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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE Sou Flávia Andressa Farnocchi Marucci, psicóloga formada pela Universidade Federal de São Carlos. Possuo Mestrado em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e Especialização em Psicologia Hospitalar pelo Conselho Federal de Psicologia. Atualmente, atuo como psicóloga assistente do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento do Hospital das Clínicas (HCFMRP-USP), preceptora do Programa de Aprimoramento Profissional em Psicologia Clínica e Hospitalar e supervisora do Programa de Residência Multiprofissional (HCFMRP- USP). Possuo experiência em Psicologia da Saúde e Análise do comportamento. E-mail: flaviamarucci@gmail.com Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Flávia Andressa Farnocchi Marucci Batatais Claretiano 2015 PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Psicologia Aplicada à Saúde Versão: dez./2015 Formato: 15x21 cm Páginas: 122 páginas 616.0019 M353p Marucci, Flávia Andressa Farnocchi Psicologia aplicada à saúde / Flávia Andressa Farnocchi Marucci – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 122 p. ISBN: 978-85-8377-418-1 1. Psicologia da saúde. 2. Processo saúde-doença. 3. Modelo biopsicossocial. 4. Enfrentamento. 5. Interdisciplinariedade. I. Psicologia aplicada à saúde. CDD 616.0019 SUMÁRIO CONTEúDO INTRODUTóRIO 1. GLOSSáRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 11 2. EsquEma dos ConCEitos-ChavE ............................................................... 16 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 17 4. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 18 unidadE 1 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAúDE 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 21 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 21 2.1. A CIÊNCIA PSICOLóGICA ........................................................................ 21 2.2. AS PRINCIPAIS TEORIAS PSICOLóGICAS ............................................... 24 2.3. A PSICOLOGIA DA SAúDE ....................................................................... 33 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 44 3.1. PSICOLOGIA DA SAúDE ........................................................................... 44 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 45 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 47 6. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 48 unidadE 2 – VARIáVEIS PSICOLóGICAS NA DETERMINAÇÃO DA SAúDE 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 51 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 52 2.1. SAúDE E COMPORTAMENTO ................................................................. 52 2.2. PREVENÇÃO DE DOENÇAS ..................................................................... 56 2.3. ADESÃO AO TRATAMENTO ..................................................................... 60 2.4. TEORIAS DE COMPORTAMENTO E SAúDE ........................................... 63 2.5. PERSONALIDADE E SAúDE ..................................................................... 67 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 69 3.1. SAúDE E COMPORTAMENTO ................................................................. 69 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 70 5. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 73 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 73 unidadE 3 – ESTRESSE E DOENÇA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 77 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 77 2.1. ESTRESSE ................................................................................................. 77 2.2. MODELOS DE ESTRESSE E DOENÇA ...................................................... 85 2.3. ENFRENTAMENTO .................................................................................. 87 2.4. ESTRESSE RELACIONADO COM O TRABALHO ...................................... 92 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 96 3.1. ESTRESSE E ENFRENTAMENTO ............................................................... 96 3.2. ESTRESSE NO PROFISSIONAL DE SAúDE ............................................... 97 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 97 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 99 6. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 100 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS .....................................................................100 unidadE 4 – RElação EquipE intERdisCiplinaR-paCiEntE 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 103 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 104 2.1. O TRABALHO EM EQUIPES DE SAúDE ................................................... 104 2.2. RELAÇÃO PROFISSIONAL DE SAúDE E PACIENTE ................................. 109 2.3. VARIáVEIS QUE ATUAM NA PROMOÇÃO DE SAúDE ............................ 113 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 118 3.1. RELAÇÃO EQUIPE DE SAúDE E PACIENTE ............................................. 118 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 119 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 121 6. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 122 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 122 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo Fundamentos da Psicologia da Saúde. Fatores evolutivos e saúde. História de vida na determinação da saúde/doença. Variáveis psicossociais do tratamento. Estresse e doença: me- canismos fisiológicos e enfrentamento. Adoecimento no traba- lho. Psicossomática. Relação equipe interdisciplinar-paciente. Bibliografia Básica BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2001. FRIEDMAN, H.; SCHUSTACK, M. W. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1996. Bibliografia Complementar DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2000. DALLY, P.; HARRINGTON, H. Psicologia e psiquiatria na enfermagem. São Paulo: EPU, 1996. FIGLIE, N. B.; BORDIN S.; LARENJEIRA, R. Aconselhamento em dependência química. São Paulo: Roca, 2010. HOLMES, D. Psicologia dos transtornos mentais. 2. ed. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: 1997. MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ORLANDO, I. J. O relacionamento dinâmico enfermeiro-paciente. São Paulo: EPU, 1997. 8 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––– Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo ao estudo de Psicologia Aplicada à Saúde na modalidade a distância. Neste conteúdo, apresentaremos uma introdução ao estudo da Psicologia da Saúde, dando ênfase à sua aplicabilidade aos profissionais de saúde que lidam diariamente com pacientes, e que exercem, portanto, um papel importante no estabelecimento de relações interpessoais que sejam capazes de promover saúde e qualidade de vida. Talvez você possa estar se perguntando: Por que estudar psicologia? Porque a prática dos profissionais que lidam com a saúde está intimamente relacionada ao cuidado e relacionamento com o paciente, e, logo, compreendê-lo pode facilitar seu trabalho, como também melhorar a sua qualidade de vida. Além disso, a compreensão do que é saúde hoje destaca que, além de fatores biológicos e sociais, ela é determinada, também, por fatores psicológicos, que estudaremos também nesta obra. Apesar de as áreas que lidam com a saúde já terem desenvolvido seu próprio corpo de conhecimento, o diálogo com outras ciências pode promover a compreensão de outros fenômenos e abrir novas possibilidades. No último século, a Psicologia vem dialogando com as ciências da saúde, a fim de ampliar a visão do ser humano, considerando-o para além de seu corpo biológico. A Psicologia pode auxiliar na reflexão sobre o processo saúde-doença, na compreensão do homem como ser integral, na discussão sobre os limites da atuação profissional e na problematização de discursos científico-hegemônicos, buscando a construção de uma relação de vínculo profissional-paciente que gere novos discursos e, com isso, construa novas práticas profissionais e de saúde. 10 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO A Psicologia Aplicada à Saúde tem como objetivo apresentar como a psicologia compreende o ser humano e sua relação com os processos de saúde e doença; possibilitar a compreensão das variáveis que interferem na formação de sintomas e nos comportamentos de saúde; e abrir espaço para a discussão da relação entre o profissional de saúde e o paciente. Para isso, dividimos o conteúdo em quatro unidades de estudo. Na Unidade 1, você será apresentado à ciência da psicologia e conhecerá algumas das abordagens teóricas mais importantes, o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise. Esta breve introdução servirá de base para a compreensão da psicologia da saúde, que será discutida com maior detalhamento. Ainda nesta unidade, será discutido o conceito de saúde, segundo alguns modelos históricos e de acordo com o modelo biopsicossocial. Também serão apresentados os fatores que contribuíram para o surgimento de uma psicologia da saúde e as perspectivas de trabalho e pesquisa neste campo. Na Unidade 2, vamos nos dedicar ao estudo das variáveis psicológicas e comportamentais que podem influenciar e determinar a saúde do indivíduo. Discutiremos como padrões de comportamento podem trazer benefícios e prejuízos à saúde e a diferença entre prevenção primária, secundária e terciária. Também será apresentado o conceito de adesão ao tratamento e os fatores que interferem neste comportamento. Estudaremos sobre o modelo trasteórico, que descreve 5 estágios de prontidão para mudança e a associação entre alguns tipos de personalidade e o surgimento de doenças. O próximo tema a ser estudado será o mecanismo fisiológico do estresse e as estratégias de enfrentamento. Este assunto será abordado na Unidade 3, que pretende apresentar 11© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO os modelos de interação entre estresse e saúde, os efeitos do estresse no organismo, e os estilos de enfrentamento (focado na emoção ou nos problemas). Também será discutido sobre o estresse relacionado ao trabalho e Síndrome de Burnout em profissionais de saúde. Em nossa última unidade, o assunto principal será a relação do profissional de saúde com o paciente. Para isso, serão apresentados os conceitos de equipes inter, multi e transdiciplinar em saúde. Abordaremos variáveis facilitadoras da construção de uma relação de ajuda com o paciente e sobre a importância daempatia, da autonomia, da informação, do suporte social e da espiritualidade na promoção de saúde. Então, preparados? Vamos começar! 1. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados. 1) Adesão ao tratamento: disposição do paciente a seguir o regime de tratamento receitado e conseguir fazê-lo. 2) Autonomia: independência, liberdade ou autossufi- ciência. Capacidade de gerenciar a própria vida. 3) Behaviorismo: teoria psicológica que considera o comportamento como objeto de estudo da psicologia. Nesta abordagem, o comportamento é compreendido na interação entre o organismo e o ambiente. 12 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 4) Biofeedback: sistema que proporciona informações auditivas ou visíveis com relação a estados fisiológicos involuntários. 5) Modelo Biopsicossocial: forma de compreender a saúde como sendo determinada por compomentes biológicos, psicológicos e sociais. 6) Comunicação médico e paciente: interação social entre equipe de saúde e paciente na qual há trocas de informação. 7) Comportamento: interação do indivíduo com o seu ambiente. 8) Contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação genética e nosso sistema nervoso, imunológico e endócrino. 9) Contexto psicológico: fatores psicológicos como o pensamento, a percepção, a motivação, a emoção, a aprendizagem, a atenção, a memória, os quais acarretam implicações para a saúde. 10) Contexto social: a forma como nos relacionamos com os outros e com o nosso ambiente também influencia em nossa saúde. 11) Desamparo aprendido: resignação passiva e desani- mada de uma pessoa diante do estresse persistente e incontrolável. 12) Despersonalização: refere-se à perda de idealismo no local de trabalho, desencadeando atitudes negativas para com aqueles que recebem o serviço ou a atenção do empregado. 13© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 13) Doenças crônicas: é uma doença que persiste por períodos superiores a seis meses e não se resolve em um curto espaço de tempo. 14) Empatia: é a capacidade de compreender a emoção do outro. É uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à sua própria situação. Capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas e experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia. 15) Enfrentamento: conjunto de estratégias, cognitivas e comportamentais, utilizadas pelos indivíduos para lidar com uma ameaça iminente. Este se processa mediante a mobilização de recursos naturais, com fins de administração de situações estressoras, consistindo de interação entre o organismo e o ambiente. 16) Enfrentamento focalizado na emoção: estratégia de enfrentamento em que a pessoa tenta controlar a resposta emocional ao estressor. 17) Enfrentamento focalizado no problema: estratégia de enfrentamento para lidar diretamente com o estressor, na qual são reduzidas as demandas do estressor ou aumentados os recursos para atender a essas demandas. 18) Equipe interdisciplinar: consiste no estabelecimento de associação intencional de duas ou mais áreas do saber, para alcançar um conhecimento mais amplo e diversificado. 19) Equipe multidisciplinar: são equipes formadas por vários profissionais de diferentes áreas, que buscam abranger os diferentes aspectos de uma mesma 14 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO situação, sem haver uma relação entre si, cada um dentro de seu saber. 20) Equipe transdiciplinar: é a justaposição de diversas disciplinas para descrever uma nova forma de compreender os fenômenos. 21) Estresse: processo pelo qual percebemos e responde- mos a eventos, chamados de estressores, que são per- cebidos como danosos, ameaçadores ou desafiadores. 22) Esgotamento: estado de exaustão física e psicológica relacionada com o trabalho. 23) Exaustão: refere-se a sentimentos de ter seus recursos emocionais esgotados, com a correspondente perda de energia e sentimentos de fadiga. 24) Modelo biomédico: visão dominate no século 20, que sustenta que a doença sempre tem uma causa física. 25) Modelo transteórico: teoria de estágios muito utilizada, sustenta que as pessoas passam por cinco estágios quando tentam mudar comportamentos relacionados com a saúde – pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção. 26) Mortalidade: morte; como medida de saúde, número de mortes devido a uma causa específica em determi- nado grupo em certo momento. 27) Personalidade: é o conjunto de características psicoló- gicas que determinam os padrões de comportamento, de pensar e de sentir. 28) Prevenção primária: esforços em favor da saúde para prevenir que doenças ou ferimentos ocorram. 15© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 29) Prevenção secundária: ações adotadas para identificar e tratar a doença no estágio inicial. 30) Prevenção terciária: ações adotadas para conter os danos, uma vez que a doença progrediu além de seus estágios iniciais. 31) Prontidão para mudança: presença de motivação para realizar a modificação de um hábito ou comportamento. 32) Psicanálise: teoria psicológica desenvolvida por Freud que tem como objeto de estudo o inconsciente. 33) Psiconeuroimunologia: campo de pesquisa que enfatiza a interação entre processos psicológicos, neurais e imunológicos no estresse e na doença. 34) Psicossomática: ramo da medicina concentrado no diagnóstico e tratamento de doenças físicas causadas por processos psicológicos deficientes. 35) Resiliência: qualidade de certas pessoas de se recuperarem de estressores ambientais. 36) Síndrome de burnout: ou síndrome do esgotamento profissional, um distúrbio psíquico que tem como características o estado de tensão emocional e de estresse crônicos, provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. 37) Subjetividade: é composta de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito por meio de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica. É fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. 38) Suporte social: apoio de outras pessoas que transmite preocupação emocinal e auxílio material. 16 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 2. EsquEma dos ConCEitos-ChavE Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por exemplo, a psicologia aplicada à saúde tem como objetivo a compreensão dos determinates de saúde e doença. Nesse sentido, existem fatores que estão amplamente associados à promoção e à melhora da saúde, como o estabelecimento de uma relação de ajuda com o profissional de saúde, ter autonomia, empatia e informação, a presença de suporte social adequado e a espiritualidade. Em contrapartida, há inúmeras variáveis psicológicas que estão associadas ao aparecimento de doenças. Podemos categorizá-las como o efeito do estresse em nosso organismo e o efeito de padrões de comportamento não saudáveis. Entretanto, com o uso de estratégias de enfrentamento diante do estresse, podemos minimizar os seus efeitos prejudiciais. Da mesma forma, intervenções comportamentais podem modificar estilos de vida não saudáveis. Assim, podemos perceber que a determinação da saúde e da doença é passível de mudança e não se trata de uma condição estática. 17© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE CONTEúDOINTRODUTóRIO Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Psicologia Aplicada à Saúde. 3. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. ; VALERIO, N. I. Psicologia da Saúde – intervenções em hospitais públicos. In: RANGÉ, B. (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005. 18 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 4. E-REFERÊnCia DICIONáRIO DE SIGNIFICADOS. Homepage. Disponível em: <http://www.significados. com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2015. 19 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE Objetivos • Compreender a psicologia como ciência. • Analisar as principais abordagens teóricas da psicologia. • Interpretar saúde em uma perspectiva biopsicossocial. • Analisar os fundamentos da psicologia da saúde e sua contribuição para a compreensão do processo saúde-doença. Conteúdos • Fundamentos da Psicologia da Saúde. • Psicossomática. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Esta unidade compreende o estudo da psicologia da saúde. Os conceitos descritos a seguir serão fundamentais para a compreensão dos demais conteúdos abordados no restante da obra. 20 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE 2) Nesta unidade serão apresentadas apenas algumas das abordagens teóricas da Psicologia; existem outras além das que serão citadas aqui, mas que não abordaremos por não ser este o objetivo de nosso estudo. Portanto, é importante que você pesquise e busque sempre por novos conhecimentos. 3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Conteúdos Digitais Integradores. 21© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE 1. INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade, iniciaremos o estudo da Psicologia da Saúde, que é o ramo da Psicologia que se destina a pesquisar e explicar os processos de saúde e doença. No entanto, antes de nos aprofundarmos nesta área específica da Psicologia, precisamos conhecer um pouco melhor essa ciência. Para isso, iniciaremos nosso estudo com uma introdução à Psicologia como ciência e seu objeto de estudo, além de algumas das principais abordagens teóricas. Você vai observar que o conceito de saúde se modificou consideravelmente nos últimos anos, e isso está estreitamente relacionado com o surgimento da Psicologia da Saúde. Nosso principal objetivo aqui é demonstrar que os aspectos psicológicos, assim como os biológicos e sociais, têm grande influência na determinação da saúde e da qualidade de vida. 2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERêNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos Digitais Integradores. 2.1. A CiênCiA PsiCológiCA O termo psicologia é utilizado em nosso cotidiano com sentidos diversos. Por exemplo, quando dizemos que determinada pessoa tem poder de persuasão ou convencimento, muitas vezes, falamos que ela utilizou "psicologia" para 22 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE conseguir convencer. Ou quando encontramos alguém que nos faça sentir compreendidos ou que nos dê bons conselhos, muitas vezes, dizemos que tem “psicologia”. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Trata-se do conhecimento que as pessoas tem, normalmente de forma superficial, da psicologia enquanto ciência, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico. No entanto, vamos nos concentrar na Psicologia Científica. Para denominarmos de “científico” um conjunto de conhecimento, é necessário que este tenha um objeto de estudo específico, uma linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicos, processo cumulativo do conhecimento e objetividade (BOCK et al., 1999). É isso que faz da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. A Psicologia enquanto ciência é relativamente jovem, seu início é datado no final do século 19, embora já existisse há muito tempo na Filosofia, como uma preocupação e necessidade de compreensão do ser humano. Por ser uma ciência muito nova, a Psicologia não teve tempo ainda de apresentar teorias definitivas, o que faz com que ela seja caracterizada por uma diversidade de objetos de estudo. Contudo, essa diversidade de objetos se justifica pelo fato de os fenômenos psicológicos serem tão diversos e complexos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medida, controle e interpretação (BOCK et al., 1999; FIGUEIREDO; SANTI, 2004). A Psicologia é um ramo das Ciências Humanas, e, portanto, tudo que diz respeito ao homem poderia ser seu objeto de 23© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE estudo, tal como o seu comportamento, a sua consciência ou a sua cognição. Isso nos permite dizer que talvez não exista apenas uma ciência psicológica, mas várias psicologias em desenvolvimento (BOCK et al., 1999). Tal assunto ficará mais claro no próximo tópico desta unidade, no qual estudaremos algumas das teorias psicológicas mais importantes, e, provavelmente, você perceberá que a compreensão do ser humano é estabelecida de forma distinta dentro de cada teoria. De forma geral, podemos dizer que a matéria-prima da psicologia é o homem, o humano em todas as suas expressões, as visíveis (comportamento) e as invisíveis (sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). E tudo isso pode ser compreendido no termo subjetividade: A subjetividade é formada de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito segundo as relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica, é fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais (BOCK et al., 1999). Em resumo, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar e fazer de cada um; é o que constitui o nosso modo de ser. Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo; ela é construída a partir do contato com o mundo social e cultural, ou seja, das relações que o sujeito estabelece 24 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE com o seu ambiente. Assim, com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão da totalidade da vida humana (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). 2.2. As PrinCiPAis teoriAs PsiCológiCAs Como já foi mencionado, a Psicologia é composta por diferentes teorias que buscaram, ao longo de seu desenvolvimento, compreender e explicar a conduta humana. Essas abordagens psicológicas foram influenciadas por escolas filosóficas e movimentos científicos que direcionaram a forma de pensar o mundo na época de sua criação. As teorias da Psicologia mais importantes são: o Behaviorismo; a Gestalt; e a Psicanálise. Para facilitar sua compreensão, serão apresentadas as principais características de cada uma delas. Behaviorismo O termo “behaviorismo” foi inaugurado pelo americano John B.Watson em 1913. No entanto, foi baseado nos estudos de Skinner (1945) que o behaviorismo ganhou grande destaque e se tornou uma das abordagens psicológicas mais utilizadas em vários países. Skinner cunhou o termo “behaviorismo radical” para designar a filosofiada ciência do comportamento. O termo inglês “behavior” significa “comportamento” e, por isso, o behaviorismo também é chamado de Teoria Comportamental, Análise Experimental do Comportamento ou Análise do Comportamento (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). Para o behaviorismo, o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento. Contudo, o comportamento não é entendido 25© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE como uma ação isolada, mas sim como uma interação entre o organismo e o seu ambiente. Ou seja, comportamento é a interação entre as ações do indivíduo (respostas) e o ambiente que o cerca (estímulos) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). A Análise do Comportamento descreve dois tipos: o comportamento respondente e o operante. O primeiro é caracterizado por respostas do organismo que são eliciadas (produzidas) por estímulos do ambiente. São interações do tipo estímulo-resposta, nas quais certos eventos ambientais confiavelmente eliciam certas respostas do organismo que independem de aprendizagem (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Por exemplo, quando alguma luz forte incide em nossos olhos, nossas pupilas são contraídas imediatamente, ou quando entramos em um ambiente muito quente, começamos a transpirar excessivamente. Nosso organismo já nasce com alguns comportamentos respondentes, por isso, dizemos que as respostas reflexas são instintivos. Esses comportamentos têm um importante valor de sobrevivência, pois são a preparação mínima do indivíduo para reagir aos estímulos ambientais, tais como o reflexo de sucção na amamentação, o reflexo de retirar a mão diante de um estímulo doloroso, entre outros (BOCK et al., 1999). No entanto, aprendemos novas relações de estímulo resposta ao longo de 26 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE nossa vida. São os chamados comportamentos respondentes condicionados (aprendidos), que são adquiridos a partir do pareamento de estímulos eliciadores de respostas com outros estímulos novos (neutros). Isso leva o organismo a responder a estímulos que antes não respondia. O comportamento respondente é muito importante para a compreensão das emoções humanas, pois todas as reações do organismo relacionadas à manifestação de emoção são comportamentos reflexos, é por meio da aprendizagem de novos respondentes que aprendemos a ter medo de algumas coisas, ou a chorar quando ouvimos uma determinada música. O segundo tipo, ou seja, o comportamento operante, é o tipo de comportamento que abarca a maioria dos comportamentos dos organismos, ou seja, a maior parte de nossas interações com o ambiente. Nesse tipo de comportamento, uma resposta emitida pelo organismo produz uma alteração no ambiente, consequências no ambiente, e o comportamento é afetado (controlado) por essas consequências. Por exemplo, se você vai até uma torneira e utiliza suas mãos para girá-la até sair água, você produziu uma mudança em seu ambiente, antes não tinha água e agora tem. A consequência de seu comportamento (a presença de água) influencia a ocorrência futura da mesma resposta, pois sempre que precisar de água, girará a torneira da mesma forma, já que aprendeu que, assim, consegue obter a água que precisa. O comportamento operante é assim chamado porque ele "opera" sobre o ambiente para modificá-lo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). É importante entendê-lo para compreendermos como aprendemos nossas habilidades e conhecimento e até mesmo como aprendemos a ser quem somos (o que chamamos de personalidade ou padrão de comportamento). A maior parte de 27© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE nossos comportamentos produz consequências no ambiente, as quais influenciam a ocorrência futura do mesmo comportamento. As consequências produzidas pelo comportamento ocorrem tão naturalmente no nosso dia a dia que nem nos damos conta de que elas estão presentes. Os comportamentos são mantidos ou deixam de ocorrer em função de suas consequências. Por exemplo, se uma criança apresenta um comportamento de birra porque deseja receber um doce, a consequência oferecida ao seu comportamento influenciará a probabilidade de, no futuro, essa criança voltar a fazer birra. Se os pais cederem ao seu comportamento dando- lhe o doce, há um aumento na chance de ela se comportar da mesma forma na próxima situação em que desejar algo. Em contrapartida, se a consequência apresentada for ignorar ou punir o comportamento da criança, esta provavelmente não utilizará a mesma estratégia na próxima vez que quiser ganhar um doce. Se a consequência aumentar a probabilidade de ocorrência do comportamento, então dizemos que a resposta foi reforçada (a consequência é então chamada de Reforço). No entanto, se a probabilidade do comportamento for diminuída, dizemos que resposta foi punida (punição) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). A análise do comportamento é bastante abrangente no estudo da psicologia da saúde e é muito aplicada na modificação de comportamentos não saudáveis, na aprendizagem de comportamentos de saúde e na adesão ao tratamento. Gestalt Gestalt é um termo alemão sem tradução para o português. O significado mais próximo seria “forma” ou “configuração”, por 28 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE isso a Gestalt é conhecida como “psicologia da forma” (BOCK et al., 1999). Essa teoria psicológica foi iniciada com base nos estudos de Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), que fundamentados na Psicofísica, investigaram a percepção e a sensação do movimento. Eles estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). Para a Gestalt, o objeto de estudo da psicologia também é o comportamento, assim como para os behavioristas. No entanto, essas abordagens se diferem na forma como estudam o comportamento. A Gestalt considera que o estudo do comportamento de maneira isolada de um contexto mais amplo pode dificultar sua compreensão ao psicólogo. Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo (BOCK et al., 1999). A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Para os gestaltistas, entre o estímulo que o ambiente fornece e a resposta do indivíduo, encontra- se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano. Nesse sentido, a Gestalt insere o conceito de figura/fundo, no qual temos a tendência de organizar nossas percepções no objeto observado (a figura) e o segundo o plano contra o qual ela se destaca (o fundo). Quanto mais clara estiver a forma, mais clara será a separação entre figura e fundo. Como exemplo, observe as imagens apresentadas na Figura 1. O 29© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE que consegue ver? Qual figura emerge e qual fundo permanece? Consegue perceber o dinamismo entre figura que ora emerge e ora vai para o fundo? Figura 1 Exemplos de figura/fundo. Na primeira imagem, é possível observar a figura de um cálice ou a face duas pessoas; na segunda, podemos observar a figura de uma dama com chapéu ou a face de uma senhora. A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as condições para a compreensão do comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estímulo desencadeará nosso comportamento. Muitas vezes, os nossos comportamentos guardam relação estreita com os estímulos físicos,e outras, eles são completamente diferentes do esperado porque "entendemos" o ambiente de uma maneira diferente da sua realidade (BOCK et al., 1999). A Gestalt apresenta o conceito de “boa forma”, que implica na apresentação em aspectos básicos do elemento que objetivamos compreender, de forma que permitam a sua decodificação, ou seja, sua percepção total. Se nos 30 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE elementos percebidos não há equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade, não alcançaremos a boa forma (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). O comportamento é determinado pela percepção do estímulo e, portanto, estará submetido à lei da boa forma. O conjunto de estímulos determinantes do comportamento é denominado meio ambiental. São conhecidos dois tipos de meio, o meio geográfico, que é o meio enquanto tal, o meio físico em termos objetivos, e o meio comportamental, que é o meio resultante da interação do indivíduo com o meio físico e implica a interpretação desse meio por intermédio das forças que regem a percepção (BOCK et al., 1999). Psicanálise A última teoria psicológica que estudaremos é a Psicanálise, abordagem bastante conhecida que foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939), um médico vienense que mudou totalmente o modo de pensar a vida psíquica. O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria e a um método de investigação, além da prática profissional; enquanto teoria se caracteriza por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Como método de investigação, a psicanálise caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas realizações imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). Freud, em seu livro A interpretação dos sonhos, apresentou a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria se refere à existência de três sistemas 31© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE psíquicos: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente (BOCK et al., 1999): • O inconsciente é o conjunto dos conteúdos não presentes no campo da consciência. É formado por conteúdos reprimidos pela ação de censuras internas. • O pré-consciente é o sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência, que podem ser acessados a qualquer momento. • O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Destaca-se a percepção, a atenção e o raciocínio. Um ponto de destaque nas obras de Freud é a atenção dada ao estudo da sexualidade humana. Ele descrevia que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos por seus pacientes referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida, ou seja, que na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas das neuroses. Posteriormente, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. O id constitui o reservatório da energia psíquica, onde estariam as pulsões de vida e de morte. É regido pelo princípio do prazer. O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, da realidade e do superego. É regido pelo princípio da realidade e suas funções básicas são a percepção, a memória, os sentimentos e o pensamento. O superego origina-se a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. Seu conteúdo refere-se a exigências sociais e culturais (BOCK et al., 1999). 32 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE Outro ponto importante da teoria freudiana são os mecanismos de defesa. Freud observou que diante da percepção de um acontecimento doloroso ou desorganizador, as pessoas podem suprimir a realidade para evitar o sofrimento. Esses mecanismos são processos realizados pelo ego e são inconscientes, ou seja, ocorrem de forma independente da vontade do indivíduo. Veja na Tabela 1 alguns exemplos de mecanismos de defesa: Tabela 1: Mecanismos de defesa do Ego. Mecanismos de Defesa Recalque O indivíduo "não vê" o que ocorre. Existe a supressão de uma parte da realidade. Por suprimir a percepção do que está acontecendo, é considerado o mais radical dos mecanismos de defesa. Os demais referem-se a apenas deformações da realidade. Formação reativa O ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Regressão O indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento, é uma passagem para modos de expressão mais primitivos. Projeção O indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi projetado como algo seu que considera indesejável. É um mecanismo de uso frequente e observável na vida cotidiana. Racionalização O indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica os estados "deformados" da consciência. 33© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE 2.3. A PsiCologiA dA sAúde A Psicologia da Saúde é uma área da psicologia que aplica princípios e pesquisas psicológicas para melhoria, tratamento e prevenção de doenças. Inclui como variáveis de interesse as condições sociais (como disponibilidade de serviços de saúde), os fatores biológicos (como longevidade da família e as vulnerabilidades hereditárias a certas doenças) e até mesmo os traços de personalidade ou padrões de comportamentos (como extroversão e sociabilidade) (STRAUB, 2005). Psicologia da saúde foi definida, pela Associação Americana de Psicologia, como: Ela abrange o ensino e a prática de qualquer tipo de fenômeno de saúde e de interações entre pessoas, como as relações profissionais-pacientes, as relações humanas dentro de uma instituição de saúde, a questão das doenças agudas e crônicas, o papel das reações adaptativas ao adoecer, a perda, a morte e os recursos terapêuticos (MIYAZAKI et al, 2011). 34 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE O que é Saúde Para compreender melhor como trabalha a psicologia da saúde, é necessário entender o que é saúde. Por muito tempo prevaleceu o modelo biomédico de saúde no qual, saúde era definida como ausência de doenças. tal definição se concentrava apenas na ausência de um estado negativo, no entanto, a maioria de nós concordaria que a saúde envolve muito mais e não se limita ao nosso bem-estar físico. A interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais é atualmente considerada fundamental na compreensão do contínuo saúde-doença (miYaZaKi et al, 2011). Pensando nisso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) (2015) propôs a definição de saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doenças ou enfermidades", como era a definição anterior de saúde. Essa definição afirma que a saúde é um estado positivo e multidimensional que envolve três domínios: saúde física, saúde psicológica e saúde social. • Saúde física: implica em ter um corpo saudável e livre de doenças, com um bom desempenho dos sistemas do nosso corpo e a capacidade de resistir a ferimentos físicos. Ela também envolve hábitos relacionados com o estilo de vida que aumentem a saúde física. • saúde psicológica: significa ser capaz de pensar de forma clara, ter uma boa autoestima e um senso geral de bem-estar. Inclui acriatividade, as habilidades de resolução de problemas e a estabilidade emocional. • saúde social: envolve ter habilidades interpessoais, relacionamentos significativos com amigos e família e apoio social em épocas de crise. Está relacionada 35© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE também com fatores socioculturais em saúde, como o status socioeconômico, a educação, a cultura e o gênero. Cada campo da saúde é influenciado pelos outros dois domínios. Por exemplo, uma pessoa emocionalmente segura de si, que tem boas habilidades de resolução de problemas (saúde psicológica), provavelmente terá mais facilidade para manter relacionamentos sociais sadios (saúde social) do que uma pessoa depressiva que tem dificuldade para se concentrar no problema em questão. da mesma forma, a saúde física fraca apresenta desafios especiais, tanto para a autoestima quanto para relacionamentos com a sua família e seus amigos. No entanto, a saúde nem sempre foi compreendida dessa forma. Até a primeira parte do século 20, a medicina apoiava-se na fisiologia e na anatomia na busca por uma compreensão mais profunda da saúde e da doença. Esse era o modelo biomédico de saúde, que sustentava que a doença sempre tinha causas biológicas. Esse modelo tornou-se aceito de forma ampla durante o século 19 e representou a visão dominante na medicina até recentemente (MIYAZAKI et al, 2011). Segundo (STRAUB, 2005, p. 8): O modelo biomédico pressupõe que a doença é o resultado de um patógeno (vírus, bactéria ou algum outro microrganismo que invade o corpo), e não faz menção às variáveis psicológicas, sociais ou comportamentais na doença. Neste sentido, este modelo é reducionista, considerando que fenômenos complexos, como a saúde ou a doença, são derivados de um único fator primário. De acordo com este padrão, a saúde nada mais é do que a ausência de doenças. Dessa forma, aqueles que trabalham apoiados nesta perspectiva concentram-se em investigar as causas das doenças físicas em vez daqueles fatores que promovem a vitalidade física, psicológica e social. 36 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE O modelo biomédico avançou o tratamento de saúde de maneira significativa, entretanto, foi incapaz de explicar transtornos que não apresentavam causa física observável. O pensamento de que determinadas doenças poderiam ser provocadas por conflitos psicológicos foi desenvolvida durante a década de 1940 pelo trabalho do psicanalista Franz Alexander. Ele trabalhava com pacientes com artrite reumática, e, quando a equipe médica não encontrava agentes infecciosos ou outras causas diretas para a doença, alexander ficava desconfiado pela possibilidade de que fatores psicológicos pudessem estar envolvidos. Ele desenvolveu então o modelo do conflito nuclear, no qual defendia que a presença de determinados conflitos inconscientes poderia levar à presença de reclamações físicas. segundo esse modelo, “cada doença física é o resultado de um conflito psicológico fundamental ou nuclear”. alexander acreditava que indivíduos com "personalidade reumática", que tendem a reprimir a raiva e são incapazes de expressar as emoções, seriam mais propensos a desenvolver artrite (STRAUB, 2005, p. 9). a partir desses estudos, um grande número de transtornos físicos foram descritos como presumivelmente causados por conflitos psicológicos, surgindo, assim, a medicina psicossomática (psico = mente; soma = corpo), um movimento reformista dentro da medicina que buscava estudar o diagnóstico e o tratamento de doenças físicas supostamente causadas por processos deficientes na mente (stRauB, 2005). a medicina psicossomática apresentou um importante avanço para a compreensão da saúde, quando comparada ao modelo biomédico, no entanto, foi questionada pela categorização aparentemente arbitrária de algumas doenças 37© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE como sendo de natureza completamente física e outra completamente psicológica. Sua metodologia de pesquisa era fundamentada principalmente em estudos de caso de pacientes individuais, o que fez surgirem críticas em relação à sua confiabilidade, além disso, a medicina psicossomática, assim como o modelo biomédico, apoiava-se no reducionismo, de que um único problema psicológico seria suficiente para desencadear a doença (MELLO,1995; STRAUB, 2005). Atualmente, a compreensão dos processos de saúde- -doença evoluiu, de forma a serem compreendidos como o resultado da interação de múltiplos fatores, incluindo as condições biológicas, o ambiente e os aspectos psicológicos. Essa tendência contemporânea de ver a doença e a saúde como algo multifatorial é resultado da aproximação entre a medicina e a psicologia (MIYAZAKI et al, 2011). Um outro exemplo dessa aproximação é a medicina comportamental, que foi concebida com base nos princípios do behaviorismo. Esse campo começou a explorar o papel do condicionamento respondente e operante na saúde e na doença. Um de seus principais resultados foi a pesquisa de Neal miller, que utilizou técnicas de condicionamento operante para ensinar animais e humanos a adquirirem controle sobre certas funções corporais. Ele demonstrou que as pessoas podem adquirir algum nível de controle sobre a sua pressão sanguínea e relaxar a frequência cardíaca quando estiveram cientes desses estados. Essa técnica recebeu o nome de biofeedback, e é muito utilizada até hoje na recuperação de diversas patologias (STRAUB, 2005). 38 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE O surgimento da Psicologia da Saúde A Psicologia da Saúde foi criada com o objetivo de estudar, de forma científica, as causas e origens de determinadas doenças, principalmente as origens psicológicas, comportamentais e sociais da doença. Ela busca investigar por que as pessoas se envolvem em comportamentos que comprometem a saúde, como fumar e sexo inseguro, e como facilitar a prática de comportamentos que pode preservar, restabelecer ou promover a saúde, como ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos. Também se preocupa com a prevenção e o tratamento de doenças, por meio de programas que auxiliem no processo de adaptação à enfermidade e estratégias para facilitar a adesão ao tratamento. Alguns fatores contribuíram para o surgimento de um campo da Psicologia que se ocupasse exclusivamente de investigar e promover saúde. Segundo Straub (2005), são quatro tendências que desafiaram a medicina e a saúde pública e impulsionaram a criação da psicologia da saúde: • Aumento da expectativa de vida: com a melhoria dos serviços de saúde e os avanços da medicina, a expectativa de vida aumentou na maioria dos países. Com as pessoas vivendo mais, existe maior consciência publica das questões relacionadas com a saúde, incluindo a preocupação com as questões psicológicas. • Surgimento de transtornos relacionados ao estilo de vida: até o século 19, as pessoas morriam principalmente de doenças que eram causadas por falta de água potável, por alimentos contaminados, ou por infecções contraídas no contato com pessoas doentes. Não era incomum que centenas ou mesmo milhares de pessoas morressem em uma única epidemia de varíola, 39© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE febre amarela, difteria, gripe ou sarampo. Melhorias em higiene pessoal, nutrição e saúde pública (como tratamentos de esgotos) levaram a um declínio no número de mortes por doenças infecciosas. Porém, apenas após a descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928, a saúde pública deu um passo verdadeiramente decisivo. Isso levou a uma mudança no padrão das principaiscausas de morte, que, antes do século 20, eram transtornos agudos, como tuberculose, gripe e pneumonia, e atualmente está relacionado a doenças crônicas, nas quais a pessoa precisa tratar por muitos anos para prevenir mortes prematuras e manter a qualidade de vida (STRAUB, 2005). • Modificação no modelo biomédico: os questionamentos em relação ao reducionismo do modelo biomédico levaram à necessidade de pensar em saúde e doença de forma mais abrangente, como já foi discutido anteriormente. A medicina tradicional encontrou dificuldade para explicar por que o mesmo conjunto de fatores de risco algumas vezes desencadeia doenças e outras não. Isso induziu os pesquisadores a descobrir que fatores psicológicos, como a maneira como cada pessoa reage ao estresse, se combinam com fatores de risco físicos para determinar o risco à saúde do indivíduo (MIYAZAKI et al., 2011). • Aumento dos custos do atendimento em saúde: o crescente aumento nos custos dos serviços de saúde ajudou a focar a atenção na eficácia do custo de promover e manter a saúde. A ênfase da psicologia da saúde em modificar os comportamentos de risco das pessoas, antes que eles causem doenças, tem o 40 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE potencial de reduzir os custos com a saúde de forma expressiva (STRAUB, 2005). Perspectivas da Psicologia da Saúde A Psicologia da Saúde desenvolveu alguns modelos ou perspectivas para orientar seu trabalho, objetivando compreender de forma mais ampla os processos de saúde e doença. Cada um desses modelos investiga de forma diferente a mesma coisa e se complementam para a compreensão total da saúde. O primeiro modelo é a perspectiva do curso de vida, que se concentra em investigar os aspectos da saúde e da doença relacionados com a idade e com os ciclos de vida. Essa perspectiva também examina as principais causas de morte que acometem certos grupos etários. Por exemplo, o uso de substâncias psicoativas é mais frequente em adolescentes, enquanto que as doenças crônicas afetam de forma mais significativa pessoas idosas. Outra perspectiva é a sociocultural, que se dedica a conhecer a forma como os como fatores sociais e culturais contribuem para a saúde e para a doença. O termo cultura é compreendido como comportamentos, valores e costumes persistentes que um grupo de pessoas desenvolveu ao longo dos anos e transmitiu à próxima geração. Em culturas ou etnias diferentes existe muita diversidade em relação à expectativa de vida e ao nível de saúde, e algumas dessas diferenças refletem uma variação no status socioeconômico. Por exemplo, se compararmos a saúde da população residente no interior do Estado de São Paulo com a saúde da população que vive em pequenas comunidades no interior da Amazônia, encontraremos grandes diferenças 41© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE relacionadas a estruturas de saneamento básico e estilos de vida. Outro exemplo refere-se às religiões que pregam um estilo de vida mais saudável, sem uso de álcool ou alimentos à base de carne animal, hábitos normalmente associados à melhor saúde. Há também a perspectiva de gênero, que se concentra no estudo de problemas de saúde específicos de cada gênero. Homens e mulheres diferem no risco que apresentam para uma variedade de transtornos, como o índice de doenças cardiovasculares que, historicamente, tem sido maior em pacientes do sexo masculino, embora essa realidade esteja se modificando. Outro exemplo é a depressão, que acomete mulheres em uma frequência muito maior que homens. todas essas perspectivas se sobrepõem e todas veem a saúde e a doença como produtos da interação de fatores. Elas diferem apenas nos fatores que enfatizam e se complementam (stRauB, 2005). Essas perspectivas se agrupam na perspectiva biopsicossocial, que engloba todas as questões tratadas anteriormente. a perspectiva biopsicossocial defende que variáveis biológicas, psicológicas e sociais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabilidade do indivíduo à doença. Dessa forma, a saúde e a doença devem ser explicadas em relação aos contextos biológico, psicológico e social. • O contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação genética e nosso sistema nervoso, imunológico e endócrino. A biologia e o comportamento interagem de forma constante. Por exemplo: alguns indivíduos são mais vulneráveis a doenças relacionadas ao estresse porque reagem com agressividade aos problemas enfrentados. Uma das tarefas da psicologia da saúde 42 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE é explicar como essa influência mútua entre biologia e comportamento ocorre. • O contexto psicológico: a psicologia da saúde preconiza que a saúde e a doença estão sujeitas às influências psicológicas. Por exemplo, um fator fundamental para determinar o quanto uma pessoa consegue lidar com uma experiência de vida estressante é a forma como o evento é avaliado e interpretado. Eventos avaliados como avassaladores, invasivos e fora do nosso controle nos custam mais do ponto de vista físico e psicológico do que os que são avaliados como desafios menores, temporários e superáveis. De fato, algumas evidências sugerem que, independentemente de um evento ser realmente experimentado ou simplesmente imaginado, a resposta do corpo ao estresse é, de modo aproximado, a mesma. Os psicólogos da saúde pensam que algumas pessoas podem ser cronicamente depressivas e mais vulneráveis a certos problemas de saúde porque revivem eventos difíceis muitas vezes em suas mentes, o que pode ser funcionalmente equivalente a passar repetidas vezes pelo evento real (STRAUB, 2005). • O pensamento, a percepção, a motivação, a emoção, a aprendizagem, a atenção e a memória têm implicações para a saúde. Os fatores psicológicos também desempenham um importante papel no tratamento de condições crônicas. As intervenções psicológicas ajudam os pacientes a administrar sua tensão, diminuindo, assim, as reações negativas ao tratamento. Aqueles pacientes mais tranquilos em geral são mais capazes e mais motivados para seguir as instruções de seus médicos. Também auxiliam os pacientes a administrar o estresse da vida cotidiana, que parece exercer um 43© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE efeito cumulativo sobre o sistema imunológico. Eventos negativos na vida, como a perda de um ente querido, o divórcio, a perda de emprego ou uma mudança, podem estar ligados à diminuição do funcionamento imunológico e à maior suscetibilidade a doenças (STRAUB, 2005). • O contexto social: a forma como cada pessoa se relaciona com a outra e com o ambiente também influencia em sua saúde. O gênero de cada um, por exemplo, implica determinado papel social que lhe dá um senso de ser mulher ou homem. Além disso, você é membro de determinada família, comunidade e nação, dessa forma, também tem certa identidade racial, cultural e étnica e vive dentro de uma classe socioeconômica específica. Cada um desses elementos do seu contexto social único influencia suas crenças e comportamentos – incluindo aqueles relacionados com a saúde (STRAUB, 2005). Em resumo, a perspectiva biopsicossocial enfatiza as influências mútuas entre os contextos biológicos, psicológicos e sociais, que atuam em conjunto na determinação da saúde, como exemplificamos na Tabela 2: Tabela 2 O modelo biopsicossocial de saúde e doença. Biológico Psicológico Social Vírus Bactéria Lesões Genética Comportamento Crenças Enfrentamento Estresse Gênero Estado Civil Emprego Classe Social Etnia 44 © PSICOLOGIA APLICADAÀ SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE É com esta concepção de saúde e de psicologia da saúde que daremos seguimento aos nossos estudos. A compreensão desses termos é imprescindível para avançarmos em direção ao nosso próximo tópico, no qual discutiremos as variáveis psicológicas e comportamentais que atuam na determinação da saúde. Este é o assunto da nossa próxima unidade. 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. PsiCologiA dA sAúde A psicologia da saúde foi desenvolvida a partir do conceito ampliado de saúde, com múltiplos determinantes. A evolução na forma de pensar saúde foi fundamental para o surgimento deste campo da psicologia. Contudo, foram os achados da psicologia um dos fatores que estimularam esta evolução no conceito de saúde. Dessa forma, devemos ter sempre em mente o conceito de ser biopsicossocial na determinação dos processos de saúde e doença. Os textos a seguir ajudarão você a ampliar o conhecimento sobre este tema. É muito importante que você acesse os links apresentados e consulte os materiais indicados. • GRILO, A.M.; PEDRO, H. Contributos da psicologia para as profissões da saúde. Disponível em: <http://www. scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/psd/v6n1/v6n1a05.pdf> Acesso em: 20 dez. 2013. 45© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE • DE MARCO, M. A. Do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial: um projeto de educação permanente. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/ v30n1/v30n1a10.pdf> Acesso em: 20 dez. 2013. • TEIXEIRA, J. A. C. Psicologia da saúde. Disponível em:<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/aps/ v22n3/v22n3a02.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. 1) Sobre a subjetividade, assinale a alternativa incorreta: a) Ela é construída a partir do contato com mundo social e cultural. b) É composta de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica. c) Ela é inata ao indivíduo, ou seja, acompanha-o desde seu nascimento. d) É o que constitui o nosso modo de ser. 2) Sobre o behaviorismo, está correto o que se afirma em: a) O comportamento não é entendido como uma ação isolada, mas sim como uma interação entre o organismo e o seu ambiente. b) O comportamento respondente é uma resposta emitida pelo organismo que produz uma consequência no ambiente, e é afetado (controlado) por essas consequências. c) O comportamento operante é caracterizado por respostas do organismo que são eliciadas (produzidas) por estímulos do ambiente. d) Essa teoria se refere à existência de três sistemas psíquicos: o incons- ciente, o pré-consciente e o consciente. 46 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE 3) São fatores que contribuíram para o surgimento da psicologia da saúde, exceto: a) Surgimento de transtornos relacionados ao estilo de vida. b) Modificação no modelo biomédico. c) A escolha da psicanálise como abordagem teórica prevalente na área da Saúde. d) Aumento da expectativa de vida. 4) Em relação à definição de saúde, assinale a alternativa incorreta: a) Saúde social envolve ter habilidades interpessoais, relacionamentos significativos com amigos e família e apoio social em épocas de crise. b) Saúde física implica ter um corpo saudável e livre de doenças. c) Considera a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. d) Concentra sua definição na ausência de doenças ou condições negativas. 5) Sobre as perspectivas em saúde da família, assinale a alternativa correta: a) a perspectiva de gênero que se concentra em investigar os aspectos da saúde e da doença relacionados com a idade e ciclos de vida. a) Homens e mulheres não devem ser diferentes no risco que apresen- tam para transtornos e doenças. b) A perspectiva sociocultural defende que variáveis biológicas, psicológi- cas e sociais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabi- lidade do indivíduo à doença. c) Todas as perspectivas se sobrepõem e todas veem a saúde e a doença como produtos da interação de fatores. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas: 1) C 2) A 47© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE 3) C 4) D 5) D 5. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a ciência da psicologia e algumas abordagens teóricas. Além disso, apresentamos a definição de saúde como determinada por variáveis biopsicossociais. Essa concepção de saúde é a base da Psicologia Aplicada à Saúde, que busca compreender os aspectos comportamentais envolvidos na preservação e promoção da saúde. Na próxima unidade, descreveremos, de forma mais detalhada, as variáveis psicológicas e comportamentais que interferem na saúde. Até lá! 6. E-REFERÊnCias AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION – APA. Public description of clinical health psychology. Disponível em: <www.apa.org/ed/graduate/specialize/health.aspx>. Acesso em: 12 jan. 2014. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAúDE – OMS. Constituição da Organização Mundial da Saúde. Diponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS- Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao- mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 27 jul. 2015. 48 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE 7. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. FIGUEIREDO, L. C.; SANTI, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2004. MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. Et al. Psicologia da Saúde. Intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias Cognitivo- Comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007. STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.
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