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Vivianne Beatriz – Medicina ufal – Neurologia 7p Distúrbio cerebral caracterizado pela predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas, e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais dessa condição. Caracterizada por um estado de hiperatividade dos neurônios e circuitos cerebrais, capaz de gerar descargas elétricas sincrônicas anormais, podendo se manifestar de diversas formas; Doença neurológica de caráter crônico, por vezes progressiva com relação aos distúrbios cognitivos, frequência e gravidade dos eventos críticos; Afeta aproximadamente 1% da população mundial; Países desenvolvidos: 20-70/100.000 pessoas/ano; o Prevalência: 0,5% o 5-7% apresenta ao menos uma crise epiléptica ao longo da vida; o Acomete especialmente crianças e idosos (distúrbios do desenvolvimento e causas idiopáticas, processos neurodegenerativos e vasculares); Países em desenvolvimento as taxas são ainda maiores, porém com etiologia diferente; o Adultos jovens (causas infecciosas, parasitárias, TCE). Crises autolimitadas: generalizadas e focais; Crises contínuas: status epilepticus generalizado e focal; Principal causa de ocorrência de crises: uso incorreto da medicação! Fisiopatogenia As descargas neuronais excessivas e síncronas podem se originar de um único hemisfério cerebral (crises focais) ou de ambos os hemisférios cerebrais (crises generalizadas); Crises focais podem, com a propagação da descarga, se transformar em crises generalizadas; Ocorrem por excesso de excitação pelo glutamato ou falta de inibição pelo GABA; Os sintomas das crises dependem das partes cerebrais envolvidas. Ex: perda de consciência se acometer o SARA; Crises generalizadas: circuitos talâmicos, na geração de descargas difusas, bilaterais e síncronas; O dano celular e as consequências deletérias das crises decorrem de afluxo de cálcio durante a despolarização e ativação de receptores de aminoácidos excitatórios; Promove necrose celular aguda e morte celular por apoptose. Quadro clínico Aumento da contração muscular: fenômeno positivo; o Tônico: contração muscular mantida por poucos segundos-minutos; o Clônico: contração seguida de relaxamento, gerando abalos musculares sucessivos; o Mioclônico: contrações muito breves, semelhantes a choques. Diminuição da contração muscular: fenômeno negativo; o < 500ms: mioclonias negativas; o > 2s: crises atônicas. Crises recorrentes, não-provocadas e predisposição persistente precisam ser devidamente investigadas sobre Epilepsia. 1. Crises generalizadas Nestas crises, a consciência é sempre comprometida, EXCETO nas crises mioclônicas; Crise Tônico-Clônica; o Perda abrupta da consciência; o Contração tônica e depois clônica dos membros; o Apneia, liberação esfincteriana, sialorreia e mordedura de língua; o Pode ocorrer grito epiléptico. Crise Tônica; o Abalos tônicos, que duram de 10-20 segundos. Crise Clônica; o Abalos clônicos repetitivos; Crise Atônica; o Perda do tônus postural, promovendo queda lenta se o paciente estiver em pé; Crise Mioclônica; o Contrações musculares súbitas, breves e que se assemelham a choques; o Podem afetar a musculatura facial, tronco, extremidades ou um agrupamento muscular; o Paciente característico: jovem desastrado, principalmente pela manhã; Crise de Ausência; o TÍPICAS: breves episódios de comprometimento da consciência acompanhados de manifestações motoras muito discretas (automatismos orais e manuais). Duram de 10-30s, apresentam início e Vivianne Beatriz – Medicina ufal – Neurologia 7p término abrupto. DESENCADEADA POR HIPERVENTILAÇÃO! Acometem mais crianças!!! o ATÍPICAS: início e término menos abruptos, menor acometimento do nível de consciência, não são desencadeadas por hiperventilação. 2. Crises focais Envolvimento de uma porção de um hemisfério cerebral; Podem evoluir para crises tônico-clônica generalizadas; Crises focais motoras: apresenta automatismos; Podem ser perceptivas (não rebaixam o nível de consciência) ou disperceptivas (rebaixam o nível de consciência); 3. Crises sintomáticas agudas Distúrbios sistêmicos: metabólicos, infecções, drogas... Distúrbios neurológicos: cerebrovascular, TCE, infecções... ❖ Alterações da glicemia: o Hiperglicemia e hiperglicemia; o Podem gerar crises tônico-clônicas generalizadas; ❖ Alterações do sódio: o Hiponatremia: edema cerebral, confusão mental e coma; o Hipernatremia: hemorragias, edema cerebral, podem ocorrer crises durante a correção do sódio. ❖ Alterações do cálcio: o Hipocalcemia: principalmente!!! o Hipercalcemia: raro causar crises. ❖ Alterações tireoidianas: o Hipotireoidismo: crises tônico-clônicas generalizadas; o Hipertireoidismo: associado a agravamento do quadro epiléptico de quem já tem epilepsia; ❖ Insuficiência renal: o Uremia causa das crises!!! o Pode levar a hiponatremia, hipocalcemia e alterações glicêmicas; ❖ Insuficiência hepática o Hiperamonemia gera crise; o Evitar medicamentos que fazem metabolização hepática (valproato de sódio e benzodiazepínicos); ❖ Uso de drogas ilícitas e sua abstinência podem gerar crises; ❖ Uso de álcool: o álcool diminui o limiar epiléptico, mas é importante diferenciar se foi o álcool quem desencadeou a crise ou se o paciente já era epiléptico; o Sempre considerar a possibilidade de TCE oculto e HSA!!! ❖ AVC: maior risco de crise se for AVCh, trombose venosa cerebral, cardioembolia, ou se for um AVC em uma área cortical; o Profilaxia: AVCh! 4. Crise única Não precisa tratar; Recorrência 40-50%; Fatores de risco: lesão cerebral, EEG anormal, crise durante o sono, antecedentes de crises febris, status epilepticus; Diagnóstico História + exame clínico e neurológico; EEG Exames de imagem o Adultos e idosos: SEMPRE! o Crianças: talvez! (crises de ausências) Exames laboratoriais: marcadores inflamatórios, eletrólitos, glicose, etc; LCR: investigar meningites e encefalites. Tratamento Crises focais: carbamazepina (tegretol) ou fenitoína (hidantal); Diazepam: bom para TIRAR O PACIENTE DA CRISE (via retal); Vivianne Beatriz – Medicina ufal – Neurologia 7p Valproato de sódio (depakene): pega bem em crises focais e em crises generalizadas; o Evitar usar em mulheres jovens; o MUITO TERATOGÊNICO; Carbamazepam: responde melhor nas mioclonias (não é primeira escolha); Gabapentina: bom para pacientes com doença hepática (depuração renal!); Fenobarbital, valproato de sódio e lamotrigina: bom para crises generalizadas; Crises de ausência: etosuximida; Epilepsia na mulher: clobazam; Fenitoína: também serve para tirar o paciente da crise. Status Epilepticus EMERGÊNCIA NEUROLÓGICA! Crises convulsivas contínuas (>5min) OU 2 ou mais crises com incompleta recuperação de consciência entre elas (precisa de clínica e vídeo-EEG); Ocorre perda da autorregulação cerebral e dano neuronal! O paciente não tem história prévia de epilepsia (mas pode ter tido outras crises epilépticas de curta duração); É associada a alta mortalidade: depende do tempo de intervenção ao SE, sua etiologia e idade do paciente; Fácil diagnóstico quando há fenômenos motores! Compromete igualmente homens e mulheres; Incidência BIMODAL: primeiro ano de vida e >60 anos; Mortalidade de 3-40%; Fisiopatologia 0-30MIN: A crise epiléptica produz ácido lático, e aumenta os níveis de CO2, levando a uma acidose metabólica; 30-60MIN: A acidose lática leva a uma diminuição da PA, redução do fluxo sanguíneo cerebral, redução da oferta de O2 e glicose, levando a MORTE NEURONAL! Classificação de Treiman Status epilepticus convulsivo o Evidente ou sutil: desvio ocular, nistagmo, movimento sutil da mandíbula, lábio, dedos ou pálpebra; Status epilepticus não convulsivo o Atividade elétrica contínua por 30min; o Crise focal complexa ou crise de ausência Crises não epilépticas Complicações Contração persistente do diafragma: apneia + hipóxia! Acidose metabólica; Rabdomiólise: Liberação de potássio causando necrose tubular aguda; Estenose da artéria pulmonar: aumento da pressão pulmonar; Vômitos, perda de fluidos e eletrólitos; Hipertermia; Sudorese; Pneumonia por aspiração. Etiologia Em pacientes epilépticos: o Suspensão abrupta das drogas antiepilépticas; o Fadiga o Privação do sono o Ciclos hormonais o Fotoestimulação intermitente o Hiperventilação o Infecção Em pacientes não epilépticos: o AVE o TCE o Tumores o Infecção (tanto sistêmica quanto do SNC) o PCR o Alterações metabólicas (hipo/hipernatremia, hipercalcemia, encefalopatia hepática, encefalopatia urêmica, hipoglicemia); o Suspensão abrupta de benzodiazepínicos, opióides, drogas antiepilépticas (ex: vigabatrina) o Antibióticos: penicilinas, imipenem, ciprofloxacino o Imunossupressores o Contraste IV o Uso e abstinência de drogas ilícitas: álcool, anfetamina, ecstazy... Diagnóstico EEG e vídeo-EEG Tratamento Medidas gerais: o Oxigenação o Estabilidade hemodinâmica o Leito com grades e proteção lateral o Cânula de guedel entre os dentes o Aspiração constante o Sinais vitais e temperatura Tratamento medicamentoso de 1ª linha: o Benzodiazepínicos: diazepam 0,2mg/kg EV, pode repetir até 3x em 10min. Efeitos adversos: sedação, coma, depressão respiratória e hipotensão. o Fenitoína (hidantal): 15-20mg/kg em bomba de infusão. Efeitos adversos: arritmias cardíacas, hipotensão arterial, rash cutâneo, náuseas e vômitos; o Fenobarbital (gardenal) em dose de ataque: 5- 20mg/kg Tratamento medicamentoso de 2ª linha: o Valproato de sódio: 20-35mg/kg de ataque e 20- 40mg/kg de manutenção. Efeitos adversos: tremor, encefalopatia aguda reversível, hiperamonenia, pancreatite hemorrágica, trombocitopenia, hepatotoxicidade, malformação do tubo neural; o Topiramato: 600-1g durante 5 dias Tratamento medicamentoso de 3ª linha: o Pentobarbital 15mg/kg de ataque e 1,5mg/kg de manutenção; Vivianne Beatriz – Medicina ufal – Neurologia 7p o Tiopental sódico 100-250mg em 2min como dose inicial e 3-5mg/kg/h de manutenção; o Efeitos adversos dos barbitúricos: hipotensão arterial grave e uso prolongado de respiradores; o Midazolam intranasal. Efeitos adversos: depressão cardiovascular, hipotensão, sedação. Apresenta alta taxa de recorrência de crises. o Propofol 1-3mg/kg de ataque e 5-10mg/kg de manutenção. Efeitos adversos: hepatotoxicidade em crianças, acidose metabólica e depressão respiratória. Prognóstico Depende dos fatores de risco: idade, etiologia, tempo que permaneceu em crise... Mortalidade: na crise 1-2%, após 20-30%. LEMBRAR de status epiléptico não convulsivo em pacientes em coma!
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