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Produtos naturais bioativos
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de branco à amarelo-claro (Lima et al., 2000). França (2003) relata que a planta medicinal só pode ser considerada um medicamento quando usada corretamente, podendo ser incluída na farma- Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 31Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 31 18/11/2016 23:02:3318/11/2016 23:02:33 32 LOURDES CAMPANER DOS SANTOS • MAYSA FURLAN • MARCELO R. DE AMORIM (ORGS.) copeia. Para isso são necessários diversos estudos, desde os farmacológicos, pré-clínicos e toxicológicos, até o estudo químico visando ao isolamento e à caracterização do princípio ativo. Nesse sentido, medicamentos como a morfina, os digitálicos, a quinina e as estatinas foram desenvolvidos direta e indiretamente de fontes naturais. Com relação aos alcaloides, Gellert et al. (1978) observaram a presença de alcaloides em Brunfelsia hopeana. Mors e Ribeiro (1957) realizaram estudos que evidenciam que a maioria das espécies do gênero Brunfelsia possui alguns grupos de alcaloides, como a escopoletina (6-metoxi-7-hi- droxicoumarina), também encontrada em outras famílias (Carvalho et al., 2006; Pinto et al., 2008; Razavi et al., 2008). Martins et al. (2008) relatam que o perfil cromatográfico obtido para o extrato metanólico de folhas de Hydrocotyle umbellata indica a presença de flavonoides e provavelmente de substâncias acetilênicas. A análise do óleo essencial de Hydrocotyle umbellata, que é uma espécie da família Araliaceae, revelou a presença de isotiocianatos como um dos componentes principais (Lorenzi, 2002), mas Martins et al. (2008) relataram a presença de triterpe- nos, saponinas, flavonoides, compostos poliacetilênicos e leucoceramidas nessa planta importante para dunas, mas invasora de gramados. Corsi e Bottega (1999), trabalhando com Salvia officinallis, localizaram um tipo de tricoma glandular peltado e quatro capitados, sendo que todos secretavam alcaloides, embora houvesse aqueles de cunho provavelmente lipofílicos e outros hidrofílicos. As cumarinas estão presentes em diferentes partes das plantas, tanto nas raízes como nas flores e frutos, e podem estar distribuídas em diferentes famílias de Angiospermas, como Apiaceae, Rutaceae, Asteraceae (Ribeiro; Kaplan, 2002; Taleb-Contini et al., 2006). Corrêa et al. (2008) relata que uma das primeiras classes de substâncias broncodilatadoras foi inicialmen- te descoberta nas folhas de Hyoscyamus muticus (Solanaceae). Os antigos egípcios utilizavam a espécie no combate aos sintomas da asma, sendo seu princípio ativo a escopolamina. Da mesma forma, o gênero Datura (Sola- naceae) foi utilizado na Índia, durante séculos, no tratamento de desordens respiratórias, incluindo a asma. A atividade observada está relacionada aos alcaloides tropânicos, característicos da família Solanaceae, principalmente à presença de atropina, um bloqueador de receptores muscarínicos de fibras colinérgicas. De acordo com Gobbo-Neto e Lopes (2007), a cumarina é a Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 32Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 32 18/11/2016 23:02:3318/11/2016 23:02:33 PRODUTOS NATURAIS BIOATIVOS 33 responsável pela palatibilidade da Artemisia sp, Asteraceae e pela reflexão de luz dessa planta, atuando como uma molécula de grande importância ecológica. Bienvenu et al. (2002), trabalhando com extratos aquosos de Leonotis leonurus (Lamiaceae), identificaram a presença de alcaloides, saponinas e taninos. Hypericum perforatum, Clusiaceae, bem como Ambrosia trifida, Asteraceae, apresentam estruturas glandulares tubulares contendo pro- antocianinas, fenólicos e cafeína, relatam Fornasiero et al. (1998). Ainda considerando as Asteraceae, no gênero Vernonia, Freire et al. (2002) encon- traram terpenos, flavonoides, poliacetilênicos, lactonas comovernolipina, tiarubrina, brevipenina e outras. Trabalhando com folhas e rizomas de Hedychium coronarium, Zingibe- raceae, Martins et al. (2010) evidenciaram a presença de saponinas, com formação de espuma abundante e persistente e ausência de taninos, antra- quinonas, alcaloides e flavonoides, resultado semelhante ao de Duarte et al. (2002). Além disso, os autores descrevem a presença de proantocianidinas no rizoma, caules e folhas, e de tripertenoides no rizoma da planta. Considerações finais As estruturas secretoras vegetais são compartimentos especiais que sin- tetizam e/ou armazenam substâncias com propriedades medicinais. Essas estruturas podem ser externas à epiderme (tricomas secretores ou glândulas secretoras de diversas morfologias) ou internas no tecido vegetal (canais ou ductos secretores e laticíferos). O estudo das estruturas secretoras identifica o local de biossíntese na planta, além de esclarecer a morfologia estrutural da glândula, o período da ocorrência da secreção e a melhor época de colheita para extração farmaco- lógica ou medicinal. Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 33Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 33 18/11/2016 23:02:3318/11/2016 23:02:33 Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 34Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 34 18/11/2016 23:02:3318/11/2016 23:02:33 2 Botânica, fitoquímica, cultivo e melhoramento genético de Lippia alba (Mill.) N. E. Br. (Verbenaceae) Lin Chau Ming Polyana Erhlet Walter José Siqueira Márcia Ortiz Mayo Marques Introdução A procura do mercado mundial por produtos de origem natural, em substituição aos sintéticos, aumenta consideravelmente ano após ano. Se- gundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2006 o Brasil exportou 29.276.415 kg (peso líquido) de óleo essencial, por um valor de US$ 78.124.202 (FOB), e importou no mesmo período 2.169.591 kg (peso líquido), por US$ 36.827.140 (FOB) (Sistema Alice-Se- cex). Esses números têm despertado o interesse da comunidade científica, que está cada vez mais organizada para desenvolver estudos de novos óleos com vistas a futuras exportações O Brasil está incluído no grupo dos países com altos níveis de diver- sidade biológica, decorrência dos diferentes biomas e ecossistemas que o caracterizam. Detém a maior diversidade genética vegetal do mundo, com importante potencial de desenvolvimento socioeconômico para o país na produção de corantes, óleos vegetais, gorduras, fitoterápicos, antioxidantes e óleos essenciais. Industrialmente os óleos essenciais e/ou produtos deri- vados são empregados como matérias-primas nas indústrias de higiene e limpeza, alimentos e bebidas, cosmética e farmacêutica, razão pela qual têm despertado o interesse da comunidade científica no avanço de conhecimen- to e desenvolvimento de novos óleos essenciais da biodiversidade brasileira. Lippia alba (Mill.) N.E. Br. é uma planta da família Verbenaceae, ori- ginária da América do Sul e de ampla distribuição no Brasil, sobretudo na região Centro Sul, onde a Mata Atlântica foi tão abundante. O uso popular de L. alba para fins terapêuticos representa o ponto de partida para futuro Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 35Miolo_Produtos_naturais_bioativos_(GRAFICA)-v3.indd 35 18/11/2016 23:02:3318/11/2016 23:02:33 36 LOURDES CAMPANER DOS SANTOS • MAYSA FURLAN • MARCELO R. DE AMORIM (ORGS.) uso fitoterápico da espécie, bem como para síntese de compostos bioativos na área farmacêutica. Seu óleo essencial apresenta diversos quimiotipos, sendo que os designados linalol, citral e carvona são os mais consagrados em literatura científica. Apesar da enorme importância socioeconômica e do valor agregado, es- tudos de variabilidade genética vinculada às análises de perfil fitoquímico, bem como de outros aspectos, como morfologia, biologia, reprodução, pra- gas, doenças e, principalmente, trabalhos de melhoramento genético, são ainda muito incipientes no Brasil. Nesse sentido, visando suprir essa lacuna de informação,