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FIGURAS DE LINGUAGEM As figuras de linguagem são recursos que tornam mais expressivas as mensagens. FIGURAS DE PALAVRA OU SEMÂNTICAS 1) metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido. “Meu coração é um balde despejado” (Fernando Pessoa) Ela é uma flor. 2) comparação: aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por nexos comparativos explícitos (como, tal qual, assim como, que nem...) Ela é como uma flor. 3) metonímia ou sinédoque: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe: 1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (= Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.) 2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= As lâmpadas iluminam o mundo.) 3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (= Não te afastes da religião.) 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.) 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates tomou veneno.) 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo.) 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (= Bebeu todo o líquido que estava no cálice.) 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás dos jogadores.) 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente.) 10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse mundo.) 11 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado.) 4) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade: O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem. O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem. O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. 5) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. “Como era áspero o aroma daquela fruta exótica” (Giuliano Fratin) “No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos.” (silêncio = auditivo; negro = visual) 6) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado. O pé da mesa estava quebrado. FIGURAS DE SINTAXE OU CONSTRUÇÃO 1) elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto. “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia) 2) zeugma: é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Ela come pizza; eu, carne. (omissão de como) 3) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período. “Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!” com calma sem sofrer” (Olavo Bilac) 4) assíndeto: É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas assindéticas. Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. "Vim, vi, venci." (Júlio César) 5) inversão/hipérbato: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase. Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.) “Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores” (Osório Duque Estrada, em Hino Nacional Brasileiro) 6) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser: • Silepse de gênero: Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com a ideia que o termo comporta. Vossa Excelência está preocupado. A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso. Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho) • Silepse de número: Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida. Os Lusíadas glorificou nossa literatura. (o livro “Os Lusíadas”) O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. Note que nos exemplos acima, os verbos glorificou e gritavam não concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações, mas com a ideia de singularidade/pluralidade que neles está contida. • Silepse de pessoa: Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no sujeito. “O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.” Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho. "Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis) Observe que os verbos persistamos, temos e somos não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros, agricultores e cariocas que estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os agricultores e os cariocas). 7) anacoluto: Consiste na mudança da construção sintática no meio da frase, ficando alguns termos desligados do resto do período. Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles. A expressão "esses alunos da escola" deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma interrupção da frase e essa expressão fica à parte, não exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é chamado de "frase quebrada", pois corresponde a uma interrupção na sequência lógica do pensamento. O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem. A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco) Obs.: o anacoluto deve ser usado com finalidade expressiva em casos muito especiais. Em geral, deve-se evitá-lo. 8) pleonasmo: consiste numa REDUNDÂNCIA cuja finalidade é reforçar a mensagem. “Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa) 9) anáfora: É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual. “ Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer” (Camões) FIGURAS DE PENSAMENTO 1) antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido. "O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa) “Eu vi a carada morte, e ela estava viva”. (Cazuza) 2) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico. “A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.” Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto. 3) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável. Fernando faltou com a verdade. (= mentiu) Seu Jurandir partiu desta para uma melhor. (em vez de ele morreu) 4) hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática. Estava morrendo de fome. (em vez de estava com muita fome) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. 5) prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados. “Devagar as janelas olham…” (Carlos Drummond de Andrade) O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia. 6) gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax) “O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário.” (Olavo Bilac) "O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira) 7) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada), realiza-se por meio do vocativo. “Ó Leonor, não caias!” 8) Paradoxo: Consiste numa proposição aparentemente ABSURDA, resultante da união de ideias contraditórias. Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas. FIGURAS DE SOM 1) aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais. “Belos beijos bailavam bebendo breves brumas boreais” (Luan Farigotini) 2) assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos (vogais) idênticos. “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras” (Cruz e Sousa) 3) paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. “Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias” (Padre António Vieira) “Quem vê um fruto, não vê um furto.” (Mário Quintana) 4) Onomatopeia: ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade. Os sinos faziam blem, blem, blem, blem. Miau, miau. (Som emitido pelo gato) Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar. Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã. EXERCÍCIOS: 1. “Amor é fogo que arde sem se ver, / é ferida que dói e não se sente...” Nos versos destacou-se: a) metonímia b) metáfora c) antítese d)ironia e)comparação 2. Em “Deus! ó Deus! onde estás que não me respondes?!” a) pleonasmo b) hipérbole c) antítese d) apóstrofe e) eufemismo 3. Na expressão “...a natureza parece estar chorando...”, do ponto de vista estilístico, temos: a) antítese b) polissíndeto c) ironia d) personificação e) eufemismo 4. “Naquela terrível luta, muitos adormeceram para sempre.” a) antítese b) eufemismo c) anacoluto d)prosopopeia e)pleonasmo 5. Na frase “O rato roeu a roupa do rei de Roma”, há exemplo de: a)aliteração b) metonímia c) antítese d) metáfora e)ironia 6. Assinale o exemplo de metonímia cuja caracterização entre parênteses está invertida: a) os mortais= os homens ( o gênero pela espécie) b) rebanho de cem cabeças= reses (a parte pelo todo) c) o mundo é egoísta= os homens (o todo pela parte) d) é uma pena brilhante= escritor (instrumento pelo agente) e) é um Demóstenes= um grande orador (a classe pelo indivíduo) 7. Ocorre catacrese na seguinte alternativa: a) Renatinho quebrou o bico do bule. b) Respeito-lhe os cabelos brancos. c)Os formandos queremos fazer um churrasco. d)Meus amigos, nunca me esquecerei deles. e) O nome da filha, escolhi-o de um romance. 8. “Poderia ouvir o fogo gemer” temos: a) prosopopeia b)sinédoque c) eufemismo d)ironia e)metáfora 9. Em “E mal acendi a luz, puf, puf, puf, puf” encontra-se: a)sinestesia b)antítese c)onomatopeia d)metonímia e)metáfora 10. “Ontem, comprei um Ford lindo.” temos: a)prosopopeia b)antítese c)eufemismo d)hipérbole e)metonímia 11. Assinale a alternativa em que há a figura denominada elipse: a) Marcos trabalha nos Estados Unidos, e Marina, no Canadá. b) O vento gemia no meu ouvido. c) Augusto passou dessa para melhor. d) Já te chamei duzentas vezes, Miguel! e) Comprei cigarro, e vinho, e refrigerante, e doces. Gabarito: 1.b;2.D; 3.D; 4. B; 5. A; 6. E; 7. A; 8.A; 9. C; 10.E;11.A