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Lesão Renal Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Clínica Integrada Turma IV LESÃO RENAL AGUDA A Lesão Renal Aguda (LRA) descreve a síndrome clínica anteriormente chamada de insuficiência renal aguda. LRA é uma anomalia funcional-estrutural do rim que se manifesta em 48h, sendo determinada pelos exames de sangue, urina, biópsias ou exames de imagem. Do ponto de vista diagnóstico, a redução da função renal na LRA está associada ao aumento absoluto na creatinina sérica de 0,3 mg/dL ou a um aumento percentual de 50% da creatinina sérica (creatinina de 0,5 e vai para 0,75 por exemplo). Além disso, a redução do volume urinário, constituindo oligúria < 0,5/kg/h por mais de 6 horas, também preenche os critérios diagnósticos da LRA. É uma doença sistêmica, sem lesão renal previa, podendo reverter a função renal em 2 meses. A LRA pode ser dividida em 3 partes: pré-renal [problema é antes do rim], renal [problema é no rim] e pós-renal [problema é depois do rim]. Cada uma das três categorias representa um processo fisiopatológico único com parâmetros diagnósticos e prognósticos distintos. Quando o paciente chega com LRA no hospital, de imediato, não tem como saber se a lesão é pré, intra ou pós-renal; como a pré- renal é muito comum, faz-se o desafio volêmico, fazendo a hidratação do paciente com diversas substâncias como ringer lactato e depois utiliza-se o diurético para ver se o paciente está urinando bem ou não. Se a resposta for boa ao volume de hidratação, geralmente está diante de uma urina pré-renal (pressão de volume); se o a paciente não responder, diz-se que o rim está “travado” e consequências podem aparecer como edema agudo de pulmão, por isso deve-se observar [provavelmente internado na UTI] o paciente nessa prova. Lesão Renal Aguda pré-renal: a azotemia pré-renal, a causa mais comum de LRA, é responsável por cerca de 60% a 70% dos casos adquiridos na comunidade e 40% dos adquiridos no hospital. A diminuição da perfusão renal é vista em estados doentios que reduzem o volume intravascular, tais como sepse, a IC ou insuficiência hepática. Além disso, as medicações que reduzem a perfusão capilar glomerular, como os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), os bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRAs) e os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), também podem causar LRA pré-renal. Hemorragia, diarreia, pancreatite, perdas GI, vômitos, queimaduras, uso excessivo de diuréticos, febre, perda de líquido para o terceiro espaço, diminuição do DC, arritmias, infarto, tamponamento pericárdico, vasodilatação periférica, choque anafilático, sepse, vasoconstricção renal, anestesias, cirurgias e uso de drogas podem ser exemplos de etiologias da lesão pré-renal. Realizar a pergunta para o paciente: o senhor está urinando muito ou pouco? Houve alguma alteração? O diagnóstico de azotemia pré-renal pode ser com frequência determinada através do histórico do paciente. São características típicas comumente observadas na anamnese do paciente com azotemia pré-renal vômito, diarreia e baixa ingestão oral. As análises laboratoriais em pacientes com azotemia pré-renal revelam níveis séricos aumentados de ureia e creatinina. A FE-Na costuma ser inferior a 1%. Porém, nos pacientes que estão recebendo diurpeticos como a furosemida, a FE-Na pode ser maior que 1% mesmo que o paciente tenha azotemia pré-renal devido à natriurese induzida por diuréticos. Nestas situações clínicas, a excreção fracional de ureia pode ser utilizada e é calculada de maneira similar: FE-Ureia = (Ureia urinária x Cr plasmática / Ureia plasmática x Cr urinária) x 100. Uma FE-Ureia menor que 35% sugere LRA pré-renal. Outras causas de uma FE-Na maior que 1% incluem a presença de um soluto não reabsorvível, como bicarbonato, a glicose ou manitol. Outro parâmetro laboratorial para auxiliar o diagnóstico da LRA pré-renal é a relação entre as concentrações séricas de ureia e creatinina. Em um paciente com azotemia pré-renal, esta relação costuma ser maior que 20:1. Lesão Renal Aguda intrínseca [renal]: é muitas vezes resultado de azotemia pré-renal não tratada ou intratável que leva a uma LRA isquêmica. As causas da LRA intrínseca são variadas e podem envolver qualquer porção da vasculatura renal, néfron ou interstício renal. Lesão séptica ou isquêmica são as principais causas. As toxinas renais também podem danificar os túbulos tanto direta quanto indiretamente. As etiologias podem ser: plaqueta baixa, hemólise, elevação das enzimas hepáticas, púrpura trombocitopênica, embolização para artéria renal, necrose intersticial aguda, lúpus eritematoso (doença de várias escalas de gravidade, o que torna letal é quando afeta o rim), síndrome de Sjogren, cirrose biliar primário, crioglobulinemia (doenças de inflamação primária nos vasos); necrose tubular aguda, causa isquêmica; nefrites; síndrome de Wegener, poliatrite nodosa; antibioíticos (aminoglicosídeos – gentamicina), metais pesados, contrastes [iodado], anestésicos, mioglobina [se deposita no rim após rabdomiólise – CPK total – e liberação de mioglobina; isso pode ser evitado hidratando bastante o paciente]. AINEs afetam o rim e estômago, em uso prolongado. Penicilinas, cefalosporinas e sulfonamidas estão associados à nefrite intersticial. Um histórico de hipotensão ou de exposição a nefrotoxinas ou a medicamentos é um achado comum nos pacientes com LRA intrarrenal. A nefrotoxina pode ser uma toxina tubular específica que causa LRA ou um medicamento que causa reação alérgica, como na nefrite intersticial aguda. Os exames laboratoriais mostrarão altas concentrações séricas de creatinina e ureia intrarrenal. NTA e nefrite intersticial aguda estão frequentemente associadas a uma FE-Na maior que 1, enquanto esta é tipicamente menor que 1 nos transtornos vasculares e na glomerulonefrite. A eosinofilia periférica e os eosinófilos urinários podem estar presentes na nefrite intersticial aguda, embora esta última não seja sensível nem específica para este tipo de LRA. A presença de eosinófilos na urina também está associada à doença microembólica de colesterol. A LRA intrarrenal possui achados específicos ao exame de urina que podem ser úteis na determinação do diagnóstico e na tomada de decisões terapêuticas. Lesão Renal Aguda pós-renal: pós-renal pode ocorrer nos quadros de obstrução bilateral do fluxo urinário ou em um paciente com apenas um rim quando o único trato do fluxo urinário é obstruído. Mais comumente, este tipo de obstrução de fluxo é observado em pacientes com hipertrofia prostática, câncer prostático ou cervical, ou doenças retroperitoneais. Uma obstrução funcional pode ser observada nos pacientes com bexiga neurogênica. Além disso, a obstrução intraluminal pode ser vista em pacientes com cálculos renais bilaterais, necrose papilar, coágulos de sangue e carcinoma vesical; enquanto a obstrução extraluminal está associada à fibrose retroperitoneal, ao câncer e aos linfomas. Por fim, a cristalização intratubular de compostos como o ácido úrico, o oxalato de cálcio, o aciclovir, a sulfonamida e metotrexato, bem como as cadeias leves do mieloma, podem causar obstrução tubular. Um histórico de hipertrofia prostática, câncer prostático, linfoma, câncer cervical ou doença retroperitoneal pode ser encontrado com frequência em pacientes com LRA-pós renal. A LRA pós-renal deve sempre fazer parte do diagnóstico diferencial dos pacientes com oligúria grave (volume de urina < 450 ml/ dia) ou anúria (volume de urina < 100 ml/ dia). Porém, muitos pacientes com LRA pós-renal não são oligúricos nem anúricos. Além de uma elevação nos níveis séricos decreatinina e ureia, os resultados dos exames laboratoriais são benignos. A categorização vesical pode ser diagnóstica ou terapêutica na LRA pós-renal. Entretanto, a ultrassonografia renal é o exame diagnóstico de escolha, embora possa ser falsamente negativo no início da LRA pós-renal. Positivar e negativar balanço hídrico: positivar é quando se ganha mais do que se perde e negativar é quando se perde mais do que se ganha. Nos pacientes DM em proteinúria sob o uso de IECA: preserva a função renal; ficar atento a retenção de K+. Consequências da LRA: prurido, depressão imunológica, diminuição do débito urinário, distúrbios plaquetários, anemia, sonolência, tremores, agitação, arritmias, pericardite, DHE, oligúria, anúria, hematúria, piúria. Exames complementares importantes: hemograma, sódio, creatinina [taxa de excreção intrarrenal menor que 10 a 15], ureia (quando a lesão é aguda, a ureia eleva geralmente 20x mais que a creatinina) e eletrólitos (principalmente sódio e potássio); gasometria arterial (elevação de ureia e creatinina: acidose metabólica), urina tipo 1/ sumário de urina, eosinófilos urinários, exames específicos para IC, PSA (HPV/ neoplasia de próstata); exames de imagem (USG: tamanho do rim [geralmente está normal/ aumentado na lesão aguda e diminuído na lesão crônica]; tomografia com contraste ou sem contraste [com contraste é tóxico – sobrecarga para o rim]. Tratamento: reconhecimento do fator etiológico e prevenção, correção do fator lesível, terapia farmacológica com corticoide [em lúpus associada a LRA se usa muito corticoide – metilprednisolona – pulsoterapia], correção dos DHE e acidobásicos e, em alguns casos na insuficiência renal aguda, fazer diálise [provavelmente transitória]. DOENÇA RENAL CRÔNICA A doença renal crônica se refere a muitas anormalidades clínicas que progressivamente agravam-se à medida que a função renal diminui. Esta é resultante de um grande número de doenças sistêmicas que danificam os rins ou são intrínsecas a esses órgãos. Uma taxa de filtração glomerular (TFG) persistentemente abaixo de 60 ml/min/1,73m² (ou maior do que isso associado de lesão renal parenquimatoso – proteinúria), que está abaixo do nível da função renal esperada para ocorrer com o envelhecimento, define DRC clinicamente significativa. Na DRC, a lesão raramente é reparada e, assim, perda de função persiste. Esta distingue a DRC da doença renal aguda, que pode ser corrigida e permitir o retorno da função renal. A perda crônica da função renal danifica ainda mais as lesões renais e anormalidade clinicas mais graves. Como resultado, a DRC piora de forma progressiva, mesmo quando o distúrbio desencadeante se torna inativo. A DRC descreve um espectro de disfunção clínica que varia desde as anormalidades detectáveis apenas em exames laboratoriais até a uremia. A uremia, a qual literalmente significa “urina no sangue”, é resultante tanto do acúmulo de metabólitos não excretados quanto das anormalidades metabólicas induzidas por eles. Quando o rim deixa de realizar a maioria das suas funções, o estado clínico é denominado doença renal em estágio terminal (DRCT) e transplantes ou diálise são necessários para a manutenção da vida. No entanto, a natureza crônica e progressiva da Balanço hídrico humano: 1,5 l a 2 l por dia. Ingere de líquido mais ou menos o mesmo volume. Menos de 400 ml: oligúria; menos de 100 ml: anúria. Cilindros hemáticos: o cilindro é devido ao formato dos túbulos; significa que sangrou antes dos túbulos e foi filtrado. Diálise de emergência: hipercloremia, congestão, encefalopatia urêmica, pericardite urêmica, pulmão urêmico, hipercalemia intratável ou acidose metabólica intratável. A característica clínica da síndrome metabólica é a respiração de Kussmaul [cetoacidose metabólica]. Idosos/ Diabetes melito/ DRC Endotélio vulnerável Lesão renal: diminuição do fluxo sanguíeneo renal, AINES, contrastes radiológicos, cicrurgia e infecção Lesão renal aguda com disfunção endotelial Microvasculatura renal alterada; atenuação do labirito capilar Diminuição crônica da perfusão renal DRC permite a instituição de estratégias de tratamento que possam retardar a perda da função renal. Além disso, muitos sintomas da uremia podem ser melhorados ou eliminados, retardando assim a DRCT. Ou seja, a DRC é o estágio de doença renal persistente secundário a um processo patológico lentamente progressivo e irreversível. O paciente fica congesto e perde a função renal tanto endócrina (vitamina D, eritropoietina, dentre outros) quanto filtradora. O período é igual ou superior a 3 meses, pois em lesões renais agudas é comum a função renal voltar a funcionar. Provoca anormalidades estruturais e funcionais dos rins com ou sem diminuição da taxa de filtração glomerular (o fato de perder proteínas na urina significa insuficiência renal crônica, mesmo que a taxa de filtração glomerular esteja normal). Prevalência de estágios da doença renal crônica e frequências de complicações Causas da doença renal crônica: nefropatia diabética, nefrosclerose hipertensiva (mais que diabetes no Brasil), doença glomerular (glomerulonefrite, amiloidose, doença de cadeia leve, lúpus eritematoso sistêmico, granulomatose de Wegener), doença túbulo intersticial (nefropatia de refluxo [pielonefrite crônica], nefropatia por analgésicos, nefropatia obstrutiva [cálculos, hipertrofia prostática benigna], rim do mieloma), doença vascular (esclerodermia, vasculite, insuficiência renovascular [nefropatia isquêmica], doença renal ateroembólica), doença cística (doença renal policística autossômica dominante, doença renal cística medular). Fatores de risco para DRC: idade, sexo (mais comum no feminino), DM, hipertensão, proteinúria, anemia, complicações metabólicas, obesidade, tabagismo e dislipidemia. Anasarca e dispneia são os sintomas mais comuns da doença renal crônica, evoluindo para o edema agudo de pulmão, sem responder bem aos diuréticos. Soluço associado a anorexia são sintomas bem prevalentes em quadros que estão iniciando. Para quadros não agudizados: náuseas, vômitos e anasarca. Coma Estágio Descrição TFG (ml/min/1,73m²) Prevalência em adultos (milhões) Sintomas ou sinais 1 Lesão renal crônica; normal ou TFG aumentada > 90 3,6 Anemia 4%; hipertensão 40%; mortalidade de 5 anos 19% 2 Perda leve de TFG 60 – 89 6,5 Anemia 4%; hipertensão 40%; mortalidade de 5 anos 19% 3 Perda moderada de TFG 30 – 59 15,5 Anemia 7%/ hipertensão 55%; mortalidade de 5 anos 24% 4 Perda grave de TFG 15 – 29 0,7 Hiperfosfatemia 20%; anemia 29%; hipertensão 77%; mortalidade de 5 anos 46% 5 Doença renal < 15 ou diálise 0,5 Hiperfosfatemia 50%; anemia 69%; hipertensão > 75%; mortalidade de 3 anos 14% urêmico é muito comum em emergência; pericardite é diagnóstico diferencial de infarto (coração está grande e com dor retroesternal; indicação de diálise de urgência). Às vezes, a DRC é tratável, tendo cura e melhora. Contudo a melhor forma de impedir a DRC é tratando suas etiologias: HAS, DM, dislipdemias, hipercalemia, dentre outros. A melhor forma de tratamento é encaminhar o paciente para um hospital que tenha a especialidade de nefrologia e possa realizar a diálise do paciente [fístula arteriovenosa]. Terapia de substituição renal: o objetivo é retirar o excesso de água e substâncias que não estão sendo eliminadas na urina. Ter cuidado com peritonite, ou seja, manter higiene. Hemodiáliseé a terapia de substituição renal permanente, na qual o sangue sai e vai para a máquina que o filtra através de uma membrana, retornando ao corpo sem as escórias. É necessário utilizar heparina para que o sangue não coagule; geralmente se realiza o procedimento 3x por semana com duração de 4h.
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