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Introdução ao Direito VIGÊNCIA DA LEI NO TEMPO E ESPAÇO 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Vigência da lei no espaço e no tempo.......................................................................................2 1.1. Vigência da lei no tempo.....................................................................................................2 1.2. Vigência da lei no espaço..................................................................................................5 Exercícios ...................................................................................................................................... 6 Gabarito ........................................................................................................................................ 7 Resumo ......................................................................................................................................... 7 2 Introdução Na apostila anterior “Hermenêutica Jurídica”, falamos sobre o ato de interpretação das normas jurídicas e aprendemos as técnicas interpretativas utilizadas pelo Direito. Vimos que as leis possuem os mais diversos conteúdos, que se adaptam à sociedade e mudam conforme a necessidade da população, da política, da economia, enfim, de vários fatores que influem na contemporaneidade. Essas leis também mudam de acordo com o tempo. Afinal, o Direito, por se tratar de uma ciência normativa e social, não pode estagnar e ficar parado no tempo, pois se isso acontecer, ele não conseguirá mais responder às necessidades da população. Nesta apostila, veremos que a aplicação da lei deve ocorrer de forma ordenada em um determinado tempo e local, justamente para evitar a ocorrência de conflitos e para que o Direito se mantenha harmonioso, respondendo aos problemas da sociedade. Por isso, aprenderemos sobre os conceitos de vigência temporal e espacial da lei. Afinal, se o mundo é composto das mais diversas nações, as quais, por sua vez, possuem os mais variados sistemas normativos, o que acontece quando temos situações reais nas quais esses diferentes sistemas entram em conflito? Objetivos • Conceituar vigência; • Aprender sobre vigência temporal; • Conhecer a vigência espacial segundo o ordenamento jurídico brasileiro. 1. Vigência da lei no espaço e no tempo 1.1. Vigência da lei no tempo As normas jurídicas possuem conteúdos variados e variáveis, de acordo com os povos, épocas e lugares. Por isso, é importante estudarmos como ocorre a sua aplicação, seja no tempo, seja no espaço. A norma jurídica tem princípio e fim, de modo que tem eficácia limitada no tempo. Esse tempo em que impera uma norma jurídica pode ou não ser estabelecido pelo legislador. 3 Assim, pode o legislador estabelecer termo fixo para o tempo da eficácia de uma lei, pode condicionar a sua produção de efeitos a um fato ou a acontecimento futuro, ou, também pode subordiná-la a uma situação provisória. Não sendo este o caso, a lei terá eficácia indefinida, até que outra a revogue, ou seja, com ela incompatível. Essa incompatibilidade pode ser total ou parcial. No caso de incompatibilidade total, ocorrerá o que chamamos de ab-rogação da lei. E no caso de incompatibilidade parcial, teremos a derrogação da lei, de maneira que perderão os efeitos (ou seja, ficará derrogada) somente na parte em que for incompatível com a nova norma. FIQUE ATENTO! Tanto a supressão total ou parcial dos efeitos da norma pode ser tácita ou expressa. Será expressa quando a lei nova expressamente ab-roga ou derroga a lei anterior e será tácita, quando o preceito da nova lei é incompatível, no todo ou em parte, com a lei anterior. No que tange aos efeitos da mudança da lei, devemos nos atentar ao seguinte: • Se a nova lei for geral, revoga a lei anterior. Se for lei especial, não revoga a lei vigente, salvo na parte em que disciplinar de forma diversa matéria anteriormente regulada pela lei geral. • Lei posterior geral não derroga lei especial, eis que se uma lei especial sucede uma lei geral, coexistirão ambas, porque disciplinam matérias diferentes, salvo se a lei geral nova expressamente revogar a lei especial anterior. Para evitar mudança brusca entre o sistema jurídico anterior e assim a ordem jurídica atinja sua finalidade é comum que a lei nova seja acompanhada de normas de tratamento jurídico provisório, adaptadoras da vida social à nova legislação. São as chamadas disposições transitórias. GRAVE NA MEMÓRIA: ab-rogação é a supressão total de uma lei anterior por uma posterior, e derrogação é a revogação parcial de uma lei por outra. 4 DICA Uma lei pode ainda ter sua vigência suspensa, temporariamente, por outra lei, por motivos de utilidade social. Nesta forma, não ocorrerá nem derrogação, nem ab-rogação. O desuso se caracteriza quando uma lei é abandonada, seja por possíveis efeitos sociais prejudiciais que produz, por motivos de utilidade social ou por outros motivos de ordem prática. Ainda assim, continua a ser lei, de maneira enquanto não for revogada pode ser aplicada pelo juiz, e as partes não pode alegar que a lei está fora de moda, abandonada. A substituição parcial ou total de uma lei por outra cria o problema da retroatividade das leis. Retroatividade é a incidência no passado dos efeitos jurídicos de uma lei nova ou de um ato de direito público. Ou seja, a nova lei é ou não aplicável às situações jurídicas constituídas sob o império anterior? Alguns juristas defendem o princípio da retroatividade das leis. Mas esse instituto traz grande perigo para a segurança jurídica, pois ameaça garantias individuais, a ordem social e os interesses públicos, sendo motivo de incerteza para as relações jurídicas. Assim que a lei entra em vigor, tem eficácia e atinge todas as situações nela previstas. Desta forma, não deve retroagir a lei que afeta o fato consumado sob a vigência da lei anterior. Já os atos jurídicos realizados durante a vigência da lei revogada e que continuam a produzir efeitos na vigência da nova lei, os efeitos realizados na vigência da lei anterior não devem ser afetados pela nova lei (irretroatividade); já os efeitos a serem produzidos na vigência da nova lei deverão ser por estar regulados (efeito imediato da lei). Só existe uma hipótese em que a lei retroage. E esta hipótese é admitida no direito penal quando a nova lei beneficia o réu. Portanto a lei só retroage em benefício do réu. Por exemplo, se a lei antiga prevê 20 anos de prisão e a nova lei prevê 15 anos por um crime qualquer, todo réu que já tiver cumprido 15 anos de pena deverá ser solto. Mas caso a nova lei preveja pena maior para aquele crime cometido, o réu não deverá cumprir uma pena maior do que a fixada pelo juiz. Em breve, o ordenamento jurídico será novamente inundado por regras transitórias, uma vez que a mudança do regime de previdência ocorrerá. Assim, haverá disposições que tratarão das pessoas que estão prestes a se aposentar e que não poderão ser incluídas no novo sistema de aposentadoria.É importante que você acompanhe o noticiário e fique atento a essas mudanças. 5 Ditam sobre este princípio a própria Constituição Federal e Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), garantindo limites à retroatividade das leis para o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. CF, art. 5º, XXXVI - A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. LINDB, art. 6º - A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. SAIBA MAIS! Assim, a regra, como dissemos, é a da retroatividade das leis, limitada pelo princípio da irretroatividade, que determina só dispor a lei para o futuro, não sendo aplicável ao passado, nos casos de direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada. Quanto ao costume, desaparece com o desuso, isto é, com o abandono pelos tribunais de uma jurisprudência, pela coletividade que o criou. Pode ser derrogado pelo aparecimento de novo costume incompatível com o tradicional. Nos sistemas jurídicos em que existe a predominância da lei sobre as demais fontes formais o costume pode ser derrogado por lei. 1.2. Vigência da lei no espaço A eficácia extraterritorial das leis depende da vontade de outro Estado, admitida através de leis ou tratados internacionais. Havendo conflito de leis nacionais e estrangeiras, por tratar-se de problema mais complexo, é resolvido pelo Direito Internacional Privado, que indica a legislação a ser aplicável no caso de conflito entre a lei nacional e a lei estrangeira. Direito adquirido – são os direitos patrimoniais, de natureza privada, que fazem parte do patrimônio de uma pessoa, e que para ela tenha utilidade razoável. Esse conceito exclui as expectativas de direitos, os direitos públicos e as faculdades jurídicas. Ato jurídico perfeito – é o ato realizado completamente segundo a lei vigente ao tempo em que foi celebrado. Coisa Julgada – trata-se da decisão de que não cabe mais recurso, que não pode mais ser modificada. Ela também não é afetada pela lei nova. 6 O direito tem eficácia em todo o território do Estado que o sancionou. Assim no que tange à vigência da lei no espaço, um dos princípios fundamentais é o da territorialidade das leis, segundo o qual o direito de um país é aplicável somente dentro de suas fronteiras. Assim, o direito nacional fica circunscrito aos limites do território nacional, estando a ele submetidas todas as pessoas e coisas que nele se acharem. Há ainda a teoria do domicílio, segundo a qual os conflitos são resolvidos pela lei do país em que a pessoa é domiciliada. Temos também o princípio da nacionalidade, oposto à referida teoria, para o qual a nacionalidade da pessoa é que define a resolução do conflito. A doutrina e a legislação têm ainda estabelecido outros critérios para resolver estes tipos de conflitos de vigência espacial, tais como: • O lugar em que o ato for realizado ou em que o fato ocorreu, determina a lei aplicável (locusregitactum); • O lugar em que as coisas se encontram fixa a lei a elas aplicável (lex rei sitae); • Quanto aos contratos, as partes podem estabelecer a lei que os rege, e no caso de silêncio entre as partes, estabelece a vigência do lugar em que foi celebrado. No caso de direito público, prevalece o princípio da territorialidade, valendo as suas regras somente no território que as ditou, mas a extraterritorialidade é válida para os diplomatas sujeitos à lei dos países que representam. Importante também salientar que segundo a maioria das legislações e segundo os princípios gerais do direito, a lei estrangeira é inaplicável quando contraria a ordem pública e aos bons costumes, sendo estes, então, limites à aplicação de lei estrangeira. Exercícios 1. (TCE/RJ – Auditor Substituto – FGV – 2015) Sobre o conflito de leis no tempo, é correto afirmar que: a) a revogação tácita equivale à repristinação. b) a lei especial não revoga a lei geral anterior. c) não é admitida a derrogação expressa. d) o efeito repristinatório é admitido em todas as leis. e) a ab-rogação das leis é defesa pelo ordenamento jurídico. 2. Ryan, escocês, em viagem ao Brasil, conhece Maria, brasileira, e ambos iniciam um relacionamento. Após casarem-se no Rio de Janeiro, adquiriram um imóvel e lojas comerciais. Após 5 anos da união, Ryan e Maria tem 2 filhos, João e 7 Fernanda, ambos nascidos em São Paulo/SP. Tendo residido no Brasil por20 anos, a família se muda para a Escócia, e decorridos 6 meses da mudança, Ryan vem a falecer em um acidente de carro. No caso anterior, como ocorrerá a sucessão dos bens? a) A sucessão será regulada pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, independente de eventual conteúdo favorável aos herdeiros da lei inglesa. b) A sucessão será regulada pela lei inglesa, tendo em vista a nacionalidade de Ryan. c) A sucessão será regulada pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal do de cujus. d) A sucessão será regulada pela lei inglesa, tendo em vista o local do falecimento do de cujus. e) A sucessão será regulada pela lei brasileira ou inglesa, cabendo aos herdeiros exercer a opção no momento da abertura da sucessão. Gabarito 1. Resposta correta: b). Segundo o ordenamento jurídico lei especial não revoga lei geral anterior. Como pudemos ver, apenas leis especiais podem revogar leis especiais. Isto acontece em função da preservação e autonomia das especificidades legais. Desta forma, existe um maior controle sobre as edições legislativas. 2. Resposta correta: c). Pois é predomina o princípio da territorialidade. Como todos os bens, herdeiros e cônjuge são residentes no Brasil, deverá ser aplicada a lei brasileira. Resumo Nesta apostila, vimos que as normas jurídicas possuem conteúdos variados e variáveis, de acordo com os povos, épocas e lugares. Em razão disso, a sua aplicação no tempo e no espaço são temas de suma importância. Aprendemos que a imperatividade de uma norma jurídica, ocorrerá no tempo e que este pode ou não ser determinado pelo legislador. Conhecemos como ocorre a supressão da lei do ordenamento jurídico, quando estudamos os conceitos de ab- rogação e derrogação, ou seja, a supressão total ou parcial de uma lei no 8 ordenamento jurídico. E ainda vimos brocados importantes sobre a vigência da lei no tempo. Vimos ainda que pode haver conflitos de lei no espaço, uma vez que diferentes ordenamentos jurídicos poderiam fornecer a resposta para uma problemática. Por isso, estudamos sobre a teoria do domicílio e o princípio da territorialidade, ambos protegendo o espaço físico, seja do domicílio da pessoa ou do território onde está, seja o princípio da nacionalidade, referente à origem da pessoa, e assim como na vigência da lei no tempo, aprendemos brocados de aplicação da lei no espaço. Por fim, vimos como é feita essa aplicação no Brasil, segundo os apontamentos da Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro. 9 Referências bibliográficas FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Teoria da norma jurídica: princípios e regras – distinções e intersecções. Disponível em: <http://genjuridico.com.br/2016/12/06/teoria-da-norma-juridica-principios-e-regras-distincoes-e- intersecoes/>. Acesso em: 01/03/2019 às 10h50min. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Coleção Concursos: técnico e analista: questõescomentadas – São Paulo: Saraiva, 2014. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 11/03/2019 às 15h42min. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do direito. 6ª ed. reestruturada. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1973. REALE, Miguel. Lições preliminares do Direito. 27ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 11/03/2019 às 08h00.