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PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL -2016

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PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL
	
	Princípios da AÇÃO PENAL PÚBLICA
	Princípios da AÇÃO PENAL PRIVADA
	
	
	Princípio da obrigatoriedade – também afeto à ação penal pública. Conhecido também como princípio da legalidade processual. Não se reserva ao MP qualquer juízo de discricionariedade quando constatadas a presença de conduta delituosa e das condições da ação penal. 
	Princípio da oportunidade ou conveniência – este princípio se aplica à ação penal privada. Mediante critérios de oportunidade ou conveniência, o ofendido pode optar pelo oferecimento ou não da queixa.
	Princípio da indisponibilidade – O MP não pode desistir da ação penal proposta e nem do recurso que haja interposto.
	Princípio da disponibilidade – O querelante pode dispor da ação penal privada mediante: perdão do ofendido e perempção com extinção da punibilidade e desistência da ação.
	Matéria controvertida*- da divisibilidade (STF)
	Princípio da indivisibilidade – o processo de um obriga ao processo de todos.
	Algumas observações sobre os princípios supra:
Princípio da obrigatoriedade – A obrigatoriedade, ou legalidade da ação penal pública, determina que, preenchidas as condições da ação penal pública, o MP estará obrigado a oferecer a denúncia, não contado com qualquer discricionariedade nesta promoção (quando o MP se vê diante de um inquérito policial, com elementos de informação, materialidade, presentes as condições da ação, o MP é obrigado a oferecer denúncia)
	Não estando presentes as condições – uma delas, ao menos –, será caso de arquivamento, que também se rege pela obrigatoriedade, só que na via oposta: se as condições não estão presentes, o arquivamento é mandatório.
	A fiscalização da obrigatoriedade é incumbência do juiz: é ele quem vai, de forma anômala, funcionar como fiscal da obrigatoriedade da ação penal pública, pela norma que permite que discorde da promoção de arquivamento, contida no já dissecado artigo 28 do CPP.
Assim a propositura da ação penal pública é para o Estado uma imposição legal, pois, se não houver persecução criminal in iudicium, não poderá haver inflição de pena propriamente dita. 
Verificando o MP que há manifesta excludente de ilicitude, será obrigatória a denúncia? Melhor dizendo, é bastante a presença de um fato típico para tornar a denúncia obrigatória, ou é necessária a existência de um fato criminoso, de um injusto penal (fato típico e antijurídico)?
	É pacífico o entendimento doutrinário, hoje, de que a excludente de ilicitude é suficiente para fundamentar um pedido de arquivamento, ou seja, para que haja a obrigatoriedade da denúncia, é necessário o injusto penal, e não o mero fato típico. Este entendimento decorre de uma leitura do artigo 395, III, do CPP:
“Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:  (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único.  (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
	Havendo dúvida acerca da formação do injusto penal, ou seja, havendo dúvida sobre a existência ou não de uma excludente da ilicitude, o promotor deverá denunciar: aqui vige o princípio in dubio pro societatis.
	Da mesma forma, se for percebida alguma excludente de culpabilidade, tal como uma inexigibilidade de conduta diversa, o crime se desnatura; não havendo o preenchimento do crime, não pode haver denúncia: é necessário que haja o fato criminoso, e não o fato meramente típico.
Princípio da indisponibilidade – Este princípio, na verdade, é um consectário da obrigatoriedade, e diz respeito à impossibilidade de que a ação penal pública, uma vez iniciada, venha a sofrer desistência por parte do MP. Oferecida à denúncia, o MP não pode desistir da ação penal. O artigo 42 do CPP dita a regra:
“Art. 42.  O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.”
	Não fosse assim, a obrigatoriedade não teria qualquer sentido: proposta a ação penal, bastaria ao MP dela desistir logo em seguida, e a obrigatoriedade não teria tido qualquer efeito. Duas regras importantes aí: O MP não pode desistir da ação penal proposta e nem do recurso que haja interposto. Cuidado porque se a ação penal teve início, vc não pode desistir dela. Há denúncias que são verdadeiros absurdos, mas vc não pode desistir da ação penal. 
Art. 42, do CPP. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.”
“Art. 576, do CPP.  O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.”
Registre-se que o objetivo do MP, através da propositura da ação penal, não é a punição do acusado, mas a reintegração da ordem jurídica violada com a prática do crime que pode ter como consequência a privação da liberdade do acusado, mas não que aquele seja seu objetivo.
Princípio da indivisibilidade – o processo de um obriga ao processo de todos. Na ação penal privada, eu não sou obrigado a entrar com a queixa. Se eu entrar, eu posso abrir mão. Mas eu não vou escolher quem eu vou processar. Ou seja, ou eu processo todos ou eu não processo ninguém. 
Eu pergunto: quem é que fiscaliza o princípio da indivisibilidade. Outra coisa: o que acontece se eu quiser renunciar ao meu direito de queixa? Se eu quiser perdoar a um dos acusados? 
	“Renúncia e perdão concedido a um dos coautores estende-se aos demais”. 
	Se eu resolvo renunciar, isso aproveita a todos. O perdão, não. Pode acontecer de um dos acusados não aceitar o perdão. Aí o processo pode seguir em relação a ele.
	“O MP deve fiscalizar esse princípio:”
	“Art. 48, CPP.  A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.”
E do lado da ação penal pública? Qual é o princípio correlato? Aqui é um problema. Neste particular, há uma séria controvérsia na doutrina.
	* 1° ENTD) “Doutrinadores como o professor Denílson Feitosa e o professor Paccelli entendem que na ação penal pública vige o princípio da divisibilidade, sendo aí compreendido no seguinte sentido: o MP pode oferecer denúncia contra alguns suspeitos, sem prejuízo do aprofundamento das investigações em relação aos demais.” 
	Essa primeira posição prevalece na jurisprudência. No próprio caso do Mensalão o STF disse isso: “eu posso oferecer denúncia contra um e aprofundo as investigações com relação aos demais.” Julgados: STJ: REsp 388.476 (ou 3). O STF, também no HC 74.661, assim se manifestou:
“HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE ENTORPECENTES - EXECUÇÃO DA PENA EM REGIME FECHADO - CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º, § 1º, DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS - TARDIA ARGÜIÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA - REEXAME DE PROVA - INIDONEIDADE DO WRIT CONSTITUCIONAL - PEDIDO INDEFERIDO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES - CUMPRIMENTO INTEGRAL EM REGIME FECHADO - LEI Nº 8.072/90 (ART. 2º, § 1º) - CONSTITUCIONALIDADE. - O Plenário do Supremo Tribunal Federal proclamou a inteira validade jurídico-constitucional da norma inscrita no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 que impõe ao traficante de entorpecentes, sem qualquer exceção, o cumprimento integral da pena em regime fechado. O traficante de entorpecentes está sujeito, em face da natureza da infração que praticou, ao regime penal fechado imposto pela Lei nº 8.072/90. ENTORPECENTE - PEQUENA QUANTIDADE - CONFIGURAÇÃO PENAL DO DELITO. - Não descaracteriza o delito de tráfico de substância entorpecente o fato de a Polícia haver apreendido pequena quantidade de tóxico em poder do réu. Precedentes. INÉPCIA DA DENÚNCIA - MOMENTO DE SUA ARGÜIÇÃO. - Eventuais defeitos da denúncia devem ser argüidos pelo réu antes da prolação da sentença penal, eis que a ausência dessa impugnação, em tempo oportuno, claramente evidencia que o acusado foi capaz de defender-se da acusação contra ele promovida pelo Ministério Público. Doutrina e Precedentes. DEFESA DO RÉU - IMPUTAÇÃODE FATO PRECISA E DETERMINADA - IRRELEVÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA. - O réu se defende da imputação de fato contida na denúncia, e não da classificação jurídica eventualmente incorreta feita pelo Ministério Público na peça acusatória. - A possibilidade de ocorrência de nova definição jurídica do fato delituoso não justifica a aplicação da norma inscrita no art. 384, parágrafo único, do CPP, desde que essa nova definição encontre apoio em circunstância elementar contida, explícita ou implicitamente, na própria denúncia. O PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE NÃO SE APLICA À AÇÃO PENAL PÚBLICA. - O princípio da indivisibilidade - peculiar à ação penal de iniciativa privada - não se aplica às hipóteses de perseguibilidade mediante ação penal pública. Precedentes. REEXAME DA PROVA - MATÉRIA ESTRANHA AO HABEAS CORPUS. - O habeas corpus constitui remédio processual inadequado para a análise da prova, para o reexame do material probatório produzido, para a reapreciação da matéria de fato e, também, para a revalorização dos elementos instrutórios coligidos no processo penal de conhecimento. Precedentes.” (grifo nosso).
O STF diz que a ação penal de iniciativa privada é que é indivisível por força do art. 48 do CPP, mas não a pública. Veja:
“Praticado dois roubos em sequencia e oferecida a denúncia penas quanto a um deles, nada impede que o MP ajuíze nova ação penal quando o delito remanescente. Inexiste dispositivo legal que preveja o arquivamento implícito do inquérito policial, devendo o pedido ser formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do CPP. Inaplicabilidade do Princípio da indivisibilidade à ação penal pública.” (RHC 9541/RJ)
“O princípio da indivisibilidade não se aplica à ação penal pública. Daí a possibilidade de aditamento da denuncia quando, a partir de novas diligências, sobrevierem provas suficientes para novas acusações. Ofensa ao Princípio do Promotor natural. Inexistência: ausência de provas de lesão ao exercício pleno e independente de suas atribuições ou manipulações casuísticas e designação seletiva por parte do Procurador-Geral de Justiça.” (HC 96700/PE)
Veja o julgado do STJ no mesmo sentido da Corte Suprema:
“O não oferecimento imediato da denuncia com relação ao Paciente não implica na renuncia tácita ao jus puniendi estatal, pois o princípio da indivisibilidade não é aplicável a ação penal pública incondicionada, diferentemente da ação penal privada. Segundo o ordenamento jurídico pátrio , o arquivamento da ação penal pública depende de pedido expresso do MP, e somente pode ser determinado por juiz.” (HC 95344/RJ).
Princípio da oportunidade ou Conveniência – 
Enquanto na ação pública vigora o princípio da obrigatoriedade, a ação penal privada sujeita-se ao princípio da oportunidade. Isso porque, sendo o titular da ação a vítima, a ela cabe propor ou não a ação, conforme sua conveniência.
Este princípio determina que a vítima proporá a queixa se for de seu interesse. É um critério absolutamente discricionário do ofendido. Os institutos que materializam este princípio são a renúncia ,a decadência 
Eu pergunto a vocês: como é que essa oportunidade ou conveniência se manifesta na ação penal privada?
	“O ofendido deixa de exercer o direito de ação penal privada pelo decurso do prazo (decadência), pela renúncia do direito de queixa e pelo pedido de arquivamento.”
	Tem coisas que são ridículas, mas tem gente que acha que é possível o arquivamento do inquérito. Se vc é vítima, vai se dar o trabalho de ir lá pedir o arquivamento? Seria um negócio meio lusitano porque é obvio que ninguém faz isso. Mas alguns doutrinadores citam isso.
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
A renúncia é um ato unilateral, que não precisa da aceitação da outra parte, e é comunicável, ou seja, a renúncia dirigida a um co-autor do crime se estende aos demais.
Princípio da disponibilidade – Consectário lógico da oportunidade, significa que o querelante pode desistir da ação penal privada, pode dispor do andamento da ação penal. Este princípio é materializado pelos institutos da perempção, cujas hipóteses constam do artigo 60 do CPP, e o perdão do ofendido, que é manifesto no artigo 51 e seguintes do CPP:
“Art. 51.  O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.”
“Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.”
	O perdão é um ato bilateral, que depende da aceitação do acusado, e é comunicável: o perdão oferecido a um dos co-autores se estende obrigatoriamente aos demais.
	Na queixa, que é a peça inicial da ação penal privada, não é necessária a consignação expressa do pedido de condenação: se a ação penal privada foi proposta, o pedido possível, ao final, é um só – a condenação. Sendo assim, a não consignação expressa de tal pedido não torna inepta a queixa, e, diga-se, também na denúncia este raciocínio se aplica, pois o pedido penal é um só, e por isso pode ser implícito. Na ação penal privada, o querelante deverá afirmar, contudo, o pedido de condenação nas alegações finais, como forma de reforço do seu entendimento de que o crime e a autoria existem, após a instrução criminal.
	Veja: o princípio da correlação, na ação penal condenatória, não é como no processo civil: não se adstringe a sentença ao pedido, mas sim à imputação dos fatos que for realizada, pois o pedido é um só.

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