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PETROBRASBR III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO Tecnologias de Tratamento Eletrostático no Processamento Primário de Petróleos Pesados Roberto Carlos G. de Oliveira, CENPES/PDP/TPAP Robson Pereira Alves, CENPES/PDP/TPAP Este trabalho foi preparado para apresentação no III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO, realizado pela PETROBRÁS - Petróleo Brasileiro S.A., de 21 a 24 de novembro de 2006, no Hotel Atlântico em Búzios-RJ, sob a coordenação da Escola de Ciências e Tecnologias de E&P da UNIVERSIDADE PETROBRAS e do E&P-ENGP/TPP/PMF. Seu conteúdo está sujeito a correções pelo(s) au- tor(es) a qualquer tempo. Os conceitos apresentados e as análises e opiniões emitidas não refletem necessariamente o pensamento da comissão organizadora do evento, sendo de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es). É permitida a cópia de um resumo de, no máximo, 300 palavras. As ilustrações não podem ser copiadas ou reproduzidas sem autorização prévia. Resumo Os tratadores eletrostáticos são os equipamentos responsáveis por enquadrar o petróleo tratado nas unidades de produção, dentro das especificações de teor de água e de sal residual de envio às refi- narias. Atualmente, são disponíveis no mercado cinco tipos de tratadores eletrostáticos: • convencional de baixa velocidade; • convencional de alta velocidade; • fluxo horizontal; • Dual Polarity; • Dual Frequency. Embora a maioria dos tratadores eletrostáticos utilizados na Petrobras seja do tipo convencional de baixa velocidade, a tecnologia Dual Polarity já está sendo utilizada, com desempenho superior ao do tratador convencional. A tecnologia Dual Fre- quency, que consiste em uma sofisticação da tec- nologia Dual Polarity, é recém lançada no mercado, como mais eficiente que as demais. Vislumbra-se o uso da tecnologia Dual Polarity e, principalmente, da tecnologia Dual Frequency, para o tratamento de óleos pesados e extra-pesados, os quais reque- rem condições mais severas de processo, com o objetivo de redução da temperatura de processa- mento. O objetivo deste trabalho é apresentar os tipos de tratadores eletrostáticos existentes no mercado, suas diferenças, vantagens e limitações, e a impor- tância da escolha do tipo de tratador eletrostático para novos projetos e ampliações das plantas offshore de processamento primário de petróleo. Histórico O tratamento eletrostático de petróleos vem sendo utilizado há algumas décadas. A tecnologia con- vencional de corrente alternada é a mais antiga e a mais amplamente utilizada. Ao longo do tempo, diversos arranjos de eletrodos e transformadores foram utilizados. O uso de corrente contínua no tratamento eletrostático foi introduzido na década de 1970, aumentando a eficiência do processo. Entretanto, com o recente advento dos eletrodos de compósito a sua aplicação ganhou mais força. O desenvolvimento de campos de petróleo pesado traz a necessidade da escolha da tecnologia mais eficiente, que permita redução de temperatura, peso e espaço nas unidades de produção, sem perda de qualidade do petróleo tratado. O mercado tem promovido melhorias nos tratadores eletrostáti- cos; entretanto, cabe a Petrobras estar atualizada sobre os novos avanços, de forma a julgar consci- entemente o que é mais adequado para as unida- des de produção da Empresa. Introdução A separação água/óleo é o maior desafio nas insta- lações de produção de petróleos pesados. Esta separação envolve altos custos de capital (vasos de maiores dimensões, materiais mais nobres, maiores sistemas de aquecimento, etc.) e altos custos de operação (maior consumo de energia para aquecimento, manutenção mais freqüente, maior consumo de produtos químicos, etc.), além de maior risco operacional em função das altas temperaturas de operação. Para se remover a in- desejada água produzida emulsionada no petróleo, o tratamento eletrostático de petróleos é o proces- so que se mostra mais eficaz. Novas tecnologias de tratamento eletrostático podem reduzir os im- pactos negativos inerentes ao processamento de petróleos pesados em ambiente offshore. A desidratação de petróleos pesados, apresenta maior dificuldade devido a dois grandes fatores: a alta viscosidade do petróleo e a pequena diferença de densidade entre o petróleo pesado e a água. A alta viscosidade retarda o processo de sedimenta- ção pela ação gravitacional, além de também retar- dar o transporte do produto químico desemulsifi- cante para a interface das gotas de água; a pequena diferença de densidade também retarda o processo de sedimentação gravitacional. Além de conter partículas como argilas, quartzo, óxido e sulfeto de ferro (conhecidos como sólidos finos), os petróleos pesados contêm significativas quantida- des de outros agentes estabilizantes de emulsão, como asfaltenos, ácidos naftênicos, resinas, que devido ao seu caráter anfifílico são moléculas ten- soativas. Os efeitos da viscosidade e da densidade na separação água/óleo são bem ilustrados pela conhecida lei de Stokes, que descreve a sedimen- tação de uma pequena esfera rígida de água em um fluido viscoso: 2 III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO o goa g . d.g).( V − = 18 2 .................................... (1) onde, Vg - Velocidade de sedimentação da gota; a e o - massas específicas da água e do óleo; g - aceleração da gravidade; dg - diâmetro da gota; o - viscosidade absoluta do óleo. Pela análise da equação 1 observa-se que o tempo necessário para uma desidratação efetiva é maior quando o petróleo apresenta maior viscosidade e menor diferença de densidade entre as fases óleo e água. Deste modo, diversos métodos para pro- mover a separação água/óleo podem ser utilizados, como os descritos abaixo: - utilização de elevado tempo de residência pelo uso de vasos de maiores dimensões; - aquecimento da emulsão, com o objetivo de redu- zir a viscosidade do óleo; - adição de produtos químicos para quebra da emulsão, favorecendo a coalescência entre as gotas de água; - adição de hidrocarbonetos leves (diluente), para redução da viscosidade e aumento da diferença de densidade entre as fases; - submeter a emulsão a um campo eletrostático, para intensificar e acelerar a coalescência das gotas emulsionadas. A combinação de todos ou quase todos os fatores acima é necessária para uma desidratação eficien- te de petróleos pesados. Certamente, a utilização destes recursos envolve maiores custos e maiores manobras operacionais. O desafio é selecionar a combinação ótima dos recursos citados, com mini- mização dos custos, garantia de segurança opera- cional, qualidade do petróleo tratado para exporta- ção e obtenção de água com especificação adequada para descarte ou re-injeção. Descrição do Processo Eletrostático O processo de separação eletrostática aplica-se à separação de um líquido condutor disperso em um meio não-condutor. Quando submetidas à ação de um campo elétrico, além das forças gravitacional (Fg) e viscosa (Fv), atuam sobre as gotas de uma emulsão tipo água em óleo, forças eletrostáticas (Fe) e tipo dipolo-dipolo (Fd). Com o aumento da intensidade do campo elétrico aplicado, as gotas de água se polarizam e tendem a passar da forma esférica para a forma elíptica. Uma vez polarizadas, as gotas tenderão a alinhar- se com as linhas de força do campo elétrico, dando origem às interações dipolo-dipolo entre as gotas. A força de atração dipolo-dipolo entre duas gotas sujeitas a ação de um campo elétrico é descrita pela equação 2. 4 223 2 3 1 2 )cos.2.(....3 S senRREK FD − = ...... (2) onde: R1 e R2 são os raios das gotas; Sé a distância entre o centro das gotas; K é a constante dielétrica da fase contínua; E é o gradiente de tensão aplicado; é o ângulo entre o centro das gotas e a linha de força do campo elétrico. Da análise da equação 2, nota-se que a força das interações dipolo-dipolo decresce rapidamente com o aumento da distância entre as gotas (S), e aumenta rapidamente com o aumento do raio das gotas (R) e com o aumento do gradiente de tensão do campo elétrico (E). No caso de campo elétrico de corrente contínua (DC), ocorre o efeito de eletroforese, ou seja, a migração das gotas em direção aos eletrodos de carga contrária, sendo a força eletrostática (Fe) atuante descrita pela equação 3. 32 0 166 ).(E.R..K..,F de −= ...... (3) onde, é a permissividade dos espaços livres; R é o raio da gota; é a fração volumétrica de fase aquosa. O rompimento de emulsões em campos elétricos de corrente contínua (DC) se processa de duas formas: pela coalescência por choque entre gotas de carga elétrica de sinais contrários e pelo efeito de eletroforese, que culmina na coalescência das gotas sobre a superfície das placas. Para campo elétrico de corrente alternada (AC), a velocidade de migração das gotas em direção aos eletrodos é praticamente nula e, portanto, a equação 3 descreve somente a intensidade da força eletrostática que atua sobre as gotas em um intervalo de tempo muito pequeno (Freqüência = 60 hertz, portanto, tempo = 0,0083 s). Nesse tipo de campo (AC) predomina a ação dos dipolos induzidos responsável pela polarização e mudanças na geometria das gotas. As gotas polarizadas tendem a se atrair mutuamente aumentando a probabilidade de choque entre as mesmas. Além disso, a vibração segundo a freqüência aplicada, provoca o desprendimento de parte dos tensoativos naturais presentes na superfície das gotas, facilitando o processo de coalescência. Conforme mostrado nas equações 2 e 3, quanto maior o gradiente de tensão aplicado sobre as gotas de uma emulsão, mais rápido ocorrerá o processo de coalescência das mesmas. No entanto, se o gradiente de tensão aplicado sobre uma gota em particular ultrapassar um valor crítico, a distorção imposta sobre esta gota causará a sua III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO 3 ruptura, originando gotas de diâmetros inferiores ao da gota original, muito mais difíceis de serem removidas. Esse gradiente crítico (Ec) é expresso pela equação 4 a seguir: 50 2 , c ) R. (KE ............................... (4) onde: é a tensão interfacial óleo-água. O consumo de energia elétrica é um dos principais parâmetros para o correto dimensionamento dos transformadores utilizados nos tratadores eletrostá- ticos. A potência mínima requerida (P) neste caso pode ser estimada pela equação 5. L A.C.E P 2 = ............................................. (5) onde: E é o gradiente de tensão, Volt.cm-1; C é a condutividade específica do meio, mho.cm; A é a área de eletrodos, cm2; L é a distância entre os eletrodos, cm. Geralmente, os petróleos mais pesados são também os mais condutivos e os de mais difícil tratamento. A característica condutora destes petróleos está associada principalmente à presença da salmoura e metais pesados, estes últimos associados às frações mais pesadas do petróleo, especialmente nos asfaltenos e resinas. No tratamento de petróleos sabe-se que a condutividade do meio cresce proporcionalmente com a temperatura e, portanto, operações em temperaturas acima daquelas realmente necessárias devem ser evitadas, pois, além do gasto extra no aquecimento da carga, teremos um consumo de energia elétrica adicional. Outro ponto importante que deve ser destacado é o aumento da solubilidade da água nos petróleos com o incremento da temperatura. Sob o ponto de vista prático, isso significa que mesmo a remoção total das gotas presentes em um dado petróleo não é capaz de “zerar” o teor de água presente no mesmo, uma vez que uma quantidade residual de água continuará sob a forma molecular, dissolvida no petróleo. Para exemplificar o impacto dessa observação, podemos tomar a solubilidade da água em um dado petróleo processado a 140°C utilizando-se o gráfico da figura 1. A partir desse gráfico obtém-se para a temperatura de 140°C um teor de água dissolvida no petróleo equivalente a 0,36% em volume. Com o resfriamento desse petróleo para 20°C cerca de 0,02% em volume de água continuará dissolvida no petróleo, enquanto que 0,34% em volume sairá de solução passando a forma de micro-gotas emulsionadas. 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Temperatura (°C) T eo r d e ág u a so lú ve l n o p et ró le o ( % v /v ) Fig. 1 – Teor de água sob a forma solúvel no petróleo, em função da temperatura. Descrição das Tecnologias de Tratamento Ele- trostático Corrente Alternada (AC) Também conhecida como convencional, é a tecno- logia mais antiga e a mais amplamente utilizada. O processo de desidratação eletrostática por cor- rente alternada consiste na aplicação de um campo elétrico de 50 Hz a 60 Hz à emulsão, o que causa a deformação e polarização das gotas, acelerando o processo de coalescência. No campo AC, movi- mento de alongamento das gotas durante o pro- cesso de polarização facilita o deslocamento dos agentes estabilizantes adsorvidos na superfície das gotas. A atração entre os pólos contrários das go- tas polarizadas promove a coalescência. O campo elétrico AC traz vantagens como: atração dipolar, alongamento da superfície das gotas e boa tolerância a concentração de água. Como desvan- tagens, há pouco movimento das gotas (reduzindo sua probabilidade de choque), baixa densidade de carga e a aplicação do campo elétrico é limitada. A figura 2 mostra o esquema de um tratador eletros- tático AC. Fig. 2 – Vista geral de um tratador de baixa velocidade. O sistema convencional AC utiliza eletrodos de aço carbono. São eletrodos de fácil construção, mos- trados na foto abaixo (Fig. 3). Nesta, é possível observar tanto a grade inferior como a superior de eletrodos. 4 III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO Fig. 3 – Eletrodos de um tratador AC. Os tratadores eletrostáticos do tipo AC ou conven- cional são subdivididos em dois grupos: de baixa velocidade e de alta velocidade. Tratadores Convencionais de Baixa Velocidade – Nos tratadores eletrostáticos convencionais de baixa velocidade, a carga é introduzida abaixo da região de eletrodos (fig. 4) próximo à interface água-óleo, por meio do uso de um tubo distribuidor ao longo do vaso. Como é gerado um campo elétri- co fraco entre os eletrodos e a interface água-óleo, grande parte das gotas de água de maior tamanho coalescem nessa região e somente as gotas de menor diâmetro chegam à região entre os eletro- dos, para serem coalescidas sob o efeito campo elétrico de maior intensidade. Este tipo de configu- ração permite que o equipamento suporte maior variação de teor de água na carga. Fig. 4 – Configuração de um tratador de baixa velocidade Tratadores Convencionais de Alta Velocidade – Nos tratadores eletrostáticos convencionais de alta velocidade, a carga é diretamente introduzida na região entre os eletrodos com velocidade relativa- mente alta, favorecendo a coalescência mais rápi- da das gotas de água, quer pela maior população de gotas na região entre eletrodos, quer pela captu- ra das gotas menores pelas maiores. Desta manei- ra, os tratadores eletrostáticos de alta velocidade apresentam dimensões ligeiramenteinferiores aos tratadores de baixa velocidade. Apesar da injeção de carga de entrada na região entre os eletrodos favorecer a coalescência, esse tipo de configuração é muito suscetível às variações na carga de entra- da, principalmente em relação ao teor máximo de água e à presença de água livre (que poderá acar- retar uma desestabilização do sistema elétrico, ocasionado curto-circuito na região entre os eletro- dos). Por este motivo não são recomendados para o segmento de E&P (fig. 5). Fig. 5 – Configuração de um tratador de alta velocidade Os tratadores eletrostáticos de alta velocidade são usualmente utilizados na dessalgação do petróleo nas refinarias da Petrobras, onde a carga de entra- da é bem controlada, ou seja, mantida constante em termos de vazão e teor de água. Nas Unidades de Produção, preferencialmente utilizam-se tratado- res eletrostáticos de baixa velocidade, muito em função da variação da vazão e da qualidade que se tem na carga de entrada. Os tratadores eletrostáti- cos de baixa velocidade absorvem melhor essas variações na qualidade da carga de entrada. Corrente Alternada com Fluxo Horizontal São fornecidos pela Aker Kvaerner. O primeiro na Petrobras será o da P 34, que iniciará a produção no final de 2006 no campo de Jubarte. Consiste em grades de eletrodos verticais, no qual a emulsão a ser tratada se move horizontalmente, o que difere este tratador eletrostático dos demais tipos. Ao se mover horizontalmente, o óleo é exposto a uma sucessão de campos elétricos de corrente alterna- da (AC), como se fossem vários estágios. Na figura 6, é possível observar os eletrodos verticais, além do distribuidor de carga no centro do vaso. Fig. 6 – Vista geral de um tratador AC de fluxo horizontal Há dois coletores, um situado em cada extremida- de do vaso. Na figura 6 é possível observar o cole- tor do lado esquerdo do vaso. Corrente Alternada e Contínua (AC/DC) Também conhecido como Dual Polarity ou HVDC/AC (High Voltage DC field with AC). É forne- cido pela Natco. Esta tecnologia tem ampla utiliza- ção, com resultados melhores que a tecnologia AC. Utiliza diferente configuração de eletrodos e trans- formador que a tecnologia AC. A distribuição da III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO 5 carga é de baixa velocidade, ou seja, próximo a interface água-óleo, abaixo da região dos eletro- dos. O tratador deste tipo aplica à emulsão um campo elétrico de corrente alternada de 50 Hz a 60 Hz, entre a interface água-óleo e a região dos eletro- dos, do mesmo modo que os tratadores AC de baixa velocidade. A diferença está na região dos eletrodos, onde é aplicado um campo elétrico de corrente contínua (DC – Direct Current) de alta voltagem (Fig. 7a). Nesta região, as gotas de água adquirem carga elétrica do eletrodo DC mais pró- ximo e são aceleradas ao eletrodo DC de polarida- de oposta. No campo DC não há apenas a defor- mação das gotas, mas existe intenso movimento das mesmas. Estas gotas, carregadas eletricamen- te, percorrem o caminho em direção ao eletrodo oposto (Fig. 7b), colidindo entre si, coalescendo e formando gotas maiores, capazes de sedimentar e se incorporar à fase aquosa de salmoura, que é retirada na parte inferior do vaso tratador eletrostá- tico. Pode-se observar que a coalescência ocorre distante dos eletrodos, que aumenta a vida útil do sistema. Fig. 7a – Configuração de um tratador Dual Polarity Fig. 7b – Movimento eletrocinético das gotas de água entre dois eletrodos de corrente contínua Utilizando o mesmo transformador confiável dos tratadores convencionais, o tratador Dual Polarity divide a alta voltagem em componentes positivos e negativos, através de retificadores, que são um dos recursos que esta tecnologia apresenta como dife- rencial. Os pares de eletrodos são carregados com cargas opostas. Assim, as gotas de água que atra- vessam o campo elétrico são alongadas e atraídas para um dos eletrodos, recebendo carga elétrica do eletrodo mais próximo. Em função da polaridade constante do campo DC, há tempo suficiente para as gotas de água migrar entre os eletrodos. Em um tratador convencional AC, o movimento é pratica- mente inexistente, devido à curta duração do ciclo. No campo elétrico puramente AC, nenhuma carga é fornecida às gotas de água: a coalescência de- pende somente atração causada pela polarização das gotas. Os eletrodos merecem atenção especial. O sistema tradicional AC utiliza eletrodos de aço carbono, em formato de grades, dispostos horizontalmente, co- mo foi visto na figura 3. Já nos tratadores Dual Polarity, os eletrodos são formados por uma série de placas verticais (Fig. 8a e 8b). Fig. 8a – Configuração de eletrodos de um tratador Dual Polarity Fig. 8b – Vista geral de um tratador Dual Polarity. Os eletrodos de um tratador Dual Polarity podem ser de aço carbono. Entretanto, resultados ainda melhores são obtidos com eletrodos de compósito (composite electrodes). Os eletrodos de compósito fornecidos atualmente são de epóxi (vinil éster), com uma parte central condutiva de grafite (Fig. 9a e 9b). Fig. 9a – Configuração dos eletrodos de compósito 6 III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO Fig. 9b – Amostra de eletrodos de compósito O eletrodo de aço carbono apresenta carga elétrica igualmente distribuída por toda sua superfície, cri- ando alto gradiente de tensão elétrico nas extremi- dades dos eletrodos. Este alto gradiente de tensão nas extremidades tende a destruir as gotas de água maiores já coalescidas. Já os eletrodos de material compósito possuem um pico de carga na região central dos eletrodos e carga menor nas extremidades, devido à alta resis- tência elétrica. Portanto, há menor tendência de destruir as gotas já coalescidas. Somente um lado dos eletrodos é carregado eletricamente, o que permite melhor controle do campo eletrostático. Na região condutora, a tensão é, na maioria dos proje- tos, de 23 kV. Já na região de material epóxi são atingidas tensões na ordem de 10 kV, pois este material torna-se condutivo ao absorver aproxima- damente 0,1% de água. Os eletrodos de compósito podem operar a temperaturas de até 143ºC (290ºF). Portanto, pode-se resumir que a utilização de ele- trodos de compósito traz os seguintes benefícios: melhor desempenho do equipamento, aumento da tolerância a elevada condutividade e concentração de água, redução da probabilidade de formação de arco voltaico, emprego de maiores gradientes de tensão, redução da probabilidade de shut-down na planta de processo. Como conseqüência, há au- mento da capacidade de processamento do equi- pamento (vasos menores) e/ou redução da tempe- ratura de processo. Modulação de Campo Bimodal Conhecido como Dual Frequency ou BFM (Bimodal Field Modulation), é uma nova tecnologia de trata- mento eletrostático que está sendo lançada no mercado como mais eficiente que todas as demais. Assim como o Dual Polarity, é fornecido pela Na- tco. A tecnologia Dual Frequency utiliza a mesma configuração de eletrodos (e demais internos ao vaso) que a tecnologia Dual Polarity, ou seja, a diferença está no transformador e em controladores externos. A tecnologia Dual Frequency permite a modulação da amplitude do campo DC, trabalhan- do a freqüências de 1 Hz a 20 Hz. Também utiliza maiores freqüências base, de 800 Hz a 1600 Hz. Esta alta freqüência reduz eventuais descargas elétricas em excesso, o que permite maior eficiên- cia no tratamento de petróleos que apresentam alta condutividade elétrica. O transformador é mais complexo que o de outras tecnologias, possuindo diversos componentes eletrônicos. Esta tecnologia requer um transformador trifásico específico, se apresentandoem apenas um gabinete. Como equipamentos adicionais, há um gabinete e um painel de controle (Fig. 10). Fig. 10 – Esquema de um tratador Dual Frequency Eletricamente, o primeiro passo é condicionar a tensão de entrada, de 480 volts, para produzir uma variável amplitude e uma variável freqüência para o primário do transformador. Segundo, o transforma- dor de média freqüência aumenta a voltagem para o nível de voltagem secundário necessário para promover a coalescência. Terceiro, a voltagem do secundário é retificada em meias-onda positivas e negativas. Este campo elétrico polarizado, formado por meias-ondas, são então aplicados aos eletro- dos para proporcionar os benefícios dos campos AC e DC. Um processo de controle baseado em um computador define a voltagem produzida. Na tela de controle (Fig. 11), define-se a freqüência base, a freqüência modular, a forma e inclinação da onda, dentre outros parâmetros. Fig. 11 – Painel de controle de um tratador Dual Frequen- cy Pode-se concluir que o sistema de controle da tecnologia Dual Frequency pode fornecer uma vari- edade de voltagens e freqüências, produzindo mui- tas variações de campo eletrostático. Um campo eletrostático específico é gerado para cada tipo de óleo, permitindo maior capacidade de tratamento, menores temperaturas ou maior desempenho, em comparação com as tecnologias convencionais. Cabe ressaltar que o ajuste dos parâmetros não é uma operação de rotina, ou seja, um novo ajuste será necessário somente quando as características do petróleo se modificar de forma significativa. A tecnologia Dual Frequency será testada pela Petrobras no primeiro semestre de 2007, no campo de Fazenda Alegre (13,5 ºAPI), onde um tratador Dual Polarity será convertido em Dual Frequency. Em contrato, a Natco garante um desempenho 30% superior ao Dual Polarity. As vantagens da tecnologia Dual Frequency são as mesmas da Dual Polarity. Entretanto, espera-se que, quantitativamente, os ganhos sejam ainda III SEMINÁRIO DE PROCESSAMENTO E INSTALAÇÕES DE PRODUÇÃO 7 maiores, como menor BS&W no petróleo tratado, menor temperatura de operação, vasos de menor tamanho, melhor qualidade da água separada, etc. Conclusões A tecnologia convencional, que utiliza apenas cor- rente alternada, foi por várias décadas suficiente para o processamento de petróleos. Entretanto, as necessidades atuais da Petrobras apontam para a necessidade de tecnologias mais eficientes. Feliz- mente, o mercado tem procurado desenvolver tra- tadores eletrostáticos mais sofisticados e, conse- quentemente, mais eficientes. A Petrobras está buscando quantificar os ganhos destas novas tec- nologias, de modo que possa julgar melhor o que é mais adequado para as nossas plantas de proces- samento. Bibliografia 1. Thomason, W.H.; Blumer, D.J.; Singh, P.; Cope, D.P. e Zaouk, M. “Advanced Electrostatic Tech- nologies for Dehydration of Heavy Oils”. SPE 97786 International Thermal Operations and Heavy Oil Symposium. Canadá, nov 2005. 2. Oliveira, R.C.G. e Alves, R.P. Tecnologias de Tratamento Eletrostático np Processamento Primário de Petróleo. Recursos Humanos, Uni- versidade Petrobras, Rio de Janeiro, jun. 2006.
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