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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÁO PAULO DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS MEIO AMBIENTE E RESÍDUOS SÓLIDOS: avanços e limites na cidade de Viena e lições para São Paulo. l 1 I' Jacques.Demajorovic Banca Examinadora: 1199500263 _1111 I li I 1111 I 1111 li 11 I 11 I I 1111 I 11 I 111 111 v _/ Profa: Orientadora: Regina Silvia Viotto Pacheco Prof: Prof: -----··----·--..., -~ Fundiição Getulio Vargas Esc;ola de Administração , FGV de Empmsas de sao Paulo · Biblioteca LD m ' C") (D N i ''-- _ ___;___1_:__1:__:.9__:_9.::--,-5....:.-.0 0__;2;:__6_3 _____ _) .. '., .... _ ..... ,_··~ ... . :.i.·. ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÁO PAULO DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS JACQUES DEMAJOROVIC MEIO AMBIENTE E RESÍDUOS SÓLIDOS: avanços e limites na cidade de Viena e lições para São Paulo. Dissertação apresentada ao Curso de Pos- Graduação da EAESP/FGV - Área de Concentração: Adiministração e Planejamento Urbano, como requisito para obtenção de título de mestre em Adiministração Pública Orientadora: Profa. Dra. Regina Silvia Viotto Pacheco São Paulo 1994 DEMAJOROVIC, Jacques. Meio Ambiente e Resíduos Sólidos avanços e limites na cidade de Viena e lições para São Paulo. São Paulo, EAESP/FGV, 1994. 137 p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-graduação da EAESP/FGV, Area de Concentração: Administração e Planejamento Urbano. Resumo: Este trabalho discute o desenvolvimento da política ambiental e seus reflexos sobre a reestruturação das políticas de gestão de resíduos sólidos. No início do trabalho, identifíca-se a importância do meio ambiente dentro da análise econômica e o estabelecimento das novas prioridades da atual política ambiental. Em seguida, mostra-se as mudanças nos sistemas de gestão de resíduos sólidos, principalmente na cidade de Viena, adaptadas'às prioridades da atual política ambiental. A análise mais detalhadá do sistema que opera na cidade de Viena tem dois objetivos principais: evidenciar os avanços dos atuai~ modelos de gestão' de resíduos sólidos e discutir algumas contradições observadas entre discurso e prática existentes· nesses _ modelos nos 'países desenvolvidos. Por fim, utliza-se aquilo que foi observado na cidade de Viena, para fazer algumas considerações sobre ~ política de gestão de resíduos sólidos da cidade de São Paulo. Palavras-chave: meio ambienté, desenvolvimento sustentável, externalidades, resíduos sólidos, reutilização, reciclagem, coleta seletiva, incineradores, aterros sanitários. DEDICATÕRIA Aos meus pais pelo apoio e carinho sempre. A Monika pela paciência e bom humor com meu alemão. AGRADECIMENTOS Durante o processo em que escrevi esta dissertação, a mão de vários amigos, "do lado de cá e do lado de lá"~ contribuíram de formas diferentes. Palpites, criticas, incentivos e brincadeiras foram profundamente vivenciados nesse trabalho. Em primeiro lugar, gostaria de fazer um agradecimento especial a minha orientadora Regina Silvia Pacheco. Várias vezes tive que ouvir de muitos amigos e amigas do mestrado a sorte que eu tive de ter como orientadora a Regina. E põe sorte nisso! Com talento, habilidade e sensibilidade aprofundava minhas grandes idéias, que não foram tantas, e consertava meus deslizes intelectuais, que não foram tão poucos, incentivando-me em todas as horas. Levo comigo essa experiência de trabalho em conjunto como um dos pontos mais ricos e positivos do mestrado. Â Mariane pelas idéias trocadas desde o exame para ingresso na G.V., passando pelos chorinhos, baiões e maxixes, até a redação final da minha dissertação, contribuindo sempre com idéias interessantes. Ao Otacilio e a Cris que foram aos poucos transformando o meu português para inglês ver em português para brasileiro ler. Ao Fábio e a Monica, pela amizade, Juquehy e pelo apoio financeiro não institucional. A dupla mais do que dinâmica Ani e Célia por estarem sempre por perto. Â Léa pela ajuda na última e derradeira leitura e ao Sabetai pelos almoços de sábado. Â Capes pelo auxilio financeiro. Ao centro de Intercâmbio Internacional possibilitou a minha viajem para Viena. da EAESP /FGV que À Monika pelo incentivo constante e participação entrevistas realizadas em Viena e o apoio total tentativas frustradas de me tornar um ás do esqui. ativa nas nas minhas Ao Andreas que me ajudou levando-me para o Instituto de Planejamento Urbano da Universidade de Viena, onde tive todas as condições para realizar a minha pesquisa, além de fornecer o meu primeiro emprego em Viena, ao confiar corajosamente seus filhos à minha guarda por diversas noites. Ao Pulle e ao Thomas, inseparáveis companheiros de moradia, viajens, cervejas, risadas e incontáveis partidas de gamão, pelo apoio constante em Viena. Ao 6sterreichicher Akademischer Austauschdienst-OAD pelo apoio ao meu trabalho de pesquisa. Por fim, faço um agradecimento aos amigos Beth, Pia, Mariane, Kaiser e Adolfo com os quais dividi as angústias e os bons momentos na G.V e deixo uma luz no fim do túnel: moçada, se eu terminei ... SUMÁRIO INTRODUÇAO • .•...........•... • .........•••.••....••................ 1 CAP. 1. RESÍDUOS SÓLIDOS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL .................. 10 1.1 - A incorporação dos resíduos na análise econômica através do modelo da balança de materiais ..........• 12 1.2 -A hegemonia do conceito de desenvolvimento sutentável e os desdobramentos sobre a política ambiental ..•••. 20 CAP. 2. GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS FACE AOS NOVOS OBJETIVOS DA POLÍTICA AMBIENTAL . .............•..•...•................. 3 6 2.1- Os modelos de gestão de resíduos •.....•.•........•.. 37 CAP. 3. O SISTEMA DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE VIENA . .....••.•.••......••...•••..•.•.....•..•.•........• 4 7 3.1- Os objetivos do plano de gestão de resíduos ...•..•.. 48 3. 2 - A composição do lixo e os instrumentos da política .. 52 3 . 3 - o decreto sobre embalagens .•••••...••...•........... 61 CAP. 4. DISCURSO E PRÁTICA: UMA ANÁLISE CRÍTICA .••............... 71 4.1 - A apropriação do discurso do desenvolvimento sustentável e os desdobramentos sobre a política ambiental ........................................... 72 4.2 - Uma análise crítica dos atuais sistemas de gestão de resíduos sólidos .......................... 82 CAP. 5. AlGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA A CIDADE DE SÃO PAULO ........ 104 5.1 - Breve histórico dos resíduos sólidos em São Paulo e situação atual . ................................... . 107 5.2 - Plano de emergência de destino final de resíduos sólidos de São Paulo .....................•.•...•... 114 5.3 -Uma análise crítica da política de gestão de resíduos sólidos na cidade de São Paulo ...........•....... ~ .117 5.4-Consideraçõesfinais .........•.•••.............•... 127 REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......... '• .•...•..••......•••.......•• 13 2 ANEXO I. 1 INTRODUÇÃO O Brasil produz cerca de 90 mil toneladas de resíduos sólidos todos os dias. Segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico publicada pelo IBGE, do total de resíduos coletados nas cidades brasileiras, cerca de 88% são despejados em áreas alagadas ou a céu aberto. Nesses locais, denominados de lixões ou vazadouros, o lixo não recebe qualquer tipo de tratamento com o objetivo de minimizar os impactos ambientais. Do restante, 10% do lixo coletado têm como destino aterros, que na maior parte também não estão adequados às normas de proteção ambiental, e 2% são tratados em usinas. Nos últimos anos várias reportagens publicadas em diversos jornais têm desvendado uma das facetas mais perversas do modelo de desenvolvimento brasileiro, onde é possível observar o crescimentode uma legião de adultos e crianças que, perambulando entre os lixões a céu aberto dos centros urbanos, buscam seus meios de sobrevivência. Este quadro mostra o descaso do setor público, na maior parte das cidades brasileiras, quanto à política de resíduos sólidos. Ainda que seja possível identificar em algumas cidades brasileiras o desenvolvimento de modelos de gestão de lixo que procurem contornar estes problemas, e mesmo um avanço da legislação em relação à política de saneamento ambiental, a realidade dos dados demonstra a gravidade da situação atual. 2 A ausência no país de uma política adequada para o gerenciamento de resíduos sólidos tem contribuído para o agravamento dos impactos ambientais, como no caso da contaminação de lençóis d'água subterrâneos devido aos lixões e aterros sanitários não controlados, e dos impactos à saúde devido à exposição direta que sofrem os catadores ou moradores que residem próximos dessas áreas. Durante muito tempo, contudo, a existência de problemas básicos ainda não resolvidos, como educação, saúde, alimentação e moradia, contribuiu para que o debate sobre a gestão de resíduos sólidos ficasse relegado a um segundo plano. Hoje, no entanto, parece crescer o consenso de que os problemas relacionados à gestão dos resíduos não podem mais ser encarado$ como um dado secundário. A política de gestão de resíduos, assim como a política de saúde, habitação, renda e educação, deve ser priorizada, pois está diretamente ligada à problemática da qualidade de vida e, demanda portanto, das autoridades públicas, bem como do setor privado e do restante da sociedade 1 uma ação imediata com o reverter esse quadro. objetivo de No inicio do trabalho de pesquisa, pretendia-se concentrar esta ~ dissertação na alternativa da reciclagem que 1 naquele momento, parecia ser a melhor opção para solucionar as distorções dos sistemas de gestão de resíduos sólidos nas cidades brasileiras. Assim, acreditava-se que, ao invés de dispor os resíduos em lixões a céu aberto ou em aterros sanitários mal controlados, seria muito mais eficiente reaproveitar o potencial presente nesses resíduos. A reciclagem, entre outras vantagens, significaria a diminuição do consumo de matérias-primas e uma grande redução do volume total de resíduos a serem dispostos. com o desenvolvimento do trabalho, foi se tornando claro que o processo de reciclagem apresentava uma série de limites e, dessa forma 1 não poderia ser entendido como solução única para um ~ \ / --------~~~·---------- 3 problema tão complexo como o do gerenciamento de residuos sólidos. Nessa fase, algumas outras dúvidas começaram a surgir: - todos os produtos poderiam ser reciclados? - que produtos apresentariam viabilidade econômica para serem reciclados? - quais poderiam ser os efeitos negativos relacionados à expansão do processo de reciclagem? A constatação dos limites da reciclagem resultou numa ampliação do objeto da pesquisa. A reciclagem passou a ser entendida como uma das variáveis de um sistema maior, denominado aqui de sistema integrado de gestão de residuos sólidos. Em outras palavras, seria necessário identificar quais resíduos poderiam ser reciclados, quais poderiam ser incinerados e quais poderiam ser dispostos em aterros sanitários. Além disso, os atuais modelos de gestão de resíduos em países desenvolvidos procuram atuar de forma não apenas a garantir a disposição adequada, mas também a priorizar a redução do volume dos resíduos já nas próprias fontes geradoras. Através de um programa de intercâmbio entre a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade de Viena, Instituto de Economia, tive a oportunidade de morar na cidade de Viena onde pude conhecer seu sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos. Esse sistema é composto por um gigantesco esquema para coleta de recicláveis, coleta de lixo orgânico para produção de composto, incineradores para queima de parte do lixo doméstico e incineradores especiais para resíduos tóxicos, além da utilização de aterros sanitários para produtos que não possam ser reciclados ou incinerados. Soma-se a isto a participação bastante elevada da comunidade no projeto de separação do lixo domiciliar e a realização freqüente de conferências e debates sobre a problemática do lixo. Essas características pareciam confirmar as enormes vantagens da 4 implementação de um sistema integrado de gestão de resíduos em relação a um sistema tradicional. Entre essas vantagens é possível destacar três aspectos importantes: - a totalidade dos habitantes de Viena tem acesso aos serviços de coleta de resíduos; - a cada ano vem sendo coletado um volume crescente de recicláveis através do processo de coleta seletiva; - a partir do ano de 1993 foi decretada uma lei sobre embalagens, cujo objetivo é tentar reduzir o consumo de material de embalagem já no processo de produção. Apesar dos aspectos positivos inegáveis do sistema de gestão de resíduos da cidade de Viena, foi ficando cada vez mais claro, durante a pesquisa, que existe também uma grande distância entre parte dos objetivos propostos pela atual política de gestão de resíduos nos países desenvolvidos e sua condução prática. O processo de pesquisa realizado em Viena foi conduzido através do contato com especialistas na área de resíduos e do levantamento de bibliografia em quatro instituições principais-: Universidade de Viena, Instituto de Ecologia de Viena, United Nations Industrial Development Organization (UNIDO) e Magistratabteilung 48 (departamento responsável pela gestão de resíduos sólidos em Viena). o contato com representantes da Universidade, ONGs, órgãos públicos internacionais e órgãos públicos de Viena contribuiu não apenas para acrescentar novas informações a esta dissertação, mas, acima de tudo, para trazer novas questões para a pesquisa em curso. A partir do caso de Viena, a percepção das contradições entre 5 objetivos propostos e condução prática da política de gestão de resíduos levou ao surgimento de novas questões tais como: - se os objetivos propostos elegem como prioridade a redução de resíduos, por que continua a aumentar o conjunto de resíduos na cidade de Viena? - por que os habitantes de Viena devem arcar com a maior parte dos custos de separação do lixo? - qual está sendo o destino real dos resíduos separados na cidade de Viena? por que diversos países, inclusive a Áustria, continuam a exportar resíduos para outros países? - como tem sido o desenvolvimento da relação entre os setores público e privado no campo da administração de resíduos e, mais especificamente, na área de reaproveitamento dos resíduos? As respostas para estas perguntas não poderiam ser encontradas através de uma simples análise do sistema de gestão de resíduos sólidos da cidade de Viena, uma vez que um dos objetivos desta dissertação é o de entender de maneira crítica esses sistemas de gestão pública nos países desenvolvidos, apontando pontos positivos e negativos, e não se limitar a descrever esse sistema. Tendo como pressuposto que o estabelecimento de uma relação entre o processo de degradação ambiental e a produção de resíduos produzidos no sistema produtivo, somado à mobilização crescente em torno da preservação ambiental, acabou por lançar a problemática dos resíduos no centro do debate da política ambiental, foram elaboradas quatro hipóteses que contribuem para entender a forma como se deu o desenvolvimento da política ambiental nos anos recentes e como esta se reflete sobre a gestão de resíduos sólidos nos países desenvolvidos: 1. A criação do conceito de desenvolvimento sustentável marca o estabelecimento de novas prioridades dentro da política ambiental, 6 constituindo-se, desta forma, em elemento essencial parao estabelecimento da variável ambiental como hegemônica dentro das sociedades capitalistas desenvolvidas. 2. A multiplicação de interesses do setor industrial em relação à problemática ambiental tem influenciado de maneira crescente a condução da política ambiental institucional, de forma a garantir proteção ambiental adaptada às necessidades de desenvolvimento econômico das economias de mercado. 3. A necessidade de garantir proteção ambiental e promover crescimento econômico acentuará as contradições entre discurso e prática relacionados à condução da política ambiental institucional, sendo que será possível observar, por um lado, o desenvolvimento crescente de mecanismos e instrumentos relacionados à proteção ambiental e, por outro, as demandas de mercado representando os limites de ação desses próprios mecanismos. 4. A condução da política de gestão de resíduos sólidos refletirá essas duas caraceterísticas, pois esta constitui elemento prioritário dentro da política ambiental atual. Portanto, entender algumas características da política ambiental, ) bem como analisar especificamente os sistemas de gestão constituem a ti v idades essenciais para a compreensão dos desdobramentos da política atual de resíduos sólidos nos países desenvolvidos. Cabe ainda ressaltar que o conhecimento adquirido em Viena permitiu elaborar alguns comentários para o caso de gestão de lixo na cidade de São Paulo, valorizando aquilo que foi entendido como acertos e avanços do modelo vienense e apontando alguns problemas que devem ser evitados aqui. Assim, esta dissertação foi dividida em cinco capítulos. o capítulo 1 demonstra em sua primeira parte a relação entre produção de resíduos e meio ambiente, com base no desenvolvimento 7 do modelo da balança de materiais. Através desta análise procura-se evidenciar as implicações ambientais negativas ao se relegar a problemática dos resíduos a um segundo plano. A segunda parte procura explicar o desenvolvimento de novas prioridades da política ambiental a partir da incorporação do discurso do desenvolvimento sustentável. Também foram incluídas algumas características da degradação ambiental e da mobilização de organizações governamentais, não governamentais e empresariais, que contribuíram para lançar o problema dos resíduos no centro da política ambiental. o capítulo 2 mostra como as mudanças em relação às prioridades da política ambiental influenciaram a modificação dos principais objetivos da política de gestão dos resíduos sólidos nos países desenvolvidos. O estabelecimento de um modelo tradicional, um modelo intermediário e um modelo atual de gestão de resíduos sólidos permitiu explicitar as mudanças ocorridas quanto aos objetivos da política de resíduos sólidos do final da década de 60 até início da década de 90, quando o objetivo de reparação dos danos ao meio ambiente foi substituído pelo objetivo da prevenção. o capítulo 3 descreve o sistema de gestão dos resíduos sólidos da cidade de Viena, como exemplo de modelo adaptado às novas prioridades estabelecidas pela atual política de resíduos sólidos apresentadas no capítulo 2. Na primeira parte do capítulo, são descritos os objetivos do plano de gestão na cidade de Viena e, na segunda parte, são focalizados os instrumentos utilizados para alcançar os objetivos propostos. Na terceira parte, é apresentado o decreto de embalagem que é considerado o que há de mais atual dentro dos modernos sistemas de gestão de resíduos. o capítulo 4 tem o objetivo de fazer uma análise crítica dos sistemas atuais de gestão de resíduos sólidos com base principalmente no sistema de Viena. Na primeira parte, é mostrado de que forma o setor empresarial se apropria do conceito de 8 desenvolvimento sustentável, adaptando-o às necessidades dos sistemas de economia de mercado e, dessa forma, estabelecendo os limites de atuação da política ambiental nas sociedades capi taiistas. Na segunda parte, é feita uma análise crítica do atuais sistemas de gestão de resíduos sólidos nos países desenvolvidos, mostrando como as características apontadas na primeira parte do capítulo acabam por se repetir na condução da política de resíduos, implicando em avanços e contradições entre discurso e prática. A disponibilidade de material para análise crítica dos atuais modelos de gestão de resíduos ainda é bastante escassa. Desta forma, optou-se, nesse capítulo, por não ficar restrito apenas aos exemplos da cidade de Viena, mas também agregar exemplos de sistemas de gestão desenvolvidos em outras cidades européias, semelhantes ao sistema em operação na cidade de Viena, para melhor fundamentar a análise. Esta opção se justifica, uma vez que o processo de unificação européia está contribuindo não apenas para a formação de uma política ambiental comum, mas também para uma política compartilhada de resíduos sólidos. o capítulo 5 procura apontar algumas características do problema relativo aos resíduos sólidos na cidade de São Paulo. À luz da experiência observada nos países desenvolvidos, e mais especificamente no caso de Viena, busca-se tecer algumas considerações para o caso de São Paulo. Esta dissertação visa, portanto, alcançar os seguintes objetivos: - identificar a relação entre os resíduos sólidos produzidos dentro Y do sistema econômico e o agravamento dos problemas ambientais; - identificar as mudanças nas prioridades da política ambiental e seus reflexos sobre a política de gestão de resíduos sólidos nos países da Comunidade Européia; - entender as principais características dos atuais sistemas de 9 gestão de resíduos sólidos nesses países com base no sistema que opera em Viena; - entender criticamente os desdobramentos da política dos resíduos sólidos, quanto aos objetivos propostos e sua condução prática nos países desenvolvidos, e utilizar essa experiência para fazer alguns comentários aplicáveis à cidade de São Paulo. 10 Cap. 1. RESÍDUOS SÓLIDOS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL o controle da geração de resíduos líquidos, sólidos e gasosos ocupa hoje uma posição central dentro do discurso da política ambiental. A diminuição da geração dos efluentes líquidos e gasosos e de resíduos sólidos de forma a causar menores impactos negativos no meio ambiente constitui prioridade da nova política ambiental. Esta posição ocupada pelos resíduos dentro da política ambiental só foi possível através de um longo processo, que inclui a identificação do aumento dos problemas ambientais devido à geração crescente de resíduos, a adequação do setor público para um controle maior dos resíduos produzidos no sistema produtivo, a mobilização crescente dos grupos ambientalistas, o estabelecimento de novas prioridades na atual política ambiental e o envolvimento maior de parcela significativa da população em torno desta questão. Durante as décadas de 1970 e 80, vários estudos procuraram mostrar como os resíduos produzidos no sistema produtivo vinham afetando de diferentes maneiras o meio ambiente. A destruição da camada de ozônio devido à emissão cada vez maior de gás carbônico e gases CFCs, os impactos sobre a vida marinha e aquática devido à disposição de resíduos líquidos e sólidos nos mares e rios e a contaminação de lençóis de água subterrâneos devido à disposição em aterros sanitários não controlados constituem apenas alguns exemplos, entre muitos outros, que surgiram nesse período. Além dos estudos específicos acima, é possível também des'tacar o desenvolvimento de um modelo dentro da análise econômica, que 11 conseguiu sintetizar as implicações dos residuos, de qualquer natureza, sobre o meio ambiente. o modelo da balança de materiais, partindo da lei da conservação da matéria, permitiu incorporar novas variáveis dentro do conceito de externalidades, atravésde uma compreensão mais efetiva do papel dos residuos no sistema econômico. Este modelo colocou dentro da análise econômica a variável ambiental no mesmo patamar de importância de variáveis ·tradicionais como investimento, renda, salário e lucro. Por mui to tempo, contudo, mui tos economistas ignoraram os novos conhecimentos levantados pelo modelo da balança de materiais. Foi apenas com a mobilização em torno da problemática ambiental, representada por um crescimento no número de entidades governamentais e não governamentais ligadas ao meio ambiente, que um número maior de economistas incorporou os conhecimentos desenvolvidos no inicio da década 70. Ainda que hoje seja possível questionar algumas das conclusões do modelo da balança de materiais, principalmente no que se refere a uma previsão de consumo crescente dos recursos naturais, este modelo, somado a outras descobertas e à maior mobilização do setor público e da sociedade civil, contribuiu para a necessidade de responsabilizar todos os setores da sociedade em relação às di versas formas de residuos gerados no sistema econômico, ao substituir o modelo econômico fechado tradicional por um modelo de economia termodinamicamente aberto, onde o meio ambiente passa a desempenhar um papel fundamental. Nesse modelo é possivel superar o debate tradicional em torno de valores antropocêntricos e biocêntricos, ao se colocar a humanidade nem acima nem abaixo do meio ambiente. 1 1 COLBY, Michael E. 1La adlinistación en el desarrollo: evolución de los paradi91l?S1 , EL Trimestre Econômico, vol. LVIII (3) n1 231, junjset/91 12 Neste capítulo pretende-se apontar a contribuição do desenvolvimento do modelo de balança de materiais para um novo entendimento do papel dos resíduos dentro do sistema econômico, bem como identificar alguns pontos importantes da crescente mobilização em torno desta problemática e o estabeleciemento de novas prioridades na atual política ambiental. 1.1 - A incorporação dos resfduos na análise econômica através do modelo da balança de materiais os economistas já perceberam há mui to tempo que o sistema de mercado provoca efeitos externos indesejáveis (spillover effects) sobre o meio ambiente. Já no ano de 1960, na obra clássica de A. c. Pigou, Economics of Welfare, o termo spillover indicava que os efeitos totais da produção e consumo não permanecem restritos às firmas e consumidores envolvidos mas, sim, extravasam para terceiros. 2 Exemplos clássicos desses efeitos externos indesejáveis seriam a emissão de poluentes nos rios e na atmosfera decorrente de plantas industriais. Neste caso, a produção total da firma corresponde às mercadorias produzidas e vendidas no mercado, somadas aos efeitos indesejáveis provocados sobre o meio ambiente, que não são, e nem poderiam ser, vendidos pela firma. Esta parcela indesejável da produção, que se encontra fora do sistema de mercado. e que não aparece nos preços relativos das mercadorias, é denominada de custo externo. Estes custos são considerados externos, pois alguns custos não são computados pela firma que produz a mercadoria e, sim, são impostos a toda a sociedade ou parcela da sociedade. Assim, no exemplo clássico da instalação de 2 apud SENECA, Joseph and TAUSSING, Michael K. Environment Economics, p.J0-60, Prentice Hall, New Jersey, 1984. 13 uma indústria de papel junto a um rio, os custos externos podem ser associados à poluição que pode levar a uma redução do número de peixes e, dessa forma, afetar a vida dos pescadores da região, ou ainda impossibilitar que os habitantes continuem a nadar no rio, comprometendo seu lazer. 3 Embora hoje esteja cada vez mais evidente a relação entre crescimento econômico e degradação ambiental, durante algum tempo os economistas consideravam externalidades como sendo um conceito interessante, porém não fundamental para o desenvolvimento da análise econômica e para a determinação da politica econômica. • Dessa forma 1 a função do meio ambiente nunca foi perfeitamente entendida e sua relação com o processo produtivo acabou sendo sempre relegada a um segundo plano. Foi apenas no inicio da década de 70 que o grande aumento dos impactos ambientais acabou por estimular o reexame mais preciso dos problemas relacionados ao fenômeno das externalidades. O desenvolvimento do modelo da balança de materiais representou uma importante contribuição para a reformulação da análise econômica tradicional. A análise econônomica tradicional está baseada em um fluxo circular de moeda, acompanhado por um fluxo oposto de mercadorias, serviços e fatores produtivos entre o setor de produção e o de consumo. o setor de consumo supre o setor de produção com fatores de produção ( input) , que são capital e trabalho, recebendo em contrapartida pagamentos monetários ou salários. Por outro lado 1 o setor de produção supre com mercadorias e serviços o setor de consumo, recebendo em troca pagamentos em moeda. 5 3 SEIIECA, Joseph and TAUSSIHG, Kichael K. EnvirolJBle!lt Economics, p. 30-60, Prentice Hall, New Jersey, 1984. ' SENECA, Joseph and TAUSSSIHG, Hichael K. Environment EConolics, p. 30-60, Prentice Hall, New Jersey, 1984. 5 FREEMAN III, A. Kyrick and HAVE!ISAN, Robert H. Tbe Economics of Enviroruaent Policy, New York, 1973. 14 o desenvolvimento da balança de materiais mostra que essa interpretação do processo produtivo acabou por ignorar outros importantes fluxos de materiais e as leis básicas da fisica que determinam esses fluxos, possibitando assim apenas uma análise parcial do processo econômico. 6 o modelo da balança de materiais desenvolvido por Allen v. Kneese tem como principal contribuição o fato de enfatizar que o meio ambiente representa uma parte fundamental do processo produtivo e, portanto, os custos externos relacionados à disposição de residuos, mais do que uma mera curiosidade teórica, representam um fator essencial dentro do processo econômico. 7 Assim, um diagrama mais realista dos fluxos econômicos pode ser representado da seguinte forma: 6 FREOON, III, A. Myrick and HAVENSAN, Robert H. The Economics ot EnviroilJIIent Policy, New York, 1973. 7 apud SENECA, Joseph. EnvirolJJJent Economics, p. 48, op. cit. Fluxos Econômicos O insumos < $ trabalho Setor Produtivo Setor de Consumo $ c:::====~> ~--------=-~ bens ~--~------~ reslduos ~ ~ reslduoa ~--------------- Meio Ambiente Fonte: Freeman, A. The Economics of Environment Policy, 1973. 15 Através do desenvolvimento da balança de materiais, o meio ambiente pode ser visto como uma concha que cerca o sistema econômico. É possível, portanto, identificar duas funções principais do meio ambiente: fornecer insumos e receber os resíduos. As matérias- primas fluem do meio ambiente para o setor produtivo onde são convertidas em mercadorias e repassadas ao setor de consumo. Durante o processo produtivo, além de mercadorias, resíduos são gerados e devolvidos ao meio ambiente. Da mesma forma, o setor de consumo também transforma as mercadorias através de processos mecânicos, químicos ou biológicos, porém nunca as consome em um sentido físico, devolvendo resíduos para o meio ambiente. 8 Assim, podemos estabelecer dois novos fluxos no diagrama tradicional da 8 SENECA, Joseph. Environment Economics, p. 53, op. cit. 16 economia que constituem os fluxos de resíduos dos setores produtivo e de consumo para o meio ambiente. Esse fluxo de matéria (na forma de insumos e resíduos) deverá necessariamente obedecer à lei de conservação da matéria. O estabelecimento dessa relação entre lei da conservação da matéria e processo produtivo constitui o ponto inicial do modelo da balança de materiais. 9 A lei da conservação da matéria diz: todas as mudanças físicas e químicas não podem criar ou destruirmatéria, esta pode ser apenas rearranjada em diferentes modelos espaciais (mudanças físicas), ou em diferentes combinações (mudanças químicas). 10 Em outras palavras, podemos estabelecer que, como a matéria física não pode ser destruída, qualquer economia acabará produzindo, durante um certo período de tempo, uma quantidade de resíduos, na mesma proporção que a matéria-prima utilizada como insumo. o modelo da balança de materiais deixa claro que o meio ambiente tem duas funções básicas para o processo econômico: uma fonte de matéria-prima para o processo produtivo e um receptor dos resíduos produzidos correspondentes ao material utilizado como insumo. Assim, o desenvolvimento do aparato produtivo significa, de um lado, um crescimento do consumo dos recursos disponíveis no meio ambiente, de outro lado, uma geração crescente de resíduos. Além disso, podemos também constatar· através desse modelo que o uso de expressões como "jogar o lixo fora" constitui apenas uma falta de conhecimento do destino real dos resíduos, uma vez que toda matéria permanece no meio ambiente de uma forma ou de outra. Uma substância pode ser queimada (causando talvez poluição do ar), disposta em 9 SENECA, Joseph. Enviromnt Economics, p. 51, op. cit. 10 MILLER, Tyler G. Resource Conservation and Hanagement, p. 78-115, Wadsworth Publishing Company Belmont, california, 1989. 17 rios, lagos e oceanos (causando talvez poluição da água) ou ainda depositada na terra (causando talvez poluição da água e do solo), porém continuará sempre no meio ambiente. Ê possivel afirmar então que todo material utilizado como input no processo produtivo será devolvido ao ambiente na forma de gases, liquidos ou sólidos. 11 Alguns residuos, contudo, podem ser reciclados e dessa maneira permitem seu reaproveitamento como insumos novamente dentro do processo produtivo. Alguns outros processos biológicos naturais podem também transformar parte dos residuos em insumos, em periodos de tempo variáveis. A quantidade de residuos dependerá diretamente da tecnologia disponivel para realização dessa tarefa e dos estimules econômicos existentes~ Contudo, todo o material que não for reciclado voltará ao meio ambiente de alguma forma (gás, líquido, sólido)~" o meio ambiente possui uma grande , porém finita, capacidade de assimilação desses residuos •13 Através do modelo da balança de materiais é possível deduzir que o aumento da produção decorrente do desenvolvimento industrial implica um aumento de residuos a serem dispostos no meio ambiente. Esse aumento, por sua vez, implica em uma utilização crescente da capacidade de assimilação do meio ambiente. Quanto maior o volume de residuos, maior também é o aumento da poluição e, consequentemente, o agravamento dos custos externos. A poluição ocorrerá toda vez que a disposição desses residuos implicar dano à vida, à propriedade ou à quantidade e qualidade dos serviços prestados pelo meio ambiente. Ao nos defrontarmos com poluição, estamos diante de um caso evidente em que a quantidade de 11 SENECA, Josepb and TAUSSING, Michael. Bnvirol!IE!nt Econolics, p. 55, op. cit. 12 Idem ibidem. 13 FREEMAN III, A. Myrick and HAVENSAN, Robert H. Tbe Econoli.cs .. , op. cit. 18 resíduos dispostos superou a capacidade de assimilação do meio ambiente. l. 4 O resultado do aumento da poluição é um aumento dos custos sociais ou custos externos. Esses custos são considerados externos, como explicado anteriormente, porque os indivíduos ou firmas que se utilizam da capacidade de assimilação do meio ambiente, durante o processo de produção e de consumo, não incorporam/pagam tais ·custos .l.s o fenômeno das externalidades ocorrerá sempre que o direi to de propriedade não estiver claramente definido. No caso da disposição de residuos que podem afetar diretamente outros serviços do meio ambiente, como _recreação, ou causar danos, como impactos à saúde, isto fica evidente. Como o direito de propriedade em relação ao meio ambiente não está claramente definido, pessoas que eventualmente forem prejudicadas em relação à utilização dos serviços do meio ambiente não serão necessariamente indenizadas pelo danos. Além disso, como não há compensação para aqueles que foram prejudicados pela disposição de residuos, o serviço desempenhado pelo meio ambiente como receptor de resíduos não representa custo para o poluidor .l.6 Quando serviços como recursos públicos estão disponiveis sem qualquer custo e·não há restrições de qualquer espécie sobre seu uso, os resultados são facilmente previsiveis: superutilização, abuso e degradação da qualidade. Foi exatamente esse modelo de pensamento que permitiu a Hardinl.7 desenvolver a tese sobre a tragédia da massa ("tragedy of the commons 11 ), na qual consumidores l. 4 SEHECA, Joseph and TAUSSING, Michael k. EnvirolJJ!ent Economics, p. 55, op. cit. l.s SENECA, Joseph and TAUSSING, Jtichael K. EnvirolJ!ellt Bconomics, p. 55 op. cit. l.6 Idem ibidell. l.? HARDIN, G. nThe Traqedy of the Commons•, Science, 162, 1243-48, 1968. 19 individuais de determinados recursos, movidos pela necessidade de maximizar sua utilidade individual, acabam por destruir os recursos devido a uma superutilização. 18 Em suma, ao deixar de lado os fluxos entre os setores de produção e de consumo e o meio ambiente, a análise econômica tradicional falha ao ignorar os efeitos do sistema produtivo sobre o meio ambiente e vice-versa. Em contrapartida, ao incluirmos o conceito da balança de materiais, é possivel observar duas importantes caracteristicas quanto às implicações relacionadas aos residuos produzidos no processo econômico: - o aumento da produção industrial significa também o aumento da produção de residuos q~e voltam ao meio ambiente, aumentando os problemas de poluição; - a ausência de politicas de estimulo à reciclagem e recuperação de residuos acaba por agravar ainda mais o processo de poluição. 19 As conclusões representam problemática oferecidas pelo modelo da balança de materiais contribuição importante ao estabelecimento da ambiental e, mais especificamente, da geração de residuos, dentro da ciência econômica. A forma, contudo, como incorporar essas novas variáveis dentro da análise econômica representa ainda um enorme desafio. Segundo José Eli Veiga, é possivel observar duas tendências principais. "Entre os economistas que se dedicam ao tema observam-se duas tendências básicas: os que acreditam, como David Pearce, que o arsenal econômico pode ser aperfeiçoado para responder ao novo desafio e os que consideram que a problemática ambiental coloca em 18 HARVEY 1 David. The Nature o f EnviroJllBent: tbe dialectics of social and environment change. SChool of Geography 1 University of Oxford 1 1992. 19 FREEMA11 III 1 A. Myrick and HAVENSAN, Robert H. The Econolfics of ... 1 op. cit. 20 xeque os próprios fundamentos da ciência econômica."w Para o primeiro grupo, a maneira mais eficiente de solucionar essa problemática ambiental seria garantir que os preços de todos os recursos naturais incorporassem completamente sua escassez de longo prazo, além de efeitos imediatos provocados pelo seu uso. Para o segundo grupo, essa incorporação dos impactos na formação do valor dos bens obtidos é impossibilitada pelas limitações da ciência econômica, tanto no que se refere à conceituação do valor, quanto à perspectiva de horizonte no tempo. "Todas as escolas econômicas resistem a reconhecer o valor na natureza em si, e têm sido impotentes para administrar o longo prazo no qual os resultados do impacto ecológico se manifestam com clareza."n Apesar dessas divergências, o fato mais importante é a constatação de que, para um número crescente de economistas, as variáveis ambientais não podem mais ser ignoradas. A ciênciaeconômica precisa se desenvolver de modo que os problemas como o da geração crescente de resíduos sejam contemplados na elaboração da política econômica. 1.2 - A hegemonia do conceito de desenvolvimento sustentdvel e os desdobramentos sobre a poUtica ambiental. A contribuição do modelo da balança de materiais ou ainda novas descobertas feitas sobre os efeitos negativos de determinados resíduos sobre o meio ambiente não podem, obviamente, ser 20 VEIGA, Jose Eli. A insustentável utopia do desenvolvimento. CEDEPLAR/AKPUR, OUro Preto, 1991. 21 VEIGA, José Eli. A insustentável utopia do desenvolvi11e11to. op. cit. 21 consideradas isoladamente de outros fatores que, igualmente, contribuíram para uma nova postura em relação aos resíduos produzidos no processo econômico nos países desenvolvidos. Entre esses fatores é possível destacar: - a multiplicação de entidades governamentais e não governamentais que lidam com a problemática ambiéntal; a participação mais ativa e o maior interesse do setor empresarial e dos habitantes dos centros urbanos pelos problemas ambientais; - novos dados referentes à degradação ambiental; - a reformulação das prioridades dentro da política ambiental. A política de resíduos sólidos não caminha independentemente da política ambiental. Sendo uma peça central da política ambiental, o fortalecimento desta implica também um fortalecimento da política de resíduos. Da mesma forma, o estabelecimento de novas prioridades dentro da política ambiental reflete-se em novos objetivos para a política de resíduos. o conceito de desenvolvimento sustentável constitui a base teórica da reformulação da política ambiental institucional ao incluir um novo paradigma. À necessidade original de conservar o meio ambiente soma-se a necessidade de garantir o desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico, ao invés de constituir elemento de oposição à luta. de preservação ambiental, passa a ser elemento complementar e essencial para alcançar esses objetivos. 22 Eliminação da pobreza, difusão de tecnologias limpas que possam aumentar a produtividade sem impactar negativamente o meio ambiente e preservação dos povos e culturas diferentes em todo o mundo 22 WILLUNS, Jan-Olaf and GOLÜKE, Ulrich. From Ideas to Action, Business and Sustainable Developmnet, The Greening of Enterprise, The International Chamber of Commerce, 1992. 22 constituem a base para garantia de um novo padrão de desenvolvimento de longo prazo. Os objetivos originais da politica institucional do meio ambiente podem ser representados por dois episódios importantes ocorridos nas décadas de 60 e 70. Em 1961 foi criado o Fundo Internacional para a Vida Selvagem Mundial (World Wildlife Fund International- WWF), cujo principal objetivo é o desenvolvimento de projetos relacionados a garantir a sobrevivência de várias espécies ameaçadas. 23 Em 1972, seguindo recomendações da Conferência Mundial para o Meio Ambiente realizada em Estocolmo, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nation Environment Programm - UNEP). o objetivo do UNEP foi montar um sistema de dados que possibilita um monitoramento global das condições e mudanças do meio ambiente. 24 A conferência realizada em Estocolmo representou também o inicio de um processo de reformulação das prioridades em relação à politica ambiental. A declaração da então primeira~ministra da índia, Indira Ghandi, a qual afirmava que a pobreza constituia a pior das poluições, lançou novas variáveis dentro do debate sobre politica ambiental relacionado aos paises industrializados e aos paises em desenvolvimento. 25 Enquanto os problemas ambientais dos paises do Primeiro Mundo se relacionavam à grande expansão econômica, nos paises do Terceiro 23 BI.ACKBURN, Anne M. Prices ot tbe Global Puzzle, International Approacbes to Enviromrental Concerns, p.l37, Fulcnmgolden, Colorado 1986. 24 BI.ACKBURH, Anne. Prices of the global puzzle ... ,p. 138, op. cit. 25 Souza, Karia T. s. •Rumo à Prática Empresarial Sutentável1 , Revista de Administração de Elpresas, São Paulo, 33(4):40-52, JulfAgo. 1993. 23 Mundo esses problemas teriam sua origem justamente na falta de crescimento econômico e tecnológico, forçando a população a buscar alternativas para superar os problemas relacionados às péssimas condições de vida. A utilização da técnica de queimadas na agricultura ou o crescente desmatamento relacionado à necessidade de suprimento de energia constituem exemplos tfpicos do aumento dos problemas de degradação ambiental ligados à pobreza. 26 A partir das idéias apresentadas durante a conferência de Estocolmo, passa a crescer dentro do movimento ambienta lista a consciência de que a variável relacionada à proteção ambiental não poderia ser considerada isoladamente. o final da década de 70 e começo da década de 80 representa a consolidação dos temas relacionados ao meio ambiente como um dos aspectos centrais debatidos nos pafses industrializados. Alguns dos fatores que contribuíram significativamente para essa crescente mobilização em relação às questões ambientais foram: - a crise energética em meados dos anos 70, combinada com algumas publicações importantes como o relatório "Os Limites do Crescimento" (Limits of Growth) produzido pelo clube de Roma; 27 - o medo da eclosão de uma guerra nuclear e a crescente mobilização contra a utilização de energia nuclear; - o aumento de informações sobre os impactos negativos no meio ambiente de forma geral e particularmente sobre o problema da fome enfrentado pelos pafses africanos. 28 26 VIOIA, Eduardo J./ VIEIRA, Paulo F., ll])a Preservação da Natureza e do Controle da Poluição ao Desenvolvimento Sustentável: um desafio ideolóqico e organizacional ao aovimento ambientalista no Brasil.• Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 26 (4): 81-104, outjdez. 1992. 27 Em uma das conclusões publicadas no relatório Limites do Crescimento foi afirmado: •se se mantiverem as tendências atuais de crescimento da população mundial, da industrialização, da poluição, da produção de alimentos e do esgotamento dos recursos, os ·limites do crescimento em nosso planeta serão atingidos nos próxilos cem anos. O resultado aais provável será um declínio súbito e incontrolável da população e da capacidade produtiva. (BENJAMIN, Cesar. nRossos Verdes Amigos. • Teoria e Debate, 12 novellbro 1990. ) 28 BIACKBURN, Anne M. Prices ot the Global Puzzle ••• , p. 140, op. cit. -----------~ --------- 24 Esses dados apóntavam para o rápido processo de degradação dos recursos naturais e uma interdependência crescente dos paises em nivel mundial. Além disso, indicavam que os problemas ambientais não ficariam restritos às fronteiras, mas a longo prazo afetariam todo o globo, exigindo, dessa forma, uma politica global e mais efetiva para a conservação do meio ambiente. A resposta aos assustadores prognósticos relacionados ao esgotamento dos recursos não renováveis, aumento da degradação ambiental e da fome não demorou a aparecer. Em poucos anos multiplicaram-se fundações, organizações governamentais e não governamentais e, mais recentemente, organizações empresariais relacionadas à problemática ambiental. Essa multiplicação de atores, inicialmente concentrados em organizações não governamentais e entidades públicas, representou, indubitavelmente, um grande fortalecimento do desenvolvimento da politica ambiental. As ONGs surgem como movimento social no inicio da década àe 70. Em 1972, ano da Primeira Conferência Mundial para o Meio Ambiente, as ONGs ainda tiveram uma participação reduzida, apesar de terem seu papel emergente reconhecido. 29 Em vinte anos, contudo, a reestruturação na sua forma de organização e de atuação, e a ampliação de seu número demilitantes deram uma nova dimensão ao papel representado pelas ONGs. Durante os anos 70, algumas ONGs passam a se autofinanciar através da contribuição de sócios e venda de material. o processo de poli tizaÇão crescente dentro · dessas organizações se traduz em pressões crescentes e mais diretas sobre o setor governamental, culminando com a criação de partidos verdes em diversos paises, 29 MAC DOWELL, Silvia Ferreira. A ecologia organizacional das organizações ecológicas. são Paulo, EAESP/FGV, 1994. 179 p. 25 principalmente na Europa.m Ainda que durante a década de 90 vários partidos verdes tenham se distanciado de seus objetivos originais e perdido o espaço conquistado durante a década de 80, as ONGs continuaram a proliferar em di versos paises. Alguns exemplos deste fato são bastante significativos. Uma estimativa feita pelo Clube de Roma em 1985 indicou que as ONGs deveriam envolver cerca de 60 milhões de pessoas na Ásia, 25 milhões na América Latina e 12 milhões na África. Em outro trabalho realizado em 1988, estima-se que apenas nos Estados Unidos haveria cerca de 3.400 ONGs com projetos na África, sendo que um número ainda maior poderia ser encontrado na Europa. 31 A importância das ONGs dentro do movimento ambientalista pôde ser ainda confirmada durante a EC0-92 onde, além da intensa participação no evento oficial, organizaram seu .próprio evento paralelo (Forum das ONGs), reunindo não apenas ecologistas, mas também, representantes de diversos grupos, como feministas, sindicatos, empresários, politicos e artistas. 32 Durante esse mesmo periodo, o setor público não permaneceu insensível à maior mobililização da sociedade civil em torno da questão ambiental. Se em 1972, periodo da conferência de Estocolmo, havia apenas 12 paises com agências ambientais ou ministérios do meio ambiente, em 1988 esse número já tinha ultrapassado a marca de 120. 33 Como resultado, há um grande avanço da legislação voltada 30 MAC DOWELL, Silvia Ferreira. A ecologia organizacional das organizações ecológicas. São Paulo, EAESP/FGV, 1994. 31 TANUM, Anne carine. 1The Role of Non-goverllllental Organizations(NGOS)in Achievinq Sustainable Develop11ent, One Eartb - One lforld, p. 93-97, Norway, 1988. 32 CAPOBIANCO, João P. •o que podemos esperar -da Rio 92?1 • São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v.6, n.l e 2, p. 13-17, janjjun, 1992. 33 BLACKBURN, Anne M. Prices of the Global Puzzle, International Approaches to Ennvironmental Concerns, Fulcrum Golden, Celerado, 1986. 26 para garantir a proteção ambiental, além da intensificação da fiscalização por parte dos órgãos públicos de controle ambiental. Este crescimento significativo de entidades e pessoas trabalhando com a questão ambiental representou um grande avanço neste campo. Como conseqüência, é possível observar não apenas o crescimento da conscientização em nível mundial em relação aos problemas ambientais, mas também importantes mudanças relacionadas às prioridades da política ambiental institucional a partir da década de 80. Em 1980 o termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira vez através do documento Estratégia de Conservação Mundial: conservação dos recursos vivos para o desenvolvimento sustentável. Nesse documento é apontado que uma política, para ser sustentável, deveria considerar ao mesmo tempo fatores ecológicos, econômicos e sociais. 34 As idéias apresentadas por Maurice F. Strong durante o Seminário para Conservação no Terceiro Mundo em 1983 sintetizam as novas prioridades relacionadas à política ambiental. 35 "Primeiro devemos notar que o próprio conceito de conservação mudou significativamente no presente. No passado a ênfase residia na preservação, na resistência ao desenvolvimento e em outras formas de intervenção humana. Agora a ênfase mudou adequadamente, em meu ponto de vista, para um conceito mais positivo e dinâmico de preservação, gestão e melhor uso dos recursos, para um uso que reconhece que os próprios recursos naturais estão em um constante estado de transformação, que a intervenção humana é uma parte 34 SOUZA, Maria tereza Saraiva de. Gestão Ambiental: a prática empresarial sustentável via reciclagem, Tese de Mestrado apresentada na EAESP-FGV, 1993. 35 apud BLACKBURN, Anne M. Prices of the Global Puzzle ••. , p. 5 op. cit. 27 essencial desse processo e que o papel primordial do conservacionista é o de garantir que o processo seja manejado de maneira a prevenir a destruição dos recursos e manter a integridade e beleza do ecossistema, do qual os recursos naturais constituem uma parte. Existe assim uma direta e inevitável ligação entre conservação e intervenção humana, particularmente aquela em que tanto crescimento econômico quanto social são os objetivos, aos quais nos referimos normalmente como desenvolvimento." Em 1987, com a publicação do relatório Nosso Futuro Comum (Our Common Future) elaborado pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha novas dimensões e importância dentro do debate ligado à problemática ambiental. A Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente listou uma série de definições para o desenvolvimento sustentável; contudo, aquela que vem sendo mais repetida pode ser descrita da seguinte forma: "desenvolvimento sustentável significa que as ações presentes não devem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas necessidades, com base em que o valor total dos bens disponiveis, tanto os produzidos pelo homem como aqueles encontrados na natureza, deve permanecer constante de uma geração para outra" • 36 Dessa forma, como pontos centrais no conceito de sustentabilidade temos: - o meio ambiente desempenha um papel fundamental para a qualidade da vida; 36 HARVEY 1 David. The Nature of Environment: The Dialectics o f Social and Environmental Chanqe 1 school o f Geoqraphy 1 Uni versi ty of Oxford 1 1992. 28 garantia para as gerações futuras de uma base de recursos igual à que está disponível para a geração atual; - essa base de recursos é constituída por uma combinação entre produtos feitos pelo homem e recursos naturais. 37 Dentro do debate sobre sustentabilidade existem controvérsias, principalmente no que se refere à manutenção da base dos recursos. De um lado, há os denominados economistas tradicionais que tratam o desenvolvimento sustentável apenas em termos de crescimento econômico, permitindo dessa forma a substituição entre produtos feitos pelo homem e recursos naturais. O ponto central dessa análise é que a oferta total de produtos manufaturados e recursos naturais não deve decrescer de uma geração para a outra. De outro lado, existe uma análise cujo ponto central é a afirmação de que a disponibilidade de recursos naturais não pode diminuir e, dessa forma, refuta a idéia de substituição entre produtos manufaturados e recursos naturais. Portanto, desenvolvimento sustentável só pode ser alcançado na medida em que seja possível conservar a oferta de recursos naturais de uma geração para a outra. As principais críticas ao argumento da substituibilidade partem da constatação de que é, por exemplo, impossível recriar a camada de ozônio na estratosfera ou remover os gases que causam o efeito estufa. Além disso, não existe técnica plausível para resolver o problema da crescente acidificação do meio ambiente. E, por fim, há o fato de que é impossível substt tuir informações genéticas de espécies extintas. 38 Apesar dessas controvérsias, a necessidade de sustentabilidade passou definitivamente a predominar não apenas dentro do discurso 37 UNITED NATIONS Industrial Development Organization - UNIDO, Proceedings of the Conference on Ecologically Sustainable . Industrial Development, Compenhagen, Denmark,14-18 october, p. 36, 1991. 38 UNITED NATIONS Industrial Development Organization, UNIDO, Procedure ••• , p. 36, op. cit. 29 da polftica ambiental institucional, mas também passou a ser cada vez mais repetida no discurso de entidades não governamentais e organizações empresariais. A adoção por parcela crescente do setor empresarial da expressão "desenvolvimento sustentável" constitui fator bastante importante merecendo uma reflexão especial, o que será feito no capitulo 4 desta dissertação. Aqui é importante destacar o grande crescimento do setor empresarial dentro do discurso da polftica ambiental, seja no exemplo da ação de pessoas individualmente, seja na ação coordenada do setor empresarial. Um exemplo interessante é dado pela trajetória de Maurice F. Strong. Além de ter sido secretário geral das Nações Unidas em Estocolmo (1972) e no Rio (1992) e de ter participado ativamente da elaboração do Relatório Brundtland, a carreira profissional de Strong está diretamente ligada ao setor industrial. Ele foi presidente da Petro-can, Companhia_Nacional de Petróleo no Canadá, e fundador do Setor Privado Internacional para Desenvolvimento de Energia, organização voltada para o desenvolvimento do setor de petróleo e energia nos paises em desenvolvimento. Em 1983, foi empossado como presidente da Companhia Canadense de Desenvolvimento, que coordena as indústrias nacionalizadas canadenses, ao mesmo tempo em que continuava como diretor do enorme conglomerado privado americano Tosco. 39 Maurfce Strong, com seu perfil industrial e discurso voltado à necessidade de promover crescimento econômico e preservação ambiental, além de sua importância no desenvolvimento da polftica ambiental institucional nas últimas duas décadas, constitui um exemplo claro do elo crescente entre o setor industrial e o movimento ambientalista 39 BLACKBurut, Anne M. Prices ot tbe Global Puzzle, p. 4 op. cit. 30 institucional. 40 É interessante notar também o crescimento do número de eventos realizados diretamente pelo setor industrial ligados ao setor ambiental nos anos recentes. Entre os anos de 1990 e 1992, nada menos que quatro eventos internacionais foram promovidos por órgãos ligados diretamente ao setor industrial. o Fórum Industrial para o Meio Ambiente em 1990, a Segunda Conferência da Indústria para Administração Ambiental em 1991, a Conferência da Indústria para Desenvolvimento Sustentado e o Segundo Fórum Industrial para o Meio Ambiente em 199241 representaram não apenas o comprometimento do setor industrial, pelo menos no nível do discurso, em alcançar o desenvolvimento sustentável, mas também centros de propagação dos objetivos desse setor em relação à política ambiental. Deve ficar claro que a incorporação do discurso do desenvolvimento sustentável pelas organizações governamentais, não governamentais e empresariais não significa a eliminação de divergências entre estas organizações, principalmente no que tange à forma de alcançar os objetivos propostos pela nova política ambiental. Contudo, é possível observar, no nível do discurso, a formação de um consenso em torno de um dos objetivos centrais da nova política ambiental baseado no conceito de desenvolvimento sustentável: a nova política ambiental deve ter como objetivo não o de reparar os danos ao meio ambiente, mas sim o de atuar sobre o processo de produção e consumo 40 Durante a preparação da conferência do Rio em 1992, os grande setores empresarias, representados pelo Conselho Ellpresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD • Business Council for sustainable Oevelopment) e Câmera Inernacional de Comércio (ICC), tiveram, segundo representantes do GREEHPEACE 1 uma influência se11 paralelo nos negócios da ONU. no BCSD foi fornada em 1990 a pedido específico do secretário geral da EC0-92 1 Haurice Strong, que desde então vem sempre prestando um tributo público à contribuição bastante importante que o conselho dará no Rio. o próprio Strang vem prestando assistência ao BCSD na apresentação de suas propostas 1 e ajudou o conselho a editar o documento WMUdança de Rumo"· a peça central das propostas que as indústrias encaminharão no Rio. (BRUI0 1 Kenny. o relatório Greenpeace sobre a maquiagem verde: o disfarce ecológico das empresas trasnacionais (Tradução de Sergio Flaksaan para a Greenpeace Brasil). 41 WILLUNS, Jan-olaf/GOLÜKE, Ulrich, Fro1 Ideas to Action: business and sustainable developJent 1 The Greening Enterprise1 International Chalber of Commerce1 1992. 31 para que os danos ao meio ambiente sejam evitados em suas raízes. 42 Neste quadro, a produção e a destinação de resíduos passaram a ocupar posição central dentro da política ambienta~, uma vez que a maior parte dos problemas ambientais se intensificou devido a uma geração também crescente de resíduos líquidos, gasosos e sólidos. Além disso, é importante salientar outro recentes, indiretamente acabou desviando fator que, nos anos o foco principal do movimento ambiental, antes centrado na problemática do esgotamento dos recursos naturais, para a produção de resíduos no processo produtivo. Segundo Cesar Benjamin, há uma tendência contemporãnea de aumento de produtos, acompanhada de diminuição de insumos. Isto equivale a dizer que a taxa de crescimento dos produtos é maior do que a taxa de crescimento dos insumos. Dessa forma, mui tas das previsões feitas no início da década de 70 publicadas no relatório "Os limites do crescimento" parecem hoje exageradas. 43 No caso do petróleo, por exemplo, previa-se em 1973 que suas reservas caminhavam para o rápido esgotamento; hoje, a queda de consumo mundial, associada ao desenvolvimento tecnológico na área de prospecção e à descoberta de reservas gigantescas, inclusive no Brasil, além da recuperação de antigos poços, afastaram o fantasma do esgotamento desse insumo. 44 Vários outros recursos naturais têm apresentado também decréscimo no consumo, como afirma Bejamin: 42 0ABFALLWIRTSCHAT in Wien°. Perspektiven, Magazin für Stadtgestaltung und Lebensqualitat, 1989 43 É importante ressaltar que essas constatações são válidas para o atual estágio tecnológico e de consumo mundial. Vários estudos têm procurado demonstrar que se o padrão de vida norte-americano fosse o mesmo para o mundo inteiro, os recursos naturais do planeta não durariam até o final do século (VEIGA, Jose Eli. A Insustentável ... , op. cit.). 44 BENJAMIN, Cesar. Nossos Verdes Amigos, op. cit. 32 "Medida em toneladas utilizadas por bilhões de dólares do PNB, em apenas uma década a intensidade de uso nos Estados Unidos diminuiu 13% para o aço, 25% para o minério de ferro, 15% para o cobre, 17% para o zinco, 2% para o enxofre, 4% para a energia (medida em equivalentes de carvão). Só o alumfnio contrariou essa tendência, tendo aumentado sua intensidade em 66%, por causa dos novos usos desse material. " 45 Em contrapartida, ainda que a produtividade esteja aumentando com uma utilização cada vez menor de recursos naturais, o aumento desta tem levado ao aumento crescente de residuos. Esta tendência ainda hoje não apresentou reversão significativa. 46 No segundo Seminário de Gestão de Resfduos Sólidos realizado na cidade de Viena, o diretor da Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha, Werner Schenkel, destacou que: "O desenvolvimento das economias de mercado tem apresentado uma tendência inalterada de aumento do volume total de residuos. A necessidade de expansão das economias de mercado significa uma elevação crescente das mercadorias e commodities. Ainda que seja possfvel, devido ao desenvolvimento tecnológico, diminuir a quantidade de insumos por unidade produzida, tem-se como contrapartida um aumento das unidades produzidas e vendidas". 47 Esse crescimento dos resfduos está diretamente ligado não apenasao crescimento do volume total de produção, mas também à forma como muitos dos novos produtos têm se desenvolvido. Na fabricação de bens no mercado mundial é possfvel identificar as 45 BENJAMIN, Cesar. Nossos Verdes Amigos, op. cit. 46 SCHENKEL, Werner. International Perspectivas of waste ltinillization. Waste Minimization International Experiences, May 13-17, 1991 • 47 SCHENKEL, Werner. International Perspectives os Waste Minimization, op. cit. 33 seguintes tendências: - os produtos estão se tornando menores; - aumento do uso de materiais compostos; - aumento de substâncias químicas para refinamento; - aumento do uso de materiais novos e frequentemente raros. Essas quatro características dificultam extremamente a recuperação e reciclagem dos produtos. Assim tem-se, de um lado, a propagação do discurso, tanto por parte do. setor público como do setor privado, referente à necessidade da utilização de produtos que possam ser reaproveitados e reciclados para garantir a menor produção possível de resíduos, e, de outro lado, a necessidade do desenvolvimento de produtos que, muitas vezes, não estão absolutamente ligados a essa demanda política. 48 Assim, a política ambiental deve atuar de forma que o desenvolvimento tecnológico não contemple apenas a procura do aumento de produtividade (maior produção com menor utilização de recursos), mas também a redução dos volumes de resíduos no próprio processo produtivo, e uma melhor adequação da sua disposição à necessidade de proteger o meio ambiente. A contribuição de modelos como o da balança de materiais tornou evidente que os resíduos constituem parte essencial do sistema econômico. A mobilização crescente em torno dos problemas ambientais e o estabelecimento de novas prioridades dentro da política institucional ambiental vêm contribuindo para que a problemática ligada aos resíduos, de qualquer natureza, ocupe uma posição cada vez mais importante na agenda de organizações governamentais, não governamentais, industriais e dos habitantes de vários centros urbanos. 48 SCHENKEL, werner. International Perspectivas of Waste lfiniiiÍzation ... , op. cit. 34 Na Agenda 21, por exemplo, adotada durante a Segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o capítulo 21, seção II, é dedicado exclusivamente à questão da gestão dos resíduos sólidos. Neste capítulo estima-se que até o final deste século, dois bilhões de pessoas não terão acesso a atendimento sanitário e que cerca de cinco milhões de pessoas, entre as quais 4 milhões de crianças, morrerão devido a doenças relacionadas ao lixo. Além disso, espera-se que a quantidade total de resíduos urbanos deverá dobrar até o ano 2000 e dobrar novamente até o ano 2025. Com base nesse diagnóstico foram propostos os seguintes investimentos: - 10 bilhões de dólares em investimento anual para que até 2025 todas as áreas urbanas e rurais sejam atendidas com serviços de limpeza urbana: - 18 bilhões de dólares em investimento anual para se garantir a disposição de resíduos sólidos nos países em desenvolvimento de forma a proteger o meio ambiente; -- 850 milhões de dólares anuais (1993/2000) para financiar programas de reutilização e reciclagem de materiais nos países em desenvolvimento - 6,5 milhões de dólares anuais para redução per capita do volume de resíduos sólidos. 49 Além do valor significativo dos recursos demandados para serem investidos em projetos no setor de resíduos sólidos, é importante ressaltar que nenhum outro projeto, que integra a Agenda 21, deverá receber um volume tão elevado de recursos como os projetos relacionados à gestão de resíduos sólidos. 50 os dados apresentados acima incluem um grande volume de recursos 49 UKITED NATIONS. 1Earth summit: press sumary of aqenda 21. Rio de Janeiro, 1992. 5t) UNITED NATIONS. Earth Sllllllit: press smary of agenda 21. Rio de Janeiro, 1992. 35 destinados à garantia de serviços essenciais de limpeza püblica. Além disso, há previsão de recursos também para redução, reaproveitamento e reciclagem de produtos que refletem os novos objetivos da política de gestão de resíduos sólidos nos países desenvolvidos, adaptados às prioridades da atual política ambiental, como será demonstrado no próximo capitulo. 36 Cap. 2. GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS FACE AOS NOVOS OBJETIVOS DA POLÍTICA AMBIENTAL A relação entre resíduos e problemas ambientais é mais evidente no campo dos resíduos sólidos, uma vez que seu grau de dispersão é bem menor do que o dos resíduos líquidos e gasosos. É fácil ter uma idéia da dimensão do problema apenas imaginando as quantidades de lixo produzidas em cada casa ou em cada unidade industrial e que, de alguma forma, devem ser dispostas. Os resíduos sólidos apresentam outra característica muito importante. Diferentemente dos resíduos líquidos e gasosos, uma parcela significativa do volume total dos resíduos sólidos encontra-se diretamente nas próprias residências nos centros urbanos, permitindo, teoricamente, uma contribuição imediata por parte dos habitantes para minimizar seus efeitos negativos sobre o meio ambiente, ao se separar, por exemplo, os resíduos nas residências para sua recuperação e reciclagem. Assim, numa época de aumento da consciência ambiental, é possível entender o apoio crescente das comunidades nos países desenvolvidos aos programas de gestão dos resíduos que estimulem sua recuperação ao invés da mera disposição. o crescente conhecimento das implicações sobre o meio ambiente relacionadas ao aumento de volume de resíduos a serem dispostos e o aumento da consciência ambiental determinaram uma nova qualificação para o problema. 37 o termo lixo foi substituido por residuos sólidos e estes, que anteriormente eram entendidos como meros subprodutos do sistema produtivo, passaram a ser encarados como responsáveis por graves problemas de degradação ambiental. Além disso, os residuos sólidos se diferenciam do termo lixo, pois enquanto este último não possui qualquer tipo de valor, já que é aquilo que deve apenas ser descartado, o primeiro possui valor econômico agregado possibilitando e estimulando que parte deste seja reaproveitada novamente no próprio processo produtivo. Estas novas caracteristicas contribuiram para tornar a politica de gestão de residuos sólidos prioritária dentro do setor público nos paises desenvolvidos, demandando um comportamento diferente dos setores público, produtivo e de consumo. Ê importante notar que esta nova qualificação dos residuos sólidos no sistema econômico e a consequente mudança dos objetivos da politica de gestão de residuos se iniciou nos paises da OCDE já em meados da década de 70; contudo, é só a partir da década de 80 que mudanças importantes na condução prática desta politica afetaram mais diretamente os diversos setores do sistema econômico. 2.1 - Os modelos de gestilo de residuos s6lidos A politica de gestão de resfduos sólidos inclui a coleta, o tratamento e a disposição adequada de todos os subprodutos e produtos finais do sistema econômico, tanto no que se refere ao lixo convencional como ao lixo tóxico. Além disso, hoje há consenso de que esta polftica deve também atuar de forma a garantir que os residuos sejam produzidos em menor quantidade já nas fontes geradoras. 38 Os novos objetivos da politica ambiental e, consequentemente, o estabelecimento de novas prioridades da gestão de residuos sólidos em nivel internacional implicam uma mudança radical nos processos de coleta e disposição de residuos. Enquanto os antigos sistemas de gestão tinham como prioridade a disposição dos residuos, os atuais sistemas devem ter como prioridade um "ecological cycle management", o que significa a montagem de sistema circular onde a quantidade de residuosa serem reaproveitados dentro do sistema produtivo seja cada vez maior e a quantidade a ser disposta, menor. 51 o desenvolvimento da politica de gestão de residuos sólidos nos últimos vinte ~nos, nos pafses desenvolvidos, permite identificar três fases distintas de prioridades. A primeira fase, que prevaleceu até o inicio da década de 70, é caracterizada por uma prioridade em garantir apenas a disposição dos residuos. Este modelo pode ser representado pelo diagrama a seguir: 51 1ABFALLiiiRTSCIIAFT in liien•. Perspektiven, llagazin für Stadtgestaltung und Lebensqualitat, 1989. Modelo tradicional de tratamento de resíduos sólidos Natura la Dlapoaloao Final [[J [0--c:J--D---EJ--B~-[[J Reouraoa PP Produceo Pri•Arla P Produoao D Dlatrlbuloao C Conaumo Dl8 Dlapoatoao Fonte: Vogel - Die Abfall und die Umweltproblematik aus technoõkonomischer und õkologischer Sicht, 1993. 39 Como pode ser observado no gráfico acima, o crescimento rápido da exploração dos recursos naturais e do consumo nos paises desenvolvidos apresentava como contrapartida um crescimento igualmente rápido do volume dos residuos a serem dispostos devido à ausência de politicas para reduzir a quantidade de residuos em qualquer das etapas do sistema produtivo. Durante a década de 60 e inicio da década de 70, na maioria dos paises da OCDE, são erradicados os últimos lixões a céu aberto, sendo a maior parte dos residuos encaminhada para aterros sanitários e incineradores. A partir de meados da década de 70, a mobilização do movimento ambientalista passa a concentrar suas criticas cada vez mais sobre as formas de destinação dos residuos sólidos. 40 Os aterros sanitários, que constituem até hoje o meio mais utilizado para a disposição de resíduos com algum tratamento em todo o mundo, apresentavam problemas. A redução de espaço disponível para construção de novos aterros nos países desenvolvidos e o aumento de problemas relacionados à poluição ambiental (poluição dos lençóis de água subterrâneos), tornaram claro que esta opção deixou de constituir a melhor alternativa. As vantagens do processo de incineração relacionadas à redução do peso e do volume em 75% e 90% respectivamente -- devido ao fato de que a quantidade crescente de papel e plástico nos resíduos aumenta seu valor calorífico tornando o processo de incineração mais eficiente -- apresentavam como contrapartida uma emissão maior de poeira, ácido clorídrico, monóxido de carbono, óxido de nitrogênio, metais pesados e dioxinas na atmosfera. 52 Além desses dois exemplos citados, as críticas a esse tipo de tratamento de resíduos se relacionavam também ao fato de que esses métodos em nada contribuíam para que houvesse uma redução efetiva dos resíduos sólidos antes da disposição destes. o aumento dos problemas ambientais relacionados à disposição de resíduos e o crescimento dos grupos ambientalistas e sua mobilização resultaram em mudanças importantes nas principais prioridades do tratamento de resíduos. Em 1975 os países da OCDE · publicaram pela primeira vez as prioridades em relação à gestão de resíduos sólidos, nesta ordem: 1. Redução da produção de resíduos; 2. Reciclagem do material; 3. Incineração com reaproveitamento da energia; 52 KAHRBANDA, O.P/STALLWORTHHY E. A. Waste Management ••• ,op. cit. 41 4. Disposição em aterros sanitários controlados. 53 Os efeitos na prática, contudo, sobre a gestão de residuos sólidos se acentuaram de maneira mais significativa apenas a partir da década de 80, ainda assim de forma parcial. Se'· de um lado, a redução da produção de residuos continuava como retórica, de outro lado a promoção da recuperação e reciclagem dos materiais passou a ser prioridade dentro da segundà fase da politica de gestão de residuos. Através do desenvolvimento de uma legislação estimulando o uso de produtos reciclados e de um apoio cada vez maior da população, desenvolve-se um mercado rentável para os produtos reciclados durante a década de 80. Esse sistema pode ser representado no diagrama a seguir: 53 EG-Uiweltpolitik, õsterreich und Europãischen Gemeischaft, Februar, 1993. Modelo de gestão de resíduos sólidos incluindo a reciclagem Reoureoa Naturala [QJ Dlapoaloao Final I Ü,/ G-D---8---8---B-[QJ ~L~J ..... --------0--------" PP Produoao Prlmirla P Produoao D Dlatrlbulcao R Reololagem RE Reutlllzaoao c Conaumo Dl8 Dlapoalcao 42 Fonte: Vogel - Die Abfall und die Umwelproblematik aus techno- õkonomischer und õkologischer Sicht, 1993. A reciclagem realizada em etapas diferentes do processo produtivo significa o crescimento mais lento do consumo de recursos naturais e do volume de resíduos a serem dispostos, devido ao reaproveitamento de uma parcela de resíduos que, na fase anterior, teria como destino aterros sanitários e incineradores. No final da década de 80, começaram a se desenvolver as primeiras críticas ao estímulo apenas à recuperação e reciclagem dos resíduos. As vantagens atribuídas à reciclagem de materiais, tais como menor consumo de energia e redução do volume de resíduos, deveriam ser relativizadas, uma vez que o processo de reciclagem necessita de matérias-primas e energia consideráveis, além de 43 também produzir resíduos. Dessa forma, o objetivo de reduzir a quantidade total de resíduos a serem dispostos não estava sendo cumprido. Além disso, também aumentaram as críticas à falta de uma política específica para tratamento de resíduos tóxicos e ao aumento das exportações desses resíduos para disposição final em países em desenvolvimento. o final da década de 80 marca o estabelecimento de novas prioridades em relação à gestão de resíduos sólidos nos países desenvolvidos. Antes de diminuir a produção de determinados produtos, é prioritário que eles não sejam sequer produzidos. Ao invés de se reciclar determinados produtos, é prioritário que esses produtos sejam reutilizados. Antes de depositar os produtos em aterros sanitários, é prioritário reutilizar a energia presente nos resíduos através de incineradores. 54 Assim, a prioridade pas~a a ser a redução do volume de resíduos já no início do processo produtivo e continuando nas demais etapas do processo produtivo. Além disso, produtos que apresentem dificuldade de reciclagem devem ser devolvidos aos fabricantes, que devem ser responsáveis por seu tratamento e disposição. Esse sistema, que caracteriza a terceira fase, é representado no diagrama a seguir: 54 "ABFALLWIRTSCHAFTS in Wien". Perspektiven op. cit. Modelo de gestão de resíduos sólidos adaptados às novas prioridades da política ambiental Recuraoa I == J Dlapoalcao c::.~~-:6-ó:â=till J~.l ~L~ EJ J L---------0---------· PP Produoao PrimAria C Conaumo P Produoao D Dlatrlbuloao R Reciclagem RE Rautlllzaoao 018 Dlapoaloao DEV Davolucao Pluo lle 11aterlel 44 Fonte: Vogel - Die Abfall und die Umweltproblematik aus techno- õkonomischer und õkologischer Sicht, 1993. Esse modelo implica uma série de mudanças no comportamento dos diversos atores envolvidos em todas as etapas do processo, muitas ainda bastante difíceis de serem alcançadas, pois prioridades como evitar e reduzir a produção de resíduos na própria fonte geradora exigem mudanças significativas já no processo produtivo. Portanto, temos que o êxito desse processo depende de medidas que atuem desde a fase do design do produto. os novos produtos devem 45 priorizar a utilização de material que possa ser reaproveitado em primeiro lugar ou quando isto não for possível, reciclado. Além disso, os produtos devem ter uma vida longa e apresentar facilidade para serviços de reparação. 55 Uma segunda mudança se refere às alterações no modelo de produção. o processo
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