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Análise do texto "Rapidez de Ítalo Calvino

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Letras – ILE
Curso: Letras – Inglês\ Literaturas
Disciplina: Prática de Interpretação de Textos I – 2016.2
Aluna: Júlia Apolinário Canelhas
Matrícula: 201620585411
Análise do texto ”Rapidez“ de Ítalo Calvino
Antes de entrar especificamente em “Rapidez”, eis uma contextualização do livro inteiro de Calvino: em “As seis propostas para o próximo milênio”, Ítalo Calvino explica, exemplifica, analisa e discorre sobre 5 termos – apesar de no nome serem 6 - para as gerações futuras. São eles: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade. O nome do livro anuncia 6 propostas, mas apenas 5 foram publicadas pois Calvino faleceu e não chegou a escrever a sua última proposta: consistência. Na obra, o autor fala sobre temas bem atuais, considerados virtudes e valores do ser humano para Ítalo, e por isso, precisavam sem explicitados e dados a devida importância. Tais textos, hoje em dia, são considerados visionários já que foram escritos em 1985 e ainda sim dizem muito sobre nossa época. As 5 propostas podem ser lidas a qualquer momento da história, pois sempre farão sentido para o leitor, posto que são temas universais que envolvem e fazer parte da vida de todos.
Ítalo começa “Rapidez” com uma lenda escrita pelo romântico francês Barbey d’Aurevilly, achado dentro de um caderno de anotações do autor. A lenda conta a história de um imperador chamado Carlos Magno, que se apaixona por uma donzela alemã. Quando a jovem morre, o imperador manda embalsamá-la e colocá-la em sua câmara, para nunca se separar dela. Porém, um arcebispo desconfiou que isto seria resultado de algum tipo de feitiçaria e, por isso, pediu para examinarem o cadáver. Um anel, feito com pedra preciosa, foi encontrado pelo arcebispo, e assim que foi parar nas mãos do arcebispo, Carlos Magno transferiu seu amor para ele. Após isso, Turpino (o arcebispo) atirou o anel no lago, para então o imperador se apaixonar pelo lago e assim nunca mais sair das margens dele. Calvino explica que o que faz este tipo de conto ou lenda nos fascinar é a sucessão de fato que ocorrem na narrativa: a paixão de um homem experiente por uma moça jovem; uma fixação com o corpo morto da moça; uma tendência homossexual; e no final, o vício do imperador pelo lago. Todos estes acontecimentos prendem a atenção, por não serem tão comuns em grande parte das narrativas.
Apesar de, no começo, parecer que o protagonista da lenda é o imperador Carlos Magno, ao terminar a leitura, é nítido que o verdadeiro personagem principal é o anel mágico, que obtém magia negra e leva consigo o amor do imperador, para onde o anel for. Por isso, é ele que define as ações de todos os outros personagens e que constitui uma relação entre eles. Além disso, o anel mágico explicita essa correlação não só entre as figuras das histórias, mas entre os acontecimentos também. Geralmente, a partir do momento que um objeto desse tipo aparece, ele vem com uma força especial dentro dele que modifica, de algum modo, toda a trajetória do conto, e esse simbolismo por trás de tais utensílios pode ser aparente ou não.
A lenda foi estudada pelo escritor e erudito francês Gaston Paris, que era famoso por analisar tradições medievais. Nestas análises e construção de novas interpretações, Gaston trata a paixão do imperador Carlos Magno de muitas formas diferentes, mas em nenhuma delas há a cadeia de fatos que existe na versão de Barbey d’Aurevilly. A narrativa também foi interpretada por Francisco Petrarca, que também não agradou Ítalo Calvino, pois de acordo com ele: “nas versões literárias de Petrarca e dos escritores do Renascimento falta rapidez”.
A rapidez com que os fatos são tratados fazem muita diferença em um enredo. O tempo narrativo pode ser retardador, cíclico ou imóvel, de acordo com Calvino. O autor compara o ritmo de acontecimentos de uma narrativa com as rimas de uma poesia ou canção, e esse ritmo e rapidez com que as coisas acontecem é explicitada na sucessão de eventos relacionados da lenda, tornando esta a eficácia da narração.
Calvino após, cita uma fábula italiana, que conta a história de um rei doente e que precisa da pena de um ogro em uma caverna para se curar. Os fatos da fábula são apenas contados sem a preocupação de explicar o porquê ou a função de cada acontecimento, porém apesar de não estarem explícitos, estão na história. Com isso, o autor conclui que a principal característica de um conto popular é a economia de expressão: os fatos são relatados de forma sucinta, evidenciando apenas o essencial para o leitor, e às vezes deixando implícitas as considerações mais profundas e detalhistas.
Em seguida, é esclarecida a questão da relatividade do tempo de uma narração e para exemplificar o tema, Ítalo Calvino menciona o conto popular “A bela adormecida”. Neste conto, a duração de tempo corre em diferentes maneiras para alguns personagens. Para a protagonista, o espaço de tempo dura horas, sendo comparada à uma noite de sono; enquanto para o resto das figuras da lenda, passaram-se anos. A relação entre o tempo real e o tempo psicológico sempre haverá em qualquer trama, e citando Calvino em “Rapidez”: “a relatividade do tempo aparece como (...) a viagem de ida ao além, que parece durar apenas horas para quem a realiza, ao passo que, na volta, o ponto de partida se torna irreconhecível porque se passaram anos e anos”. Assim, como explicado pelo autor, a passagem do tempo pode ser tão distinta em cada ponto de vista dos personagens, que pode até deixá-los confusos com o que está acontecendo em sua própria história.
O início da discussão sobre a era da velocidade, tanto nos transportes como na informação, se deu com “The English main-coach” de Thomas De Quincey, escrito em 1849 mas já com uma informação muito vasta e além desse tempo. Desde esta época, De Quincey já havia entendido tudo que se sabe atualmente sobre o mundo motorizado e sobre velocidade. Nesta obra, Thomas descreve uma viagem à noite entre dois veículos, indo um em direção ao outro, fatalmente resultando em uma colisão catastrófica e inevitável, como diz Calvino em “Rapidez”. Para explanar o que estava prestes a acontecer, De Quincey fala “entre eles a eternidade, conforme toda estimativa humana, não mais do que um minuto e meio”, e também “o primeiro passo tinha sido o meu; o segundo competia ao moço; o terceiro, a Deus”. Após isso, descobre-se que o choque entre dos dois veículos não ocorre, e o autor de “The English main-coach” dá graças a Deus por isso. O que mais importa, entretanto, é a relação que é feita entre a velocidade física e a velocidade mental. É como a passagem do tempo: para cada um, a velocidade mental é passada de uma forma diferente, dependendo de fatores como emoções e pensamentos no momento do ocorrido. Para todos, a velocidade física foi a mesma, mas a mental não.
Essa relação entre velocidades despertou interesse de Giacomo Leopardi. Ele escreveu “Zibaldone”, que fala sobre a velocidades dos cavalos, e associa isso à vida humana, além de fazer diversas reflexões acerca de velocidade. De acordo com Giacomo, a euforia das ideias coexistentes pode ser resultante de palavras isoladas, em seu sentido conotativo ou denotativo, por sua combinação na sentença ou então simplesmente pela retirada de outros vocábulos ou frases.
Esta associação da rapidez de cavalos com a da vida humana foi primeiramente feita por Galileu Galilei, em “Saggiatore”. No livro, ele discute – além da metáfora das velocidades dos cavalos - sobre raciocínio dedutivo, o qual ele chama de “discorrer” ou “discurso”. Conforme Ítalo Calvino diz sobre o estilo literário de Galilei: “(...) a rapidez, a agilidade do raciocínio, e economia de argumentos, mas igualmente a fantasia dos exemplos são para Galileu qualidades decisivas do bem pensar”. Galileu Galilei também pensa no conceito de raciocínio instantâneo, que para o autor tem total relação com a mente de Deus, e por isso nunca deve ser desrespeitado ou considerado inexistente, por esse raciocínio ser infinitamentesuperior ao raciocínio humano.
Em sequência, chegando num tópico mais atual, Calvino entra na questão da época mais digital e midiática, e sua relação com a função da literatura na atualidade. O escritor fala que a comunicação está arriscada de ser diminuída pelo fato das informações correrem numa rapidez extremamente espantosa e com um raio de causas e consequências bem amplo. Por isso, a aplicabilidade e missão da literatura nesse mundo vigente é justamente promover comunicação entre tudo que é diverso e vasto, enaltecendo as variações da própria linguagem escrita.
Retomando à questão do mundo motorizado, Ítalo Calvino fala que foi imposta a velocidade com um valor que não se pode medir, assim como a rapidez mental. A agilidade mental vale por si mesma, por trazer o sentimento de puro prazer àqueles que são sensíveis a tê-lo, e nunca pelo uso experimental que se pode tirar dela. Calvino também explica que o pensamento ágil não é necessariamente melhor que o pensamento sensato, mas que a ligeireza – ou a falta dela – é proposital e anuncia algo singular e especial. Em conclusão, é dito que “a rapidez (...) de pensamento quer dizer antes de mais nada agilidade, mobilidade, desenvoltura; qualidades essas que se combinam com uma escrita propensa às divagações (...)”.
Por conseguinte, baseado no especialista em escrita breve Jorge Luis Borges e também em seu seguidor e escritor Herbert Quain, Ítalo Calvino faz alusão mais uma vez à função da literatura nos dias de hoje. Para ele, a necessidade de literatura é urgente e precisará objetivar na mais alta concentração da poesia e também no pensamento lógico, uma vez que os tempos presentes cada vez mais se configuram de forma congestionada e incapaz de possibilitar tempo para pensamentos fundamentados.
Finalmente, como iniciou o texto, Calvino também fecha com uma história, agora de origem chinesa. A lenda conta a história de Chuang-Tsê, um homem com habilidades estupendas para desenhos. Um dia, o rei pediu para que Chuang desenhasse um caranguejo, mas ele rebateu que precisaria de 5 anos e 12 empregados para conseguir fazer tal desenho. Assim foi feito. O rei concedeu os 5 anos para que Chuang pudesse terminar seu trabalho. Ao final desses anos, o rei voltou para pegar o que pediu, mas Chuang disse que precisaria de mais 5 anos, e o rei mais uma vez concordou. No décimo ano, Chuang-Tsê pegou o pincel e em instantes desenhou o caranguejo, considerado o mais perfeito que já se viu. Assim, fica evidenciado que, na verdade, os 10 anos que Tsê utilizou foram para imaginar como seria o melhor e mais perfeito caranguejo da face da terra; ele necessitou desse tempo para pensar em como poderia proporcionar o melhor desenho possível ao rei.
Em suma, é evidenciado e aclarado então que a rapidez é uma proposta essencial e extremamente recorrente em muitos campos da vida humana.
Referência Bibliográfica:
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

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