Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2019 AnAtomorfofisiologiA do sistemA digestório, endócrino, urinário e reprodutor Prof. Fábio Rodrigo Mesquita Borges Prof. Anderson Savaris Ribas 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof. Fábio Rodrigo Mesquita Borges Prof. Anderson Savaris Ribas Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B732a Borges, Fábio Rodrigo Mesquita Anatomorfofisiologia do sistema digestório, endócrino, urinário e reprodutor. / Fábio Rodrigo Mesquita Borges; Anderson Savaris Ribas. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 200 p.; il. ISBN 978-85-515-0353-9 1. Sistema digestório. - Brasil. 2. Sistema endócrino. – Brasil. 3. Sistema urinário. – Brasil. 4. Sistema reprodutor. – Brasil. I. Ribas, Anderson Savaris. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 612 III ApresentAção Caro acadêmico, como você poderia conceituar a vida? Seria o simples ato de respirar? Seria como sentimos e interagimos com o mundo? Seria como nos nutrimos e obtemos energia? O entendimento da vida, como a conhecemos, é algo complexo e desafiador que cada vez mais se busca elucidar. As perguntas anteriores são apenas algumas das questões que cercam a vida e tentaremos entender, neste Livro Didático, de maneira direta e clara. Obviamente, para elucidarmos estes questionamentos precisamos saber de que forma nosso organismo, formado por órgãos e sistemas, se organiza e trabalha de maneira cooperativa visando o pleno funcionamento desta maravilhosa “máquina”. Sendo assim, vamos dividir nosso livro em unidades que visam, justamente, facilitar a compreensão destes intrincados processos. Na Unidade 1, você irá compreender como funciona o sistema digestório, quais os caminhos percorridos pelo alimento que ingerimos diariamente e como ele será absorvido e transformado na energia utilizada por nossas células. Nesta unidade, seremos capazes de entender, além da anatomia do sistema digestório, os mecanismos bioquímicos envolvidos nesta transformação de alimentos em energia. Na Unidade 2 entenderemos como está formado o nosso sistema urinário e reprodutor. Nesta unidade, seremos capazes de analisar, além da forma como o nosso sistema urinário se organiza, a importância do sistema renal na manutenção da vida, bem como os mecanismos hormonais e bioquímicos envolvidos na diferenciação sexual e na reprodução. Por fim, na Unidade 3, iremos elucidar como os hormônios operam de maneira geral e como são responsáveis por diversas características físicas e comportamentais dos seres humanos. Vamos lá, entender a fantástica máquina humana? Desejo a você uma agradável leitura! Bom estudo! Fábio Rodrigo Mesquita Borges Anderson Savaris Ribas IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – SISTEMA DIGESTÓRIO ............................................................................................ 1 TÓPICO 1 – ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO ............................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ÓRGÃOS CONSTITUINTES DO SISTEMA DIGESTÓRIO ...................................................... 4 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 21 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 – FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO .............................................................. 25 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25 2 MECANISMOS FISIOLÓGICOS DO SISTEMA DIGESTÓRIO .............................................. 25 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 – SECREÇÃO ENZIMÁTICA, DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO TRATO DIGESTÓRIO .......................................................... 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 BIOQUÍMICA, SECREÇÃO ENZIMÁTICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO TRATO DIGESTÓRIO ................................................................................................................. 39 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 59 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 66 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 67 UNIDADE 2 – ANATOMORFOFISIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO E REPRODUTOR ................................................................................... 69 TÓPICO 1 – ANATOMIA DO SISTEMA URINÁRIO E REPRODUTOR ................................... 71 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71 2 ANATOMIA DO SISTEMA URINÁRIO ......................................................................................... 71 3 ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO .......................................................... 78 4 ANATOMIA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO ...................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 90 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 91 TÓPICO 2 – FISIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................93 2 FUNÇÃO RENAL E FORMAÇÃO DA URINA ............................................................................. 93 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 118 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 119 TÓPICO 3 – FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO E MASCULINO .......................................................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 121 2 EMBRIOGÊNESE E FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO .................... 122 3 EMBRIOGÊNESE E FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO ............... 133 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 139 sumário VIII RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 147 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 148 UNIDADE 3 –ANATOMORFOFISIOLOGIA DO SISTEMA ENDÓCRINO ............................. 151 TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO SISTEMA ENDÓCRINO ........................... 153 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 153 2 ANATOMIA DO SISTEMA ENDÓCRINO .................................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 157 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 158 TÓPICO 2 – BASES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA ENDÓCRINO ........................................... 159 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159 2 HORMÔNIOS E SUAS CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS ................................................ 159 3 O SISTEMA HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE E O CONTROLE DO SISTEMA ENDÓCRINO .. 163 3.1 HORMÔNIOS DA NEURO-HIPÓFISE ........................................................................................ 166 3.2 HORMÔNIOS DA ADENO-HIPÓFISE ........................................................................................ 167 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 173 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 174 TÓPICO 3 – OS HORMÔNIOS E SEUS EFEITOS ........................................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 175 2 OS HORMÔNIOS DA TIREOIDE .................................................................................................... 175 2.1 SÍNTESE E SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE ................................................... 176 2.2 EFEITOS DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE SOBRE OS SISTEMAS CORPORAIS ............ 181 2.3 A REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS ............................. 182 3 HORMÔNIOS PANCREÁTICOS ..................................................................................................... 184 3.1 INSULINA, GLUCAGON E CONTROLE GLICÊMICO ........................................................... 186 4 OS HORMÔNIOS SEXUAIS MASCULINOS ................................................................................ 188 5 DEMAIS HORMÔNIOS DO ORGANISMO ................................................................................. 193 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 194 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 196 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 197 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 199 1 UNIDADE 1 SISTEMA DIGESTÓRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a anatomia do sistema digestório; • compreender a fisiologia do sistema digestório; • elucidar os processos bioquímicos envolvidos na digestão dos macronutrientes; • elucidar os processos bioquímicos envolvidos na absorção dos macronutrientes. Esta unidade está dividida em três tópicos, no decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO TÓPICO 2 – FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO TÓPICO 3 – SECREÇÃO ENZIMÁTICA, DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO TRATO DIGESTÓRIO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, seja muito bem-vindo a esta fantástica viagem por nosso organismo! Vamos começar entendendo como está organizado o nosso sistema digestório. Tenho certeza que você possui preferência por certos alimentos, correto? Aposto, porém, que você nunca parou para pensar no caminho que estes alimentos percorrem em nosso organismo até serem absorvidos e os restos, não absorvidos, serem eliminados, não é mesmo? Neste tópico, vamos entender o longo caminho que nosso alimento percorre, desde a entrada na boca, como ele é absorvido e transformado em energia, até a eliminação dos restos não aproveitados após a digestão, pelo nosso sistema digestório. Vale lembrar que não somente a energia, que citamos anteriormente, mas o sistema digestório também é responsável por nos suprir de água, vitaminas e eletrólitos (GUYTON; HALL, 2017). Obviamente, essa extração de energia e nutrientes não é um processo simples, mas altamente complexo e regulado por neurotransmissores, enzimas, hormônios e movimentos peristálticos, além da participação da circulação sanguínea. Vamos iniciar o estudo do sistema digestório? UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 4 2 ÓRGÃOS CONSTITUINTES DO SISTEMA DIGESTÓRIO FIGURA 1 – ÓRGÃOS DO SISTEMA DIGESTÓRIO FONTE: Guyton e Hall (2017, p. 772) De maneira geral, a Figura 1 demonstra o caminho que o alimento percorre em nosso organismo antes de virar a energia da qual tanto precisamos. Vamos analisar com calma a anatomia de cada um destes componentes de nosso sistema digestório. Primeiramente, você faz a ingestão do alimento pela boca. Vamos olhar a fi gura a seguir para entendermos um pouco melhor como é formada a nossa boca: Glândula parótida Boca Esôfago Estômago Pâncreas Jejuno Cólon descendente Íleo Ânus Glândula salivares Fígado Vesícula biliar Duodeno Cólon transverso Cólon ascendente TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 5 FIGURA 2 – ESTRUTURA DA BOCA (CAVIDADE ORAL) FONTE: Adaptado de Tortora e Derrickson (2016) A boca, ou cavidade oral propriamente dita, é formada pelas seguintes estruturas: bochechas, palato duro e mole e a língua. Estas estruturas podem ser vistas na Figura 2. De acordo com os anatomistas é descrita como a cavidadeoval que liga o tubo digestório e o meio externo (TORTORA; DERRICKSON, 2016). A língua, como você bem sabe, possui diversas funções não só no processo de mastigação e deglutição, como também no processo de fonação (produção da voz) e processamento dos sinais gustatórios. Outras estruturas extremamente importantes no processo de mastigação e trituração do alimento são os dentes. No adulto os dentes são em número de 32, sendo oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e 12 molares (TORTORA; DERRICKSON, 2016). NOTA Os dentes são órgãos do corpo humano de consistência dura, natureza calcária e cor branca. Os dentes estão localizados na boca e fixados à mandíbula. A principal função dos dentes é realizar a mastigação dos alimentos. Os dentes são classificados de acordo com a posição e a função. Desta forma, temos: PALATO DURO (ósseo, que forma a maior parte do céu da boca. PALATO MOLE (muscular, que forma o restante do céu da boca. ÚVULA, que impede que o alimento ingerido entre na cavidade nasal. BOCHECHA, que forma a parede lateral da cavidade oral. CANINOS, que rasgam os alimentos. INCISIVOS, que cortam os alimentos. VESTÍBULO DA BOCA, o espaço entre as bochechas, lábios, gengivas e dentes. PRÉ-MOLARES, que esmagam e trituram os alimentos. MOLARES, que trituram os alimentos. Lábio superior (puxado para cima). FRÊNULO DO LÁBIO SUPERIOR, que insere o lábio superior à gengiva. Gengiva. FAUCES, que é a abertura entre a cavidade oral e a parte oral da faringe.. Arco palatoglosso. Arco palatofaríngeo. Tonsila palatina (entre os arcos). LÍNGUA (puxada para cima), que forma o assoalho da boca, manipula alimentos para mastigar e engolir, modela alimentos e sente gostos. FRÊNULO DA LÍNGUA, que limita o movimento da língua posteriormente. Abertura do ducto de glândula submandibular. GENGIVA, que cobre os soquetes dos dentes e ajuda a ancorá-los. FRÊNULO DO LÁBIO INFERIOR, que insere o lábio inferior à bochecha. Lábio inferior (puxado para baixo). Vista anterior UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 6 • Incisivos: dentes situados na parte anterior da boca e servem para cortar os alimentos. • Caninos: possuem formato pontiagudo e servem para rasgar os alimentos. • Pré-molares e molares: possuem a função de triturar os alimentos e localizam- se na porção posterior da boca. Os seres humanos possuem, na sua primeira dentição, 20 dentes de leite, também chamados dentes decíduos, sendo este o primeiro conjunto de dentes que aparece em humanos (10 dentes na parte superior e 10 dentes na parte inferior). Após os 6 anos, os dentes de leite começam a cair e surge a dentição permanente. Esta é formada por 32 dentes (16 dentes superiores e 16 dentes inferiores). Desta forma, o ser humano possui quatro incisivos, dois caninos, quatro pré-molares e seis molares na parte superior e a mesma quantidade na cavidade inferior (TORTORA; DERRICKSON, 2016). FIGURA 3 – DENTES FONTE: Adaptado de Netter (2015) Bom, uma vez que o alimento chegue à boca, é triturado pelos dentes e misturado à saliva, o mesmo passa a ser chamado bolo alimentar, e você precisa degluti-lo, certo? Quando se inicia este processo, uma série de eventos voluntários e involuntários que visam fazer com que você não se engasgue com o alimento, visto que tanto o processo de deglutição quanto o processo de respiração compartilham uma estrutura em comum: a faringe. Fossa incisiva Incisivos laterais Caninos 1º pré-molares 2º pré-molares 1º molares 2º molares 3º molares Processo p a l a t i n o do maxilar Lâmina horizontal do osso palatino Forame palatino maior Forame palatino menor Dentes permanentes inferioresDentes permanentes superiores Incisivos centrais TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 7 Vamos ver como isso acontece: • Fase oral (voluntária): esta fase voluntária tem como principal estrutura a língua que é capaz de empurrar o alimento do seu ápice para trás, levando o bolo alimentar a ser pressionado contra o palato duro; desta forma, o bolo alimentar é forçado em direção a faringe, onde ocorre a estimulação de receptores táteis que começarão o processo de deglutição. • Fase faríngea (involuntária): uma vez que o bolo alimentar estimula os receptores faríngeos, ocorre uma sequência de eventos muito rapidamente (menos de um segundo), e que culminam com a inibição, de maneira refl exa, da respiração. • Fase esofagiana (involuntária): por último, esta fase leva o bolo alimentar do esôfago ao estômago através de movimentos peristálticos, muito rapidamente, fazendo com que o bolo alimentar percorra todo o esôfago em menos de dez segundos. Você deve estar pensando: mas o que são movimentos peristálticos? Como isso ocorre? Veremos no próximo tópico! FIGURA 4 – PROCESSO DE DEGLUTIÇÃO FONTE: Adaptado de Windmaier (2013) Após a deglutição, o bolo alimentar chega ao esôfago. O esôfago é um órgão tubular oco, com aproximadamente 25cm de comprimento, que se estende desde a vértebra cervical de número 6 (C-6) até a junção gastroesfofágica localizada ao nível da vértebra torácica número 11 (T-11), cuja principal função é levar o alimento ao estômago. Com relação à histologia deste órgão, temos as seguintes camadas celulares: UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 8 O esôfago possui a camada mucosa (camada formada por epitélio de revestimento associado a tecido conjuntivo), que reveste internamente as cavidades corpóreas, formada por epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, lâmina própria (constituída de tecido conjuntivo frouxo) e túnica muscular da mucosa (formada por músculo liso). No terço superior esofágico temos uma camada muscular esquelética, no terço médio deste órgão temos a presença de células musculares esqueléticas e lisas, já no terço inferior, temo somente a presença de células lisas. A camada submucosa do esôfago é formada por tecido conjuntivo frouxo e glândulas mucosas (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Você pode ver estas estruturas em lâminas de histologia, acessando o link: http://bit.ly/32dIay8. As figuras a seguir demonstram a estrutura do esôfago e sua localização anatômica que vai desde a região cervical até o abdômen: FONTE: Adaptado de Netter (2000) FIGURA 5 – ESTRUTURA DO ESÔFAGO 0 16 C o n s t r i ç ã o cricofaringea Constrição da aorta Esfíncter sofágico inferior Parte cárdica do estômago Fundo do estômago Diafragma Brônquio principal esquerdo Aorta Traquéia Músculo cricofaríngeo Cartilagem cricóide Cartilagem tireóide Recesso piriforme Epiglote Orofaringe Dentes incisivos Extenção média em centímetros 23 40 38 DICAS TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 9 FIGURA 6 – ESÔFAGO FONTE: Adaptado de Netter (2000) Conforme demonstrado na Figura 6, o esôfago pode ser subdividido em esôfago cervical, torácico e abdominal, de acordo com sua localização na cavidade torácica/abdominal. Agora, o bolo alimentar, que passou pelo esôfago, deve chegar até o estômago, sempre impulsionado pelos movimentos peristálticos. Vamos observar as estruturas estomacais na Figura 7: Nervos laríngeos recorrentes (no esôfago). Esôfago cervical Artéria carótida comum direita Músculo escaleno anterior Músculo longo do pescoço Artéria carótida comum esquerda Ducto torácico Veia jugular interna (seccionada) Veia braquiocefálica esquerda (seccionada) Veia subclávia (seccionada) Artéria torácica interna (seccionada) Nervo vago esquerdo (X) Nervo frênico esquerdo (seccionado) Artéria subclávia esquerda Músculo escaleno posterior Plexo branquial Nervo frênico direio Artéria subclávia direita Tronco tireocervical Arco da aorta Pleura costal (margem seccionada)Nervo vago direito (X) Nervo laríngeo recorrente esquerdo Bifurcação da traquéia Brônquio principal esquerdo Esôfago torácico Aorta torácica descendente Esôfago abdominal Pleura diafragmática Pilar direito do diagragma Estômago Pilar esquerdo do diagragma 1ª costela (seccionada) Tronco branquiocefálico Traquéia Veia ázigo Brônquio eparterial Brônquio principal direito Pleura mediastinal (margem selecionada) Plexo esofágico Tronco vagal anterior Pericárdio (margem seccionada) Diafragma Veia cava inferior (seccionada) Veias hepáticas (seccionadas) Artérias frênicas inferiores Tronco celíaco Aorta abdominal UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 10 FIGURA 7 – ESTÔMAGO E DUODENO FONTE: Sobotta (2000, p. 132) Podemos demonstrar, esquematicamente, as divisões do estômago, observando a próxima fi gura: FIGURA 8 – ESTÔMAGO FONTE:<http://bit.ly/2H5IdUj>. Acesso em: 6 maio 2019. Fórnice gástrico Fundo gástrico Corpo gástrico Curvatura maior Parte pilórica, Canal pilórico, Antro pilórico PilotoDuodeno, Parte descendente Pregas circulares Incisura angular Pregas gástricas Curvatura menor Cárdia, Óstio cárdico Esôfago, Parte abdominal Incisura cárdica Duodeno, Parte superio, Ampola TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 11 Estas divisões podem também ser vistas em uma radiografi a de contraste. Veja que interessante! FIGURA 9 – ESTÔMAGO (2) FONTE: <http://bit.ly/31Mpwx7>. Acesso em: 15 jul. 2019. O alimento fi nalmente chegou ao estômago. Este órgão possui diversas funções, desde o armazenamento temporário do bolo alimentar até a secreção ácida, entre outras que serão abordadas adiante. A histologia deste órgão possui os tipos celulares e estruturas descritas a seguir: A superfície mucosa possui uma camada de células epiteliais simples co- lunares e não ciliadas, são as células mucosas superfi ciais. A mucosa deste órgão é formada por lâmina própria, constituída de tecido conjuntivo frouxo e a cama- da muscular da mucosa que é formada por células musculares lisas (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Também, neste órgão, temos uma coluna de células secretoras que são as glândulas gástricas. Estas glândulas gástricas possuem três tipos celulares: célu- Grande Curvatura Corpo Pequena Curvatura Bulbo duodenal Piloro Duodeno 2º estágio Duodeno 3º estágio Antro Fundo Gástrico Esôfago UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 12 las mucosas do colo, células principais e células parietais. Quando várias glân- dulas gástricas se abrem em canais estreitos, temos o que chamamos de fovéolas gástricas (você pode observar no link disponibilizado no Uni Dicas, a seguir) (TORTORA; DERRICKSON, 2016). A glândula gástrica também possui um tipo de célula enteroendócrina, denominada célula G, que secreta o hormônio gastrina. Além disso, o estômago também é constituído por uma camada submu- cosa, formada por tecido conjuntivo frouxo e uma camada muscular que possui três camadas de músculo liso. DICAS Fica bem mais fácil entender quando observamos estas estruturas no link: http://bit.ly/2PlFfSe. Aproveite para observar as várias lâminas histológicas que demostram o epitélio estomacal, é só você ir passando as páginas! Você sabe como o seu estômago produz o ácido? Ele produz o ácido clorídrico (HCl) através das glândulas parietais (ou oxínticas), que você pode observar na figura a seguir: FIGURA 10 – GLÂNDULA PARIETAL FONTE: Adaptado de Guyton e Hall (2017) TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 13 Na Figura 10(A), você pode observar a estrutura da glândula oxíntica presente no corpo do estômago, enquanto na Figura 10(B), você observa a anatomia esquemática dos canalículos da célula parietal ou oxíntica). As demais células representadas na figura e suas funções serão discutidas adiante. A acidez estomacal faz com que o pH do estômago fique bastante ácido, entre 1,5 a 2,5. Você conhece a escala de pH e sabe o que ela indica? A seguir temos um exemplo da escala de pH, a qual varia entre 0 a 14. DICAS FIGURA – ESCALA DE PH FONTE:<http://bit.ly/2HxBZNp>. Acesso em: 10 maio 2019. Você pode saber um pouco mais sobre o pH, como ele é medido e o que indica, lendo o artigo Conceito de PH, escrito por Diogo Lopes Dias, disponível no site Brasil Escola, acessando o seguinte endereço: http://bit.ly/2HxbxDo. Ao se misturar com o ácido estomacal, o bolo alimentar passa a se chamar quimo. O quimo, agora, chega à porção inicial do intestino delgado (duodeno) onde continuará o seu processo de digestão. Como estão dispostas as células que constituem este órgão? Vamos descrever um pouco da histologia do intestino delgado: o intestino delgado, assim como a maior parte do trato gastrintestinal é formado pelas seguintes camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa (TORTORA; DERRICKSON, 2016). A camada epitelial da mucosa do intestino delgado possui diversos tipos celulares: absortivas, caliciformes, enteroendócrinas e de Paneth. UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 14 Já a camada submucosa do duodeno, possui glândulas duodenais, “também chamadas de glândulas de Brunner” (TORTORA; DERRICKSON, 2016, p. 1576). A camada muscular do intestino delgado é formada por músculo liso, a camada serosa envolve quase totalmente o intestino delgado, com exceção do duodeno (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O intestino delgado também apresenta algumas características morfológi- cas e celulares diferentes do resto do trato digestivo, como a presença de vilosi- dades, que correspondem a projeções em forma de “dedos” da mucosa epitelial deste órgão. A grande quantidade destas projeções aumenta muito a área de ab- sorção deste órgão! Um pouco mais adiante falaremos destas estruturas. Além destas vilosidades, temos as microvilosidades que correspondem a projeções da membrana apical de células absortivas. Também voltaremos a falar destas estruturas. DICAS Conheça um pouco mais da histologia destas células no endereço: http://bit. ly/2Hu1Vt5. Agora vamos visualizar a anatomia do duodeno: FIGURA 11 – DUODENO FONTE: Sobotta (2000, p. 139) Duodeno, Parte superior, Ampola M. esfincter do piloro Piloro, Óstio pilórico Canal pilórico } Parte pilórica M. suspensor do duodeno Flexura duodenojejunal Duodeno, Parte ascendente Jejuno Antro pilórico Pregas circulares Duodeno, Parte descendente Ampola hepatopancreática Papila maior do duodeno Túnica muscular Duodeno, Parte horizontal TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 15 Posterior ao duodeno encontra-se a veia porta, principal componente do sistema porta hepático. É através da veia porta que os nutrientes, provenientes da alimentação, chegarão até o sangue, após o processo de digestão. Esta estrutura também foi destacada na figura a seguir. A próxima porção do intestino delgado a ser percorrida pelo quimo é o jejuno (segunda porção do intestino delgado), a interseção entre duodeno e jejuno, você pode observar na Figura 12: FIGURA 12 – DUODENO IN SITU FONTE: Adaptado de Netter (2011) Após o jejuno, o quimo percorrerá a porção do intestino delgado chamada de íleo. As células do epitélio intestinal, também denominadas enterócitos, são células possuidoras de microvilosidades, as quais formam a “borda em escova” deste epitélio. Estas células são cruciais para o aumento da área absortiva deste tecido (GUYTON; HALL, 2017). Discutiremos a participação destas células posteriormente. Ducto colédoco Margem direita livre do omento menor (ligamento hepatoduodenal) Parte superior (1ª) do duodeno (ampola ou bulbo) (com mucosa lisa) Pregas circulares (de Kerckring) Papila menor do duodeno (inconstante) Ducto colédoco Porção descendente(2ª do duodeno Papila principal do duodeno (de Vater) Prega longitudinal Flexura inferior Ducto pancreático acessório (de Santorini) Ducto pancreático principal (de Wirsung) Cabeça do pâncreas Parte horizontal (3ª) do duodeno Artéria e veia mesentéricas superiores Parte ascendente (4ª) do duodeno Jejuno Flexura duodenojejunal Óstio pilórico Artéria hepática comum Artéria gástrica direita Artéria gastroduodenal Artéria hepática própria Veia porta Flexura superior UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 16 A seguir, você pode verifi car as microvilosidades dos enterócitos, nas próximas duas fi guras: FIGURA 13 – HE (COLORAÇÃO POR HEMATOXILINA-EOSINA) FONTE: Montanari (2016, p. 31) FIGURA 14 – MICROVILOS OBSERVADOS AO MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE TRÂNSMISSÃO FONTE: Montanari (2016, p. 31) O processo de digestão de macronutrientes (carboidratos, lipídios e prote- ínas), bem como a emulsifi cação de gordura, envolvem a participação de enzimas e bile produzidas, respectivamente, por glândulas como pâncreas e fígado. Após, as enzimas e a bile são liberadas na porção inicial do intestino delgado. Os pro- cessos de digestão destes macronutrientes, bem como a emulsifi cação de gordu- ra, serão posteriormente discutidos. Na fi gura a seguir você pode ver a estrutura anatômica do pâncreas: TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 17 FIGURA 15 – PÂNCREAS FONTE: Netter (2011, p. 372) A próxima figura demonstra a face visceral do fígado, ou seja, a face do órgão voltada para as vísceras abdominais. Este órgão é fundamental no exercício de diversas funções metabólicas e enzimáticas, entre elas a secreção da bile (GUYTON; HALL, 2017). FIGURA 16 – FACE VISCERAL DO FÍGADO FONTE: Netter (2000) Ligamento coronárioLigamento triangular esquerdo Apêndice fibroso Impressão esofágica Impressão gástrica Fissura do ligamento venoso Lobo caudado Processo papilar Artéria hepática própria Veia porta Fissura do ligamento redondo Ligamento falciforme Ligamento redondo Lobo quadrado Porta do fígado Vesícula biliar Impressão cólica Impressão duodenal Impressão renal Ducto cístico Ducto hepático comum Ducto colédoco Ligamento triangular direito Ligamento coronário Área nua Impressão supra-renal Veia cava inferiorVeias hepáticasProcesso caudado Ducto colédoco Incisura do pâncreas Ducto pancreático principal (de Wirsung) Ducto pancreático acessorio (de Santorini) UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 18 A fim de tornar um pouco mais clara a relação entre órgãos, como o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas, e a liberação de seus produtos na porção inicial do intestino delgado (duodeno), expomos a seguinte figura: FIGURA 17 – VESÍCULA BILIAR FONTE: Netter (2000) Por fim, o quimo segue seu caminho em direção ao intestino grosso onde os restos não absorvíveis da alimentação, juntamente à reabsorção de água, formarão as fezes. Antes de falarmos da anatomia e fisiologia do intestino grosso, vamos olhar a sua histologia: Assim como já observado no restante do trato gastrintestinal, o intestino grosso tem as mesmas quatro camadas celulares: mucosa, submucosa, muscular e serosa. Na camada mucosa temos a presença de epitélio colunar simples, lâmina própria formada de tecido conjuntivo frouxo e células musculares lisas. No epitélio colunar vemos as células absortivas e caliciformes, estas células localizam-se nas “glândulas intestinais ou criptas de Lieberkühn” (TORTORA; DERRICKSON, 2016, p. 1246). A camada submucosa possui tecido conjuntivo frouxo e a presença de tecido linfoide, já a camada muscular é formada por musculatura lisa. Parte espiral do ducto cístico Ducto hepático direito Ducto hepático esquerdo Ducto hepático comum Parte lisa do ducto cístico Ducto colédoco Ducto pancreático Ampola (de Vater) Infundíbulo (bolsa de Hartmann) da vesícula biliar Colo da vesícula biliar Corpo da vesícula biliar Fundo da vesícula biliar Porção descendente (2ª) do duodeno Óstio glandulares Papila principal do duodeno (de Vater) TÓPICO 1 | ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 19 Por fim, a camada serosa deste órgão é parte do peritônio (camada de células serosas que recobrem a parede abdominal). DICAS Vamos olhar novamente todas estas estruturas observando as lâminas que estão no link: http://bit.ly/2Ljv2kb. Agora que observamos a histologia deste órgão, vamos estudar um pouco mais da sua fisiologia, acompanhando como o quimo se movimenta no intestino grosso. A propulsão do quimo em direção ao intestino grosso, segue sendo realizada com o auxílio dos movimentos peristálticos. Você pode observar as estruturas anatômicas que formam o intestino grosso na próxima figura: FIGURA 18 – ESTRUTURAS ANATÔMICAS QUE FORMAM O INTESTINO GROSSO FONTE: Adaptado de Netter (2011) Para fins didáticos, o intestino delgado foi removido da figura e assim possibilitar uma melhor visualização do intestino grosso. O intestino grosso é formado por quatro estruturas: ceco, cólon, reto e ânus. O Ceco corresponde a primeira e mais dilatada das porções do intestino grosso e se comunica com o Tênia livre (tênia liberada) Apêndices epiplóicos Flexura (hepática) direita do colo Íleo (seccionado) Sulco(goteira) paracólico direito Recesso (fossa) retrocecal Apêndice vermiforme Reto Colo sigmóide Mesocolo sigmóide Mesentérico (seccionado e intestino delgado removido) Sulco (goteira) paracólico esquerdo Flexura (esplênica) esquerda do colo Jejuno (seccionado) Mesocolo transverso (elevado sobre o pâncreas) Colo descendente Colo ascendente Colo transverso (elevado) Ceco UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 20 intestino delgado (íleo) pela válvula ileocecal. O cólon se ramifica em porção ascendente, transverso, descendente e sigmoide. As duas últimas estruturas que compõem o intestino grosso são o reto e o ânus. A maior parte da absorção de íons e água, que percorrem o nosso tubo digestório, ocorre em nosso intestino grosso. Grande parte desta absorção dá-se no cólon (GUYTON; HALL, 2017). Por fim, as fezes serão expulsas pelo ânus, através de estímulos de esfíncteres interno e externo, eventos que serão discutidos posteriormente. 21 Neste tópico, você aprendeu que: • O alimento ingerido percorre diferentes estruturas do sistema digestório até a eliminação dos restos não absorvíveis. • O sistema digestório é composto por diferentes órgãos. • A boca é o primeiro componente do sistema digestório e está dividida em vestíbulo e cavidade oral propriamente dita. • O processo de deglutição envolve diferentes fases. • O esôfago é dividido em diferentes porções. • O estômago é dividido em diferentes partes. • A produção de ácido clorídrico (HCl) é realizada pelas células parietais (oxínticas). • O intestino delgado é dividido em 3 porções. • As microvilosidades existentes no intestino delgado são capazes de aumentar a área absortiva. • O intestino se relaciona estruturalmente e funcionalmente com o pâncreas, vesícula biliar e intestino delgado (duodeno). • O intestino grosso é subdividido. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 Ao ingerir alimentos, você, literalmente, deixa de respirar por breves segundos. Isso decorre em virtude de tanto o alimento, quanto o ar, usarem uma estrutura do sistema digestório em comum. Sendo assim, assinale a resposta a seguir que corresponde a estrutura em comum utilizada durante o processo de respiração e o processo de deglutição do alimento: a) ( ) Esôfago. b) ( ) Traqueia. c) ( ) Estômago. d) ( ) Faringe. e) ( ) Laringe. 2 Conforme citado na questão anterior, ao ingerir o alimento, cessamos por breves momentos o processo respiratório. Com basenesta informação, descreva como ocorrem as fases voluntária e involuntária da deglutição envolvidas no processo de ingestão de alimento. 3 O pH salivar encontra-se próximo da neutralidade (7,0), entretanto, ao chegar no estômago o bolo alimentar sofre ação do ácido clorídrico secretado neste órgão, objetivando diversas funções associadas a este órgão. As células responsáveis pela secreção ácida no estômago são: a) ( ) Células enterocromafins. b) ( ) Células parietais ou oxínticas. c) ( ) Células secretagogas. d) ( ) Células Epiteliais. e) ( ) Nenhuma das alternativas acima. 4 O intestino delgado é responsável pela maior parte da absorção de nossos nutrientes. Essa função destinada ao intestino delgado se deve à presença de células do epitélio intestinal modificadas que possuem especializações capazes de aumentar em milhares de vezes a capacidade absortiva deste órgão. Estas especializações celulares são denominadas: a) ( ) Macrovilosidades. b) ( ) Vilosidades. c) ( ) Microvilosidades. d) ( ) Criptas de Liberkühn. e) ( ) Nenhuma das respostas acima. 5 “Cerca de 1.500 mililitros de quimo passam, normalmente, pela válvula ileocecal para o intestino grosso a cada dia. Grande parte da água e dos eletrólitos, nesse quimo, é absorvida no cólon, sobrando menos de 100 mililitros de líquido para serem excretados nas fezes. Além disso, AUTOATIVIDADE 23 praticamente todos íons são absorvidos, e apenas de 1 a 5 mEq de íons sódio e cloreto são eliminados nas fezes” (GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009). Este texto esclarece que grande parte da absorção de íons e água que percorrem o nosso tubo digestório ocorre em nosso intestino grosso. Grande parte desta absorção dá-se no cólon. Assinale a alternativa que contempla as diferentes divisões anatômicas do cólon: a) ( ) Cólon lateral, cólon descendente, cólon sigmoide e cólon ascendente. b) ( ) Cólon cecóide, cólon transverso, colón lateral e cólon sigmoide. c) ( ) Cólon transverso, cólon ascendente, cólon descendente e cólon sigmoide. d) ( ) Cólon transverso, cólon duodenal, cólon descendente e cólon sigmoide. e) ( ) Nenhuma das alternativas acima. 24 25 TÓPICO 2 FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, no tópico anterior entendemos como está constituído anatomicamente nosso sistema digestório. A partir deste tópico, vamos começar a entender como o nosso sistema digestório, literalmente, funciona. Neste tópico, iremos explicar os movimentos peristálticos que envolvem a passagem do alimento por todo o nosso tubo digestório, bem como as conexões nervosas relacionadas à ativação deste sistema. Também iremos observar algumas patologias que alteram a homeostasia, ou seja, alteram o equilíbrio entre os sistemas e órgãos, estabelecendo algumas doenças das quais, provavelmente, você já ouviu falar. Então vamos lá, estudar um pouco mais da fisiologia do sistema digestório! 2 MECANISMOS FISIOLÓGICOS DO SISTEMA DIGESTÓRIO Primeiramente, vamos imaginar que você está se alimentando de algo que gosta, supomos, um prato de macarrão ou uma lasanha, por exemplo! Você imagina o quanto de comida você ingere diariamente? Bom, sabemos que isso é determinado pelo desejo de alimentar-se o qual chamamos de fome; também sabemos que você prefere determinado tipo de alimento, certo? Isto chamamos de apetite. Estes dois mecanismos (fome e apetite) são excelentes sistemas de regulação automática os quais se referem ao contexto de manter o suprimento nutricional necessário ao organismo (GUYTON; HALL, 2017). Uma vez que você possua fome e tenha apetite pelo prato de macarrão, precisamos ingerir a comida, para isto necessitaremos do processo de deglutição. Este processo pode ser dividido em três partes: um estágio voluntário que inicia UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 26 o processo de deglutição, denominado fase oral, um estágio faríngeo que, de maneira involuntária se refere à passagem do alimento da faringe ao esôfago e, por último, um outro estágio involuntário que leva o alimento da faringe ao estômago, denominado fase esofagiana. Estes três estágios já foram descritos no tópico anterior. Também, conforme já havíamos comentado anteriormente, o peristaltismo ocorre em todo o sistema digestório e é responsável pela passagem do bolo alimentar ou do quimo pelo tubo digestório. Então, vamos entender melhor o que é o peristaltismo: DICAS Entenda o que é peristaltismo, através do link: http://bit.ly/2LfXe7w. Os movimentos peristálticos são extremamente importantes no caminho do alimento por todo o tubo alimentar, estes movimentos não estão relacionados somente ao tubo digestório, mas também ocorrem nos ductos biliares, ductos glandulares, ureteres e uma série de ductos tubulares revestidos por musculatura lisa em nosso organismo (GUYTON; HALL, 2017). Esses movimentos peristálticos descritos no esôfago estão diretamente relacionados ao processo de deglutição e, normalmente, uma única onda peristáltica é capaz de conduzir o alimento desde a faringe até o estômago (onda primária). Eventualmente, caso algum resto alimentar permaneça no esôfago, será desencadeada uma onda peristáltica secundária. Como você deve ter percebido, o alimento segue um sentido único, uma vez que ele é deglutido. Mas como ele é impedido de “voltar” do estômago ao esôfago, por exemplo? Isso se deve à presença de estruturas musculares em forma de anéis, chamadas de esfíncteres, que se fecham rapidamente após a passagem do bolo alimentar por estas estruturas. Na figura a seguir você verá a presença destes anéis musculares (esfíncteres) localizados na parte superior (constrição cricofaríngea) e inferior do esôfago (esfíncter esofágico inferior ou válvula cárdia). TÓPICO 2 | FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 27 FIGURA 19 – ANÉIS MUSCULARES (ESFÍNCTERES) FONTE: Adaptado de Netter (2000) E sobre a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), você já ouviu falar? Afeta bebês e adultos! Aquela sensação de azia, regurgitação, tosse seca e que pode até mesmo ocasionar erosão dentária. Não ouviu falar? Essa doença pode ser ocasionada justamente por uma incompetência do esfíncter esofágico inferior, a de contrair-se fazendo com que o suco gástrico do estômago (que abordaremos adiante) possa retornar ao esôfago e, como suas paredes não são protegidas da ação do ácido estomacal, ocasionar lesão da mucosa esofágica. Dentes incisivos Orofaringe Epiglote Recesso piriforme Cartilagem tireóide Cartilagem cricóide Músculo cricofaríngeo Traquéia Aorta Constrição da aorta Esfíncter esofágico inferior Constrição cricofaríngea Diafragma Fundo do estômago Parte cárdica do estômago Brônquio principal esquerdo Extensão média em centímetros UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 28 IMPORTANT E “A DRGE é mais comum em adultos acima dos 40 anos de idade, mas também ocorre em bebês e crianças. Os sintomas clínicos mais comuns são disfagia (dificuldade de deglutição), azia e menos frequentemente regurgitação perceptível de conteúdos gástricos com sabor ácido” (KUMAR et al., 2010, p. 2040). Agora o bolo alimentar chegou ao estômago! E o que acontecerá com este bolo alimentar ao chegar neste órgão? Para isso precisamos determinar quais são exatamente as suas funções: O Quadro 1 demonstra, de maneira resumida, as funções do estômago: QUADRO 1 – FUNÇÕES DO ESTÔMAGO Funções do Estômago Armazenamento – Atua como reservatório temporário para o alimento que chega a ele. Secreção de H+ – Objetiva destruir micro-organismos patogênicos e converter o pepsinogênio em sua forma ativa. Secreção de fator intrínseco – Visa permitir a absorção de vitamina B12. Secreção de muco e bicarbonato(HCO3-) – Visa a proteção da mucosa gástrica. Secreção de água – Para a lubrificação e promover a suspensão aquosa dos nutrientes. Atividade motora – Para misturar as secreções produzidas pelo órgão com o alimento ingerido. Atividade motora coordenada – Com o objetivo de regular o esvaziamento do conteúdo para o duodeno (primeira porção do intestino delgado). FONTE: O autor Algumas destas funções do estômago, principalmente aquelas que se referem à secreção e ação bioquímica de diversos componentes, iremos abordar, futuramente, no decorrer de nosso Livro Didático, no presente momento focaremos nas funções fisiológicas realizadas por este órgão. Uma vez que o alimento entre no estômago, ocorrerá um processo de contrações peristálticas neste órgão também, o que, além de facilitar a mistura do alimento com as secreções estomacais, irá auxiliar no esvaziamento do estômago. Este órgão, apesar de quando em repouso, ser de tamanho pequeno (50ml), é TÓPICO 2 | FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 29 capaz de armazenar até 1,5L de alimento em uma única refeição. Vale ressaltar que durante o jejum, as paredes do estômago se encontram colabadas (unidas) e este possui uma atividade motora estreitamente coordenada com o intestino, o que leva a um padrão de atividade elétrica contrátil, como ondas que se propagam pelo estômago e intestino delgado, chamadas complexos miolétricos interdigestivos. Muitas vezes você já disse ter sentido dor “de fome” no estômago, não é verdade? Isto realmente pode acontecer, pois, no estômago, além dos movimentos peristálticos que já citamos — e que ocorrem em todo o sistema digestório —, um outro tipo de contração intensa também pode ocorrer: a chamada contração de fome, que ocorre, geralmente, quando o estômago fica vazio por muito tempo (várias horas) (GUYTON; HALL, 2017). Estas contrações são peristálticas rítmicas e ocorrem no corpo do estômago. Normalmente estas contrações são mais intensas em indivíduos jovens, sadios e com tônus gastrointestinal elevado e podem aumentar quando a pessoa apresenta níveis glicêmicos (açúcar sanguíneo) abaixo dos valores normais. Algumas vezes, nestas contrações, a pessoa apresenta leve a moderada dor epigástrica, denominadas pontadas de fome. Estas pontadas não são observadas entre 12 a 24 horas após o indivíduo se alimentar, só sendo verificadas em períodos de jejum (GUYTON; HALL, 2017). Agora você deve estar imaginando, “pronto, o estômago com seu pH extremamente ácido inicia o processo de digestão do quimo”, certo? Errado! A digestão do quimo no estômago é quase nula, pois, para que ocorra o processo de digestão, necessitaremos da participação de vária enzimas que serão discutidas adiante. Entretanto, vale ressaltar que enzimas, com raras exceções, somente são ativas em pH ideal, ou seja, em pH próximo da neutralidade, o que não ocorre no estômago. Assim, apenas uma pequena parte do processo digestivo ocorrerá no estômago (FOX, 2007). Podemos considerar como uma exceção o pepsinogênio — forma inativa de enzima pepsina — que será ativado justamente em meio ácido e, assim, iniciará o processo de digestão proteica (FOX, 2007), este processo será abordado futuramente. Vamos continuar acompanhando o processo de chegada do quimo ao intestino. Para isso, faz-se necessário o esvaziamento do estômago e, novamente, as contrações peristálticas serão responsáveis por este processo, principalmente com estas contrações peristálticas acontecendo no antro gástrico. A velocidade de esvaziamento gástrico pode acontecer em graus variados, pois é dependente da resistência da passagem do quimo pelo piloro (GUYTON; HALL, 2017). Didaticamente, podemos dividir o estômago em duas porções a fim de entender mais claramente o processo de esvaziamento gástrico: a porção proximal UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 30 e assim chamada por ser de localização mais craniana e a porção distal que possui localização mais distante da boca. O esfíncter esofágico inferior (EEI) e a cárdia (região que circunda o EEI) possuem importantes funções neste processo. Quando ambos relaxam, ocorre a entrada do alimento no estômago, já a parte proximal do estômago, ou seja, o fundo e o corpo, são capazes de promover lentas variações de tônus, o que permite que estas regiões recebam e armazenem o alimento, sendo assim, capazes de misturá-lo com o suco gástrico possibilitando direcionar o alimento ao piloro (BERNE; LEVY, 2009). Desta forma, a geração de tônus no que denominamos região proximal do estômago é muito importante no processo de esvaziamento gástrico, pois baixo tônus nessa região determina baixa pressão intragástrica e, consequentemente, redução na velocidade de esvaziamento gástrico (BERNE; LEVY, 2009). A porção distal do estômago atua de maneira muito importante, tanto ao misturar o conteúdo gástrico, quanto para gerar a propulsão deste conteúdo pelo piloro em direção ao duodeno. As contrações peristálticas iniciam-se pelo meio do estômago e se direcionam em relação ao piloro e são fundamentais para o esvaziamento gástrico. O esfíncter pilórico é a junção do estômago com o duodeno (junção gastroduodenal). Esta região é uma área de alta pressão e de extrema importância para a regulação do esvaziamento gástrico. Como será que o esvaziamento do estômago é regulado? Existem fatores que regulam e orientam este esvaziamento do quimo em direção ao intestino? Como isso ocorre? Vamos ver como esse processo se dá, detalhadamente. Primeiramente, é sabido que a velocidade e a intensidade com que ocorre o esvaziamento do conteúdo estomacal é regulada por sinais provenientes tanto do duodeno quanto do estômago, entretanto, devemos ressaltar que os sinais provenientes do duodeno são bem mais fortes e, consequentemente, controlam de maneira mais efetiva a velocidade com que o quimo pode ser absorvido e digerido no intestino delgado (duodeno) (GUYTON; HALL, 2017). Podemos citar, entre os fatores gástricos que promovem o esvaziamento, o efeito do volume alimentar gástrico e o efeito do hormônio gastrina (secretado pelo estômago) neste processo. Já com relação aos fatores duodenais associados ao esvaziamento gástrico, podemos citar os efeitos inibitórios dos reflexos enterogástricos que possuem origem duodenal. Além destes, também podemos citar o feedback hormonal do duodeno, associado às gorduras (lipídios) e ao hormônio colecistocinina (CCK), estes mecanismos serão abordados mais claramente posteriormente. Pronto! Finalmente o estômago esvaziou o seu conteúdo (quimo) no intestino delgado e assim será continuado o processo de digestão. TÓPICO 2 | FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 31 Vale lembrar que a maior parte da digestão e absorção dos nutrientes ocorre no intestino delgado, logo, esta estrutura é fundamental à nossa vida. Embora seja possível a ocorrência de ressecções em parte do intestino delgado, cirurgias que comprometem drasticamente a área de absorção deste órgão são incompatíveis com a vida. O intestino delgado é composto por três partes: duodeno, jejuno e íleo. O duodeno possui localização retroperitoneal, ou seja, encontra-se atrás do peritônio, enquanto o jejuno e o íleo são estruturas envoltas pelo peritônio e encontram- se presas pelo mesentério, a porção posterior do abdome. O comprimento do intestino delgado é de aproximadamente 3m no indivíduo vivo, mudando para aproximadamente 6m após a morte, em função da perda do tônus da musculatura lisa (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Uma vez que o quimo chegou ao intestino delgado, ele deve seguir seu caminho em direção ao intestino grosso para posterior eliminação dos restos não absorvíveis (fezes). Os movimentos peristálticos, assim como no restante do tubo digestório, seguem no intestino delgado, o quimo é impulsionado no intestino delgado por meio de ondas peristálticasque ocorrem em qualquer parte desta porção do intestino, e são ondas que se movem a velocidades lentas entre 0,5 a 2cm/s (GUYTON; HALL, 2017). Estas ondas peristálticas são fracas e costumam cessar depois de percorrer uma distância de 3 a 5cm. Isto faz com que o quimo demore muito tempo para percorrer o intestino delgado, logo, o tempo necessário para o quimo percorrer todo o intestino delgado, ou seja, do piloro até a válvula ileocecal e entrar no intestino grosso, é de 3 a 5h (GUYTON; HALL, 2017). DICAS Vamos observar como acontece o peristaltismo intestinal in vivo? Acesse o vídeo pelo endereço http://bit.ly/2Ppa2h8 e observe o peristaltismo intestinal durante uma cirurgia! Vale lembrar que o peristaltismo no intestino delgado é aumentado após as refeições. Isto é devido a uma série de fatores, tais como a entrada do quimo no duodeno, o que leva a distensão da parede do duodeno, ao reflexo gastroentérico ocasionado pela distensão estomacal, além de uma série de hormônios que modificam esta atividade peristáltica, como a gastrina, a colecistocinina (CCK), a insulina e o neurotransmissor serotonina (GUYTON; HALL, 2017). Estes hormônios e a serotonina, são capazes de intensificar a motilidade gastrointestinal e são secretados durante o processo de passagem do alimento pelo tubo digestório, assim como os hormônios secretina e glucagon que são capazes de inibir a motilidade do intestino delgado (GUYTON; HALL, 2017). UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 32 Alguns destes hormônios serão discutidos posteriormente no decorrer do livro. O objetivo do peristaltismo não está somente em levar o quimo em direção ao intestino grosso (ceco), mas, também, possibilitar a distribuição do quimo em todo o intestino, sendo que o peristaltismo se torna mais intenso à medida que chega mais quimo ao duodeno (GUYTON; HALL, 2017). Como citado anteriormente, a maior parte da digestão de nutrientes ocorre no intestino delgado. Mas como isso efetivamente ocorre? Existem células especializadas neste processo absortivo? Existem, sim! São as células do epitélio intestinal que sofreram adaptações morfofuncionais e somente são encontradas no intestino delgado. Vimos estas adaptações das células do intestino delgado no tópico anterior, estas adaptações são denominadas microvilosidades. Estas microvilosidades são capazes de promover, de maneira significativa o aumento da absorção de nutrientes em virtude do aumento da área absortiva e do número de células. Você já ouviu falar em doença celíaca ou espru celíaco ou ainda enteropatia sensível ao glúten? Esta doença é uma enteropatia (doença dos enterócitos ou células epiteliais especializadas) ocasionada por alterações imunológicas do indivíduo e desencadeada pela ingestão de cereais que contém glúten, tais como trigo, centeio ou cevada, por indivíduos que são geneticamente dispostos a essa doença (KUMAR et al., 2010). Em países onde a maioria da população é caucasiana e de ascendência europeia, esta doença pode ser relativamente comum, com uma prevalência variando entre 0,5 – 1% nesta população. As figuras a seguir mostram a atrofia das microvilosidades intestinais que podem aparecer nesta doença, prejudicando intensamente a absorção de nutrientes pelos indivíduos acometidos por ela. FIGURA – ATROFIA SUBTOTAL DE VILOSIDADES ATENCAO FONTE:<http://bit.ly/2YQi3zY>. Acesso em: 16 jul. 2019. TÓPICO 2 | FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO 33 FIGURA – VILOSIDADES NORMAIS EM PACIENTE APÓS 4 SEMANAS DE DIETA LIVRE DE GLÚTEN FONTE: < http://bit.ly/2YYW36g>. Acesso em: 16 jul. 2019. Agora, o quimo segue seu caminho em direção ao intestino grosso. As principais funções do intestino grosso consistem na absorção de água e de eletrólitos do quimo, visando a formação de fezes sólidas, além do armazena- mento deste material fecal até que ele possa ser expelido (GUYTON; HALL, 2017). Neste processo de absorção de água e eletrólitos (5 a 8 litros diários apro- ximadamente) ocorre, ainda, concomitantemente à secreção de muco e bicarbo- nato. O objetivo desta secreção é, através de movimentos de mistura chamados de haustrações e movimentos peristálticos, misturar o muco e o bicarbonato aos restos de alimentos não absorvidos, tornando uma massa pastosa para, assim, facilitar a eliminação desta pelas das fezes (GUYTON; HALL, 2017). Reflexos denominados gastrocólicos e duodenocólicos estão envolvidos no surgimento dos movimentos peristálticos do intestino grosso, também deno- minados movimentos de massa. Estes reflexos, como o próprio nome sugere, são decorrentes da distensão tanto do estômago quanto do duodeno em decorrência da passagem do alimento (GUYTON; HALL, 2017). Por fim, inicia-se o processo final da alimentação, que corresponde a de- fecação, que nada mais é do que a expulsão dos restos alimentares não digeridos UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO 34 e, consequentemente, não absorvidos. Entretanto, as fezes não são somente cons- tituídas por estes restos alimentares, mas também por bactérias, sais inorgânicos, células do epitélio intestinal descamadas (mortas), além de celulose, lipídios e proteínas. De maneira geral os movimentos de massa não são capazes de provocar ne- nhuma sensação associada à defecação; entretanto, a chegada de um determinado volume de fezes ao reto produz a sua distensão, o que provoca a necessidade de defecar. A presença dos esfíncteres anais, interno e externo, é capaz de promover o mecanismo de controle da defecação. O esfíncter interno do ânus não está sob con- trole do indivíduo, ou seja, é involuntário, enquanto o esfíncter externo encontra-se sob controle voluntário do indivíduo (CINGOLANI; HOUSSAY, 2011). Patologias que afetam o esfíncter externo podem ocasionar incontinência fecal, tais como lesão cirúrgica ou obstétrica, prolapso retal ou até mesmo doen- ças capazes de causar danos aos nervos sensoriais e motores, como a neuropatia diabética, por exemplo (BERNE; LEVY, 2009). Finalmente, acompanhamos todo o percurso daquele “prato de macar- rão” citado no início do tópico por nosso sistema digestório, aproveitando o que deveria ser aproveitado e eliminando o que não foi absorvido. Agora, no próximo tópico desta unidade, vamos observar mais de perto como ocorrem os processos bioquímicos e enzimáticos envolvidos na digestão e absorção de nutrientes. Antes, vamos ver um pouco mais do que a ciência tem recentemente pes- quisado. Você já leu ou ouviu falar sobre o transplante de fezes? Parece nojento à primeira vista, não é? Mas novas pesquisas têm demonstrado que esta técnica pode ser promissora para o tratamento de diversas doenças! IMPORTANT E O transplante de fezes, apesar de não parecer muito convidativo inicialmente, parece ter um futuro promissor no tratamento de doenças do trato gastrointestinal, principalmente, mas esta técnica polêmica, também poderá ser utilizada no tratamento de doenças, como esclerose múltipla, doença de Crohn e, até mesmo, doença de Parkinson! Separamos duas reportagens que se encontram nos links a seguir para que você possa ler um pouco mais sobre como é feito e o que promete este transplante. http://bit.ly/2Z3o2N6 http://bit.ly/2Z7wK0Z 35 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Movimentos peristálticos são extremamente importantes para a condução do alimento pelo sistema digestório. • Esfíncteres esofágicos desempenham importantes funções para o direcionamento do alimento no sistema digestório. • O estômago exerce importantes funções fisiológicas e bioquímicas. • Movimentos peristálticos e a manutenção do tônus gástricos são extremamente importantes no processo de esvaziamento gástrico. • Reflexos enterogástricos possuem importante participação no esvaziamento gástrico. • Microvilosidades são fundamentais no processo de absorção de nutrientes pelointestino delgado. • O intestino grosso participa fundamentalmente do processo de absorção de água e eletrólitos e da formação das fezes. • O mecanismo de controle de defecação está associado aos esfíncteres anais interno e externo. 36 1 Analise a afirmativa e a justificativa da sentença a seguir: Movimentos peristálticos são movimentos coordenados e exclusivos da musculatura esquelética fazendo com que o bolo alimentar seja impulsionado por todo o tubo esofágico em direção ao estômago, POIS estes movimentos ocorrem em decorrência da contração da musculatura esofágica posterior ao bolo alimentar, o que faz com que o mesmo seja empurrado adiante. Com base na sentença anterior, responda: a) ( ) Afirmativa e justificativa estão corretas. b) ( ) Afirmativa está correta e justificativa está errada. c) ( ) Afirmativa e justificativa estão erradas. d) ( ) Afirmativa está errada e justificativa está correta. e) ( ) Afirmativa e justificativa não possuem nenhuma correlação entre si. 2 O estômago, apesar de possuir um pH extremamente baixo, o que impossibilita as ações de enzimas digestivas (com exceção da pepsina), que devem possuir pH ótimo (neutro) para desenvolver a sua ação, possui diversas outras funções que visam facilitar o processo de digestão e absorção de nutrientes. Com relação às funções do estômago, assinale a alternativa correta: a) ( ) Secreção do hormônio colecistocinina (CCK). b) ( ) Secreção de Vitamina B12. c) ( ) Secreção de H+. d) ( ) Reabsorção de água. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 3 É sabido que fatores provenientes tanto do estômago quanto do duodeno são capazes de promover a regulação da velocidade de esvaziamento gástrico. Com base nestas informações, relacione as colunas, assinalando, posteriormente, a alternativa correta: I- Fatores gástricos. II- Fatores intestinais. ( ) Gastrina. ( ) CCK. ( ) Volume alimentar gástrico. ( ) Inibição por reflexos enterogástricos. a) ( ) I, I, I e II. b) ( ) II, II, I e I. AUTOATIVIDADE 37 c) ( ) II, II, II e I. d) ( ) I, II, I e II. e) ( ) I, I, II e II. 4 (IADES-UFBA, 2014) A doença celíaca (DC) é autoimune, sendo causada pela intolerância permanente ao glúten, principal fração proteica presente no trigo, no centeio, na cevada e na aveia, e se expressa por enteropatia mediada por linfócitos T em indivíduos geneticamente predispostos. A forma clássica ou típica caracteriza-se pela presença de diarreia crônica, em geral acompanhada de distensão abdominal e perda de peso. FONTE:< http://bit.ly/2ZdV25n >. Acesso em: 9 jul. 2019. Com relação ao tratamento e prognóstico da DC, assinale a alternativa correta. a) ( ) As deficiências nutricionais decorrentes da má absorção de macro e micronutrientes, por exemplo, deficiência de ferro, de ácido fólico, de vitamina B12 e de cálcio, são raras e corrigidas rapidamente com a exclusão do glúten da dieta. b) ( ) O tratamento da DC consiste em dieta sem glúten, devendo-se, portanto, excluir da alimentação todos os alimentos que contenham trigo, centeio, cevada e aveia, por toda a vida. c) ( ) Deve-se verificar a intolerância à lactose e à sacarose, ocasionadas pela deficiência na produção das dissacaridases, irreversíveis mesmo após a normalização das vilosidades. d) ( ) A dieta imposta na crise celíaca é restritiva, mas temporária, devendo haver a inclusão gradativa do glúten à dieta com a remissão das manifestações clínicas. e) ( ) O quadro de hipersensibilidade alimentar, que resulta em manifestações alérgicas, deve ser considerado quando o indivíduo responde adequadamente à dieta sem glúten e não apresenta negatividade nos exames sorológicos para DC. 5 O intestino grosso, além de secretar muco para promover a proteção da parede intestinal, também possui a finalidade de proporcionar meio adesivo para o material fecal. Entretanto, no que tange a formação das fezes, as principais atividades do intestino grosso consistem na reabsorção de água e de eletrólitos do quimo. Os movimentos peristálticos do intestino grosso, também denominados movimentos de massa, são decorrentes da estimulação reflexa. Os reflexos relacionados a estes movimentos são denominados: a) ( ) Reflexo gastrocólico e reflexo intestinal. b) ( ) Reflexo gastrocólico e reflexo mesocólico. c) ( ) Reflexo gastrocólico e duodenocólico. d) ( ) Reflexo gastrocólico e reflexo vagal. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 38 39 TÓPICO 3 SECREÇÃO ENZIMÁTICA, DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO TRATO DIGESTÓRIO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Vimos nos tópicos anteriores a anatomia e a fisiologia relacionadas ao sistema digestório, ou seja, qual caminho o alimento percorre desde a sua ingestão na boca até a eliminação de restos alimentares não digeridos, que formam as fezes, além dos movimentos peristálticos relacionados a estes eventos. Neste Tópico 3, iremos estudar os processos bioquímicos relacionados à absorção dos alimentos, ou seja, como estes alimentos são processados, ofertados ao nosso organismo e transformados na energia que necessitamos para a manutenção da vida. Como você já deve ter imaginado, diversas reações bioquímicas que se iniciam desde a boca e se estendem por todo o sistema digestório estão envolvidas neste processo, nós iremos explicar passo a passo as reações mais importantes! Então, sente-se confortavelmente e vamos iniciar a nossa viagem bioquímica pelo sistema digestório. 2 BIOQUÍMICA, SECREÇÃO ENZIMÁTICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES NO TRATO DIGESTÓRIO Para começar, vamos, novamente, pensar naquele prato de macarrão dos Tópicos 1 e 2. quando você coloca a primeira porção de macarrão na sua boca, reações bioquímicas já dão início ao processo digestivo. Por exemplo, na saliva há a presença de uma importante enzima digestiva denominada alfa-amilase salivar ou ptialina; esta enzima é responsável pelo início do processo de digestão de amido, uma molécula polissacarídica formada por várias moléculas de glicose, nosso principal “combustível energético”. Este foi só um exemplo! Vamos, então, entender como ocorre a secreção de enzimas em todo o nosso trato gastrointestinal, uma vez que a presença de 40 UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO glândulas secretoras neste trato serve, basicamente, a duas funções: secretar enzimas digestivas e secretar muco, com o objetivo de lubrificar e proteger as diferentes porções do trato digestório (BERNE; LEVY, 2009). Estas secreções são produzidas ao longo de todo o tubo digestório por um conjunto de glândulas denominadas glândulas exócrinas, como as glândulas salivares, o fígado, o pâncreas e as glândulas mucosas, as quais se encontram distribuídas desde a boca até o ânus. “Glândulas exócrinas correspondem a uma célula ou grupo de células capazes de secretar seus produtos em um ducto ou lúmen de um órgão oco” (TORTORA; DERRICKSON, 2016, p. 200). Vale ressaltar que a secreção de substâncias pelas glândulas exócrinas é apenas uma das funções do sistema digestório, além destas, possuímos as funções de motilidade, que você já estudou no tópico anterior, e as funções de digestão e absorção que veremos mais adiante. Então, vamos imaginar que quando estamos com fome nos é apresentado o prato que mais gostamos! Obviamente, esta simples visão nos desperta o apetite e imediatamente começamos a salivar. Esta fase do processo digestivo é denominada fase cefálica e torna o nosso trato gastrointestinal pronto para receber a refeição. A ativação da fase cefálica pode se dar por diversos estímulos: olfatório, cognitivos (antecipação e pensamento sobre o consumo da comida), visuais e, até mesmo, estímulos auditivos como ouvir alguém dizendo que o jantar está na mesa. Outra fase envolvida na digestão do alimento é a fase oral, que possui muitas características indistinguíveisda fase cefálica, sendo a única diferença que a comida está em contato com o trato gastrointestinal, ou seja, se encontra na boca, promovendo a expressão de estímulos mecânicos e químicos (mastigação e sabor) (BERNE; LEVY, 2009). Como ocorre a secreção destas glândulas? Por meio do sistema nervoso autônomo (SNA), que se encontra interligado ao nosso sistema nervoso central (SNC), o que explica a secreção salivar que vimos na fase cefálica. Vamos olhar mais de perto como o SNA se organiza e como ele pode influenciar diretamente na secreção glandular: TÓPICO 3 | SECREÇÃO ENZIMÁTICA, DIGESTÃO E ABSORÇÃO 41 FIGURA 20 – SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) FONTE: < http://bit.ly/2Z5l6og >. Acesso em: 3 jul. 2019. Como havíamos citado anteriormente, a regulação da secreção glandular envolve não só a ativação do SNA, também chamado de neurovegetativo, sendo formado pelo sistema nervoso autônomo simpático (SNAS) e parassimpático (SNAP), como também do SNC. Vale ressaltar que o neurotransmissor associado ao SNAS é a noradrenalina (NA) e ao SNAP é a acetilcolina (Ach) e tanto o SNS quanto o SNP são capazes de exercer influências extrínsecas (externas) sobre as atividades do sistema digestório influenciando no processo de digestão. Como dito anteriormente, esta ligação SNC – SNA explicaria os eventos observados durante a fase cefálica da digestão. Sendo assim, a secreção glandular ocorre de forma altamente regulada e envolve tanto a participação do SNC quanto do SNA, envolvendo eventos de regulação neurócrina, parácrina e exócrina. 42 UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO NOTA • Regulação neurócrina: envolve neurônios sensoriais, que secretam diferentes neurotransmissores como a Ach. • Regulação endócrina: envolve hormônios que são produzidos e armazenados por células especializadas que se encontram na mucosa do tubo digestório e que são, posteriormente, secretadas no sangue, como, por exemplo, o hormônio colecistocinina. • Regulação parácrina: é exercida localmente por substâncias que são produzidas e armazenadas por células especializadas, e armazenadas na própria mucosa do tubo digestório, como, por exemplo, a histamina. Por fim, devemos ressaltar a participação do Sistema Nervoso Entérico (SNE), parte integrante do SNAS. O SNAS atua diretamente sobre o SNE, sendo capaz de estimular ou inibir os processos digestivos (GUYTON; HALL, 2017). O SNE está diretamente envolvido nos processos fisiológicos ocorrentes no sistema digestório. O SNE é composto pelos plexos mioentérico e submucoso (em destaque na Figura 21), permitindo que neurônios, tanto do SNAS quanto do SNAP, possam modular a ação do SNE, acelerando ou desacelerando as ações do sistema digestório. Plexos neuronais correspondem à uma rede de interconexão neuronal, mas este conceito de plexo pode ser aplicado a vasos linfáticos ou sanguíneos também. FIGURA 21 – SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO (SNE) FONTE: Tortora e Derrickson (2016, p.1211) Glândulas na mucosa Veia Glândulas na submucosa Ducto de glândula situada fora do trato gastrintestinal Plexo submucoso (plexo de Meissner) Plexo mioentérico (plexo de Auerbach) Tecido linfático associado à mucosa (MALT) Mesentério TÚNICA MUSCULAR: Músculo circular Músculo longitudinal TÚNICA SEROSA: Tecido conjuntivo frouxo Epitélio TÚNICA SUBMUCOSA TÚNICA MUCOSA: Epitélio Lâmina própria Lâmina muscular da mucosa Lume Artéria Nervo TÓPICO 3 | SECREÇÃO ENZIMÁTICA, DIGESTÃO E ABSORÇÃO 43 Inúmeras vezes lhe disseram para mastigar devagar e repetidamente o ali- mento, não é mesmo? Por que isso seria importante? A mastigação é um processo importante para que possamos realizar a quebra mecânica do alimento e, com o auxílio das enzimas presentes na cavidade oral, como a amilase salivar e a glico- proteína mucina, aumentar a área de absorção dos nutrientes. A mucina é capaz de lubrificar o bolo alimentar com a finalidade de facilitar a mastigação e a degluti- ção. Entretanto, como comentado anteriormente, mínima absorção de nutrientes é verificada na boca, mas é importante ressaltar que estímulos presentes na cavidade oral são capazes de estimular respostas distais do trato gastrointestinal como, por exemplo, a secreção aumentada de ácido gástrico, enzimas pancreáticas, além da contração da vesícula biliar (BERNE; LEVY, 2009). Como você observou na imagem anterior, a estimulação do SNAS, subdivisão parassimpática, é capaz de aumentar a secreção glandular. Isto é particularmente importante na formação da saliva, primeiro passo para se iniciar o processo digestivo. As principais glândulas salivares estimuladas, principalmente, pelo SNA, porção parassimpática, são “as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais” (BERNE; LEVY, 2009, p. 502). A secreção diária de saliva é de cerca de 800 a 1500ml, com uma estimativa média de 1000ml. A saliva apresenta pH entre 6 e 7, possuímos nela apenas a secreção de ptialina (alfa-amilase salivar), secretada pelas glândulas salivares que é uma enzima capaz de digerir amido e de mucina, capaz de promover a lubrificação de superfícies mucosas. Entretanto, apesar de não haver, efetivamente, um processo digestivo, que só ocorrerá eficientemente mais adiante no tubo digestório, a saliva é de fundamental importância para a consistência adequada do alimento antes da deglutição (BERNE; LEVY, 2009), tente imaginar você engolindo um alimento seco, sem a produção de saliva, difícil, não é? QUADRO 2 – COMPONENTES DA SALIVA FONTE: O autor COMPONENTES DA SALIVA AÇÕES Água e eletrólitos (Na+,Cl-, HCO3-, Ca+2, entre outros) Solubilização e deglutição do alimento. Muco Possui a proteína mucina capaz de lubrificar o alimento e facilitar a deglutição. Ptialina (alfa-amilase salivar) Enzima capaz de hidrolisar o amido em polímeros menores. Lisozima Enzima com função bactericida, importante na manutenção da higienização da cavidade oral. 44 UNIDADE 1 | SISTEMA DIGESTÓRIO Uma vez que o alimento seja deglutido, com a importante participação da saliva, vamos acompanhar o caminho dele no esôfago e a existência de secreção neste órgão. No esôfago temos apenas a secreção de substâncias mucosas que são capazes de lubrificá-lo, favorecendo a deglutição (BERNE; LEVY, 2009). Pronto, o alimento chegou no estômago e agora veremos quais são as substâncias secretadas nesse órgão: além de células secretoras de muco que revestem a superfície inteira do estômago, possuímos mais dois tipos de glândulas: as glândulas oxínticas que também são denominadas como glândulas gástricas ou parietais e as glândulas pilóricas. As glândulas gástricas secretam além de ácido clorídrico (responsável pelo baixo pH estomacal), pepsinogênio, fator intrínseco e muco. Já as glândulas pilóricas secretam principalmente muco, visando justamente proteger a mucosa do piloro do ácido gástrico produzido pelas células gástricas, além de secretar o hormônio denominado gastrina (BERNE; LEVY, 2009). As células oxínticas são capazes de secretar cerca de 160mmol/L de ácido clorídrico, o que é capaz de tornar o pH estomacal extremamente ácido, fazendo com que o pH desta solução fique na ordem de 0,8 (GUYTON; HALL, 2017). Neste pH a concentração de íons hidrogênio, que conferem a acidez à solução, é cerca de 3 milhões de vezes maior que a do sangue arterial. Obviamente, para que não haja lesão da mucosa gástrica em função do ácido secretado, as células constituintes deste tecido, que circundam as células oxínticas, chamadas de células mucosas superficiais, são capazes de secretar grandes quantidades de muco, o que permite revestir com esta substância a mucosa gástrica em mais de 1 milímetro de espessura, isto é chamado de barreira gástrica. Se a barreira gástrica for danificada, por exemplo, através do uso contínuo
Compartilhar