções para o conflito (brainstorming); e (e) lavratura do termo final. Algumas das mais importantes entre as técnicas utilizadas na mediação de conflitos são: Escuta Ativa Nessa técnica, o mediador observa a linguagem verbal e não verbal das partes e tenta compreender informações relevantes, estimulando-as a expressar suas emoções e instigá-las a ouvir uma à outra. Assim, tenta estimular a validação dos seus sentimentos e o seu engajamento, a fim de apoiá-las na busca pela melhor solução para o conflito. Rapport Rapport é uma palavra de origem francesa que diz respeito a uma relação de empatia com o interlocutor. Portanto, trata-se de uma técnica que visa ganhar a confiança das partes, propondo um diálogo aberto e construtivo a fim de influenciar as partes a alcançarem a auto composição. Parafraseamento A técnica do parafraseamento consiste na reformulação, pelo mediador, de frases ditas pelas partes, a fim de sintetizá-las ou reformulá-las sem alterar seu conteúdo. O mediador se esforça em facilitar o entendimento do seu real significado às próprias partes, que ficam livres para captar novos significados nas proposições. Brainstorming Semelhante à técnica utilizada frequentemente no marketing jurídico, no brainstorming o mediador incentiva a criatividade das partes e busca capturar ideias que sejam viáveis para o caso em questão. Caucus Com esta técnica, o mediador realiza uma reunião privada com cada uma das partes separadamente, durante a fase de negociações, para oportunizar o estabelecimento de proximidade e confiança entre elas e o mediador. Além disso, essa técnica ainda pode ser usada para acalmar os ânimos, auxiliar no fluxo de informações, reunir informações úteis para a negociação e ajudar as partes a rever a força de seus casos. 5.3 Pré-Mediação 1) Quanto ao tema: o tema objeto da controvérsia pode ser objeto de mediação? 2) Quanto ao interesse: há efetivo interesse das partes em se submeterem à mediação com boa fé e busca do consenso? 3) Quanto ao trabalho do mediador: as partes aceitam o procedimento de mediação e o trabalho do mediador imparcial e independente, depositando confiança na sua escolha e atuação para contribuir com o procedimento da qual as partes serão as protagonistas na construção do consenso? Segundo o COMIMA, a pré-mediação normalmente cumpre os seguintes procedimentos: As partes deverão descrever a controvérsia e expor as suas expectativas; As partes serão esclarecidas sobre o processo da Mediação, seus procedimentos e suas técnicas; as partes deliberarão se adotarão ou não a Mediação como método de resolução de sua controvérsia; As partes escolherão o Mediador, nos termos do capítulo que poderá ser ou não aquele que estiver coordenando os trabalhos da entrevista. Na pré-mediação, portanto, as partes são esclarecidas de todos os princípios básicos que vão reger o procedimento: a) A imparcialidade do mediador, observado que podem depositar toda a confiança em seu trabalho; b) Isonomia entre as partes, sendo que todos são tratados com igualdade, com possibilidade de ambos falarem ao seu tempo; c) Oralidade; d) Informalidade, ressaltado que o procedimento é flexível, mas com organização dos trabalhos; e) Autonomia da vontade, sendo que as partes só permanecem na mediação se quiserem e só fazem acordo se entenderem que seus interesses foram atendidos; f) Busca do consenso; g) Confidencialidade, com sigilo de todas as informações trocadas que não poderão ser utilizadas como prova em juízo; h) Boa-fé. Diálogo: escuta ativa É necessário que se tenha uma visão positiva do conflito para facilitar a comunicação entre as partes. Se as partes utilizarem o impasse como um momento de reflexão e, portanto, de transformação, o conflito torna-se algo positivo. A mediação cria condições para convivência com as diversidades, possibilitando a realização de soluções pacíficas e acordos mutuamente compensadores, mas para que isso ocorra é necessário que as partes estejam dispostas a dialogar. A mediação não exige a fixação prévia de uma posição nem a formulação de um pedido; os envolvidos discutem os problemas que os envolvem com a preocupação de fixar seus interesses e não de determinar suas posições específicas. Ainda que as partes não cheguem à mediação com tal discernimento, caberá ao mediador alterar o rumo do diálogo, orientando-os para o campo de revelação dos problemas e dificuldades e compreensão dos interesses subjacentes. Buscando acordos e compromissos Não resta dúvida que a mediação se apresenta como vigoroso instrumento para a pacificação e solução de conflitos em quase todas as áreas do direito, desde que se trata de direitos disponíveis. Segundo estudos apresentados por especialistas, são inúmeros os benefícios e vantagens que podem ser alcançados pela mediação, tais como: redução do desgaste emocional e do custo financeiro; construção de soluções adequadas às reais necessidades e possibilidades dos interessados; maior satisfação dos interessados envolvidos; maior rapidez na solução de conflitos, quer pessoais, familiares ou de negócios; desburocratização na solução de conflitos, uma vez que impera a informalidade nas sessões de mediação ou conciliação; possibilidade da solução do litígio por profissional escolhido pelos interessados, conforme a natureza da questão e a garantia de privacidade e sigilo. É essa ideia de equilíbrio e harmonia que se transporta para o ambiente das relações sociais, com efeitos jurídicos quando se fala em mediação nos conflitos consumeristas entre particulares e empresas. Uma vez conciliadas às partes, após vasta oportunidade para propostas e contrapropostas, estará solucionado mais um conflito de interesses, e as partes estarão mais satisfeitasdo que se fosse por meio da imposição compulsória de uma sentença. Na verdade, verifica-se que em todas as regras atinentes à mediação busca a nova lei estimular a autocomposição e determinar uma mudança de postura de todos os sujeitos do processo no intuito de fazer com que a solução amigável do conflito de interesses passe a ser a regra e não a exceção, como infelizmente se constata nos dias de hoje. Desta forma a MEDIAÇÃO torna-se grande instrumento para a pacificação de conflitos, onde não haverá mais um ganhador ou um perdedor e sim uma solução ao que seria uma lide.
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