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ESTADO LAICO volume 1
UNICESUMAR
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pelo Supremo Tribunal Federal em 29/4/2010, sob a relatoria do Ministro Eros Grau, decidiu-se que: “1. Texto normativo e norma jurídica, dimensão textual e dimensão normativa do fenômeno jurídico. O intérprete produz a norma a partir dos textos e da realidade. A interpretação do direito tem caráter constitutivo e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos norma- tivos e da realidade, de normas jurídicas a serem aplicadas à solução de determinado caso, solução operada mediante a definição de uma norma de decisão. A interpretação/aplicação do direito opera a sua inserção na realidade; realiza a mediação entre o caráter geral do texto normativo e sua aplicação particular; em outros termos, ainda: opera a sua inserção no mundo da vida” (BRASIL, 2010). 166 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico e jurídicas, sejam estas de direito público, sejam de direito privado. Ressalte-se que a utilização de princípios enquanto norma não pode sugerir uma usurpação da função legislativa em emitir regras, as quais, por serem específicas, prevalecem sobre situações também específicas. O que se defende é que tanto as regras quanto os princípios sejam interpretados de forma sistemática, a fim de se descobrir a cada momento sua aplicação. Nas palavras de Ayres Britto, Seja uma norma-princípio, seja uma norma-preceito ou sim- plesmente ‘regra’, ambas as categorias a ter o seu conteúdo sig- nificante e grau de eficácia desvelados a cada momento de sua particularizada aplicação. Donde o caráter de descoberta-cons- trução, assim geminadamente, da norma afinal aplicada. Com o que o próprio conteúdo do justo deixa de ser uma formulação tão prévia quanto definitiva para se tornar uma constante ga- rimpagem nos veios do processo cultural da vida (2007, p. 64). Levantados os aspectos normativos dos princípios, verifica-se que o respeito aos mesmos é tão necessário à manutenção do Estado quanto o respeito às regras, ainda mais na concepção de que “o Direito e o Estado se consolidam juntos” (ARAÚJO, 2005, p. 57), o que significaria que o Estado - numa concepção moderna – deve se sustentar no Direito. Por tal razão, a Constituição da República de 1988 adotou em seu art. 1º o princípio basilar72 e ao mesmo tempo o paradigma hermeneuta: o Estado Democrático de Direito. Para José Afonso da Silva, trata-se – “O Estado Democrático de Direito” – de um dos princípios político-constitucionais da Constituição da República, citando, para melhor explicar seu entendimento, J. J. Gomes Canotilho: “Manifestam-se como princípios constitucionais fundamentais, positivados em normas-princípios que ‘traduzem as opções políticas fundamentais conformadoras da Constituição [...]’” (SILVA, 1998, p. 97). Assim, que num Estado Democrático de Direito o que se busca é o respeito à essência da Constituição (BOCKMANN, 2002), por meio da busca e do cumprimento do verdadeiro dever-ser constitucional73. 72 Art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municí- pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]” (BRASIL, 2012). 73 Para Giambatista Vico, cix – los hombres de ideas cortas juzgan que es derecho cuanto se ha expli- cado com palabras”; em contraposição: cxii – los hombres inteligentes juzgan que es derecho todo lo que dicta la utilidad general de las causas (VICO, 1964, p. 195). 167Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico 3. O princípio da laicidade do Estado e a manutenção de símbolos religiosos em espaços públicos 3.1 A necessidade imperiosa do princípio da laicidade estatal no direito moderno Ao se analisar a história da Humanidade – tanto no Ocidente, quanto no Oriente – pode-se verificar que conflitos surgiram e continuam surgindo por fatores eminentemente ligados à religião. Apesar de que se possa lançar mão do argumento de que conflitos são provocados por política e não pela religião, parece haver quase sempre um fundo religioso em diversas perseguições a grupos tidos como “minoria”, podendo, aí sim, se falar em utilização da política ou do Estado por influência religiosa. A religião – tomando-a de uma forma generalizada – nunca deveria se associar ao Poder Estatal, pois no ocidente quando esteve no poder “o que foi e o que fez” está registrado na História74. A laicidade do Estado pressupõe o afastamento de influências advindas de líderes, crenças e tradições religiosas da atividade estatal75. 3.2 Delimitação de conceitos Para prosseguirmos na análise da laicidade no Brasil, faz-se necessário delimitar conceitos que muitas vezes são confundidos. O primeiro se refere ao que significa ser laico. Ser laico não é ser ateu, não se confunde laicidade com ateísmo, pois são conceitos de natureza distinta. Ser laico não significa negar a existência de Deus, ou de um mundo tido como transcendente, mas significa a não adoção de um sistema religioso de vida. Tanto os que adotam religiões como forma de vida, quanto os que negam a existência de Deus (ateus), quanto os que defendem ser impossível comprovar a existência de Deus (agnósticos), e os que defendem a existência de Deus em todas as coisas (panteístas), encontram na laicidade um refúgio 74 Por exemplo, na Inquisição Espanhola, a perseguição aos luteranos; aos judeus e árabes na Penín- sula Ibérica; os massacres de homens, mulheres e crianças durante a Inquisição Espanhola; a destrui- ção de templos budistas; a morte de incontáveis “feiticeiras”, que à época, detinham mais conhecimen- to empírico de medicina do que os chamados “médicos” (MANN, 1994, p. 193-341). 75 Da mesma forma, o Princípio da Impessoalidade da Administração Pública encontra-se ferido quando o Estado deixa de ser laico. Quanto a este aspecto, deixa-se para outra oportunidade a sua análise. 168 Ministério Público - Em Defesa do Estado Laico – próprio de Estados ocidentais avançados – que impede o conflito entre diversas maneiras de se ver o mundo. Em um mundo que não admite mais uma só visão pré-determinada das coisas, este princípio se mostra essencial para a manutenção de um Estado conceituado contemporaneamente quanto outros princípios, como o da Supremacia do Interesse Público e a Indisponibilidade do Interesse Público. 3.3 Os símbolos religiosos A Estrela de Davi, símbolo do Judaísmo; a Lua Crescente, do Islamismo; OM, do Hinduísmo; a Cruz, do Cristianismo; a Suástica, do Jainismo; e o Dhamacakra, do Budismo, são apenas alguns exemplos de símbolos que fazem com que uma religião76 seja reconhecida em qualquer parte do mundo (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000). Com efeito, cada um desses símbolos, além dos inúmeros outros que não foram mencionados, possui um significado complexo e específico, mas, como foi visto, não é objetivo do presente artigo estudá-los, pese embora a importância da temática77. Porém, necessário registrar que símbolo é uma espécie de “signo que funciona como um simulacro livre, construído pelo conhecimento, com a intenção de dominar o mundo da experiência sensível e captá-lo como um mundo organizado de acordo com determinadas leis” (STERNICK, 2007, p. 13). No que diz respeito aos símbolos religiosos, com base nos estudos de Ferrentini (2007, p. 8), pode-se afirmar que a atitude religiosa se estabelece fundamentalmente na humanidade por meio da realidade simbólica, é dizer, o símbolo seria “o elemento constituinte nuclear de qualquer processo religioso, já que aponta para a concreção desta comunhão ou união de duas partes”. Depreende-se, pois, que a literatura especializada não diverge quanto à importância do símbolo para qualquer religião e/ou processo religioso. Voltando a atenção para os fins deste artigo, tem-se que o crucifixo representa a imagem de Jesus Cristo pregado na cruz, salientando-se a sua relação com a doutrina católica. 76 De acordo