Thaís Pires 1 Infarto Agudo do Miocárdio Síndrome Coronariana Aguda – conjunto de sinais e sintomas decorrentes de isquemia miocárdica aguda Infarto é qualquer NECROSE TECIDUAL (infarto cerebral, pulmonar, entérico) – o INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) é a necrose de uma porção do MÚSCULO CARDÍACO, que pode ser dividido em IAM SEM SUPRA DE ST = IAMSST, causado por uma oclusão subtotal de uma artéria coronária por meio de trombos brancos (ricos em plaquetas) que correspondem a 70% do total dos IAM, ou pode ser IAM COM SUPRA DE ST = IAMST, causado por uma oclusão total de uma artéria coronária, geralmente por TROMBOS VERMELHOS ricos em fibrina que correspondem a 30% do total dos IAM IAMSST – oclusão parcial - trombos brancos – plaquetas – 70% dos casos IAMST – oclusão total – trombos vermelhos – fibrina – 30% dos casos Antes, o IAMST era denominado IAM com Q e o IAMSST de IAM sem Q, que referiam-se a presença de uma ONDA Q PATOLÓGICA (larga e profunda) decorrente da INATIVIDADE ELÉTRICA TRANSMURAL, porém atualmente sabe-se que nem todo IAMST apresenta essa onda, bem como alguns IAMSST podem apresentar – isso por que a onda Q é decorrente de inatividade elétrica transmural, que não necessariamente é consequência de um processo necrótico do miocárdio Epidemiologia – estima-se entre 300.000 – 400.000 casos por anos, sendo 60.000 mortes desses / Graças aos avanços tecnológicos, a taxa de mortalidade intra-hospitalar caiu de 30% para 6% atualmente, embora a taxa de mortalidade geral permaneça por volta de 30% Cerca de METADE desses óbitos ocorre na primeira hora após o início do evento, geralmente antes do atendimento hospitalar Etiologia e Fisiopatologia Os IAM são causados por OCLUSÕES AGUDAS nas coronárias epicárdicas, sendo as principais a Descendente Anterior (DA), Circunflexa (CX) e Coronária Direita (CD), com frequência de acometimento de 1/3 para cada uma / A oclusão do tronco da coronária esquerda, quase sempre fatal, causa MENOS DE 5% dos IAM Thaís Pires 2 Etiologia da Oclusão Coronariana Aguda – em mais de 95% dos casos, a causa de obstrução é a ATEROTROMBOSE, i.e., a formação de um TROMBO sobre uma PLACA DE ATEROMA que sofreu ruptura / Aquelas fissuras mais superficiais das placas estão associadas a formação de TROMBOS BRANCOS (PLAQUETAS) que causam obstrução coronariana parcial (angina instável/IAMSST); enquanto as fissuras profundas permitem a maior exposição de conteúdos FIBRINOGÊNICOS da região intraplaca, culminando na formação dos TROMBOS VERMELHOS (FIBRINA) que causam a obstrução TOTAL (IAMST) As chances de ruptura de uma placa de ateroma variam de acordo com DETERMINANTES DE VULNERABILIDADE – por mais que pareça estranho, não há correlação entre o grau de estenose da placa e a vulnerabilidade de ruptura dela, ou seja, a premissa “quanto maior a placa, maior a chance de ruptura” não é verdadeira Os principais determinantes da vulnerabilidade da placa para ruptura são grau de inflamação intraplaca, magnitude do conteúdo lipídico e a espessura da capa de colágeno que a recobre / e o que determina a formação de um ou outro tipo de trombo é o grau de exposição das substâncias intraplaca, como FATOR TECIDUAL (um tipo de fator fibrinogênico) Em menos de 5% dos casos, a oclusão coronariana aguda é decorrente de outros processos que NÃO a aterotrombose, como • Espasmo Coronariano • Cocaína – trombose ou espasmo • Embolia Coronariana – causada por endocardite infecciosa, trombo atrial ou ventricular • Dissecção Coronariana • Síndromes Trombofílicas – uso de anticoncepcionais orais associados ao tabagismo • Vasculite Coronariana – Doença de Kawasaki é uma causa importante de IAM em crianças e adolescentes Thaís Pires 3 Isquemia Transmural e Disfunção Ventricular – a primeira consequência da cascata isquêmica decorrente da obstrução coronariana é o DÉFICIT CONTRÁTIL SEGMENTAR = DÉFICIT SISTÓLICO que pode ser na forma de ACINESIA ou DISCINESIA ACINESIA = perda da contratilidade e perda do espessamento sistólico de um segmento do miocárdio DISCINESIA = afinamento da parede com abaulamento durante a sístole Esses dois fenômenos são consequência da ISQUEMIA TRANSMURAL, i.e., aquela que atinge todas as camadas do miocárdio Se a área isquêmica for MAIOR QUE 20-25% do miocárdio do VE, instala-se um quadro de INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ESQUERDA (aumento da pressão de enchimento ventricular), que pode evoluir para EDEMA AGUDO DE PULMÃO Se a área isquêmica for MAIOR QUE 40% do miocárdio, há um grande risco de CHOQUE CARDIOGÊNICO, o qual é caracterizado por altas pressões de enchimento associadas a baixo débito cardíaco A DISFUNÇÃO DIASTÓLICA é mais PRECOCE E COMUM que a sistólica, podendo, por si só, causar um aumento na pressão de enchimento do VE, mimetizando uma IC, que tem como fim a congestão pulmonar / No IAM, a regra é o APARECIMENTO DE B4, pois reflete a DISFUNÇÃO DIASTÓLICA, i.e., redução da complacência ventricular Miocárdio Atordoado – o déficit contrátil pode demorar até dias para normalizar após a reperfusão miocárdica, sendo isso denominado como miocárdio atordoado Necrose Miocárdica – Geralmente seu aparecimento ocorre no SUBENDOCÁRDIO da região em sofrimento isquêmico, estendendo-se em direção ao epicárdio até que toda, ou quase toda a área isquêmica esteja infartada → leva de 6-12h para se completar / se for uma necrose em toda a espessura da parede = NECROSE TRANSMURAL Essa evolução da necrose no miocárdio é definida por três principais fatores ➔ Capacidade da rede de colaterais – desde o nascimento, o ser humano apresenta uma rede de circulação colateral ligando os três territórios irrigados pelas três principais coronárias (ligação heterocolateral) e ligando territórios da mesma coronária (homocolateral) – Em doenças CRÔNICAS ISQUÊMICAS, essa rede colateral é muito mais hipertrofiada, o que, até certo ponto, protege a área isquêmica / Quando há uma OCLUSÃO AGUDA, essa rede colateral é fundamental para reduzir a extensão da área de necrose ➔ MVO2 - Consumo miocárdico de oxigênio – quanto maior o consumo de oxigênio, maior a isquemia frente a um evento de privação de O2 / Cardiomegalia aumenta o tecido muscular, portanto aumenta o MVO2 – atividade física aumenta as câmaras cardíacas Thaís Pires 4 ➔ Reperfusão Miocárdica – é a recanalização da coronária ocluída, com o retorno do fluxo sanguíneo – isso pode ocorrer de forma espontânea em até 30% dos casos por ação do sistema fibrinolítico endógeno, então, obviamente, quanto mais precoce e mais completa a reperfusão, menor a área isquêmica / o principal constituindo do sistema fibrinolítico endógeno é o PLASMINOGÊNIO sintetizado pelo fígado que, por ação do ATIVADOR TECIDUAL DO PLASMINOGÊNIO (tPA) é convertido em PLASMINA, uma enzima capaz de degradar o polímero de FIBRINA → a fibrinólise resulta na formação dos PRODUTOS DE DEGRADAÇÃO DA FIBRINA, como o DÍMERO-D Remodelamento Cardíaco Pós-Infarto – é um fenômeno resultante do ESTRESSE MECÂNICO gerado na parede do ventrículo, que pode se REMODELAR = MAIS FINA E MAIOR devido ao deslizamento das fibras necróticas entre si → isso causa uma alteração na geometria do ventrículo, DILATANDO-O = ANEURISMA VENTRICULAR – esse aneurisma pode SE ROMPER ou causar a formação de trombos (pode levar a um AVE) Como compensação, as áreas não infartadas tendem a HIPERTROFIAR para manter a fração de ejeção ventricular estável Esse remodelamento tende a piorar a função sistólica global, instalando uma ICC pós IAM Quadro Clínico Sintomas – o principal sintoma do IAM é a DOR TORÁCICA