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Geografia-Política AULA 33 GEOPOLÍTICA DO CAPITAL: A INSERÇÃO DO BRASIL NA ECONOMIA CAPITALISTA 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Economia colonial - economia mercantil-escravista cafeeira nacional ............................ 2 1.1. Formação do brasileiro ................................................................................................ 2 1.2. Tratados e limites territoriais ....................................................................................... 2 1.3. Ocupação territorial e os interesses coloniais ............................................................ 3 1.4. Atividades econômicas ................................................................................................ 4 1.5. Transição da economia e o mercado interno .............................................................. 5 Gabarito ........................................................................................................................................ 9 Resumo ......................................................................................................................................... 9 2 Introdução Nesta apostila de Geopolítica do capital, iremos aprender sobre os eventos relacionados a inserção do Brasil na economia capitalista de mercado. É fundamental no estudo da dinâmica da economia e sociedade brasileira ter como ponto de partida as heranças deixadas por uma história complexa de ação de forças dispersivas, próprias de um país continental e as dificuldades para a efetiva construção da integração nacional de seu mercado interno, sobre a qual aprofundaremos as informações a seguir. A construção do espaço geográfico corresponde também a interesses, por isso, não deve ser interpretada como algo inocente, mas sim obedecendo a interesses econômicos e políticos na sua valorização. Objetivos • Caracterizar a passagem da economia colonial para economia de mercado • Apresentar a reestruturação do mercado interno 1. Economia colonial - economia mercantil-escravista cafeeira nacional 1.1. Formação do brasileiro O território brasileiro atualmente possui 8.514.876km², é um país de dimensões continentais, está entre os cinco países com maiores dimensões territoriais. Muitos estados brasileiros (Amazonas, Pará, Mato Grosso e Minas Gerais), possuem área territorial superior a muitos países europeus reunidos. Porém, nem sempre foi assim, a extensão territorial é produto do período da ocupação colonial e intensivas expansões. Para entender a organização econômica e territorial do espaço brasileiro é necessário se reportar ao seu processo de colonização. Ao se falar em colonização, fala-se de um processo planejado de ocupação da terra, isto é, de uma forma específica de organização do espaço, visando à valorização de uma região. 1.2. Tratados e limites territoriais O colonialismo permitiu a relação estruturada em torno do controle político e econômico metrópole-colônia. 3 A extensão territorial da colônia era delimitada pelo Tratado de Tordesilhas (1494) no século XVI, primeiro responsável por uma divisão no território que hoje corresponde ao Brasil, na qual a porção leste ficou sob domínio de Portugal e a porção oeste pertencendo à Espanha. Os agentes da colonização apenas tiveram interesses maiores em adentrar e expandir seus limites e utilizar a riqueza da diversidade regional brasileira posteriormente, com os sucessivos ciclos de produção dos gêneros coloniais, materializando no território núcleos regionais. Desta maneira, o Tratado de Tordesilhas vigorou até 1750, quando foi revogado pelo Tratado de Madrid que significou um acordo entre as coroas ibéricas, que consistiu em entregar e reconhecer oficialmente os territórios coloniais já ocupados pelos portugueses em áreas de colonização espanhola. Além disso, esse tratado tinha por finalidade oficializar margens fluviais, marítimas e terrestres, definindo os limites dos poderes de ambas as coroas. Esse tratado marcou o uso de uma nova concepção na demarcação das fronteiras tendo como princípio o uti possidetis (legalidade dos que de fato ocupam um território possuem direito sobre este, assim foram feitos os acordos com o Peru em 1851, com o Uruguai em 1851, com a Venezuela em 1859, com a Bolívia em 1867, e com o Paraguai em 1872). 1.3. Ocupação territorial e os interesses coloniais O processo de colonização de exploração deu origem a sistemas de apropriação da terra, com uma divisão em grandes lotes - as sesmarias. Esse sistema era oferecido às pessoas que dispunham de recursos para explorá-las, utilizando a força de trabalho, sob coação - indígenas e negros africanos. IMPORTANTE! É nesse sistema que permitiu a formação de grandes latifúndios e a exploração das terras em função de uma economia de exportação, o senhor de engenho, obtinham uma grande área para plantar cana-de-açúcar e a maioria da população não continha o direito de posse da terra, pois eram escravos e mestiços. Uma característica importante do sistema de sesmarias (propriedades acima de 10mil hectares) adotado pela coroa portuguesa estabelecia quem deveria tomar posse das terras, o homem livre e, até meados do século XVIII, puro de sangue e puro de fé. 4 Portanto, o modelo colonial no Brasil se constituiu por meio de três componentes na organização social: exploração fundiária, a monocultura de exportação e o trabalho escravo. Nas primeiras lavouras desenvolvidas em solo brasileiro, a cana-de-açúcar ocupava grande parte da zona da mata nordestina, próxima ao litoral, baseavam no sistema de plantations. Os plantations consistiam em grandes lavouras de monoculturas (apenas um cultivo), com o emprego da mão de obra escrava, cuja produção destinava-se à exportação. Muitas espécies que não se adaptavam adequadamente as regiões temperadas da Europa puderam ser cultivadas, como foi o caso da cana-de-açúcar, fumo, algodão e café. Inicialmente, sua efetiva ocupação determinou o estabelecimento apenas na costa litorânea por algumas atividades econômicas e vias de comunicação naquelas áreas, exigência momentânea meramente protetora, voltada para o enriquecimento da metrópole e a base da política mercantilista, o litoral tinha uma maior proximidade com o comércio europeu através da navegação oceânica pelo atlântico. Posteriormente expandiu-se para outras áreas do território. O território colonial brasileiro foi marcado por economia que se organizou voltadas para fora, sofre as determinações emanadas na política colonial da metrópole, atendendo aos interesses mercantis europeus. Na Europa vivenciavam- se transformações com um crescimento demográfico, a mercantilização da economia, modificações na transição do feudalismo ao capitalismo e a estrutura do poder político. Assim, a colonização especialmente na América, Ásia e na África fez parte da etapa de expansão comercial europeia e o desenvolvimento do capitalismo, representando uma transição da economia primária com base na agricultura para economia de mercado, proporcionando o comércio com papel decisivo nas trocas. Porém existem particularidadesem cada uma dessas regiões, na Ásia, por exemplo, os portugueses raramente ultrapassaram o litoral, utilizando-se das trocas do comércio local para obterem as desejadas mercadorias. 1.4. Atividades econômicas Durante o século XVI e XVII, foi intensificado a ocupação e povoamento da região do interior através das expedições do bandeirismo, a mineração, expansão da pecuária. O bandeirismo foi a penetração para o interior motivados por mapeamento, registros dos recursos naturais e dos aldeamentos indígenas, com finalidade definir 5 os pontos estratégicos da capacidade do território de oferecer riquezas, fossem elas metais preciosos, especiarias ou a escravização da mão de obra indígena. A pecuária foi motivada viando abastecer algumas regiões recém-povoadas, como a Zona da Mata, áreas litorâneas, sertão nordestino e vale do Rio São Francisco. Já a mineração, ocorreu principalmente na porção central que hoje corresponde aos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, formaram pequenos povoamentos (como um arquipélago), alguns se esvaziaram posteriormente pelo esgotamento das jazidas de exploração de ouro e diamantes. A produção brasileira voltava-se cada vez mais aos poucos produtos da sua especialidade destinados à exportação. Os efeitos simultâneos do estreitamento do mercado interno e da entrada dos produtos manufaturados ingleses deixavam pouco lugar ao desenvolvimento de atividades. Depois da grande fase de extração mineral, a um retorno à atividade agroexportadora, criação extensiva de gado. O açúcar volta parcialmente à antiga prosperidade e ocupa novas áreas na Bahia e em São Paulo. No Maranhão, desenvolve-se a produção de arroz, que será durante um período muito curto o segundo produto de exportação do Brasil. Um novo produto se impõe desde os primeiros anos da independência e dinamiza a atividade exportadora: o café. O café foi inicialmente cultivado no Norte e no Sul do país, mas sem ser importante até o início da fase neocolonial. A rapidez do seu desenvolvimento vê-se na progressão das exportações. 1.5. Transição da economia e o mercado interno É bastante consensual no pensamento social e político brasileiro a ideia de que o capitalismo começa a tomar forma em nosso país a partir das transformações ocorridas a partir da década de 1930, na qual aprofunda a divisão social do trabalho em todas as suas dimensões, inclusive espacial. Significou, a passagem do Brasil agrário para o Brasil industrial. Após quatro séculos de uma sociedade e uma economia fundamentalmente agrárias e atreladas aos mecanismos coloniais de exploração e dominação, a década de 1930 foi a primeira ruptura ao avanço da acumulação capitalista no país ao que corresponde ao núcleo básico de indústria de bens de produção e redefinição do papel do Estado na economia, buscando para o país o eixo dinâmico da economia o polo urbano-industrial. Um primeiro passo na direção de uma sociedade moderna. No Brasil, a burguesia era profundamente marcada por suas raízes agrárias, que havia se consolidado desde a colônia. O desenvolvimento capitalista brasileiro 6 que se introduz em 1930 no Estado Novo de Getúlio Vargas e na República Populista (1945-1964), totalmente protagonizado pela ação do Estado em várias frentes. No período de 1888-1932, o movimento da economia brasileira é impresso, em última instância, pela acumulação cafeeira, em 1933 há a quebra do padrão de acumulação iniciando-se a fase da industrialização restringida. Vale salientar, que o lucro dessa monocultura permitiu financiar o primeiro ciclo de industrialização brasileira, concentrando-se em São Paulo, polo da cafeicultura. Os interesses dos produtores de café eram protegidos pelo governo federal, com políticas de câmbio favorável e formação de estoques reguladores, como veremos a seguir. Sobre o ciclo do café, podemos destacar dois períodos importantes. O primeiro estende-se de 1886 a 1918 e o segundo de 1919 a 1929. Entre 1886 e 1898 houve um grande crescimento da economia cafeeira, uma vez que as condições de acumulação foram extremamente favoráveis: ampla disponibilidade de terras, “produzidas” pela extensão das estradas de ferro; oferta de força de trabalho superabundante, gerada por maciça imigração; aumento dos preços internacionais de 1886 a 1890, impulsionados pelo crescimento dos mercados mundiais, especialmente norte-americano e pela quebra das safras de 1887/8 e 1889/90; queda acentuada da taxa de câmbio, no momento em que cai a demanda externa, elevando os preços internos entre 1891 e 1894 e detendo o aprofundamento da queda entre 1895 e 1889. A solução encontrada foi a política de defesa do café de valorização para o período compreendido entre 1906 até 1931, uma periodização que compreende duas fases sucessivas. A primeira que se estende de 1906/ 1924, marcada pelos esquemas de valorização, cujo principal mecanismo era o financiamento da formação de estoques internos, restringindo artificialmente a oferta, com a finalidade de não permitir maiores quedas nos preços internacionais do café. Podemos citar as seguintes ações: a) o governo compraria os excessos de produção; b) empréstimos internacionais financiariam essas compras; c) os empréstimos seriam cobertos por uma taxa em ouro imposta sobre cada saca de café exportada; d) imposição de imposto ao plantio de novos pés de café; e) proibição da exportação de cafés inferiores. A segunda fase (1924-1930) caracteriza-se pela instituição de uma política de defesa permanente do café, destinada a manter a taxa de lucro do café num patamar elevado. A política de defesa permanente perdurou até 1929, quando a crise atingiu as economias líderes, que penalizou os mercados consumidores, o Brasil foi 7 obrigado a reduzir a exportação de café, ficando sem divisas para manter a importação de produtos industrializados. O governo decidiu criar o Conselho Nacional do Café que, através da compra e destruição de estoques, se encarregaria da política de sustentação. O Conselho Nacional do Café destruiu próximo a 14,4 milhões de sacas entre maio de 1931 e fevereiro de 1933, permitindo, diminuindo significativamente a pressão da oferta, que se alcançassem preços internacionais mais elevados. Desta forma, o governo federal, continuou comprando, embora a preços reduzidos, o excedente de café não exportável, formando estoques que não conseguia comercializar. Conforme os estoques envelheciam, o café era queimado para dar lugar à aquisição de novas safras. Essa política mantinha um fluxo de renda para o setor mais dinâmico da economia, evitando o desemprego no campo e a recessão generalizada. Por outro lado, a impossibilidade de continuar importando para satisfazer a demanda por produtos industrializados estimulou uma série de iniciativas de produção industrial para substituir bens importados. É no período que se estende de 1888 a 1933, o momento de nascimento e consolidação do capital industrial no Brasil. Exercícios 1. (ENEM 2013 / ADAPTADA) O mapa abaixo apresenta parte do contorno da América do Sul destacando a bacia amazônica. Os pontos assinalados representam fortificações militares instaladas no século XVIII pelos portugueses. A linha indica o Tratado de Tordesilhas revogado pelo tratado d e Madri, apenas em 1750: Fonte: Adaptado de Carlos de Meira Mattos. Geopolítica e teoria das fronteiras 8 De acordo com o mapa acima, pode-se afirmar que a construção dos fortes pelos portugueses visava, principalmente, dominar: a) economicamente as grandes rotas comerciais. b) as fronteiras entre regiões indígenas.c) o escoamento da produção agrícola. d) militarmente a bacia hidrográfica do Amazonas. e) o potencial de pesca da região. 2. (FUVEST-2010/ADAPTADA). "Os benefícios que conquistastes devem ser ampliados aos operários rurais, aos que, insulados nos sertões, vivem distantes das vantagens da civilização. Mesmo porque, se não o fizermos corremos o risco de assistir ao êxodo dos campos e superpovoamento das cidades - desequilíbrio de consequências imprevisíveis, capaz de enfraquecer ou anular os efeitos da campanha de valorização integral do homem brasileiro, para dotá-lo de vigor econômico, saúde física e energia produtiva". (Getúlio Vargas, discurso de 1° de maio de 1941) Analisando o fragmento acima, podemos afirmar que “benefícios que conquistastes” apontados por Getúlio Vargas em seu discurso foram: a) Isenções fiscais. b) Direitos Trabalhistas. c) Habitações plenas. d) Cidadania exacerbada. e) Liberdade política. 3. (ENEM-2017/ADAPTADA). “Nos primeiros anos do governo Vargas, as organizações operárias sob controle das correntes de esquerda tentaram se opor ao seu enquadramento pelo Estado. Mas a tentativa fracassou. Além do governo, a própria base dessas organizações pressionou pela legalização. Vários benefícios, como as férias e a possibilidade de postular direitos 9 perante às Juntas de Conciliação e Julgamento, dependiam da condição de ser membro de sindicato reconhecido pelo governo”. (Fonte: FAUSTO, B. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial do Estado, 2002, adaptado) No contexto histórico retratado pelo trecho acima, a relação entre governo e movimento sindical foi caracterizada pela (o): a) Cumplicidade institucional. b) Repressão violenta. c) Tutela autoritária. d) Relação amigável. e) Aparato judicial. Gabarito 1. Resposta: Letra D 2. Resposta: Letra B 3. Resposta: Letra C – Tutela autoritária Resumo Portugal e Espanha eram duas das nações que mais se destacavam no processo de expansão comercial marítimo na Europa. O tratado de Tordesilhas (1494) estabeleceu a divisão das posses das terras, a leste da linha domínio português e a oeste da linha domínio espanhol. Outros tratados foram importantes, tratado de Madri (1750), que redefiniu as fronteiras dos portugueses e espanhóis. No início do processo de colonização, a ocupação se deu principalmente nas áreas litorâneas com a exploração do pau Brasil na mata Atlântica. Ainda no século XVI, começou-se a explorar cultivos de alguns produtos aqui, como o açúcar, um produto de grande valor agregado no mercado europeu. O bandeirismo foi uma forma de adentrar ao território por expedições para exploração de minérios, mão-de-obra para trabalho escravo. Ultrapassando o tratado de Tordesilhas delimitado inicialmente, em sentido aos domínios espanhóis. Além da pecuária e os engenhos de cana-de-açúcar no século XVII, o cultivo de fumo, algodão 10 na região do nordeste, colocaram-se importante naquele momento. Na região norte, explorações das drogas do sertão para comercializar na Europa, o ouro em Minas Gerais, o que levou milhares de pessoas a exploração daquela região, muitas vilas surgiram pelo ciclo econômico do ouro no país. O Café na região sudeste, é o principal responsável nas transformações econômicas no Brasil na segunda metade do século XIX, um produto de forte exportação onde a economia reintegrou-se no mercado internacional, fazendo a inversão da balança comercial brasileira, com resultados positivos na produção e exportação. O espaço brasileiro foi construído pelas diferentes atividades econômicas e ocupações aqui praticadas ao longo da história. 11 Referências bibliográficas DORFMAN, Adriana; FRANÇA, Arthur Luna Borba Colen. Agenda descolonial para os estudos fronteiriços no Brasil, n. 31, v.1, 2017. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter; QUENTAL, Pedro de Araújo. Colonialidade do poder e os desafios da integração regional na América Latina. Polis [Online], n.31, 2012. MAGALHAES, Diogo Franco. O reinventar da colônia: um balanço das interpretações sobre a economia colonial brasileira. Dissertação de mestrado (economia), Universidade Estadual de Campinas, Campinas: São Paulo, 2008. CORREA, Jessica Aparecida. A fronteira, os tratados e os mapas: a formação territorial do Brasil e os tratados de Madri e Santo Ildefonso. Boletim Campineiro de Geografia,v.5,n.1,2015.
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