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ESTADO LAICO volume 1
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rede pública do Rio de Janeiro....................................................................................................137 O princípio da laicidade do Estado e a manutenção de símbolos religiosos em espaços públicos: análise da decisão do Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul............161 Sobre as relações entre Igreja e Estado: conceituando a Laiciade........................................................................................................177 Sete teses equivocadas sobre o Estado Laico.......................................205 Estudo de Caso: Datena x Ateus..............................................................227 Anexo: Sentença da Ação Civil Pública - Caso Datena x Ateus...........257 10 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico 11Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico A liberdade religiosa do professor de religião na Espanha: análise da empresa de tendência Adriane Reis de Araujo1 1. Introdução O ordenamento constitucional espanhol determina aos poderes públicos a promoção das condições para que a liberdade e a igualdade do indivíduo e dos grupos sejam reais e efetivas, com a remoção dos obstáculos que impeçam ou dificultem a sua plenitude e com o fomento da participação de todos os cidadãos na vida política, econômica, cultural e social (art. 9.2 CE). Para tanto, o constituinte espanhol adotou o laicismo2 do Estado (art. 16.3 CE) e garantiu a liberdade de expressão, informação, formação de convicção e de culto dos indivíduos e das comunidades. No texto constitucional espanhol, como garantia da liberdade de pensamento, está prevista a obrigação estatal de manter relações de cooperação com a Igreja Católica e demais confissões religiosas.3 Em consequência, em 4 de dezembro de 1979, foi firmado um acordo entre a Santa Sede e o Estado Espanhol (“Sobre enseñanza y asuntos culturales”), no qual se garante o direito a receber um ensinamento religioso nos colégios, em condições equivalentes às demais disciplinas fundamentais, a todos os alunos espanhóis, nos níveis pré-escolar e fundamental. A disciplina religiosa é ofertada nos centros de ensino, públicos e privados, nos horários regulares de aula, e sua opção é voluntária. 1 Procuradora Regional do Trabalho. Coordenadora de Ensino ESMPU/MPT 2000/2004. Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Doutoranda em Direito do Trabalho pela Universidad Com- plutense de Madrid – UCM. Coordenadora da Comissão Permanente de Direitos Humanos em Sentido Estrito do Grupo Nacional de Direitos Humanos (GNDH), vinculado ao Conselho Nacional dos Pro- curadores Gerais. 2 O termo utilizado pelo legislador español é “aconfesionalidad”. O Estado “aconfessional” é aquele que não adere e não reconhece nenhuma religião como oficial , mesmo que possa ter acordos colabo- rativos ou de ajuda econômica com certas instituições religiosas. 3 Art. 16. 3 (…) Los poderes públicos tendrán en cuenta las creencias religiosas de la sociedad es- pañola y mantendrán las consiguientes relaciones de cooperación con la Iglesia Católica y las demás confesiones. 12 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico A disciplina de religião é ministrada por um professor contratado especificamente para o tema, através de um contrato de trabalho temporário, com prazo anual, firmado diretamente com a instituição de ensino. O candidato à função, nos colégios católicos, é necessariamente indicado pelo Bispo. Este contrato é automaticamente renovado ao final de cada período, salvo manifestação em contrário da autoridade eclesiástica. As demais correntes religiosas, como é o caso do judaísmo, do islamismo e dos protestantes, possuem acordos similares, com a indicação do docente pela autoridade religiosa respectiva. A consequência imediata desse modelo é a ausência de garantia de continuidade do vínculo de emprego, ocorrida no caso de ausência de renovação após o esgotamento do prazo contratual. A quebra da continuidade, nessa hipótese, não precisa ser justificada e o trabalhador tem direito ao pagamento da indenização legal de 8 a 12 dias de salário (Real Decreto 10/2010, de 16 de junho). O ponto nodal, porém, diz respeito ao próprio conteúdo do contrato de trabalho e as restrições dos direitos fundamentais do trabalhador. Sendo um contrato que pretende difundir uma ideologia, a qual se identifica através do ideal declarado pelo colégio (católico, judaico, entre outros), o professor de religião, desde o início de sua contratação, deve revelar a sua crença e prática religiosas como um dos requisitos para aferição de sua capacidade e cumprimento das obrigações laborais. A restrição dos direitos fundamentais desse trabalhador está fundada na defesa coletiva da liberdade de pensamento, evidenciada no instituto da “empresa de tendência”, cujas peculiaridades serão diferenciadas da situação das empresas “neutras” para melhor compreensão do tema. 2. Liberdade religiosa do trabalhador espanhol em geral A liberdade de pensamento ou ideológica4 tem conteúdo complexo e abrange a liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Essas 4 “A liberdade de pensamento alude a um conjunto de ideias, conceitos e opiniões que a pessoa hu- mana, em atenção a sua natureza racional, tem sobre as distintas realidades do mundo. A liberdade de consciência garante o âmbito de racionalidade da pessoa que faz referencia ao juízo moral sobre as próprias ações e a atuação conforme dito juízo; protege a liberdade de toda pessoa na busca do bem.” (VALDÉS DAL-RÉ, Fernando. Libertad ideológica y contrato de trabajo: una aproximación de derecho comparado, In: Relaciones laborales, vol. 20, n. 14 (2004), p. 2. A tradução dos textos em espanhol é de responsabilidade da autora do texto). Além do mais, através da consciência o ser huma- no “se reconhece a si mesmo e como distinto dos outros” (CAPSETA CASTELLÀ, J. La clausula de conciencia periodística. Madrid: Mc Graw Hill, 1998, p. 159). 13Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico matizes têm como raiz comum a capacidade de o ser humano procurar um mundo de valores, que podem transcender-lhe ou gerar o seu compromisso com ele.5 No seu exercício, ao indivíduo é garantida a escolha de uma concepção de vida, fruto da elaboração pessoal ou da adesão a uma determinada crença religiosa, ideológica, filosófica ou ética.6 A liberdade de pensamento ou ideológica, portanto, constitui um dos direitos primários ou básicos da pessoa humana. Ela é uma liberdade fundante das demais liberdades e, nas palavras do Tribunal Europeu de Direitos Humanos “um dos eixos de qualquer sociedade democrática (sentença de 25 de maio de 1993, Kokkinakis c. Grèce)”. A liberdade de pensamento em todas essas facetas é assegurada pela Constituição Espanhola de 1978, nos artigos 16 e 20.7 O reconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa do trabalhador na empresa traz à superfície do contrato de trabalho o próprio sujeito do trabalhador, com todas as características e contornos da sua personalidade. A visualização da pessoa do trabalhador e seus mais diversos matizes, como círculos concêntricos, partindo-se de seus aspectos corporais para chegar até a intimidade, permite situar o pensamento do trabalhador como um dos aspectos internos de sua dimensão extrapatrimonial. O pensamento tanto pode se apresentar em manifestações públicas da convicção do trabalhador como em níveis muito íntimos, conhecidos apenas por ele. A proteção 5 VALDÉS DAL-RÉ, Fernando. Libertad ideológica y contrato de trabajo: una aproximación de dere- cho comparado, op. cit., p. 1. 6 SOUTO PAZ, J. A. La libertad de pensamiento, conciencia y religión. En: Comentarios a la Constitu- ción Europea. Libro II, Los Derechos y Libertades. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004, p. 344. 7 Art. 16 1. Se garantiza la