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SERVIÇO SOCIAL E VIOLÊNCIA

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Serviço Social e 
Violência
Serviço Social e 
Violência
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2015
Caroline Fernanda Santos da Silva
Michelle Bertóglio Clos
Ângela Mª Pereira da Silva
Giovane Antônio Scherer
Iarani A Galúcio Lauxen
Lúcia Capitão
Arno Vorpagel Scheunemann
Ana Patrícia Barbosa
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
ISBN: 978-85-5639-050-9
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Ane Sefrin Arduim
Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero – ULBRA/Canoas
 
S491 Serviço social e violência / Organizado por Universidade Luterana do 
Brasil. – Canoas: Ed. ULBRA, 2015. 
 208 p. : il. 
 
 
 
 1. Serviço social. 2. Violência. 3. Assistência social. I. Universidade Luterana 
do Brasil. 
 
 
 CDU 364.442.2 
 
A violência se constitui como constante desafio, não só para o Serviço Social, mas para a sociedade como um todo, considerando os níveis 
de incidência cada vez mais expressivos. Para o Serviço Social, o desafio se 
intensifica, sobretudo quando considerados os inúmeros direitos violados 
pela estrutura, relações, processos e ações violentas que ameaçam o exer-
cício da cidadania e violam direitos.
Veremos, ao longo deste livro, que a violência sempre esteve presente 
na história da humanidade e, diante disso, diversas são as respostas ela-
boradas, tanto pelas ciências sociais, quanto pelos governos e pelos mo-
vimentos sociais em diferentes níveis. Nas situações de violação de direitos 
atendidas nos diferentes espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social se 
revelam as entrelinhas da relação entre a violência e as contradições pro-
duzidas entre capital e trabalho – fruto das relações impostas pelo modo 
capitalista de produção. Tais questões têm demandado respostas, tanto 
em nível individual quanto coletivo e, de fato, a intervenção qualificada 
do(a) Assistente Social. Essa intervenção requer compreensão aprofundada 
dos aspectos sócio-históricos, políticos, econômicos, de ordem material e 
simbólica, haja vista a complexidade do fenômeno. Este livro apresenta 
diferentes informações e reflexões, contribuindo nessa compreensão.
Assim estão organizados os dez capítulos:
Capitulo 1 – A cultura da violência e sua materialização no mundo e 
no Brasil. Discute nuances provocadas pela globalização da economia, 
bem como aspectos particulares da violência na realidade social brasileira;
Capitulo 2 – Violências: clarificando conceitos, definindo categorias. 
Discute a relação entre violência e história, apresentando os tipos de vio-
lência, bem como uma discussão sobre a criminalidade;
Apresentação
Apresentação v
Capitulo 3 – Os movimentos sociais na constituição das políticas pú-
blicas de enfrentamento da violência. Discute as políticas públicas de segu-
rança enquanto instrumentos de enfrentamento da violência na sociedade 
brasileira;
Capitulo 4 – Violência de gênero e diversidade sexual. Reflete a violên-
cia doméstica e familiar contra a mulher, a política nacional de enfrenta-
mento de tal problemática, o papel dos movimentos LGBT (Lésbicas, gays, 
bissexuais e travestis) na consolidação da diversidade sexual e dos direitos 
sexuais no contexto dos direitos humanos;
Capitulo 5 – Violência urbana e juventudes. Apresenta conceitos e dis-
cute a relação deste público com os diferentes tipos de violências, bem 
como, os processos de (in)visibilidades da juventude brasileira;
Capitulo 6 – O processo de trabalho do assistente social no enfrenta-
mento à violência. Situa o fenômeno da violência e o processo de traba-
lho do assistente social, contemplando uma discussão sobre os espaços 
sócio-ocupacionais em que o Assistente Social está inserido, bem como a 
importância da intervenção multidisciplinar;
Capitulo 7 – Trabalhando com vítimas de violência: cuidados necessá-
rios. Discute a estruturação da violência e seu impacto na humanidade das 
vítimas e, apresenta cuidados necessários para a interação do(a) assistente 
social com vítimas de violência;
Capitulo 8 – Trabalho do(a) assistente social com perpetradores da 
violência. Apresenta uma contextualização da violência e a rede prevista 
para atendimento de autores de os atos violentos;
Capitulo 9 – Prevenção da violência no contexto escolar: relato de 
uma experiência. Apresenta o projeto de extensão universitária “Promoção 
da paz”, desenvolvido desde 2012 pelo curso de Serviço Social da ULBRA, 
destacando o papel da extensão universitária no enfrentamento à violência, 
bem como a importância da articulação de redes na construção de uma 
educação não sexista;
vi Apresentação
Capitulo 10 – Justiça restaurativa em contextos de violência. Apresenta 
considerações a respeito desse tema, situando-o como estratégia de apro-
ximação de vítimas e respectivos autores de violências.
Esperamos que este conjunto de contribuições constituam subsídios 
para o planejamento, organização, operacionalização de ações voltadas 
para o enfrentamento das diferentes formas de violência e o atendimento 
de vítimas e agressores. Igualmente, que contribuam para a articulação 
de redes de pertença, apoio e serviços que favoreçam o fortalecimento da 
força em presença, especialmente das vítimas. 
Boa leitura!
 1 A Cultura da Violência e sua Materialização no 
Mundo e no Brasil ................................................................1
 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo Categorias ....20
 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência .................36
 4 Violência de Gênero e Diversidade Sexual ..........................55
 5 Violência Urbana e Juventudes ...........................................76
 6 O Processo de Trabalho do Assistente Social no 
Enfrentamento da Violência ................................................91
 7 Trabalhando com Vítimas de Violência: Cuidados 
Necessários ......................................................................117
 8 Trabalho do(a) Assistente Social com Perpetradores(a) de 
Violências .........................................................................143
 9 Prevenção à Violência em Contexto Escolar: Relato de 
Experiência .......................................................................164
 10 Justiça Restaurativa em Contextos de Violência .................187
Sumário
Capítulo 1
A Cultura da Violência 
e sua Materialização no 
Mundo e no Brasil
1 Professora mestre em Serviço Social. Assistente Social vinculada à Prefeitura Mu-
nicipal de Esteio e docente na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas 
RS, do Curso de Serviço Social. Coordenadora do projeto de extensão universitária 
da ULBRA: “Promoção a Paz e estratégias para combater a violência de gênero na 
escola”.
Caroline Fernanda Santos da Silva1
2 Serviço Social e Violência
O movimento começou, o lixo fede nas calçadas.
Todo mundo circulado, as avenidas congestionadas.
O dia terminou, a violência continua.
Todo mundo provocando todo mundo nas ruas.
A violência está em todo lugar.
Não é por causa do álcool, nem é por causa das drogas.A violência é nossa vizinha – não é só por culpa sua, nem 
é só por culpa minha.
Violência gera violência: violência doméstica, violência 
cotidiana.
São gemidos de dor, todo mundo se engana...
Você não tem o que fazer, saia para a rua.
Para quebrar minha cabeça ou para que quebrem a sua.
Violência gera violência.
Será que tudo está podre, será que todos estão vazios?
Não existe razão, nem existem motivos.
Não adianta suplicar porque ninguém responde.
Não adianta implorar, todo mundo se esconde.
É difícil acreditar que somos nós os culpados.
É mais fácil culpar Deus ou então o diabo.
(Letra da música Violência – Titãs)
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 3
Introdução
Sabe-se que a violência nunca esteve tão presente em nossas 
vidas! Seja através da mídia ou dos debates que acontecem 
nas diferentes vizinhanças, a violência e suas manifestações 
têm merecido cada vez mais nossa atenção e preocupação, 
seja como cidadãos ou como profissionais e estudantes de 
Serviço Social. Essa atenção constante nos instiga à busca de 
respostas para os fenômenos vivenciados e/ou para a constru-
ção de alternativas capazes de combater o aumento crescente 
desse fenômeno.
Assim, a proposta desse capítulo é apresentar algumas re-
flexões sobre a cultura da violência e sua materialização na 
sociedade brasileira, pois é fato que ela ocupa grande espaço 
em nossas vidas e, muitas vezes, determina nossos hábitos, 
atitudes e condutas. Mas será que a violência é uma só? E será 
que é possível oferecer a ela uma justificativa ou causa?
O tema é complexo e nos provoca o seguinte questiona-
mento: afinal, violência ou violências[...] Vamos falar sobre 
esse assunto?
4 Serviço Social e Violência
1.1 A cultura da violência em tempos de 
globalização
Figura 1 Violência nas ruas. Disponível em: http://pixabay.com/pt/
anarquia-motim-viol%C3%AAncia-brutal-152588/
As intensas e notáveis modificações pelas quais passa o 
mundo não fogem à análise dos autores da atualidade, pre-
ocupados que estão em descrever as mudanças e, sobretudo, 
traçar tendências de uma (con)vivência possível entre as pes-
soas no presente e no futuro. Alguns desses autores debruçam 
seus esforços na narrativa das assustadoras consequências 
ocasionadas pela rápida difusão da globalização hegemôni-
ca (DEMO, 2003), numa conjuntura em que os possuidores 
de capital têm cada vez mais perspectivas de “liberdade” e 
os despossuídos dele cada vez mais perspectivas de “priva-
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 5
ção” (BAUMANN, 1999). Nesse quadro, associado à questão 
social, a violência se inscreve como importante categoria de 
análise para o entendimento da sociedade nos dias atuais, 
visto que, na direção apontada por Telles (2001, p. 21): “[...] 
ela possibilita uma problematização das sociedades em sua 
história, dilemas e perspectivas de futuro”.
Ao longo da história diversas tradições sociológicas bus-
caram constituir instrumentos de compreensão da violência, 
visto que ela sempre esteve presente em nossa sociedade. Os 
autores apontam que como realidade histórica, como repre-
sentação coletiva e, como objeto de análise para as ciências 
sociais, a violência contemporânea modela-se a partir de no-
vos paradigmas, exigindo que sua análise seja feita de manei-
ra ampla, considerando desde o sujeito e o contexto em que 
vive até as situações mais coletivas.
A ideia de um novo paradigma da violência é apresentada 
por Wieviorka (1997) e se dá pelo exame das mudanças que 
remetem a seus significados, às percepções e aos modos de 
abordagem sobre a violência. Todas essas questões deman-
dam investigações, estudos e análises complementares e dinâ-
micas, tendo em vista que as múltiplas expressões da violência 
são produto da evolução histórica: ela se configura atualmen-
te como uma forma de paradoxo, acontecendo em grandes 
proporções e, ao mesmo tempo, parecendo permanecer invi-
sível. É tolerada ou suportada em alguns países e percebida 
quase como inscrita no funcionamento normal da sociedade.
É fato que a violência se apresenta como característica im-
portante deste tempo histórico. Nos anos 60 e 70 do século 
6 Serviço Social e Violência
XX, a violência era, de alguma forma, vista e justificada por in-
telectuais e revolucionários como uma ferramenta de atuação 
para revolução e imposição de sua ideologia, como ocorreu 
nos anos 60 e 70 na América Latina, com a implantação das 
ditaduras militares, especialmente no Brasil e no Chile.
Em conjunto com tais questões, as transformações ocasio-
nadas pela globalização acarretam um conjunto de mudanças 
radicais nas sociedades como um todo. Tais mudanças vão 
desde as transformações econômicas, passando pelas mudan-
ças nos padrões da sociedade ligados ao mundo do trabalho, 
até a fragmentação social e cultural.
Nesse sentido, Wieviorka (1997) sinaliza que assim como 
a economia, a violência sofreu um processo de privatização, 
escapando do controle estatal. Essa questão nos conduz à re-
flexão sobre os papéis exercidos por diferentes agentes com 
relação ao aumento desmedido da violência: mídia – gover-
nos – sociedade civil, visto que se um deixa de assumir uma 
parcela da responsabilidade, outros precisarão fazê-lo.
Seguindo nessa linha de raciocínio, sempre houve uma li-
gação entre o Estado e a violência, o que se agrava no atual 
contexto social de enfraquecimento da maior parte dos Esta-
dos. Com a mundialização, ficou mais difícil o controle que os 
países possuíam sobre seu quadro territorial, administrativo e 
político da economia, pois os fluxos, as decisões, a circulação 
de indivíduos, os capitais e até mesmo a informação aconte-
cem mundialmente (WIEVIORKA, 1997). O autor relata que a 
mundialização da economia encoraja uma fragmentação da 
cultura, incentivada também pela mídia.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 7
Sendo assim, é fácil ver que a violência traduz em atos a 
vontade defensiva, e mesmo contraofensiva, de grupos desejo-
sos de afirmar sua identidade cultural – esse processo pode ser 
visualizado dentro das sociedades mais desenvolvidas onde 
estão presentes a miséria, a exclusão, e as formas de discrimi-
nação social e racial. Pode-se, assim, dizer que a mundializa-
ção da economia, e suas ligações diretas com a fragmentação 
cultural e social, contribui para a mundialização da violência.
A violência não é característica exclusiva do Estado nos 
dias de hoje, visto que sempre esteve presente na história da 
humanidade. Ocorre que, em virtude das características des-
ses novos tempos, o Estado está retirando a responsabilidade 
que tem frente à violência e esta sociedade não está conse-
guindo se adaptar à atual realidade apresentada em relação à 
segurança (WIEVIORKA, 1997).
Nesse contexto, o Estado questiona a relação entre cultura 
e sociedade, em um cenário em que identidades se firmam 
e reivindicam seu reconhecimento nos espaços públicos. Aí, 
para Wieviorka (1997), a identidade cultural também contribui 
para o aumento da violência física, porque coloca em che-
que a constituição das identidades nacionais. Nesse processo, 
onde o Estado é antigo ele se enfraquece, onde ele é recente 
se torna frequentemente corrompido, em virtude de suas pró-
prias carências. Mesmo sem generalizações com relação ao 
papel dos Estados, temos que a concepção da violência na 
atualidade tem carregado consigo a ideia de um declínio-su-
peração do Estado, descrito muitas vezes como causa, fonte 
ou justificativa da violência.
8 Serviço Social e Violência
Convém refletir sobre a inter-relação de três elementos com 
relação à violência, sendo ela apreendida através das distin-
ções políticas, econômicas e culturais:
A violência contemporânea situa-se no cruzamento do 
social,do político e do cultural do qual ela exprime 
correntemente as transformações e a eventual desestru-
turação. Ela pode circular de um registro a outro, por 
exemplo, ser a princípio, social, antes de se elevar ao 
nível político, ou ao contrário, constituir uma privatização 
onde problemas políticos tornam-se puramente econô-
micos, ou mais ainda, passar de frustrações sociais a um 
esforço para mobilizar recursos culturais. (1997, p. 36)
A partir dos elementos expostos acima, passamos agora a 
refletir sobre a maneira como tais aspectos se materializam na 
sociedade brasileira.
1.2 A materialização da violência na 
sociedade brasileira
A partir da discussão apresentada no item anterior, podemos, 
agora, ater nossas reflexões à materialização da cultura da 
violência na sociedade brasileira. Ou seja: se trata agora de 
pensarmos em como a violência se concretiza, em suas dife-
rentes facetas. 
É fato que ela possui um caráter ontológico e por isso não 
pode ser dissociada da condição humana, se apresentando 
em diferentes tipos de sociedade e em diferentes tempos his-
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 9
tóricos. Da mesma forma, diversos autores demonstram a im-
portância de analisar a violência dentro da sociedade que a 
produz, com suas especificidades internas e particularidades 
históricas. Assim, é imprescindível considerar a violência como 
um processo sócio-histórico, conforme aponta Minayo (2006), 
preocupando-se, então, em não oferecer a ela uma definição 
fixa e simples, sob o risco de reduzi-la ou compreender mal 
sua evolução histórica em cada sociedade.
A partir disso, é possível identificar que uma das principais 
características da atual configuração da violência na socieda-
de brasileira é o papel desempenhado pelo mito da cordialida-
de, bem exposto por Minayo (2006), mas abordado também 
por diversos outros autores2. Esse mito versa sobre a relação 
estabelecida entre o povo brasileiro, onde, em um momento, 
somos todos iguais – misturados e miscigenados – e, em outro, 
somos muito diferentes – o outro é então visto como inimigo. 
Para a autora (2006):
A ausência de sintonia cultural, moral e espiritual entre 
um povo que chega como dominador e inicia uma mis-
2 Segundo Ianni (2002), a construção do pensamento a respeito do mito da cor-
dialidade brasileira pode ser encontrada em diversas obras: “[...] Vale a pena re-
lembrar alguns: Tavares Bastos, A Província; Silvio Romero, História da Literatura 
Brasileira; Joaquim Nabuco, O Abolicionismo; Raul Pompeia, O Ateneu; Euclides 
da Cunha, Os Sertões; Lima Barreto, O Triste Fim de Policarpo Quaresma; Oliveira 
Vianna, Evolução do Povo Brasileiro; Mário de Andrade, Macunaíma; Paulo Prado, 
Retrato do Brasil; Graciliano Ramos, Vidas Secas; José Lins do Rego, Fogo Morto; 
Caio Prado Jr., Evolução Política do Brasil; Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do 
Brasil; Gilberto Freyre, Interpretação do Brasil; Raimundo Faoro, Os Donos do Po-
der; Florestan Fernandes, A Revolução Burguesa; Clovis Moura, Rebeliões da Sen-
zala; Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira; Alfredo Bosi, Dialética da 
Colonização; Celso Furtado, Brasil: A Construção Interrompida”.
10 Serviço Social e Violência
cigenação com o povo que aqui se encontra constitui o 
sentimento mais profundo que alimenta os vários tipos 
de segregação e crueldade que persistem na experiência 
nacional de quinhentos anos, sobretudo, contra a popu-
lação pobre. (2006, p. 26)
A história de nosso país é marcada, desde o início, por 
uma série de violências, que para Minayo “[...] traduzem a 
existência de problemas sociais que não se transformam em 
tema de debate e busca de solução pela sociedade”. (2006, p. 
21). Uma análise a respeito do quadro de evolução e consti-
tuição de direitos na sociedade brasileira demonstra que os te-
mas envolvendo alguns públicos específicos, como as crianças 
e adolescentes, os idosos e as mulheres, por exemplo, passam 
a ter maior reconhecimento social após sua ampla discussão, 
como a ocorrida no processo da Constituinte. 
Apesar disso, mesmo com os direitos de tais grupos asse-
gurados, as disputas por espaço e/ou reconhecimento social 
daqueles tradicionalmente excluídos dos processos decisórios 
ainda pode, por vezes, levar a atos de violência, em nome da 
busca por um certo “lugar ao sol”. 
Outra característica marcante da sociedade brasileira se 
refere às violências consideradas toleradas, haja vista que é 
fundamental perceber que a violência não está presente só 
nos atos agressivos que deixam marcas físicas, mas também 
se manifesta em ações cotidianas e até corriqueiras. Em con-
junto com isso, geralmente responsabilizamos “o outro” pelos 
atos violentos, ao invés de nos vermos também envolvidas no 
processo.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 11
Minayo (2006) considera que esse tipo de violência se 
constitui:
[...] como condição de manutenção de negócios ile-
gais, frequentemente de origem globalizada e que se 
beneficiam das facilidades geradas pelas revolucionarias 
transformações nos modos de produção de riqueza e 
dos aparatos técnico-informacionais e comunicacionais. 
(2006, p. 31)
Conforme vimos no início desse capítulo, no Brasil, mesmo 
as velhas práticas de violência estão submetidas às expressões 
mais hegemônicas da história atual. Assim, o que costumamos 
ver no Brasil é a conjunção da legalidade e ilegalidade lado 
a lado, como, por exemplo, em estabelecimentos comerciais 
onde se faz o jogo do bicho e onde existem máquinas de jogo 
de azar, dentre outros. Assim como a corrupção, que está sen-
do amplamente discutida pela sociedade brasileira nos últimos 
tempos, a violência está presente em diversas situações e nos 
instiga à revisão de nossas práticas cotidianas.
Ainda recebe destaque na abordagem de Minayo (2006) a 
relação entre violência e subjetividade, pois esse mesmo mun-
do que se modifica e toma proporções alarmantes no que tan-
ge aos efeitos da globalização e da criminalidade, é também 
o mundo da demanda pelo reconhecimento: “[...] no espaço 
público, de identidades particulares e da exigência de repa-
ração de injustiças ancestrais” (2006, p. 22). Tal questão se 
aplica, especialmente no caso do Brasil, às populações negras 
e indígenas.
12 Serviço Social e Violência
Essa é a era dos movimentos sociais das ditas “minorias”, 
que transformaram sua opressão em causas sociais. E qual 
o efeito de tais questões nesse processo de enfrentamento à 
violência? Muitas das legislações hoje existentes com relação 
à proteção de grupos específicos contra a violência são frutos 
dessas ações dos movimentos sociais, o que será tema de nos-
sa discussão nos próximos capítulos deste livro.
O período da ditadura militar deixou importantes marcas 
na sociedade brasileira e uma de suas piores consequências 
foi o aprofundamento da cultura autoritária. Para Minayo 
(2006):
Por isso, os elementos autoritários frequentemente res-
surgem nos comportamentos políticos, institucionais e 
nos microprocessos sociais, alimentando formas de vio-
lência social, de coronelismo, de patrimonialismo e de 
clientelismo. É claro que esses problemas têm raízes mais 
profundas, mas um dos grandes males da ditadura foi 
fazê-los florescer e se arraigar. (2006, p. 29)
Então, é comum nos depararmos com comportamentos 
autoritários, em diversos locais que frequentamos cotidiana-
mente. O simples fato de perguntar, questionar a pessoa, res-
peitando sua autonomia, pode ser um ato que colabore para 
a não violência. Parece cada vez mais urgente a construção 
de alternativas que promovam a paz3 na sociedade – então, 
3 Nessa direção se configura o projeto de extensão universitária desenvolvido pela 
ULBRA, que através de oficinas socioeducativas procura desmistificar a violência 
contra a mulhere encontrar estratégias coletivas para o combate à violência de 
gênero nas escolas do município de Canoas – RS.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 13
para além de cobrar do Estado e das autoridades ações de 
combate à violência, também é preciso que cada um faça a 
sua parte, reduzindo a violência presente nas relações sociais 
cotidianas.
Além disso, a autora faz uma relação entre violência e 
democracia, sinalizando o fato de que compreender atos de 
violência como negativos demonstra um status superior da 
consciência social a respeito dos direitos dos indivíduos e das 
coletividades. Esse fato, para Minayo (2006), acompanha o 
progresso do espírito democrático:
Pois é a partir do momento em que cada pessoa se consi-
dera e é considerada “cidadã” que a sociedade reconhe-
ce seu direito à liberdade e à felicidade e que a violência 
passa a ser um fenômeno relacionado ao emprego ilícito 
da força física, moral ou política, contra a vontade do 
outro. (2006, p. 17)
Para Minayo (2006), a consciência nacional sobre o au-
mento da violência social coincide com os processos de aber-
tura democrática do país (final dos anos 70 e início dos 80), 
quando crescem os movimentos sociais em prol dos direitos e 
emancipação das ditas “minorias”. Ou seja, não é que a vio-
lência não existisse na sociedade brasileira – muito ao con-
trário, já que a autora nos conduz a um entendimento am-
pliado da forma como a violência esteve presente na história 
do Brasil, desde “o descobrimento”, passando pelas diversas 
perversidades provocadas pela escravização dos indígenas e 
negros, até a total exceção de direitos imposta pela ditadura 
militar – mas ela passa a ser mais vista e mais valorizada à 
14 Serviço Social e Violência
medida que a população passa a conviver com a democra-
cia.
A partir destas características identificadas, é importante 
termos em mente que, ao mencionar a violência no Brasil, 
estamos falando de um processo “estruturante” da nossa reali-
dade, enquanto país e enquanto nação. O tipo de segregação 
presente no Brasil pode ser comparado aos regimes de apar-
theid de outros países4.
Uma das formas mais contundentes de violência no 
Brasil, que se poderia chamar estrutural e ”estruturan-
te” pelo seu grau de enraizamento, são os níveis eleva-
díssimos de desigualdade que persistem historicamente 
e são o chão sobre o qual se assentam muitas outras 
expressões. O Brasil sempre foi marcado por ambiva-
lências e ambiguidades de um país escravista e coloni-
zado em que as relações sociais hoje estão entranhadas 
num tipo de apartheid considerado, por muitos autores, 
como mais iníquo que o dos EUA e o da África do Sul. 
(2006, p. 27)
Em uma análise sobre as formas de violência predominan-
tes na América Latina no início do Século XXI, Santos (2002) 
sinaliza algumas questões importantes a serem consideradas. 
Observe o quadro abaixo:
4 O apartheid (separação) foi um regime de segregação racial adotado de 1948 
a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul. Nesse re-
gime, os direitos da grande maioria dos habitantes (negros) foram cerceados pelo 
governo formado pela minoria branca. (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Apartheid). Acesso realizado em: 19.abri. 2015.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 15
Tipo de Violência Possíveis causas
1. Violência estrutural Decorrente de características da 
estrutura social e econômica dos 
países latino-americanos desde a 
década de 1990: concentração 
da propriedade da terra, efeitos 
das políticas de ajuste estrutural, 
corrupção, concentração de 
renda, desigualdade social. 
2. Violência criminal urbana Seja pelas ações do crime 
organizado, em especial o tráfico 
de drogas e o comércio ilegal 
de armas, seja pela difusão do 
uso de armas de fogo, ambos 
provocando uma maior letalidade 
nos atos delitivos.
3. Violências nos conflitos 
sociais agrários
Manifestam-se como forma de 
dominação que se exerce pelo 
silêncio temeroso ou como 
violência política contra os 
agentes das lutas sociais pela 
posse ou propriedade da terra.
Adaptado pela autora da obra de Santos (2002). Dis-
ponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-
-45222002000200002&script=sci_arttext
Assim, verificamos que o aumento dos processos estrutu-
rais de exclusão social, historicamente presentes na história do 
Brasil, pode gerar o aumento das práticas de violência como 
norma social, em vários grupos sociais. Portanto, o combate à 
16 Serviço Social e Violência
violência deve passar, necessariamente, pela construção de al-
ternativas que combinem ações realizadas nos campos: social, 
político, econômico e cultural.
Considerações finais
Esse capítulo procurou apresentar algumas reflexões sobre a 
cultura da violência e sua materialização na sociedade brasi-
leira. A partir da contribuição de diversos autores, refletimos 
sobre as “novas” características assumidas pela violência, es-
pecialmente no que se refere aos significados, às percepções e 
aos modos de abordagem sobre ela.
Nesse sentido, vimos que conceituar a violência “[...] é fun-
damental para que ela saia da condição de problema social e 
passe para a condição de objeto sociológico” (ULBRA, 2009, 
p. 11). Essa conceituação, no entanto, precisa ir além das no-
ções formadas pelo senso comum, já que um dos maiores 
desafios que se apresentam para o enfrentamento da violência 
é objetivá-la, descobrindo as características que estão por trás 
de suas representações imediatas.
Assim, esperamos que a reflexão sobre as principais ca-
racterísticas da violência em nossa sociedade possa contribuir 
para a construção de alternativas capazes de combater seu 
aumento, considerando as especificidades e potencialidades 
da nossa população. A promoção da paz se coloca como 
um contraponto às diversas situações de violência do mundo 
atual.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 17
Recapitulando
Nesse capítulo, nós trabalhamos com a cultura da violência 
e sua materialização no mundo e no Brasil. Através da con-
tribuição de diversos autores, observamos que a violência se 
apresenta atualmente como novos recortes e características, 
mas ainda carrega as marcas de um passado violento, presen-
te desde o início de nossa sociedade.
Também apresentamos informações sobre as principais 
manifestações da violência na sociedade brasileira, bem como 
seus impactos em nossas vidas. Assim, sinalizou-se o desafio 
de encontrar alternativas para a promoção da paz, em contra-
ponto à cultura da violência.
Referências
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Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil – o longo ca-
minho. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
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Região. Coletânea de Leis Revista e Ampliada. Porto 
Alegre, 2005.
DEMO, Pedro. Pobreza e Cidadania. Petrópolis: Vozes, 2003.
IANNI, O. Tipos e mitos do pensamento brasileiro. In: So-
ciologias n.7. Porto Alegre jan./jun 2002. Disponí-
18 Serviço Social e Violência
vel em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-
-45222002000100008&script=sci_arttext). Acesso 
realizado em: 15.abr.2015.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violência e Saúde. Rio de 
Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.
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Editora UFRGS, 2011.
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mas da violência no Brasil. In: SCHWARTZ, L. (org.). His-
tória da vida privada. Vol. IV, São Paulo: Cia. das Letras, 
1998.
Capítulo 1 A Cultura da Violência e sua Materialização... 19
Atividade
 1) Observe com atenção as afirmativas abaixo e assinale a 
alternativa adequada, considerando V para Verdadeiro e F 
para Falso:
a) ( ) São consideradas características da forma como a 
violência se apresenta na sociedade brasileira: o apro-
fundamento da cultura autoritária e a forte presença 
do mito da cordialidade.
b) ( ) A violência possui um caráter ontológico e por isso 
pode ser dissociada da condição humana, se apresen-
tando em diferentes tipos de sociedade e em diferentes 
tempos históricos.
c) ( ) A relação entre violência e democracia sinaliza 
que compreender atos de violência como negativos 
demonstra um status superior da consciência social a 
respeito dos direitos dos indivíduos e das coletividades.
d) ( ) A afirmação de identidades culturais pode ser vista 
como fato causador da violência na sociedade brasi-
leira.
e) ( ) Sabemos que nunca houve uma ligação entre o 
Estado e a violência. Agora, no atual contexto social, 
tal relação se agrava pelo enfraquecimento da maior 
parte dos Estados.
Gabarito:
a) V b) F c) V d) F e) F
Michelle Bertóglio Clos1
Capítulo 2
Violências: Clarificando 
Conceitos, Definindo 
Categorias
1 Assistente Social, mestre em Educação pela UFRGS, doutoranda em Gerontolo-
gia Biomédica pelo Instituto de Geriatria e Gerontologia / Pontifícia Universidade 
Católica do Rio Grande do Sul. Docente do curso de Serviço Social da Universidade 
Luterana do Brasil – ULBRA. 
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 21
Introdução
A violência é um fenômeno de alta relevância social, seja 
no campo das políticas públicas, dos discursos, quanto das 
ações. A violência pode ser expressa de múltiplas formas e o 
seu enfrentamento um ideal a ser perseguido por variados seg-
mentos sociais. Neste capítulo, abordaremos diferentes tipos 
de violência e sua manifestação no cotidiano.
2.1 Violência e história
A violência é histórica. Não existe sociedade que não tenha 
passado por períodos ou situações violentas em seu desen-
volvimento. Através da violência, atos de dominação ou sub-
missão foram se sucedendo, definindo valores, princípios e 
relações.
O Brasil possui períodos violentos em sua história, inicia-
dos em 1500 com a chegada dos portugueses e genocídio 
indígena. A escravatura, com a importação de escravos da 
África e dominação do povo negro, pode se vista como ou-
tro período violento. Além disso, houve revoltas e revoluções 
que marcaram a luta por interesses políticos e econômicos e 
que foram constituindo a história que conhecemos hoje do 
Brasil.
Mais recentemente, o período ditatorial e a censura do 
direito à liberdade e aos direitos políticos, conhecido como 
ditadura militar. Um período que perdurou por 20 anos, no 
22 Serviço Social e Violência
qual houve prisões, torturas, exílio e repressão a toda forma de 
manifestação política contrária ao regime em vigor.
Ao fim da ditadura a Constituição Federal foi revista, a 
democracia entrou em processo de implantação e se voltou 
a preconizar a justiça social e os direitos humanos. Mas isto 
não significa dizer que hoje o país viva sem violência, tendo 
em vista a profunda desigualdade social existente tanto nas 
grandes metrópoles quanto nos pequenos municípios. A vio-
lência é materializada também nos altos índices de homicí-
dios, mortes por causas externas, além do tráfico de drogas 
e da pobreza.
2.2 Conceitos
Para iniciarmos nossa reflexão sobre a violência, vamos à ori-
gem da palavra, que deriva do latim, vis, que significa vigor, 
força. Encontramos no dicionário de língua portuguesa que 
violência significa “qualidade de violento, ato violento e ato 
de violentar”. Segundo Luiz Eduardo Soares (2005 apud MA-
CHADO),
a palavra violência possui múltiplos sentidos: pode desig-
nar uma agressão física, um insulto, um gesto que humi-
lha, um olhar que desrespeita, um assassinato cometido 
com as próprias mãos, uma forma hostil de contar uma 
história despretensiosa, a indiferença ante o sofrimento 
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 23
alheio, a negligência com os idosos, a decisão política 
que produz consequências sociais nefastas [...] e a pró-
pria natureza, quando transborda seus limites normais e 
provoca catástrofes.
A reflexão de Soares (apud MACHADO) nos ajuda a pen-
sar que não existe um conceito único de violência, tamanha a 
complexidade dos fatos que a acompanham. O que encontra-
mos de forma recorrente nas literaturas são as formas como a 
violência se manifesta na vida dos sujeitos. Contudo, a origem 
da violência e de atos violentos não possui um consenso.
De acordo com o senso comum existem três possibilidades 
de tipificar a violência:
que envolve a 
violação da 
integridade do 
corpo. 
Individual/cole
va 
entendida como 
desrespeito e 
apropriação de 
forma agressiva 
de bens de 
outrem. 
Econômica 
definida como 
dominação 
cultural ou 
ofensa aos 
direitos dos 
outros. 
Moral ou 
simbólica 
Figura 1 Tipificação da violência. Fonte: desenvolvido pela autora.
Mas há ainda a discussão acerca da violência em um nível 
filosófico, conforme Quadro 1.
24 Serviço Social e Violência
Quadro 1 Compreensão filosófica do termo violência.
Autor Compreensão sobre Violência
Arendt Meio para conquista do poder.
Engels Acelerador do desenvolvimento econômico.
Fanon Vingança dos deserdados.
Sorel Mito necessário para mudança da sociedade 
burguesa desigual para sociedade igualitária de 
base popular.
Sartre Inevitável no universo de escassez e necessidades.
Domenach O apogeu da violência não é o crime [...] mas a 
tortura.
Hegel A violência está inserida e arraigada não só nas 
relações sociais, mas, sobretudo, é construída no 
interior das consciências e das subjetividades.
Denisou Fenômeno que precisa ser analisado dentro de 
uma abordagem multifacetária, pois apresenta 
características internas e externas. 
Freud Instrumento para arbitrar conflitos de interesse, 
sendo, portanto, um princípio geral da ação 
humana diante de ações competitivas.
Marx e Engels A violência é boa ou má, positiva ou negativa, 
segundo as forças que a sustentam. 
Fonte: adaptado pela autora com base em Minayo (2011).
Podemos dizer que a violência é um componente da vida 
social, e que na atualidade sai do âmbito policial, adentra a 
vida cotidiana, pois é um assunto que domina o cenário públi-
co. Segundo a Organização Mundial de saúde, a violência é o:
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 25
uso intencional da força física ou do poder real ou em 
ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou con-
tra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha 
qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano 
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. 
(KRUG et al., 2002 apud MINAYO, 2009)
Nesse sentido, encontramos a seguinte classificação para 
os tipos de violência:
Quadro 2 Classificação de violência por tipo. Fonte: adaptado pela 
autora de Minayo (2009)
Tipo de violência Significado
Criminal Praticada por meio de agressão grave às pessoas, poratentado à sua vida e aos seus bens e constitui objeto 
de prevenção e repressão por parte das forças de 
segurança pública: polícia, ministério público e poder 
judiciário. 
Estrutural Diz respeito às mais diferentes formas de manutenção 
das desigualdades sociais, culturais, de gênero, etárias 
e étnicas que produzem a miséria, a fome, e as várias 
formas de submissão e exploração de umas pessoas 
pelas outras. [...] Todos os autores que estudam o 
fenômeno da miséria e da desigualdade social 
mostram que sua naturalização as torna o chão 
de onde brotam várias outras formas de relação 
violenta.
Institucional É aquela que se realiza dentro das instituições, 
sobretudo por meio de suas regras, normas de 
funcionamento e relações burocráticas e políticas, 
reproduzindo as estruturas sociais injustas. Uma dessas 
modalidades de violência ocorre na forma como são 
oferecidos, negados ou negligenciados os serviços 
públicos.
26 Serviço Social e Violência
Interpessoal Quando essa interação ocorre com prepotência, 
intimidação, discriminação, raiva, vingança e inveja, 
costuma produzir danos morais, psicológicos e físicos, 
inclusive morte. 
Intrafamiliar Na prática, violência intrafamiliar e violência 
doméstica se referem ao mesmo problema. Ambos 
os termos dizem respeito aos conflitos familiares 
transformados em intolerância, abusos e opressão.
Autoinfligida Assim são chamados os suicídios, as tentativas, as 
ideações de se matar e as automutilações. No Brasil, 
cerca de quatro habitantes por 100 mil, em média, 
se suicidam, e um número difícil de calcular tenta se 
autoinfligir a morte. 
Cultural A violência cultural é aquela que se expressa por meio 
de valores, crenças e práticas, de tal modo repetidos e 
reproduzidos que se tornam naturalizados.
De gênero Constitui-se em formas de opressão e de crueldade 
nas relações entre homens e mulheres, estruturalmente 
construídas, reproduzidas na cotidianidade e 
geralmente sofridas pelas mulheres. Esse tipo de 
violência se apresenta como forma de dominação 
e existe em qualquer classe social, entre todas as 
raças, etnias e faixas etárias. Sua expressão maior é o 
machismo naturalizado na socialização que é feita por 
homens e mulheres. 
Racial Uma das mais cruéis e insidiosas formas de violência 
cultural é a discriminação por raça. No Brasil, 
essa manifestação ocorre principalmente contra 
a pessoa negra e tem origem no período colonial 
escravocrata. Estudiosos mostram que geralmente a 
violência racial vem acompanhada pela desigualdade 
social e econômica: no Brasil, os negros possuem 
menor escolaridade e menores salários. Vivem nas 
periferias das grandes cidades e estão excluídos de 
vários direitos sociais. Também morrem mais homens 
negros do que brancos e se destacam os óbitos por 
transtornos mentais (uso de álcool e drogas), doenças 
infecciosas e parasitárias (de tuberculose a HIV/AIDS) e 
homicídios (BATISTA, 2005).
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 27
Contra a pessoa 
com deficiência
Esse tipo de violência revela de forma aguda a 
dificuldade que a sociedade tem de conviver com 
os diferentes, tendendo a isolar os deficientes físicos 
e mentais, menosprezá-los, molestá-los e a não 
lhes dar oportunidade de desenvolver todas as suas 
potencialidades. Pela falta de reconhecimento e de apoio 
da sociedade e do governo, os deficientes costumam ser 
considerados como um peso para suas famílias. Estudos 
têm mostrado que esse tipo de discriminação ocorre 
nos lares, na escola, nas comunidades, no mercado de 
trabalho, no espaço público.
2.2.1 Natureza da Violência
Nesse aspecto temos quatro modalidades de expressão da vio-
lência, também denominados abusos ou maus-tratos: física, 
psicológica, sexual e envolvendo abandono, negligência ou 
privação de cuidados.
 
• Uso da força para produzir injúrias, feridas, dor ou incapacidade em outrem. 
Física
• Agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar 
a vítima, restringir a liberdade ou ainda, isolá -la do convívio social. 
Psicológica 
• Ato ou ao jogo sexual que ocorre nas relações heterossexuais ou homossexual e visa a 
estimular a vítima ou utilizá -la para obter excitação sexual e práticas 
eróticas, pornográ€cas e sexuais impostas por meio de aliciamento, violência 
física ou ameaças. 
Sexual 
• ausência, a recusa ou a deserção de cuidados necessários a alguém que 
deveria receber atenção e cuidados. 
Abandono, Negligência, Privação de cuidados 
Figura 2 Modalidades de violência. Fonte: Adaptado pela autora com 
base em Minayo (2009).
28 Serviço Social e Violência
2.3 Causalidade da violência
Se a definição de conceitos é difícil, a causalidade da violência 
também o é. Segundo Minayo (2011, p. 36) estudos científicos 
apontam três possibilidades que reúnem diferentes parâmetros 
teóricos.
Vi
ol
ên
ci
a 
 
Como resultante de necessidades biológicas (até a década 
de 1990). 
Violência a par�r exclusivamente do arbítrio dos sujeitos, 
como se os resultados socialmente visíveis fossem 
resultado do comportamento individual – resultado de 
doença mental ou vinculação religiosa. 
O âmbito social como espaço dominante da violência, em 
que tomam corpo e se transformam os fatores biológicos 
e emocionais. 
Figura 3 Parâmetros para definição das causas da violência. Fonte: 
Adaptado pela autora de Minayo (2011).
Não nos cabe adentrar no campo da influência genética 
sobre padrões de comportamento violento, pois se assim o fos-
se a classe social que está mais suscetível a crimes também se-
ria a mais propensa a problemas na ordem da saúde mental.
O que de fato evidenciamos, segundo Minayo (2011), é 
um contingente de pessoas pobres que cometem atos violentos 
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 29
relacionados muito mais à situação socioeconômica (roubo, 
tráfico, assassinatos) do que a problemas de ordem mental. 
Nesse sentido abordamos a questão da segurança pública e a 
possíveis propostas de enfrentamento às situações de violên-
cia, e não surpreende o que nos diz Chesnais:
O investimento em educação formal, na universaliza-
ção dos direitos políticos, sociais, individuais e especí-
ficos e na melhoria das condições de vida dos pobres e 
dos trabalhadores fez muito mais, historicamente, para 
a superação das formas graves de violência física e da 
violência criminal nos países da Europa, por exemplo, do 
que os investimentos em segurança pública estrito senso. 
No entanto, o papel da segurança pública no Brasil e 
no mundo de hoje também é fundamental. (1981, apud 
MINAYO, 2014)
Ou seja, não é apenas com segurança pública na pers-
pectiva repressiva que se constrói uma sociedade mais se-
gura e com menos situações violentas. Há necessidade de 
um conjunto de ações intersetoriais para o enfrentamento da 
violência enquanto ameaça e risco para o desenvolvimento 
da sociedade.
2.4 Criminalidade
Quando nos debruçamos no estudo sobre violência e crimina-
lidade nos deparamos com quatro tendências no Brasil:
30 Serviço Social e Violência
 
Tendências 
• a) o crescimento da delinquência urbana, em especial dos crimes contra o patrimônio 
(roubo, extorsão mediante sequestro) e de homicídios dolosos (voluntários); 
• b) a emergência da criminalidade organizada, em particular em torno do tráco 
internacional de drogas, que modica os modelos e pers convencionais da delinquência 
urbana e propõe problemas novos para o direito penal e para o funcionamento da justiça 
criminal; 
• c) graves violações de direitos humanos que comprometem a consolidação da ordem política 
democrática; 
• d) a explosão de con itos nas relações intersubjetivas, mais propriamente con itos de 
vizinhança que tendem a convergir para desfechos fatais.Fonte: adaptado pela autora de Cerqueira e Lobão (2004).
Violência e criminalidade são termos associados popular-
mente, contudo entendemos como importante apresentarmos 
alguns elementos que configuram a criminalidade para com-
preender que, sendo a violência multifacetada, a criminalida-
de também é permeada de elementos e nuances que não per-
mitem uma única definição causal.
Os estudos sobre as causas da criminalidade têm se de-
senvolvido em duas direções: naquela das motivações 
individuais e na dos processos que levariam as pessoas a 
se tornarem criminosas. Por outro lado, tem-se estudado 
as relações entre as taxas de crime em face das variações 
nas culturas e nas organizações sociais. Tais arcabou-
ços teóricos vêm sendo desenvolvidos, principalmente, 
a partir de meados do século passado. (CERQUEIRA e 
LOBÃO, 2004)
Isso nos subsidia para a análise dos diferentes determinan-
tes da criminalidade para que seja possível o debate sobre 
alternativas de enfrentamento no âmbito da segurança pública 
e das ações sociais. Algumas das teorias sobre essa temática 
estão sistematizadas no Quadro 3.
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 31
Quadro 3 Determinantes da Criminalidade: Arcabouços Teóricos e 
Resultados Empíricos
Teoria Abordagem Variáveis
Desorganização 
social
Abordagem sistêmica em 
torno das comunidades, 
entendidas como um 
complexo sistema de rede 
de associações formais e 
informais.
Status socioeconômico; 
heterogeneidade étnica; 
mobilidade residencial; 
desagregação familiar; ur-
banização; redes de ami-
zades locais; desemprego; 
e existência de mais de um 
morador por cômodo.
Aprendizado so-
cial (associação 
diferencial)
Os indivíduos determinam 
seus comportamentos a 
partir de suas experiências 
pessoais com relação 
a situações de conflito, 
por meio de interações 
pessoais e com base no 
processo de comunicação.
Grau de supervisão fami-
liar; intensidade de coesão 
nos grupos de amizades; 
existência de amigos com 
problemas com a polícia; 
e contato com técnicas 
criminosas.
Escolha racional O indivíduo decide sua 
participação em atividades 
criminosas a partir da 
avaliação racional entre 
ganhos e perdas esperadas 
advindos das atividades 
ilícitas vis-à-vis o ganho al-
ternativo no mercado legal.
Salários; renda familiar per 
capita; desigualdade da 
renda; acesso a progra-
mas de bem-estar social; 
eficiência da polícia; aden-
samento populacional; 
magnitude das punições; 
inércia criminal; aprendi-
zado social; e educação.
Controle social O que leva o indivíduo 
a não enveredar pelo 
caminho da criminalidade? 
A crença e a percepção 
do mesmo em con-
cordância com o contrato 
social (acordos e valores 
vigentes), ou o elo com a 
sociedade.
Envolvimento do cidadão 
no sistema social; con-
cordância com os valores 
e normas vigentes; ligação 
filial; amigos delinquentes; 
e crenças desviantes.
32 Serviço Social e Violência
Autocontrole Distorções no processo de 
socialização, pela falta de 
imposição de limites.
Frequentemente eu ajo ao 
sabor do momento sem 
medir consequências; e 
raramente deixo passar 
uma oportunidade de go-
zar um bom momento.
Anomia Impossibilidade de o 
indivíduo atingir metas 
desejadas por ele. Três 
enfoques: a) diferenças 
de aspirações individuais 
e os meios disponíveis; b) 
oportunidades bloqueadas; 
e c) privação relativa.
Participa de redes de con-
exões? Existem focos de 
tensão social? Eventos de 
vida negativos; sofrimento 
cotidiano; relacionamento 
negativo com adultos; 
brigas familiares. 
Interacional Processo interacional 
dinâmico com dois in-
gredientes: b) perspectiva 
interacional que entende 
a delinquência como 
causa e consequência de 
um conjunto de fatores e 
processos sociais.
As mesmas daquelas 
constantes nas teorias do 
aprendizado social e do 
controle social.
Ecológico Combinação de atributos 
pertencentes a diferentes 
categorias condicionaria a 
delinquência.
Esses atributos, por sua 
vez, estariam incluídos em 
vários níveis: estrutural, 
institucional, interpessoal 
e individual. Todas as 
variáveis anteriores podem 
ser utilizadas nessa abor-
dagem.
Fonte: Adaptado pela autora de Cerqueira e Lobão (2004).
Recapitulando
A histórica nos mostra que a violência existe nos mais diferen-
tes tipos de sociedade, umas mais violentas que outras. Con-
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 33
sideramos que independentemente da forma como a violência 
se manifesta (conflitos armados, conflitos religiosos, miséria, 
ausência de proteção social) ela não pode ser considerada 
uma fatalidade.
Também é evidente que as violências se articulam entre si e 
criam expressões culturais que naturalizam atos violentos como 
parte de comportamentos (machismo), atitudes (injúria racial) 
e práticas (discriminação social). Portanto, a violência nunca 
deve ser analisada como um fato isolado, ou uma ação indivi-
dual, uma vez que é um fenômeno complexo que se apresenta 
em um determinado contexto histórico.
A violência possui significados e intencionalidades e ao fa-
zer parte da condição humana, também contribui para a or-
ganização social. Por fim, entendemos que a violência é mul-
ticausal ao articular fatores históricos, contextuais, estruturais, 
culturais, conjunturais, interpessoais, mentais e biológicos.
Referências
CERQUEIRA, Daniel; LOBAO, Waldir. Determinantes da 
criminalidade: arcabouços teóricos e resultados empí-
ricos. Dados, Rio de Janeiro, v. 47, n. 2, 2004. Dispo-
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a infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Ja-
neiro: Fiocruz, 2003. p. 13-22.
Atividades
 1) Leia atentamente e assinale nas afirmativas V para verda-
deiro e F para falso:
a) ( ) O Brasil possui períodos violentos em sua história, 
iniciado pela descoberta do país em 1500 com a che-
gada dos portugueses e genocídio indígena.
b) ( ) Houve revoltas e revoluções que marcaram a luta 
por interesses políticos e econômicos e que foram 
constituindo a história que conhecemos hoje do Brasil.
c) ( ) A violência é um fenômeno de baixa relevância so-
cial, tanto no campo das políticas públicas, dos discur-
sos, quanto das ações.
d) ( ) A origem da violência e de atos violentos possui um 
consenso.
e) ( ) É considerado parâmetro para violência o âmbito 
social como espaço dominante, em que tomam corpo 
e se transformam os fatores biológicos e emocionais
Capítulo 2 Violências: Clarificando Conceitos, Definindo... 35
Gabarito
 a) V b) V c) F d) F e)V
Caroline Fernanda Santos da Silva1
Capítulo 3
Políticas Públicas de 
Enfrentamento da 
Violência
1 Professora Mestre em Serviço Social. Assistente Social vinculada à Prefeitura Mu-
nicipal de Esteio e Docente na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas 
RS, no Curso de Serviço Social. Coordenadora do projeto de extensão universitária 
da ULBRA: “Promoção a Paz e estratégias para combater a violência de gênero na 
escola”.
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 37
Introdução
Este capítulo apresentará algumas reflexões sobre as políticas 
públicas voltadas ao enfrentamento da violência na sociedade 
brasileira. Destaque-se que esse é um tema que merece espe-
cial atenção nos diasatuais em que se discute a redução da 
maioridade penal, por exemplo.2 
Para isso, iniciaremos expondo algumas questões indispen-
sáveis sobre o conceito de política pública e, especialmente, 
sobre as atuais configurações da política pública de segurança 
no Brasil. Em seguida, passamos para uma discussão sobre 
o papel exercido pelos diferentes movimentos sociais na ins-
titucionalização de alguns direitos sociais para grupos espe-
cíficos, passando por uma reflexão sobre a constituição dos 
direitos humanos no Brasil.
Depois disso, apresentaremos alguns apontamentos sobre 
o sistema de segurança pública existentes na sociedade brasi-
leira. E, finalizando, nas considerações finais traçamos algu-
mas reflexões sobre a construção de políticas alternativas de 
segurança pública.
Siga conosco nessa leitura e bons estudos!
2 A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta terça-feira 
31 o voto em separado do deputado Marcos Rogério (PDT-RO), favorável à ad-
missibilidade da PEC 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. 
Foram 42 votos a favor e 17 contra. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.
br/politica/reducao-da-maioridade-penal-e-aprovada-na-ccj-7975.html>
38 Serviço Social e Violência
3.1 Para começo de conversa sobre 
políticas públicas
As políticas públicas são o conjunto de atividades (programas, 
projetos, planos e ações) realizadas pelo Estado, de forma 
direta ou indireta, que visa assegurar determinado direito de 
cidadania, com ou sem a participação de entes públicos ou 
privados. São elaboradas para responder a situações apresen-
tadas pela sociedade e que demandam, por parte do Estado, 
alternativas de solução ou enfrentamento. 
Assim, a partir do momento em que o Estado e/ou a socie-
dade reconhecem os direitos de certos grupos é que as políti-
cas públicas se originam e se organizam. Elas também corres-
pondem a direitos assegurados constitucionalmente e podem 
se apresentar de forma generalizada para toda a população 
ou se destinar somente a determinados seguimentos sociais, 
culturais, étnicos ou econômicos. 
As políticas públicas são aqui entendidas como um conjun-
to de ações voltadas para a garantia dos direitos sociais, con-
figurando um compromisso do Estado para dar conta de de-
terminada demanda, em diversas áreas (GUARESCHI, 2004).
No que se refere às políticas públicas de enfrentamento 
à violência, cabe destacar que vários dos instrumentos legais 
que existem atualmente são fruto daquilo que foi assegurado 
na Constituição Federal de 1988, merecendo destaque o ar-
tigo 5, onde está previsto que “todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi-
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 39
leiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade”.
Embora tais questões estejam asseguradas por lei, presen-
ciamos constantemente o ataque do mercado que, a partir das 
políticas de ajuste e das reformas, vai retirando cada vez mais 
o bem-estar (onde as políticas sociais estão incluídas) do cam-
po coletivo e o levando para o âmbito privado, em conjunto 
com uma ênfase exacerbada nas pessoas e nas comunidades 
para que encontrem soluções para “seus” problemas sociais 
(SOARES, 2003). Assim, as políticas sociais em geral apoiam-
-se cada vez mais no “trinômio do neoliberalismo. (BEHRING, 
2003): privatização, descentralização e focalização das políti-
cas e programas sociais.
Frente a isso, tem havido mudanças nas relações entre Es-
tado, sociedade e mercado, evidenciando um novo paradigma 
de política social, ocasionado por importantes deslocamen-
tos na gestão social3. Para Behring (2003), as transformações 
políticas e econômicas em curso sinalizam a adaptação do 
país aos fluxos do capital mundial e esses, relacionados às 
características da formação social brasileira, fazem com que 
aqui as causas geradoras da pobreza estejam além daquelas 
ocasionadas pelos ajustes neoliberais, merecendo atenção na 
formulação de políticas sociais.
3 A esse respeito, recomenda-se a leitura de: SILVA, Ademir. A gestão da 
seguridade social brasileira – entre a política publica e o mercado. São 
Paulo: Cortez Editora, 2004.
40 Serviço Social e Violência
Segundo Carvalho e Silva (2011):
Nessa situação, a potencialização do mercado, como 
instrumento regulador das relações sociais em detrimen-
to ao Estado, ocorre concomitantemente ao contingen-
ciamento dos mecanismos de assistência social e ao 
processo de fortalecimento da penalização como forma 
de ampliar o controle sobre as periferias e assegurar a 
manutenção das relações de poder. (2011)
Ainda assim, as autoras consideram que: “[...] diferente-
mente da redução do papel do Estado no âmbito econômico 
e social, no que se refere à segurança pública, tem ocorrido 
uma ampliação dos instrumentos de controle sobre a socieda-
de.” (2011).
3.2 As políticas de segurança pública
A partir do que foi exposto no item anterior, chegamos ao en-
tendimento de que para pensar no enfrentamento à violência 
no Brasil precisamos discutir as políticas publicas de segu-
rança. Segundo Filho (1999) a proposição de tais políticas, 
consiste num movimento pendular, oscilando entre a reforma 
social e a dissuasão individual:
A ideia da reforma decorre da crença de que o crime 
resulta de fatores socioeconômicos que bloqueiam o 
acesso a meios legítimos de se ganhar a vida. Essa 
deterioração das condições de vida traduz-se no aces-
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 41
so restrito de alguns setores da população a oportuni-
dades no mercado de trabalho e de bens e serviços, 
assim como na má socialização a que são submeti-
dos nos âmbitos familiar, escolar e na convivência com 
subgrupos desviantes. Consequentemente, propostas 
de controle da criminalidade passam inevitavelmente 
tanto por reformas sociais de profundidade como por 
reformas individuais voltadas a reeducar e ressociali-
zar criminosos para o convívio em sociedade. A par 
das políticas convencionais de geração de empregos e 
combate à fome e à miséria, ações de cunho assisten-
cialista visariam minimizar os efeitos mais imediatos da 
carência, além de incutir em jovens candidatos poten-
ciais ao crime novos valores através da educação, da 
prática de esportes, do ensino profissionalizante e do 
aprendizado de artes e na convivência pacífica e har-
moniosa com seus semelhantes. Quando isso já não é 
mais possível, que se reformem então aqueles indivídu-
os que caíram no mundo do crime através do trabalho 
e da reeducação nas prisões. (1999, 20)
Seguindo sua linha de raciocínio, o autor sinaliza que do 
outro lado deste pêndulo também é forte a certeza de que a 
criminalidade encontra maiores condições de desenvolvimento 
quanto mais baixas forem a disciplina individual e o respeito 
às normas sociais. Como consequência disso, as políticas de 
segurança pública privilegiam uma atuação mais decisiva do 
Poder Judiciário, acarretando em legislações mais duras e em 
maior policiamento ostensivo (FILHO, 1999).
42 Serviço Social e Violência
Esses aspectos nos demonstram que a atual configuração 
da política de segurança pública brasileira, vista como tradi-
cional, impõe obstáculos à ampliação das discussões sobre 
as demais esferas que englobam a questão da violência. Tal 
situação demonstra o caminho escolhido para a abordagem 
do tema, que historicamente privilegia a criminalidade e a vio-
lência, especialmente em sua dimensão individual, conforme 
demonstra o esquema abaixo:
 
Assim, presenciamos uma defasagem entre a forma como 
a violência se apresenta hoje e a lógica a partir da qual se or-
ganizam as políticas de segurança. Se essa lógica era suficien-te em uma época em que o crime era pontual e excepcional, 
na atualidade tal lógica é inoperante e ineficaz para enfrentar 
o aumento da criminalidade como um todo.
Essa percepção acarreta três consequências visíveis no 
processo de enfrentamento à violência. Observe o esquema 
abaixo:
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 43
A prevenção somente é 
concebida a partir do 
condicionamento do 
comportamento pela ação da 
justiça e da polícia, sem 
considerar a relação com 
nenhuma outra política 
pública; 
Os organismos de justiça e de 
polícia responsáveis pelo 
problema têm a compreensão 
de que as soluções nessa área 
são de sua responsabilidade 
exclusiva, sendo os cidadãos 
receptores passivos dos 
serviços; 
A sociedade pouco ou nada se apropriou do tema, que 
sempre foi responsabilidade das autoridades 
especializadas, dificultando qualquer forma de 
participação, avaliação ou cobrança, resultando no 
afastamento da comunidade da discussão. 
Esquema adaptado pela autora da obra de: Guayí – De-
mocracia, participação e solidariedade. Caderno de Deba-
tes 1: Formas alternativas de prevenção à violência – projeto 
economia solidária na prevenção à violência. Porto Alegre, 
2009.
Tais situações apontam para uma lacuna que existe entre 
o que ocorre na prática e o que está previsto nas legislações. 
Ainda assim, a concepção de crime, segundo a orientação 
oficial do governo federal, baseia-se nos direitos humanos (FI-
LHO, 1999). Segundo o autor:
Isto abriu a possibilidade de incluir, dentre as modalidade 
de crime, aqueles cometidos pelo Estado. Daí a impor-
tância de se controlarem as organizações componentes 
do aparato repressivo que parece ter sido a tônica da 
44 Serviço Social e Violência
atual política de segurança em âmbito federal. (1999, 
20)
Segundo Carvalho e Silva (2011), a segurança da socie-
dade é o principal pressuposto para a garantia de direitos, o 
cumprimento de deveres e o exercício da cidadania. Frente às 
questões expostas, considero importante refletirmos um pouco 
a respeito do papel desempenhado pelos movimentos sociais 
na constituição de políticas públicas de enfrentamento à vio-
lência, o que veremos a seguir.
3.3 Os movimentos sociais na 
constituição das políticas públicas de 
enfrentamento da violência
A história recente do Brasil é fortemente marcada pela ditadu-
ra militar, que utilizou a violência como parte de seu funciona-
mento, naturalizando práticas como o sequestro, a tortura e a 
institucionalização da violência. Com o processo de redemo-
cratização, diversos movimentos sociais começaram a exigir 
uma postura mais ativa do poder público, ocupando lugar de 
protagonismo no processo da Constituinte. Essa participação 
ativa dos militantes de diferentes movimentos sociais fez com 
que fosse possível incorporar ao texto constitucional questões 
importantes para a efetivação de algumas de suas reivindica-
ções históricas.
A promulgação da Constituição Federal de 1988 inaugura 
uma nova fase da atuação dos movimentos sociais em ge-
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 45
ral, visto que procurou romper com as marcas deixadas pelo 
regime militar de 1964. Ao mesmo tempo, a principal con-
quista da “Constituição Cidadã” foi abarcar os direitos sociais 
e incorporar novas garantias, novos titulares e novos sujeitos 
sociais, ou seja: uma maioria que sempre esteve à margem do 
“Brasil legal” (TELLES, 2001).
Aqui podemos citar, a título de exemplo, a base legal para 
a promulgação, em 13 de julho de 1990, da Lei 8.069 – o 
Estatuto da Criança e do Adolescente, que se constitui em uma 
das legislações mais avançadas no mundo no que tange à 
garantia de direitos dessa parcela da população. Da mesma 
forma ocorre com a Lei 11.340, intitulada “Lei Maria da Pe-
nha”, sancionada em 07 de agosto de 2006. Ela traduz o re-
sultado de uma demanda de mais de 30 anos dos movimentos 
feministas e de mulheres, impondo um novo paradigma para 
a questão: crimes deste gênero passaram a ser considerados, 
por força do artigo 6º, uma violação de direitos humanos e 
não mais um crime de menor potencial ofensivo4.
O Serviço Social, enquanto profissão inserida na realidade 
social brasileira, manteve-se ativo nesse processo, especial-
mente a partir da Constituinte até os dias atuais. Nesse senti-
do, o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS lançou em 
2012 a campanha: “No mundo de desigualdade toda viola-
ção de direitos é violência”. Será que poderíamos pensar que 
onde há um direito violado há um ato de violência? E como o 
país se organiza para enfrentar tal problemática? 
4 Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/pfdc/informacao-e-comunicacao/
eventos/mulher/campanha-16-dias-de-ativismo/16-dias-de-ativismo/lei-maria-
-da-penha. Acesso realizado em 19.abr. 2015.
46 Serviço Social e Violência
Os direitos humanos no Brasil são garantidos na Cons-
tituição de 1988, mas apesar disso, inúmeros são os casos 
conhecidos de violação de direitos no país5. Mesmo sendo 
membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) e 
tendo ratificado a Convenção Americana de Direitos Huma-
nos, o Brasil não está livre de inúmeras práticas que violam tais 
direitos. Analisando essa situação dos direitos humanos, Bob-
bio (1992) não perde de vista que tais direitos são históricos, 
nascendo em dadas circunstâncias e de modo gradual. Tendo 
em vista essa historicidade, o autor (1992) classifica os direitos 
da humanidade em quatro gerações, já que vão surgindo na 
medida em que a sociedade evolui técnica e moralmente.
Assim, a primeira geração seria representada pelos direitos 
civis; a segunda geração compreenderia os direitos políticos, 
sociais e os direitos de participar do Estado; a terceira geração 
representaria os direitos econômicos, sociais e culturais; e a 
quarta geração compreenderia a defesa de direitos ligados à 
natureza, por exemplo (BOBBIO, 1992).
Note-se que os direitos de terceira geração são ligados 
às coletividades e podem ser relacionados à emergência do 
processo de especificação dos direitos, através do qual se dá 
a passagem gradual do homem abstrato ao homem concreto. 
Ao invés de direitos do homem, tal processo ocasiona os ques-
tionamentos: que direitos? E de que homem?
5 Um dos mais noticiados casos de violação de direitos humanos ocorridos no 
Brasil foi o massacre do Carandiru, quando, no dia 2 de outubro de 1992, a inter-
venção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para conter uma rebelião causou 
a morte de 111 detentos.
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 47
Entendemos que esse processo coloca em xeque o mito da 
igualdade entre homens e mulheres, negros e brancos, aler-
tando para a importância do atendimento às necessidades das 
pessoas em suas especificidades, vislumbrando a construção e 
exercício de uma “nova” noção de cidadania, que se aproxime 
dos anseios da população, sobretudo aquelas historicamente 
dela excluídas.
3.4 O sistema de segurança pública no 
Brasil
Resultado do impacto ocasionado pela Conferência Mundial 
de Direitos Humanos, ocorrida em Viena, em 1993, o governo 
brasileiro lançou, em 1996, o Programa Nacional de Direi-
tos Humanos (PNDH). Esse pode ser considerado o primeiro 
instrumento legal brasileiro vislumbrado na ótica dos direitos 
humanos, após a promulgação da Constituição Federal.
No ano de 2000 ele foi aperfeiçoado, tendo sido lançada 
uma nova versão do Programa, após a realização da IV Con-
ferência Nacional de Direitos Humanos, ocorrida em 1999. 
Em 2009 ele foi novamente revisado, estando agora em sua 
terceira edição. A atual versão apresenta as bases de uma 
Política de Estado para os direitos humanos. Destaque-se que 
as diversas versões dos referidos planos não ficaram isentas de 
pesadas críticasrealizadas por seus opositores.
48 Serviço Social e Violência
Apresentamos abaixo um quadro demonstrativo das prin-
cipais ações no processo de constituição do atual sistema de 
segurança brasileiro:
1995 Foi criada, no âmbito do Ministério da Justiça, a 
Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de 
Segurança Pública.
1996 Lançado o Programa Nacional de Direitos Humanos 
(PNDH) 1.
1998 A então Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais 
de Segurança Pública transforma-se em Secretaria 
Nacional de Segurança Pública.
1999 Lançado o Programa Nacional de Direitos Humanos 
(PNDH) 2.
2000 Lançado o Plano Nacional de Segurança Pública;
Lançado o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP).
2009 Lançado o Programa Nacional de Direitos Humanos 
(PNDH) 3.
2009 Realizada a 1ª Conferência Nacional de Segurança 
Pública.
Ressaltamos que o Plano Nacional de Segurança Pública, 
segundo Carvalho e Silva (2011):
[...] estabeleceu um marco teórico significativo na pro-
positura da política de segurança pública brasileira, cujo 
objetivo era articular ações de repressão e prevenção à 
criminalidade no país [...] Entretanto, esses avanços na 
formatação da política de segurança pública não produ-
ziram os resultados concretos esperados. (2011)
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 49
Esse movimento tem demonstrado que as ações relaciona-
das à segurança pública não podem ser tratadas como política 
de determinado governo, mas sim como um processo amplo 
e complexo a ser enfrentado pelo Estado e pela sociedade, de 
maneira compartilhada. Na perspectiva de uma política de Es-
tado, a política de segurança pública precisa privilegiar a par-
ticipação e a contribuição da sociedade, democratizando-se. 
Esse caminho ainda precisa ser trilhado com muita persistência 
pelos agentes sociais envolvidos, ou seja: toda a sociedade.
O Programa Nacional de Segurança Pública 
com Cidadania – PRONASCI
Buscando a integração das ações na área da segurança, o 
governo federal instituiu, a partir do ano 2007, o Programa 
Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), 
parceria com estados da federação. Uma de suas principais 
características é a combinação dessas ações com políticas so-
ciais para a prevenção, controle e repressão à criminalidade, 
principalmente em áreas metropolitanas com altos índices de 
violência.
A partir de seus pressupostos, é possível destacar que o 
referido programa apresenta um olhar multidisciplinar em re-
lação à questão da segurança pública. Foi a primeira vez em 
que se vislumbrou a perspectiva de democratização da política 
de segurança pública, prevendo a participação da sociedade 
em sua construção e concepção.
Carvalho e Silva (2011) sinalizam que se trata-se de uma 
mudança complexa no paradigma da segurança, vista como 
50 Serviço Social e Violência
extremamente necessária ao fortalecimento da democracia no 
país. Nesse processo, foi realizada, em 2009, a 1ª Conferên-
cia Nacional de Segurança Pública (Conseg), precedida de 
uma série de conferências realizadas nos âmbitos municipal, 
estadual, bem como pela realização de conferências livres or-
ganizadas por entidades da sociedade civil.
Essa conferência representou a possibilidade de se reela-
borar, democraticamente, os princípios e as diretrizes funda-
mentais para desenvolver projetos voltados para o sistema de 
segurança pública, sob todos os aspectos. Com certeza ainda 
resta muito a ser feito, tendo em vista que a consolidação das 
questões postas nessa ocasião depende em muito do controle, 
participação e fiscalização da sociedade.
Considerações finais
Os apontamentos realizados ao longo deste capítulo sinalizam 
a necessidade eminente da construção de um novo paradigma 
para as políticas de segurança pública, privilegiando o contro-
le e participação da comunidade, em conjunto com os órgãos 
responsáveis pela segurança pública. Trata-se de colocar to-
dos os agentes no mesmo patamar de igualdade perante as 
ações e decisões que envolvem a elaboração das políticas de 
segurança pública.
Outra necessidade que se apresenta é a articulação e a 
integração entre as ações no campo da segurança pública as 
demais políticas sociais. Para isso, o conhecimento das rea-
Capítulo 3 Políticas Públicas de Enfrentamento da Violência 51
lidades das comunidades é fundamental, processo esse que 
pode evidenciar o respeito pela autonomia e cidadania da 
população, especialmente na construção de políticas alterna-
tivas.
Por fim, cabe ressaltar a importância do aumento dos ca-
nais de participação social da população com relação à cons-
trução de alternativas para a questão, processo no qual os 
assistentes sociais tem um grande papel a desempenhar!
Recapitulando
Nesse capítulo, procuramos apresentar algumas reflexões so-
bre as políticas públicas de enfrentamento à violência na so-
ciedade brasileira. Iniciamos partindo do pressuposto de que 
a segurança é vista como garantia do exercício da cidadania. 
Assim, discutir o direito à segurança implica na discussão so-
bre as políticas públicas de segurança e da forma como elas 
se organizam em nosso país.
Depois, apresentamos o papel desempenhado pelos movi-
mentos sociais na construção de políticas públicas de enfrenta-
mento à violência, evidenciando a atuação dos diversos movi-
mentos sociais no processo que culminou com a promulgação 
da Constituição Federal de 1988. Discutimos ainda sobre a 
compreensão acerca dos direitos humanos e, por fim, apre-
sentamos os desafios da construção de políticas alternativas 
de segurança.
52 Serviço Social e Violência
Referências
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entre a política pública e o mercado. São Paulo: Cortez 
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SOARES, Laura Tavares. O desastre social. Rio de Janeiro: 
Editora Record, 2003.
Atividades
Leia com atenção as frases abaixo e assinale V para Verdadei-
ro e F para Falso:
 1. ( ) As políticas públicas são elaboradas para responder 
a situações apresentadas pela sociedade. Situações essas 
que demandam, por parte do Estado, alternativas de solu-
ção ou enfrentamento. 
 2. ( ) Na atual configuração das políticas

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