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uma escada na parte de trás da carreta; deram-me o braço, desci, dei um passo, depois voltei-me para dar outro e não pude. Entre dois candeeiros do cais, vira uma coisa sinistra. Oh! Era a realidade! Parei, como se estivesse já sob o cutelo. — Tenho uma última declaração a fazer! — disse em voz fraca. Trouxeram-me para aqui. Pedi que me deixassem escrever as minhas últimas vontades. Desligaram- me as mãos, mas a corda está aqui e o resto está lá em baixo. XLIX Um juiz, um comissário, um magistrado, não sei de que espécie, acabam de chegar. Pedi-lhes o meu perdão, juntando as mãos e arrastando-me sobre os joelhos. Responderam-me, sorrindo fatalmente, se isso era tudo o que tinha para lhes dizer. — O meu perdão! O meu perdão! — repeti eu, — ou por piedade, cinco minutos ainda! Quem sabe? Talvez ele venha! É tão horrível morrer assim na minha idade! Já se viram perdões, que chegavam no último momento. E a quem concedem o perdão, senhor, se não for a mim? Este execrável carrasco aproximou-se do juiz para lhe dizer que a execução devia ser feita a uma certa hora, que essa hora se vinha aproximando e que ele era o responsável, e demais a mais estava chovendo e que aquilo se arriscava a enferrujar-se. — Por piedade! Um minuto para esperar o meu perdão! Ou defendo-me! Mordo! O juiz e o carrasco saíram. Fiquei só... só com dois gendarmes. Oh! O horrível povo com os seus gritos de hiena! — Quem sabe se eu lhe escaparei? Se não estarei salvo? Se o meu perdão?... É impossível que me não perdoem! Ah! Os miseráveis! Parece-me que sobem a escada... Q UATRO HORAS Notas [1] Nós não pretendemos encarar com o mesmo desdém tudo o que foi dito por essa ocasião na Câmara. Algumas belas e dignas palavras foram pronunciadas. Nós aplaudimos, como toda a gente, o discurso grave e simples do senhor Lafayete e num outro sentido o notável improviso do senhor Villemain. [2] La Porte diz vinte e dois, mas Aubery diz trinta e quatro. O senhor de Chalais até ao vigésimo quarto ainda estava vivo e gritava. [3] O « parlamento» do Tahiti acaba de abolir a pena de morte. [4] Julgámos nosso dever reimprimir aqui a espécie de prefácio em diálogo, que se vai ler, e que acompanhava a terceira edição do Último dia de um condenado. É preciso recordar, ao lê-la, no meio de que objeções políticas, morais e literárias foram publicadas as primeiras edições deste livro. (Nota da edição de 1832). [5] No dia seguinte uns passos atravessavam a floresta, enquanto um cão uivava, errando pela margem do rio; e quando a donzela lacrimosa se veio de novo sentar com o coração alarmado sobre a velha torre do castelo, a triste Isaura ouviu as ondas gemendo, mas não o mandolim do gentil trovador. [6] Gentil Bernardo foi avisado por Pindoro e Citéra de que a Arte de Amar devia vir cear no sábado com a Arte de Agradar. [7] O que tentava dizer, era verso. [8] Foi na rua do Mail, que fui pilhado por três diabos da polícia, que se lançaram sobre mim. Puseram-me as algemas e assim me levaram. No meu caminho encontro um ladrão da minha rua. — Vai dizer a minha mulher que fui engavetado. Minha mulher encolerizada, disse-me: — O que fizeste? — Matei um homem e roubei-lhe o dinheiro, o relógio e as fivelas de prata. Minha mulher parte para Versailles, e lança-se aos pés do rei com um memorial para me mandar soltar. Se me vejo na rua, recompensarei minha mulher; dar-lhe-ei bons vestidos e sapatos bordados. Mas o rei zanga-se e diz: — Pelo meu chapéu, que hei de fazê- lo dançar uma dança de que não tenha de se rir. [9] Pé de rei: Medida francesa de doze polegadas. [10] Charenton era um hospital de doidos. FICHA TÉCNICA TÍTULO: O último dia de um condenado. TÍTULO ORIGINAL: Le Dernier Jour d'un condamné. AUTOR: Victor Hugo. CAPA: © 2012, (zero papel), baseada numa ilustração de Gustave Doré. EDIÇÃO DIGITAL: © (zero papel), novembro de 2012, baseada na edição de Paris, 1881. Texto em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa de 16 de dezembro de 1990. Índice Prefácio O último dia de um condenado I II III IV V VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII XXIV XXV XXVI XXVII XXVIII XXIX XXX XXXI XXXII XXXIII XXXIV XXXV XXXVI XXXVII XXXVIII XXXIX XL XLI XLII XLIII XLIV XLV XLVI XLVII A MINHA HISTÓRIA XLVIII XLIX Prefácio O último dia de um condenado I II III IV V VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII XXIV XXV XXVI XXVII XXVIII XXIX XXX XXXI XXXII XXXIII XXXIV XXXV XXXVI XXXVII XXXVIII XXXIX XL XLI XLII XLIII XLIV XLV XLVI XLVII A MINHA HISTÓRIA XLVIII XLIX