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DIREITO PENAL - TRIBUNAL DO JURI - PERGUNTAS E RESPOSTAS

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Questões controvertidas sobre tribunal do júri - perguntas e respostas
1. A transmissão dos julgamentos do júri é acertada ou errada?
Tendo em vista o Princípio da Publicidade, integrante do Devido Processo Legal e ensejador de uma verdadeira transparência da atuação da Justiça, num primeiro olhar, a transmissão de julgamentos do júri ou mesmo de outra natureza via TV, internet ou outros recursos tecnológicos hoje disponíveis se apresenta como algo positivo. Na verdade, representa uma verdadeira potencialização de efetividade do Princípio da Publicidade e da "sociabilidade" (Malatesta) dos atos do Poder Judiciário. Não obstante, alguns cuidados devem ser tomados para que o aspecto positivo dessa iniciativa não se perverta em exploração midiática que pode implicar em prejuízo para a necessária serenidade e imparcialidade de qualquer julgamento. Um primeiro problema que vislumbro e apresento a debate como um questionamento, vez que eu mesmo não tenho uma solução específica e concreta é a questão da seletividade dos casos que serão transmitidos, obedecendo uma orientação midiática e não à satisfação de outro princípio constitucional e processual, que é o da Igualdade ou Isonomia. Explico: somente vemos e veremos casos de repercussão tendo esse tratamento midiático, essa ampliação da publicidade, não por interesses públicos ou sociais, mas por motivações de audiência de emissoras, veículos de informação etc. A conciliação desse princípio com a transmissão, tendo em vista ser a situação permeada por interesses outros que não processuais e constitucionais, parece ser um fator problemático que mereceria maiores estudos. Por derradeiro, é importante ressaltar que há limitações ao Princípio da Publicidade estabelecidas pela própria lei processual e pela Constituição. Chamo a atenção para o interesse público e a intimidade das partes. Assim sendo, penso que a publicidade midiática de um julgamento somente deve ser levada a efeito com o assentimento unânime de todos os envolvidos, vítimas, familiares, acusação e defesa. Penso que esse é um cuidado que deve ser tomado. Há também outros impedimentos legais diretos, como, por exemplo, um júri em que há julgamento por conexão de um crime contra a dignidade sexual, este último dotado de sigilo legal nos termos do art. 234 - B, CP.
2. O tribunal do júri deveria acabar ou deve ser mantido?
Essa pergunta comporta duas abordagens: uma técnico – legal e outra política. Iniciemos pela mais simples, a técnico – legal. Sob o ponto de vista legal a proposta de eliminação do Júri é absolutamente inviável, considerando a nossa ordem constitucional que o elenca dentre os Direitos e Garantias Individuais no artigo 5º. XXXVIII, CF e, consequentemente, o erige em Cláusula Pétrea nos termos do artigo 60, § 4º., IV da mesma Carta Magna. Portanto, somente uma nova Constituição, no exercício do poder constituinte originário e não derivado é que poderia eliminar a instituição do Júri. Agora resta abordar a questão sob o viés político. Seria interessante eliminar de nosso ordenamento processual o Júri? A questão já foi debatida por pessoas bem mais gabaritadas como, por exemplo, Rui Barbosa e Goffredo Telles Júnior a quem remeto os leitores. Inobstante, registro minha singela opinião de que o Júri é uma instituição que confere ao Poder Judiciário um matiz democrático, em especial nos crimes mais graves que afetam o bem jurídico vida, merecendo ser mantido. Podem ocorrer aperfeiçoamentos em seus mecanismos, mas não me parece que sua eliminação, seja pela tradição, seja por seu caráter de participação popular na atividade jurisdicional, possa ser uma boa opção.
3) A competência do Tribunal do Júri deve ser ampliada ou não?
A meu sentir, tendo em vista a tradição brasileira, embora já tenha possibilitado o julgamento de outras matérias pelo Júri, se ajusta bem à limitação hoje imposta aos crimes dolosos contra a vida consumados ou tentados. O procedimento do Júri se expandido a outros crimes ou mesmo generalizado como ocorre em outras terras (v. G. EUA), conduziria a uma lentidão desnecessária na já bastante morosa prestação jurisdicional. Eventualmente, um procedimento de Júri adaptado e mais célere poderia ser expandido a outros crimes, já que há entendimento de que a indicação constitucional dos crimes dolosos contra a vida consumados ou tentados não é “numerus clausus”.
4) A incomunicabilidade dos jurados deve ser mantida ou não?
O grande dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues nos fala do “complexo de vira – lata” brasileiro. Isso nos faz pensar muitas vezes que tudo que é estrangeiro é melhor e nem sempre isso é verdadeiro. Por que nosso sistema de incomunicabilidade não pode ser melhor do que modelos alienígenas? A incomunicabilidade empresta maior eficácia ao sigilo das votações, que, por seu turno, garante a incolumidade e imparcialidade dos julgadores de fato, aliviando-os de pressões de todas as espécies. Ademais, se o Júri tem como uma de suas virtudes cardeais a abertura democrática da jurisdição ao povo, a atuação desses juízes de fato deve ser ao máximo assemelhada à dos juízes togados. O Juiz, na primeira instância atua singularmente, ninguém com ele discute ou o persuade no momento do proferir de sua decisão. Assim também deve ser com os jurados, aproximando-os ao máximo do Juiz Togado. Além disso, a discussão da causa entre os jurados pode fazer prevalecer a capacidade argumentativa ou mesmo retórica (no sentido pejorativo) de um dos componentes do corpo de sentença, o que não retrata uma decisão livre e democrática, mas uma decisão conduzida. E mais, essa condução pode ser dar num clima de debate saudável, como corre o risco de ser uma das maneiras de infiltração de pessoas com a justa finalidade de intimidação e convencimento em prol de um réu, especialmente em casos de indivíduos de alta periculosidade, envolvidos com o crime organizado ou detentores de grande poder financeiro. Finalmente, há novamente o obstáculo técnico – legal. Se a Constituição Federal estabelece o “sigilo das votações”, esse deve prevalecer inclusive entre os jurados. Também não se pode pretender adotar no Brasil o sistema em que os Jurados têm de chegar a uma decisão por unanimidade após discussão da causa. Isso também feriria de morte o sigilo das votações. Ora, decidindo pela condenação ou absolvição, os votos dos jurados seriam plenamente conhecidos de todos. Portanto, também sob o prisma legal, somente uma reforma constitucional originária poderia afastar a incomunicabilidade dos jurados e, consequentemente, o sigilo das votações, o que não nos parece razoável, de modo que o sistema brasileiro se apresenta mais garantista para os julgadores e para a imparcialidade e liberdade das votações do que outros modelos estrangeiros.
5) O promotor deve continuar ao lado do juiz, ou ficar ao lado da defesa, em respeito à igualdade entre as partes (acusação e defesa)? 
A disposição física da sala de audiência pode realmente ensejar mensagens subliminares prejudiciais ao equilíbrio processual entre as partes. Não há hierarquia e nem sobreposição entre acusação e defesa. Ao reverso, existe o chamado “Princípio de Paridade de Armas”, o Princípio da Isonomia ou Igualdade que, em alguns momentos, pode até mesmo pender para o benefício defensivo em virtude do denominado “Favor Rei”. Portanto, a disposição da sala de audiências deve primar pela igualdade de posições, inclusive topográficas entre as partes.
6) O banco dos réus deve continuar ou ser suprimido? 
Novamente entra em jogo a questão das mensagens subliminares transmitidas pela posição topográfica e até pelas palavras como no caso da expressão “banco dos réus”. O denominado “banco dos réus” pode exercer uma influência psicológica nos jurados, tendo em vista seu simbolismo que pode ensejar uma tendência à consideração prévia de culpabilidade.
7) O réu deve ficar algemado durante o julgamento ou não? 
A resposta a princípio é negativa. Deve permanecer escoltado, se estiver preso provisoriamente, mas não algemado. O fato de permaneceralgemado durante o plenário é outra forma de simbolismo e mensagem subliminar que pode gerar uma tendência à prévia consideração da culpabilidade por parte dos jurados. Inclusive a matéria já é sumulada e legislada, estabelecendo que o uso de algemas deve ser sempre evitado, a não ser em casos de tumulto da seção, periculosidade extrema do réu, possibilidade de fuga ou de arrebatamento, devidamente justificadas pelo Juiz.
8) A reprodução (no plenário) de toda prova já existente no processo deve continuar ou acabar? 
Entendo que acabar com a reprodução da prova em plenário corresponde a acabar com o próprio Tribunal do Júri. O Jurado então deveria apenas votar com base em documentos previamente produzidos, a cuja formação não teve acesso direto. Nesse caso seria então melhor suprimir a instituição do Júri. Penso que a produção de prova em plenário, “in faciem” dos Juízes Leigos é característica essencial do Júri que jamais pode ser suprimida. Há certos limites a serem impostos, inclusive para evitar manobras visando o cansaço físico e mental dos jurados, como ocorre com a reforma promovida no CPP quanto à leitura de documentos, restringindo-a a certos casos apenas. Mas a supressão total violaria a essência da instituição.
9) A mídia influencia os julgamentos criminais? 
Induvidosamente a mídia influencia não somente os julgamentos criminais, mas também todo o sistema penal desde a origem legislativa. Cabe ao Judiciário, ao Ministério Público, à Polícia e aos Advogados manter a sobriedade necessária para evitar que essa influência midiática venha a prejudicar a realização de um julgamento justo. No caso específico do Júri essa influência midiática pode ser ainda mais forte porque não se tratam de julgadores técnicos. A potência da mídia hoje retira até mesmo a força de certos institutos como o desaforamento. Veja, a partir do momento em que há massiva divulgação tendenciosa nos meios de comunicação sobre um fato qualquer, tanto faz que o julgamento se dê numa cidade do interior de São Paulo ou seja desaforado para Manaus! O desenvolvimento das comunicações e sua influência sobre as pessoas nos coloca a todos num mundo pequeno em que é muito difícil escapar ao assédio midiático. É nesse momento que cabe aos operadores do direito, com sua formação técnica e desejado equilíbrio, primar pela redução dos eventuais danos criados pela exposição do caso nos meios de comunicação de massa, inclusive alertando os jurados para o fato de que devem se ater à lei e aos fatos e provas concretos existentes nos autos.
10) O homicídio passional deve aumentar ou diminuir a pena? 
Nem sempre aquilo que se entende por homicídio passional caracteriza o privilégio. Cada caso deve ser examinado separadamente, devendo-se tomar a cautela para que elementos de índole "machista" não venham a influenciar em decisões, a exemplo da já ultrapassada e vetusta teoria da "legítima defesa da honra".
Vale a lição de Magalhães Noronha:
“Em regra, os Tribunais têm aceitado a violenta emoção do marido que colhe a mulher em flagrante adultério. Compreende-se o ímpeto emocional, diante da surpresa ou inesperado da cena, pois é de sua essência ser brusco, repentino e violento. Mais que discutível, entretanto, será o choque emotivo, se o marido, sabendo da infidelidade da mulher, tudo preparar e fizer para colhê-la em flagrante. Incompreensível é essa 'emoção a prazo'.
O assunto traz à baila a paixão amorosa. A Escola Positiva exaltou o delinquente por amor e foi bastante para que por passional fosse tido todo matador de mulher, esquecendo-se dos característicos que aquela apontava. A verdade é que, via de regra, esses assassinos são péssimos indivíduos: maus esposos e piores pais. Vivem sua vida sem a menor preocupação para com aqueles por quem deviam zelar, descuram de tudo, e um dia, quando descobrem que a companheira cedeu a outrem, arvoram-se em juízes e executores.
A verdade é que não os impele qualquer sentimento elevado ou nobre. É o medo do ridículo - eis a verdadeira mola do crime.
Esse pseudo - amor não é nada mais que sensualidade baixa e grossa,..."
É possível sim que em raros casos concretos se configure no homicídio passional o privilégio do relevante valor moral ou mais comumente do domínio da violenta emoção seguida de injusta provocação da vítima, mas a regra será mesmo a situação de qualificadora por motivo torpe (ciúme possessivo).
11) O femicídio (morte por razão de gênero) deve ser um crime autônomo?
Hoje em dia há uma moda de criação de tipos penais específicos para cada seguimento social (mulheres, crianças, idosos, negros, homossexuais etc.). Nada contra ações positivas, nada contra a proteção de hipossuficientes e minorias, mas essa “moda” está se convertendo em um exagero de “milimetrização” (desculpem o neologismo) penal que se não for contida levará a um infinito crescimento desse campo já hipertrofiado do Direito. O que precisamos é minimizar o Direito Penal e não passar a criar novos tipos penais para cada seguimento social. Isso é apenas uma atuação simbólica e muitas vezes diabólica e demagógica que não confere melhor proteção aos bens jurídicos e aos interesses das próprias pessoas envolvidas. Muito ao contrário, a hipertrofia penal torna o sistema falho, lento, ineficiente e meramente simbólico.
12) No homicídio o réu deveria cumprir mais tempo de pena em regime fechado? 
Não necessariamente. A individualização legal da pena já faz naturalmente que o tempo de progressão para crimes graves como o homicídio seja mais elevado. Não se deve esquecer também das regras mais duras da lei dos crimes hediondos para a progressão em casos de homicídios qualificados ou naqueles agora majorados pela atuação de grupos de extermínio ou milícias privadas. Num segundo momento o juiz faz a individualização “in concreto”, o que também influenciará em cada caso no tempo de cumprimento inicial fechado. Finalmente, haverá a individualização executiva ou executória no cumprimento da reprimenda, podendo ocorrer, inclusive, que algum detento cumpra a pena integralmente no regime fechado, desde que não demonstre mérito para a progressão. Em suma, a chave não está num estabelecimento apriorístico de maior tempo de regime fechado para este ou aquele crime, mas no cumprimento adequado e rigoroso da individualização da pena em suas três fases (legal, judicial e executiva).
13) Pode alguém ser condenado só por indícios? 
Os indícios são previstos no CPP como um dos meios de prova. Sabe-se que uma prova isolada, mesmo a confissão, não serve à condenação (limite probatório da unicidade). Entretanto, um conjunto coerente de provas, inclusive somente indiciárias, mas que tenham força convincente para superar qualquer dúvida razoável, pode sim, conduzir a uma condenação.
14) O réu pode mentir impunemente?
A questão é complexa. A princípio a resposta, como regra, é positiva. Trata-se da ampla defesa exercida na sua acepção de autodefesa. O réu tem assegurado o direito ao silêncio e também à mentira em sua autodefesa. No entanto, há casos em que o réu pode ser responsabilizado, mesmo no sistema brasileiro, por mentiras ditas em autodefesa. Por exemplo, se mentir sobre sua qualificação (artigo 307, CP). Os tribunais vinham decidindo que o direito ao silêncio e à não autoincriminação abrangia também essa parte do interrogatório, mas atualmente, a nosso ver, com acerto, tem –se entendido que não há uma carta branca ao réu par mentir sobre sua identidade. Outra situação é aquela em que o réu, para se esquivar de imputações, assaca acusações inverídicas dolosamente contra terceiros inocentes, resultando em instauração de procedimentos contra tais pessoas, o que pode ensejar o crime de denunciação caluniosa nos termos do artigo 339, CPP. Pode ainda o réu, ao mentir, se autoincriminar falsamente, o que também conduz à responsabilização por infração ao artigo 341, CP. Conclui-se, portanto, que o direito à mentira para o réu no processo não é absoluto, mas constitui uma regra.
15) O silêncio do réu, no plenário, traz prejuízo para suadefesa? 
Não, em nenhuma hipótese o silêncio do réu pode ser interpretado em seu prejuízo. Era irrazoável e inconstitucional a regra processual anteriormente vigente em nosso CPP que mandava avisar o indiciado ao réu que ele tinha o direito ao silêncio, mas que este poderia ser interpretado em seu prejuízo. Isso já foi suprimido pelas recentes reformas no CPP (vide artigo 186, Parágrafo Único, CPP). Ora, como poderia o exercício de um direito constitucionalmente assegurado ao indivíduo importar em prejuízo a ele mesmo? Isso perverteria o direito em ônus! A questão é hoje totalmente superada, inclusive pela legislação ordinária que é clara e direta. O único prejuízo de ordem fática que o silêncio pode ensejar ao réu é a perda da oportunidade de manifestar sua versão dos fatos, indicar outros suspeitos, provas etc., mas isso é uma escolha que lhe compete, bem como ao seu defensor na elaboração de sua tática defensiva.
16) Diante do silêncio do réu, pode a parte fazer perguntas? 
Havia dispositivo no CPP dizendo que quando o indiciado ou réu permanecesse em silêncio, seriam consignadas as perguntas feitas com negativa de resposta. Após reforma esse dispositivo foi revogado expressamente, de modo que a conclusão é que quando o réu faz uso de seu direito constitucional ao silêncio, não se deve mais consignar as perguntas. Não as consignando potencializa-se a garantia do silêncio, pois que não se pode alegar que foram dirigidas perguntas e que o réu não as respondeu.
Direito Penal - Parte Especial I - v.6
Dr. Eduardo Cabette

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