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Mais perto do Tejo 
Piauienses relutaram em aderir ao país proclamado 
independente no distante Rio de Janeiro 
Alberto da Costa e Silva 
16/9/2009 
A notícia do Grito do Ipiranga não demorou a chegar ao Piauí. Já em 30 de 
setembro, o juiz de fora da Parnaíba, João Cândido de Deus e Silva (1787-1860), 
instava a Junta de Governo da província a aclamar D. Pedro imperador. E 
argumentava: “A melhor, a maior, a mais rica, a mais populosa parte do Brasil 
tem se declarado a favor da causa da independência; como persuadir-nos que o 
resto não siga a mesma causa? Ou quererão os povos olhar de sangue frio o seu 
país dividido, seguindo o sul um sistema e o norte outro?” 
 
A Junta, dominada pelo partido português, responderia que sim, como deixou 
claro no ofício enviado em 14 de janeiro de 1823 ao general Labatut. Nele 
afirma-se que Piauí, Maranhão e Pará teriam maiores vantagens na união com 
Portugal do que com o Rio de Janeiro, pois as comunicações eram mais fáceis 
com Lisboa, e os bens que produziam se vendiam mais facilmente em Portugal 
do que no Rio. Para a Junta, caso a província aderisse a D. Pedro, estaria 
trocando a dependência de Portugal pela do Rio de Janeiro, que lhe parecia 
menos vantajosa. 
 
A argumentação era manca. O Piauí, com apenas 70 mil habitantes e pequenos 
núcleos urbanos, os maiores dos quais eram Oeiras, capital da província, e a vila 
da Parnaíba, seu único porto marítimo, tinha como base da economia os seus 
enormes rebanhos. Exportava couro para Portugal, mas os grandes mercados 
para seu gado eram Maranhão, Pernambuco, Bahia e, sobretudo, Minas Gerais. 
Mas Deus e Silva não ficara à espera da reação da Junta. Com outros patriotas, 
sobrepôs-se, na Parnaíba, ao partido português e proclamou, em 19 de outubro 
de 1822, a adesão à Independência. A Junta de Oeiras reagiu prontamente e, para 
reconduzir a vila à obediência, enviou contra ela o governador de Armas, o 
major português João José da Cunha Fidié (?-1856). Às suas tropas somaram-se 
outras, vindas do Maranhão, e o brigue de guerra D. Miguel. Sem condições de 
resistir, os patriotas abandonaram a vila e se refugiaram no Ceará. Um grupo 
deles, comandado por Leonardo de Carvalho Castelo Branco (1788-1873), 
voltaria ao Piauí, para tomar pelas armas Piracuruca e declarar, em 22 de janeiro 
de 1823, a adesão do povoado à Independência. E repetiu o feito, duas semanas 
depois, em Campo Maior. 
 
Esse Leonardo – que, em cumprimento de promessa, ao sair da cadeia mudaria o 
nome para Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco – foi, apesar de 
romântico pelo temperamento e profundamente católico, um iluminista tardio. 
Poeta, filósofo e cientista, inventou uma máquina para descaroçar algodão e 
outra com que pretendia ter resolvido o problema do moto-contínuo. Entre suas 
obras constam Memória acerca das abelhas da província do Piauí e Astronomia e 
mecânica leonardina, até hoje inéditas, e os poemas O santíssimo milagre, A 
criação universal e O ímpio confundido, trabalhos de ambição e fôlego, o 
segundo com mais de quatro mil versos e o terceiro, com quase 6.500. 
Filosofava em versos. Em versos condenou a escravidão. E em versos revelou-se 
um excelente animalista. 
 
Com Fidié na Parnaíba, os partidários da Independência, na madrugada de 24 de 
janeiro, empolgaram de surpresa Oeiras, proclamaram a adesão à Independência 
e elegeram um novo governo provincial, tendo à frente o brigadeiro Manuel de 
Sousa Martins (1767-1856). 
 
Fidié encaminhou-se para a capital. E em 13 de março, junto ao Rio Jenipapo, na 
altura de Campo Maior, topou com um exército improvisado que Sousa Martins, 
o futuro visconde da Parnaíba, mandara contra ele. Os portugueses ganharam a 
batalha, mas nela perderam a bagagem com armas, munição e botica. 
 
Inseguro num ambiente que lhe era crescentemente hostil, duas semanas depois 
Fidié abandonou o Piauí e instalou-se em Caxias, no Maranhão. Os piauienses 
saíram atrás dele e, somados a tropas cearenses e pernambucanas, além de 
maranhenses partidários da Independência, sitiaram a cidade onde se abrigara. O 
major acabou por render-se em 1º de agosto, sendo feito prisioneiro e levado 
primeiro para Oeiras e depois para o Rio de Janeiro, de onde seria devolvido a 
Portugal. Com sua derrota, enfraqueceu-se de vez o partido lusitano, e a adesão 
do Piauí à Independência tornou-se irreversível. 
 
Leonardo da Senhora das Dores Castelo Branco, um dos líderes independentistas 
mais ativos e desassombrados, soube da vitória no cárcere do Limoeiro, em 
Lisboa. Fora preso pelos portugueses em 1º de março e mandado a ferros para 
Portugal. Anistiado em setembro, regressou ao Piauí, onde se envolveu na 
Confederação do Equador. Refugiou-se então em Lisboa e ali viveu até 1850, 
quando voltou ao Brasil. Após morar no Maranhão, na Bahia e no Rio de 
Janeiro, terminou seus dias no Piauí, com 85 anos. 
 
Alberto da Costa e Silva é membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 
O quadrado amarelo (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009). 
 
Saiba Mais - Bibliografia: 
 
BRANDÃO, Wilson de Andrade. História da independência do Piauí. Teresina: 
Cia. Editora do Piauí, 1959. 
 
COSTA, F. A. Pereira da. Chronologia histórica do Estado do Piauhy. Recife: 
Jornal do Recife, 1909. 
 
NEVES, Abdias. A Guerra do Fidié: uma epopéia brasileira. Rio de Janeiro: 
Artenova, 1974.

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