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Infecções do Sistema Nervoso Central Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Clínica Integrada Turma IV INTRODUÇÃO – CASO CLÍNICO Duas outras perguntas que você faria ao paciente/ acompanhante: o paciente vomitou (o vômito da meningite é em jato sem náuseas – é uma característica também de hipertensão intracraniana [diagnóstico diferencial])? Lista de problemas e hipóteses diagnósticas: sepse por meningite por meningococcemia. Essa situação é muito característica do meningococo, mas nem toda meningite é causada pelo meningococo. Conduta diagnóstica imediata a ser tomada: punção liquorica. Procura-se várias características do liquor, até mesmo o macroscópico (aspecto purulento ou até mesmo hemorrágico, caso seja proveniente de uma hemorragia subarcanóide [principal diagnóstico diferencial]) – procura-se celularidade, proteínas, diversas características. Polinucleares indica infecção por bactéria e mononucleres indica infecção viral. Deve-se salientar que não se pode fazer punção liquorica em pacientes com hipertensão intracraniana. Conduta terapêutica: esse paciente deveria estar internado na UTI com isolamento respiratório. Tratamento com antibiótico de acordo com o agente etiológico específico. GFS, 54 anos, masculino, geólogo (funcionário público), procedente de Salvador. Trazido pela esposa com febre alta e sonolência em evolução há 24 horas. Relato de início do quadro febril há 24 horas, com prostração progressiva e, nas últimas 6 horas, sonolência. Queixou-se de cefaleia no início do quadro. Como era intensa dor e a febre alta desde o início, procurou assistência em PA, realizou exames de sangue relatados como normais e liberado como “virose”. Usou dipirona. Hoje, não se queixa de cefaleia, muito sonolento. A esposa notou pequenas manchas vermelhas rutilantes no abdome, sem prurido, sem dor à palpação. Nega comorbidades, não usa medicações, nega alergias. Viagem recente ao litoral norte do estado, a passeio. Ao exame, regular estado geral, leve taquipnéia, taquicárdico, febril. PA: 80/60 mmHg; FC: 123 bpm; T: 39,4 ºC; FR: 30 ipm. Sonolento, responde mal às solicitações verbais, fácies de dor à mobilização cervical, talvez com rigidez na nuca. Pupila normais. Exame do tórax normal. Abdome flácido, sem visceromegalias, com 3 pequenas lesões em flanco direito (petéquias? Púrpura?). Extremidades com perfusão lentificada, sem edemas, com lesões hemorrágicas em extremidades MMII. Provavelmente um quadro de sepse devido a uma meningite. Febre Febre não é uma doença, é um sintoma que está relacionado principalmente com infecção. Existe infecção sem febre (principalmente em idosos). Existe febre sem infecção (neoplasias, linfoma, colagenoses), não sendo muito comum. Contudo, é mais comum em adultos a febre estar relacionada a processos infecciosos. A falta de suspeita em meningite pode ser fatal para o paciente ou se der o diagnóstico e não souber tratar. Se tiver uma dúvida, trate. Meningite é a inflamação da aracnoide, da pia-máter e do líquido cefalorraquidiano. Podendo ser viral (asséptica – sem presença de bactérias, já que se puncionar o líquor nessa situação, ele será provavelmente límpido), bacteriana/ micobacteriana (englobando tuberculose – forma específica), fúngica (muito comum em pacientes imunossupressos – criptococcus neoformans) e não infecciosas (químicas, neoplásicas [metástases de câncer de pulmão, câncer de mama que podem parar no cérebro causando meningite neoplásica – no líquor encontra células metastática/ neoplásica], hipersensibilidade, autoimune, etc). Encefalite é a infecção do parênquima cerebral – meningoencefalite, pois envolve geralmente a meningite, preservando um pouco o parênquima (pega geralmente um pouco do parênquima e das meninges). Comumente causados por vírus – enterovírus, arbovírus, paramixovírus, herpes vírus, retrovírus – [grande parte desses agentes são tratados como se fosse uma virose comum – autolimitada; deve prestar atenção no herpes vírus], bactérias/ micobactérias – m. Tuberculosis. Empiema subdural é coleção purulenta entre a aracnoide e a dura-máter, é algo localizado. Meningite viral – se causada por enterovírus tem disseminação hematogênica ou neuronal (apresentação bifásica, com pródomos; evolução benigna de apenas 1 semana). A meningoencefalite herpética é um pouco mais diferente que a meningite viral – se apresenta um pouco parecida com a meningite, mas dá confusão mental, pode precipitar convulsão. A meningite por herpes é muito comum em pacientes imunossupressos e em pessoas com história de herpes simples (reincidivante). Os agentes mais comuns no adulto da meningite bacteriana são Streptococus pneumoniae, Haemophilos influenzae e Neisseria meningitidis [existe vacina para essas três bactérias]. Na pediatria/ geriatria são os Streptococcus do grupo B e Listeria monocytogenes. A infecção ocorre geralmente pelas vias aéreas superiores (IVAS) [faringite, sinusite, amigdalite]; começa com uma síndrome febril inespecífica, otite média/ mastoidite e pneumonia. Pode ter uma transmissão interpessoal ou, às vezes, a bactéria é residente da própria cavidade. MENINGITES E ENCEFALITES As meningites têm quadro clínico representado por febre (início agudo), cefaleia, vômitos (em jatos), rigidez da nuca, mialgias, astenia, confusão e obnubilação. Sua tríade clássica é representada por: febre, rigidez de nuca, alteração do nível de consciência. Nem toda rigidez de nuca é meningite. Muitos casos, como torcicolo e rigidez muscular, apresentam rigidez cervical e não são casos de inflamação na meninge. Contudo, em um interior remoto, é melhor tratar logo se outros Pacientes imunossupressos são aqueles que possuem o HIV, desnutrido, diabético descompensado, etilista, dentre outras situações. Painel do Líquor Quando se colhe o líquor para análise, quanto mais completa for a análise, melhor para o diagnóstico. Quando predomina no líquor células relacionadas a uma infecção viral – mononucleares [linfócitos e monócitos] – se pode tratar a meningite como se fosse herpética. Quando for polinucleados [neutrófilos], a infecção provavelmente é devido a uma bactéria. Isso vale para líquido pleural, líquido ascético. Quando têm polimorfonucleados, ocorre a presença de pus. sintomas aparecerem e persistirem – meningite é uma doença tão grave que na dúvida é melhor tratar se não tiver como colher o liquor. Todo paciente rebaixado é bom suspeitar de meningite, a não ser que seja proveniente de um trauma. O paciente não vai aparecer todo florido para o médico, ele não informa as coisas de forma clara. Os sinais de Kernnig e Brudzinski são sinais que preveem/ identificam uma provável meningite – “meningismo”. As encefalites têm como sintomas os sinais de disfunção cerebral difusa – alteração da consciência [letargia, confusão e obnubilação, coma], incoordenação, convulsões [mais comum em crianças e é um diagnóstico diferencial], febre, cefaleia, vômitos, rigidez de nuca (meningoencefalite). Meningococcemia é uma doença relacionada a meningite que pode começar no cérebro e se espalhar pelo corpo [uma forma de sepse] a partir do sangue. É um quadro clínico agudo apresentado por febre (alta) e comprometimento rápido do estado geral, alteração do nível de consciência. Pode apresentar petéquias ou púrpuras. Lesão elementar na pele é um importante diagnóstico diferencial. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito atravésda punção liquorica (entre as vértebras L4 e L5). O estudo do liquor é feito através da elevação da pressão do LCR, exame bioquímico: glicorraquia, proteinorraquia; celularidade e bacterioscopia (PCR [reação em cadeia polimerase], etc). Não se deve retardar a coleta do LCR par TC, à exceção de suspeita de encefalite ou HIC [tríade da hipertensão intracraniana: cefaleia, bradicardia e hipertensão] (efeito massa/ abscesso) Exames gerais, como hemograma, ureia, creatinina, TC devem ser feitos para firmar o diagnóstico. TRATAMENTO O tratamento das infecções do sistema nervoso central é feito a partir da antibioticoterapia precoce – ceftriaxone [betalactâmico – cefalosporina de 3ªG – boa droga para tratar pneumonia, infecção urinária e meningite]: 2g [é o dobro da dose da pneumonia], IV, 12/12h / ampicilina se suspeita de L. monocytogenes e se o paciente for idoso. Associação com corticoide – dexametasona ao tempo ou imediatamente antes da ATB (se suspeita de pneumococos). Em suspeita de encefalite viral, usa-se aciclovir [droga antiviral que serve para tratar os herpes vírus – tanto o herpes simples quanto o herpes zoster] – 5 a 10mg/ kg, IV, 8/8h. Quimioprofilaxia para meningococos – todos as pessoas que estão em contato próximo, pessoal hospitalar que teve contato estreito (RCP, exame inicial, etc) – ciprofloxacina 500mg em dose única (ceftriaxona IM, ofloxacina, azitromicina) ou rifampicina por 2 dias, em 2 doses ao dia. ABSCESSO CEREBRAL O abscesso cerebral é outra infecção do sistema nervoso central não tão importante quanto a meningite. É uma lesão localizada devido a uma liquefação do parênquima com formação de pus em uma cápsula. É basicamente um “AVC com febre” – sintoma neurológico focal com a presença de febre. Condições predisponentes: ontogênicas, dentárias [também está relacionada com a endocardite], cardiopatias congênitas, pulmonares, traumatismo craniano, imunossupressão. Quadro clínico: infecção (febre, queda do estado geral); efeito massa (cefaleia, náuseas, vômitos, alteração da consciência, convulsões); comprometimento focal (relacionado à topografia da lesão – disartria, hemiparesia, perturbação visual); alterações neurológicas em pacientes com condições de base (paciente com ICC ou DM faz uma alteração neurológica importante pode ser um caso de abscesso cerebral). DIAGNÓSTICO O diagnóstico do abscesso cerebral deve ser feito com o exame do crânio – RNM do crânio, aspiração cirúrgica (diagnóstico microbiano); rastreamento de ouvidos, seios paranasais, cavidade oral, coração e pulmões. TRATAMENTO O tratamento do abscesso cerebral deve ser feito com a redução do edema cerebral a partir do uso da dexametasona. Às vezes é necessário o tratamento cirúrgico, contudo não é indicado caso a lesão seja pequena ou inacessível, o patógeno seja identificado, HIC é ausente, múltiplos abscessos, diagnóstico precoce (cerebrite) e monitoramento disponível. A tendência é que se não opere se não houver necessidade. A antibioticoterapia deve ser feita com uma boa sensibilidade e penetração no SNC (vancomicina [em caso de Staphylococcus aureus – é uma bactéria que produz beta-lactamase], ceftriaxone, metronidazol, sulfadiazina – pirimetamina). CASOS CLÍNICOS UPS, 31 anos, feminino, estudante, procedente de Salvador. Cefaleia intensa em evolução há 3 dias. Relata síndrome gripal em evolução há 6 dias, com rinorréia clara, agora pouco purulenta. Febre inicial com recorrência nas últimas 48 horas, associada a mialgias e mal-estar. Náuseas e vômitos presentes hoje. A mãe, que acompanha, relata episódio de confusão mental e agitação pela manhã, remitidos após período de sono. Notou também discreta ptose palpebral à esquerda. Nega comorbidades, usa contraceptivo oral, nega alergias. UM 29/08 pp. Relata recente exacerbação de herpes genital há 3 dias. Ao exame, bom estado geral, eupneica, corada. Subfebril. T 37,6 ºC, PA 120/60 mmHg, FC 96 bpm. Ativa e colaborativa, sem déficit motor ou cognitivo. Pares cranianos III, IV e VI normais. Discreta rigidez de nuca, com sinal de Brudzinski presente. Otoscopia bilateral normal; orofaringe normal. B1 e B2 normais. RCR. Pulmões limpos, MV distribuído. Abdome flácido, sem visceromegalias ou massas. Extremidades sem edemas com boa perfusão. Paciente jovem com quadro de herpes genital (pode acarretar uma meningoencefalite herpética); Utilizar aciclovir. KLO, 24 anos, feminino, estudante, procedente de Salvador. Vem por perda de força em hemicorpo esquerdo progressiva nos últimos 2 dias, que há 12 horas a impede de andar. Relata cefaleia há 1 semana, leve progressiva. Sem febre mensurada, sem náuseas, sem vômitos. Nega traumatismos cranianos nos últimos 3 meses, entretanto relata perda ponderal significativa nesse período, com episódios prolongados de diarreia líquida e desidratação (sic), sem vômitos. Nega comorbidades, cirurgia abdominal prévia por trauma abdominal (assalto – sic). Não usa medicações, nega alergias. Tem namorado há 4 meses, monogâmica. Uso eventual de drogas (maconha) e pratica sexo sem proteção em festas de época, anteriores ao atual relacionamento. Ao exame, regular estado geral, regular estado nutricional, eupneica, corada. Afebril. PA 90/60 mmHg, FC 96 bpm. Vigil e colaborativa, paresia em hemicorpo esquerdo. Pares cranianos III, IV e VI normais. Discreta rigidez de nuca. Otoscopia bilateral normal. Cavidade oral com lesões esbranquiçadas em gengivas, palato e língua. B1 e B2 normais. RCR. Pulmões limpos, MV distribuído. Abdome flácido, sem visceromegalias ou massas. Extremidades sem edemas com boa perfusão. Paciente jovem com comportamento sexual de risco – HIV/ síflis [fazer liquor]; Diarreia crônica e desidratação; Quadro parecido com AVC; Provavelmente um Abscesso Cerebral, mas existe uma possibilidade de meningoencefalite. A síflis faz mais lesões espinhais e vertebrais – tabes dorsalis: lenta degeneração (desmielinização) de neurônios que carregam informação sensorial para o cérebro.
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