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Enade - Exercicios de Serviço Social - comentado

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ENADE COMENTADO 2007 
Serviço Social 
Chanceler
Dom Dadeus Grings
Reitor
Joaquim Clotet
Vice-Reitor
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial
Ana Maria Lisboa de Mello
Elaine Turk Faria
Érico João Hammes
Gilberto Keller de Andrade
Helenita Rosa Franco
Jane Rita Caetano da Silveira
Jerônimo Carlos Santos Braga
Jorge Campos da Costa
Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente
José Antônio Poli de Figueiredo
Jurandir Malerba
Lauro Kopper Filho
Luciano Klöckner
Maria Lúcia Tiellet Nunes
Marília Costa Morosini
Marlise Araújo dos Santos
Renato Tetelbom Stein
René Ernaini Gertz
Ruth Maria Chittó Gauer
EDIPUCRS
Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor
Jorge Campos da Costa – Editor-chefe
Gleny Terezinha Duro Guimarães 
Francisco Arseli Kern 
(organizadores) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENADE COMENTADO 2007 
Serviço Social 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
2010 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS
Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33
Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 
Porto Alegre – RS – Brasil
Fone/fax: (51) 3320 3711
e-mail: edipucrs@pucrs.br - www.pucrs.br/edipucrs
© EDIPUCRS, 2010
CAPA Vinícius Xavier
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS Gleny Terezinha Duro Guimarães e Francisco Arseli Kern
REVISÃO DE TEXTO Rafael Saraiva
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Gabriela Viale Pereira e Laura Guerra
Questões retiradas da prova do ENADE 2007 do Serviço Social
E56 ENADE comentado 2007 : serviço social [recurso 
 eletrônico] / organizadores, Gleny Terezinha Duro 
 Guimarães, Francisco Arseli Kern. – Dados eletrônicos. 
 – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010.
 127 p.
 Sistema requerido: Adobe Acrobat Reade
 Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs/>
 ISBN 978-85-397-0002-8 (on-line)
 1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame 
 Nacional de Desempenho de Estudantes. 3. Serviço 
 Social – Ensino Superior. I. Guimarães, Gleny Terezinha 
 Duro. II. Kern, Francisco Arseli.
 CDD 378.81
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 7 
Beatriz Gershenson Aguinsky 
COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES OBJETIVAS 
QUESTÃO 11 ........................................................................................................... 10 
Maria Beatriz Marazita 
QUESTÃO 12 ........................................................................................................... 14 
Jane Cruz Prates 
QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 17 
Maria Palma Wolff 
QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 22 
Idilia Fernandes 
QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 26 
Márcia Salete Arruda Faustini 
QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 31 
Dolores Sanches Wünsch 
QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 35 
Maria Palma Wolff 
QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 38 
Leonia Capaverde Bulla 
QUESTÃO 19 ........................................................................................................... 44 
Inês Amaro da Silva 
QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 47 
Ana Lúcia Suárez Maciel 
QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 50 
Dolores Sanches Wünsch 
QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 54 
Idilia Fernandes 
QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 62 
Esalba Maria Silveira 
QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 65 
Maria Isabel Barros Bellini 
QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 69 
Idilia Fernandes 
QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 74 
Ana Lúcia Suárez Maciel e Leonia Capaverde Bulla 
 
QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 78 
Ana Lúcia Suárez Maciel e Inês Amaro da Silva 
QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 82 
Patricia Krieger Grossi 
QUESTÃO 29 ........................................................................................................... 85 
Esalba Maria Silveira 
QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 89 
Márcia Salete Arruda Faustini e Francisco Arseli kern 
QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 94 
Patricia Krieger Grossi 
QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 96 
Jane Cruz Prates 
QUESTÃO 33 ......................................................................................................... 100 
Patricia Krieger Grossi 
QUESTÃO 34 ......................................................................................................... 102 
Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam 
QUESTÃO 35 ......................................................................................................... 107 
Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam 
QUESTÃO 36 ......................................................................................................... 112 
Alzira Maria Baptista Lewgoy 
QUESTÃO 37 ......................................................................................................... 115 
Alzira Maria Baptista Lewgoy 
COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES DISCURSIVAS 
QUESTÃO 38 ......................................................................................................... 120 
Maria Beatriz Marazita 
QUESTÃO 39 ......................................................................................................... 123 
Maria Palma Wolff 
QUESTÃO 40 ......................................................................................................... 124 
Maria Isabel Barros Bellini 
LISTA DE CONTRIBUINTES ................................................................................. 126 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 7 
APRESENTAÇÃO 
Um dos maiores desafios que se coloca para todos aqueles que dão vida a 
dinâmicas e processos constitutivos da Educação Superior é a busca permanente 
por mecanismos de construção de conhecimentos e aprendizagem que, de fato, 
decorram de processos avaliativos. Como aprender sem avaliar? Como avaliar sem 
perder de vista os processos formativos que deveriam ser intrínsecos a toda 
avaliação no âmbito educativo? E como agregar valor a estratégias avaliativas – 
sejam elas externas ou internas às Universidades – de modo a resistir a lógicas 
binárias e retrógradas que insistem em povoar a cultura das práticas avaliativas, 
quando associadas meramentea resultados per se, burocraticamente orientadas a 
formas de premiação ou punição nas mais variadas dimensões da educação? 
O enfrentamento desse desafio exige esforços intencionais de gestores, 
professores e alunos, para que processos avaliativos não apenas estejam 
incorporados ao cotidiano da vida universitária, mas que sejam conhecidos e 
apropriados por todos, servindo a propósitos elevados: o compartilhamento de 
saberes a serviço de patamares de qualidade na formação superior. 
Com esse propósito, a Faculdade de Serviço Social (FSS) da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) associa-se à iniciativa da Pró-
Reitoria de Graduação, através da EDIPUCRS, lançando o ENADE 2007 
Comentado: Serviço Social, na forma de e-book. 
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é parte 
integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), 
responsável pela avaliação externa de Instituições de Ensino Superior e de Cursos. 
É objetivo do ENADE de aferir o rendimento dos estudantes dos cursos de 
graduação das Instituições de Ensino Superior. Por essa razão, costuma-se associá-
lo tão somente a uma prova. No entanto, o ENADE articula quatro instrumentos 
distintos: uma prova, um questionário de impressões sobre a prova, um questionário 
socioeconômico – todos a serem respondidos pelos estudantes – e um questionário 
destinado ao(a) coordenador(a) do(a) curso/habilitação. Por força de disposições 
legais do SINAES, o ENADE é componente curricular obrigatório, ficando a colação 
de grau do estudante condicionada à comprovação de sua participação no Exame. 
8 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
A prova aplicada na área de Serviço Social apresenta 40 questões, sendo 10 
questões de formação geral, comuns a todos os cursos da área da saúde, e 30 
questões de componente específico. Assim, tendo por base as questões do 
componente específico do ENADE 2007, aplicada em todo o território nacional aos 
estudantes de Serviço Social, a presente publicação reúne a contribuição de 
docentes da FSS/PUCRS, que responderam às questões do ENADE de modo 
comentado. O conjunto das questões e das respostas apresentadas na forma de e-
book, certamente será uma oportuna fonte de consulta e estudos de temas 
contemporâneos da área para os estudantes e também como material didático para 
o trabalho em sala de aula. 
Agradeço aos Professores Francisco Arseli Kern e Gleny Terezinha Duro 
Guimarães que organizaram o ENADE 2007 Comentado: Serviço Social. Agradeço 
especialmente aos docentes da FSS que se dedicaram às respostas comentadas às 
questões do ENADE, cujo produto do zeloso trabalho, ao tornar-se público, revigora 
a certeza do quanto a avaliação formativa é fecunda para o aprimoramento 
constante da formação de qualidade em Serviço Social. 
 
Beatriz Gershenson Aguinsky 
Diretora da Faculdade de Serviço Social da PUCRS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMPONENTE ESPECÍFICO 
QUESTÕES OBJETIVAS 
 
10 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
QUESTÃO 11 
Corrente importante de estudiosos da profissão considera que a análise do papel do 
Serviço Social na reprodução das relações sociais deve partir do suposto de que a 
apreensão do significado histórico da profissão só é possível com a sua inserção na 
sociedade, pois o Serviço Social se afirma como instituição peculiar na e a partir da 
divisão social do trabalho. Esta concepção identifica, como princípio que rege a 
estruturação das relações sociais na sociedade, 
(A) a solidariedade. 
(B) a contradição de classes. 
(C) a ideologia. 
(D) a intersubjetividade. 
(E) o saber/poder. 
 
Gabarito: Questão B 
Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta. 
Conteúdo avaliado: O Serviço Social no processo de reprodução das relações 
sociais 
Autora: Maria Beatriz Marazita 
Comentário: 
A questão correta é a B 
Desde os anos 80, a análise do significado social da profissão está centrada 
no processo de reprodução das relações sociais, sustentando que a questão social é 
indissociável das relações socais capitalistas, nos marcos da expansão monopolista 
e de seu enfrentamento pelo Estado. (Iamamoto, 2001: 27). 
A questão social encontra-se a base da profissionalização do Serviço Social 
(Iamamoto, 1992; Netto, 1992). Ela tem sido analisada como elemento fundante do 
exercício profissional na sociedade em suas múltiplas expressões: “A 
profissionalização da profissão pressupõe a expansão da produção e de relações 
sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem, 
no seu verso, a Questão Social” (Iamamoto, 2008:171). 
A obra Relações Sociais e O Serviço Social no Brasil de Iamamoto e 
Carvalho, publicada em 1982, apresenta a análise da profissão de Serviço Social no 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 11 
processo de produção e reprodução das relações sociais e a tese de que a profissão 
afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo no quadro do 
desenvolvimento industrial e da expansão urbana. 
Processos esses apreendidos sob o ângulo das classes sociais – a 
constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial – e as modificações 
verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o 
poder do Estado em conjunturas históricas determinadas (Iamamoto, 2008:167). 
Os processos sociais que a questão social traduz estão no centro dos estudos 
de Marx sobre a sociedade capitalista. Nessa tradição intelectual o regime capitalista 
de produção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida 
humana quanto um processo que se desenvolve sob relações sociais histórico-
econômica: sua dinâmica produz e reproduz as condições materiais de existência; as 
relações socais contraditórias e as formas sociais através das quais se expressam. 
 
Indissociável relação entre a produção dos bens materiais e a forma 
econômica social em que é realizada, isto é, a totalidade das 
relações entre os homens em uma sociedade historicamente 
particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do 
trabalho social (Iamamoto, 2008:281). 
 
Essa é a forma clássica de compreender as relações sociais do trabalho em 
que sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de 
existência e as relações sociais contraditórias e as formas sociais através das quais 
se expressam. Essa análise tem uma dupla dimensão: a existência material das 
condições de trabalho e a forma social pela qual se realiza: a natureza do valor de 
troca e os fetichismos que a acompanham. 
Historicamente a Questão Social tem a ver com o surgimento da classe 
operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol de direitos 
trabalhistas. Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações 
entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, 
exigindo a interferência do estado para o reconhecimento e a legalização de direitos 
e deveres dos sujeitos sociais envolvidos (Iamamoto, 2001;17). 
Assim, o Estado afirma o caráter público da questão social, administrando 
suas refrações – que assumem um caráter massivo –, e reforça a aparência da 
12 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
natureza privada de suas manifestações individuais, tidas como problema do 
indivíduo isolado (Netto, 2001:44). 
A alternativa A está incorreta porque o princípio da solidariedade, como 
diretriz ordenadora das relações sociais obscurece a coisificação das relações que 
se estabelece no universo da mercadoria, realçando as relações pessoais,solidárias, personalizadas. Analisar a sociedade a partir desse princípio é negar a 
sociedade capitalista e sua forma de produção e reprodução da vida material. 
A alternativa C está incorreta porque, segundo Thompson (1995), o conceito 
de ideologia é ambíguo e apresenta uma multiplicidade de significados e nuances 
diferentes devido o longo caminho percorrido desde que foi introduzido nas línguas 
europeias, há dois séculos. Na teoria social e política das duas últimas décadas 
houve duas respostas comuns à herança ambígua do conceito de ideologia. Uma 
define ideologia como “sistemas de pensamento”, “sistemas de crenças”, ou 
“sistemas simbólicos”, que se referem à ação social ou à prática política. A outra 
resposta aponta para o abandono do conceito. O conceito seria muito controvertido 
e contestado, demasiado marcado por uma história em que ele foi usado e abusado 
de diferentes modos, a tal ponto que ele não se prestaria mais, hoje em dia, para 
fins de análise social e política (Thompson,1995:16). 
A alternativa D está incorreta uma vez que a intersubjetividade não abrange a 
totalidade das relações entre os Homens em uma sociedade capitalista, regulada 
pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho. A intersubjetividade remete 
a um sistema de valores e crenças, uma proliferação de divisões entre indivíduos e 
grupos, uma falta de consenso, atitudes opostas. 
A alternativa E está incorreta porque o saber/poder, remete a tese da 
“correlação de forças” que apresenta como eixo central de sua abordagem a relação 
do Serviço Social com a política, com o pensamento gramsciano, introduzindo 
noções de “hegemonia” e “intelectual”. Segundo Iamamoto (2008), nessa acepção o 
objeto de trabalho do assistente social é uma questão disputada, um objeto de luta 
formado pelas relações de força, de poder e de saber para a conquista pelas classes 
subalternas de lugares, recursos, normas e espaços ocupados pelas classes 
dominantes (Iamamoto, 2008:295). 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 13 
Referências 
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e Conservadorismo no serviço social. 
Ensaios Críticos. São Paulo: Cortez, 1992. 
______. A Questão Social no Capitalismo. In: TEMPORALIS. Revista da 
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa. ABEPSS. Ano II, nº3, janeiro a 
junho de 2001. 
______. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho 
e questão social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. 
______; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. 
Esboço de uma interpretação histórico-metodológico. São Paulo: Cortez, 1982. 
NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. In: 
TEMPORALIS. Revista da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social – 
ABEPSS. Ano II, nº3, janeiro a junho de 2001. 
14 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
QUESTÃO 12 
Analise as afirmativas a seguir. 
Na expansão monopolista, as funções políticas do Estado burguês articulam-se 
organicamente com as suas funções econômicas. 
PORQUE 
O Estado condensa os interesses comuns de toda a sociedade. 
A esse respeito é possível concluir que 
(A) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. 
(B) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. 
(C) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. 
(D) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. 
(E) as duas afirmativas são falsas. 
 
Gabarito: Questão C 
Tipo de questão: Escolha associada com indicação da resposta correta 
Conteúdos avaliados: Função política e econômica do Estado 
Autora: Jane Cruz Prates 
Comentário: 
O Estado tem papel fundamental na expansão monopolista, na medida em 
que além de proporcionar as condições estruturais para viabilizar esse processo, 
seja do ponto de vista da infraestrutura (prioridade na construção de portos, 
estradas, incentivos fiscais e auxílios econômicos), seja via superestrutura, a partir 
de uma cultura que promulga os valores capitalistas associados ao consumo e a 
mercantilização que capilarizam-se em todas as esferas da vida social ou ainda via 
legislação que protege os proprietários dos meios de produção. Contudo, é 
permeado pela luta de classes atendendo a demandas populares quando essas 
conformam-se como expressão da questão social. Ou seja, quando essas 
reivindicações coletivas têm poder de pressão e pautam a implementação de 
direitos e políticas públicas que as materializem. O Estado aporta, portanto, 
também as condições políticas para viabilizar esse processo na medida em que 
não podem ser dicotomizadas dos aspectos econômicos, pois se articulam 
organicamente. O desenvolvimento do capitalismo é impensável sem a ajuda do 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 15 
Estado como mediador, o que não significa dizer que ele não é atravessado por 
contradições, como resultado da luta de classes e interesses antagônicos em 
disputa, embora seja preciso reconhecer que hegemonicamente atende aos 
interesses da classe dominante. 
Conforme Iamamoto (2004, p. 132), a expansão monopolista “aprofunda as 
disparidades econômicas, sociais e regionais, na medida em que favorece a 
concentração social, regional e racial de renda, prestígio e poder”. Para tanto, o 
Estado assume papel decisivo, unificando os interesses das frações da classe 
burguesa e como elemento que irradia sua ideologia, valores e interesses para toda 
a sociedade (cultura burguesa passada como cultura geral). 
Há diferentes formas de interpretar o papel do Estado. Numa primeira 
perspectiva é simplesmente considerado um aparelho de dominação de uma classe 
sobre a outra, contudo, em razão do reconhecimento da contradição, se pode 
afirmar que ele é permeado pelos diferentes interesses da sociedade, mesmo que 
em níveis diferenciados e deve, portanto, condensar os interesses coletivos. 
Pereira considera como condições fundamentais à explicitação da questão 
social a problematização da relação entre estrutura e sujeitos, entre necessidades e 
agentes com poder de pressão para dar visibilidade às formas diversas de opressão, 
mas, ressalta que é fundamental a presença de um Estado e uma superestrutura 
(leis, ensino, comunicação) que regule e garanta direitos. Contudo, é exatamente 
isso que está sendo desmantelado. Questão social, diz a autora, “não é sinônimo de 
contradição entre capital e trabalho [...], mas de embate político determinado por 
essas contradições” (Pereira, 2004, p. 53-54). 
Logo, com relação às alternativas de resposta apontadas na questão 12, a 
primeira afirma serem ambas verdadeiras e a segunda justifica a primeira. Em que 
pese o fato da primeira parte da afirmativa estar correta, a segunda não justifica a 
primeira, ao contrário a condensação de interesses, em princípio, deveria se 
contrapor a esse processo de expansão, na medida em que a grande maioria da 
população se vê alijada dos benefícios que proporciona a grupos privados. 
A alternativa B é a correta, considerando a segunda concepção de Estado 
apontada por nós. Nessa alternativa de resposta há a afirmação de que ambas são 
verdadeiras, embora a segunda não justifique a primeira. 
16 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
A alternativa C considera a primeira resposta verdadeira e a segunda falsa, 
essa afirmativa só poderia ser considerada correta caso a concepção de Estado 
utilizada não levasse em conta a contradição, como explicitado anteriormente. 
Por fim, as alternativas D e E consideram a primeira assertiva falsa ou ambas 
as afirmações falsas, estão, portanto, incorretas. 
Referências 
IAMAMOTO, Marilda. A questão social no capitalismo. In: Revista Temporalis, nº. 
3. Brasília:ABEPSS, 2004. p. 9-32. 
PEREIRA, Potyara. Questão social, Serviço Social e Direitos de Cidadania. In: 
Revista Temporalis, nº. 3. Brasília: ABEPSS, 2004. p. 51-62 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 17 
QUESTÃO 13 
É hoje consensual que, no Brasil, o Serviço Social se origina no seio do movimento 
católico, mas seu processo de profissionalização e legitimação está vinculado à 
expansão das grandes instituições assistenciais em um período histórico marcado 
pelo aprofundamento do corporativismo do Estado e por uma política econômica 
industrializante. A expansão do proletariado urbano cria a necessidade política de 
controlar e absorver este contingente. O Estado, incorporando parte das 
reivindicações populares, amplia a base legal da cidadania, mediante uma intensa 
legislação social e sindical. 
 
Este período da história brasileira refere-se 
(A) à República Velha (1889-1930). 
(B) à Segunda República (1930-1937). 
(C) ao Estado Novo (1937-1945). 
(D) à Quarta República (1945-1964). 
(E) à transição democrática (1985-1988). 
 
Gabarito: Questão C 
Tipo de questão: Escolha simples com indicação da resposta correta 
Conteúdos avaliados: Desenvolvimento econômico e social brasileiro, 
institucionalização do Serviço Social, política social e legislação social no Brasil. 
Autora: Maria Palma Wolff 
Comentário: 
No contexto histórico brasileiro é apenas um ano antes da Proclamação da 
República que se registra a criação da primeira legislação social, com a criação de 
uma caixa de socorro para a burocracia pública. Tal concepção de proteção social, 
como direitos coorporativos, perdurará até os anos 60 do século XX. (BEHRING E 
BOSCHETTI 2007). Com a Proclamação da República em 1889 e a instalação da 
República Velha (1889-1930), outras legislações, abrangendo categorias específicas 
de trabalhadores urbanos, foram sendo implantadas, entre as quais se destaca a Lei 
Eloy Chaves, que em 1923 cria a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos 
Ferroviários. No entanto, ainda que fosse registrado um crescente processo de 
18 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
industrialização as iniciativas da época não representaram um rompimento com as 
características agrário-exportadora, oligárquica e rural da economia e da política 
brasileira. Assim, ainda que seja registrado a implantação de legislações e a 
expansão do proletariado no período mencionado, as reivindicações protagonizadas 
– citando-se em especial a greve geral de 1917 – não se traduziram em intensa 
legislação social e na expansão da cidadania (FEE 1983). O controle desses 
movimentos era dado por uma intervenção repressiva, ou seja, a resolução dos 
conflitos que emergiam da relação capital e trabalho eram tratados como casos de 
polícia e não alvo de estratégias políticas no âmbito do Estado, estando, portanto, 
incorreta a alternativa A. 
O segundo período, referido pela alternativa B, referente à Segunda 
República (1930-1937) é caracterizado pela crise do poder oligárquico e pelo 
aumento da importância da indústria e do comércio na economia, fato que contribuiu 
para o surgimento de medidas de promoção e controle da massa trabalhadora. Com 
a Revolução de 30 inicia-se um processo de centralização que reduziu a autonomia 
dos estados e aumentou a intervenção na sociedade; os movimentos do proletariado 
urbano, que possuía uma forte organização sindical, foram contrapostos com 
medidas de atrelamento ao Estado e de controle da massa trabalhadora através de 
uma significativa incorporação das políticas sociais. Foram criados inúmeros 
institutos de pensões e aposentadorias (bancários, comerciários, industriários) cuja 
separação por ramo de produção também significou um elemento de controle dos 
trabalhadores já que dificultava a união em torno de reivindicações comuns. Outro 
aspecto a destacar é a orientação dessa política para as populações urbanas, 
denotando interesse na promoção da industrialização sem que, no entanto, fossem 
atingidos os interesses da oligarquia rural. Isso porque, a despeito do 
enfraquecimento político e econômico, a mesma continuava a deter influência na 
correlação de forças do cenário político brasileiro. (FEE, 1983). 
Uma medida importante desse período foi a criação em 1930 do Ministério do 
Trabalho, da Indústria e do Comércio e do Ministério da Saúde Pública e Educação. 
É destaque ainda, a Constituição Federal de 1934 que incorporou ao seu texto a 
previdência social através da assistência médica e sanitária ao trabalhador e à 
gestante e da previdência, mediante contribuição paritária da União, do empregador 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 19 
e do empregado. Esse texto legal atribui pela primeira vez ao Estado a 
obrigatoriedade de assegurar o amparo dos desvalidos. No entanto, a despeito de 
tal previsão, nenhuma medida concreta foi tomada nesse período, o que só iria 
acontecer com a vigência do Estado Novo (IAMAMOTO E CARVALHO, 1985). 
Esse momento histórico marca o surgimento do Serviço Social no Brasil, 
processo desencadeado a partir de diversas ações desenvolvidas pela Igreja 
Católica no campo social em busca da reforma social e a restauração dos valores 
cristãos. A primeira escola de Serviço Social foi criada em São Paulo, em 1936, 
após a participação de representantes brasileiros em cursos da École Catholique de 
Service Social, na Bélgica. (AGUIAR 1985) 
Assim, apesar desse período (1930-1937) ter representado avanços no 
ordenamento da política econômica industrializante, a oligarquia agrária continuava 
mantendo influência na vida política e econômica brasileira. Nos anos mencionados 
ocorreu a organização das bases da política social e não sua consolidação. Da 
mesma forma, era incipiente o processo de profissionalização do Serviço Social, 
bem como da criação de grandes instituições sociais, sendo a opção B incorreta. 
Foi no período do Estado Novo (1937-1945), mencionado na alternativa C, 
que o conjunto de medidas políticas, econômicas e sociais, levou à constituição 
definitiva da sociedade urbano-industrial, consolidando medidas adotadas 
anteriormente. A Constituição Federal de 1937 representou retrocessos em 
relação às conquistas democráticas da Carta de 1934; entre as medidas adotadas 
estava a intervenção nos estados e a proibição da organização sindical 
independente. Assim, o Estado assume um caráter marcadamente autoritário, 
tendo praticamente eliminado a oposição operária e atrelado os sindicatos à 
estrutura governamental. (FEE 1983). 
Entre as principais medidas do período está a instituição, em 1940, do salário 
mínimo para uma jornada de 200 horas mensais. Foi fixado de forma diferenciada 
para cada uma das regiões brasileiras, percentuais para a alimentação, vestuário, 
habitação, higiene e transporte; em 1943 foi instituída a Consolidação das Leis do 
Trabalho – CLT. No âmbito da previdência social verificou-se uma ampliação das 
instituições de aposentadorias de pensões e assim da cobertura até então fornecida 
aos trabalhadores. Esse fato expressava interesse do governo em ampliar seu 
20 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
espectro de controle, mas contraditoriamente, permitiu também a ampliação do 
acesso dos trabalhadores a esses serviços. 
Outro destaque foi a criação do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), em 
1942, e o Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério da Educação e 
Saúde, em 1938, com funções de consultivas no campo das políticas sociais. 
Embora tenha sido um organismo de pouca efetividade, esse Conselho expressou a 
intenção de organização e de centralização de uma política assistencial no país. 
(IAMANOTO E CARVALHO, 1985). Tal papel seráefetivamente exercido pela 
Legião Brasileira de Assistência – LBA – criada, em 1942, pela primeira dama Darcy 
Vargas. Embora a proposta inicial dessa Instituição tenha sido fornecer amparo às 
famílias dos praças que combatiam na II Guerra Mundial, posteriormente vai se 
configurar “como instituição articuladora da assistência social no Brasil, com uma 
forte rede de instituições privadas conveniadas, mas sem perder essa marca 
assistencialista, fortemente seletiva e de primeiro-damismo”. (BEHRING E 
BOSCHETTI, 2007, p. 108). 
É nesse período que se consolida a instiuicionalização do Serviço Social no 
Brasil; no Rio de Janeiro é criado o Instituto de Educação Familiar Social, em 1937, 
e em seguida outras escolas de Serviço Social são criadas no Brasil. Ao mesmo 
tempo em que o surgimento do Serviço Social no Brasil é definido com uma estreita 
vinculação com a Igreja Católica, inúmeras professoras das Escolas de Serviço 
Social realizaram, no início da década de 40, programas de estudos em 
universidades norte-americanas com bolsas do governo dos Estados Unidos, 
marcando a introdução do funcionalismo na formação e no exercício profissional do 
Serviço Social brasileiro. 
Dessa forma, a opção C está correta, ter sido no período do Estado Novo 
(1937-1945) que ocorreu a efetiva consolidação da industrialização no Brasil, a 
ampliação da legislação social, a criação de grandes instituições assistenciais e a 
institucionalização da profissão de Serviço Social. 
A opção D está incorreta. Ela menciona a Quarta República (1945-1964) 
período marcado por uma grande disputa de projetos nacionais e intensificação da 
luta de classes, com uma lenta expansão de direitos, mantendo o formato 
corporativista anterior. Assim, também a transição democrática (1985-1988), referida 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 21 
na letra E, expressou uma grande arena de lutas e de esperança para a população 
brasileira (BEHRING E BOSCHETTI, 2007) o que não traduz as condições 
mencionadas no enunciado da questão, ou seja, também a opção E está incorreta. 
Referências 
AGUIAR, Antônio Geraldo de. Serviço Social e Filosofia. São Paulo: Cortez, 1985. 
BEHRING, Elaine R. e BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e 
história. São Paulo: Cortez, 2007. 
FEE – Fundação de Economia e Estatística. A Política social brasileira 1930 – 
1964. Porto Alegre: FEE, 1983. 
IAMANOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social 
no Brasil. São Paulo: Cortez, 1985. 
22 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
QUESTÃO 14 
Analise as afirmativas que se seguem, relativas às particularidades históricas da 
sociedade brasileira. 
I – Durante a República Velha, desenvolveu-se a indústria pesada no país. 
II – A chamada Revolução de 1930 é um marco na revolução burguesa no Brasil. 
III – A “questão social” resulta, no Brasil, do fim da República Velha. 
IV – No Brasil, o desenvolvimento capitalista coincidiu com a expansão da 
democracia. 
V – A modernização capitalista, no Brasil, não rompeu com a dependência 
econômica do país. 
Estão corretas, apenas, as afirmativas 
(A) I e IV. 
(B) I e V. 
(C) II e III. 
(D) II e V. 
(E) III e V. 
 
Gabarito: Questão D 
Tipo de questão: Escolha combinada 
Conteúdos avaliados: Particularidades históricas da sociedade brasileira 
Autora: Idilia Fernandes 
Comentário: 
A questão D é a correta, considerando que a opção II “a chamada Revolução 
de 1930 é um marco na revolução burguesa no Brasil”, pois a partir dela a estrutura 
do Estado brasileiro modifica-se profundamente depois de 1930, tornando-se mais 
ajustada às necessidades econômicas e sociais do país, em contraponto as políticas 
oligarquicas do período anterior. Da mesma forma está correta a afirmação V, 
demonstrando que “A modernização capitalista, no Brasil, não rompeu com a 
dependência econômica do país”. Essa modernização se deu no limite do “ajuste 
necessário” as novas demandas produtivas dos países desenvolvidos, mantendo-se 
como regra a relação de fornecedor de matérias-primas ou produtos cada vez mais 
“qualificados” e demandados pelas economias centrais capitalistas. 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 23 
O capitalismo se desenvolveu, estamos na era toyotista da acumulação 
flexível, o que significa dizer na era da super informatização, de super exigências 
para o trabalhador que hoje deve ser polivalente, na era da flexibilização dos 
contratos de trabalho, dos direitos trabalhistas, mas grande parte da sociedade vive 
em condições de pobreza e exclusão social. Segundo NETTO (2001), a Questão 
Social surge com a capacidade da sociedade produzir riquezas e bens sociais e 
muitos não terem acesso a isso. O país se modernizou, sim, produziu riquezas, mas 
ainda somos dependentes de outras economias e com alto nível de exclusão social 
e pobreza de seu povo. 
A alternativa I, que diz que “durante a República Velha, desenvolveu-se a 
indústria pesada no país”, está errada porque a República Velha desenvolveu-se de 
1889 a 1930. A indústria de base no Brasil foi instalada a partir de 1939 com a 
participação do país na II Guerra Mundial. 
Sendo assim, a questão A e B estão erradas. 
Como está colocado na afirmação IV – “No Brasil, o desenvolvimento 
capitalista coincidiu com a expansão da democracia”. Pode-se dizer que essa 
afirmação é falsa, pois é possível compreender o desenvolvimento brasileiro 
enquanto um processo dotado de especificidades marcantes, entre as quais 
podemos afirmar que: 1. o estudo do período colonial torna-se essencial, pois é 
sobre esse “passado” que conforma-se uma certa estrutura econômica, dotada de 
características próprias, distintas das estruturas que emergem de um passado 
feudal; 2. sobre essa estrutura irá se desenvolver uma economia capitalista, cujo 
ponto culminante estará na emergência de forças produtivas especificamente 
capitalistas, com a “industrialização pesada”, a partir da segunda metade do século 
XX. Esse processo de desenvolvimento das bases do capitalismo brasileiro é, 
obviamente muito anterior aos processos de expansão da democracia que, de fato 
vão ocorrer a partir da II Guerra Mundial. 
Na afirmação III “A ‘questão social’ resulta, no Brasil, do fim da República 
Velha”. Por consequência as opções apontadas nas questões C e E também estão 
erradas. Segundo Iamamoto (2001, p. 11): 
 
A expressão questão social é estranha ao universo marxista, tendo 
sido cunhada por volta de 1830 (Stein, 2000). Historicamente foi 
tratada sob o ângulo do poder, vista como ameaça que a luta de 
24 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
classes – em especial, o protagonismo da classe operária – 
representativa à ordem instituída. Entretanto, os processos sociais 
que ela traduz encontram-se no centro da análise de Marx sobre a 
sociedade capitalista. Nessa tradição intelectual, o regime capitalista 
de produção é tanto um processo de produção das condições 
materiais da vida humana, quanto um processo que se desenvolve 
sob relações sociais-históricos-econômicas – de produção 
específicas. Em sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: 
suas condições materiais de existência, as relações sociais 
contraditórias e formas sociais através das quais se expressam. 
Existe, pois uma indissociável relação entre produção dos bens 
materiais e a forma econômico-social em que é realizada, isto é, a 
totalidade das relações entre os homens em uma sociedade 
historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças 
produtivas do trabalho social. 
 
Com a crescente globalização econômica, acentua-se a privatização, quando 
a questão social deixa de ser associada ao mercado de trabalho para ser vinculada 
ao mercadode consumo. Atualmente o Estado procura diminuir o seu tamanho, ou 
seja, reduzir os custos com as políticas públicas voltadas a realização da cidadania. 
O cidadão agora é visto pela sua capacidade de consumo e não por ser portador de 
direito ao pertencimento social pelo fato de fazer parte da sociedade, assim também 
a sua proteção social fica reduzida e ameaçada. 
O povo se vê desvalido de direitos sociais básicos, enquanto que as elites 
políticas não articulam democracia política com democracia social, pois o país é uma 
das maiores economias do mundo e também é uma das maiores desigualdades 
sociais. Os direitos sociais, cada vez mais, passam a ser entendidos como 
necessidades sociais, pois os direitos estando privatizados, vincula a proteção à 
capacidade produtiva de cada um. 
A questão social no Brasil é moldada de acordo com os interesses das elites 
políticas. A questão social, que com a questão trabalhista firma-se como proteção 
social (como direitos sociais e filantropia), assume característica paternalista, de 
política do favor, de patriarcalismo autoritário, ou seja, misérias transformam-se em 
instrumentos, armas de dominação, bem como a reprodução do sistema. Por isso, 
ainda hoje, direitos são vistos pela elite como privilégios, favores. 
Desde a sua origem, o nosso sistema de proteção social, ao invés de existir 
para garantir a capacitação e inclusão dos cidadãos (desempregados, analfabetos, 
pessoas em situação de miséria) no mercado de trabalho, tem funcionado apenas 
para reproduzir o atual sistema de reprodução de subalternidade, de subserviência, 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 25 
de apadrinhamento das classes assalariadas e do povo, em geral, para com aqueles 
detentores do poder econômico e político do país. Vivemos na verdade um sistema 
de desproteção social e as múltiplas expressões da questão social atravessam o 
cotidiano da maior parte dos brasileiros, levando-os a uma vida de privações e não 
acesso aos bens sociais e a riqueza produzida socialmente. 
Referências 
CASTEL. Robert. As Armadilhas da Exclusão. 2ª edição. In: Desigualdade e a 
Questão Social. São Paulo: EDUC, 2000. 
IAMAMOTO, Marilda. A Questão Social no Capitalismo. In: Revista Temporalis 3, 
Ano II, nº 3, jan./jul. 2001. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001, p.9-32. 
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844. In: Conceito Marxista 
do Homem. Apêndice: manuscritos econômicos e filosóficos de 1844 de Karl Marx. 
8ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1983. 
NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. In: Revista 
Temporalis 3, ano II, nº 3, jan./jul. 2001. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001. 
26 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
QUESTÃO 15 
A análise do significado social do Serviço Social no processo de reprodução das 
relações sociais salienta o caráter contraditório da profissão. Ela reproduz, pela 
mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão – demandas do 
capital e do trabalho – e só pode fortalecer um ou outro pólo pela mediação de seu 
oposto. De que decorre esse caráter contraditório da atuação profissional? 
(A) Da intencionalidade do Assistente Social. 
(B) Da condução da atuação profissional. 
(C) Da pressão dos empregadores. 
(D) Da relação de classes. 
(E) Das demandas dos usuários. 
 
Gabarito: Questão D 
Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. 
Conteúdos avaliados: Identidade social da profissão 
Autores: Márcia Salete Arruda Faustini 
Comentário: 
A alternativa correta é a (D). 
Encontramos essa ideia em Iamamoto e Carvalho (1993), quando discutem 
“O Serviço Social no processo de produção das relações sociais”, na obra citada. 
Nessa obra – marco do pensamento crítico na profissão – os autores trazem a 
discussão do significado social da profissão no contexto da sociedade capitalista. 
Para tanto, irão (re)tecer a trajetória histórica da profissão e situá-la no contexto 
das relações capitalistas, destacando, especialmente, a lógica reprodutiva do capital e 
as relações sociais construídas no contexto. As referências teóricas trazidas e as 
reflexões pontuadas em Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, tendo sua 
primeira edição em 1982, são balizas à evolução do pensamento crítico na área. 
Entender a profissão é entendê-la em seu contexto, é compreendê-la no 
contexto da divisão social do trabalho, e, não, simplesmente, tentar compreendê-la a 
partir de movimentos endógenos que a mesma poderia autoproduzir. Estado, 
sociedade civil e profissão são elementos inter-relacionados para essa 
compreensão. Assim, a profissão precisa ser compreendida, tanto na reprodução 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 27 
das relações de classe quanto no relacionamento contraditório entre elas. “É 
necessário historicizar as práticas da sociedade, as lutas sociais recriadas nas 
contradições do capitalismo...” (CELATS, 1985, p.57). 
As necessidades sociais humanas vão impondo estratégias a sua satisfação, 
que ocorrem por meio do trabalho. Pela via do trabalho os homens produzem 
objetos, e, no contexto da organização social capitalista, produzem também 
mercadorias, que envolvem a possibilidade de reprodução de sua vida material, 
mas, ao trabalharem os homens também vão tecendo relações entre si. Iamamoto 
(2001, p.26) destaca que “Quando se fala em produção/reprodução da vida social 
não se abrange apenas a dimensão econômica [...]”. A autora faz uma crítica a uma 
redução economicista, muitas vezes, feita nessa questão, e complementa que a 
produção e a reprodução das relações sociais incidem também em “[...] formas de 
pensar, isto é, formas de consciência, através das quais se aprende a vida social”. 
(Marx apud Iamamoto, 2001, p.27). 
Então, o trabalho profissional, ao incidir sobre as expressões da questão 
social – compreendendo que manifestam desigualdades da sociedade capitalista – 
lida com uma contradição fundamental: o trabalho, cada vez mais coletivizado e 
apropriação de sua atividade e de seus frutos, cada vez mais privativa. E, nesse 
contexto, diversos e divergentes interesses concorrem, expressando-se, no 
cotidiano, em manifestações de vida em diversas áreas – no trabalho, na família, 
nas amizades, na saúde, na educação [...] –, revelando expressões de fragilidades, 
mas também de rebeldia e resistência. (Iamamoto, 2001). 
A profissão encontra seu significado no movimento da sociedade, adquire 
concretude histórica ao enfrentar seu objeto de intervenção – as expressões da 
questão social –, mas, para fazê-lo, trabalha na contradição gerada por distintos 
interesses frutos da relação capital x trabalho. Nesse espaço contraditório, tem como 
objetivos profissionais, à luz do Projeto Ético-Político – que, encontra-se respaldado 
no Código de Ética (1993); na Lei de Regulamentação Profissional (1993) e nas 
Diretrizes Curriculares (1996) – acionar mecanismos que direcionem-se a garantia 
de direitos. Por isso, o lugar do Estado é tão importante, posto que “[...] só o Estado 
pode atribuir universalidade a estes direitos” (Iamamoto, 2002, p.28). 
28 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
É importante destacar que o significado social da profissão vai sendo tecido 
nas próprias relações da sociedade, que são econômicas, políticas, ideológicas, 
afetivas, entre outras, relações que implicam numa dinâmica de poder, remetem ao 
terreno de uma totalidade social. A dinâmica da sociedade capitalista cria 
mecanismos para que as formas de produção e reprodução da lógica de 
acumulação possam garantir a sobrevivência do sistema social, e, nesse 
movimento, entram em cena mecanismos de reprodução da vida social. Nãosem 
confronto e conflitos, asseveram-se formas de desigualdades entre os homens no 
que diz respeito ao acesso e a permanência no usufruto dos bens, coletivamente, 
produzidos. A apropriação, por parte da população, de uma parcela maior dos bens, 
socialmente, gerados em sociedade, traz a marca da contradição do sistema e 
engendra formas de tensão e resistência por parte de parcelas que se veem 
excluídas desse usufruto. O Estado assume um lugar importante na administração 
dessa relação, na medida em que, via políticas públicas, preenche um campo 
importante de possibilidades mediadoras a essa relação. 
Os interesses do capital e do trabalho convivem em tensão. Por isso, a 
importância da clareza de um projeto profissional que seja coletivamente construído, 
teoricamente adensado, permanentemente avaliado e enraizado em seu tempo e 
seu contexto. A dinâmica das classes sociais e as formas de produzir-se e 
reproduzir-se a vida social, sofrem profundas alterações neste início de século, 
consequentemente, as mediações profissionais não podem ser assumidas como 
fórmulas e nem replicadas a distintos contextos sociais sem que uma clareza de 
compreensão se construa. 
Iamamoto (2008) ao final de sua obra, na qual problematiza as alterações 
profundas no movimento do capital e seu fetiche, bem como o trabalho profissional 
nesse contexto, lembra o grande pensador brasileiro Ianni que refere: 
 
para conhecer a história do Brasil é indispensável conhecer ‘ a 
história social do povo brasileiro’. A maneira como se relacionam os 
grupos e classes sociais é uma dimensão fundamental da realidade 
política (Ianni apud Iamamoto, 2008, p. 469). 
 
Portanto, as alternativas (A), (B), (C) e (E) não respondem a questão 
enunciada, na medida em que, suas afirmações não respondem ao enunciado: 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 29 
(A) Da intencionalidade do Assistente Social: configura-se como um elemento 
importante para compreender a direção do trabalho profissional. Entretanto, a 
intenção, o sentido, a direção do trabalho não indica, por si só, o caráter 
contraditório da atuação, do exercício do trabalho, em si, do assistente social. A 
intencionalidade irá indicar finalidades da ação. 
(B) Da condução da atuação profissional: elemento vago para compreensão 
do trabalho profissional. Não é a condução da atuação que determina o caráter 
contraditório da mesma, mas o próprio caráter contraditório da ação profissional é 
que condiciona possibilidades e limites da ação profissional. 
(C) Da pressão dos empregadores: o caráter contraditório da atuação 
profissional advém de uma “relação” e não de um só elemento constitutivo da 
relação. 
(E) Das demandas dos usuários: o mesmo argumento do item (C). Segundo 
Lefebvre apud Iamamoto (2008, p.49-50), 
 
[...] as relações sociais de produção envolvem contradições de 
classe (capital e trabalho) que se amplificam em contradições sociais 
(burguesia e proletariado) e políticas (governados e governantes). 
Toda a sociedade torna-se o ´lugar` da reprodução das relações 
sociais. 
 
Portanto, o caráter contraditório da atuação profissional vai mediar interesses 
do capital e do trabalho, a partir da dinâmica das classes sociais, em determinado 
contexto histórico. 
Referências 
ABESS/CEDEPSS. Proposta básica para o projeto de formação profisssional. In: 
Revista Serviço Social e Sociedade: o serviço social no século XXI. São Paulo: 
Cortez, ano XVII, nº 50, p.143-171, abril de1996. 
BRASIL. Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei n. 
8.662/1993. 
CENTRO LATINO AMERICADO DE TRABALHO SOCIAL – CELATS. Serviço 
Social Crítico: problemas e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1985. 
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética do Assistente 
Social. Brasília 1993. 
IAMAMOTO, Marilda. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital 
financeiro, trabalho e questão social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. 
30 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
______. Projeto Profissional: espaços ocupacionais e trabalho do assistente social 
na atualidade. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições 
Privativas do Assistente Social em questão, Brasília: CFESS, fev. de 2002. p.13-49. 
______. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação 
profissional. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. 
______; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: 
esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 9ª. ed. São Paulo: Cortez; 
[Lima,Peru]: CELATS, 1993. 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 31 
QUESTÃO 16 
Na trajetória recente do Serviço Social, surgem requisições inéditas; novas 
respostas profissionais são exigidas, tanto no campo investigativo quanto no da 
intervenção. Entre outras, abrem-se possibilidades no complexo campo da 
formulação, gestão e avaliação de políticas públicas, planos, programas e projetos 
sociais. 
Em face das atuais exigências de democratização do espaço público, o que cabe a 
gestores e técnicos para que o planejamento não fique adstrito ao âmbito da gestão 
e do poder? 
(A) Processar teórica, política e eticamente as demandas sociais, intervindo para o 
seu atendimento. 
(B) Elaborar pronunciamentos políticos e planos, afirmando intenções sociais na 
perspectiva das demandas. 
(C) Executar projetos de lei e decretos governamentais, dando visibilidade às 
demandas. 
(D) Socializar recursos para, com as organizações não governamentais, viabilizar 
projetos. 
(E) Viabilizar ações que atendam as demandas populares, tais como estas são 
direta e empiricamente formuladas. 
 
Gabarito: Questão A 
Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta. 
Conteúdo avaliado: Política Social, Gestão e Avaliação de Políticas Públicas, 
Serviço Social e Processo de Trabalho 
Autora: Dolores Sanches Wünsch 
Comentário: 
A alternativa correta é a (A). Compreende-se que o “processar teórica, política 
e eticamente as demandas sociais, intervindo para o seu atendimento”, possibilita 
contribuir para formular respostas efetivas, por meio das políticas sociais públicas, 
às demandas sociais, as quais materializam diferentes expressões e dimensões da 
questão social. As políticas sociais como resultado das históricas contradições entre 
estado e sociedade, Boschetti (2009), se desenvolveram como um importante 
mecanismo para o enfrentamento das desigualdades sociais e garantia de direitos 
32 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
sociais, na sociedade capitalista. Historicamente, as políticas sociais, constituíram-se 
em espaços profissionais “privilegiados” para o trabalho do Assistente Social, sendo 
que, a profissão se institucionalizou e legitimou circunscrita a um conjunto de 
determinações sócio-históricas que a requisitaram para atender as refrações de um 
modelo de desenvolvimento societário desigual. 
As conformações atuais das políticas sociais, entretanto, trazem novas 
requisições para os Assistentes Sociais, renovando suas competências e atribuições 
e que ultrapassam as funções “tradicionais” voltadas, exclusivamente, à execução 
das políticas sociais. 
A partir da luta pela democratização do estado brasileiro, em meados da 
década de 80, fortalece-se a lógica do direito da cidadania, que tem como um de 
seus desdobramentos o processo de descentralização político-administrativa da 
gestão pública, representada pelo processo de municipalização das políticas sociais 
públicas e garantido pela Constituição Federal de 1988. Esse novo cenário 
redimensiona o trabalho do Assistente Social, sendo este, chamado “a atuar na 
esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento e gestão” 
(IAMAMOTO, 2006, p. 192).Dessa forma o Assistente Social, no papel de gestor ou 
técnico, necessita de um conjunto de competências profissionais que se expressa no 
plano teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-política de sua ação. O 
trabalho profissional parte do reconhecimento do papel do Estado e sua relação com 
a sociedade e dos interesses de classe que a envolvem; passa pela democratização 
dos espaços públicos com a efetiva garantia da participação da população no 
planejamento e decisões dos rumos das políticas sociais; no fortalecimento do 
controle social, traduzindo-se na definição de programas e projetos, bem como, 
avaliando, constantemente, o impacto dos mesmos no atendimento às reais 
necessidades da população. 
Sendo assim, é incorreto afirmar que compete ao técnico ou gestor, conforme 
presume a alternativa (B), “elaborar pronunciamentos políticos e planos, afirmando 
intenções sociais na perspectiva das demandas”, uma vez que essa ação que não 
condiz com o domínio das suas legítimas atribuições, no âmbito das políticas 
sociais. Suas competências passam, sim, pela ampliação e criação de canais de 
planejamento participativo e do envolvimento dos diferentes atores e profissionais 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 33 
para sua implementação. As proposições e intenções do gestor só irão atender as 
demandas da população-usuária quando incorporarem os seus interesses e 
necessidades, que se dá pelo conhecimento da realidade social e das formas 
particulares que essas demandas emergem dos processos sociais. Havendo, para 
tanto, a exigência de uma permanente formação teórica-metodológica para o 
processamento desse conhecimento e suas mediações sobre a realidade. 
Dessa forma, requer do profissional um perfil crítico e investigativo, que 
supere o pragmatismo de suas ações, como limitar-se a “executar projetos de lei e 
decretos governamentais, dando visibilidade às demandas” e que estão colocadas, 
também, incorretamente, na alternativa (C). Ou seja, essa ação representa uma 
resposta verticalizada às demandas sociais e, mesmo que dê visibilidade às 
mesmas, é imprescindível reconhecer os diferentes condicionantes e determinações 
que perpassam a elaboração de leis e projetos resultantes das relações de poder 
que as definem, especialmente em razão do planejamento destas, nem sempre 
garantir mecanismos de participação social. 
Evidencia-se, também, a necessidade do profissional conhecer e dominar a 
leitura e análise dos orçamentos das políticas sociais e suas fontes de 
financiamento e dessa forma identificar recursos disponíveis para melhor propor 
projetos sociais. Não cabe a esse profissional “socializar recursos para, com as 
organizações não governamentais, viabilizar projetos”, como enseja de forma 
incorreta a alternativa (D), sendo a definição dos recursos para as entidades uma 
prerrogativa dos conselhos setoriais e de direitos, através de ampla participação 
dos conselheiros na elaboração do plano municipal da política específica, definindo 
diretrizes programáticas e orçamentárias e a destinação dos recursos de seus 
fundos públicos. 
São múltiplas, portanto, as competências profissionais, para o processamento 
do trabalho em que se insere o Assistente Social, no âmbito da gestão das políticas 
sociais. São competências que condiz com um perfil profissional que rompa com 
práticas imediatistas, empiristas que reproduzam antigas e insuficientes “fórmulas” 
de enfrentamento as necessidades sociais. Portanto, evidencia-se que a alternativa 
(E), “viabilizar ações que atendam as demandas populares, tais como estas são 
direta e empiricamente formuladas”, também é incorreta, pois significa reiterar ações 
34 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
destituídas do caráter participativo, político e ético, comprometida com a 
transformação da realidade, na mera reprodução cotidiana das crescentes 
demandas sociais. 
Por fim, para melhor situar esta análise é fundamental retomar a questão do 
papel do Estado e a democratização do espaço público, na perspectiva de 
compreender o significado e o papel das políticas sociais, como campo de 
conhecimento e intervenção do Serviço Social e outras profissões. Segundo 
Boschetti (2009), deve-se buscar analisar a política social na sua totalidade e 
compreender o seu caráter contraditório, bem como articular os determinantes 
estruturais que incide na conformação das políticas sociais como as diferentes 
forças sociais que agem na sua formulação e execução. Portanto, não há respostas 
profissionais às demandas sociais, sem a devida apropriação de competências 
teórico-práticas adquiridas ao longo da formação profissional e construídas nas 
tensas relações político-institucionais cotidianas. 
Referências 
BOSCHETTI, Ivanete. Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: 
Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ABEPSS, 2009. 760p. 
IAMAMOTO, Marilda. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no 
Serviço Social contemporâneo. In: MOTA, A.E. et al. (Org). Serviço Social e 
Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 35 
QUESTÃO 17 
Considerando que a cidadania moderna compõe-se, tradicionalmente, de três 
ordens de direitos, assinale aqueles que, no decurso do século XX, foram os que 
mais tardiamente ingressaram na agenda pública brasileira. 
(A) Direitos humanos. 
(B) Direitos civis. 
(C) Direitos sociais. 
(D) Direitos políticos. 
(E) Direitos de expressão. 
 
Gabarito: Questão A 
Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. 
Conteúdos avaliados: O ingresso dos direitos humanos na agenda pública 
brasileira 
Autora: Maria Palma Wolff 
Comentário: 
Inicialmente é necessário destacar que o gabarito oficial, que define a letra A 
como resposta para essa questão, está incorreto. Isso porque o conceito de “Direitos 
humanos” abrange diversas categorias de direitos, inclusive aquelas referidas nas 
demais opções. A resposta incorre, portanto, em redundância e imprecisão no 
tratamento do tema proposto. 
De acordo com seu surgimento histórico convencionou-se definir gerações de 
direitos humanos; assim, os direitos civis e os direitos políticos são considerados 
como a primeira geração de direitos humanos, isso porque são os que, no contexto 
histórico, foram primeiro definidos e positivados. Os principais marcos da definição 
desses direitos são a declaração dos direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a 
Declaração da Independência dos Estados Unidos da América de 1776. 
Os direitos sociais, introduzidos a partir da luta dos trabalhadores no final dos 
séculos XIX e no século XX por melhores condições de vida e de trabalho, são 
considerados a segunda geração de direitos humanos. 
No âmbito do direito internacional, a principal referência na definição dos 
direitos humanos é a promulgação da Declaração Universal de Direitos Humanos 
36 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
das Nações Unidas, em 1948, a qual abrange, tanto os direitos civis e políticos como 
os direitos econômicos, sociais e culturais. No contexto pós II guerra e da guerra fria 
a Declaração foi dividida para que fossem especificados os direitos, definindo-se, 
então, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos Sociais e Culturais, ambos datados de 1968. 
Assim, “Direitos civis”, letra B, “Direitos sociais”, letra C, “Direitos políticos” 
letra D e os “Direitos de expressão” – que fazem parte dos direitos civis – letra E, 
são todos considerados direitos humanos, sendo, portanto, impossível afirmarque 
foram os direitos humanos, enquanto uma categoria genérica, a ordem de direitos 
que mais tardiamente ingressaram na agenda pública brasileira. 
Da mesma forma não está correta a letra B, já que os direitos civis se 
constituem na primeira conquista de direitos; surgem no século XVIII, associados a 
afirmação do processo capitalista de produção europeu e, consequentemente, à 
organização do estado liberal. São assim relacionados às liberdades individuais: 
liberdade de palavra, liberdade de pensamento e de fé, direito à propriedade e direito 
à justiça. Esse processo teve correspondência tardia na implementação dos direitos 
humanos no Brasil. Aqui é possível registrar como marca dos direitos civis a abolição 
da escravidão (1888) e posteriormente a primeira Constituição Republicana (1891) 
que assegurou a igualdade legal entre os cidadãos brasileiros, garantiu as liberdades 
de crença, de associação e reunião, além do habeas corpus para fazer frente a 
violências ou coações por ilegalidade ou abuso de poder. Os direitos de expressão, 
referidos na letra E, compõem o catálogo dos direitos civis, fazendo parte daqueles 
que menos tardiamente foram recepcionados pela legislação brasileira. 
Na sequência dos direitos civis estão os direitos políticos, que no âmbito 
internacional e local representam as conquistas posteriores. No continente europeu, 
já no final do século XVIII, as legislações de alguns países já asseguravam a 
participação da população nos assuntos políticos por meio do voto, ou seja, o direito 
de votar e ser votado. No Brasil, a Constituição Republicana de 1891 aboliu o voto 
censitário, que exigia um padrão de renda para que o cidadão pudesse votar. No 
entanto, as mulheres somente conquistaram o direito ao voto na Constituição de 
1934 e os analfabetos em Lei sancionada em 1985. Dessa forma, a letra D, também 
não pode ser considerada correta, já que os direitos políticos são, ainda que não em 
sua totalidade, originários da organização republicana. 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 37 
A resposta correta seria, portanto, a letra C, que se refere aos “Direitos sociais”, 
os quais são conquistas que surgem com mais força no século XX. Trata-se de 
direitos que estão relacionados à busca de garantias de condições dignas de vida 
para os segmentos sociais e parcelas da população assalariada ou pobre. Os direitos 
sociais incorporam direitos trabalhistas, a aposentadoria e garantias de acesso à 
educação e à saúde pública. A Constituição Federal Brasileira de 1934 também 
marcou a introdução dos direitos sociais no contexto brasileiro, quando foram 
disciplinadas as condições de trabalho, estabelecendo o salário mínimo, a jornada de 
trabalho de 8 horas, o repouso semanal, as férias remuneradas, a indenização por 
dispensa sem justa causa, a assistência médica ao trabalhador e à gestante, também 
trabalhadora. No entanto, a ampliação dos direitos sociais, ou seja, sua definição 
também para os trabalhadores rurais e à população não vinculada ao mercado de 
trabalho ocorreu apenas pela Constituição Federal de 1988, a qual universalizou o 
acesso à saúde, à previdência e à assistência social, estipulando direitos para todos 
os cidadãos, independentemente de sua vinculação ao mercado de trabalho. Pelo 
exposto, no âmbito dos direitos de cidadania, enfocado no enunciado da questão, é 
possível considerar os direitos sociais como aqueles que por último foram legitimados, 
tanto do ponto de vista político como legal. Portanto, a letra C seria aquela que 
poderia responder corretamente à questão. 
Assim, considerando que a definição de direitos humanos engloba mais do 
que uma categoria de direitos, é impossível afirmar como quer o gabarito oficial 
através da letra A que esses foram os “que mais tardiamente ingressaram na 
agenda pública brasileira”. Salienta-se ainda que desde a definição das leis que 
enfrentaram a escravidão no Brasil, estava-se buscando a efetivação de direitos 
humanos, ainda que nesse caso tratava-se apenas dos direitos civis. 
Referências 
MONDAINI, Marco. Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. 
TRINDADE, José Damião de Lima. História Social dos Direitos Humanos. São 
Paulo: Peirópolis, 2002. 
BRAGATO, Fernanda Fizzo; CULLETON, Alfredo; FAJARDO, Sinara Porto. Curso 
de Direitos Humanos. São Leopoldo: Unisinos, 2009. 
38 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
QUESTÃO 18 
“O Assistente Social é (...) um intelectual que contribui, junto com inúmeros outros 
protagonistas, na criação de consensos na sociedade. Falar de consenso diz 
respeito não apenas à adesão ao instituído: é consenso em torno de interesses de 
classes fundamentais, sejam dominantes ou subalternas, contribuindo no reforço da 
hegemonia vigente ou criação de uma contra-hegemonia no cenário da vida social.” 
IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação 
profissional. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 60. 
 
A partir da leitura do texto acima, pode-se afirmar que, 
(A) há consenso de que todos os Assistentes Sociais defendem os interesses das 
classes subalternas. 
(B) há consenso de que todos os Assistentes Sociais defendem os interesses das 
classes dominantes. 
(C) a criação de consensos depende da adesão ao instituído por parte dos 
Assistentes Sociais. 
(D) o Assistente Social pode contribuir para a formação de consenso contra- 
hegemônico. 
(E) os Assistentes Sociais são intelectuais que excluem o consenso das suas 
atividades. 
 
Gabarito: Questão D 
Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. 
Conteúdos avaliados: O Assistente Social como intelectual e sua contribuição para 
a formação de consenso na sociedade 
Autora: Leonia Capaverde Bulla1
Comentário: 
 
Na questão 18 é solicitada a escolha da alternativa que melhor se relacione 
com o posicionamento de Iamamoto (2001, p.60), expresso em um trecho de seu 
livro O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 
 
1 Leonia Capaverde Bulla, Assistente Social, Mestre em Serviço Social (UNI-LAVAL - Canadá), 
Doutora em Ciências Humanas-Educação (UFRGS - Brasil), Pós-Doutora em Serviço Social (UNI-
KASSEL- Alemanha), Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
(Graduação, Mestrado e Doutorado); Membro da Comissão Coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social. Coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Demandas e Políticas 
Sociais; Coordenadora do Programa Geron da PUCRS; Pesquisadora do CNPq, nível I. 
lbulla@pucrs.br 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 39 
Dentre as alternativas propostas, a resposta (D) é a correta, ou seja, “o Assistente 
Social pode contribuir para a formação de consenso contra-hegemônico”. 
O texto que fundamenta a questão 18 traz à discussão alguns conceitos 
tratados por Gramsci em sua obra Os intelectuais e a organização da Cultura (1981), 
entre eles, a questão do Intelectual, relacionada à formação de consenso, aos 
interesses das classes subalternas, à hegemonia e à contra-hegemonia e que são 
discutidos por Iamamoto (2001, p.60) quando trata, mais especificamente, da 
“prática como trabalho e a inserção do Assistente Social no processo de trabalho”. 
Para aprofundar essas questões, é importante que se retome, então, o 
pensamento de Gramsci sobre o assunto. Para o autor, os intelectuais 
desempenham um papel fundamental na organização da hegemonia, articulando a 
infraestrutura com a superestrutura, assegurando o consenso ideológico da massa 
em torno do grupo dirigente. Gramsci não se referia, entretanto, aos que comumente 
se conceituam como intelectuais, sejam os literatos, os filósofos,os artistas e outros, 
colocados num alto pedestal, como se fossem forças independentes, nas lutas 
político-ideológicas que se enfrentam numa sociedade. Na realidade, dizia o autor, 
"todos os homens são intelectuais", pois nenhuma atividade humana dispensa um 
mínimo de intervenção intelectual (GRAMSCI, 1981, p.14). 
Gramsci propunha, dessa forma, uma concepção ampliada de intelectual, que 
levasse em conta a função exercida no conjunto das relações sociais e não a 
natureza do trabalho que cada pessoa realiza de modo preponderante, manual ou 
intelectual. Sua preocupação era com a criação de uma nova camada intelectual, 
que se articulasse ativamente com a prática social, que ajudasse a construir uma 
nova relação orgânica com a classe revolucionária, o proletariado. 
As reflexões de Gramsci partem da constatação de que não existem 
intelectuais autônomos e independentes. Eles estão ligados de modo orgânico ao 
seu grupo social, não podendo esse prescindir dos intelectuais “que lhe dão 
homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, 
mas também no social e no político” (GRAMSCI, 1981, p.7). Sendo altamente 
qualificados nos vários campos do saber ou especialistas na metodologia científico-
tecnológica, os intelectuais estão preparados para elaborar, aprofundar e justificar a 
concepção de mundo de seu grupo social, estando em condições de planejar e 
40 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
colaborar, igualmente, nas estratégias de direção e domínio da sociedade. A 
assimilação e a conquista ideológica desses elementos é um fator muito importante 
na escalada de um grupo em direção ao poder. 
Nas sociedades capitalistas, os intelectuais ligam a infraestrutura à 
superestrutura, como se fossem um “tecido conjuntivo” (MACCIOCCHI, 1977, 
p.197), e que garante ao bloco histórico a conquista e a permanência no poder. Com 
base em dados históricos e na realidade concreta, Gramsci conclui que os 
intelectuais são “os comissários do grupo dominante” (GRAMSCI, 1981, p.14), os 
elementos mediadores, não só para o desempenho da função da hegemonia, mas 
também para a função de comando político. Nesse sentido, os intelectuais são os 
organizadores da coesão social de um bloco de forças, são os porta-vozes da classe 
no poder, para conseguir o consentimento “espontâneo” da população, mas estão 
também em conexão estreita com o governo político, com o comando do aparato 
estatal, de aplicação de leis, de punição, repressão e violência. 
Assim como os grupos dominantes possuem seus intelectuais, é 
imprescindível que a classe trabalhadora crie os seus. Contando com pessoal 
especializado e elementos mediadores, os trabalhadores teriam maiores chances de 
acesso à cultura, poderiam incrementar as instituições de classe e desenvolver 
estratégias de ação na sociedade, que possibilitasse uma futura conquista do poder. 
Desse modo, a classe trabalhadora poderia ir assumindo algumas funções de 
direção na sociedade, preparando-se para assumir o poder governamental.2
Seria igualmente fundamental a conquista de intelectuais não originários da 
classe operária ou dela afastados, para que eles se tornassem organicamente 
aliados aos trabalhadores na luta por uma nova hegemonia. 
 
A ação contra-hegemônica não é mecânica nem automática. Exige esforços. 
Mas como poderá o homem assumir seu papel de sujeito da práxis social, se lhe 
falta uma percepção mais ampla da realidade em que está inserido, se ele não 
consegue compreender as relações de poder em que se estrutura a sociedade? As 
reflexões de Paulo Freire auxiliam a responder a essas questões: 
 
2 Gramsci faz a distinção entre direção e domínio. Para ele direção é o momento de organização do 
consenso e domínio é o momento da força. Mesmo que o grupo social tenha assumido o poder, ele 
precisa continuar a ser dirigente e nesse ponto é muito importante a ação intelectual, pois, segundo o 
autor, “o grupo dominante não se torna dirigente senão quando chega, por meio dos seus 
intelectuais, a exercer a sua hegemonia sobre a sociedade inteira” (GRAMSCI, 1981, p.72-73). 
ENADE Comentado 2007: Serviço Social 41 
O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, 
na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar 
consciência da realidade e de sua própria capacidade para 
transformá-la. [...] É importante preparar o homem para isso por meio 
de uma educação autêntica: uma educação que liberte, que não 
adapte, domestique ou subjugue (FREIRE, 1980, p.40). 
 
O acesso ao saber significa a possibilidade de desvelar as múltiplas 
conexões do poder, através do questionamento das relações sociais e de suas 
contradições. Pelo saber, o indivíduo se descobre como parte integrante de um 
todo social, enquanto assimila os bens culturais da humanidade. A escola, a 
universidade e outras instituições da sociedade (como o Serviço Social) podem 
assumir um papel de mediação muito importante nesse processo de 
conscientização. Introduzindo um discurso crítico nas relações pedagógicas e 
estabelecendo um elo entre a teoria e a prática, essas instituições preparam as 
pessoas para a ação transformadora. 
Assim como os demais intelectuais (na acepção de Gramsci), os assistentes 
sociais podem exercer uma ação transformadora na sociedade, assumindo um papel 
de mediação no processo de conscientização, dando a sua contribuição à formação 
de consenso e à luta contra-hegemônica (BULLA, 1992). Isso não significa que 
todos os Assistentes Sociais contribuam para essa ação contra-hegemônica e sim, 
que os assistentes sociais podem defender os interesses das classes trabalhadoras 
e que podem contribuir para a formação de consenso contra-hegemônico. Nas 
últimas décadas, houve um processo de renovação muito significativo no Serviço 
Social afinado com as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, formando-se um 
consenso profissional sobre a necessidade de construção de um novo projeto ético-
político que deu as bases para o Código de Ética Profissional dos Assistentes 
Sociais, instituído em 1993 (CFESS, 1993). A partir desse Código de Ética, os 
assistentes sociais assumem compromissos alicerçados em princípios fundamentais, 
entre eles aqueles que deixam claro alguns pontos enfatizados nesta discussão: 
 
Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das 
demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e 
plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos 
direitos humanos e recusa dos arbítrios e do autoritarismo; a 
ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa 
primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis 
sociais e políticos das classes trabalhadoras; [...] Opção por um 
42 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.) 
projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma 
nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e 
gênero (CFESS, 1993). 
 
Partindo dos princípios fundamentais preconizados pelo Código de Ética 
Profissional (CFESS, 1993) conclui-se que compete ao Assistente Social posicionar-se 
em favor da classe trabalhadora e que o profissional pode contribuir para a construção 
de um consenso contra-hegemônico sempre que houver, na sociedade, ameaças à 
liberdade e a ordem democrática. A resposta D é, portanto, a correta. Mas não se trata 
somente de criar consensos societários contra-hegemônicos para o restabelecimento 
da vida democrática, mas, também, de desafios cotidianos propostos ao profissional de 
Serviço Social. Como afirma Iamamoto (2001, p.59), o Assistente Social se encontra 
num “mar de criação de consensos” juntamente

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