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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO Olá! Meu nome é Raquel Prado Leite de Sousa. Sou Mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tenho graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Licenciatura em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI) e Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Tenho experiência como redatora, professora de Língua Portuguesa e Literatura e bibliotecária escolar, tendo atuado na rede pública e particular de ensino. Como professora, também lecionei disciplinas de representação temática, representação descritiva e mediação da informação em cursos de graduação e especialização em Biblioteconomia. Atualmente curso doutorado em Educação na Ufscar. E-mail: quel.leite@gmail.com Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 claretiano.edu.br/batatais Raquel Juliana Prado Leite de Sousa Batatais Claretiano 2018 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Eduardo Henrique Marinheiro • Filipi Andrade de Deus Silveira • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami Videoaula: André Luís Menari Pereira • Bruna Giovanaz • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 025.34 S698r Sousa, Raquel Juliana Prado Leite de Representação temática: classificação / Raquel Juliana Prado Leite de Sousa – Batatais, SP: Claretiano, 2018. 143 p. ISBN: 978-85-8377-565-2 1. Classificações filosóficas. 2. Classificações bibliográficas. 3. Teoria da classificação. 4. Tratamento temático da informação. 5. Arranjo sistemático do acervo. I. Representação temática: classificação. CDD 025.34 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Representação Temática: classificação Versão: ago./2018 Formato: 15x21 cm Páginas: 143 páginas SUMÁRIO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 13 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE ............................................................... 16 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 17 UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 21 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 23 2.1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA CLASSIFICAÇÃO ................................... 23 2.2. TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................ 34 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 42 3.1. CLASSIFICAÇÃO NA FILOSOFIA .............................................................. 42 3.2. CLASSIFICAÇÃO NA BIBLIOTECONOMIA ............................................... 43 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 44 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 46 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 48 UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 51 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 52 2.1. RANGANATHAN E A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO FACETADA ............... 52 2.2. TABELAS DE NOTAÇÃO DE AUTOR: CUTTER, CUTTER-SANBORN E PHA .. 64 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 73 3.1. RANGANATHAN E A CLASSIFICAÇÃO FACETADA .................................. 73 3.2. NÚMERO DE CHAMADA ......................................................................... 75 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 76 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 78 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 79 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 80 UNIDADE 3 – CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DE DEWEY (CDD) 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 83 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 84 2.1. A CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DE MELVIL DEWEY ................................... 84 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 108 3.1. CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DE DEWEY (CDD) ......................................... 108 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 109 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 111 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 112 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 112 UNIDADE 4 – UNIDADE 4 – CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL (CDU) 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 117 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 119 2.1. A CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL ............................................... 119 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 138 3.1. CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL (CDU) .......................................138 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 139 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 142 6. E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 143 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 143 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo A obra Representação Temática: classificação tem como objetivo, no contexto do curso, ser espaço teórico-prático que contribui na formação do bibliotecário, no que diz respeito à compreensão e complexidade do cotidiano profissional, bem como nos aspectos conceituais e estruturais dos sistemas de classificação bibliográfica. Contempla os estudos da representação temática no contexto documentário, da Teoria da Classificação e das Classificações Filosóficas. Apresenta os sistemas de classificação bibliográfica generalistas e as classificações especializadas: Classificação Decimal de Dewey; Classificação Decimal Universal; classificações facetadas; número de chamada; notação de autor pelos sistemas Cutter, Cutter Sanborn e PHA. Princípios da classificação aplicados a diferentes contextos informacionais: bibliotecas, redes temáticas de informação, organização de sites, taxonomias corporativas. Bibliografia Básica CINTRA, A. M. M. et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. São Paulo: Pólis, 2002. LANGRIDGE, D. Classificação: abordagem para estudantes de biblioteconomia. Rio de Janeiro: Interciência, 1977. SOUZA, S. de. CDU: como entender e utilizar a 2a edição-padrão internacional em língua portuguesa. 2. ed. Brasília: Thesaurus, 2010. 8 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Bibliografia Complementar FOSKETT, A. C. Abordagem temática da informação. São Paulo: Polígono, 1973. GUARIDO, M. D. M. Como usar e aplicar a CDD. 22. ed. Marília: Fundepe, 2008. LENTINO, N. Guia teórico, prático e comparado dos principais sistemas de classificação bibliográfica. São Paulo: Polígono, 1971. MCGARRY, K. O contexto dinâmico da informação. Tradução de Helena Vilar de Lemos. Brasília: Briquet de Lemos, 1999. NAVES, M. M. L.; KURAMOTO, H. (Org.). Organização da informação: princípios e tendências. Brasília: Briquet de Lemos, 2006. É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––– Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO Estimado aluno, seja bem-vindo! Nesta obra, começaremos a estudar a organização dos registros do conhecimento por seus aspectos de conteúdo, ou seja, o modo de representar os assuntos dos documentos para que possam ser recuperados nos catálogos e também no acervo. Há muito tempo já se sabe que os usuários, em geral, preferem procurar os documentos por seus assuntos. Imagine a seguinte situação: você tem que fazer uma pesquisa sobre biblioteca escolar, mas não sabe quais autores escreveram sobre essa temática. Como proceder? A representação do assunto, que inclui a descrição do tema por meio de palavras, códigos (notação) e resumos, provê dados sobre o conteúdo dos recursos bibliográficos, ampliando as possibilidades de busca. Na obra Representação Descritiva: catalogação você pode conhecer os fundamentos e as normas para descrever pontos de acesso e também criá-los, e estes permitirão ao usuário encontrar, identificar selecionar e obter um recurso. A catalogação de um item visa, também, à descrição de conteúdo, que chamamos de Representação Temática. Antigamente essa atividade era conhecida como catalogação de assunto, expressão que caiu em desuso. Na hora de estudar, essas duas subáreas da Organização e Representação do Conhecimento (ORC) são vistas separadamente, mas é importante lembrar que o ato de descrever os dados extrínsecos (externos) e intrínsecos (conteúdo) dos documentos, para torná-los disponíveis no acervo e pesquisáveis nos catálogos é realizado em uma mesma atividade e por um mesmo bibliotecário. 10 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO A tarefa de preparar os itens para serem acessados é conhecida como processamento técnico, procedimento que necessita do uso de diversas ferramentas, como códigos de catalogação, linguagens de indexação, sistemas de classificação bibliográfica, tabelas de notação de autor etc. Nesta obra, veremos as duas últimas ferramentas, utilizadas em conjunto com as regras para elaboração do número de chamada. A representação é uma atividade fundamental do Ciclo informacional: 1) Produção. 2) Tratamento ou organização. 3) Recuperação. 4) Disseminação. 5) Uso. 6) Nova produção. Dizemos que a organização da informação é atividade intermediária, ou seja, faz a mediação entre os registros do conhecimento e o usuário, pelo uso de técnicas de análise e descrição que permitem a comunicação documental. O tratamento tem impacto direto na recuperação da informação; porém, quando malfeito, traz prejuízos enormes para o usuário. Atividade muito importante, não? Classificação: problema ou solução? Um sistema de classificação bibliográfica é um esquema hierárquico de assuntos que serve para representar o tema global de um recurso por meio de um código. Seu principal objetivo é promover uma ordenação do acervo (arranjo físico), possibilitando a localização do item na estante, a retirada rápida, 11© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO a devolução para a coleção e a inserção de novos materiais sem perda da ordem lógica. Usado em conjunto com a notação de autor, permite individualizar os itens e ordenar as obras de cada assunto por autor, título e edição. A classificação bibliográfica não pode ser confundida com esquemas classificatórios usados em outras áreas, como em Filosofia e Biologia. Nós, bibliotecários, estudamos as classificações como Sistema de Organização do Conhecimento (SOC), ou seja, um esquema de representação da informação que traduz o conteúdo integral e original dos documentos em novo conteúdo condensado. A Biblioteconomia, ao longo dos séculos, tem se inspirado nas classificações filosóficas para elaborar seus sistemas classificatórios, em especial seu embasamento teórico, que diz respeito aos princípios que são utilizados para a divisão, estruturação e relacionamento entre os conceitos. Entretanto, a classificação na biblioteca necessita de um elemento muito importante: um símbolo que seja capaz de, ao mesmo tempo, sintetizar e representar o assunto do documento, que chamamos de notação de assunto. A evolução dos sistemas de classificaçãobibliográfica, em sua teoria e prática, também ajudou a promover a atividade bibliotecária de função baseada no bom senso e talento, exercida no passado por profissionais diversos, para profissão reconhecida e cientificamente embasada. Nesta obra, veremos a base teórica da classificação e os principais sistemas classificatórios. 1) Unidade 1: a teoria da classificação na Filosofia e suas influências na Biblioteconomia. 12 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 2) Unidade 2: a teoria da classificação facetada de Ranga- nathan, as tabelas de notação de autor e a elaboração do número de chamada. 3) Unidade 3: a Classificação Decimal de Dewey (CDD). 4) Unidade 4: a Classificação Decimal Universal (CDU). Muitos pesquisadores criticam o uso das classificações na atualidade, pois a Era do motor de busca permite encontrar a informação por meio de metadados e do próprio conteúdo da obra. Mas é importante não esquecer o contexto em que a CDD e a CDU foram criadas e os problemas que elas se propuseram a resolver. Também temos que nos atentar a duas questões: as bibliotecas físicas são uma realidade e demandam um tratamento para os objetos físicos, e a teoria classificatória pode servir de base para a organização na Web, como no caso das taxonomias. Já há um bom tempo alguns estudiosos têm se dedicado a investigar o uso das classificações bibliográficas para a organização da informação digital. Em 1996, Diane Vizine-Goetz comparou as categorias do Yahoo! com as classificações de Dewey (CDD) e da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (LCC), o que possibilitou recomendações de melhoria do sistema de organização hierárquica do site, bem como sua revisão e atualização (MOYANO GRIMALDO, 2014). A Biblioteconomia evolui junto com o conhecimento humano! 13© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados. 1) Cabeçalho: utilizado na classificação, descrição verbal de cada uma das notações de assunto. 2) Categoria: refere-se às classes mais amplas, que agrupam os conceitos por suas características ou aspectos mais gerais. Abstração conceitual que permite fazer uma primeira divisão/agrupamento de conceitos mais gerais. 3) Classe: conjunto de objetos que possuem características parecidas, representados por uma notação. 4) Classe principal: as classes mais amplas de um sistema de classificação. 5) Classificação cruzada: erro ocorrido quando um mesmo conceito é colocado em duas classes diferentes. 6) Classificar: ato de descrever o assunto global dos documentos por meio da utilização de um símbolo (notação) retirado de um sistema de classificação bibliográfica. 7) Conceito: conjunto de enunciados verdadeiros sobre um objeto, sempre expresso por um signo verbal ou não verbal. Utiliza-se o conceito para separar, reunir e associar objetos. 8) Dígito: menor unidade da notação, pode ser numérico, alfabético ou um sinal gráfico. 14 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 9) Duplicata: exemplar idêntico a um item já existente na coleção. Para ser considerada uma duplicata, todas as características devem ser iguais: editora, paginação, edição, impressão, ano etc. 10) Edição: conjunto de exemplares produzidos a partir de uma única matriz, os quais mantêm o mesmo conteúdo e editoração, podendo ser publicados em uma ou mais tiragens ou impressões e em anos diferentes. 11) Entrada: na classificação, apresentação das notações com seu respectivo cabeçalho e notas (quando necessário). 12) Esquema: tabela principal da classificação, que contém as divisões fundamentais e a hierarquia de assuntos. 13) Exemplar: cada uma das cópias/duplicatas de uma mesma manifestação. 14) Extensão: na teoria da classificação, refere-se à amplitude dos termos de um sistema, ou seja, quanto mais amplo ou genérico for um assunto, maior sua extensão. 15) Faceta: as diversas categorias em que uma classe pode ser dividida, segundo características específicas de divisão. 16) Indexar: ato de descrever o conteúdo temático dos documentos com palavras e expressões (termos) retirados de linguagens de indexação (tesauros, listas de cabeçalhos de assunto etc.). 17) Intensão: na teoria da classificação, refere-se à especificidade dos conceitos de um sistema, ou seja, quanto mais específico for um assunto, maior sua 15© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO intensão. Intensão vem de intensidade (grau, força), não de intencionalidade (não confundir com intenção). 18) Item: cada um dos recursos existentes na coleção. 19) Linguagem de indexação: linguagem controlada e artificial utilizada para descrever os assuntos dos documentos por meio de palavras e expressões. 20) Notação de autor: símbolo geralmente numérico usado para identificar e individualizar autores dentro dos diversos assuntos. 21) Número de chamada: agrupamento dos códigos que identificam o tipo de acervo, a classificação, a notação de autor, a inicial do título da obra, a edição ou ano, o volume e o exemplar de cada um dos itens. O número de chamada aparece na etiqueta do item. 22) Objeto: na ciência, diz respeito a qualquer fenômeno que possa ser investigado. O objeto pode ser físico ou não. 23) Ordem de citação: sequência em que os elementos devem ser combinados durante a síntese para construir a notação. 24) Processamento técnico: ato de descrever os dados extrínsecos (externos) e intrínsecos (conteúdo) dos documentos pelo emprego de técnicas de leitura documental e utilização de códigos de catalogação, sistemas de classificação, tabela de notação de autor, linguagens de indexação, entre outros. O processamento técnico prepara os itens para deixá- los disponíveis no acervo e torná-los pesquisáveis nos catálogos. 16 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 25) Síntese: ato de agregar duas ou mais notações para formar um assunto mais exato. 26) Volume: cada uma das partes físicas que compõem uma obra ou série. É importante não confundir volume com item. Por exemplo: uma biblioteca que contém 1.000 livros no acervo contém 1.000 itens, e não 1.000 volumes. 3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Representação temática: classificação. 17© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MOYANO GRIMALDO, Wilmer Arturo. La clasificación de Dewey en la organización y recuperación de información en la web. In: ______. Biografía de la Clasificación Decimal Dewey: de la organización bibliográfica moderna a la organización virtual de contenidos. Bogotá: Bubok, 2014. p. 145-168. PIEDADE, Maria Antonietta Requião. Introdução à teoria da classificação. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. 221 p. © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO 19 UNIDADE 1 TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Objetivos • Conhecer as origens e os fundamentos da classificação. • Compreender as diferenças entre classificação filosófica e classificação bibliográfica. • Reconhecer a importância da classificação bibliográfica para o arranjo sistemático de bibliotecas. Conteúdos • Princípios da classificação na Filosofia. • Predicados e categorias de Aristóteles e sua influência na Biblioteconomia. • Fundamentos e características dos sistemas de classificação bibliográfica. • Importância do usoda notação para a representação documental e o arranjo do acervo. • Tratamento Temático da Informação (TTI) como forma de comunicação documental. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Nesta unidade, faremos uma introdução sobre a influência do pensamento filosófico na Biblioteconomia. Não se limite ao conteúdo deste Caderno de Referência de Conteúdo; busque outras informações em sites confiáveis e/ ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade. 20 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha gradativa dos assuntos até poder observar a evolução da teoria da classificação da Antiguidade aos dias atuais. 3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo Digital Integrador. 21© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 1. INTRODUÇÃO Para o escritor e bibliotecário francês Gabriel Naudé (1600- 1653), uma pilha de livros não forma uma biblioteca, assim como um monte de soldados não forma um exército (BURKE, 2003). É necessário sistematização, padronização e método. Entretanto, existem diversas formas de organizar um acervo, tudo depende da época, da missão e do desenvolvimento teórico e prático da Biblioteconomia. Durante muitos séculos, o arranjo físico das bibliotecas teve como objetivo a preservação dos documentos: imagine que, na Idade Média, os livros eram acorrentados nas prateleiras para que não se perdessem! Era comum também o acervo de acesso restrito, ou seja, o leitor não podia chegar perto das estantes, devia pedir no balcão os itens que queria... Muitas bibliotecas organizavam os livros pelo formato, cor, tamanho, língua, nome do autor, data de entrada no acervo etc. Esse tipo de ordenação é chamado artificial, pois as características escolhidas dizem respeito à forma física e não ao conteúdo das obras (BARBOSA, 1969). Outra característica era a localização fixa, ou seja, cada livro ficava guardado em um lugar definitivo; caso chegasse um segundo exemplar de um título já existente na coleção, não havia como colocar os dois exemplares juntos. Muitas vezes, livros de assuntos parecidos ficavam distantes uns dos outros, o que exigia que os leitores e os bibliotecários vasculhassem a coleção para encontrar o material desejado. Com a invenção da prensa de Gutenberg (1450) e o crescimento da ciência na Idade Moderna (1453-1789), o aumento exponencial do número de publicações trouxe desafios às bibliotecas, o que exigiu a criação de novos recursos 22 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA de organização e a gradativa profissionalização da função de bibliotecário, que passou a atuar não apenas como um guardião do acervo, mas como um facilitador de acesso à informação. O objetivo passou a ser organizar para disseminar os registros do conhecimento. Como a maior parte das buscas por documentos é feita pelo assunto, começou-se a pensar em uma forma de ordenar logicamente o acervo. A organização de livros pelo conteúdo temático é chamada de organização natural (BARBOSA, 1969), pois leva em conta o teor intelectual da obra, ou seja, seus dados intrínsecos. Mas o arranjo por assuntos por si só não resolveu os problemas da localização fixa; foi necessário criar um sistema que admitisse incluir no meio do acervo os novos itens que iam chegando, de modo a deixá-los juntos a documentos com assuntos iguais ou semelhantes. Foi a sistematização das classificações bibliográficas que permitiu a criação de um código que, ao mesmo tempo, indica o assunto do livro e identifica seu lugar no acervo, relacionando-o aos demais itens. Essa organização ficou conhecida como relativa: cada livro possui um lugar determinado no acervo, mas esse local não é fixo, pois admite a inserção de novos livros, com assuntos novos ou já existentes, sem a perda da ordem lógica das prateleiras. Antes, se fosse preciso inserir um livro no meio do acervo, era necessário mudar a numeração de todos os outros que ficariam depois dele. Por exemplo, ao colocar um livro entre os números 133 e 134, o novo livro se tornaria o 134, o antigo 134 viraria 135, o 135 viraria 136 e assim por diante! Imagine quanto retrabalho! 23© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Se você tivesse de dar aos livros códigos que não precisariam mudar nunca e que, ao mesmo tempo, permitissem inserir livros com o mesmo tema ou com temas diferentes, sem ter de mexer no restante do acervo, que estratégia você usaria? Reflita um pouco antes de continuar a leitura... 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário aprofundar seus conhecimentos estudando o material indicado no Conteúdo Digital Integrador. 2.1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA CLASSIFICAÇÃO Dê uma olhada a sua volta e repare nos objetos que estão no cômodo em que você está estudando agora: como eles estão organizados? Se você estiver em uma sala, por exemplo, vai perceber que pode haver móveis, equipamentos eletrônicos, objetos decorativos, revistas etc. Quanto aos móveis, alguns são usados para sentar (sofá, cadeiras, poltronas ou pufes), outros para guardar e aparar objetos (estante, rack para televisor) e outros, como apoio (como mesas, por exemplo). As mesas podem ser de vários tipos, como mesa de jantar, de centro e lateral. Em cada gaveta se guarda um conjunto diferente de coisas: pode haver uma com papéis, boletos e correspondência e outra com chaves, canetas e carregador de celular. É comum termos uma gaveta da bagunça, onde guardamos os pequenos objetos que não sabemos ao certo onde colocar. O controle remoto da tevê nem costuma ser guardado, pois ele é muito usado! 24 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Ao dispor todos os elementos do nosso dia a dia, estamos classificando-os quanto ao tipo, função, partes, valor afetivo, gosto pessoal etc. Muitos dos nossos julgamentos pessoais acontecem porque classificamos, inclusive, as pessoas: tem as confiáveis e as não confiáveis, as inteligentes e as estúpidas, as feias e as bonitas... Classificar é uma atividade fundamental da vida humana que fazemos, muitas vezes, sem perceber: "[...] é dividir em grupos ou classes, segundo as diferenças e semelhanças" (PIEDADE, 1983, p. 16). A classificação, dentro da Biblioteconomia, é uma distribuição sistematizada de conceitos, que deve se valer de regras preestabelecidas para separação e validação. Para nós pode parecer muito óbvio como dividir as coisas por suas semelhanças e diferenças. Mas foi preciso que, há mais de dois mil anos, alguns filósofos estudassem o modo como todos os elementos do Universo estão organizados para criar as teorias fundamentais para a categorização das coisas e dos fenômenos. É o que veremos a seguir. Com as leituras propostas no Tópico 3. 1, você vai acompanhar as bases teóricas da classificação. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado. Os filósofos e a divisão do conhecimento humano Platão, filósofo grego que viveu aproximadamente entre os anos 427 a.C. e 348 a.C., separou o conhecimento em Física, Ética e Lógica no livro República (PIEDADE, 1983) e propôs em sua obra Político agrupar os objetos de acordo com suas semelhanças. Ele 25© REPRESENTAÇÃOTEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA ensinava aos seus alunos que todo objeto do mundo físico possui um modelo perfeito que fica localizado no Mundo das Ideias, um mundo insensível, ou seja, que não pode ser percebido pelos nossos cinco sentidos. Por exemplo, há um modelo ideal de cadeira naquele mundo, que possui a essência do que é uma cadeira. Nós, seres humanos, já temos conhecimento de todo o Universo, mas não nos lembramos, e sim vamos recordando o que sabemos à medida que refletimos e aprendemos. Por isso, o ser humano consegue reconhecer uma cadeira quando a vê. Mas, para Platão, essa cadeira só pode ser entendida na sua essência por meio do intelecto e não pela observação dos objetos do mundo sensível, físico. Aristóteles, que viveu entre os anos 384 a.C. e 322 a.C., foi aluno de Platão, mas, ao contrário de seu mestre, acreditava que os objetos do mundo físico possuem todas as características fundamentais que podem identificá-los e mostrar sua essência. Para fazer essa investigação, entretanto, seria necessário conhecer seus atributos essenciais, ou seja, as características fundamentais que fazem da cadeira uma cadeira, diferenciando-a de um banco, por exemplo. Para isso, Aristóteles começou a estudar grupos de coisas semelhantes, a fim de descobrir quais características compartilhadas ajudam a defini-las. A lógica aristotélica divide os objetos entre gênero e espécie, ou seja, um conjunto de coisas que possuem traços em comum (gênero) e que pode ser dividido em subconjuntos (espécies) pela aplicação de características. Chamamos de característica a qualidade ou atributo que serve de base para a divisão, também conhecida como princípio de divisão (PIEDADE, 1983). Aristóteles também criou os cinco predicados (ARAÚJO, 2006), os quais possuem as características classificatórias que possibilitam dividir os seres de acordo com semelhanças e diferenças: 26 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 1) Gênero (ou classe): conjunto formado por seres que possuem características iguais. Exemplo: alunos do Centro Universitário Claretiano. 2) Espécie: ser que possui uma diferença própria que a distingue dos outros seres, ou seja, ele tem todas as características do seu gênero, mas possui uma qualidade diferente dos demais seres do conjunto. Cada espécie pode gerar uma nova classe, sendo subdividida infinitamente. Por exemplo: alunos de graduação e alunos de pós-graduação. 3) Diferença: é a própria característica que distingue os seres, é a essência do princípio da divisão. Exemplo: no caso do Centro Universitário Claretiano, os alunos podem ser divididos em novos conjuntos de acordo com o grau, o curso, o ano de ingresso etc. 4) Propriedade: qualidade que pertence a todos os seres de um gênero, mas que não é exclusiva desse gênero. Exemplo: todos os alunos fazem leituras e atividades, mas pessoas que não são alunas de nenhum curso também podem fazer leituras e atividades. 5) Acidente: característica que pode ocorrer em alguns seres isolados, mas que não é essencial para a definição do gênero ou da espécie. Exemplo: alguns alunos de Biblioteconomia estão cursando a segunda graduação. A cada acréscimo de diferença é gerada uma nova espécie (ou subgênero). Só pode ser inserida uma diferença por vez, por isso dizemos que as diferenças são mutuamente exclusivas. Caso aconteça a inclusão de mais de uma diferença ao mesmo tempo, ocorrerá um erro chamado de classificação cruzada. 27© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Outra contribuição importante de Aristóteles foi a criação das dez categorias (ARAÚJO, 2006; ARISTÓTELES, 2010): 1) Substância ou matéria: homem, cachorro etc. 2) Quantidade ou extensão: dois metros, cinco quilos etc. 3) Relação: metade, menor etc. 4) Qualidade: azul, fraternal etc. 5) Quando (tempo ou duração): amanhã, antes etc. 6) Onde (lugar ou localização): na escola, em São Paulo etc. 7) Estar-em-uma-posição: deitado, acima etc. 8) Fazer (ação ou atividade): aprender, cortar etc. 9) Sofrer (paixão ou sofrimento da ação): ser cortado, ser ensinado etc. 10) Ter (ou maneira de ser): está vestido, está zangado etc. Por exemplo: os dois quantidade gatos substância pretos qualidade mais novos relação estão sonolentos maneira de ser em cima posição do sofá, localização pois comeram muito ação e foram acariciados sofrimento da ação a tarde toda tempo 28 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA As categorias são as classes mais amplas, aquelas que agrupam os fenômenos por suas características mais gerais. Para Aristóteles, a substância é a categoria essencial, pois a criação das demais categorias depende da existência da substância. Como o gato pode ser preto se não existe o gato? A sistematização classificatória de Aristóteles parte do método dedutivo, ou seja, dos fenômenos mais amplos, mais gerais, para os mais específicos, gerando as espécies e suas relações. Porfírio de Tiro, filósofo que nasceu por volta do ano 234, estudou as categorias de Aristóteles e propôs uma estrutura classificatória, chamada de árvore, cujo princípio de divisão era dicotômico, ou seja, sempre dividido em duas subclasses, como vemos na Figura 1. Fonte: Piedade (1983, p. 62). Figura 1 Árvore de Porfírio. 29© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA A representação visual da divisão em forma de árvore ganhou espaço em diversas áreas. Alguns estudiosos detalharam estruturas arbóreas de disciplinas do conhecimento com galhos, raízes e folhas. Peter Burke (2003) explica que a representação em formato de árvore dá a ideia de que essa estrutura é natural. Entretanto, como disse o bibliotecário Derek Langridge (2006), o ser humano elabora classificações, não as descobre. Por isso, temos de ter em mente que a criação de uma classificação sempre é uma escolha feita com base em objetivos, valores e decisões. Em 1491, o humanista e poeta italiano Angelo Poliziano elaborou o Praelectio cui titulus Panepistemon, um sistema de classificação das ciências existentes na época, a fim de investigar as relações entre as diversas áreas do saber. Foi só a partir daí que os estudiosos começaram a usar os esquemas classificatórios para analisar o próprio conhecimento científico (DAHLBERG, 1979). O Panepistemon cita Aristóteles diversas vezes, indicando a influência desse pensador grego mesmo depois de quinze séculos. Foi Francis Bacon que propôs, em 1605, a mais influente classificação das ciências: a De dignitate et augmentis scientiarum (DAHLBERG, 1979). Bacon dividiu a ciência em Razão, Imaginação e Memória, de acordo com as faculdades humanas, relacionadas, respectivamente, à Filosofia, Poesia e História (PIEDADE, 1983; BARBOSA, 1969). Êsse sistema exerceu influência nas enciclopédias de Diderot e d'Alembert (Século XVIII), na classificação dos livros de Thomas Jefferson e, posteriormente, na classificação dos livros da Library of Congress. Mais tarde, Harris o usou em forma invertida daí surgindo o muito conhecido sistema decimal de Melvil Dewey (BARBOSA, 1969, p. 47) 30 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Bacon propôs o método indutivo, partindo da representação dos elementos/objetos e suas relações, para depois serem agrupados em classes mais amplas. No século 19, Auguste Comte sugeriu a divisão das ciências em abstratas, que estudam as leis que regem os fenômenos, e concretas, que investigam os seresfísicos do universo. Comte também criou a noção de complexidade crescente, ou seja, cada divisão acrescenta mais complexidade, resultando em uma hierarquia organizada do elemento mais simples ao mais sofisticado (BARBOSA, 1969). O objetivo dos filósofos que estudaram e propuseram as premissas para a classificação era investigar a relação entre os objetos do universo e a forma como foi construído o conhecimento humano, mas eles não tinham o desejo de criar um sistema para a organização de livros nas bibliotecas. Entretanto, seus estudos serviram de base para que os bibliotecários pudessem esquematizar a organização das estantes de acordo com o saber científico. Os estudiosos que elaboravam as enciclopédias também precisavam sistematizar o conhecimento, ou seja, dividir o saber para poder apresentá-lo de forma ordenada. Podemos citar as enciclopédias do egípcio Amenope (1250 a.C.), de Caius Plinius Secundus (23-79 d.C.), e as grandes enciclopédias da Idade Média e da Renascença (como as de Isidro de Sevilla, Bartholomaeus Anglicus, Brunetto Latini, Rafael Maffei, Johann Heinrich Alsted, Wolfgang Ratke, entre outras) (DAHLBERG, 1979). Entretanto, foram os franceses Denis Diderot e Jean Le Rond d’Alembert que apresentaram a primeira enciclopédia esquematizada por ordem alfabética, publicada em trinta e cinco volumes entre os anos de 1751-1780. As enciclopédias também influenciaram a construção de sistemas de classificação dentro das bibliotecas. 31© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA No final do século 18, Leibniz afirmou que uma biblioteca deve equivaler a uma enciclopédia e sugeriu a divisão do acervo em nove categorias: Teologia, Direito, Medicina, Filosofia, Matemática, Física, Filologia, História e assuntos diversos (BURKE, 2003). A ordem dos livros nas bibliotecas das universidades da Idade Moderna seguia a ordem e a divisão das disciplinas dos cursos, o que poderia facilitar o acesso aos livros pelos alunos, mas criava alguns problemas (BURKE, 2003), por exemplo: onde colocar obras que eram estudadas em dois ou mais cursos? Um sistema de classificação que segue a ordem do uso, como no caso citado, é chamado de arbitrário, ou seja, possui base prática e não científica. A criação de classificações bibliográficas com base na divisão das disciplinas da ciência revolucionou a Biblioteconomia no século 19, com destaque para a criação da Classificação Decimal de Dewey (CDD). As leituras indicadas no Tópico 3.2 tratam da teoria da classificação bibliográfica, com enfoque nos fundamentos para a divisão dos assuntos e para a construção do sistema de notação. Neste momento, você deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado. Breve explanação sobre tratamento temático da informação Bem, você deve estar se perguntando: por que os bibliotecários simplesmente não aplicaram as classificações filosóficas nas bibliotecas? Primeiramente temos que entender a diferença entre classificação de modo geral e classificação bibliográfica. As classificações e teorias criadas pelos filósofos tinham como objetivo o estudo da própria ciência, ou seja, 32 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA compreender como as áreas e subáreas do conhecimento humano estavam organizadas. Eles não estavam preocupados com a ordenação de documentos nas bibliotecas. Já as classificações bibliográficas foram pensadas e criadas com o objetivo de organizar os livros no acervo de forma mais lógica e funcional, facilitando o acesso aos registros do conhecimento. Deste momento em diante, usaremos a expressão classificação bibliográfica para nos referirmos a uma ferramenta utilizada pelos bibliotecários para dispor os livros no acervo de acordo com seu conteúdo intelectual, ou seja, seus assuntos e seus aspectos de abordagem. A necessidade de organizar a biblioteca por temas exigiu esforços para a criação de modos rápidos e eficazes de promover o acesso ao documento, ou seja, um meio de comunicação que possibilite expor o conteúdo de forma sintetizada. Assim, surgiu uma subárea dentro da Biblioteconomia destinada a estudar teorias e métodos que dessem suporte à identificação e representação dos assuntos dos documentos: a Representação Temática. Fala-se em representação toda vez que se toma um conjunto sintetizado de dados (autor, assunto, editora etc.) no lugar do próprio item para poder comunicar sua existência e suas características. Como você fica sabendo que determinado livro existe na biblioteca? Se você ficar frente a frente com esse livro ou se você acessar os dados que o representam! Para que a representação temática aconteça, é necessário fazer o Tratamento Temático da Informação (TTI), o qual engloba processos, instrumentos e produtos (GUIMARÃES, 2008). Os processos são as operações de análise do documento, condensação (resumos) e sua representação. Os instrumentos 33© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA são as ferramentas que auxiliam nesses processos, como classificações bibliográficas, tesauros, ontologias etc. Os produtos são o resultado dos processos, como resumos e índices. Os livros, revistas, jornais e filmes trazem consigo dados sobre os autores, ilustradores, editora, data e local de edição etc., mas não trazem dados sobre o assunto. Dessa forma, foi necessário criar meios para identificar e representar seus temas, os quais podem ser usados pelos leitores na busca pela informação desejada. As normas de catalogação permitem descrever autoria, publicação, paginação, como você aprende na disciplina de Representação Descritiva: Catalogação. Já o TTI possibilita identificar e representar os temas dos documentos por meio de resumos, classificação e indexação. A Representação Temática e a Representação Descritiva integram o que chamamos de processamento técnico: um ciclo de operações documentais que tem como objetivo descrever e individualizar os itens, a fim de fazer a mediação entre os documentos e os usuários. Apesar de serem estudadas separadamente, as duas são feitas em conjunto. Durante o processamento técnico, a ação de descrever o assunto central do item usando um código que representa seu assunto é chamada de “classificar”. Esse código aparece na ficha bibliográfica e também na etiqueta do item, junto com outros símbolos e dados que identificam autor, título, edição e exemplar, como visto na Figura 2. Juntos, esses códigos formam o número de chamada. Vamos tomar como exemplo o livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda: a etiqueta indica o código para o assunto do livro, o código para o autor, a inicial do título, a edição e o número do exemplar. 34 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Fonte: elaborado pela autora. Figura 2 Etiqueta com número de chamada. A preparação das etiquetas será vista na Unidade 2, quando estudaremos o número de chamada detalhadamente, mas acho que você já começou a compreender como a coleção ficará ordenada nas estantes. Cada biblioteca deve escolher a classificação bibliográfica que melhor atenda sua política interna e os objetivos dos usuários. Por isso, é muito importante não apenas sabermos como utilizar essa ferramenta no dia a dia, mas também os postulados fundamentais para sua elaboração. 2.2. TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA A classificação visa a reunir os documentos de assuntos semelhantes, permitindo ordenar os itens nas estantes e as fichas no catálogo dicionário. De acordo com Barbosa (1969), todo sistema de classificação bibliográfica deve permitir: 35© REPRESENTAÇÃOTEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 1) localizar os itens na coleção; 2) retirá-los para consulta; 3) devolvê-los à coleção; 4) inserir novos itens sem perda da ordem lógica; 5) inserir itens com assuntos novos sem perda da ordem lógica. Podemos diferenciar as classificações quanto ao conteúdo e quanto à estrutura. Quanto ao conteúdo, as classificações podem ser: • enciclopédicas (generalistas): abrangem todo o conhe- cimento humano; • especializadas: abarcam apenas uma área específica da Ciência. Quanto à estrutura, podem ser: • enumerativas: trazem os assuntos já prontos nas tabelas; • facetadas: permitem a formação dos assuntos na hora de classificar, de acordo com os aspectos necessários; • semifacetadas ou mistas: mesclam características enumerativas e facetadas. Para a estruturação das classificações, não trabalhamos com a ordenação de coisas, mas com a ordenação de conceitos. Um conceito é um conjunto de enunciados verdadeiros sobre um objeto sempre expresso por um signo verbal ou não verbal (sinal gráfico, símbolo, gesto etc.) (DAHLBERG, 1978). As duas relações básicas entre os conceitos e suas subdivisões são as relações genéricas e as relações partitivas. 36 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Nas relações genéricas, há a subdivisão de um gênero em suas espécies. Por exemplo: reino vegetal é um gênero que pode ser dividido de diversas formas. Tomando como princípio de divisão a estrutura das gametas, ele pode ser dividido em vegetais intermediários e vegetais superiores. Os vegetais superiores podem ser subdivididos de acordo com a produção de frutos: gimnospermas (sem frutos) e angiospermas (com frutos). Esse último pode ser dividido em mangueira, laranjeira, cajueiro, jabuticabeira etc. Dessa forma, dizemos que reino vegetal é o gênero supremo e cajueiro é a espécie inferior. O cajueiro possui a soma de todas as características do reino vegetal, dos vegetais superiores, das angiospermas e pelo menos mais uma característica própria que o diferencia da mangueira, laranjeira e jabuticabeira. Nas relações partitivas há a subdivisão do todo em suas partes constituintes. Por exemplo: uma árvore pode ser dividida em copa, raiz, tronco, galhos, folhas, flores, frutos etc. Por sua vez, as flores podem ser divididas em pétala, sépala, pedúnculo etc. Não se pode dizer que a folha é um tipo de árvore; ela é parte da árvore. Assim a folha não possui as características da árvore, pois não é uma subespécie. Quanto aos tipos de divisão, temos a divisão em cadeia e a divisão em fileira (PIEDADE, 1983). A divisão em cadeia se dá quando decompomos hierarquicamente os conceitos do geral para o específico (ou do todo maior para as partes cada vez menores) pela aplicação sucessiva de vários princípios de divisão (ou várias características), 37© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA um de cada vez. É o que vimos do exemplo das subdivisões do reino vegetal. A divisão em fileira ocorre horizontalmente pela separação entre seres coordenados, ou seja, o conjunto de seres que aparecem como resultado da aplicação de um único princípio de divisão (uma única característica). No exemplo anterior, mangueira, laranjeira, cajueiro e jabuticabeira são conceitos coordenados, não se pode dizer que um seja mais amplo ou mais específico que outro. A subdivisão gradativa dos conceitos, do mais abrangente ao mais específico, é chamada de modulação (PIEDADE, 1983). Ao fazer a modulação, nenhum nível deve ser esquecido; entretanto, deve-se levar em conta a especificidade que é necessária em cada biblioteca. Ao dividir um conceito em fileira ou cadeia é importante aplicar uma única característica por vez, do contrário ocorrerá uma classificação cruzada. Dessa forma, as características devem ser exclusivas, ou seja, quando uma característica está sendo empregada, ela exclui as demais. As divisões também devem ser exaustivas, ou seja, deve-se decompor um assunto até o fim (BARBOSA, 1969). Por exemplo: ao apresentar as cores primárias, devem aparecer os três tons azul, amarelo e vermelho, e não apenas um ou dois. Quanto mais dividimos um conceito genérico em espécies e subespécies, mais aumenta sua complexidade. Podemos dizer que o conceito de cajueiro é mais complexo do que os conceitos de angiosperma, de vegetais superiores e de reino vegetal, pois cajueiro possui todas as características desses três e mais uma característica que o diferencia. A essa soma de características 38 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA damos o nome de intensão. Intensão vem de intensidade, grau; não confunda com intenção (intencionalidade). Ao somar todas as características da classe, temos um conceito amplo, ou seja, grande extensão. Por exemplo, reino vegetal possui grande extensão. Ao subdividir esse conceito em vegetais intermediários e vegetais superiores, diminui-se a extensão e aumenta-se a intensão. A soma de todos os membros de uma espécie é chamada de extensão. Quanto maior a intensão, menor a extensão, e vice- versa (PIEDADE, 1983). Notação Além da divisão dos conceitos em termos mais específicos, uma classificação bibliográfica deve apresentar um sistema de notação que seja capaz de representar cada um dos assuntos por intermédio de um código. A esse código damos o nome de notação. A notação provê a representação do assunto principal do documento, a fim de permitir a ordenação nas estantes e de remeter do catálogo diretamente ao item desejado. Esse código também mostra a hierarquia entre os assuntos dentro do sistema de classificação. Pense no conceito de laranjeira, visto no tópico anterior. Ao elaborar uma etiqueta de um livro que fale sobre esse assunto, como você o representaria? Uma notação pode ser constituída de números, letras, sinais gráficos etc. Cada elemento que forma a notação é chamado de caractere ou dígito. No exemplo 981 temos três dígitos. 39© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA A base da notação pode ser pura ou mista. A pura utiliza apenas um tipo de dígito: só letras, só números, só sinais gráficos etc. A mista é formada por dois ou mais tipos de caracteres: números e letras, letras e sinais gráficos etc. Exemplo: 622+669 (mineração e metalurgia, na Classificação Decimal Universal - CDU). Para ser eficiente e eficaz, a notação deve possuir as seguintes qualidades (PIEDADE, 1983): 1) Ordenação: explicitar a ordem dos assuntos e suas relações. 2) Especificidade: representar os assuntos com exatidão. 3) Hospitalidade: permitir que todas as divisões necessárias em cadeia e fileira sejam feitas. 4) Flexibilidade: aceitar a inserção de novos assuntos quando for preciso atualizar a classificação. 5) Facilidade: apresentar códigos simples de serem entendidos. 6) Mnemônica: utilizar recursos que facilitem a memorização de assuntos. Devido à crescente complexidade de assuntos que precisam ser representados, é impossível que uma classificação bibliográfica traga códigos prontos para todos os temas existentes. Há relações entre assuntos que não podem ser previstas, pois o universo do conhecimento é extremamente dinâmico. Além disso, aplicar subdivisões para certos aspectos em todos os assuntos deixaria a classificação muito extensa. Um recurso simples que permite ampliar as possibilidades de representar assuntos complexos ou aspectos é a síntese, ou seja, a combinação de duas ou mais notações. Por exemplo: na 40 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA:CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Classificação Decimal de Dewey (CDD), podemos juntar o assunto 150 (Psicologia) com a forma 05 (periódicos) e compor a notação 150.5, o que resulta em periódicos de Psicologia. A síntese também provê bastante economia de espaço no sistema de classificação, pois evita que sejam enumeradas muitas subdivisões. Por exemplo: a forma do documento (manual, dicionários, revistas etc.) pode aparecer em qualquer assunto. Para não ser repetida no esquema todo, podemos criar uma lista com todas as formas e juntá-las a qualquer notação quando necessário. As classificações mais atuais costumam apresentar quatro partes: 1) Esquema (ou tabela principal): onde constam as subdivisões dos assuntos. 2) Tabelas auxiliares: trazem aspectos que podem ser acrescentados às notações do esquema para criar assuntos mais complexos. 3) Índice: uma lista em ordem alfabética que ajuda a localizar os assuntos principais no esquema. 4) Manual: com normas de uso do esquema e das tabelas auxiliares. É importante ressaltar que uma classificação bibliográfica nunca está totalmente pronta e acabada, pois é necessário revisar e atualizar constantemente seu conteúdo e estrutura para tentar acompanhar a evolução do conhecimento. Um procedimento importante durante o tratamento temático é a análise documental – conhecida também como leitura documentária e análise de assunto –, ou seja, a utilização 41© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA de técnicas para a leitura profissional e a identificação correta dos assuntos dos documentos. Ao longo das últimas décadas, foram criados diversos sistemas de classificação bibliográfica, alguns em uso até o momento e outros já obsoletos, como a Classificação da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos (Library Congress Classification – LCC), Classificação de Dois Pontos (ou Colon Classification – CC), Classificação Internacional de Rider, Classificação Expansiva de Cutter etc. Nas próximas unidades, estudaremos a teoria facetada e as duas principais classificações bibliográficas em uso na atualidade: a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas no Tópico 4, você deve fazer as leituras sugeridas no Tópico 3.3 para aprofundar seus conhecimentos sobre teoria e história da classificação bibliográfica. Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar 1. • Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na aba Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, busque pelo nome da disciplina para abrir a lista de vídeos. • Caso você adquira o material, por meio da loja virtual, receberá também um CD contendo os vídeos complementares, os quais fazem parte integrante do material. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 42 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. CLASSIFICAÇÃO NA FILOSOFIA Ao longo dos séculos, os filósofos traçaram a base para o estudo e a elaboração de sistemas de classificação do universo e do conhecimento. Empenhados em descobrir as características e relações entre os seres e os saberes, criaram fundamentos teóricos para a sistematização de classificações bibliográficas dentro de bibliotecas. Esses fundamentos permitiram extrapolarmos a arrumação de livros e pensarmos em uma ordenação de assuntos que fosse capaz de facilitar e agilizar o acesso aos registros do conhecimento. Os textos a seguir trazem detalhes sobre a influência dos estudos filosóficos para a criação de classificações bibliográficas. • KAULA, P. N. Repensando os conceitos no estudo da classificação. Disponível em: <http://www.conexaorio. com/biti/kaula/>. Acesso em: 27 abr. 2018. Publicado originalmente como Rethinking on the concepts in the study of classification. Herald of Library Science, v. 23, n. 2, p. 30-44, Jan./Apr. 1984. • POMBO, Olga. Da classificação dos seres à classificação dos saberes. Leituras: revista da Biblioteca Nacional de Lisboa, n. 2, p. 19-33, primavera, 1998. Disponível em: <http:// cfcul.fc.ul.pt/textos/OP%20-%20Da%20Classificacao%20 dos%20Seres%20a%20Classidicacao%20dos%20 Saberes.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. 43© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA • SCHREINER, H. B. Considerações históricas acerca do valor das classificações bibliográficas. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA, 1976, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, IBICT; ABDF, 1979. v. 1. p. 190-207. Disponível em: <http://www. conexaorio.com/biti/schreiner/>. Acesso em: 27 abr. 2018. 3.2. CLASSIFICAÇÃO NA BIBLIOTECONOMIA O Tratamento Temático da Informação engloba processos, ferramentas e produtos e atua como complemento do tratamento descritivo, a fim de prover pistas sobre o conteúdo dos documentos de formas diversificadas. Ao longo dos anos, a representação temática tem se aprimorado, a fim de encontrar novos recursos frente ao desafio de promover a recuperação e a disseminação da informação. A elaboração de classificações bibliográficas deve seguir princípios baseados no uso do acervo e, especialmente, na divisão das ciências, ou seja, buscar conciliar as necessidades dos leitores e garantir a representação fiel da literatura. Com as leituras dos textos a seguir, você irá aprofundar seus conhecimentos sobre a representação dos registros do conhecimento, a história das classificações dentro da Biblioteconomia e sobre a complexidade da seleção da notação classificatória durante o processamento técnico. • BARBOSA, Alice Príncipe. Estrutura ou filosofia de um sistema da classificação. In: ______. Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. Rio de Janeiro: IBBD, 1969. p. 21-38. (Obras Didáticas; v. 1). Disponível 44 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA em: <http://livroaberto.ibict.br/handle/1/1001>. Acesso em: 2 maio 2018. • BEZERRA, Midinai Gomes. et al. Trajetória histórica da classificação: mudança do status de arte para ciência. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 25., 2013, Florianópolis. Anais... Florianópolis: CBBD, 2013. Disponível em: <https://www.portal.febab.org.br/ anais/article/view/1644/1645>. Acesso em: 2 maio 2018. • SOUSA, Brisa Pozzi. Representação temática da informação documentária e sua contextualização em biblioteca. Rev. Bras. Bibl. Doc., São Paulo, v. 9, n. 2, p. 132-146, jul./dez. 2013. Disponível em: <https://rbbd. febab.org.br/rbbd/article/view/249/265>. Acesso em: 2 maio 2018. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. 1) Marque V para verdadeiro e F para falso. A classificação bibliográfica deve permitir: ( ) A localização dentro da coleção. ( ) A inserção de novos livros na coleção, sem perda de ordem lógica. ( ) A retirada rápida para consulta. ( ) A devolução para a coleção. 45© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA ( ) O controle da quantidade de empréstimosdo livro. ( ) A inserção de livros com novos assuntos, sem perda de ordem lógica. 2) As características aplicadas como princípio de divisão devem ser mutuamente exclusivas, ou seja, deve ser aplicada cada uma de uma vez. Se esta regra não for seguida, ocorrerá um erro chamado de: a) Divisão em fileira. b) Divisão em cadeia. c) Classificação cruzada. d) Modulação. 3) A notação é um conjunto de símbolos que representa o assunto dos documentos. Relacione as colunas, indicando as características da notação: a) Caractere (ou dígito). ( ) Símbolo formado por só um tipo de caractere. b) Base mista. ( ) Junção de notações que permite formar assuntos mais complexos. c) Base pura. ( ) Símbolo formado por dois ou mais tipos de caracteres. d) Síntese. ( ) Cada um dos elementos que formam a notação. 4) Quais sistemas classificatórios não influenciaram a teoria da classificação dentro das bibliotecas? a) As classificações filosóficas, como as de Aristóteles e Porfírio. b) As classificações da ciência, como as de Bacon e Comte. c) As classificações para as enciclopédias, como a de Diderot e d'Alembert. d) As classificações da prensa, como a de Gutenberg. 5) Assinale a alternativa correta: a) Para organizar o acervo, os bibliotecários simplesmente utilizaram as classificações filosóficas, criando notações para cada assunto. b) Aristóteles criou os cinco predicados: gênero, espécie, diferença, pro- priedade e acidente. 46 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA c) Porfírio criou a estrutura em árvore para contestar as categorias de Aristóteles. d) Todas as classificações criadas ao longo da história possuíam um siste- ma de notação. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas: 1) V-V-V-V-F-V. 2) c. 3) c-d-b-a. 4) d. 1) b. 5. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você teve a oportunidade de compreender a importância da classificação para o arranjo sistemático do acervo e para a mediação da informação. Além disso, foram apresentados os fundamentos para a elaboração de sistemas de classificação bibliográfica, em especial as duas principais formas de divisão e relação entre o conhecimento em gênero/espécie e em todo/parte. Vimos, também, os fundamentos para a construção de notações, elemento de importância fundamental para a representação codificada dos assuntos e aspectos dos documentos, como forma, idioma, período, público a que se destina etc. 47© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Falamos um pouco sobre o Tratamento Temático da Informação, elemento central da disciplina Representação Temática: Classificação, e sua importância para a comunicação documentária, sempre em conjunto com a Representação Descritiva. Veja também o Conteúdo Digital Integrador, que ampliará e aprofundará seu conhecimento sobre o assunto. Na próxima unidade, vamos aprender sobre a teoria da classificação facetada de Ranganathan e a elaboração do número de chamada. 6. E-REFERÊNCIAS ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Fundamentos teóricos da classificação. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibl. Ci. Inf., Florianópolis, n. 22, 2º sem. 2006. Disponível em: <https:// periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/viewFile/296/368>. Acesso em: 2 maio 2018. BARBOSA, Alice Príncipe. Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. Rio de Janeiro: IBBD, 1969. 441 p. (Obras Didáticas; v. 1). Disponível em: <http:// livroaberto.ibict.br/handle/1/1001>. Acesso em: 2 maio 2018. DAHLBERG, Ingetraut. Teoria da classificação, ontem e hoje. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA, Rio de Janeiro, 1972. Anais ... Brasília, IBICT; ABDF, 1979. v. 1. p. 352-370. Disponível em: <http://www.conexaorio. com/biti/dahlbergteoria/dahlberg_teoria.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. Tradução do inglês por Henry B. Cox. Palestra. DAHLBERG, Ingetraut. Teoria do Conceito. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 101-107, 1978. Disponivel em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/ view/115%3E.>. Acesso em: 2 maio 2018. GUIMARÃES, José Augusto Chaves. A dimensão teórica do tratamento temático da informação e suas interlocuções com o universo científico da International Society for Knowledge Organization (ISKO). Revista Ibero-americana de Ciência da Informação (RICI), v. 1, n. 1, p. 77-99, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/ index.php/RICI/article/view/2761/2331>. Acesso em: 2 maio 2018. 48 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 1 – TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO: DA FILOSOFIA À BIBLIOTECONOMIA Sites pesquisados CARVALHO, Jonathas. Livros nacionais fundamentais para entender a Biblioteconomia. Biblioo, 18 abr. 2017. Disponível em: <http://biblioo.cartacapital.com.br/livros- nacionais-fundamentais/>. Acesso em: 2 maio 2018. LINHA do Tempo da Biblioteconomia - Ciência da Informação. Minhateca. Disponível em: <http://docs12.minhateca.com.br/633275320,BR,0,0,Linha-do-Tempo-da- Biblioteconomia---Ci%C3%AAncia-da-Informa%C3%A7%C3%A3o.doc>. Acesso em: 2 maio 2018. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARISTÓTELES. Categorias. Tradução José Veríssimo Teixeira da Mata. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2010. (Coleção A obra-prima de cada autor) BURKE, Peter. A classificação do conhecimento: currículo, bibliotecas e enciclopédias. In: ______. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 78-108. LANGRIDGE, Derek. Classificação: abordagem para estudantes de Biblioteconomia. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. 120 p. PIEDADE, Maria Antonietta Requião. Introdução à teoria da classificação. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Interciência, 1983. 221 p. 49 CLASSIFICAÇÃO FACETADA Objetivos • Compreender as origens e os fundamentos da teoria da classificação facetada. • Entender a elaboração do número de chamada. • Conhecer as principais tabelas de notação de autor, bem como sua utilização. Conteúdos • Princípios da classificação facetada. • A importância de Ranganathan para a teoria da classificação. • Elaboração do número de chamada em diferentes situações. • Uso das tabelas Cutter e Cutter-Sanborn manuais e automatizadas. • Uso da Tabela PHA. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Alguns materiais indicados nesta unidade não precisam ser lidos por completo. Leia as instruções gerais das tabelas de notação de autor e explore o esquema dos sobrenomes para entender sua organização. 2) Sempre que preciso, consulte as tabelas de autor para melhor compreender as explicações e os exemplos desta unidade. UNIDADE 2 50 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA 3) Busque identificar os principais conceitos apresentados; prossiga os estudos mesmo se tiver algumas dúvidas. Muitas vezes, uma dúvida que surge com a leitura de um trecho pode ser sanada em um parágrafo posterior. 51© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA 1. INTRODUÇÃO Para a Biblioteconomia, a teoria da classificação diz respeito a sistemas de postulados, convenções e métodos (MOREIRA, 2013) que visam a reger o estudo, a elaboração e o uso de classificações bibliográficas. Vimos, anteriormente, os fundamentos da teoria da classificação. Com a crescente explosão da informação e a especialização do conhecimento, a criação e o uso de sistemas de classificação enciclopédica começaram a ser repensados, em especial dentro de bibliotecas com acervos especializados, o que exigiu uma nova visão sobre a teoria classificatória. No século 20 começaram a surgir classificaçõesespecializadas, ou seja, que cobrem apenas uma área específica do saber ou domínio. Como exemplo de classificações especializadas, temos a classificação da National Library of Medicine (NLM), feita com base na Library Congress Classification e a Classificação Decimal de Direito (CCDir), criada pela bibliotecária brasileira Dóris de Queiróz Carvalho a partir da expansão da classe 340 da Classificação Decimal de Dewey. A CDDir foi atualizada pela última vez em 2002 e já se encontra desatualizada. Um dos bibliotecários que mais contribuíram para a elaboração dos princípios da classificação moderna foi o indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972), que criou a teoria facetada. Muitos estudos importantes sobre classificações especializadas foram feitos pelo Classification Research Group (CRG) de Londres, formado em 1952 por uma equipe de bibliotecários como Douglas Foskett e Brian Vickery, entre outros, que aprofundaram a teoria facetada de Ranganathan. 52 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA As ideias de Ranganathan também influenciaram a criação de linguagens de indexação modernas, como os tesauros, o que você irá ver no decorrer deste curso. Vamos estudar, agora, as principais contribuições de Ranganathan para a moderna teoria classificatória. No final desta unidade, veremos as principais regras de elaboração do número de chamada e o funcionamento das tabelas de notação de autor. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário aprofundar seus conhecimentos estudando o material indicado no Conteúdo Digital Integrador. 2.1. RANGANATHAN E A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO FACETADA No início do século 20, os bibliotecários começaram a perceber que um sistema de classificação deve ser criado tendo uma base teórica sólida, ou seja, os postulados, convenções e métodos devem ser muito bem pensados para embasar a estrutura dos conceitos, o funcionamento na prática e sua atualização. Isso é fundamental para diminuir ao máximo os problemas que podem surgir durante a criação da classificação e a comunicação com o usuário dentro da biblioteca. Segundo Ranganathan, uma classificação bibliográfica deve possuir três planos: • Plano das ideias: diz respeito aos conceitos que serão estruturados e representados. 53© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA • Plano verbal: esses conceitos devem ser expressos verbalmente. • Plano notacional: cada conceito utilizado na classificação precisa ser apresentado por uma notação exclusiva, a fim de fornecer uma representação codificada do assunto. Diferentemente das classificações feitas em outras áreas do saber, na Biblioteconomia o plano da notação é utilizado devido à necessidade de representar os assuntos e fornecer um arranjo físico do acervo de forma lógica. Na prática, os bibliotecários já utilizavam esquemas classificatórios de forma intuitiva, mas Ranganathan propôs um aprofundamento teórico e metodológico sobre esses três planos, os quais devem ser pensados antes mesmo da criação da classificação. Esse matemático e bibliotecário indiano estava preocupado com a dinâmica da evolução do conhecimento. Pense bem: se o saber não é estático, se as diversas disciplinas podem interagir de formas infinitas e novas áreas podem surgir, como um sistema de classificação pode representar os assuntos mais complexos e novos? Ranganathan dedicou-se a criar um sistema de classificação e uma teoria pensando na questão de representar os conceitos com base na evolução constante do saber. Dessa forma, publicou sua “Colon Classification” em 1933, conhecida no Brasil como “Classificação de Dois Pontos”, e o livro intitulado Prolegomena to Library Classification em 1937, onde descreve sua teoria facetada. É o que veremos a seguir! 54 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA Com as leituras propostas no Tópico 3.1, você vai conhecer os fundamentos da teoria facetada de Ranganathan e das classificações especializadas. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado. Elementos fundamentais da teoria facetada Em relação aos conceitos, Ranganathan trabalha com a ideia de isolado, foco e faceta. Vamos imaginar alguns conceitos aleatórios: açúcar, arroz, assar, almoço, batata, batata frita, bolo, café, café da manhã, cozinhar, farinha, fritar, jantar, maisena, milho, pão, purê e ovo. Cada um desses conceitos, quando não reunidos, é chamado de isolado. Antes de continuar a leitura, tente agrupar esses conceitos. Como você faria isso? Eles dizem respeito ao universo da culinária, certo? Alguns são utilizados como base para o preparo: açúcar, arroz, batata, café, farinha, maisena, milho e ovo. Agrupados dessa forma, esses conceitos deixam de ser isolados e se tornam focos, agrupados dentro da faceta “ingredientes”. Outros conceitos são o resultado do preparo: batata frita, bolo, pão e purê, que podem ser agrupados na faceta “pratos”. Outros dizem respeito ao próprio preparo: assar, cozinhar e fritar. Dizendo de outra forma, a faceta é um conceito altamente abstrato que agrega aspectos que são comuns a outros conceitos mais específicos. 55© REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA Cada faceta pode ser subdividida aplicando-se uma diferença, o que criará uma subfaceta. Por exemplo, o açúcar na faceta “ingrediente” pode ser dividido segundo o tipo de refinamento: mascavo, demerara, cristal e refinado. Ranganathan utiliza a ideia de divisão em cadeia (arrays), aplicação gradativa de características que criam a ordem vertical, e a divisão em fileira, que ele chamou de renques, ou seja, separação horizontal dada pela aplicação de uma única característica. A Figura 1 ilustra o agrupamento em facetas e subfacetas. Fonte: elaborado pela autora. Figura 1 Elementos constituintes da classificação por facetas. O pão é um tipo de prato, mas ele também pode ser um ingrediente para o preparo de outros pratos, como o pudim de pão. O arroz é um ingrediente, mas também é o nome de um prato que costumamos preparar quase todos os dias. Em uma estrutura classificatória, onde eles devem ficar? É aí que a classificação facetada começa a ficar mais interessante e complexa. 56 © REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: CLASSIFICAÇÃO UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO FACETADA Para ajudar na estruturação dos focos dentro das facetas, Ranganathan criou suas próprias categorias fundamentais, que ficaram conhecidas como PMEST: 1) Personalidade (P): o objeto ou coisa em questão (quem). 2) Matéria (M): do que é feita a coisa (o quê). 3) Energia (E): de que forma essa coisa é feita, modifica- da, evolui (como). 4) Espaço (S): localização da coisa (onde). 5) Tempo (T): período envolvido (quando). Os focos são manifestações de uma das cinco categorias. No exemplo da culinária, podemos dizer que a Personalidade são os pratos (bolo, pão, purê), a Matéria são os ingredientes (arroz, farinha), a Energia são as técnicas de preparo (assar, cozinhar, fritar), o Espaço diz respeito à região típica do prato ou local de preparo (forno, fogão, churrasqueira) e o Tempo pode ser o período de servir a refeição ou o tempo de preparo (café da manhã, jantar). Mas nem sempre é fácil saber a qual categoria um conceito pertence. Ranganathan dizia que Personalidade é a categoria mais difícil de se identificar, e muitas vezes devemos usar o método de resíduo: se não for Matéria, Energia, Espaço ou Tempo, é Personalidade. Sobre a problemática de colocar o pão como Personalidade ou como Matéria, essa decisão pode ficar
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