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Saúde do Trabalhador - A saúde do profissional de saúde pública no Brasil

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS PONTIFÍCIA GERAIS 
Faculdade de Psicologia 
 
 
Camila Pithon Leite 
Elton Henrique de Souza Dias 
Gabriel Ruas da Gama Cerqueira 
José Martinho Soares Júnior 
Larissa Guimarães Nunes 
Leandro de Moraes Franco 
Polyana Spinola de Almeida Freitas 
Thaysa Lopes Mendonça 
Victor Nogueira Pinto 
 
 
Saúde do Trabalhador 
A saúde do profissional de saúde pública no Brasil 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2019 
 
1 
Camila Pithon Leite 
Elton Henrique de Souza Dias 
Gabriel Ruas da Gama Cerqueira 
José Martinho Soares Júnior 
Larissa Guimarães Nunes 
Leandro de Moraes Franco 
Polyana Spinola de Almeida Freitas 
Thaysa Lopes Mendonça 
Victor Nogueira Pinto 
 
Saúde do Trabalhador 
A saúde do profissional de saúde pública no Brasil 
 
 
 
Atividade da disciplina Psicologia e 
Saúde Coletiva, do 5º período de 
Psicologia, turno manhã - PUC Minas 
- Coração Eucarístico. 
Professor: ​Bruno Vasconcelos de 
Almeida 
 
 
Belo Horizonte 
2019 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ​________________________________________________ 03 
1.1 Objetivos gerais ________________________________________________ 03 
1.2 Objetivos específicos ____________________________________________ 04 
1.3 Justificativa ____________________________________________________ 04 
1.4 Metodologia ___________________________________________________ 05 
1.4.1 Abordagem metodológica _________________________________________ 05 
1.4.2 Método ________________________________________________________ 05 
1.4.3 Tipo de Pesquisa ________________________________________________ 05 
1.4.4 Instrumento para a Coleta de Dados _________________________________ 06 
1.4.5 Amostra _______________________________________________________ 06 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ​_____________________________________ 06 
2.1 SUS: Contextualização Geral ______________________________________ 07 
2.2 HumanizaSUS: uma proposta para gestores, trabalhadores e usuários _______ 08 
2.3 O Agente Comunitário de Saúde ____________________________________ 09 
2.4 A saúde do profissional de saúde ____________________________________ 09 
 
3 PESQUISA DE CAMPO ​_________________________________________ 11 
 
4 ENTREVISTA​ _________________________________________________ 11 
 
5 CONCLUSÃO ​__________________________________________________ 13 
 
REFERÊNCIAS ​________________________________________________ 13 
 
APÊNDICE - Roteiro de entrevista ​_________________________________ 14 
 
 
3 
1. INTRODUÇÃO 
Nas últimas décadas, o mundo do trabalho vem passando por constantes transformações, a 
partir das quais as profissões vêm ganhando novos delineamentos e os profissionais enfrentando 
novos desafios. Nesse cenário, entram em jogo: autonomia, ética, vocação, identidade, status, 
posição econômica e reconhecimento dos profissionais. No caso da saúde, o trabalho tem 
especificidades que se expressam na sua organização institucional, quais sejam: a forma de 
articulação da prestação de serviços; o ritmo de avanço das inovações tecnológicas; as atividades 
altamente especializadas. O cuidado do olhar para o profissional da saúde é, portanto, um 
componente fundamental no sistema de saúde local, que apresenta os seus reflexos a nível 
regional e nacional e, por isso, também motivo de crescentes debates e novas significações. 
Com o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, como uma 
oportunidade de garantir saúde para todos, diversas ações estratégicas, políticas e novos 
programas de saúde vêm sendo implementados no país. Isso resulta na expansão do mercado de 
trabalho em saúde e em transformações no campo da Saúde Coletiva, como a criação do 
Humaniza-SUS, como forma de trazer um olhar mais humano para as políticas de saúde pública. 
Tais fatores devem ser considerados quando analisada a saúde dos trabalhadores que atuam nessa 
área (SILVA, PINTO, 2013). 
Neste trabalho, haverá um foco especificamente no agente comunitário de saúde, que atua 
como responsável por mapear e encaminhar pessoas para o serviço de saúde, com o objetivo de 
compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos agentes comunitários da 
saúde. Para isso, utiliza-se da entrevista semi-estruturada, analisada posteriormente por meio da 
abordagem qualitativa apresentada por Gil, considerando principalmente a escassez de estudos 
sobre o assunto de trabalhadores da Saúde Coletiva. 
 
 
1.1 Objetivo geral 
Compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos Agentes 
Comunitários da Saúde no SUS. 
 
 
4 
1.2 Objetivos específicos 
● Identificar os principais fatores que prejudicam a saúde dos Agentes Comunitários da 
Saúde. 
● Identificar ações internas que visam a prevenção de doenças e problemas de saúde dos 
Agentes Comunitários da Saúde. 
● Descrever a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS 
(PNH)/HumanizaSUS. 
● Descrever o funcionamento Sistema Único de Saúde (SUS), e suas influências na saúde 
dos Agentes Comunitários da Saúde. 
● Identificar as falhas do SUS que consequentemente afetam a saúde dos Agentes 
Comunitários da Saúde. 
1.3 Justificativa 
O agente comunitário de saúde delega uma função muito importante na implementação do 
Sistema Único de Saúde, fortalecendo a integração entre os serviços de saúde da Atenção 
Primária à Saúde e a comunidade. No Brasil, atualmente, mais de 200 mil agentes comunitários 
de saúde estão em atuação, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, com 
ações de promoção e vigilância em saúde, e com isso surgiu o interesse pelo tema. Já que o ACS 
é percebido como o mediador entre a comunidade e a equipe de saúde. Tendo em vista esses 
aspectos busca-se entender quais as dificuldades e desafios que perpetuam o caminho desse 
trabalhador. 
Desta maneira, foi identificado a possibilidade de contribuir para o entendimento do papel 
do profissional da saúde, assim como sua subjetividade e como esta se dá na realização de seu 
trabalho, considerando principalmente a escassez de estudos sobre o assunto de trabalhadores da 
Saúde Coletiva. Isso gera uma lacuna nesta temática que configura-se como uma importante área 
do conhecimento. 
 
 
 
 
5 
1.4 Metodologia 
1.4.1 Abordagem metodológica 
 
Por meio de uma ​abordagem qualitativa, visa-se compreender os desafios que atravessam 
a construção da saúde de um agente comunitário do SUS. Procura-se a compreender o tema 
trabalhado a partir de dados não mensuráveis, a partir de uma entrevista com um agente de saúde 
que relatará vivências e seu “ponto de vista” sobre sua área de trabalho. 
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, 
sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma 
organização, etc. As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do 
fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, 
precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; 
observância das diferenças entre o mundo social eo mundo natural; respeito ao 
caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas 
orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais 
fidedignos possíveis (GERHARDT;SILVEIRA, 2009, p. 32). 
 
1.4.2 Método 
 
O método utilizado para desenvolver essa pesquisa consiste na pesquisa de campo, neste 
método, a busca de informações ocorreu através de pesquisas em livros e artigos, e dados 
coletados através da entrevista com o agente de saúde. Gerhardt e Silveira (2009, p. 37) citam 
Fonseca (2002, p. 32) ao conceituarem a pesquisa de campo “caracteriza-se pelas investigações 
em que além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto às 
pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa)”. 
 
1.4.3 Tipo de Pesquisa 
 
O tipo de pesquisa que melhor adequou ao projeto foi a pesquisa exploratória, que 
objetiva entender melhor a respeito de um tema, problema ou situação, de forma a fornecer 
informações precisas, dando ao investigador construção o suficiente para se formar hipóteses. 
Este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o 
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande 
maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas 
 
6 
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) 
análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007, p. 47). 
 
1.4.4 Instrumento para a Coleta de Dados 
O instrumento para coleta de dados escolhido para o projeto foi a entrevista 
semiestruturada, em que o entrevistador/pesquisador organiza um conjunto de perguntas sobre o 
tema, mas durante a entrevista permite e, muitas vezes, incentiva que o entrevistador se sinta livre 
e/ou tenha a liberdade para falar de diversos assuntos à medida que desdobramentos do tema vão 
surgindo. 
 
1.4.5 Amostra 
 
Iremos entrevistar um agente comunitário de saúde que atue na rede pública de saúde do 
SUS e que possa nos conceder em entrevista contando os desafios, dificuldades e também 
benefícios de atuar na rede pública de saúde. 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
 2.1 SUS: Contextualização Geral 
Originário em 1989, como resultado da história da saúde pública no Brasil, o SUS 
(Sistema Único de Saúde) surge como uma oportunidade de garantir saúde para todos. Conforme 
citado na Constituição Federal de 1988: “Saúde é direito de todos e dever do Estado” (CF-88). 
Anteriormente a saúde pública era benefício daqueles que contribuem para a Previdência Social. 
De acordo com o portal do Ministério da Saúde, 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas 
de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para 
avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de 
órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do 
país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema 
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente 
aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde 
 
7 
a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a 
prevenção e a promoção da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). 
 
De acordo com o portal do SUS, o sistema baseia-se em princípios, garantidos em lei, 
além de diretrizes organizativas: 
- Princípio da Universalidade: a saúde é um direito de todos, garantido pelo Estado, 
independentemente ​de sexo, raça, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. 
- Princípio da Integralidade: O indivíduo é respeitado como um ser essencial e único e que 
tem necessidades. Para isso há uma integração de ações, que vão desde a prevenção de doenças, 
ao tratamento em si. 
- Princípio da Equidade: propõe a diminuição de desigualdades. Todas as pessoas 
possuem direito à saúde, mas são diferentes e vem de realidade diferentes. Ou seja, o Estado deve 
investir mais no que é desigual, a fim de reduzir essas disparidades. 
- Diretriz da regionalização: os serviços são organizados em níveis crescentes de 
complexidade, respondendo a uma determinada área geográfica, a partir da demanda gerada por 
essa região. 
- Diretriz da hierarquização: Diz respeito à divisão de níveis de atenção e garantir formas 
de acesso a serviços que façam parte da complexidade requerida pelo caso, nos limites dos 
recursos disponíveis numa dada região. 
- Diretriz da descentralização: O SUS está presente em todos os níveis federativos: 
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A divisão nas esferas permite serviços de melhor 
qualidade e a possibilidade de melhor manutenção do Sistema. 
- Diretriz da participação popular: a sociedade deve participar do sistema, através de 
Conselhos e Conferências populares, que visam integrar o cidadão beneficiado nas decisões 
tomadas. 
Por fim, o SUS é um serviço de referência de saúde pública mundial e pode ser bem 
definido através de Vasconcelos e Pasche (2006): 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o arranjo organizacional do Estado brasileiro 
que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os 
princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado e 
articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações 
públicas de saúde existentes nos âmbitos municipal, estadual e nacional, e ainda 
os serviços privados de saúde que o integram funcionalmente para a prestação de 
 
8 
serviços aos usuários do sistema, de forma complementar, quando contratados ou 
conveniados para tal fim. Foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as 
ações de saúde das três esferas de governo e pressupõe a articulação de 
subsistemas verticais (de vigilância e de assistência à saúde) e subsistemas de 
base territorial - estaduais, regionais e municipais - para atender de maneira 
funcional às demandas por atenção à saúde (VASCONCELOS; PASCHE, 2006, 
p.531). 
 
 2.2. Humaniza-SUS: uma proposta para gestores, trabalhadores e usuários 
 
A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH), também 
conhecida como Humaniza-SUS, foi lançada em 2003 pelo Ministério da Saúde (MS), está 
vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde, mais especificamente ao Departamento de Ações 
Programáticas e Estratégicas (DAPES) desde o início de 2011. A PNH é uma política pública 
transversal que tem o objetivo de: 
- Traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos 
da rede de saúde; 
- Orientar as práticas de atenção e gestão do SUS a partir da experiência concreta do 
trabalhador e usuário, construindo um sentido positivo de humanização, desidealizando “o 
Homem”. Pensar o humano no plano comum da experiência de um homem qualquer; 
- Construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúdee 
produção de sujeitos; - Oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o 
aspecto subjetivo nelas presente; 
- Contagiar, por atitudes e ações humanizadoras, a rede do SUS, incluindo gestores, 
trabalhadores da saúde e usuários; A Humanização como Política Transversal na Rede 
SUS 18 Humaniza-SUS – Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS 
- Posicionar-se, como política pública: a) nos limites da máquina do Estado onde ela se 
encontra com os coletivos e as redes sociais; b) nos limites dos Programas e Áreas do 
Ministério da Saúde, entre este e outros ministérios (intersetorialidade). 
Fonte: Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS 
A PNH tem como orientação valorizar a dimensão subjetiva e coletiva em todas as 
práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos de cidadania, 
destacando-se as necessidades específicas de gênero, étnico - racial, orientação/expressão sexual 
 
9 
e de segmentos específicos (população negra, do campo, extrativista, povos indígenas, 
quilombolas, ciganos, ribeirinhos, assentados, população em situação de rua, etc.); fortalecer o 
trabalho em equipe multiprofissional; construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e 
coletivos implicados na rede do SUS, além de reforçar o controle social e o caráter participativo 
do SUS. De acordo com Gastão Wagner Campos (2009), 
 
Há espaço e há apelo para teorias e práxis voltadas para a luta por recolocar o ser 
humano como fator decisivo na tomada de decisão cotidiana. Reconstruir 
racionalidades, políticas e projetos que pensem e funcionem com base no desejo, 
interesse e valores dos seres humanos concretos. Por essa singela razão, o 
Humaniza-SUS tem encontrado tanta acolhida (CAMPOS, 2009, p.13). 
 
 2.3. O Agente Comunitário de Saúde 
 
O agente comunitário é o profissional responsável por mapear e encaminhar pessoas para o 
serviço de saúde, sendo um importante agente na promoção de saúde. ​O Programa de Agentes 
Comunitários de Saúde (PACS) foi ​oficialmente implantado pelo Ministério da Saúde em 1991, 
sendo uma nova categoria de profissional de saúde, formado pela comunidade e para ela. De 
acordo com o Manual: O trabalho do Agente Comunitário de Saúde, do Ministério do Trabalho 
(2009), “a atuação do ACS valoriza questões culturais da comunidade, integrando o saber popular 
e o conhecimento técnico.” (BRASIL, 2009, p. 25). As atribuições ​do Agente Comunitário de 
Saúde estão listadas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e envolve atividades como 
atuar na promoção, prevenção e proteção da saúde, orientando e acompanhando famílias e grupos 
em seus domicílios e os encaminhando aos serviços de saúde, realizar mapeamento e 
cadastramento de dados sociais, demográficos e de saúde, mobilizar a população para as reuniões 
do conselho de saúde, sensibilizar a comunidade para a promoção de saúde, dentre outras. 
 
2.4. A saúde do profissional de saúde 
 
Conforme visto, após um histórico de saúde pública inicialmente restritivo, nos anos 90 o 
SUS veio para garantir saúde a todos os cidadãos brasileiros, sem alguma distinção, constatado 
através de seus princípios e diretrizes. Ainda existiu a criação do Humaniza-SUS como forma de 
 
10 
trazer um olhar mais humanista para as políticas de saúde pública. Então muito se fala sobre a 
dignidade gerada pelo SUS, que é indiscutível. Mas há de se olhar para o profissional da saúde e 
olhar para as condições deste profissional. Adail Rollo (2009) fomenta esta discussão ao afirmar 
que: 
 
Parece paradoxo: o SUS vem sendo implementado desde o início dos anos 90 e 
até agora não apareceu de modo efetivo e significativo, em sua agenda, o direito 
dos trabalhadores da saúde a territórios de trabalho saudáveis, nos quais se 
constituam como sujeitos construtores, reconheçam-se e sejam reconhecidos 
como pertencentes e membros ativos em todo o processo de produção de saúde e, 
como humanos, têm fragilidades, limites e podem adoecer. (ROLLO, 2009, p. 
19). 
 
De acordo com o autor, um trabalho não pode ser descontextualizado de tudo o que 
acontece com o resto do mundo - desenvolvimento tecnológico, capitalismo global, uma 
necessidade cada vez menor do trabalho humano e uma desvalorização do mesmo. Quando o 
trabalho em questão é um serviço público, há um desprezo ainda maior deste trabalho para os 
interesses neoliberais, pois com interesses de inserir a lógica capitalista nas políticas públicas, 
ocorre um desinvestimento neste setor, além da responsabilização destes profissionais para a má 
qualidade dos serviços. Então além de ter que lidar com as condições de vida dos pacientes, os 
servidores públicos de saúde gozam, muitas vezes, de condições de trabalho precárias e 
desdobramentos para sua saúde física e mental. 
 
3. PESQUISA DE CAMPO 
 
A pesquisa de campo será realizada através de entrevistas semi-estruturadas com agentes 
comunitários de saúde, que atuam no Centro de Saúde Padre Eustáquio, no bairro Padre 
Eustáquio, da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. 
O profissional Agente Comunitário de Saúde realiza atividades de prevenção de doenças e 
promoção da saúde, por meio de ações educativas em saúde realizada em domicílios ou junto às 
coletividades, em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS; estende, também, o 
acesso da população às ações e serviços de informação, de saúde, promoção social e de proteção 
da cidadania (MARQUES; PADILHA, 2004). 
 
11 
Os principais instrumentos de trabalho dos ACS são a entrevista, a visita 
domiciliar, o cadastramento das famílias, o mapeamento da comunidade e as reuniões 
comunitárias. São atribuições dos ACS analisar as necessidades da comunidade, atuar 
nas ações de promoção de saúde e prevenção de doenças, especialmente da criança, da 
mulher, do adolescente,do idoso e dos portadores de deficiência física e deficiência 
mental, participar das ações de saneamento básico e melhoria do ambiente, participar das 
reuniões da equipe de saúde e outros eventos de saúde com a comunidade. (Kluthcovsky e 
Takayanagui, 2006). 
 
4. ENTREVISTA 
Foi realizada uma entrevista com Raquel Conceição Ramos(43 anos), agente comunitária 
de saúde que atua em um centro de saúde no bairro Padre Eustáquio. A entrevista foi realizada 
pessoalmente sendo que para início de diálogo, nos apresentamos e foi-se apresentado nosso 
objetivo com a entrevista. 
Em seguida a entrevistada nos explicou sobre sua função como agente comunitária de 
saúde, que é a de acompanhar mensalmente as famílias que moram na região denominada Vila, 
uma área considerada de risco. Normalmente ela não consegue visitar todas as residências pelo 
motivo da ausência dos moradores na casa, mesmo voltando mais de uma vez na mesma 
residência. Ela faz o acompanhamento, o cadastro de pessoas físicas de políticas sociais, para a 
secretaria estarciente sobre o número de pessoas e as doenças que são identificadas na região, 
além das condições das residências. Ela, em alguns casos visita diariamente alguns indivíduos, 
pela demanda da doença que apresenta. 
A entrevistada levanta a questão do cadastro dos moradores da região, diz que a maioria 
são cadastrados, salvo aos novos moradores da região, e que acontece de aparecerem pessoas que 
não moram na região, mas tentam ser atendidos ali. 
A entrevistada se tornou servidora através de um concurso público e conta que só aceitou 
em uma segunda chamada em 2004, devido ao medo de trabalhar na região, mas diz que perdeu 
um pouco do medo pois sabe lidar com as situações. Afirma que já chegou a ouvir tiros enquanto 
 
12 
exercia sua função, e chegou a ver pessoas mortas, tenta não se envolver, apenas realiza seu 
trabalho, diz que tem altos e baixos mas consegue lidar com as situações. 
Ao ser questionada, diz que já ouviu falar do Humaniza SUS, mas não conhece bem. Diz 
que o SUS é o melhor plano de saúde, mas infelizmente ainda tem muitas coisas erradas, mas que 
independente disso é o melhor plano existente. 
As condições de trabalho no aspecto físico são um pouco indevidas, é um espaço muito 
pequeno para a quantidade de serviços existentes, e da precariedade do sistema, e as condições 
emocionais ficam deixadas de lado, pois a população deposita uma confiança que muitas vezes 
foge da capacidade dos agentes, e isso gera um sentimento de tristeza. Levanta que absorver os 
problemas de outras pessoas acaba atrapalhando muito o desenvolver dos trabalhos. 
Sobre o deslocamento e as distâncias no trabalho diz que não afeta ela diretamente pois 
trabalha em uma área menor, mas que nos outros agentes é uma questão pertinente pois tem 
problemas frequentes de deslocamento. 
Ao ser questionada sobre o tratamento de questões mentais e físicas dos próprios agentes, 
freeza que não existe atualmente acompanhamento psicológico para os eles e que já existiu a 
tentativa do trabalho, mas não teve adesão dos agentes. Imagina que isso não acontece por medo 
de exposição, mas que um dos maiores problemas é o peso emocional na área que é trabalhada. É 
realizada uma vez ao mês uma reunião do gestor do centro com os outros funcionários, onde se 
faz cobranças mas também receber as demandas dos funcionários. 
Ao fim da entrevista, a entrevistada levanta que existe uma carência pela parte emocional 
dos funcionários, mas que a física nunca foi negligenciada. 
 
 
5. CONCLUSÃO 
 
Diante do objetivo de compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos 
agentes comunitários de saúde no SUS, conclui-se que estes profissionais não recebem os 
cuidados necessários para a sua saúde física e, principalmente, mental, no exercício do seu 
trabalho. 
 
13 
Considerando que os agentes comunitários de saúde exercem a função de 
mapear e encaminhar pessoas para o serviço de saúde, e que, para isto, eles estão sujeitos ao 
contato com locais, pessoas e situações que podem fragilizar sua saúde, pode-se pensar que é um 
trabalho que gera exposição e, portanto, necessita de auxílio para que se encontre bem estar. 
De acordo com a profissional entrevistada, que trabalha como agente comunitária de 
saúde no Centro de Saúde Padre Eustáquio, alguns problemas enfrentados são o espaço pequeno 
para se trabalhar, a precariedade do sistema, o descaso com as condições emocionais dos 
profissionais e a grande demanda da população, que muitas vezes vai além da capacidade do 
agente. 
Conclui-se, ainda, que a saúde do profissional do setor público não é de grande interesse 
para o neoliberalismo, uma vez que existe o intuito de inserir a lógica capitalista nas políticas 
públicas, o que gera falta de investimento neste cenário e ausência do devido auxílio aos 
profissionais. 
 
Referências Bibliográficas 
 
BARROS, Maria Elizabeth Barros de; SANTOS FILHO, Serafim Barbosa (Org) (Org.). ​Trabalhador da saúde: 
muito prazer! : protagonismo dos trabalhadores na gestão do trabalho em saúde. Ijuí, RS: Unijuí, 2009. 265 p. 
(Coleção Saúde coletiva). 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. ​Política Nacional de Humanização – HUMANIZASUS. Documento de base para 
gestores e trabalhadores do SUS. Brasília. 2008. 
 
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. ​O trabalho do agente 
comunitário de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 
Brasília : Ministério da Saúde, 2009. 84 p. : il. – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde) 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. ​Sistema Único de Saúde​. Disponível em: 
<http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude>. Acesso em 08 out. 2019. 
 
SILVA, Vinícius Oliveira da; PINTO, Isabela Cardoso de Matos. ​Construção da identidade dos atores da Saúde 
coletiva no Brasil: uma revisão bibliográfica. Interface (Botucatu), v.17, n.46, p.549-60, jul./set. 2013. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v17n46/05.pdf>. Acesso em 08 out. 2019 
 
VASCONCELOS, Cipriano Maia de; PASCHE, Dário Frederico. ​O Sistema Único de Saúde, ​2006, p.531. 
 
 
 
 
14 
Apêndice - Roteiro da Entrevista 
 
Identificação: Agente Comunitário de Saúde 
Local de Trabalho: Centro de Saúde Padre Eustáquio, (​R. Humaitá, 1.125 - Padre Eustáquio, Belo 
Horizonte - MG). 
 
Nome: 
Idade: 
- Descreva sobre sua atuação como Agente Comunitário (responsabilidades, etc.). 
- Como você se tornou um ACS? 
- Conhece o Humaniza-SUS? 
- Qual sua opinião sobre as atividades do SUS? 
- Quais são suas condições de trabalho considerando os aspectos físicos e emocionais? 
- Na sua opinião quais fatores prejudicam a disposição física e mental dos Agentes 
Comunitários da Saúde? 
- Você acredita que as ações internas direcionadas à prevenção de doenças e problemas de 
saúde dos agentes comunitários são eficazes?

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