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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS PONTIFÍCIA GERAIS Faculdade de Psicologia Camila Pithon Leite Elton Henrique de Souza Dias Gabriel Ruas da Gama Cerqueira José Martinho Soares Júnior Larissa Guimarães Nunes Leandro de Moraes Franco Polyana Spinola de Almeida Freitas Thaysa Lopes Mendonça Victor Nogueira Pinto Saúde do Trabalhador A saúde do profissional de saúde pública no Brasil Belo Horizonte 2019 1 Camila Pithon Leite Elton Henrique de Souza Dias Gabriel Ruas da Gama Cerqueira José Martinho Soares Júnior Larissa Guimarães Nunes Leandro de Moraes Franco Polyana Spinola de Almeida Freitas Thaysa Lopes Mendonça Victor Nogueira Pinto Saúde do Trabalhador A saúde do profissional de saúde pública no Brasil Atividade da disciplina Psicologia e Saúde Coletiva, do 5º período de Psicologia, turno manhã - PUC Minas - Coração Eucarístico. Professor: Bruno Vasconcelos de Almeida Belo Horizonte 2019 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 03 1.1 Objetivos gerais ________________________________________________ 03 1.2 Objetivos específicos ____________________________________________ 04 1.3 Justificativa ____________________________________________________ 04 1.4 Metodologia ___________________________________________________ 05 1.4.1 Abordagem metodológica _________________________________________ 05 1.4.2 Método ________________________________________________________ 05 1.4.3 Tipo de Pesquisa ________________________________________________ 05 1.4.4 Instrumento para a Coleta de Dados _________________________________ 06 1.4.5 Amostra _______________________________________________________ 06 2 REFERENCIAL TEÓRICO _____________________________________ 06 2.1 SUS: Contextualização Geral ______________________________________ 07 2.2 HumanizaSUS: uma proposta para gestores, trabalhadores e usuários _______ 08 2.3 O Agente Comunitário de Saúde ____________________________________ 09 2.4 A saúde do profissional de saúde ____________________________________ 09 3 PESQUISA DE CAMPO _________________________________________ 11 4 ENTREVISTA _________________________________________________ 11 5 CONCLUSÃO __________________________________________________ 13 REFERÊNCIAS ________________________________________________ 13 APÊNDICE - Roteiro de entrevista _________________________________ 14 3 1. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o mundo do trabalho vem passando por constantes transformações, a partir das quais as profissões vêm ganhando novos delineamentos e os profissionais enfrentando novos desafios. Nesse cenário, entram em jogo: autonomia, ética, vocação, identidade, status, posição econômica e reconhecimento dos profissionais. No caso da saúde, o trabalho tem especificidades que se expressam na sua organização institucional, quais sejam: a forma de articulação da prestação de serviços; o ritmo de avanço das inovações tecnológicas; as atividades altamente especializadas. O cuidado do olhar para o profissional da saúde é, portanto, um componente fundamental no sistema de saúde local, que apresenta os seus reflexos a nível regional e nacional e, por isso, também motivo de crescentes debates e novas significações. Com o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, como uma oportunidade de garantir saúde para todos, diversas ações estratégicas, políticas e novos programas de saúde vêm sendo implementados no país. Isso resulta na expansão do mercado de trabalho em saúde e em transformações no campo da Saúde Coletiva, como a criação do Humaniza-SUS, como forma de trazer um olhar mais humano para as políticas de saúde pública. Tais fatores devem ser considerados quando analisada a saúde dos trabalhadores que atuam nessa área (SILVA, PINTO, 2013). Neste trabalho, haverá um foco especificamente no agente comunitário de saúde, que atua como responsável por mapear e encaminhar pessoas para o serviço de saúde, com o objetivo de compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos agentes comunitários da saúde. Para isso, utiliza-se da entrevista semi-estruturada, analisada posteriormente por meio da abordagem qualitativa apresentada por Gil, considerando principalmente a escassez de estudos sobre o assunto de trabalhadores da Saúde Coletiva. 1.1 Objetivo geral Compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos Agentes Comunitários da Saúde no SUS. 4 1.2 Objetivos específicos ● Identificar os principais fatores que prejudicam a saúde dos Agentes Comunitários da Saúde. ● Identificar ações internas que visam a prevenção de doenças e problemas de saúde dos Agentes Comunitários da Saúde. ● Descrever a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH)/HumanizaSUS. ● Descrever o funcionamento Sistema Único de Saúde (SUS), e suas influências na saúde dos Agentes Comunitários da Saúde. ● Identificar as falhas do SUS que consequentemente afetam a saúde dos Agentes Comunitários da Saúde. 1.3 Justificativa O agente comunitário de saúde delega uma função muito importante na implementação do Sistema Único de Saúde, fortalecendo a integração entre os serviços de saúde da Atenção Primária à Saúde e a comunidade. No Brasil, atualmente, mais de 200 mil agentes comunitários de saúde estão em atuação, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, com ações de promoção e vigilância em saúde, e com isso surgiu o interesse pelo tema. Já que o ACS é percebido como o mediador entre a comunidade e a equipe de saúde. Tendo em vista esses aspectos busca-se entender quais as dificuldades e desafios que perpetuam o caminho desse trabalhador. Desta maneira, foi identificado a possibilidade de contribuir para o entendimento do papel do profissional da saúde, assim como sua subjetividade e como esta se dá na realização de seu trabalho, considerando principalmente a escassez de estudos sobre o assunto de trabalhadores da Saúde Coletiva. Isso gera uma lacuna nesta temática que configura-se como uma importante área do conhecimento. 5 1.4 Metodologia 1.4.1 Abordagem metodológica Por meio de uma abordagem qualitativa, visa-se compreender os desafios que atravessam a construção da saúde de um agente comunitário do SUS. Procura-se a compreender o tema trabalhado a partir de dados não mensuráveis, a partir de uma entrevista com um agente de saúde que relatará vivências e seu “ponto de vista” sobre sua área de trabalho. A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social eo mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis (GERHARDT;SILVEIRA, 2009, p. 32). 1.4.2 Método O método utilizado para desenvolver essa pesquisa consiste na pesquisa de campo, neste método, a busca de informações ocorreu através de pesquisas em livros e artigos, e dados coletados através da entrevista com o agente de saúde. Gerhardt e Silveira (2009, p. 37) citam Fonseca (2002, p. 32) ao conceituarem a pesquisa de campo “caracteriza-se pelas investigações em que além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto às pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa)”. 1.4.3 Tipo de Pesquisa O tipo de pesquisa que melhor adequou ao projeto foi a pesquisa exploratória, que objetiva entender melhor a respeito de um tema, problema ou situação, de forma a fornecer informações precisas, dando ao investigador construção o suficiente para se formar hipóteses. Este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas 6 com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007, p. 47). 1.4.4 Instrumento para a Coleta de Dados O instrumento para coleta de dados escolhido para o projeto foi a entrevista semiestruturada, em que o entrevistador/pesquisador organiza um conjunto de perguntas sobre o tema, mas durante a entrevista permite e, muitas vezes, incentiva que o entrevistador se sinta livre e/ou tenha a liberdade para falar de diversos assuntos à medida que desdobramentos do tema vão surgindo. 1.4.5 Amostra Iremos entrevistar um agente comunitário de saúde que atue na rede pública de saúde do SUS e que possa nos conceder em entrevista contando os desafios, dificuldades e também benefícios de atuar na rede pública de saúde. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 SUS: Contextualização Geral Originário em 1989, como resultado da história da saúde pública no Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) surge como uma oportunidade de garantir saúde para todos. Conforme citado na Constituição Federal de 1988: “Saúde é direito de todos e dever do Estado” (CF-88). Anteriormente a saúde pública era benefício daqueles que contribuem para a Previdência Social. De acordo com o portal do Ministério da Saúde, O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde 7 a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). De acordo com o portal do SUS, o sistema baseia-se em princípios, garantidos em lei, além de diretrizes organizativas: - Princípio da Universalidade: a saúde é um direito de todos, garantido pelo Estado, independentemente de sexo, raça, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. - Princípio da Integralidade: O indivíduo é respeitado como um ser essencial e único e que tem necessidades. Para isso há uma integração de ações, que vão desde a prevenção de doenças, ao tratamento em si. - Princípio da Equidade: propõe a diminuição de desigualdades. Todas as pessoas possuem direito à saúde, mas são diferentes e vem de realidade diferentes. Ou seja, o Estado deve investir mais no que é desigual, a fim de reduzir essas disparidades. - Diretriz da regionalização: os serviços são organizados em níveis crescentes de complexidade, respondendo a uma determinada área geográfica, a partir da demanda gerada por essa região. - Diretriz da hierarquização: Diz respeito à divisão de níveis de atenção e garantir formas de acesso a serviços que façam parte da complexidade requerida pelo caso, nos limites dos recursos disponíveis numa dada região. - Diretriz da descentralização: O SUS está presente em todos os níveis federativos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A divisão nas esferas permite serviços de melhor qualidade e a possibilidade de melhor manutenção do Sistema. - Diretriz da participação popular: a sociedade deve participar do sistema, através de Conselhos e Conferências populares, que visam integrar o cidadão beneficiado nas decisões tomadas. Por fim, o SUS é um serviço de referência de saúde pública mundial e pode ser bem definido através de Vasconcelos e Pasche (2006): O Sistema Único de Saúde (SUS) é o arranjo organizacional do Estado brasileiro que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos municipal, estadual e nacional, e ainda os serviços privados de saúde que o integram funcionalmente para a prestação de 8 serviços aos usuários do sistema, de forma complementar, quando contratados ou conveniados para tal fim. Foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as ações de saúde das três esferas de governo e pressupõe a articulação de subsistemas verticais (de vigilância e de assistência à saúde) e subsistemas de base territorial - estaduais, regionais e municipais - para atender de maneira funcional às demandas por atenção à saúde (VASCONCELOS; PASCHE, 2006, p.531). 2.2. Humaniza-SUS: uma proposta para gestores, trabalhadores e usuários A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH), também conhecida como Humaniza-SUS, foi lançada em 2003 pelo Ministério da Saúde (MS), está vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde, mais especificamente ao Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas (DAPES) desde o início de 2011. A PNH é uma política pública transversal que tem o objetivo de: - Traduzir os princípios do SUS em modos de operar dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de saúde; - Orientar as práticas de atenção e gestão do SUS a partir da experiência concreta do trabalhador e usuário, construindo um sentido positivo de humanização, desidealizando “o Homem”. Pensar o humano no plano comum da experiência de um homem qualquer; - Construir trocas solidárias e comprometidas com a dupla tarefa de produção de saúdee produção de sujeitos; - Oferecer um eixo articulador das práticas em saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas presente; - Contagiar, por atitudes e ações humanizadoras, a rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores da saúde e usuários; A Humanização como Política Transversal na Rede SUS 18 Humaniza-SUS – Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS - Posicionar-se, como política pública: a) nos limites da máquina do Estado onde ela se encontra com os coletivos e as redes sociais; b) nos limites dos Programas e Áreas do Ministério da Saúde, entre este e outros ministérios (intersetorialidade). Fonte: Documento Base para Gestores e Trabalhadores do SUS A PNH tem como orientação valorizar a dimensão subjetiva e coletiva em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos de cidadania, destacando-se as necessidades específicas de gênero, étnico - racial, orientação/expressão sexual 9 e de segmentos específicos (população negra, do campo, extrativista, povos indígenas, quilombolas, ciganos, ribeirinhos, assentados, população em situação de rua, etc.); fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional; construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS, além de reforçar o controle social e o caráter participativo do SUS. De acordo com Gastão Wagner Campos (2009), Há espaço e há apelo para teorias e práxis voltadas para a luta por recolocar o ser humano como fator decisivo na tomada de decisão cotidiana. Reconstruir racionalidades, políticas e projetos que pensem e funcionem com base no desejo, interesse e valores dos seres humanos concretos. Por essa singela razão, o Humaniza-SUS tem encontrado tanta acolhida (CAMPOS, 2009, p.13). 2.3. O Agente Comunitário de Saúde O agente comunitário é o profissional responsável por mapear e encaminhar pessoas para o serviço de saúde, sendo um importante agente na promoção de saúde. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) foi oficialmente implantado pelo Ministério da Saúde em 1991, sendo uma nova categoria de profissional de saúde, formado pela comunidade e para ela. De acordo com o Manual: O trabalho do Agente Comunitário de Saúde, do Ministério do Trabalho (2009), “a atuação do ACS valoriza questões culturais da comunidade, integrando o saber popular e o conhecimento técnico.” (BRASIL, 2009, p. 25). As atribuições do Agente Comunitário de Saúde estão listadas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e envolve atividades como atuar na promoção, prevenção e proteção da saúde, orientando e acompanhando famílias e grupos em seus domicílios e os encaminhando aos serviços de saúde, realizar mapeamento e cadastramento de dados sociais, demográficos e de saúde, mobilizar a população para as reuniões do conselho de saúde, sensibilizar a comunidade para a promoção de saúde, dentre outras. 2.4. A saúde do profissional de saúde Conforme visto, após um histórico de saúde pública inicialmente restritivo, nos anos 90 o SUS veio para garantir saúde a todos os cidadãos brasileiros, sem alguma distinção, constatado através de seus princípios e diretrizes. Ainda existiu a criação do Humaniza-SUS como forma de 10 trazer um olhar mais humanista para as políticas de saúde pública. Então muito se fala sobre a dignidade gerada pelo SUS, que é indiscutível. Mas há de se olhar para o profissional da saúde e olhar para as condições deste profissional. Adail Rollo (2009) fomenta esta discussão ao afirmar que: Parece paradoxo: o SUS vem sendo implementado desde o início dos anos 90 e até agora não apareceu de modo efetivo e significativo, em sua agenda, o direito dos trabalhadores da saúde a territórios de trabalho saudáveis, nos quais se constituam como sujeitos construtores, reconheçam-se e sejam reconhecidos como pertencentes e membros ativos em todo o processo de produção de saúde e, como humanos, têm fragilidades, limites e podem adoecer. (ROLLO, 2009, p. 19). De acordo com o autor, um trabalho não pode ser descontextualizado de tudo o que acontece com o resto do mundo - desenvolvimento tecnológico, capitalismo global, uma necessidade cada vez menor do trabalho humano e uma desvalorização do mesmo. Quando o trabalho em questão é um serviço público, há um desprezo ainda maior deste trabalho para os interesses neoliberais, pois com interesses de inserir a lógica capitalista nas políticas públicas, ocorre um desinvestimento neste setor, além da responsabilização destes profissionais para a má qualidade dos serviços. Então além de ter que lidar com as condições de vida dos pacientes, os servidores públicos de saúde gozam, muitas vezes, de condições de trabalho precárias e desdobramentos para sua saúde física e mental. 3. PESQUISA DE CAMPO A pesquisa de campo será realizada através de entrevistas semi-estruturadas com agentes comunitários de saúde, que atuam no Centro de Saúde Padre Eustáquio, no bairro Padre Eustáquio, da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. O profissional Agente Comunitário de Saúde realiza atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, por meio de ações educativas em saúde realizada em domicílios ou junto às coletividades, em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS; estende, também, o acesso da população às ações e serviços de informação, de saúde, promoção social e de proteção da cidadania (MARQUES; PADILHA, 2004). 11 Os principais instrumentos de trabalho dos ACS são a entrevista, a visita domiciliar, o cadastramento das famílias, o mapeamento da comunidade e as reuniões comunitárias. São atribuições dos ACS analisar as necessidades da comunidade, atuar nas ações de promoção de saúde e prevenção de doenças, especialmente da criança, da mulher, do adolescente,do idoso e dos portadores de deficiência física e deficiência mental, participar das ações de saneamento básico e melhoria do ambiente, participar das reuniões da equipe de saúde e outros eventos de saúde com a comunidade. (Kluthcovsky e Takayanagui, 2006). 4. ENTREVISTA Foi realizada uma entrevista com Raquel Conceição Ramos(43 anos), agente comunitária de saúde que atua em um centro de saúde no bairro Padre Eustáquio. A entrevista foi realizada pessoalmente sendo que para início de diálogo, nos apresentamos e foi-se apresentado nosso objetivo com a entrevista. Em seguida a entrevistada nos explicou sobre sua função como agente comunitária de saúde, que é a de acompanhar mensalmente as famílias que moram na região denominada Vila, uma área considerada de risco. Normalmente ela não consegue visitar todas as residências pelo motivo da ausência dos moradores na casa, mesmo voltando mais de uma vez na mesma residência. Ela faz o acompanhamento, o cadastro de pessoas físicas de políticas sociais, para a secretaria estarciente sobre o número de pessoas e as doenças que são identificadas na região, além das condições das residências. Ela, em alguns casos visita diariamente alguns indivíduos, pela demanda da doença que apresenta. A entrevistada levanta a questão do cadastro dos moradores da região, diz que a maioria são cadastrados, salvo aos novos moradores da região, e que acontece de aparecerem pessoas que não moram na região, mas tentam ser atendidos ali. A entrevistada se tornou servidora através de um concurso público e conta que só aceitou em uma segunda chamada em 2004, devido ao medo de trabalhar na região, mas diz que perdeu um pouco do medo pois sabe lidar com as situações. Afirma que já chegou a ouvir tiros enquanto 12 exercia sua função, e chegou a ver pessoas mortas, tenta não se envolver, apenas realiza seu trabalho, diz que tem altos e baixos mas consegue lidar com as situações. Ao ser questionada, diz que já ouviu falar do Humaniza SUS, mas não conhece bem. Diz que o SUS é o melhor plano de saúde, mas infelizmente ainda tem muitas coisas erradas, mas que independente disso é o melhor plano existente. As condições de trabalho no aspecto físico são um pouco indevidas, é um espaço muito pequeno para a quantidade de serviços existentes, e da precariedade do sistema, e as condições emocionais ficam deixadas de lado, pois a população deposita uma confiança que muitas vezes foge da capacidade dos agentes, e isso gera um sentimento de tristeza. Levanta que absorver os problemas de outras pessoas acaba atrapalhando muito o desenvolver dos trabalhos. Sobre o deslocamento e as distâncias no trabalho diz que não afeta ela diretamente pois trabalha em uma área menor, mas que nos outros agentes é uma questão pertinente pois tem problemas frequentes de deslocamento. Ao ser questionada sobre o tratamento de questões mentais e físicas dos próprios agentes, freeza que não existe atualmente acompanhamento psicológico para os eles e que já existiu a tentativa do trabalho, mas não teve adesão dos agentes. Imagina que isso não acontece por medo de exposição, mas que um dos maiores problemas é o peso emocional na área que é trabalhada. É realizada uma vez ao mês uma reunião do gestor do centro com os outros funcionários, onde se faz cobranças mas também receber as demandas dos funcionários. Ao fim da entrevista, a entrevistada levanta que existe uma carência pela parte emocional dos funcionários, mas que a física nunca foi negligenciada. 5. CONCLUSÃO Diante do objetivo de compreender os desafios que atravessam a construção da saúde dos agentes comunitários de saúde no SUS, conclui-se que estes profissionais não recebem os cuidados necessários para a sua saúde física e, principalmente, mental, no exercício do seu trabalho. 13 Considerando que os agentes comunitários de saúde exercem a função de mapear e encaminhar pessoas para o serviço de saúde, e que, para isto, eles estão sujeitos ao contato com locais, pessoas e situações que podem fragilizar sua saúde, pode-se pensar que é um trabalho que gera exposição e, portanto, necessita de auxílio para que se encontre bem estar. De acordo com a profissional entrevistada, que trabalha como agente comunitária de saúde no Centro de Saúde Padre Eustáquio, alguns problemas enfrentados são o espaço pequeno para se trabalhar, a precariedade do sistema, o descaso com as condições emocionais dos profissionais e a grande demanda da população, que muitas vezes vai além da capacidade do agente. Conclui-se, ainda, que a saúde do profissional do setor público não é de grande interesse para o neoliberalismo, uma vez que existe o intuito de inserir a lógica capitalista nas políticas públicas, o que gera falta de investimento neste cenário e ausência do devido auxílio aos profissionais. Referências Bibliográficas BARROS, Maria Elizabeth Barros de; SANTOS FILHO, Serafim Barbosa (Org) (Org.). Trabalhador da saúde: muito prazer! : protagonismo dos trabalhadores na gestão do trabalho em saúde. Ijuí, RS: Unijuí, 2009. 265 p. (Coleção Saúde coletiva). BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização – HUMANIZASUS. Documento de base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília. 2008. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. 84 p. : il. – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde) BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude>. Acesso em 08 out. 2019. SILVA, Vinícius Oliveira da; PINTO, Isabela Cardoso de Matos. Construção da identidade dos atores da Saúde coletiva no Brasil: uma revisão bibliográfica. Interface (Botucatu), v.17, n.46, p.549-60, jul./set. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v17n46/05.pdf>. Acesso em 08 out. 2019 VASCONCELOS, Cipriano Maia de; PASCHE, Dário Frederico. O Sistema Único de Saúde, 2006, p.531. 14 Apêndice - Roteiro da Entrevista Identificação: Agente Comunitário de Saúde Local de Trabalho: Centro de Saúde Padre Eustáquio, (R. Humaitá, 1.125 - Padre Eustáquio, Belo Horizonte - MG). Nome: Idade: - Descreva sobre sua atuação como Agente Comunitário (responsabilidades, etc.). - Como você se tornou um ACS? - Conhece o Humaniza-SUS? - Qual sua opinião sobre as atividades do SUS? - Quais são suas condições de trabalho considerando os aspectos físicos e emocionais? - Na sua opinião quais fatores prejudicam a disposição física e mental dos Agentes Comunitários da Saúde? - Você acredita que as ações internas direcionadas à prevenção de doenças e problemas de saúde dos agentes comunitários são eficazes?
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