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Cap 5 Yalom, Irvin D , Molyn Leszcz PSICOTERAPIA DE GRUPO - TEORIA E PRATICA ED Artemed 5ª ed 2005 SP

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106 IRVIN O. YALOM 
sexualizada e desvalorizar ou competir com 
todos os homens. 
Em sintese, fica claro que a potencia com-
parativa dos fatores terapeuticos e uma ques-
tao complexa. Diferentes fatores sao valoriza-
dos por diferentes tipos de grupos de terapia, 
pelo mesmo grupo em diferentes estagios de 
desenvolvimento e por diferentes pacientes 
dentro do mesmo grupo, dependendo das ne-
cessidades e capacidades individuais. Entretan-
to, de urn modo geral, a maior parte das evi-
dencias de pesquisas indica que a forc;a do gru-
po interacional para pacientes externos ema-
na de suas propriedades interpessoais. A inte-
rac;ao e a explorac;ao interpessoais (abrangen-
do a catarse e a autocompreensao) e a coesao 
grupal sao as condic;6es sine qua non da tera-
pia de grupo efetiva. Os terapeutas de grupo 
efetivos devem direcionar seus esforc;os para 0 
desenvolvimento maximo desses recursos te-
rapeuticos. Os capitulos seguintes consideram 
o papel e as tecnicas do terapeuta de grupo, a 
partir do ponto de vista desses fatores tera-
peuticos. 
Agora que consideramos a maneira como 
as pessoas mudam na terapia de grupo, e hora 
de analisar 0 papel do terapeuta no processo 
terapeutico. Neste capitulo, considero as tare-
fas basicas do terapeuta e· as tecnicas pelas 
quais podem ser realizadas. 
Os quatro capitulos anteriores sustentam 
que a terapiae urn processo complexo que e 
composto de fatores elementares entrelac;ados 
de maneira intricada. 0 trabalho do terapeuta 
de grupo e criar 0 equipamento da terapia, 
coloca-Io em ac;ao e mante-l0 operando com 
efetividade maxima. As vezes, penso no grupo 
de.terapia como urn dfnamo enonne: 0 terapeu-
ta mergulha no interior - trabalhando, experi-
mentando, interagindo (e sendo influenciado 
pessoalmente pelo campo energetico). Em ou-
tros momentos, ele veste roupas de mecfmico 
e conserta 0 exterior, lubrificando, apertando 
porcas e parafusos, substituindo pec;as. 
Antes de nos voltannos a tarefas e tecni-
cas espedficas, eu gostaria de enfatizar algo 
ao qual retornarei muitas vezes nas pr6ximas 
paginas. Subjacente a todas as considerac;6es 
tecnicas, deve haver urn relacionamento con-
sistente e positiv~ entre 0 terapeuta e 0 pacien-
teo A postura basica do terapeuta com 0 pacien-
te deve ser de interesse, aceitac;ao, genuinidade, 
empatia. Nada, nenhuma considera(:ao tecnica, 
tem precedencia sobre essa atitude. E claro que 
ha momentos em que 0 terapeuta desafia 0 pa-
ciente, demonstra frustrac;ao e ate sugere que, 
se nao estiver disposto a trabalhar, 0 paciente 
deve pensar em deixar 0 grupo. Contudo, es-
• • 
• • 
• 
• • 
• • 
o terapeuta: tarefas basicas 
ses esforc;os (que nas circunstancias certas po-
dem ter poder terapeutico) nunca sao efetivos 
se nao forem comparados com 0 horizonte de 
urn relacionamento solidario e interessado en-
tre 0 terapeuta e 0 paciente. 
Discutirei as tecnicas do terapeuta no que 
diz respeito a tres tarefas fundamentais: 
1. Criac;ao e manutenc;ao do grupo. 
2. Construc;ao de uma cultura de grupo. 
3. Ativac;ao e esc1arecimento do aqui-e-agora. 
Discutirei a primeira delas apenas breve-
mente, voltando a ela em maior detalhe apcs 
apresentar 0 material basico essencial dos Ca-
pitulos 8, 9 e 10. Neste capitulo, concentro-
me principalmente na segunda tarefa, constru-
fao de uma cultura de grupo, e, no capitulo se-
guinte, trato da terce ira tarefa, ativa(:ao e es-
- clarecimento do aqui-e-agora. 
CRIA~AO E MANUTEN~AO DO GRUPO 
o lider e 0 unico responsavel por criar e 
reunir 0 grupo. Sua oferta de ctiuda profissio-
nal ajuda a servir como a razao de ser inicial 
do grupo, e voce estabelece a hora e 0 local 
para os encontros. Uma parte consideravel da 
tarefa de manutenc;ao realiza-se antes de cada 
encontro e, como discutirei em capitulos pos-
teriores, 0 conhecimento e a experiencia do Ji-
der na selec;ao e na preparac;ao dos membros 
influenciara muito 0 destino do grupo. 
108 IRVIN D. YALOM 
Quando 0 grupo come\a, 0 terapeuta tra-
balba como urn guardiao, especialmente para 
prevenir atritos entre os membros. Ocasional-
mente, urn individuo tera. uma experiencia 
negativa no grupo, resultando no termino pre-
maturo da terapia. Por exemplo, 0 fracasso ou 
a rejei\ao em urn grupo podem ser tao per-
turbadores para 0 paciente, a ponto de prepara-
10 de forma ideal para outro terapeuta. Toda-
via, de urn modo geral, urn paciente que aban-
dona 0 grupo no infcio deve ser considerado 
urn fracasso terapeutico. 0 paciente nao ape-
nas nao teve beneficios, como 0 progresso do 
restante do grupo e afetado de forma adversa. 
A estabilidade dos membros e uma condi\ao 
sine qua non da terapia de grupo. Se houver 
desistencias, 0 terapeuta deve, com exce\ao de 
urn grupo fechado (ver Capitulo 10), adicio-
nar novos membros para manter 0 grupo em 
seu tamanho ideal. 
No inicio, os pacientes sao estranhos uns 
aos outros e somente conhecem 0 terapeuta, 
que e a principal for\a que unifica 0 grupo. Os 
membros relacionam-se inicialmente por meio 
de seu relacionamento comum com 0 terapeuta 
e essas alian\as estabelecem 0 espa\o para 0 
desenvolvimento da coesao grupal. 
o terapeuta deve reconhecer e deter 
quaisquer for\as que ameacem a coesao do 
grupo. Atrasos, ausencias, a forma\ao de 
subgrupos, socializa<;ao diruptiva fora do gru-
po e 0 uso de bodes expiat6rios amea\am a 
integridade funcional do grupo e necessitam 
da interven<;ao do terapeuta. Cada uma dessas 
quest6es sera discutida em maior detalhe em 
capitulos posteriores. Por enquanto, e neces-
sario apenas enfatizar a responsabilidade do 
terapeuta com as necessidades supra-indivi-
duais. Sua primeira tarefa e ajudar a criar uma 
entidade fisica, urn grupo coeso. Havera mo-
mentos em que voce devera esperar para tra-
tar das necessidades de urn paciente individual 
e, as vezes, tera de tirar urn membro do grUpO, 
pelo bern dos outros. 
Uma vinheta c1fnica ilustra essas quest6es: 
Uma vez, apresentei duas novas participan-
tes a urn grupo de pacientes externos. Esse 
grupo, com urn nuc1eo estavel de quatro ho-
mens, tinha dificuldade para manter mu-
lheres, sendo que duas haviam saido no mes 
anterior. A reuniao ja come\ou de maneira 
desfavoravel para uma delas, cujo perfume 
desencadeou urn ataque de espirros em urn 
dos homens, que afastou sua cadeira dela 
e, abrindo a janela vigorosamente, a infor-
mou sobre sua alergia a perfumes e a "pro i-
bi\ao de perfumes" no grupo. 
Nesse momento, chegou outro membro, 
Mitch, alguns minutos atrasado e, sem olbar 
para as mulheres, declarou: "Hoje eu preci-
so de tempo para falar. Fiquei sacudido pela 
reuniao da semana passada. Fui para casa 
muito perturbado com seus comentanos de 
que eu sou urn porco. Nao gostei das insi-
nua\6es de voces, ou da sua [falando comi-
go]. Posteriormente naquela noite, tive uma 
briga enorme com a minha esposa, que nao 
gostou de eu ler urn jornal medico (Mitch 
era medico) na mesa do jantm; e nao fala-
mos desde entao". 
Essa abertura espedfica era urn born come-
\0 para a maioria das reuni5es de grupo, 
por varias raz5es. 0 paciente disse que pre-
cisava de tempo para falar. (Quanto mais 
os membros chegam pedindo espa<;o e com 
vontade de trabalhar, mais energico sera 0 
encontro.) Aieill disso, ele queria trabalhar 
quest6es que_foram levantadas no encon-
tro anterior. (Como regra geral, quanto mais 
os membros trabalham temas de forma con-
tinua a cada encontro, mais forte 0 grupo 
se torna.) Em seguida, ele come\ou a ata-
car 0 terapeuta - 0 que foi born, pois esse 
grupo vinha me tratando bern demais. Eu 
sabia que 0 ataque de Mitch~ embora 
desconfortavel, produziria urn importante 
trabalho para 0 grupo. 
Assirn, eu tinha muitas opini6es diferentes 
para come\ar, mas havia uma tarefa a qual 
eu deveria dar mais prioridade: manter aintegridade funcional do grupo. Eu havia 
apresentado duas mulheres para urn grupo 
que ja tinha tido dificuldade para manter 
mulheres. E como os membros do grupo res-
ponderam? Nada beml Eles praticamente 
haviam tirado os direitos das novas partici-
pantes. Ap6s 0 incidente dos espirros, Mitch 
I 
nem sequer reconheceu a presen\a delas e 
mergulhou em urn discurso de abertura -
que, embora pessoalmente irnportante, ex-
c1uiu as novas mulheres sistematicamente, 
com sua referencia ao encontro passado. 
Entao, seria irnportante que eu encontras-
se uma nova forma de abordar essa tarefa 
e, se possivel, tambem abordar as quest5es 
que Mitch havia levantado. No Capitulo 2, 
apresentei 0 principio Msico de que a tera-
pia deveria tentar transformar todas as 
quest5es em quest5es do aqui-e-agora. Te-
ria sido insensatez lidar explicitamente com 
a briga de Mitch com a sua esposa. Os da-
dos que ele havia apresentado sobre ela 
eram tendenciosos e ele acabaria com qual-
quer opiniao contraria a sua. 
Felizmente, contudo, havia uma maneira de 
lidar comambas as quest5es de uma s6 vez. 
A forma como Mitch tratou as duas mulhe-
res no grupo assemelhava-se a forma como 
tratou a ~ua esposa na mesa .do jantar. Ele 
havia sido tao insensivel para com a pre-
sen\a delas e de suas necessidades particu-
lares quanta com as de sua esposa. De fato, 
era exatamente por causa.dessa insensibili-
dade que 0 grupo 0 havia confrontado na 
reuniao anterior. 
Portanto, com meia hora de reuniao, afas-
tei a aten\ao de Mitch de sua esposa e da 
sessao pass ada, dizendo: "Mitch, eu gosta-
ria de saber 0 que voce acha que nossas duas 
novas participantes estao sentindo no gru-
po hoje". 
Esse questionamento levou Mitch a ques-
tao geral da empatia e de sua incapacidade 
ou indisposi\ao em muitas situa<;5es a en-
trar no mundo das experiencias do outro. 
Felizmente, essa tMica nao apenas chamou 
a aten\ao dos outros membros do grupo 
para a maneira como todos haviam ignora-
do as duas mulheres, como tambem ajudou 
Mitch a refletir efetivamente sobre seu prin-
cipal problema: sua incapacidade de reco-
nhecer e entender as necessidades e dese-
jos dos outros. Mesmo que nao fosse possf-
vellidar com algumas das quest6es centrais 
para Mitch, eu preferi optar por tratar da 
integra<;ao das novas participantes, pois a 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 109 
sobrevivencia fisica do grupo deve ter pre-
cedencia sobre as outras tarefas. 
A CONSIRU~Ao DA CULIURA 
Quando 0 grupo e uma realidade fisica, a 
energia do terapeuta deve se voltar para 
transforma-lo em urn sistema social terapeu-
tico. Urn c6digo verbal de regras ou normas de 
comportamento deve s!!r estabelecido para 
orientar a intera\ao do grupo. E quais sao as 
normas desejaveis para urn grupo terapeutico? 
Elas ocorrem logicamente a partir da discus-
sao dos fatores terapeuticos. 
Considere por urn momento os fatores 
terapeuticos apresentados nos quatro prirnei-
ros capitulos: aceita\ao e apoio, universalida-
de, orienta\ao, aprendizagem interpessoal, al-
truismo e esperan<;a - quem os proporciona? 
Obviamente, os outros membros do grupo! 
Assirn, ate certo ponto, 0 grupo e 0 agente da 
mudan~a. 
Ai esra uma diferen\a crucial nas regras 
basicas do terapeuta individual e do terapeuta 
de grupo. No formato individual, 0 terapeuta 
funciona como 0 unico agente de mudan\a di-
reta designado. 0 terapeuta de grupo funcio-
na de forma mais indireta. Em outras palavras, 
se sao os membros do grupo que, em suas 
intera~i5es, mobilizam os diversos fatores 
terapeuticos, a tarefa do terapeuta de grupo e 
eriar uma eultura grupaZ que eonduza ao mcixi-
mo a intera~i5es efetivas no grupo. 
o jogo de xadrez e uma boa analogia para 
isso. Habeis ou nao, os jogadores nao come-
\am 0 jogo tentando fazer urn xeque-mate ou 
capturar uma pe\a, mas tentam obter quadra-
dos estrategicos no tabuleiro, aumentando as-
sim 0 poder de cada uma de suas pe\as. Dessa 
forma, os jogadores avan<;am indiretamente 
para 0 sucesso pois, a medida que 0 jogo se-
gue, essa posi\ao estrategica superior favore-
cera urn ataque efetivo e 0 ganho material fi-
nal. E dessa forma, tambem, 0 terapeuta de 
grupo constr6i metodicamente uma cultura que 
exercera urn grande poder terapeutico. 
Urn pianista de jazz, membro de urn dos 
meus bTftlPOS, comentou uma vez sobre 0 pa-
110 IRVIN D. YALOM 
pel do lider, refletindo que, no come<;o de sua 
carreira musical, ele admirava profunda men-
te os grandes virtuoses instrumentais. Somen-
te mais tarde foi que come<;ou a entender que 
os verdadeiros grandes musicos de jazz eram 
aqueles que sabiam como potencializar 0 som 
dos outros, como usar 0 silencio, como melho-
rar 0 funcionamento da banda como urn todo. 
E obvio que 0 grupo de terapia tern nor-
mas que diferem radicalmente das regras, ou 
da etiqueta, das intera<;5es socia is tfpicas. Ao 
contrario de quase todos os outros tipos de gru-
po, os membros devem se sentir livres para co-
mentar sentimentos imediatos que experimen-
tam para com 0 grupo, os outros membros e 0 
terapeuta. A honestidade e a espontaneidade 
de expressao devem ser estimuladas no grupo. 
Para que 0 grupo desenvolva urn verdadeiro 
microcosmo social, os membros devem inte-
ragir livremente. Em forma esquematica, as vias 
de intera<;ao devem se parecer com 0 primeiro 
diagrama, e nao com 0 segundo, no qual as 
comunica<;5es ocorrem principalmente com ou 
por meio do terapeuta. 
Outras normas desejaveis incluem 0 en-
volvimento ativo no grupo, a aceita<;ao impar-
cial dos outros, uma auto-revela<;ao amp la, 0 
desejo de autocompreensao e a vontade de 
mudar os atuais modos de comportamento. As 
normas podem ser uma prescri~ao para e uma 
proscri~ao contra certos tipos de comportamen-
to, podendo ser implfcitas e explicitas. De fato, 
os membros de urn grupo geralmente nao po-
dem elaborar as normas do grupo de forma 
consciente. Assim, para conhecer as normas de 
urn grupo, 0 pesquisador nao deve pedir que 
os membros fa<;am uma lista dessas regras ver-
bais. Uma abordagem muito melhor e apresen-
tar aos membros uma lista de comportamen-
tos e pedir que eles indiquem quais sao apro-
priados e quais sao inadequados para 0 grupo. 
Invariavelmente, criam-se normas em to-
dos os tipos de grupo - sociais, profissionais e 
terapeuticos. 1 Nao ha como evitar que urn gru-
po de terapia crie normas que acabam facili-
tando 0 processo terapeutico. As observa<;5es 
sistematicas de grupos de terapia revelam que 
muitos estao sobrecarregados com normas de-
bilitantes. Por exemplo, urn grupo pode valori-
zar bastante a catarse hostil que nao produz 
sentimentos positivos, outro grupo pode desen-
volver urn formato de "altemar a vez", no qual 
os membros descrevem seus problemas em se-
quencia para 0 grupo, e outro po de ter normas 
que nao permitam que os membros questio-
nem ou desafiem 0 terapeuta. Vou discutir al-
gumas normas especificas que atrapalham ou 
faci1itam a terapia, mas antes quero conside-
rar como as normas ocorrem. 
A constru~iio de normas 
As normas de urn grupo sao construidas 
a partir das expectativas dos membros em re-
la<;ao ao seu grupo e do direcionamento expli-
cito e implicito do lider e dos membros mais 
influentes. Se as expectativas dos membros nao 
sao firmes, 0 lider tern mais oportunidade para 
criar uma cultura de grupo que, em sua opi-
niao, seja mais terapeutica. As declara<;5es do 
lider do grupo desempenham 0 papel podero-
so, mas geralmente implicito, de determinar 
as normas estabelecidas no grupo. Y Em urn es-
tudo, os pesquisadores observaram que quan-
do 0 lider fazia urn comentario logo apos de-
terminado membro agir; 0 membro tomava-se 
o centro das aten<;5es do grupo e muitas vezes 
assumia urn papel importante nos proximos en-
contros. Alem disso, a relativa infrequencia dos 
comentarios do lider aumentavaa for<;a de suas 
interven<;6es.2 Pesquisadores que estudam gru-
pos de forma<;ao experimental intensiva para 
terapeutas de grupo tambem concluiram que 
os lideres que eram modelos de afeto e conhe-
cimento tecnico tinham resultados mais posi-
tivos: os membros de seus grupos tinham mai-
or autoconfian<;a e maior consciencia da dina-
mica do grupo e do papel do lider.3 De urn 
modo geral, os lideres que estabelecem nor-
mas de maior envolvimento e menor conflito 
tern melhores resultados clinicos.4 
Ao discutir 0 lider como urn criador de 
normas, nao estou propondo urn papel novo 
ou limitado para 0 terapeuta. De forma volun-
taria ou involuntaria, 0 lider sempre molda as 
normas do grupo e deve estar ciente dessa fun-
<;ao. Assim como e impossivel nao se comuni-
car, 0 lider nao consegue nao influenciar as no/"-
mas. Praticamente todo 0 seu comportamento 
inicial no grupo tern influencia. Alem disso, 
aquilo que· nao se faz muitas vezes e tao im-
portante quanta 0 que se faz. 
Uma vez, observei urn grupo orientado 
por urn analista de grupo britanico, no qual 
urn membra que esteve ausente nos seis en-
contrOS anteriores chegou alguns minutos atra-
sado. 0 terapeuta ignorou a chegada do mem-
bro. Depois da sessao, ele explicou aos estu-
dantes observadores que decidiu nao influen-
ciar 0 grupo, pois preferia que eles fizessem 
suas proprias regras sobre como receber mem-
bros atrasados ou prodigos. Ficou claro para 
mim, porem, que a falta de acolhimento por 
parte do terapeuta foi urn ato influente e uma 
forte sugestao para uma norma. Sem duvida 
como resultado de muitas atitudes semelhan-
tes anteriores, seu grupo havia se transforma-
do em urn grupo inseguro e desinteressado, 
cujos membros procuravam metodos para ob-
ter a preferencia do lider. 
As normas sao criadas relativamente no 
come<;o da vida do grupo e, quando estabele-
cidas, sao dificeis de mudar. Por exemplo, con-
sid ere urn grupo pequeno em urn cenario in-
dustrial que cria normas regulando 0 compor-
tamento individual, ou uma gangue de delin-
quentes que estabelece codigos de comporta-
mento, ou uma clinica psiquiatrica que cria 
normas de comportamentos esperados para a 
equipe e os pacientes. E extremamente diffcil 
mudar padroes arraigados, exigindo urn tem-
po consideravel e muitas vezes uma rotativi-
dade muito grande dos membros. 
Em sintese: cada grupo cria urn conjunto 
de regras ou norm as verbais que detemlinam 
os seus procedinlentos. 0 grupo de terapia ideal 
tern normas que permitem que os fatores tera-
PSICOTERAPIA DE GRUPO 111 
peuticos operem com maxima efetividade. As 
normas sao moldadas pelas expectativas dos 
membros do grupo e pelo comportamento do 
terapeuta. 0 terapeuta tern uma grande in-
fluencia no estabelecimento de normas - de 
fato, essa e uma fun<;ao que 0 lider nao pode 
evitar. As normas construidas no come<;o do 
grupo tern uma perseveran<;a consideravel. 
Assim, 0 terapeuta deve cumprir essa importan-
te fun<;ao de maneira informada e deliberada. 
COMO 0 LiOER MOlDA AS NORMAS? 
Existem dois papeis basicos que 0 terapeu-
ta pode assumir em urn grupo: 0 de especialis-
ta tecnico e 0 de participante que estabelece 
modelos. Em cada urn desses papeis, 0 
terapeuta ~uda a moldar as normas do grupo. 
o especialista tecnico 
Ao assumirem 0 papel de especialista tec-
nico, os terapeutas deliberadamente vestem a 
roupagem de especialista e empregam uma 
variedade de tecnicas para levar 0 grupo a uma 
dire<;ao que considerem desejavel. Eles tentam 
moldar as normas explicitamente durante sua 
prepara<;ao dos pacientes para a terapia de gru-
po. Nesse procedimento, descrito integralmen-
te no Capitulo 10, os terapeutas instruem seus 
pacientes cuidadosamente sobre as regras do 
grupo e refor<;am a instru<;ao de duas manei-
ras: baseando-a no peso da autoridade e da 
experiencia e apresentando 0 raciocinio por tras 
do modo de procedimento sugerido para ob-
ter 0 apoio do grupo. 
No come<;o de urn grupo, os terapeutas 
tern uma ampla variedade de tecnicas a sua 
disposi<;ao para moldar a cultura do grupo, 
variando de instru<;6es e sugest6es explicitas a 
tecnicas de refor<;o sutis. Por exemplo, confor-
me descrevi antes, 0 !ider deve tentar criar uma 
rede de intera<;6es, na qual os membros intera-
jam livremente em vez de fazerem todos os co-
mentarios para/ou por meio do terapeuta. Com 
essa finalidade, os terapeutas podem instruir 
os membros implicitamente em suas entrevis-
tas antes do infcio do grupo ou nas primeiras 
112 IRVIN D. YALOM 
sess6es. Eles podem perguntar muitas vezes du-
rante os encontros pelas rea<;6es dos membros 
aos outros membros ou algum problema do 
grupo. Podem ainda: questionar por que a con-
versa invariavelmente e voltada para 0 tera-
peuta; negar-se a responder perguntas; pedir 
que 0 grupo fa<;a exercicios que ensinem os 
pacientes a interagir - por exemplo, pedir a 
cada membro do grupo para dar a sua primei-
ra impressao dos outros; ou, de maneira muito 
menos obstrutiva, podem moldar 0 comporta-
mento recompensando os membros que falam 
com os outros - sacudir a cabe<;a ou sorrir para 
eles, falar com eles de forma afetuosa ou mu-
dar suas posturas para uma forma mais recep-
tiva. AB mesmas abordagens podem ser aplica-
das a variedade de outras normas que 0 tera-
peuta deseja fomentar: auto-revela<;ao, expres-
sao aberta de emo<;6es, prontidao, auto-explo-
ra<;ao e assim por diante. 
Os terapeutas variam consideravelmente 
em seus estilos. Embora muitos prefiram mol-
dar as normas explicitamente, todos os tera-
peutas, em urn nfvel muitas vezes maior do que 
sup6em, cumprem suas tarefas por meio da 
tecnica sutil do refor<;o social. 0 comportamen-
to humane e continuamente influenciado por 
uma serie de eventos ambientais (refor<;os), 
que podem ter uma valencia positiva ou nega-
tiva, exercendo sua influencia consciente ou 
subliminarmente. 
AB tecnicas de publicidade ou propagan-
da poHtica sao apenas dois exemplos de mo-
biliza<;ao sistematica de agentes de refor<;o. A 
psicoterapia tambem se baseia no usa de re-
for<;os sociais sutis e muitas vezes involuntarios. 
Embora poucos terapeutas conscientes gostem 
de se considerar agentes de refor<;o social, eles 
exercem influencia continuamente dessa ma-
neira, seja de modo inconsciente ou delibera-
do. Eles podem refor<;ar 0 comportamento po-
sitivamente com divers os atos verbais e nao-
verbais, induindo sacudir a cabe<;a, sorrir, in-
dinar-se para a frente ou fazer urn "mmm" in-
teressado ou uma pergunta direta para obter 
mais informa<;6es. Por outro lado, os terapeutas 
tentam extinguir 0 comportamento que nao 
parece salutar ao nao fazer comentarios a seu 
respeito, nao sacudir a cabe<;a, ignorar 0 com-
portamento, voltar sua aten<;ao para outro pa-
ciente, olhar de forma cetica, levantar as 50-
brancelhas e assim por diante. De fato, a pes-
quisa sugere que os terapeutas que refor<;am 0 
comportamento dos membros indiretamente 
em favor do grupo muitas vezes sao mais efeti-
vos do que aqueles que incentivam esse com-
portamento de forma expHcita.s Qualquer di-
retriz verbal obvia por parte do terapeuta tor-
na-se especialmente efetiva por causa da ca-
Fencia dessas interven<;6es. 
Toda a forma de psicoterapia e urn proces-
so de aprendizado, baseado em parte no condi-
cionamento operante. Qualquer terapia, mes-
mo a psicanalise, sem alguma forma de refor<;o 
ou manipula<;ao do terapeuta e uma miragem 
que desaparece com 0 exame minucioso.6 
Uma quantidade consideravel de pesqui-
sas demonstra a eficacia de tecnicas de condi-
cionamento operante para moldar 0 compor-
tamento do grupo.? Usando essas tecnicas deli-
beradamente, podem-se reduzir os silenciosB 
ou aumentar os comentarios pessoais ou do 
grupo, express6es de hostilidade para com 0 
Hder ou aceita<;ao entre os membros.9 Embora 
hajaevidencias de que eles devem grande par-
te de sua efetividade a esses principios da 
aprendizagem, os psicoterapeutas muitas ve-
zes rejeitam essas evidencias por causa de seu 
temor infundado de que uma visao tao meca-
nica sabote 0 componente humane essencial 
da experiencia terapeutica. Ainda assim, os 
fatos sao instigantes e a compreensao do pro-
prio comportamento nao tira a espontaneida-
de dos terapeutas. Afinal, 0 objetivo de se usa-
rem tecnicas de condicionamento operante e 
fomentar 0 envolvimento autentico e signifi-
cativo. Os terapeutas que reconhecem que exer-
cern grande influencia por meio do refor<;o so-
cial e que formulam urn principio organiza-
cional central serao mais efetivos e consisten-
tes em suas interven<;6es terapeuticas. 
o participante que estabelece modelos 
Os !ideres moldam as normas do grupo nao 
apenas pela engenharia social exp!icita ou im-
plfcita, mas tambem pelo exemplo que dao com 
seu proprio comportamento no grupO.lO A cul-
tura do grupo de terapia representa urn afasta-
mento radical das regras sociais as quais os pa-
cientes estao acostumados. Eles precisam des-
cartar conven<;6es sociais familiares, experimen-
tar novos comportamentos e correr muitos ris-
cos. Como os terapeutas podem demonstrar para 
seus pacientes que 0 novo comportamento nao 
tera as conseqiiencias adversas previstas? 
Urn metodo, que tern uma consideravel 
base de pesquisas, e a modelagem: os pacientes 
sentem-se estimulados para alterar 0 seu com-
portamento ao observar seus terapeutas exe-
cutando 0 comportamento desejado livremen-
te e sem efeitos adversos. Bandura demonstrou 
em muitos estudos controlados que os indivi-
duos podem ser influenciados a ter comporta-
mentos mais adaptativos (por exemplo, supe-
rar fobias especificas) 11 ou menos adaptativos 
(por exemplo, agressividade irrestrita) 12 ao 0 b-
servar e adotar 0 comportamento de outras 
pessoas. 
o !ider pode, oferecendo urn modele de 
aceita<;ao e entendimento imparcial das capa-
cidades e de areas problematicas do individuo, 
ajudar a maldar urn grupo saudavel. Por outro 
lado, se os Hderes conceituarem seu papel como 
o de urn detetive da psicopat'ologia, os mem-
bros do grupo 0 acompanharao. Por exemplo, 
uma mulher vinha trabalhando ativamente nos 
problemas dos outros membros do grupo, mas 
havia se negado terminantemente a revelar os 
seus proprios problemas. Finalmente, em urn 
encontro, ela confessou que urn ana antes ha-
via passado dois meses em urn hospital psiquia-
trico. 0 terapeuta respondeu reflexivamente: 
"Por que voce nao nos contou isso antes?". 
Esse comentario, que a paciente percebeu 
como punitiv~, serviu apenas para refor<;ar 0 
seu medo e desestimular mais revela<;6es pes-
soais. Obviamente, existem quest6es e comen-
tarios que fecharao as pessoas e outros que as 
ajudarao a se abrir. 0 terapeuta tinha op<;6es 
de "abertura": por exemplo, "acho otimo que 
voce agora confie no grupo 0 suficiente para 
compartilhar esses fatos sobre voce"; ou "deve 
ter side diffcil para voce ficar no grupo, que-
rendo compartilhar essa revela<;ao, mas tendo 
medo de faze-Io". 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 113 
o tider estabelece urn modelo de honesti-
dade e espontaneidade interpessoais, mas tam-
bern deve ter em mente as atuais necessidades 
dos membros e demonstrar comportamentos 
que sejam congruentes com elas. Nao conclua 
que os terapeutas de grupo devam expressar 
todos os sentimentos livremente. A desinibi<;ao 
total nao e mais salutar na terapia de grupo do 
que em outras formas de encontros hurnanos e 
pode levar a intera<;6es negativas e destrutivas. 
o terapeuta deve modelar a responsabilidade e 
o comedimento adequado alem da honestida-
de. Queremos envolver nossos pacientes e per-
mitir que eles nos afetem. De fato, 0 "envolvi-
mento pessoal disciplinado" e urna parte valio-
sa do armamentario do Hder de grupO.13 Penni-
tir que nossos pacientes tenham inlportancia 
para nos nao e apenas terapeutico para eles, 
tambem podemos usar nossas proprias rea<;6es 
como dados valiosos sobre eles - desde que nos 
canhe<;amos 0 suficiente.Y 
Considere a seguinte interven<;ao, que foi 
efetiva do ponto de vista terapeutico: 
• Na primeira sessao de urn grupo de empre-
sanos que se reuniam para urn laborat6rio 
de rela<;6es humanas de cinco dias, urn mem-
bra afetado e agressivo de 25 anos, que ob-
viamente havia bebido, come<;ou a dominar 
a reuniao e fazer papel de tolo. Ele se van-
gloriou de suas realiza<;6es, diminuiu 0 gru-
po, monopo!izou a reuniao, interrompeu, 
anulou e insultou todos os outros membros. 
Todas as tentativas de !idar com a situa<;ao -
o feedback sobre 0 quanto os outros podiam 
estar se sentindo bravos ou magoados, ou 
interpreta<;6es sobre 0 significado e a causa 
de seu comportamento - fracassaram. En-
tao, minha co-lfder comentou com sinceri-
dade: "Sabe 0 que eu gosto em voce? Seu 
medo e sua falta de confian<;a. Voce esta apa-
vorado, assinl como eu. Estamos todos apa-
vorados com 0 que vai acontecer-nos nesta 
semana". Essa dedara<;ao permitiu que 0 
paciente abandonasse sua fachada e, enfim, 
se tomasse urn membra valioso do grupo. 
Alem disso, a Hder, modelando urn estilo 
emparico e imparcial, ajudou a estabelecer 
uma cultura de grupo cortes e solidaria. 
114 IRVIN D. YALOM 
Essa interven~ao efetiva exigiu que a co-
Ifder primeiramente reconhecesse 0 impacto 
negativo do comportamento daquele membro 
e articulasse de mane ira solidaria a vulnerabi-
lidade que esta por tras do comportamento 
ofensivo.14 
Interagir como urn membro do grupo exi-
ge, entre outras coisas, que os terapeutas acei-
tern e admitam sua falibilidade pessoal. Os 
terapeutas que precisam parecer infalfveis dao 
urn exemplo confuso e obstrutivo para seus pa-
cientes. As vezes, eles podem relutar tanto para 
admitir urn erro que se retraem ou se afastam 
em seu relacionamento corn 0 grupo. Por exem-
plo, em urn grupo, 0 terapeuta, que precisava 
parecer onisciente, estaria viajando na proxinla 
reuniao. Ele sugeriu que os membros do grupo 
se encontrassem sem ele e gravassem 0 encon-
tro, prometendo ouvir a fita antes da sessao se-
guinte, mas esqueceu de ouvir a fita e nao ad-
mitiu para 0 grupo. Conseqiientemente, a reu-
niao subseqiiente, na qual 0 terapeuta enganou 
a todos evitando mencionar a sessao anterior, 
foi difusa, confusa e desestirnulante. 
Outro exemplo envolve urn terapeuta 
neOfito com necessidades semelhantes. Urn 
membro do grupo 0 acusou de fazer deelara-
~oes confusas e emoladas. Como foi a primei-
ra vez que 0 terapeuta foi confrontado nesse 
grupo novo, os membros estavam tensos e sen-
tados na ponta das cadeiras. 0 terapeuta 0 
questionou se 0 paciente nao estava confun-
dindo-o com alguem do passado. 0 membro 
que 0 atacava aceitou a sugestao, oferecendo 
o seu pai como candidato, e a crise passou, com 
os membros do grupo relaxando em suas ca-
deiras. Todavia, esse mesmo terapeutaja tinha 
feito parte de urn grupo (de estudantes de 
psicoterapia) e seus colegas sempre se concen-
travam em sua tendencia de fazer comentarios 
confusos e emolados. De fato, parecia que 0 
paciente havia enxergado 0 terapeuta de uma 
forma bastante correta, mas foi persuadido a 
abandonar as suas percep<;oes. Se urn dos obje-
tivos da terapia e ajudar os pacientes a testarem 
a realidade e eselarecerem seus relacionamen-
tos interpessoais, essa transa~ao foi antitera-
peutica. Esse e urn exemplo ern que as necessi-
dades do terapeuta tiveram precedencia sobre 
as necessidades do paciente na psicoterapia.)" 
Outra conseqiiencia da necessidade de ser 
perfeito ocorre quando os terapeutas sao cau-
telosos demais. Com medo de errar, eles esco-
!hem suas palavras com tanto cuidado, intera-
gindo de forma tao deliberada que sacrificam 
a espontaneidade e moldam urn grupo formal 
e sem vida. Muitas vezes,0 terapeuta que man-
tern urn papel distante e onipotente esta di-
zendo, na verdade: "Fa~am 0 que quiserem, 
voces nao podem me ferir ou me tocar". Essa 
postura pode ter 0 efeito contraproducente de 
agravar 0 sentido de impotencia interpessoal 
dos pacientes, impedindo 0 desenvolvimento 
de urn grupo autonomo. 
• Em urn grupo, umjovem chamado Les ha-
via mexido-se pouco durante meses, ape-
sar dos esfor~os vigorosos do !ider nesse 
sentido. Em praticamente todos os encon-
tros, 0 lider tentava trazer Les para a dis-
cussao, mas nao tinha jeito. Em vez disso, 
ele se tornava mais hostil e retraido, e 0 
terapeuta ficava mais ativo e insistente. Fi-
nalmente, Joan, outra participante, comen-
tou para 0 terapeuta que ele era como urn 
pai cabe<;udo, tratando Les como urn filho 
teimoso, resolvido e determinado a muda-
10. Les estava gostando do papel do filho 
rebelde que estava determinado a derrotar 
o pai. 0 comentario de Joan pareceu corre- ~ 
to para 0 terapeuta, compativel com a sua 
experiencia interior, e ele reconheceu esse 
fato para 0 grupo e agradeceu a Joan por 
seus comentarios. 
Nesse exemplo, 0 comportamento do 
terapeuta foi extremamente importante para 
o grupo. Na verdade, ele disse que valorizava 
os membros, 0 grupo e essa forma de aprendi-
zado. Alem disso, ele refor~ou as normas de 
auto-explora~ao e a intera<;ao honesta com 0 
terapeuta. A transa~ao foi proveitosa para 0 
terapeuta (infelizes dos terapeutas que nao 
conseguem aprender mais sobre si mesmos ern 
seu trabalho terapeutico) e para Les, que pas-
sou a explorar os dividendos de sua postura 
desafiadora para com 0 terapeuta. 
Ocasionalmente, necessita-se de menoS 
modelagem por parte do terapeuta, por causa 
da presen<;a de certos membros ideais do gru-
i·" 
po que preenchem essa fun~ao. De fato, exis-
tern estudos em que membros selecionados sao 
introduzidos deliberadamente em um grupo 
para atuar como modelos. 1S Em urn estudo, 
pesquisadores introduziram aliados treinados 
(ern vez de pacientes, estudantes de pos-gra-
dua<;ao em psicologia) em dois grupos de pa-
cientes extemos.16 Eles fingiam ser pacientes, 
mas se reuniam regularmente com os tera-
peutas e supervisores para discussoes. Seu pa-
pel e comportamento eram planejados para 
facilitar, por seu exemplo pessoal, a auto-reve-
la<;ao, a expressao livre de afeto, a confronta-
<;ao com 0 terapeuta, 0 silenciamento dos 
monopolizadores, 0 bloqueio de subgrupos e 
assirn por diante. Os dois grupos foram estu-
dados (por meio de questionarios de coesao e 
sociometricos administrados aos participantes) 
e os resultados indicaram que os participantes 
acreditavam que os falsos pacientes, ainda que 
nao fossem os membros mais populares, facili-
tavam a terapia. Alem disso, os autores con-
eluiram (ainda que nao houvesse grupos de 
controle) que os falsos pacientes serviram para 
aumentar a coesao grupal. 
Emboraum falso paciente treinado repre-
sente uma forma de fraude incompativel com 
o processo da terapia de grupo, 0 usa desses 
individuos tern implica<;oes elinicas intrigan-
tes. Por exemplo, urn novo grupo de terapia 
pode ser semeado com urn membro ideal de 
outro grupo, que entao continuaria a terapia 
nos dois grupos. Ou urn individuo que tenha 
coneluido sua· terapia de forma satisfatoria re-
centemente po de servir como terapeuta auxi-
liar para atuar como modele aurante 0 perfo-
do de forma~ao do grupo novo. Talvez urn gru-
po em andamento pudesse decidir acrescentar 
novos membros antes da gradua~ao de mem-
bros antigos, em vez de depois, para capitali-
zar a modelagem que membros experientes e 
bem-sucedidos proporcionam. 
Deixando essas possibilidades de lado, e 
o terapeuta quem, de forma voluntaria ou 
involuntaria, continuant a servir como 0 prin-
cipal modelo para os membros do grupo. Con-
seqiientemente, e de fundamental importan-
cia que 0 terapeuta tenha suficiente autocon-
fian<;a para cumprir com essa fun~ao. Se os 
terapeutas sentirem-se desconfortaveis, eles se-
PSICOTERAPIA DE GRUPO 115 
rao mais provaveis de encontrar dificuldades 
nesse aspecto de seu papel e se inelinariio para 
urn ou outro extrema em seu envolvimento 
pessoal no grupo: assumirao urn papel profis-
sional fechado e confortavelou fugirao da an-
siedade e responsabilidade inerente ao papel 
de !ider, sirnplesmente abdicando e se tornan-
do mais urn membro da gangue. )"17 
Os terapeutas neofitos sao particularmen-
te propensos a essas posi<;oes de atividade ou 
inatividade exageradas diante de demand as 
emocionais que envolvem liderar grupos de 
terapia. Os dois extremos tern conseqiiencias 
desfavoraveis para 0 desenvolvimento de nor-
mas do grupo. Urn !ider muito fechado criara 
normas de cautela e prote~ao. Urn terapeuta 
que se abstiver de sua autoridade nao conse-
guira usar a ampla variedade de metodos dis-
poniveis para moldar as normas. Alem disso, 
esse terapeuta criara urn grupo que provavel-
mente nao conseguira trabalhar de forma pro-
dutiva com importantes questoes relacionadas 
com a transferencia. 
A questao da transparencia do terapeuta 
tern implica~oes que vaG alem da tarefa de es-
tabelecer normas. Y Quando os terapeutas re-
velam-se no grupo, eles nao apenas modelam 
o comportamento, como realizam urn ato que 
tern grande irnportancia de muitas outras ma-
neiras para 0 processo terapeutico. Muitos pa-
cientes desenvolvem sentimentos conflituosos 
e distorcidos para com 0 terapeuta. A transpa-
rencia do terapeuta facilita 0 traba!ho dos mem-
bros com a transferencia_ Discutirei as ran1ifi-
ca~oes da transparencia em maior detalhe no 
Capitulo 7. Passemos agora dessa discussao 
geral de normas para as normas especificas que 
aumentam 0 poder da terapia de grupo. 
EXEMPLOS DE NORMAS DE GRUPO TERAPEUTICAS 
o automonitoramento do grupo 
E irnportante que 0 grupo comece a assu-
mir a responsabilidade pelo proprio funciona-
mento. Se essa norma nao for desenvolvida, 0 
grupo torna-se passivo, com membros que de-
pendem do !ider para prover direcionamento 
e movimento. 0 !ider de um grupo assim, que 
116 IRVIN D. YALOM 
se sente fatigado e irritado com 0 fardo de ter 
que fazer tudo funcionar, esta ciente de que 
algo saiu errado no desenvolvimento inicial do 
grupo. Quando dirijo grupos como esse, muitas 
vezes sinto que seus membros estao no cinema. 
E como se viessem ao grupo toda a semana 
para ver 0 que esta passando. Se eles se inte-
ressarem, envolvem-se na reuniao. Se nao, pen-
sam: "Que pena, espero que tenha urn fiIme 
melhor na semana que vern!". Minha tarefa no 
grupo e ajudar os membros a entenderem que 
eles sao 0 filme. Se nao se apresentarem, nao 
havera apresenta<;;ao: a tela ficara em branco. 
trabalhando de forma efetiva e quando esta 
desperdi<;ando 0 seu tempo". 
Se urn membro lamenta, por exemplo, 
que "a unica parte envolvente da reuniao fo-
ram os primeiros 10 minutos - depois disso nos 
apenas batemos papo por 45 minutos", minha 
resposta e: "Entao por que voce deixou conti-
nuar? Como voce poderia ter interrompido?" 
ou "Todos voces parecem saber disso. 0 que os 
impediu de agir? Por que sempre e minha fun-
<;;ao fazer 0 que voces sao capazes de fazer?". 
Em seguida, hayed urn consenso sobre 0 que 
e improdutivo no trabalho do grupo. (E, quase 
invariaveImente, 0 trabalho produtivo ocorre 
quando 0 grupo mantem seu foco no aqui-e-
agora - a ser discutido no proximo capitulo.) 
Desde 0 come<;;o, tento transferir a res-
ponsabilidade do grupo para os seus membros. 
Sempre lembro que, no come<;;o de urn grupo, 
eu sou a unica pessoa na sala que tem uma boa 
definifao do que constitui um bom encontro de 
grupo. Meu trabalho e ensinar aos membros, Auto-revela"ao 
compartilhar essa defini<;;ao com eles. Assim, 
se 0 grupo tiver uma reuniao particularmente Os terapeutas de grupo podem discordar 
boa, gosto de defini-Iadessa forma. Por exem- sobre muitos aspectos do procedimento tera-
plo, posso comentar ao final que "e hora de peutico de grupo, mas existe urn grande con-
parar, que pena. Detesto interromper urn en- senso sobre uma questao: a auto-revelafao e 
contro desses". Em encontros futuros, sempre absolutamente essencial no processo terapeutico 
fa<;;o questao de me referir aquele encontro es- de grupo. Os participantes nao se beneficiarao 
pecffico. Em urn grupo jovem, urn encontro com a terapia de grupo, a menos qu~ se n~ve­
particularmente produtivo costurna ser segui- lem e 0 fa<;;am completamente .. Pr~,firo onen-
do por outro em que os membros recuam urn tar urn grupo com' normas que mdlquem que 
pouco da intera<;;ao intensiva. Nesse outro en- - deve haver auto-re,vela<;;ao - mas no ri~o ?e 
contro, apos meia hora, comento: "Imagino cada membro. Prefiro que os membros nao sm-
como todos se sentem com a reuniao de hoje. tam 0 grupo como urn confessionario for<;;ado, 
Como ela se compara com a da semana passa- onde revela<;;oes profundas sao arrancadas a 
da? 0 que fizemos de diferente na semana pas- for<;;a de cada membro, urn por urn. IS 
sada?" Durante as reunioes de prepara<;;ao antes 
Tambem e possivel ajudar os membros a do infcio do grup?, deixo essas questoes explf-
desenvolverem uma defini<;;ao de uma boa reu- citas para os pacientes, para que eles entrem 
niao solicitando que examinem e avaliem par- para 0 grupo complet~n:ente inform,ados ~e 
tes de uma mesma reuniao. Por exemplo, nos que, para que se benefiClem da terapla, terao 
primeiros encontros de urn grupo, posso inter- de compartilhar partes muito fntimas de si mes-
romper e dizer: "Vejo que se passou uma hora mos mais cedo ou mais tarde com os outros 
e gostaria de perguntar como esta 0 grupo hoje? membros do grupo. . . 
Voces estao satisfeitos com ele? Qual foi a par- Tenha em mente que 0 aspecto subJetlvo 
te mais envolvente do encontro de hoje ate da auto-revela<;;ao e 0 que realmente importa, 
aqui? E a menos envolvente?". A questao geral Podem haver momentos em que terapeutas ou 
e clara: tento transferir a fun<;;ao de avalia<;;ao observadores concluam erroneamente que 0 
de mim para os membros do grupo. Digo para grupo nao esta revelando-se ou que a revel,a-
eles: "Voces tern capacidade - e responsabili- <;;ao e superficial ou trivial. Muitas vezes, eXlS-
dade _ para detenninar quando este grupo esta te uma discrepancia enorme entre a auto-re-
vela<;;ao subjetiva e a objetiva - uma discrepan-
cia que, de maneira incidental, confunde as 
pesquisas que mensuram a auto-revela<;;iio em 
escalas padronizadas. Muitos membros de gru-
pos de terapia tiveram poucos confidentes fn-
timos na vida. Dessa fonna, aquela revela<;;ao, 
que pode parecer pequena, pode ser 0 primei-
ro ate de compartilhamento com alguma pes-
soa. 0 contexte da revela<;;ao de cada indivf-
duo e essencial para se entender 0 seu signifi-
cado. Ter consciencia desse contexto e uma 
parte crucial do desenvolvimento de empatia, 
conforme ilustra 0 seguinte exemplo. 
• Urn membro de urn grupo, Mark, falou de 
forma lenta e metodica sobre sua intensa 
ansiedade social. Marie, uma jovem amar-
ga e cronicamente deprimida, irritou-se com 
a longa e elaborada narrativa de suas di-
ficuldades. Em urn certo ponto, ela questi-
onou por que os outros pareciam incenti-
var Mark e se animar com a sua fala, quan-
do ela se sentia tao impaciente com a lenti-
dao do grupo. Marie estava preocupada que 
nao conseguiria chegar em sua agenda pes-
soal: obter orienta<;;ao sobre como se fazer 
mais agradavel. 0 feedback que recebeu a 
surpreendeu: os membros sentiam-se alie-
nados dela por causa de sua incapacidade 
de sentir empatia pelos outros. 0 que esta-
va acontecendo na reuniao com Mark era 
urn caso importante, disseram-lhe. Eles sen-
tiam que a revela<;;ao pessoal de Mark na 
reuniao era urn grande passo para ele. 0 
que a impedia de ver 0 que os outros viam? 
Essa era a questao crftica. Explorar essa di-
ficuldade era 0 "conselho" que 0 grupo lhe 
of ere cia. 
Eo grande segredo? Urn membro pode 
chegar na terapia com urn segredo importante 
sobre algum aspecto central de sua vida - por 
exemplo, roubo compulsiv~, abuso de substan-
cias secreto, uma senten<;;a criminal anterior, 
bulimia, travestismo, incesto. Eles se sentem 
em uma armadilha. Embora desejem trabalhar 
no grupo de terapia, tambem se sentem apa-
vorados demais para compartilhar seu segre-
do com urn grupo grande de pessoas. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 117 
Em minhas sess6es preparatorias indivi-
duais, deixo claro para esses pacientes que mais 
cedo ou mais tarde eles terao que comparti-
lhar 0 segredo com os outros membros. 
Enfatizo que eles podem fazer isso em seu rit-
mo proprio, podendo preferir esperar ate que 
sintam mais confian<;;a no grupo, mas que, urn 
dia, deve haver compartilhamento para que a 
terapia avance. Os membros que decidem nao 
compartilhar urn segredo importante estao 
destinado~ a simplesmente recriar no grupo os 
mesmos modos dubios de se relacionar com os 
outros que existem fora do grupo. Para mante-
rem 0 segredo oculto, eles devem proteger qual-
quer caminho que possa levar a ele. A vigilan-
cia e a prote<;;ao aumentam, a espontaneidade 
diminui e aqueles que carre gam 0 segredo per-
dem-se em uma rede crescente de inibi<;;ao ao 
seu redor. 
As vezes, e adaptativo guardar urn segre-
do por urn tempo. Considere os dois membros 
de grupos a seguir, John e Charles. John era 
urn travesti desde os 12 anos e se travestia com 
freqiiencia, mas em segredo. Charles entrou 
para 0 grupo com cancer e disse que ja havia 
tide muito trabalho para aprender a enfrentar 
o cancer. Ele conhecia 0 seu prognostico: vive-
ria por mais dois ou tres anos. Procurou, en-
tao, a terapia de grupo para viver 0 restante 
de sua vida de forma mais completa, e queria 
especialmente relacionar-se de maneira mais 
intima com as pessoas importantes de sua vida.. 
Isso parecia urn objetivo legitimo para a tera-
pia de grupo. Eu 0 coloquei em urn grupo de 
terapia regular para pacientes extemos. (Des-
crevi 0 tratamento desse individuo integralmen-
te em outro texto.)19 
John e Charles preferiram nao revelar seus 
segredos por muitas sess6es e eu ja come<;;ava a 
ficar ansioso e impaciente. Eu fazia olhares in-
tencionais ou cOI1vites sutis para eles. Finalmen-
te, ambos integraram-se totalmente ao grupo e 
desenvolveram uma confian<;;a profunda nos 
outros membros. Apos aproximadamente 12 en-
contros, decidiram se revelar completamente. 
Em retrospectiva, a decisao deles de postergar 
foi sensata. Os membros do grupo passaram a 
conhecer esses dois membros como pessoas, 
como John e Charles, que enfrentavam grandes 
118 IRVIN D. YALOM 
problemas em suas vidas, nao como urn traves-
ti e urn paciente com cancer. John e Charles es-
tavamjustificavelmente preocupados que, se se 
revelassem cedo demais, eles seriam estereoti-
pados e que 0 estereotipo impediria que os ou-
tros membros os conhecessem integralmente. 
Como pode 0 lfder do grupo determinar 
se a demora do paciente em se revelar e ade-
quada ou antiterapeutica? 0 contexto e imp or-
tante. Mesmo que nao tenha havido uma reve-
lac;ao total, existe urn movimento, ainda que 
lento, para maior abertura e confian<;a? Sera 
que a passagem do tempo vai facilitar a revela-
c;ao, como aconteceu com John e Charles, ou 
aumentar a tensao e a evita<;ao? 
Muitas vezes, agarrar-se a urn grande se-
gredo por tempo demais po de ser contrapro-
ducente. Considere 0 seguinte exemplo: 
• Lisa, uma paciente em urn grupo de tempo 
limitado de seis meses, que havia trabalha-
do por alguns anos como psicologa (apos 
obter sua formac;ao com 0 lider do grupo!), 
mas abandonara a pratica havia 15 anos 
para entrar para 0 mundo dos negocios, 
onde se tornou extraordinariamente bem-
sucedida, entrou para 0 grupopor causa de 
sua insatisfac;ao com sua vida social. Lisa 
sentia-se so e alienada. Ela sabia que, como 
colocou, jogava com suas cartas "perto de-
mais do corpo" - ela era cordial com os 
outros e era uma boa ouvinte, mas tinha 
uma tendencia a permanecer distante. Ela 
atribuia isso a sua enOllle riqueza, que acre-
ditava ter de ocultar para nao causar inveja 
e ressentimento nos outros. 
No quinto mes, Lisa ainda nao havia reve-
lado muita coisa. Ela ainda mantinha suas 
habilidades psicoterapeuticas e se mostra-
va util para muitos membros, que a admi-
ravam por sua percep<;ao e sensibilidade. 
Porem, replicava seus relacionamentos so-
ciais externos no aqui-e-agora do grupo, 
po is sentia-se distante e escondida dos ou-
tros membros. Lisa solicitou uma sessao in-
dividual com 0 !ider do grupo para discutir 
a sua participac;ao. Durante essa sessao, 0 
terapeuta a aconselhou a revelar as suas 
preocupac;6es com a sua riqueza e, especi-
almente, sua formac;ao em psicoterapia, ad-
vertindo que, se ela esperasse demais, aI-
guem jogaria uma cadE;ira nela quando fi-
nalmente dissesse ao grupo que ja tinha sido 
terapeuta. Finalmente, Lisa deu 0 saito e, 
nos ultimos encontros que restavam, fez 
mais trabaiho terapeutico do que em todos 
os outros encontros juntos. 
Que postura deve 0 terapeuta ado tar 
quando alguem revela urn grande segredo? 
Para responder a essa quesliio, devo fazer an-
tes uma importante distin<;iio. Creio que, quan-
do urn individuo revela urn grande segredo, 0 
terapeuta deve ajuda-lo a revelar ainda mais 
sobre 0 segredo, mas de urn modo horizontal, 
em vez de vertical. Como revelafllo vertical, re-
firo-me ao conteudo, a uma maior profundi-
dade na revela<;ao do segredo. Por exemplo, 
quando John revelou 0 seu travestismo para 0 
grupo, a tendencia natural dos membros foi 
explorar 0 segredo verticalmente. Eles pergun-
taram detalhes: "Que idade voce tinha quan-
do come<;ou?", "De quem eram as roupas de 
baixo que voce come<;ou a usar?", "Que fanta-
sias voce tern quando se traveste?", "Como voce 
passa por mulher em publico com esse bigo-
de?". Mas John ja havia revelado muita coisa 
verticalmente sobre 0 seu segredo, e agora se-
ria mais importante para ele revelar algo hori-
zontalmente: ou seja, revelar-se sobre a revela-
¢o (meta-revelat;:iio) - especialmente sobre os 
aspectos interacionais da revelariio.20 
Assirn, quando John divulgou 0 seu tra-
vestismo para 0 grupo, fiz perguntas como: 
':Tohn, voce tern vindo ao grupo h3 aproxima-
damente 12 encontros e nao conseguia com-
partilhar isso conosco. Imagino como era para 
voce vir aqui a cada semana e permanecer em 
silencio sobre 0 seu segredo". "Voce estava 
desconfortavel com a perspectiva de compar-
tilhar isso conosco?" "Nao parecia seguro para 
voce compartilhar isso antes, mas hoje voce 
decidiu falar. 0 que mudou no grupo ou em 
seus sentimentos para com 0 grupo que permi-
tiu que voce falasse?" "Quais eram os seus me-
dos no pass ado com relac;ao a revelar isso para 
nos? 0 que voce pensava que aconteceria? 
Como voce achava que responderiamos?" 
John respondeu que temia ser ridiculari-
zado ou que rissem dele ou que 0 consideras-
sem esquisito. Para continuar com essa inves-
tigac;ao no aqui-e-agora, euo conduzi mais pro-
fundamente no processo interpessoal, pergun-
tando: "Quem no grupo ridicularizaria voce?" 
"Quem acharia voce esquisito?" E enta~, de-
pois de John selecionar certos membros, eu 0 
convidei a conferir essas vis6es com eles. Acei-
tando a revelac;ao atrasada, ao inves de criti-
car a demora, 0 terapeuta apoia 0 paciente e 
fortalece a cooperac;ao terapeutica. Como re-
gra, sempre e born passar de afirmac;6es gerais 
sobre 0 "grupo" para afirma<;6es mais pessoais: 
em outras palavras, pe<;a que os membros di-
ferenciem os outros membros do grupo. 
A auto-revelac;ao sempre e urn ato inter-
pessoal. 0 irnportante nao e que 0 individuo se 
revele, mas que ele revele algo importante no 
contexto de seu relacionamento com os outros. 
o ato da auto-revelac;ao assume irnportancia 
verdadeira por causa de suas implica<;6es para 
a natureza dos relacionamentos atuais. Ainda 
mais importante do que 0 fato de. se tirar urn 
peso das costas e 0 fato de que a revelac;ao re-
sulta em urn relacionamento mais profundo, 
mais rico e mais completo com outras pessoas. 
(E por iss6 que, ao contrario de-outros pesqui-
sadores,Y nao considero a auto-revela<;ao como 
urn fator terapeutico separaao, mas a inc1uo 
na aprendizagem interpessoal.) 
A revela<;ao de abuso sexual ou incesto e 
particularmente carregada. As vitimas de abu-
so sexual muitas vezes sao traumatizadas nao 
apenas pelo abuso em si, mas pela maneira 
como outras pessoas responderam quando re-
velaram 0 abuso no passado. Nao e incomum 
que a revela<;ao inicial para a fanulia da vitima 
seja recebida com negac;ao, culpa e rejei<;ao. 
Como resultado, a ideia de se revelar no grupo 
de terapia evoca 0 medo de ser maltratado e 
ate uma nova traumatiza<;ao, em vez de espe-
ran<;a de trabaihar 0 abuso.21 
Se urn membro for pressionado demais 
para se revelaI; dependendo dos problemas do 
paciente especifico e seu estagio na terapia, res-
pondo de diversas maneiras. Por exemplo, pos-
so aliviar a pressao comentando: "Existem ob-
viamente coisas que John ainda nao sente no 
sentido de compartilhar seus problemas. 0 gru-
po parece impaciente, ate ansioso, para trazer 
John a bordo, mas ele ainda nao se sente sufi-
PSICOTERAPIA DE {lRUPO 119 
cientemente seguro ou confortavel" (a palavra 
"ainda" e importante, pois transmite as expec-
tativas apropriadas). Continuo sugerindo que 
examinemos os aspectos inseguros do grupo, 
nao apenas pela perspectiva de John, mas tam-
bern de outros membros. Assim, mudo a enfa-
se do grupo, for<;ando revela<;6es para explo-
rar os obstaculos a revelac;ao. 0 que produz 0 
medo? Quais sao as conseqiiencias temidas 
previstas? De quem no grupo os membros es-
peram desaprova<;ao? 
Ninguem jamais deve ser punido por sua 
auto-revelariio. Urn dos eventos mais destruti-
vos que pode ocorrer em urn grupo e os mem-
bros usarem material pessoal e sensivel que foi 
discutido de forma confiavel no grupo contra 
os outros em tempos de conflito. 0 terapeuta 
deve intervir vigorosamente se isso ocorrer. Nao 
apenas representa urn golpe baixo, como sa-
bota importantes normas do grupo. Essa inter-
venc;ao vigorosa pode assumir muitas formas. 
De algum modo, 0 terapeuta deve chamar aten-
<;ao para a viola<;ao da confian<;a. Muitas ve-
zes, simplesmente interrompo a a<;ao e 0 con-
flito e mostro que algo muito irnportante aca-
ba de acontecer no grupo. Pec;o que 0 membro 
of en dido fale de seus sentimentos sobre 0 in-
cidente, pergunto aos outros sobre os seus, se 
alguem ja teve experiencias semeihantes, mos-
tro como isso vai dificultar para que outros se 
revelem, e assirn por diante. Qualquer outro 
trabalho do grupo e temporariamente suspen-
so. 0 fundamental e que 0 incidente seja en-
fatizado para reforc;ar a norma de que a auto-
revelac;ao nao apenas e importante, como se-
gura. Somente apos a norma ter sido estabe-
lecida, podemos examinar outros aspectos do 
incidente. 
Normas de procedimento 
o Formato otimo na terapia e que 0 gru-
po nao seja estruturado, mas seja espontaneo 
e interaja livremente. Mas esse Jormato nunca 
evolui de uma forma natural: e necessario que 0 
terapeuta molde a cultura ativamente. Ele deve 
combater muitas tendencias. A tendencia na-
tural de um gmpo novo e dedicar uma reuniao 
inteira a cada um dos membros, em rota<;ao. 
120 IRVIN D. YALOM 
Com freqiiencia, a primeira pessoa a falar ou a 
que apresenta a crise mais urgente naquela se-
mana obtem 0 espa<;o naquela reuniao. Alguns 
grupos tern grande dificuldade para mudar 0 
foco de urn membro para outro, pois existe uma 
norma de procedimentosegundo a qual qual-
quer mudan<;a de tcpieo e considerada ruim, 
rude ou rejei<;ao. Os membros podem ficar em 
silencio: eles nao ousam interromper e pedir a 
vez, mas recusam-se a fazer perguntas ao ou-
tro membro, pois esperam,:em silencio, que ele 
pare logo de falar. 
Esses padr5es atrapalham 0 desenvolvi-
mento de urn grupo forte e resultam em frus-
tra<;ao e desestimulo para 0 grupo. Prefiro li-
dar com essas normas antiterapeuticas chaman-
do aten<;ao para elas e indicando que, assim 
como as construiu, 0 grupo tern poder para 
muda-las. 
Por exemplo, posso dizer: "Tenho obser-
vado que, nas ultimas sessoes, toda a reuniao 
foi dedicada a apenas uma pessoa, normalmen-
te a primeira pessoa que fala naquele dia, e 
tambem que os outros nao parecem dispostos 
a interromper e, creio eu, mantem-se em si-
lencio quando tern sentimentos importantes. 
Imagino como essa pratica come<;ou e se que-
remos muda-la ou nao". Urn comentario dessa 
natureza pode ser libertador para 0 grupo. 0 
terapeuta nao apenas deu voz a algo que to-
dos sabem ser verdade, como levantou a pos-
sibilidade de outras op<;oes. 
Alguns grupos desenvolvem urn formate 
de "check-in" formal, no qual os membros se 
altemam e discutem questoes importantes da 
semana anterior ou momentos de grande per-
turba<;ao. As vezes, especialmente com grupos 
com membros muito ansiosos e disfuncionais, 
essa estrutura inicial e necessaria e facilitadora, 
mas, em minha experiencia, na maioria dos 
grupos, essa estrutura formal geralmente esti-
mula urn encontro ineficiente, com urn enfoque 
nao-interativo e altemado no "la-e-entao". Pre-
firo urn formato em que os membros possam 
simplesmente anunciar no infcio: "Preciso de 
espa<;o hoje", e eles e 0 terapeuta tentem, na 
evolu<;ao natural da sessao, voltar-se a cad a 
urn dos participantes. 
Os grupos especializados, especialmente 
aqueles com tempo limitado e membros mais 
problematicos, muitas vezes exigem normas de 
procedimento diferentes. Deve haver conces-
s5es em nome do manejo eficiente do tempo e 
o lider deve construir uma estrutura explicita. 
Discutirei essas modifica<;5es tecnicas no Capi-
tulo 15, mas por enquanto desejo apenas 
enfatizar 0 prindpio geral de que 0 lfder deve 
tentar estruturar 0 grupo de maneira a embu-
tir as normas terapeuticas que discuti neste 
capitulo: apoio e confronta<;ao, auto-revela<;ao, 
automonitoramento, intera<;ao, espontaneida-
de, a importancia dos membros do grupo como 
agentes de ajuda. 
A importiincia do grupo para seus membros 
Quanto mais importante os membros con-
sideram 0 grupo, mais efetivo ele se toma. Acre-
dito que a condi<;ao terapeutica ideal esta pre-
sente quando os pacientes consideram que a 
reuniao do grupo de terapia e 0 evento mais 
importante da semana. 0 terapeuta deve re-
for<;ar essa cren<;a de qualquer maneira pOSSI-
ve!. Quando sou for<;ado a faltar a urn encon-
tro, informo os membros antecipadamente e 
transmito minha preocupa<;ao quanta a minha 
ausencia. Sempre chego as reuniqes pontual-
mente. Se penso 'no grupo entre as sess6es, 
posso compartilhar alguns desses pens amen-
tos com os membros. Quaisquer revela<;5es 
pessoais que fa<;o sao feitas a servi<;o do grupo. 
Embora alguns terapeutas evitem essa revela-
<;ao pessoal, creio que e importante articular 0 
quanta 0 grupo importa para voce. 
Sempre incentivo os membros quando 
eles falam da utilidade do grupo ou quando 
indicam que pensaram nos outros membros 
durante a semana. Se urn membro lastima que 
o grupo nao va se reunir nas duas semanas das 
festas de fim de ano, digo para expressar seus 
sentimentos sobre sua conexao com 0 grupo. 
o que significa gostar do grupo? Reclamar da 
interrup<;ao? Ter urn lugar para descrever suas 
preocupa<;6es abertamente em vez de afogar a 
suas ansias? 
Quanto rna is continuidade houver entre 
as reunioes, melhor. Urn grupo que funcione 
bern continua a trabalhar as questoes de urn 
encontro para 0 outro. 0 terapeuta deve esti-
I 
I 
i 
mular a continuidade. Mais do que qualquer 
urn, 0 terapeuta e 0 historiador do grupo, 
conectando eventos e encaixando experienci-
as na matriz temporal do grupo. "1sso parece 
muito com 0 que John estava trabalhando duas 
semanas atras", ou "Ruthellen, notei que des-
de que voce e Debbie tiveram aquele desen-
tendimento ha tres semanas, voce ficou depri-
mida e retraida. Como voce se sente agora para 
com Debbie?" 
E raro eu come<;ar uma reuniao de gru-
po, mas, quando 0 fa<;o, e invariavelmente para 
dar continuidade entre as reuni5es. Assim, 
quando parece apropriado, posso come<;ar urn 
encontro dizendo: "A ultima reuniao foi muito 
intensa! Imagino que tipos de sentimento voces 
levaram do grupo para casa e como eles estao 
agora". 
No Capitulo 14, descreverei 0 resume do 
grupo, uma tecnica q\le serve para aumentar 0 
sentido de continuidade entre- as reunioes. Es-
crevo urn resume detalhado do encontro do 
grupo a cada semana (uma descri<;ao narrati-
va editorializada do conteudo e do processo) e 
o envio aos membros entre as sess5es. Uma 
das fun<;6es 'mais importantes do resume e que 
ele proporciona mais urn contato semanal com 
o grupo e aumenta a probabilidade de que os 
temas de determinado encontro continuem no 
seguinte. 
o grupo aumenta em importancia quan-
do os membros passam a reconhece-Io como 
urn rico reservatcrio de informa<;5es e apoio. 
Quando os membros expressam curiosidade 
sobre eles mesmos, de urn ou de outro modo, 
tento transmitir a cren<;a de que qualquer in-
JonnQl;cro que os membros possam desejar sobre 
eles mesmos estd dispon[vel na sala do grupo, 
desde que aprendam como Jazer uso dela. As-
sim, quando Ken questiona se ele e dominante 
e amea<;ador demais para os outros, meu re-
flexo e responder: "Ken, existem muitas pessoas 
que 0 conhecem bern nesta sala. Por que voce 
nao pergunta a elas?". 
Os eventos que fortalecem os vfnculos 
entre os membros aumentam a potencia do 
grupo. E urn born pressagio quando os mem-
bros do grupo saem para tomar urn cafe apes 
uma reuniao, tern longas conversas no estacio-
namento ou se telefonam durante a semana 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 121 
em epocas de crise. (Esse contato fora do grupo 
nao esta livre de efeitos adversos potenciais, 
como discutirei em detalhe no Capitulo 11.) 
Os membros como agentes da ajuda 
o grupo funciona melhor se seus mem-
bros entendem a ajuda valiosa que podem pro-
porcionar uns aos outros. Se 0 grupo continua 
a enxergar 0 terapeuta como a uniea fonte de 
ajuda, e bastante improvavel que ele alcance 
urn nlvel adequado de autonomia e auto-res-
peito. Para refor<;ar essa norma, 0 terapeuta 
pode chamar aten<;ao para incidentes que de-
monstrem a utilidade mutua dos membros. 0 
terapeuta tambem pode ensinar metodos mais 
efetivos para os membros se ajudarem. Por 
exemplo, apes urn paciente ter trabalhado uma 
questao com 0 grupo por grande parte da reu-
niao, 0 terapeuta po de comentar: "Reid, voce 
pode refletir sobre os ultimos 45 minutos? Que 
comentarios 0 ajudaram mais equal foi 0 ulti-
mo delest" ou; "Victor, vejo que voce esta es-
perando para falar no grupo ha bastante tem-
po e ate hoje nao conseguiu. De alguma for-
ma, Eve 0 ajudou a se abrir. 0 que ela fez? E 0 
que Ben fez hoje que pareceu fecha-Io em vez 
de abri-Io?". Nao se deve pennitir que com-
portamentos que sabotem a norma de auxilio 
mutua passem despercebidos. Por exemplo, se 
urn membro desafia outro com rela<;ao a sua 
forma de tratar uma terceira pessoa, dizendo: 
"Fred, que direito voce tern de falar com Peter 
sobre isso? Voce e muito pior do que ele nesse 
sentido", posso intervir comentando: "Phil, 
acho que voce esta com sentimentos negativos 
com rela<;ao ao Fred hoje, talvez vindos de ou-
tra fonte. Talvez devamos entrar neles. Toda-
via, nao posso concordar quando voce diz que, 
como Frede parecido com Peter; ele nao pode 
ajudar. De fato, 0 oposto disso tern acontecido 
aqui no grupo". 
Apoio e confronta~iio 
Conforme enfatizei em minha discussao 
da coesao, e essencial que os membros perce-
bam seu grupo de terapia como seguro e soli-
122 IRVIN D. YALOM 
dario. Essencialmente, no decorrer da terapia, 
muitas questoes desconfortaveis devem ser 
tocadas e exploradas. Muitos pacientes tern pro-
blemas com a raiva, ou sao arrogantes ou con-
descendentes ou insensiveis ou simplesmente 
intrataveis. 0 grupo de terapia nao pode ofe-
recer ajuda sem que esses tra~os apare~am 
durante as intera~oes dos membros. De fato, 
seu surgimento e bern recebido como uma 
oportunidade terapeutica. Essencialmente, 
deve haver conflito no grupo de terapia e, como 
discutirei no Capitulo 12, ele e essencial para 
o trabalho da terapia. Entretanto, ao mesmo 
tempo, conflitos demais no comec;:o do grupo 
podem atrapalhar 0 seu desenvolvimento. An-
tes que os membros se sintam suficientemente 
livres para expressar suas discordancias, eles 
devem se sentir suficientemente seguros e de-
vern valorizar 0 grupo 0 suficiente para que 
estejam dispostos a tolerar reunioes desconfor-
taveis. 
Assim, 0 terapeuta deve construir 0 gru-
po com normas que permitam conflitos, mas 
apenas depois de estabelecer bases firmes de 
seguranc;:a e apoio. Muitas vezes, e necessario 
intervir para prevenir a prolifera~ao de confli-
tos demais no come~o do grupo, conforme i!us-
tra 0 seguinte incidente. 
• Em urn grupo de terapia novo, havia duas 
participantes particularmente hostis e, na 
terceira reuniao, ja havia consideravel cen-
sura, sarcasmo e conflito. 0 quarto encon-
tro foi aberto por Estelle (uma das duas), 
enfatizando 0 quanto 0 grupo nao tinha side 
uti! para ela ate aquele momento. Estelle 
tinha uma maneira de transformar cad a 
comentario positiv~ que fizessem sobre ela 
em algo negativo e agressivo. Ela reclama-
va, por exemplo, que nao podia se expres-
sar bern e que havia muitas coisas que que-
ria dizer, mas que nao era articulada para 
conseguir transrniti-Ias. Quando outro mem-
bro do grupo discordou e disse que achava 
Estelle extremamente articulada, ela 0 de-
safiou por duvidar de seu julgamento. Mais 
adiante na reuniao, ela cumprimentou ou-
tra participante, dizendo: "Ilene, voce e a 
(mica que me faz alguma pergunta inteli-
gente". Obviamente, Ilene ficou bastante 
desconfortavel com esse cumprimento des-
locado. 
Nesse momento, senti que era imperativo 
desafiar as normas de hostilidade e critica 
que haviam desenvolvido-se no grupo, e in-
tervim vigorosamente .. Perguntei a Estelle: 
"Como voce acha que seu comentario para 
Ilene faz os outros membros se sentirem?". 
Estelle tossiu e hesitou, mas finalmente dis-
se que eles talvez se sentissem insultados. 
Sugeri que ela perguntasse aos outros mem-
bros. Ela 0 fez e viu que sua suposi~ao esta-
va correta. Seu comentario nao apenas ha-
via insultado a todos, como tambem havia 
feito Ilene se sentir irritada e desmoraliza-
da. Entao, falei: "Estelle, parece que voce 
estava certa. Voce insultou 0 grupo. Tam-
bern parece que voce sabia que isso aconte-
ceria, mas 0 estranho e 0 beneficio disso 
para voce. 0 que voce ganha com isso?". 
Estelle sugeriu duas possibilidades. Primei-
ramente, ela disse: "Eu preferia ser rejeita-
da por insultar as pessoas do que por ser 
legal com elas". Essa logica parecia ser 
distorcida, mas, ainda assim, compreensi-
vel. Sua segunda declarac;:ao foi: "Pelo me-
nos, desse jeito eu sou 0 centro das aten-
~oes". "Como agora?", perguntei. Ela con-
cordou, sacudindo a cabe~a. "E como isso 
parece agora?", questionei. Estelle disse: "E 
born". "E 0 resto da sua vida?", perguntei. 
Ela respondeu, de maneira ingenua: "E so-
litaria. Na verdade, e isto aqui. Esta hora e 
meia representa as pessoas na minha vida". 
Falei: "Entao este grupo e urn lugar real-
mente importante para voce?". Estelle con-
cordou. Comentei: "Estelle, voce sempre diz 
que uma das razoes pelas quais critica os 
outros no grupo e que nao ha nada mais 
importante do que a honestidade comple-
tao Porem, se quiser ser absolutamente ho-
nesta conosco, acho que voce deve dizer 0 
quanto somos importantes para voce e 0 
quanto voce gosta de estar aqui. Voce nun-
ca faz isso, e eu acho que voce deveria co-
me~ar a investigar por que e tao doloroso e 
artiscado para voce mostrar aos outros 0 
quanto eles sao importantes para voce". 
Nesse momento, Estelle havia assumido urn 
tom rna is conciliador e eu consegui ter rna is 
influencia, fazendo com que ela concordas-
se que sua hostilidade e seus insultos cons-
tituiam urn problema para ela e que seria 
born que chamassemos a sua aten~ao para 
isso - ou seja, se instantaneamente rotulas-
semos qualquer comportamento insultuoso 
por parte dela. Sempre ajuda obter esse tipo 
de contrato dos membros: nos encontros 
seguintes, 0 terapeuta pode confrontar os 
membros com algum aspecto particular de 
seu comportamento, para 0 qual pediram 
que se Ihes chamasse a aten~ao. Como se 
sentem aliados nesse processo de reconhe-
cimento e confronta~ao, sao muito menos 
provaveis de se sentir defensivos com a in-
terven~ao. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 123 
Muitos desses exemplos de comportamen-
tos do terapeuta podem parecer deliberados, 
pedantes e ate pontificais. Eles nao sao os co-
mentarios imparciais, nao-diretivos, exempla-
res e esclarecedores tipicos do comportamen-
to de urn terapeuta em outro~ aspectos do pro-
cesso terapeutico. Todavia, e vital que 0 tera-
peuta trate deliberadamente das tarefas de cria-
~ao do grupo e constru~ao de sua cultura. Es-
sas tarefas estao por tras e, em urn grau am-
plo, precedem grande parte do trabalho do 
terapeuta. 
E chegada a hora de nos voltarmos a ter-
ceira tarefa basica do terapeuta: a ativac;:ao e a 
i!uminac;:ao do aqui-e-agora.

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