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ESPIRITO SANTO 
NOÇÕES BÁSICAS EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
1 
 
O USO DE DROGAS 
 
Fonte: omicrono.elespanol.com 
É bastante sabido que o uso de substâncias no organismo do ser humano 
remonta a épocas distantes. 
Muitos são os registros de experiências vividas por nossos antepassados. 
Antropólogos acreditam que a curiosidade pelas drogas começou na Pré-História, por 
acaso. Nossos ancestrais perceberam que algumas plantas e fungos induziam a 
estados alterados de percepção e gostaram do que sentiram. Essas plantas passaram 
a ser veneradas. Os cretenses tinham uma deusa da papoula, a flor que fornece 
matéria-prima para o ópio; os astecas idolatravam cogumelos alucinógenos (VALLE, 
1988). 
Na época de Galeno, intelectual grego que viveu entre 135 e 201 a.C., surgiram 
as teriagas, remédios de formulação complexa utilizados no tratamento de alguns 
males, cujo mecanismo de ação deve ser atribuído ao ópio. Nicandro, conterrâneo e 
contemporâneo do primeiro, considerado uma autoridade da toxicologia da época, 
assim descreveu o efeito desta substância: 
“Aquele que ingere uma bebida contendo o suco da papoula cai desde logo 
num sono profundo, os membros se esfriam, os olhos se tornam fixos e todo o corpo 
fica coberto de suor abundante; a face empalidece, os lábios se intumescem, os 
 
2 
 
ligamentos do maxilar inferior se relaxam, as unhas tornam-se lívidas e os olhos 
encovados pressagiam a morte” (VALLE, 1988). 
Na Idade Média, o conhecimento dos efeitos das drogas sobre o sistema 
nervoso central foi utilizado por feiticeiros, mágicos e exploradores da fé pública, com 
suas poções para o sono, esquecimento, amor e outras. 
O uso da maconha no Brasil tem um registro interessante: desde a chegada 
dos portugueses em 1500 existem relatos de viajantes que faziam uso dessa 
substância e exaltavam suas qualidades como intensificador de emoções pré-
existentes. Com a formação de duas classes sociais polarizadas e distintas 
culturalmente, uma aristocrática e outra formada por escravos e pobres, este uso 
parece ter se mantido em ambas nos séculos subsequentes, até o início do século 
XX, quando começa a haver uma tentativa de normatização desta substância em 
termos legais, influenciada por mudanças que ocorriam neste sentido tanto na Europa 
quanto nos Estados Unidos. É interessante notar que no período anterior à abolição 
da escravatura no país, o uso de maconha parecia ser de conhecimento dos grandes 
latifundiários e este uso não era por eles reprimido, pois havia uma percepção de que 
diminuíam sensivelmente as chances de rebelião entre os escravos (YAMADA, 1999). 
O termo “droga” já traz em si uma conotação negativa. Popularmente, “droga” 
tem como significado algo ruim; é uma interjeição ligada a sentimentos de raiva, 
pessimismo. 
Em uma linguagem coloquial, droga tem um significado de algo malévolo, sem 
qualidade. Já em uma linguagem médica, droga é sinônimo de medicamento. 
Conceituar “droga” tecnicamente apresenta dificuldades, pois o significado 
pode variar de país para país. Roberto de Lucia (apud Valle, 1988) indica como origem 
do termo a palavra droog, do holandês, utilizada para designar “toda substância de 
composição química definida ou não, de constituição molecular ou complexa que pode 
ou não ter propriedades terapêuticas”. 
É o que ocorre nos países de língua inglesa, por exemplo, onde drug é a 
designação genérica para os medicamentos, ou seja, a substância ou produto 
empregado para curar as doenças, aliviar a dor ou estabelecer diagnóstico. 
Não podemos confundir os termos fármaco, tóxico, entorpecente e narcótico. 
Fármaco, segundo Murad, sob o ponto de vista médico ou farmacológico, pode-se 
 
3 
 
considerar tecnicamente como a designação do princípio ativo, ou seja, a matéria-
prima com que se faz o medicamento (MURAD, 1995). 
Para Brito Filho (1988), tóxico é a substância com capacidade de produzir efeito 
sobre o organismo em pequeníssima quantidade. 
Murad (1995), utilizando definição mais simples, diz que tóxico é tudo que está 
ligado a veneno. Já o termo entorpecente, muito utilizado por nossos legisladores, 
segundo definição de Di Mattei, citado por Murad (1995, p. 35), é uma categoria de 
substâncias, “venenos que agem eletivamente sobre o córtex cerebral, suscetíveis de 
promover agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes sem 
determinar envenenamento agudo ou morte, mas capazes de gerar estado de 
necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios de abstinência, alterações 
somáticas e psíquicas profundas e progressivas”. Já narcótico é o termo geral para 
substâncias que produzem insensibilidade, suprimem a dor e induzem sono profundo, 
podendo causar dependência e determinar perturbações graves da personalidade. Os 
conceitos apresentados indicam apenas categorias específicas de substâncias. 
No Brasil, o termo droga é muito utilizado para designar as substâncias que são 
consideradas ilícitas pelo ordenamento jurídico. No passado, a exemplo dos anglo-
saxões, já se utilizou também o termo no sentido de medicamento, ou seja, 
substâncias que causam bem ao organismo, denominando-se os estabelecimentos 
que as comercializam de “drogarias”. 
Modernamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), segmento da 
Organização das Nações Unidas, recomendou que fosse adotada a expressão 
“drogas que causam dependência” – dependence producting drugs – para designar 
tais substâncias (YAMADA, 1999). 
Quando nos referimos às drogas, entendemos que existem não somente 
drogas ilícitas como, por exemplo, a maconha, o haxixe, a cocaína, o crack, o ecstasy, 
o ópio, a heroína, o LSD-25, etc., bem como drogas lícitas como por exemplo a cafeína 
(café, chocolate, chá), a nicotina (tabaco), o álcool, os fármacos (princípio ativo dos 
medicamentos vendidos nas farmácias e drogarias), etc. A dependência, por sua vez, 
se dá como um processo que pode se apresentar em duas variantes, a dependência 
física/orgânica e a dependência psíquica/emocional. 
 
4 
 
Desde os primórdios da história da humanidade vamos encontrar referências 
às drogas. Durante muito tempo o uso dessas substâncias teve um valor, uma função 
e objetivos específicos e claros, diferentes dos que possuem atualmente. Muitas 
vezes, as drogas foram usadas para fins medicinais, em outras fazem parte de rituais 
sagrados ou, ainda, estiveram inseridas em outros aspectos da cultura de um povo. 
Nas sociedades modernas, que vieram a se tornar globalizadas, o uso das drogas 
mudou completamente. O consumo de drogas é um fato, não mais (ou pouco) 
vinculado a um uso medicinal ou a ritos religiosos, mas a uma procura de prazer que 
corre o risco de se tornar desenfreada. Tais efeitos viriam satisfazer a busca da 
felicidade e da transcendência, como também amenizar a angústia existencial, 
características inerentes ao ser humano, lacunas que impulsionam o homem na 
procura incessante das diversas dimensões da existência. A tentativa de 
preenchimento desses vazios justifica, por si só, o uso de drogas pelo homem, no 
intuito de esquecer problemas existenciais (ansiolíticos, anfetamínicos, solventes, 
etc.), na pretensão de entrar em contato com forças sobrenaturais, preenchendo uma 
falta decorrente das limitações humanas (no caso dos chás alucinógenos) e na busca 
de prazer com alterações do estado de consciência (álcool, ecstasy, LSD e outras). 
Dentro desta perspectiva, podemos notar nossa vulnerabilidade frente a 
situações que envolvam o uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Neste sentido, 
falar de drogas não é simplesmente informar sobre seus efeitos,mas sim mostrar o 
quanto estamos suscetíveis a elas, pelo simples fato de sermos seres humanos e de 
termos um corpo que geralmente não sabemos bem como funciona. 
Sendo assim, ao longo desse curso falaremos também em prevenção ao uso 
de drogas, o que significa conversar sobre a natureza humana e a sua interação com 
o meio. Se pensarmos em adolescentes e outras populações de risco, como por 
exemplo, aqueles que estão nos presídios, nosso cuidado aumenta, primeiro porque 
adolescência, é um dos períodos mais intensos da vida, pelos desafios, descobertas 
e oportunidades que apresenta e segundo, porque a população carcerária vive em 
situações não muito satisfatórias. 
 
5 
 
Definições 
 
Fonte: psiquiatrarj.com.br 
O termo “droga” teve sua origem da palavra “droog”, que significava “folha 
seca”, isto porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de 
vegetais. Atualmente, a medicina define “droga” como sendo qualquer substância que 
é capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em transformações, 
variações e modificações fisiológicas ou de comportamento. 
As drogas psicotrópicas e psicoativas, são substancias químicas, naturais ou 
mesmo sintética, que atuam sobre o nosso sistema nervoso central, provocando 
alterações psíquicas, podendo causar sérios danos psicológicos ao seu consumidor, 
além de dependência. 
As drogas destroem o caráter, comprometem o sentido realístico da vida e 
subvertem o senso de responsabilidade, fragilizando a família, afetando a sociedade 
e as organizações, afetando os laços comunitários, a própria força do trabalho 
nacional e provocando até, alguma alteração de personalidade ao longo prazo. 
Percebe-se então a necessidade de uma efetiva prevenção. 
 
6 
 
Todas as drogas têm em comum a capacidade de alterar o estado mental do 
usuário, seja proporcionando uma sensação de prazer e conforto ou reduzindo a 
timidez e aumentando a sociabilidade de quem a usa. Em geral, todas também 
causam dependência química e psicológica, transformando o usuário ocasional em 
viciado, que acaba dependendo do consumo da droga para manter suas atividades 
normais (MAMBRINI, 2002). 
A OMS (1981) define droga como qualquer entidade química ou mistura de 
entidades que alteram a função biológica e possivelmente a sua estrutura. Em outras 
palavras, seria qualquer substância capaz de modificar a função de organismos vivos, 
resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. 
Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no 
organismo modifica suas funções. As drogas podem ser naturais quando obtidas 
através de determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Como exemplo 
tem-se a cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (na papoula) e o 
THC tetrahidrocanabiol (da cannabis). As drogas sintéticas são fabricadas em 
laboratório, exigindo para isso técnicas especiais (OMS, 1981). 
O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas ao senso comum é uma 
substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, 
as sensações, o humor e o comportamento. 
Do ponto de vista jurídico, segundo prescreve o parágrafo único do art. 1.º da 
Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas) “Para fins desta Lei, 
consideram-se como drogas as substâncias ou produtos capazes de causar 
dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas 
periodicamente pelo Poder Executivo da União”. Isto significa dizer que as normas 
penais que tratam do usuário, do dependente e do traficante são consideradas normas 
penais em branco. Atualmente, no Brasil, são consideradas drogas todos os produtos 
e substâncias listados na Portaria n.º SVS/MS 344/98 (BRASIL, 2006). 
Na CID.10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde) a Dependência é definida como: 
“Um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se 
desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente 
associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, 
 
7 
 
à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma maior 
prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a 
um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física. 
A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa 
específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma categoria de 
substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais 
vasto de substâncias farmacologicamente diferentes” (BALLONE, 2001). 
A dependência química não é uma doença aguda. Trata-se de um distúrbio 
crônico e recorrente. E essa recorrência é tão contundente, que raramente ocorre 
abstinência pelo resto da vida depois de uma única tentativa de tratamento. As 
recaídas da drogadição são a norma. Portanto, a adição deve ser abordada mais como 
uma doença crônica, como se fosse diabetes ou hipertensão arterial. 
Considerando o fato da dependência química ser um distúrbio recorrente e 
crônico, alguns autores mais realistas consideram como um bom resultado 
terapêutico, tal como se deseja no tratamento da hipertensão arterial, asma brônquica, 
reumatismo, diabetes, etc., uma redução significativa do consumo da droga, e longos 
períodos de abstinência, supondo a ocorrência de recaídas ocasionalmente. Muitos 
acham que este seria um padrão razoável de sucesso terapêutico, da mesma forma 
que em outras doenças crônicas, ou seja, o controle da doença, mas não a sua cura 
definitiva. 
Vamos chamar de “psicoativas” as drogas psicotrópicas, portanto, com efeito 
sobre o Sistema Nervoso Central. Convencionalmente, vamos chamar ainda de 
“psicoativas” as drogas de caráter ilícito, cujo efeito por ela produzido é de alguma 
forma agradável ao usuário. Pois bem. Quando se usa uma droga psicoativa, o efeito 
proporcionado por ela adquire para a pessoa um caráter de recompensa prazerosa. 
A maioria das definições de adição a drogas ou dependência de substâncias 
inclui descrições do tipo “indivíduo completamente dominado pelo uso de uma droga 
(uso compulsivo)” e vários sintomas ou critérios que refletem a perda de controle sobre 
o consumo de drogas. 
As pesquisas, hoje em dia, caminham através da Psiquiatria e da Psicologia 
Experimental, juntamente com a Neurobiologia. Todas essas áreas se esforçam para 
identificar os elementos emocionais e biológicos que contribuem para alterar o 
 
8 
 
equilíbrio do prazer (homeostase hedonista), alterações esta que dá origem àquilo que 
se conhece como drogadição (droga-adição). A palavra “adição”, em português, é um 
neologismo técnico que quer dizer, de fato, "drogadição". 
O tema “drogas” é muito complexo, multidimensional e tem atraído a atenção 
da maioria dos países. Nas últimas duas décadas, importantes avanços nas ciências 
do comportamento e nas neurociências vieram contribuir para um melhor 
entendimento na questão do abuso de drogas e da drogadição (droga-adição). 
A neurociência tem identificando circuitos neuronais envolvidos em todos tipos 
de abusos conhecidos, assinalando regiões cerebrais, neuroreceptores, 
neurotransmissores e as vias neurológicas comuns afetadas pelas drogas. Também 
têm sido identificados os principais receptores das drogas suscetíveis de abuso, assim 
como todas as ligações naturais da maior parte desses receptores. 
Neurologicamente a drogadição deve ser considerada uma doença. Ela está 
ligada a alterações na estrutura e funções cerebrais, e isso torna a drogadição 
fundamentalmente umadoença cerebral. Inicialmente, o uso de drogas é um 
comportamento voluntário, mas, com o uso prolongado um “interruptor” no cérebro 
parece ligar-se, e quando o “interruptor” é ligado, o indivíduo entra em estado de 
dependência química caracterizado pela busca e consumo compulsivo da droga. 
Em tópico mais adiante falaremos em detalhes sobre a drogadição. 
 
9 
 
EPIDEMIOLOGIA 
 
Fonte: psiquiatrarj.com.br 
Segundo os dados publicados no Relatório Mundial de Drogas de 2007 da 
Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, o aumento do uso de cocaína, de 
0,4% (em 2001) para 0,7% (em 2005), é considerado um dado importante, assim como 
o aumento do uso de maconha. A maconha foi a droga ilícita que apresentou o maior 
incremento de uso nos últimos anos, tendo sua porcentagem de uso aumentada de 
1%, em 2001, para 2,6% em 2005. A ONU considera que esse aumento é um reflexo 
da facilidade de obtenção da droga no país. As anfetaminas também demonstraram 
aumento de uso entre a população brasileira, apresentando índices de prevalência 
semelhantes aos da América do Norte e da África (WAGNER; ANDRADE, 2008). 
Em 2007, a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) publicou uma cartilha 
avaliando o consumo de álcool entre a população brasileira. Nesse estudo, foi 
encontrado que o uso regular de bebidas alcoólicas pelos adolescentes começa aos 
14,8 anos e pelos adultos jovens, aos 17,3 anos. Esses números foram obtidos após 
desconsiderar jovens adultos que haviam iniciado o consumo após os 18 anos, ou 
seja, apontando uma redução nas idades médias dos jovens adultos. Pela 
vulnerabilidade dessa população, é fundamental monitorar de perto esse fenômeno. 
 
10 
 
Segundo a SENAD, estudos futuros poderão mostrar se vai ser possível 
reverter essa tendência com a implantação de eventuais políticas públicas em relação 
ao álcool. Vale a pena ressaltar que não houve diferenças entre os gêneros, quanto à 
idade de início de uso e quanto ao padrão de consumo nos adolescentes estudados 
(SENAD, 2007). 
O consumo de álcool e outras drogas está inserido no cotidiano de grande parte 
da população mundial. Tal realidade está associada a uma série de outras situações 
de risco à saúde e vem sendo observada em diferentes países, em todos os 
continentes. 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 10% das 
populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente 
substâncias psicoativas, independentemente da idade, sexo, nível de instrução e 
poder aquisitivo. Salvo variações sem repercussão epidemiológica significativa, essa 
realidade encontra equivalência em território brasileiro (MS/BRASIL, 2003). 
Um estudo capitaneado pela Universidade de Harvard indica que, entre as dez 
doenças mais incapacitantes, cinco são de natureza psiquiátrica: depressão, 
transtorno afetivo-bipolar, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno obsessivo-
compulsivo (MS/BRASIL, 2003). 
Sobre o uso de substâncias psicoativas, o estudo de Harvard sobre a Carga 
Global da Doença trouxe a estimativa de que o álcool seria responsável por 1,5% de 
todas as mortes no mundo, bem como 2,5% do total de anos vividos com alguma 
incapacidade. 
No Brasil, o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, 
realizado em 2005 pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas 
Psicotrópicas), apontou que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idades entre 12 e 
65 anos, preenchem critérios para a dependência do álcool, e cerca de 75% já 
beberam pelo menos uma vez na vida (CARLINI et al., 2007). 
Segundo os dados da pesquisa, o uso na vida de álcool, nas 108 maiores 
cidades do país, foi de 74,6%, porcentagem inferior a de outros países (Chile com 
86,5% e Estados Unidos com 82,4%). Em todas as regiões, observaram-se mais 
dependentes de álcool do sexo masculino. 
 
11 
 
O uso na vida para qualquer droga (exceto tabaco e álcool) foi de 22,8%. Essa 
porcentagem é, por exemplo, próxima ao Chile (23,4%) e quase metade dos Estados 
Unidos (45,8%). 
O uso de solventes foi de 6,1%, prevalência superior à verificada na Colômbia 
(1,4%) e Espanha (4,0%). Em contrapartida, a prevalência do uso na vida de solventes 
nos Estados Unidos foi de 9,5%. 
O uso na vida de maconha, nas 108 maiores cidades, foi de 8,8%, resultado 
este próximo aos da Grécia (8,9%) e da Polônia (7,7%), porém abaixo dos Estados 
Unidos (40,2%) e do Reino Unido (30,8%). 
A prevalência de uso na vida de cocaína nas 108 maiores cidades do país foi 
de 2,9%, sendo próxima à da Alemanha (3,2%), porém bem inferior a dos Estados 
Unidos (14,2%) e do Chile (5,3%). O uso na vida de crack foi de 1,5%, cerca de duas 
vezes menor que no estudo norte-americano. 
Os dados também indicam o consumo de álcool em faixas etárias cada vez 
mais precoces e sugerem a necessidade de revisão das medidas de controle, 
prevenção e tratamento. 
Outros dados epidemiológicos relevantes são: 
20% da população usam substâncias psicoativas no decorrer da vida; 
15% no mínimo são portadores da doença da dependência química; 
10% a 12% desses usam mais de uma droga concomitante; 
A incidência de DQ é de 2 a 6 vezes maior no homem; 
DQ evolui do álcool para drogas mais pesadas; 
150 mil óbitos/ano por alcoolismo nos USA; 
15% dos DQ cometem suicídio (20 vezes maior que na população). 
A Associação Norte-americana de Psiquiatria refere, no DSM IV, uma 
prevalência de 3% para os Transtornos de Personalidade em homens e de 1% em 
mulheres da população geral. Entretanto, essas porcentagens aumentam em 
populações clínicas, em geral até 30%, podendo chegar em determinados subgrupos 
populacionais como, por exemplo, entre os dependentes crônicos de substância, até 
92%. As diferenças na incidência dos Transtornos de Personalidade entre pacientes 
dependentes químicos despertaram interesses em se relacionar essas duas 
condições. 
 
12 
 
AS PRINCIPAIS DROGAS 
As drogas psicotrópicas são substâncias psicoativas que alteram o 
comportamento, o humor e a cognição, possuindo propriedade reforçadora, sendo, 
portanto, passíveis de autoadministração (OMS, 1981), consequentemente podem 
levar ao abuso e à dependência. 
Reforço ou estímulo reforçador é a capacidade que a droga tem de criar e 
manter hábitos e comportamentos relacionados à droga. Essa característica é 
considerada fundamental para que a droga seja capaz de induzir dependência. O 
reforço pode ser positivo ou negativo. Reforço positivo é a capacidade da droga de 
produzir efeitos agradáveis e sensações prazerosas. Reforço negativo é a 
capacidade da droga de diminuir sensações desagradáveis. Em muitos casos é difícil 
separar qual o tipo de reforço predominante em determinada situação (ALMEIDA, 
2006). Por exemplo, o etanol apresenta reforço positivo pela sua capacidade de 
produzir euforia e reforço negativo pelo seu efeito ansiolítico e por evitar a síndrome 
de abstinência. 
A propriedade reforçadora da droga psicotrópica é a característica comum de 
todas as drogas de abuso e será discutida mais detalhadamente no tópico de 
“Neurobiologia da adição”. 
As drogas psicotrópicas podem ser classificadas de várias maneiras, levando 
em conta sua estrutura química, seus efeitos farmacológicos ou sua origem natural ou 
sintética. A classificação mais utilizada é a proposta por CHALOUT em 1971 para os 
psicoativos, que considera o tipo de alteração principal que a droga produz no sistema 
nervoso central: estimulante, depressor ou alucinógeno. O quadro a seguir mostra 
esta classificação, citando apenas os psicotrópicos. 
 
 
Classificação de Chalout (1971) 
Depressores ou Psicolépticos: Álcool, hipnóticos, inalantes, opióides, 
ansiolíticos benzodiazepínicos.13 
 
Estimulantes ou Psicoanalépticos: Cocaína, anfetaminas, nicotina, xantinas, 
outros. 
Perturbadores ou Psicodislépticos (Alucinógenos): 
Naturais: maconha, mesclalina, psilocibina, caapi +chacrona (Santo Daime) e 
outros. 
Sintéticos: LSD, anticolinérgicos, ectasy, outros. 
Também podemos citar as principais drogas pelas classes mais conhecidas, 
inclusive referenciando seus nomes populares ou “de rua”. Normalmente os 
profissionais de saúde colocam os nomes dessas classes de drogas em um cartão 
plastificado para que os pacientes possam ler e se familiarizar com seus nomes. Esse 
cartão é apresentado a seguir. 
Nomes populares ou comerciais das drogas 
Produtos do tabaco (cigarro, charuto, cachimbo, fumo de corda); 
Bebidas alcoólicas (cerveja, vinho, champanhe, licor, pinga uísque, vodca, 
vermutes, caninha, rum tequila, gim); 
Maconha (baseado, erva, liamba, diamba, birra, fuminho, fumo, mato, bagulho, 
pango, manga-rosa, massa, haxixe, skank, etc); 
Cocaína, crack (coca, pó, branquinha, nuvem, farinha, neve, pedra, caximbo, 
brilho); 
Estimulantes como anfetaminas (bolinhas, rebites, bifetamina, moderine, 
MDMA); 
Inalantes (solventes, cola de sapateiro, tinta, esmalte, corretivo, verniz, tiner, 
clorofórmio, tolueno, gasolina, éter, lança perfume, cheirinho da loló); 
Hipnóticos, sedativos (ansiolíticos, tranquilizantes, barbitúricos, fenobarbital, 
pentobarbital, benzodiazepínicos, diazepam); 
Alucinógenos (LSD, chá-de-lírio, ácido, passaporte, mescalina, peiote, cacto); 
Opiáceos (morfina, codeína, ópio, heroína, elixir, metadona); 
Outras - especificar. 
 
14 
 
PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS 
Disponível em: http://www.vidasemdrogas.org/prevencao.html 
Prevenção: Prevenir quer dizer: "preparar; chegar antes de; evitar (um dano ou 
um mal); impedir que algo se realize". 
A prevenção em saúde indica uma ação antecipada, baseada no conhecimento 
que temos das causas de uma doença. Ela tem por objetivo diminuir a chance do 
problema aparecer ou, se ele já existe, evitar que piore. 
As mais sérias pesquisas sobre a questão nos mostram um aumento do uso de 
drogas, mas principalmente, mostram-nos a necessidade de planejarmos ações 
preventivas adequadas ao grupo que desejarmos atingir. Prevenir não é banir a 
possibilidade do uso de drogas. Prevenir é considerar uma série de fatores para 
favorecer que o indivíduo tenha condições de fazer escolhas. 
O uso de álcool e outras drogas depende de outros fatores além da vontade do 
indivíduo. Há fatores que aumentam as chances do indivíduo iniciar o uso de drogas, 
ou ainda, aumentam as chances de que esse uso inicial ou moderado se torne um 
uso que traga mais prejuízos para o usuário. 
O uso indevido de álcool e outras drogas é fruto de um conjunto de fatores. 
Nenhuma pessoa nasce predestinada a usar álcool e outras drogas ou se torna 
dependente apenas por influência de amigos ou pela grande oferta do tráfico. Nós 
seres humanos, buscamos elementos para aliviar dores e acirrar prazeres. Assim 
encontramos as drogas. Algumas vezes experimentamos, outras usamos sem nos 
comprometermos, e em outras, ainda abusamos. 
Este que usou, se não tiver dentro de um fator biológico importante, se tiver 
uma boa relação familiar e se não tiver uma boa sensação com este uso pode, ainda, 
fazer só um uso recreacional, mas se suas condições forem de risco ou prazerosas 
ele poderá vir a fazer o uso regular de drogas. 
Fatores relacionados ao uso de drogas: 
Fatores Pessoais 
De proteção 
Habilidades sociais 
 Cooperação 
 
15 
 
 Habilidades para resolver problemas 
 Vínculos positivos com pessoas, instituições e 
valores 
 Autonomia 
 Autoestima desenvolvida 
De Risco 
Insegurança 
 Insatisfação com a vida 
 Sintomas depressivos 
 Curiosidade 
 Busca de Prazer 
Fatores Familiares 
De proteção 
Pais que acompanham as atividades dos filhos 
 Estabelecimento de regras e de condutas 
claras 
 Envolvimento afetivo com a vida dos filhos. 
Respeito aos ritos familiares 
 estabelecendo da hierarquia familiar 
De Risco 
Pais que fazem uso abusivo de drogas 
 Pais que sofrem de doenças mentais 
 Pais excessivamente autoritários Pais muito 
exigentes 
 Famílias que mantêm uma cultura aditiva 
(forma de viver de uma família na qual as 
soluções são dadas como formas de impedir a 
reflexão) 
Fatores Escolares 
De 
proteção 
Bom desempenho escolar 
 Boa inserção e adaptação no ambiente escolar 
 Ligações fortes com a escola 
 Oportunidades de participação e de decisão 
 Vínculos afetivos com professores e colegas 
 
16 
 
 Realização pessoal 
 Possibilidade de desafios e expansão da 
mente 
 Descoberta de talentos pessoais 
 Prazer em aprender 
 Descoberta e construção de projeto de vida 
De Risco 
Baixo desempenho escolar 
 Falta de regras claras 
 Exclusão social 
 Falta de vínculos com a aprendizagem 
Fatores Sociais 
De 
proteção 
Respeito às leis sociais 
 Credibilidade da mídia 
 Oportunidades de trabalho e de lazer 
 Informações adequadas sobre as drogas e 
seus efeitos 
 Clima comunitário afetivo 
 Consciência comunitária e mobilização social 
 Amigos não usuários de drogas e não 
envolvidos em atividades ilícitas 
De Risco 
Violência 
 Envolvimento em atividades ilícitas. Amigos 
usuários de drogas 
 Pressão social para o consumo 
 Desvalorização das autoridades sociais 
 Descrença nas instituições 
 Falta de oportunidades de trabalho e de lazer 
Fatores Relacionados à Droga 
De proteção 
Informações contextualizadas sobre 
efeitos Regras e controle para consumo 
adequado 
 
17 
 
De Risco 
Disponibilidade para compra 
Propaganda que incentiva e mostra apenas o 
prazer que a droga causa 
 Prazer intenso que leva o indivíduo ao uso 
 Apologia de certos grupos da sociedade ao 
uso de drogas (principalmente da maconha). 
 
Devemos ter em mente que vários fatores contribuem para a decisão de alguém 
usar drogas, e não somente um fator isolado. Além disso, não é porque um indivíduo 
está envolvido em uma vida cheia de fatores de risco que, necessariamente, ele fará 
um uso problemático de álcool e outras drogas. 
A formação de cada um de nós se inicia na família. É função da família proteger 
seus filhos e favorecer neles o desenvolvimento de competências, por exemplo: para 
lidar com limites e frustrações. Na adolescência, a falta de proteção da família, 
especialmente para o adolescente transgressor, que não sabe lidar com frustrações, 
pode favorecer o uso indevido de substâncias psicoativas. 
Se o jovem vem de uma família desorganizada, mas encontra em sua vida um 
grupo comunitário que faz seu asseguramento, oferecendo-lhe alternativas de lazer e 
de desenvolvimento de habilidades pessoais, pode vir a ter sua formação garantida, 
aprendendo a criticar por si próprio e pelo grupo social. 
A presença de religião na vida do indivíduo é um fator protetor ao uso de 
drogas. Diversos estudos têm demonstrado que pessoas que praticam alguma religião 
ou que creem em algo superior, tem menores chances de se envolverem com drogas. 
Quanto mais religioso o indivíduo, menor seu interesse pelo consumo de substâncias 
psicoativas, incluindo as drogas ilícitas. 
Valores religiosos, em geral, preconizam o bom relacionamento com respeito e 
afeto e isto, quando realmente aplicado ao convívio familiar, seria fator de estabilidade 
doméstica, permitindo que os jovens cresçam dentro de um ambiente emocionalmente 
saudável. 
Sabemos que a motivação para o uso de drogas vem de vários fatores, e um 
fator de proteção isolado não é garantia que um indivíduonão abusará de 
substâncias psicoativas. 
 
18 
 
Para que se realize um trabalho de prevenção sério e cuidadoso, com um 
determinado grupo, é necessário: 
Identificar fatores de risco, para minimizá-los; 
Identificar fatores de proteção, para fortalecê-los; 
Tratar o grupo como específico, para identificar os fatores acima. 
CRONOLOGIA DO USO DE DROGAS 
Com o surgimento da humanidade, surgiu também o uso de certas substâncias 
cuja função não é alimentar, mas dar um estado passageiro de euforia, bem-estar e 
prazer. Desde os tempos mais remotos, os homens reconheceram esta propriedade 
singular nas bebidas alcoólicas e em plantas usadas até hoje para o mesmo 
propósito. 
A Bíblia num dos seus primeiros registos diz que Noé, tendo saído da arca do 
dilúvio, plantou uma vinha e bebeu vinho até se embriagar, seria o vinho a primeira 
droga que a humanidade conheceu? Até porque Noé, desnudou-se, depois de beber 
o vinho, evidenciando assim o efeito desinibidor e entorpecedor do álcool. 
A medicina grega encontrou no ópio um remédio, desde o século X A.C. Foi 
proclamado o ópio como o produto mais universal eficaz para a cura das maleitas. 
As tábuas de argila feitas pelos Sumérios, achadas na Mesopotâmia, 
descrevem o cultivo da papoula e a preparação do ópio, cujas virtudes terapêuticas 
eram conhecidas na Pérsia e no Egito, cerca de 1550 A.C. 
Os Assírios, utilizavam o cânhamo (maconha) como parte da sua liturgia 
religiosa, para adorar seus deuses. Os romanos utilizavam igualmente o ópio para fins 
medicinais. E suas orgias e bacanais regados a muito vinho são evidências do uso do 
álcool para fins recreativos. São os alquimistas que utilizam nas suas pesquisas as 
plantas que fazem “voar”. No fim da dinastia Han, os Chineses possuem “o pó das 
cinco pedras, o pó que faz comer frio”. 
Esta droga é inteiramente mineral, composta de “leite”, de estalactite, de 
enxofre, de quartzo, de ametista e de ocre dissolvidos em álcool quente; absorve-se 
em pequenas doses e tem virtudes sedativas e euforizantes. 
 
19 
 
Logo após as primeiras gotas, ela põe “fogo no corpo” e era preciso estar frio 
para que os efeitos fossem compensatórios. Era indispensável andar para assimilar 
melhor: aquele que “comia o pó” perdia muito rápido a noção do tempo. 
O processo de degradação, ligado a um envelhecimento prematuro, era 
relativamente rápido: dez anos para um homem jovem e forte, muito menos para todos 
os outros. Uma vez iniciado este caminho, já não havia mais volta. Era um verdadeiro 
suicídio. 
Durante os séculos III e IV, o uso do “pó de cinco pedras”, associado à maconha 
e ao gás alquímico expandiu-se maciçamente. Esta primeira dependência em grande 
escala desenvolveu-se por ocasião de um “choque” de civilização; já não se apoiava 
em nenhum fundamento ritual e já não era justificada pela prática de qualquer religião. 
A coca foi conhecida há 600 A.C; as escavações arqueológicas permitiram 
descobrir múmias de índios, sepultados com folhas de coca, nos sarcófagos Maias. 
Os colonizadores, tudo fizeram para que perdessem o hábito de mascar as folhas de 
coca, mas deram-se conta de que essa habituação estimulava as capacidades 
laborais dos índios, que trabalhavam em condições deploráveis, passando a incentivar 
o cultivo e o consumo e adotaram também o seu uso. 
No México, as perseguições pelo Santo Oficio, não foram, durante a 
colonização espanhola suficientes para erradicar esse hábito. 
No início da idade Média, chega a informação sobre a “mirra”, servia como 
tonificante farmacêutico e com o intuito recreativo e medicinais. Os gregos e Romanos 
tomaram um preparado de vinho, cânhamo e mirra, “o vino resinato”. 
Ao longo da Historia, vários povos serviram-se do consumo de espécies 
botânicas enquanto instrumento condutor de uma maior aproximação com as 
divindades, utilizando-as em rituais religiosos ou em ritos de iniciação e passagem. A 
droga tem funcionado entre os Homens e o desconhecido, como uma ponte entre a 
vida real e o além. 
As descobertas Portuguesas e Espanholas, vieram dar a conhecer um mercado 
até então desconhecido. Foi o ópio que se destacou na rota comercial entre a Índia e 
Lisboa. Foi até decretado que se cultivasse o ópio para fins de lucro para o Império. 
No século VI o consumo de haxixe e ópio era considerado pelos aristocratas 
como um vício luxuoso e excêntrico reservado às elites. Quando nos dias de hoje a 
 
20 
 
comunidade internacional se vê confrontada com o problema da toxicodependência, 
verifica-se que este problema já surgiu há muitos séculos. O processo de 
desumanidade, empreendeu guerras para defender e impor o seu direito de exportar 
estupefacientes, ou seja, de vender com lucro, a destruição e a morte. 
Nos finais do século XIX, a cocaína é considerada a droga da moda entre 
artistas e intelectuais, substituindo o uso do haxixe e do ópio, sendo que a sua 
divulgação atingiu proporções enormes, nos EUA foi utilizada na Coca-Cola, na 
Europa com a sua adição foram comercializados vários produtos, como o “vinho 
Mariani” que era consumido pelo Papa Leão XIII. 
A partir dos anos 50 o uso de drogas dispara de uma forma brutal e gerou o 
susto, com o aparecimento do SIDA. O L.S.D. depois de utilizado como terapia a nível 
psiquiátrico, é adotado pelo submundo das drogas como um produto privilegiado e 
popularizado sobretudo pela cultura “Hippy”. Nos anos 60 viveram-se grandes 
iniciativas massificadas tendo a droga como objetivo comum, tais como: a marcha 
sobre o Pentágono e o trips festival em São Francisco no ano de 1967; A concentração 
de Chicago em 1968: E o mítico Festival Woodstock que reuniu mais de quinhentos 
mil espectadores e que tinha como lema: “SEX, DRUGS & ROCK´N`ROLL”. 
A partir dos anos 70 assistiu-se ao incremento do consumo de drogas, com 
preferência pelas drogas duras como a Cocaína e pela Heroína, por esta altura 
começa também a produção de drogas sintéticas. Enquanto isto acontece alargam-se 
as faixas etárias que consomem, incluindo crianças e adolescentes. 
A droga saiu dos bairros dos intelectuais e artistas e invadiu cidades e vilas, 
áreas mais pobres e socialmente mais desfavorecidas. A sociedade contemporânea 
é altamente competitiva e há quem não olhe os meios para atingir os fins que 
pretende. A primazia do prazer, o poder material, tem sobreposto aos valores 
culturais, religiosos, e a outros valores sociais, valores do ser humano. 
A forma como o jovem se sente na vida face aos seus desejos e inquietações, 
em face de autoestima, face aos colegas, face à sua família, pode ser o regulador da 
disponibilidade para esta atitude da moda: o consumo. 
O êxtase tem sido utilizado principalmente entre jovens e adultos, com boa 
formação escolar, inseridos no mercado de trabalho, pertencentes a classes sociais 
 
21 
 
privilegiadas e sendo poli usuários de drogas. Tendo disseminado seu uso em clubes 
e haves. 
Já o crack feito a partir da cocaína, é a droga conhecida com o efeito mais 
devastador na atualidade. Chega ao sistema nervoso central em 15 segundos, devido 
ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito dura de 3 a 10 
minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, após o que produz 
muita depressão, o que leva o usuário a usar novamente para compensar o mal-estar, 
provocando intensa dependência. Não raro, o usuário tem alucinações, paranóia 
(ilusões de perseguição). 
O uso do crack e sua potente dependência psíquica frequentemente leva o 
usuário à prática de delitos, para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e de 
objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em casa. Muitos 
dependentesacabam vendendo tudo o que têm a disposição, ficando somente com a 
roupa do corpo. Se for mulher, não terá o mínimo escrúpulo em se prostituir para 
sustentar o vício. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho 
ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços 
para consegui-la. 
 
 
 
Fonte: blog.iobconcursos.com 
 
22 
 
Embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o uso do crack acaba sendo 
mais dispendioso: o efeito da pedra de crack é mais intenso, mas passa mais 
depressa, o que leva ao uso compulsivo de várias pedras por dia. 
NEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO 
A progressão do uso inicial à adição é influenciada por muitos fatores. Entre 
eles: 
 A droga em si; 
 Influências de outras pessoas e ambientais, e, 
 As características do usuário como sua personalidade, suas enzimas 
metabolizadoras ou sua predisposição geneticamente adquirida. 
A interação entre esses fatores é complexa e determina porque alguns 
indivíduos apresentam comportamentos aditivos e outros não. O uso inicial da droga 
pode ser voluntário, buscando o prazer e as suas propriedades reforçadoras, mas 
para a pessoa que apresenta adição, a escolha pelo uso da droga não é mais 
voluntária. Na adição, ocorrem neuroadaptações cerebrais semelhantes às que 
ocorrem no aprendizado de uma tarefa, e o indivíduo procura a droga mesmo na 
evidência de consequências pessoais negativas e graves (CHOU; NARASIMNHAN, 
2005 apud MPP, 2008). 
No entanto, os mecanismos neurobiológicos que determinam essa transição do 
uso controlado para o descontrolado ainda não estão totalmente esclarecidos. As 
recaídas no uso das drogas é o fator clinico mais difícil de ser controlado no tratamento 
da adição. Após longo período de abstinência o craving (compulsão pela droga) pela 
droga ou a recaída pode ser iniciado pela presença da droga em si, por pistas 
ambientais que estejam associadas à droga ou pelo estresse (SHAHAN; HOPE, 2005 
apud MPP, 2008). 
As drogas de abuso são substâncias com diversas estruturas químicas e 
mecanismos de ação. Na administração aguda cada droga se liga a um sítio de ação 
próprio e desencadeia uma série de comportamentos, sensações e efeitos fisiológicos 
e dependendo da quantidade usada pode causar um quadro de intoxicação típico da 
droga. Essas drogas são todas agudamente recompensadoras (o que leva a repetição 
 
23 
 
do seu uso) e com o uso crônico, alguns efeitos são compartilhados entre elas, como 
produzir sintomas emocionais negativos na sua suspensão, produzir um longo período 
de sensibilização e desenvolver um aprendizado associativo droga - pistas ambientais 
relacionadas à droga. Acredita-se que esses efeitos crônicos são adaptações que 
contribuem para o craving (desejo, compulsão) pela droga e para as recaídas, mesmo 
após longos períodos de abstinência. 
Existem várias evidências que todas as drogas de abuso convergem a um 
circuito comum no sistema límbico cerebral, o qual é responsável pelo controle das 
emoções. A principal via que vem sendo investigada é a via dopaminérgica que se 
inicia na área tegmental ventral e vai em direção ao núcleo accunbens. Essa via é a 
mais importante para os efeitos recompensadores agudos de todas as drogas de 
abuso, e várias pesquisas têm mostrado como, apesar de seus diferentes 
mecanismos de ação, todas as drogas convergem a essa via, tendo assim efeitos 
agudos reforçadores comuns. 
Drogas estimulantes (cocaína, anfetaminas) são capazes de ativar diretamente 
essa via, principalmente por inibirem a recaptação de dopamina e no caso das 
anfetaminas, também por aumentarem a liberação deste neurotransmissor. Os 
opióides agem como agonistas (são semelhantes a opióides endógenos, assim 
“enganam” a célula) em receptores de opióides endógenos (encefalinas, endorfinas e 
dinorfina) atuando diretamente em neurônios do núcleo accunbens que promovem 
liberação de dopamina. Esses agentes também atuam inibindo interneurônios 
gabaérgicos na área tegmental ventral, levando a maior atividade dessa região (MPP, 
2008). 
A nicotina parece ativar os neurônios da área tegmental ventral diretamente via 
receptores nicotínicos e indiretamente pela ativação de neurônios glutamatérgicos que 
inervam as células dopaminérgicas. O álcool pela potencialização de receptores 
gabaérgicos inibe a função deste neurotrasmissor em terminais de outros 
neurotransmissores, aumentando a atividade dos neurônios dopaminérgicos e 
também inibe terminais glutamatérgicos que inervam o núcleo accunbens. O álcool 
tem vários mecanismos propostos para sua ação, e é a droga que tem o mecanismo 
de ação mais complexo e menos conhecido. 
 
24 
 
O tetrahidrocanabinol, alcalóide presente na maconha, age em receptores para 
canabinóides endógenos (como a anandamida), atuando em terminais nervosos 
glutamatérgicos e gabaérgicos no núcleo accunbens e diretamente nos neurônios do 
núcleo accunbens. Fenciclidina, um potente alucinógeno sintético, inibe receptores 
glutamatérgicos pós-sinápticos no núcleo accunbens. Além disso, álcool e nicotina 
parecem ativar vias opióides e essas duas drogas e as outras parecem ativar o 
sistema canabinóide endógeno (NESTLER, 2005 apud MPP, 2008). 
Todas essas drogas causam uma liberação de dopamina cerca de 2 a 10 vezes 
maior do que reforçadores naturais e demoram mais para voltar ao normal. Em alguns 
casos, como quando as drogas são fumadas ou injetadas endovenosamente, essa 
inundação dopaminérgica ocorre quase imediatamente. 
Como a dopamina, além das sensações prazerosas, está relacionada com a 
motivação, cognição, movimento e emoção, a superestimulação destes sistemas 
ensina o indivíduo a repetir o comportamento de busca pela droga. O sistema nervoso 
central possui conexões que garantem a repetição de atividades de manutenção da 
vida associando essas atividades com prazer ou reforço (como comer, fazer sexo, 
etc.). Quando o circuito da motivação e recompensa é ativado, o cérebro nota que 
algo importante está acontecendo, que precisa ser lembrado e isso ensina a repeti-lo, 
muitas vezes sem pensar. Como as drogas de abuso ativam esse sistema, é como se 
elas estivessem “sequestrando” esse sistema e “enganando” os circuitos cerebrais 
informando que algo importante para a manutenção da vida está acontecendo. Alguns 
cientistas dizem que o abuso de drogas é algo que aprendemos a fazer muito bem 
(NIH, 2007 apud MPP, 2008). 
Essas ações agudas das drogas levam a alterações de membrana e 
citoplasmáticas que geralmente são locais e passageiras. Mas elas levam a ativação 
de fatores de transcrição da função gênica celular que possivelmente resultam em 
mudanças funcionais e morfológicas duradouras (KOOB; SANNA; BLOOM, 1998 
apud MPP, 2008). 
Um dos fatores de transcrição afetados pelo uso crônico de drogas é o CREB 
(cAMP-response-element-binding protein) o qual é expresso em todas as células do 
cérebro e é essencial em processos que se iniciam na membrana e levam à alteração 
na expressão gênica, ou seja, causa uma modificação no funcionamento das células 
 
25 
 
cerebrais alvos da droga, podendo assim alterar a função de neurônios 
individualmente ou de circuitos neuronais como um todo (CARLEZON; DUMAN; 
NESTLER, 2005 apud MPP, 2008). 
O uso crônico de cocaína, anfetaminas ou opióides induzem a atividade do 
CREB, enquanto álcool e nicotina diminuem sua atividade no núcleo accunbens, 
apesar de aumentá-la em outras regiões. O aumento de atividade do CREB no núcleo 
accunbens diminui as respostas comportamentais, enquanto a diminuição da sua 
atividade aumenta essas respostas. O CREB também é induzido por reforços naturais 
(como água com sacaroseadministrada a animais, e possivelmente na presença de 
outros reforçadores naturais) (CARLEZON; DUMAN; NESTLER, 2005 apud MPP, 
2008). 
Outro fator de transcrição que é afetado pelo uso crônico de drogas é o ÄFosB. 
É um fator de transcrição que tem um papel essencial em mudanças adaptativas de 
longa duração no cérebro, associadas a diversas condições como adição, 
aprendizado, doença de Parkinson, depressão e tratamento antidepressivo. Esse fator 
de transcrição induz a expressão de várias proteínas da família Fos e que aparecem 
em regiões específicas após a administração de várias drogas de abuso, mas 
retornam aos níveis basais dentro de algumas horas. Com a administração crônica 
dessas drogas, algumas destas proteínas se acumulam nessas mesmas regiões 
cerebrais (McCLUNG et al, 2004; NESTLER; BARROT; SELF, 2001 apud MPP, 
2008). 
Além da via mesolímbica, que envolve o núcleo accunbens, outras regiões que 
interagem com ela também se mostram importantes, como amígdala, hipocampo, 
hipotálamo e várias áreas do córtex cerebral. Muitas dessas regiões estão associadas 
aos sistemas de memória e aprendizado. A via mesolímbica, assim como as outras 
regiões citadas, também estão envolvidas com as “adições naturais” como compulsão 
por sexo e por jogo (NESTLER, 2005). 
Resumidamente, poderíamos dizer que as drogas têm uma ação aguda no 
sistema nervoso central da qual se destacam as suas propriedades reforçadoras e os 
efeitos observados na intoxicação aguda. Essas ações são passageiras e não 
determinam nem a adição nem a dependência, mas promovem a procura inicial pela 
droga. Com o uso crônico da droga, ocorrem neuroadaptações, que durante um 
 
26 
 
período, que varia de droga para droga, de indivíduo para indivíduo e de situação para 
situação, ainda são reversíveis e constituem o que se chama de fase de transição 
para a adição. É nesta fase que o processo de aprendizado do uso da droga se 
desenvolve e todos os estímulos relacionados ao uso estão sendo associados à 
presença da droga. É também nesta fase que começam a aparecer os problemas 
associados ao uso e que são importantes para motivar o usuário a diminuir ou parar 
com o uso, pois nesse período as neuroadaptações ainda são relativamente fáceis de 
serem revertidas, desde que o usuário esteja motivado a realizar a mudança do seu 
padrão de uso. 
Uma das alterações que ocorre nesta fase, é a adaptação do sistema de 
recompensa. Como a liberação de dopamina está aumentada e outros 
neurotransmissores também estão alterados pela presença da droga, as células 
cerebrais se ajustam a esta nova situação, o que se chama de adaptação 
homeostática. Essas alterações fazem com que a droga seja menos prazerosa, o 
indivíduo se sente mal, deprimido, sem vida e fica incapaz de apreciar coisas que 
anteriormente lhe davam prazer. Agora, ele necessita de maiores doses da droga para 
produzir a ativação dos sistemas de recompensa, fenômeno conhecido como 
tolerância. Somado a isso, o sistema nervoso central dele promoveu o aprendizado 
do uso da droga e estímulos associados a esse uso adquirem a capacidade de 
estimular o circuito de aprendizado fazendo com que a presença de algum destes 
estímulos desencadeie a ativação do circuito levando o indivíduo à urgência de usar 
a droga (fissura, craving). 
Esses estímulos associados podem ser internos e externos ao indivíduo. 
Estímulos internos que podem ser associados ao aprendizado de usar a droga são, 
por exemplo, certas emoções que o indivíduo experimentava durante ou previamente 
ao uso, como alegria, raiva, tristeza, depressão e outras. Estímulos externos 
associados ao uso podem ser de várias naturezas, como a presença constante de um 
amigo, alguma música ou som característico, luzes do ambiente de uso, local de uso 
da droga, entre outros, que dependem da “história” do indivíduo. Esses estímulos 
podem ser perceptíveis ao indivíduo ou não. Por exemplo, cita-se na literatura o caso 
de um jovem que estava sob tratamento de dependência de cocaína aspirada e que 
relatava que em certas ocasiões ele sentia uma forte fissura pela droga, mas não 
 
27 
 
conseguia identificar o estímulo desencadeante. Após algum tempo de terapia e de 
observação do ambiente ao qual estava sendo exposto no momento da fissura, ele 
percebeu que quando atravessava uma rua na faixa de segurança ocorria a fissura. A 
faixa de segurança é constituída de linhas brancas com fundo escuro, similarmente 
ao modo de uso da cocaína aspirada, no qual as “carreirinhas” são linhas brancas 
num fundo escuro. Para o cérebro esses estímulos eram generalizados e ativavam o 
circuito associado ao uso da droga, causando fissura, ou seja, necessidade urgente 
de consumir a droga. 
Com o uso continuado da droga, a perda de controle se instala, se 
caracterizando a fase da adição. Nesta fase consolidam-se as mudanças adaptativas 
da fase de transição, ocorre um redirecionamento de circuitos cerebrais e um aumento 
da expressão gênica de proteínas que conferem a vulnerabilidade para a recaída. 
Nesta fase o indivíduo necessita de ajuda de profissionais especializados e habilitados 
para poder enfrentar as suas situações do dia a dia. Nesta fase, normalmente o 
indivíduo já obteve muitas perdas: físicas, financeiras, sociais e psicológicas. Muitas 
vezes transtornos psiquiátricos se instalam, ou já existiam antes do uso da droga, 
complicando muito o quadro do paciente e sua recuperação. Reestruturar os seus 
circuitos cerebrais dentro deste panorama bio-psico-social, readquirir motivação para 
a mudança de comportamento e ainda atingir sucesso pessoal tornam-se tarefas 
“inatingíveis”, e o indivíduo recai. Alguns medicamentos auxiliam no tratamento, mas 
não existe “remédio” para essa fase, ainda. Somente a psicoterapia e o forte apoio da 
rede social e familiar garantem o sucesso. 
Muito se fala da baixa efetividade do tratamento de dependência/adição. 
Acredita-se que cerca de 40 a 60% dos pacientes dependentes/adictos que procuram 
tratamento se recuperam, quando se considera o primeiro ano de seguimento, mas 
estas taxas caem ainda mais quando se acompanha o paciente por um período mais 
longo. Pode-se dizer que são taxas baixas, mas quando se compara com outras taxas 
de recaída de outras doenças orgânicas crônicas, nota-se que o panorama é parecido. 
O jornal JAMA (Journal of the American Medical Association) publicou em 2000 uma 
comparação das taxas de recaída de alguns problemas crônicos médicos mais 
frequentes. Enquanto para drogadição as taxas de recaída estão entre 40 e 60%, para 
diabetes tipo 1 estão entre 30 e 50% e para hipertensão e asma entre 50 e 70%. Isto 
 
28 
 
demonstra que o tratamento da drogadição, um problema crônico e altamente 
estigmatizado, não é diferente de outros problemas crônicos que possuem baixa 
estigmatização e que possuem vários programas implantados nos sistemas de saúde 
do mundo todo (MPP, 2008). 
MECANISMO GERAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
 
Fonte: gazetainfo.com.br 
O renomado médico Dráuzio Varella em entrevista com o médico psiquiatra, 
PhD em dependência química, Ronaldo Laranjeiras nos presenteou com respostas a 
alguns questionamentos muito pertinentes que vale deixar para apreciação e 
esclarecimentos sobre os mecanismos de dependência. 
Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da 
droga? 
No cérebro existe uma área responsável pelo prazer. O prazer, que sentimos 
ao comer, fazer sexo ou ao expor o corpo ao calor do sol, é integrado numa área 
cerebral chamada sistema de recompensa. Esse sistema foi relevante para a 
sobrevivência da espécie. Quando os animais sentiam prazer na atividade sexual, a 
 
29 
 
tendênciaera repeti-la. Estar abrigado do frio não só dava prazer, mas também 
protegia a espécie. Desse modo, evolutivamente, criamos essa área de recompensa 
e é nela que a ação química de diversas drogas interfere. Apesar de cada uma possuir 
mecanismo de ação e efeitos diferentes, a proposta final é a mesma, não importa se 
tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou heroína. Por isso, só produzem 
dependência as drogas que de algum modo atuam nessa área. O LSD, por exemplo, 
embora tenha uma ação perturbadora no sistema nervoso central e altere a forma 
como a pessoa vê, ouve e sente, não dá prazer e, portanto, não cria dependência. 
Vários são os motivos que levam à dependência química, mas o final é sempre 
o mesmo. De alguma maneira, as drogas pervertem o sistema de recompensa. A 
pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo 
o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de 
cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal 
comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta 
para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam 
significado todas as outras fontes de prazer. 
A evolução criou, no cérebro, um centro de recompensa ligado diretamente à 
sobrevivência da espécie. As abelhas, quando pousam numa flor e encontram néctar, 
liberam um mediador chamado octopamina, neurotransmissor presente nas 
sensações de prazer. Esses mecanismos são bastante arcaicos? 
O sistema de prazer é muito primitivo. É importante para as abelhas e para os 
seres humanos também. A droga produz efeito tão intenso porque age nesses 
mecanismos biológicos bastante primitivos que representam uma armadilha 
poderosa. Na verdade, provoca-se um estímulo forte que está mexendo com milhares 
de anos de evolução, portanto, podemos dizer que a droga é um fenômeno 
psicossocial amplo, mas que acaba interferindo nesse mecanismo biológico primitivo. 
Muitos usuários garantem que a maconha é uma droga fácil de largar, que não 
causa dependência. Isso é verdade? 
Cada droga tem um perfil de dependência; a maconha não é muito diferente 
das demais. Atualmente ela está dez vezes mais forte do que era há 30 anos. Por 
isso, não é tão fácil afastar-se dela, principalmente se a pessoa começou a fumar na 
adolescência, quando ainda era um ser em formação. O acompanhamento de 
 
30 
 
usuários de maconha, no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere 
exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante 
alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar os baseados. 
No Carandiru, Dráuzio examinava rapazes com tuberculose que fumavam 
cigarros de nicotina, de maconha e crack. Explicava-lhes que eles não podiam fumar 
de jeito nenhum, porque seus pulmões estavam doentes, muito inflamados. Na 
semana seguinte, eles lhe informam que conseguiram suspender o crack e a 
maconha, mas o cigarro estava difícil. Isso se repetia nas semanas subsequentes. 
Centenas de casos como esse, o convenceram de que o cigarro é mais difícil de largar 
do que as outras drogas. É um exagero? 
 
 
Fonte: www.clinicagaivota.com.br 
Embora o efeito da nicotina não seja tão poderoso quanto o da maconha, é 
muito mais constante. Imaginemos que o fumante dê dez tragadas em cada cigarro e 
fume vinte cigarros por dia. Feitas as contas, num único dia seu cérebro recebeu um 
reforço positivo pelo menos duzentas vezes. Cada tragada é igual a uma injeção de 
nicotina na veia. Esse estímulo, repetido através dos anos, faz com que a dependência 
de nicotina seja mais poderosa do que as outras. A maconha, no momento, passa por 
processo semelhante. Mais disponível e mais barata, seu consumo aumentou e, 
 
31 
 
consequentemente, o número de cigarros fumados por dia e os estímulos cerebrais 
que provocam aumentaram também. Portanto, em termos de dependência, as duas 
drogas não diferem muito. Pelo atual padrão de consumo, mais fácil, accessível e 
intenso, maconha e nicotina têm muito em comum. Por isso, Laranjeira não 
compartilho a ideia de que maconha seja uma droga leve. 
O usuário de cocaína diz que deixará de usar a droga quando quiser. No 
entanto, admite que não poderá vê-la, porque entrará em desespero e a vontade de 
consumi-la fica incontrolável. Como se pode explicar esse fenômeno? 
Ficar longe da droga, quando se está disposto a abandoná-la, faz parte do 
processo de aprendizado. No exato instante em que a pessoa vê a cocaína, seu 
cérebro começa a preparar-se para recebê-la e dispara um mecanismo que 
chamamos de craving ou fissura. Isso vale para qualquer droga. Depois que ficou 
dependente, é quase impossível alguém ver a droga e resistir ao desejo de usá-la. 
Por isso, na fase inicial do tratamento, aconselha-se que se afaste completamente de 
todos esses estímulos, pois ficará menos difícil lidar com o fenômeno da dependência 
química. 
A maioria das pessoas bebe com moderação, mas algumas fazem uso abusivo 
do álcool. Há quem fume maconha ou use cocaína esporadicamente, mas existem os 
que fumam crack o dia inteiro. O que explica essa diferença? A resposta está na droga 
ou no usuário? 
Parte da resposta está na tendência ao uso crônico e na história de cada 
pessoa. Quando começou a usar? Como interpreta os sintomas da síndrome de 
abstinência? Além disso, o que vai fazer com que repita a experiência não é só a 
busca do prazer, mas a tentativa de evitar o desprazer que a ausência da droga 
produz. 
A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela 
manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de 
concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de 
nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a 
usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua 
falta produz. A dependência é fruto, então, do mecanismo psicológico que a um só 
tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer e das alterações 
 
32 
 
cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito 
farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A 
compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas 
que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência. 
Resumindo: a dependência química pressupõe o mecanismo psicológico de 
buscar a droga e a necessidade biológica que se criou no organismo. Disso resulta a 
diversidade de comportamentos dos usuários. 
A maconha é um bom exemplo. Seu uso compulsivo hoje é maior do que era 
há 20, 30 anos e, de acordo com as evidências, quanto mais cedo o indivíduo começa 
a usá-la, maior é a possibilidade de tornar-se dependente. Como garotos de 12, 13 
anos, e às vezes até mais novos, estão usando maconha, atualmente o problema se 
agrava. Além disso, as concentrações de THC (princípio ativo da maconha) 
aumentaram muito nos últimos tempos. Na década de 1960, andavam por volta de 
0,5% e agora alcançam 5%. Portanto, a maconha de hoje é 10 vezes mais potente do 
que era naquela época. 
Diante disso, a Escola Paulista de Medicina sentiu a necessidade de montar 
um ambulatório só para atender os usuários de maconha e há uma lista de espera 
composta por adolescentes e jovens adultos desmotivados, que fumam 6, 7 baseados 
por dia e não conseguem fazer outra coisa na vida. Isso não acontecia quando a 
concentração de TSH era mais fraca e o acesso à droga mais restrito. 
Quando se conversa com usuários de maconha de muitos anos, eles lastimamque a droga tenha perdido a qualidade. Sua explicação prova exatamente o 
contrário.Terão essas pessoas desenvolvido um grau de tolerância maior à droga? 
Laranjeiras acha que a queixa é fruto de um certo saudosismo, uma vez que 
há tipos de maconha, entre eles o skank, que chegam a ter 20% de THC. Na Holanda, 
foram desenvolvidas cepas que contêm maior concentração desse princípio ativo, o 
que faz com que a maconha perca a classificação de droga leve e se transforme numa 
substância poderosa para causar dependência. Deve-se considerar, ainda, como 
justificativa da queixa que o uso crônico causa sempre certa tolerância. 
No Carandiru, a experiência de Varella mostrou que há quem fumasse um 
baseado a cada 30 minutos. Uma droga que exija tal frequência de consumo pode ser 
considerada leve? 
 
33 
 
Infelizmente não existem drogas leves, se produzirem estímulo no sistema de 
recompensa cerebral. Em geral, as pessoas perguntam: mas se a droga dá prazer, 
qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe 
também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de 
prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por 
que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga perverte o 
repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer 
relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não 
são imediatas (VARELLA, 2006). 
SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA/ EFEITO REBOTE 
O mecanismo de recompensa cerebral é importante para a preservação da 
espécie e ninguém é contra o prazer. Ao contrário, deveríamos estimular o surgimento 
de inúmeras fontes de prazer. A dependência química, entretanto, cria uma ilusão de 
prazer que acaba perturbando outros mecanismos cerebrais. 
Se fumando um baseado a pessoa relaxa, findo o efeito, a ansiedade ganha 
força, pois a síndrome de abstinência é imediata. É o chamado efeito rebote. 
A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de 
sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta 
ao normal. Fica deprimida, desanimada. Tudo perde a graça. Como só sente prazer 
sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e 
reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança 
divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse 
prazer artificial que a droga proporciona. 
Essa é uma das tragédias a que se expõem os dependentes químicos. No 
processo de reabilitação, quando a pessoa para de usar droga, é fundamental ajudá-
la a reencontrar fontes de prazer independentes da substância química. 
Quem está de fora dificilmente entende o comportamento do dependente. 
Quem está passando por isso, vê a realidade de forma diferente? 
Na verdade, essa pessoa está doente. Seu cérebro está doente, com a 
sensação de que não existe outro prazer além da droga. Isso acontece também com 
 
34 
 
o cigarro, uma fonte preciosa de prazer para os fumantes que adiam a decisão de 
parar de fumar por medo de perdê-la. De fato, 30% dos fumantes, logo depois que se 
afastam da nicotina, apresentam sintomas expressivos de depressão e precisam ser 
medicados com antidepressivos. 
RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DROGAS - 2009 
O Relatório Mundial sobre Drogas - 2009, lançado pelo Escritório das Nações 
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostra que o mercado global de cocaína, 
opiáceos (ópio, morfina e heroína) e de maconha está estável ou em declínio, 
enquanto a produção e o uso de drogas sintéticas estão em crescimento nos países 
em desenvolvimento. 
O relatório de 314 páginas, elaborado para o Dia Internacional contra o Tráfico 
e o Abuso de Drogas, celebrado no dia 26 de junho, foi lançado em Washington pelo 
diretor-executivo do UNODC, Antonio Maria Costa, e pelo recém nomeado diretor do 
Gabinete de Política Nacional de Fiscalização das drogas (ONDCP, na sigla em 
inglês) dos Estados Unidos, Gil Kerlikowske. 
Tendência de declínio nos principais mercados 
O cultivo de ópio no Afeganistão, país responsável por 93% da produção 
mundial de ópio, diminuiu 19% em 2008. A Colômbia, país que produz a metade da 
cocaína no mundo, observou uma redução de 18% no cultivo e uma redução de 28% 
na produção da droga, em comparação com 2007. A produção global de cocaína foi 
estimada em 845 toneladas, a mais baixa em cinco anos, apesar de terem sido 
observados aumentos no cultivo no Peru e na Bolívia. 
A maconha continua sendo a droga mais cultivada e consumida em todo o 
mundo, ainda que as estimativas sobre essa droga sejam menos precisas. Os dados 
mostram também que ela é mais danosa à saúde do que o que se costuma acreditar. 
O índice médio de THC (o componente danoso da droga) observado na maconha na 
América do Norte quase dobrou na última década. Essa mudança traz grandes 
 
35 
 
implicações à saúde, evidenciada por um aumento significante no número de pessoas 
em busca de tratamento. 
Em termos de consumo, os maiores mercados de maconha do mundo (América 
do Norte, Oceania e Europa Ocidental), de cocaína (América do Norte e parte da 
Europa Ocidental) e de opiáceos (Sudeste da Ásia e Europa Ocidental) estão estáveis 
ou em declínio. Os dados dos países em desenvolvimento são menos confiáveis. 
Provável aumento no uso e na produção de drogas sintéticas nos países em 
desenvolvimento 
As informações sobre drogas sintéticas - anfetaminas, metanfetaminas e 
ecstasy - são mescladas. O uso nos países desenvolvidos se estabilizou. Nos países 
em desenvolvimento, há uma preocupação sobre o crescimento na produção e no 
consumo, ainda que os dados sejam limitados. 
O que antes era uma produção artesanal se transformou em um grande 
negócio. Laboratórios de porte industrial no Sudeste Asiático - particularmente na sub-
região do Grande Mekong - estão produzindo quantidades massivas de comprimidos 
de metanfetaminas, crystal meth (conhecida como ice) e outras substâncias como a 
quetamina. 
Alguns países da União Europeia são os principais fornecedores de ecstasy; o 
Canadá se transformou no principal eixo de tráfico de meth e ecstasy. 
O uso da anfetamina Captagon foi às alturas no Oriente Próximo e no Oriente 
Médio. Em 2007, a Arábia Saudita apreendeu um terço de todas as substâncias do 
grupo anfetamina no mundo, mais do que o aprendido na China e nos Estados Unidos 
juntos. 
 
36 
 
As rotas de tráfico estão mudando 
 
Fonte: www.vivermentecerebro.com.br 
“O mercado global de cocaína, que movimenta US$ 50 bilhões, está passando 
por mudanças sísmicas”, disse Antonio Costa, diretor executivo do UNODC. “Os 
índices de pureza e o número de apreensões (nos principais países consumidores) 
estão diminuindo, os preços estão aumentando, e os padrões de consumo estão em 
evolução. Isso pode ajudar a explicar o terrível aumento nos índices de violência em 
países como o México. Na América Central, os cartéis estão disputando um mercado 
em retração”, disse Costa. 
Na África Ocidental, o declínio nas apreensões parece refletir a diminuição dos 
fluxos de cocaína, após cinco anos de intenso crescimento. “Os esforços 
internacionais estão dando resultados”, disse Costa. Mas ainda se observa na região 
violência e instabilidade política relacionadas às drogas, principalmente em Guiné-
Bissau. “Enquanto houver demanda por drogas, os países mais vulneráveis 
continuarão sendo alvos dos traficantes. Se a Europa realmente quiser ajudar a África, 
deve diminuir seu apetite por cocaína”, disse o principal oficial das Nações Unidas 
para a questão das drogas.Enquanto 41% da produção mundial de cocaína é apreendida (principalmente 
na Colômbia), apenas um quinto (19%) de todos os opiáceos do mundo são 
interceptados. Irã e Paquistão são os países mais afetados pelo tráfico de drogas e 
são eles os responsáveis pelas maiores apreensões de opiáceos (ópio, morfina e 
 
37 
 
heroína). Em 2007, o Irã apreendeu 85% do ópio produzido no mundo e 28% de toda 
a heroína. O Paquistão está na segunda posição em termos de apreensões de heroína 
e morfina. 
A fim de aperfeiçoar o intercâmbio de informações e a ação conjunta de 
operações contra narcóticos, o UNODC desenvolveu uma iniciativa triangular entre o 
Afeganistão, o Irã e o Paquistão. “Quanto mais ópio for apreendido no Afeganistão e 
em seus vizinhos, menos heroína haverá nas ruas da Europa. E vice-versa: quanto 
menos heroína for consumida no Ocidente, mais estáveis estarão os países da Ásia 
Ocidental”, disse Costa. 
Saúde pública e segurança pública não podem estar dissociadas 
O Relatório chama muita atenção sobre o impacto dos crimes relacionados a 
drogas - e o que fazer sobre isso. No prefácio do Relatório, Costa explora o debate 
sobre a descriminalização das drogas. Ele admite que a manutenção das drogas como 
ilícitas gera um mercado negro de proporções macroeconômicas, que causa violência 
e corrupção. Entretanto, ele alerta que a proposta de legalização das drogas como 
uma forma de acabar com essa ameaça - como alguns sugerem - seria um “erro 
histórico”. “As drogas ilícitas representam um grande perigo à saúde. Por essa razão, 
as drogas são e devem permanecer controladas”, disse o diretor do UNODC. 
“Quem propõe a legalização se equivoca nos dois sentidos”, disse Costa. “Um 
mercado liberado acarretaria em uma epidemia de drogas, enquanto a existência de 
um mercado controlado acarretaria na criação um mercado paralelo criminoso. A 
legalização não é uma varinha mágica que acabaria tanto com o crime organizado 
quanto com o abuso de drogas”, disse Costa. “A sociedade não deve ter de escolher 
entre priorizar a saúde pública ou a segurança pública: ela pode e deve optar por 
ambas”, disse. Nesse sentido ele pede aos países um maior investimento em 
prevenção e tratamento de drogas, e medidas mais pesadas para enfrentar o crime 
relacionado às drogas. 
O Diretor do Gabinete de Política Nacional de Fiscalização das drogas 
(ONDCP) dos Estados Unidos, Gil Kerlikowske, disse: “O Relatório Mundial sobre 
Drogas 2009 demonstra que as drogas são um problema que atinge a todos os países. 
 
38 
 
Todos nós temos a responsabilidade de enfrentar o abuso de drogas na nossa 
sociedade. Internacionalmente, a administração Obama está comprometida em 
expandir iniciativas de redução de demanda a fim de garantir que todos aqueles que 
lutam para superar o vício tenham acesso a programas efetivos de tratamento, 
especialmente nos países em desenvolvimento. Estamos aprendendo muito sobre a 
doença da drogadição e sabemos que o tratamento funciona. Por meio de uma ação 
abrangente de aplicação da lei, de educação, de prevenção e de tratamento, teremos 
êxito em reduzir o uso de drogas ilegais e suas consequências devastadoras”. 
Como melhorar o enfrentamento às drogas 
O Relatório oferece uma série de recomendações sobre como melhorar a 
política de enfrentamento às drogas. Primeiramente, a questão das drogas deve ser 
considerada como uma doença. “Quem usa drogas necessita de assistência médica, 
e não de uma sanção criminal”, disse Costa. Ele clama por um acesso universal ao 
tratamento de drogas. Considerando que as pessoas com sérios problemas com 
drogas são as responsáveis pela maior parte da demanda por drogas, tratar essas 
pessoas é a maneira mais efetiva de reduzir o mercado. 
Além disso, Costa pede o fim da “tragédia” que são as áreas sem a presença 
do Estado. Do mesmo modo em que a maior parte dos cultivos ilícitos ocorre nas 
regiões sem a presença do Estado, a maior parte da droga é vendida nas regiões 
urbanas nas quais a ordem pública encontra-se fragilizada. “Moradia, emprego, 
educação, acesso aos serviços públicos e ao lazer podem fazer que as comunidades 
estejam menos vulneráveis às drogas e ao crime”, disse Costa. 
Em terceiro lugar, os governos devem aderir aos tratados internacionais contra 
o crime organizado. Os instrumentos internacionais de enfrentamento ao crime como 
a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado e contra a Corrupção 
não estão sendo respeitados. “Por isso, muitos Estados estão enfrentando problemas 
de crime criados por eles mesmos”, disse o diretor do UNODC. Particularmente, ele 
destaca que “os instrumentos atualmente usados para enfrentar a lavagem de dinheiro 
e os cibercrimes são inadequados”. 
 
39 
 
Costa pediu também uma maior eficiência na aplicação da lei. Ele estimulou as 
polícias a focar seus esforços em um número menor de criminosos com maior 
influência e volume de ação do que em um grande número de contraventores de 
menor potencial ofensivo. Em alguns países, a taxa de prisão por uso de drogas é de 
até cinco vezes maior do que a por tráfico. “Isso é um desperdício de recursos da 
polícia, e um desperdício de vidas jogadas nas cadeias. Devemos ir atrás dos peixes 
grandes, não dos pequenos”, disse Costa. 
Em um esforço para aumentar a transparência e a qualidade dos dados 
relacionados às drogas, em 2009 o UNODC introduziu um espectro de variáveis nas 
estimativas por país utilizadas no Relatório Mundial de Drogas. Para muitas regiões, 
e para alguns tipos de drogas (como maconha e substâncias do tipo anfetamina) a 
variação de estimativas é relativamente ampla, já que o acesso à informação é mais 
limitado. “É fundamental que os governos se esforcem na coleta de informações. Isso 
proporcionará uma análise mais precisa das tendências e, como resultado, melhorará 
o enfrentamento às drogas”, disse Costa. 
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