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FACULDADE XV DE AGOSTO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO REFLEXÃO SOBRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Conhecendo e Valorizando as Hipóteses da Escrita Aluno: Quesia de Oliveira Sousa Orientador: Professor Luís Carlos Mascarenhas Silva Santo André 2016 FACULDADE XV DE AGOSTO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO REFLEXÃO SOBRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Conhecendo e Valorizando as Hipóteses da Escrita Artigo apresentado em cumprimento às exigências para término do Curso de Alfabetização e Letramento sob orientação do Prof. Professor Luís Carlos Mascarenhas Silva Santo André 2016 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO QUESIA DE OLIVEIRA SOUSA REFLEXÃO SOBRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Conhecendo e Valorizando as Hipóteses da Escrita Artigo apresentado em cumprimento às exigências para término do Curso de Alfabetização e Letramento sob orientação do Prof. Professor Luís Carlos Mascarenhas Silva Avaliado em ______ / _____ / _____ Nota Final: ( ) _____________ ______________________________________________________ Professor Orientador Professor Luís Carlos Mascarenhas Silva _______________________________________________________ Professor Examinador Santo André 2016 1 RESUMO A leitura é um meio de comunicação e participação social de suma importância, porém, antes da invenção da imprensa, era acessível a poucos, nos dias atuais esse quadro vem se modificando com grande velocidade, portanto, o aumento da necessidade dessa prática atingir o maior número de pessoas, e por que não dizermos, todas as pessoas de uma sociedade? Escrever envolve desde os primeiros registros gráficos até a produção de textos de maneira autônoma, não se restringindo às tarefas escolares, mas superando as formas de registros da história de um sujeito que vive em sociedade. Até a apropriação da escrita o aluno passa por níveis que revelam as hipóteses já construídas por ele. Essas são as hipóteses que serão nosso foco de estudo: Pré-silábica; Silábica sem valor sonoro; Silábica com valor sonoro; Silábica alfabético; Alfabética. Por isso “alfabetizar e letrar” um indivíduo vai além de levá-lo à decodificação de símbolos, mas, contribuir para sua formação como cidadão. Este importante papel será desenvolvido pelos professores que devem carregar com diligência e respeito ao próximo esta sublime missão. Para melhor aproveitamento deste estudo será necessário, antes, compreender a diferença entre alfabetização e letramento. O presente trabalho se desenvolverá considerando a pesquisa bibliográfica de autores da área: EMÍLIA FERREIRO e ANA TEBEROSKY, e também a experiência adquirida ao longo dos anos na atividade educacional de crianças em fase escolar. Muitas questões ainda necessitam ser estudadas mais profundamente, no entanto, deve-se já considerar a necessidade de percepção dos professores nesse processo de alfabetização e letramento. Palavras-chave: alfabetização; letramento; hipótese da escrita. ABSTRACT Reading is a means of communication and social participation of paramount importance, however, before the invention of printing, it was accessible to few nowadays this situation is changing with great speed, thus increasing the need for this practice to reach as number of people, and why do not we say, all the people of a society? Write involved from the earliest graphic records to the production autonomously texts, not limited to homework, but overcoming forms of recorded history of a man who lives in society. To the appropriation of writing the student goes through levels that reveal the assumptions already built for him. These are the hypotheses that will be our focus of study: Pre-syllabic; Without syllabic sound value; With syllabic sound value; Syllabic alphabet; Alphabetical. So "alfabetize and literacy” an individual goes beyond take you to decode the symbols, but contribute to their training as citizens. This role will be developed by teachers who must carry with diligence and respect for others this sublime mission. For better utilization of this study will be necessary first to understand the difference between literacy and literacy. This work will be developed considering the literature of authors Area: EMILIA RIBEIRO AND ANA TEBEROSKY, and also the experience gained over the years in the educational activity of schoolchildren. Many questions still need to be studied further, however, one must already consider the need for awareness of teachers that literacy and literacy process. Keywords: alfabetize; literacy; writing hypothesis. 2 INTRODUÇÃO O presente trabalho busca reafirmar a importância da alfabetização e do letramento considerando o tempo e as necessidades específicas do indivíduo que passará por algumas fases, as chamadas “hipóteses da escrita” até que venha a adquirir a forma convencional do registro e leitura da língua. A reflexão proposta aqui tem como base a valorização e respeito ao próximo, e ao tempo de aprendizagem individual dos alunos. O objetivo desse trabalho é através do estudo bibliográfico, levar o leitor a perceber a riqueza de cada hipótese da escrita e proporcionar os devidos avanços para que o educando atinja sua autonomia na escrita e também na leitura de diversos gêneros. A relevância desse estudo é trazer à consciência dos professores e aos leitores em geral, que não basta juntar letras para escrever ou palavras para ler, mas além de simplesmente decodificar símbolos, é indispensável ter a compreensão dos significados e significantes das palavras dentro do contexto social no qual serão utilizadas. Reconhecemos nosso limite para o aprofundamento das questões educacionais da alfabetização, por isso nos dedicamos ao estudo desta temática tão importante, e esperamos despertar o interesse para futuras pesquisas e para a imediata reflexão sobre a rica arte de ensinar a ler e escrever para a formação da pessoa e sua participação ativa e significativa na sociedade. 1-ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO O professor alfabetizador ao ensinar seu aluno a ler, escrever e produzir textos com autonomia deve fazê-lo com intenção de encaminhar o educando ao exercício da cidadania, pois é claro que a prática da alfabetização não se restringe à 3 escola, mas para o avanço da vida social, de forma que este seja um cidadão crítico e participativo dentro da sociedade na qual esteja inserido. Alfabetizar e letrar são ações que devem andar sempre juntas para que de fato se atinja o objetivo com o aluno na fase de aprendizado da leitura e escrita. No entanto, é necessário compreender que esses termos são distintos e que alfabetizar não é necessariamente letrar ou vice e versa. De acordo com SOARES (2004): (...) os dois processos – alfabetização e letramento – são, no estado atual do conhecimento sobre a aprendizagem inicial da língua escrita, indissociáveis, simultâneos e interdependentes: a criança alfabetiza-se, constrói seu conhecimento do sistema alfabético e ortográfico da língua escrita, em situações de letramento, isto é, no contexto de e por meio de interação com material escrito real, e não artificialmente construído, e de sua participação em práticas sociais de leitura e de escrita; por outro lado, a criança desenvolve habilidades e comportamentos de uso competente da língua escrita nas práticas sociais que a envolvem no contexto do, por meio do e em dependência do processo de aquisição do sistema alfabético e ortográfico da escrita.Para que haja uma melhor compreensão do que está sendo dito, vamos a seguir trazer a definição dos termos aqui apresentados: alfabetização e letramento. Depois dessa compreensão dos termos, devemos retomar a discussão sobre alfabetizar letrando, e não menos importante vamos tratar sobre as hipóteses de escrita, pois conhecê-las é fundamental ao professor que entende a importância de uma aprendizagem que ofereça ao aluno segurança e confiança em si. Não só isso, mas conhecendo as fases pelas quais os aprendizes passam, facilita o planejamento que objetiva auxiliar esse aluno a avançar em suas hipóteses para que então, ele possa escrever de forma convencional e principalmente autônoma, pois será neste momento que o papel da escrita como meio de comunicação se efetivará na sociedade. Acredito ainda que a compreensão das hipóteses da escrita deveria ultrapassar o conhecimento do professor alfabetizador, atingindo os professores de 4 outros ciclos e por que não, os professores das séries mais avançadas e das mais diversas disciplinas, para que assim, pudessem auxiliar aqueles alunos que estando em anos avançados ainda apresentam dificuldades na escrita. Vou além ao afirmar que tal conhecimento deveria fazer parte da comunidade fora dos muros da escola, claro que não com um conhecimento tão aprofundado do assunto, já que esta é uma especialidade dos professores, mas em um nível de conhecimento que estreitasse a relação pais / filhos. Quando os pequenos tentam expressar seus sentimentos por meio de uma cartinha, e os pais simplesmente por não compreenderem a escrita, acabam frustrando a criança respondendo algo como, por exemplo: “ah que legal, mas não tem nada escrito aqui”. Gera ainda nesses pais uma grande preocupação, pois passam a acreditarem que a escola e “a professora” não estão alfabetizando seu filho, que a criança não está aprendendo nada, e que está frequentando a escola apenas para brincar. O que seria um rico tema a ser abordado, pois compreender que o brincar é parte essencial da aprendizagem, também é necessário para o acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem proposto pela escola. Segundo Emília Ferreiro citada por Rodrigues em seu artigo, um dos maiores danos que se pode causar a uma criança é levá-la a perder a confiança na sua própria capacidade de pensar. Para que haja um ensino de qualidade é necessária competência técnica pedagógica, dedicação, compromisso, materiais pedagógicos, formação de professores e atividades específicas envolvendo o ensino e a aprendizagem assim o professor fará sua tarefa básica a de ensinar estimulando os alunos a aprenderem de forma rica e prazerosa. (Ferreiro apud Rodrigues 2013) Isso me traz à memória uma experiência vivida por mim, em uma escola municipal de ensino básico, em que a proposta de uma mostra cultural, foi expor os desenhos dos pequenos. No planejamento antes da visitação aos desenhos, aconteceu um sucinto estudo explicativo para os pais sobre as fases do desenho – claro que aqui, estamos 5 falando em um conteúdo diferente, mas que também contribui para o processo de alfabetização, e nos serve apenas como um pano de fundo para exemplificar o quanto é importante a família conhecer como se desenvolve o aprendizado dos seus filhos na escola. Acompanhando a observação da exposição, era emocionante ouvir os comentários dos pais que faziam as comparações dos desenhos das turmas iniciais até as finais, procurando perceber a fase na qual o seu filho se encontrava, e ainda mais interessante ver nos olhos dessas famílias que eles não se sentiam mais diante de “rabiscos” ou “pessoas voando”, mas sim, de produções ricas e repletas de sentidos para os pequenos, demonstrando o total empenho e esforço da criança que em breve e com auxílio, avançaria para produções mais complexas e ditas convencionais. Não nos fica dúvida do quão importante é a parceria entre escola e família para que o processo de ensino e aprendizagem seja realizado com êxito e prazer para ambas as partes, em especial para o aluno que deve ser e é, a peça principal dessa relação, afinal o ensino é para o aluno tanto quanto a aprendizagem pertence a ele, sem esquecer o precioso ensinamento de Paulo Freire que nos diz que tal processo é uma via de mão dupla na qual professor e aluno aprendem à medida que ensinam. 2-ALFABETIZAÇÃO Antes de trazer o conceito, vale propor uma reflexão sobre a grande dificuldade e discussão encontrada na educação brasileira ao longo dos anos sobre a alfabetização. Décadas atrás só considerávamos apto para avançar os estudos na 2ª série, o aluno considerado alfabetizado, ou seja, aquele que dominava a decodificação das letras e conseguia escrever e ler. Conforme leitura de SOARES (2014, p. 13 – 15) podemos visualizar que historicamente há cerca de quarenta anos menos de 50% das crianças brasileiras 6 conseguem prosseguir seus estudos classificadas como alfabetizadas. Na tentativa de melhorar esses dados, estudos vêm sendo realizados nos campos da pedagogia, psicologia, meio social, e formação docente, mudanças de sistemas, metodologias e/ou materiais didáticos. Infelizmente, nos dias atuais não temos alcançados resultados tão diferentes do que os apresentados anteriormente, mas um prolongamento permissivo no tempo de aquisição da compreensão da leitura e escrita, ou seja, da alfabetização, que anteriormente deveria acontecer na 1ª série, e hoje, com a organização em ciclos, essa criança deve ser alfabetizada dentro do 1º ciclo, porém, acaba avançando ao ciclo seguinte ainda não alfabetizada. Uma das atuais fontes de estudo sobre a alfabetização é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental. (MEC) Certamente, o Pacto não será cumprido se cada um de nós, seja professor, equipe escolar, membro da família ou sociedade e aluno, não tomar para si a responsabilidade que lhe é cabível e trabalhar com afinco para que possamos mudar a situação histórica da alfabetização no nosso país. 2.1– AFINAL, O QUE É ALFABETIZAÇÃO? Alfabetização compreende a ação de dar a um indivíduo a capacidade de conhecer os códigos linguísticos da língua, e a capacidade de usá-los para escrever e ler de forma autônoma. Podemos dizer que, é dar ao sujeito o domínio da técnica de desenvolver a arte da leitura e escrita. Quando falamos em um sujeito adulto, podemos aprofundar essa descrição, dizendo que alfabetizar é trazer luz ao caminho dos pés trôpegos que por anos tatearam no mundo das letras, buscando compreendê-las sem saberem seu verdadeiro significado. 7 E como falar em alfabetização sem citar o grandioso Freire, que não foi criador de um método, mas antes, criador de uma nova concepção de alfabetização? Concepção essa, que visa aproximar o alfabetizado das letras e palavras que estão presentes em seu cotidiano, de modo que esta leitura e escrita ensinada possa fazer sentido concreto, facilitando assim a aprendizagem. Como podemos observar no seguinte trecho: Só assim a alfabetização cobra sentido. É a consequência de uma reflexão que o homem começa a fazer sobre sua própria capacidade de refletir. Sobre sua posição no mundo. Sobre o seu trabalho. Sobre seu poder de transformar o mundo. Sobre o encontro das consciências. Reflexo sobre a própria alfabetização, que deixa assim de ser algo externo ao homem, para ser dele mesmo. Para sair de dentro de si, em relaçãocom o mundo, como uma criação. Só assim nos parece válido o trabalho da alfabetização, em que a palavra seja compreendida pelo homem na sua significação: como uma força de transformação do mundo. Só assim a alfabetização tem sentido. Na medida em que o homem, embora analfabeto, descobrindo a relatividade da ignorância e da sabedoria, retira um dos fundamentos para a sua manipulação pelas falsas elites. Só assim a alfabetização tem sentido. (Freire apud Soares, 2014, p.119). Vemos então que para Paulo Freire alfabetização significa muito mais do que decodificar códigos da escrita, mas a medida em que o sujeito é capaz de dominar esse código ele vai além, pois, estará fazendo uma leitura crítica do mundo que possibilita reflexão e questionamento que conclui uma transformação. Essa transformação é de suma importância pois, refletirá diretamente na sociedade, de forma a melhorá-la, compondo assim, um mundo mais justo para a convivência dos seres humanos. Freire nos fala ainda em leitura de mundo, que ele defendia a teoria desta preceder a leitura da palavra, o que nos remete a ideia de o aluno não chega à escola como uma tábula rasa (expressão latina análoga à ideia de uma tela em branco). 8 Mas ele traz vivências e experiências desde sua concepção e primeiros anos de vida, por isso já é um sujeito social, e para que sua alfabetização aconteça com prazer, clareza e sentido, é necessário que se parta dos seus conhecimentos prévios e não esquecendo o que ele já sabe para começar do zero. Por isso, também deve-se defender a ideia de indivíduo, pois, certamente as experiências jamais serão iguais, ainda que se fale em irmãos gêmeos. Pois o que conta de fato para o ser humano, não é a experiência em si, mas a leitura que cada um faz do que vivenciou. Como afirma THOMAZ (2009): A alfabetização de qualquer indivíduo é algo que nunca será alcançado por completo, ou seja, não há um ponto final. A realidade é que existe a extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que se diz respeito às práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Nesse âmbito, muito estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e o mundo, pois, este está em constante processo de transformação. Fica claro o tema alfabetização é muito mais complexo do que se imagina a princípio, e que muito há de se estudar e conhecer para que de fato consigamos desenvolver uma alfabetização de qualidade em nosso país. Chegamos a compreensão de que não nos basta alfabetiza, mas é necessário alfabetizar letrando. Por isso, passaremos agora ao conceito de Letramento. 3-LETRAMENTO Segundo THOMAZ (2009) Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter- se apropriado da escrita. É usar a leitura e a escrita para seguir instruções (receitas, bula de remédio, manuais de jogo), apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado, bilhete, telegrama), divertir e emocionar-se (conto, fábula, lenda), informar (notícia), orientar-se no mundo (o Atlas) e nas ruas (os sinais de trânsito). 9 Letramento é então a capacidade mais abrangente da leitura e escrita, é utilizar tal capacidade para compreender o que se lê e ainda transmitir uma mensagem compreensível a outrem por meio da escrita. Um enorme desafio está então proposto aos professores alfabetizadores, pois não lhes basta alfabetizar, mas é necessário alfabetizar letrando. Vivemos em uma sociedade movida à tecnologia, na qual as informações circulam de forma rápida e passageira. Todos os meios de comunicação apresentam informações de diversos temas. Essas informações estão dispostas a todos os níveis de sujeitos, que como já falamos anteriormente, vai armazenando experiências e fazendo sua leitura do que vivencia. Portanto, já não basta saber ler uma informação, mas compreendê-la e decidir o que fazer com ela. Não é mais suficiente fazer a leitura dos noticiários em jornais, mas estar apto a perceber o que de fato a imprensa está querendo informar. Não nos basta ler todos os rótulo nas prateleiras de um supermercado, nem tão pouco as informações nutricionais contidas nas embalagens de alimentos, mas sim, fazer uso dessa leitura para escolher o que será proveitoso para o consumo. Ler as placas de trânsito não é suficiente para interpretá-las e muito menos é suficiente para utilizá-las em prol de uma boa condução, na qual se respeite as leis e se apresente um trânsito seguro para si e para os outros. O letramento atinge todas as fases da vida do indivíduo, inclusive na área profissional, pois nos dias atuais o mercado de trabalho está buscando selecionar candidatos capazes de pensar e repensar sobre projetos da empresa, que atuem significativamente em discussões, e trazendo novas ideias produtivas, visando sempre o lucro. Diria então, que ser letrado é adquirir a capacidade de escolha em beneficio próprio ou comum à sociedade. É reconhecer os diversos gêneros textuais e suas 10 funções no meio social. É utilizar-se desses textos para expressar seus sentimentos, divulgar suas ideias e até mesmo reinvindicações. Por isso, é possível encontrar uma criança letrada, porém não alfabetizada. Isso ocorre quando a criança, por exemplo, escolhe “Tody” para o preparo da sua mamadeira, pois reconhece o rótulo e sabe diferenciar de outros achocolatados. Diríamos que uma criança alfabetizada e não letrada, seria capaz de decifrar os códigos da escrita, ler as marcas oferecidas, mas não ter condições de fazer escolhas por lhe faltar o conhecimento próprio do sabor, valor nutricional, e até mesmo do seu paladar. Por essa reflexão, vem o conhecimento do quão importante é alfabetizar letrando e letrar alfabetizando. Pois somente dessa forma, é que de fato serão formados os cidadãos críticos e participativos que tanto se almeja dentro da educação. Para Soares (1998): alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado (Soares p. 47 apud Santos, 2007). Assim, cientes da importância dos dois termos, voltamos a falar sobre como é imprescindível para a alfabetização significativa, conhecer as hipóteses da escrita. Com base em Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), faremos a seguir uma reflexão sobre o caminho percorrido pelas crianças que estão aprendendo a escrever, pois esse processo não se dá com mágica de um momento para o outro, mas aos poucos a crianças vai construindo hipóteses da escrita até que consiga escrever convencionalmente. É fato que depois desse processo, em uma fase mais avançada dos estudos, ela terá que aprender as regras gramaticais da língua portuguesa que definem as estruturas das palavras para que possa corrigir os possíveis erros ortográficos que por hora ainda comete. 11 4-MEDIANDO O APRENDIZADO DA ESCRITA Desde a tenra idade, se, a criança tiver acesso a papeis e materiais como, lápis ou canetas, já começará a fazer registros de escrita que serão diferentes de seus desenhos, mesmo que ela ainda não saiba atribuir significado ao que escreveu, como afirma Ferreiro e Teberosky (1999): “imitar o ato de escrever é uma coisa, interpretar a escrita produzida é outra.” (p.191) Para acompanhar o desenvolvimento e avanço da escrita das crianças, é necessário a observação contínua de médio a longo prazo, sempre observando as escritas espontâneas,ou ainda observando com intencionalidade por meio das chamadas “sondagens”. As sondagens diagnósticas é um dos meios pelo qual os professores tomam conhecimento da hipótese de escrita que individualmente já foi elaborado por seus alunos. Encontrando assim subsídios que lhe proporcionarão condições de planejar atividades como meio de auxiliar essas crianças a avançarem em suas hipóteses até que possam atingir o nível de escrita autônoma. Por isso a sondagem diagnóstica é essencial e merece uma atenção especial dentro do processo de alfabetização. A base da sondagem é o ditado de quatro palavras (uma polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba, nessa ordem) de um mesmo campo semântico (ou seja, do mesmo assunto) e por fim, de uma frase utilizando parte das palavras já escritas. Por exemplo, as palavras: dinossauro, cavalo, gato e rã. A frase: O gato é meu. Para que ela ocorra com maior precisão alguns pontos devem ser observados pelo professor alfabetizador, antes de sua aplicação. Ela deve ser um processo contínuo ao longo do ano como norteador do planejamento das aulas, e jamais como um fim avaliativo. É uma atividade individual, por isso, deve haver um preparo antecipado de atividades coletivas, nas quais os outros alunos possam se entreter sem a 12 necessidade constante da interferência do professor, que estará junto ao aluno submetido à sondagem. Por exemplo, jogos e brincadeiras que envolvam concentração e troca entre os pequenos; filmes que ampliem e colaborem pedagogicamente, cantos diversificados com quebra-cabeças, livros, massa de modelar e blocos construtores, são boas dicas. Primeiramente, sempre que possível, a sondagem diagnóstica deve acontecer em um ambiente tranquilo, sem que a criança se sinta pressionada ou submetida a um teste de aprovação ou reprova. O professor não deverá se a criança lhe responder que não sabe escrever. Ao contrário, o professor deverá motivá-la a fazê-lo como ela imagina que seja a escrita. As palavras serão ditadas pausadamente, porém não silabadas, sem indicação das letras. Caso a criança pergunte como se escreve, devolva a pergunta: “como você acha que se escreve?” Até que ela escreva como acha que é a palavra. Quanto a escolha das palavras, o professor deverá se preocupar ainda, em escolher palavras que não sejam muito distantes da realidade do cotidiano do aluno, conforme já comentamos anteriormente, quanto mais sentido fizer o ensino, melhor resultado se terá no aprendizado. Após o ditado de cada palavra, é imprescindível a leitura do que ela escreveu, pois esse momento será crucial para perceber e nomear em qual hipótese a criança se encontra. Ao final do trabalho, o professor deve sempre elogiar o esforço e dedicação da criança, liberando-a para participar das demais atividades com seus colegas. Conhecendo esse meio de diagnosticar as fases da escrita, passemos agora a identificação de cada uma delas, com a descrição e sempre que possível com exemplos, para que este estudo fique mais claro e faça mais sentido na prática do processo de alfabetização, principalmente das crianças. 13 4.1 - AS HIPÓTESES DA ESCRITA De acordo com a teoria exposta por FERREIRO e TEBEROSKY (1999) em Psicogênese da Língua Escrita, toda criança passa por cinco níveis, e vai assim construindo hipóteses, até que esteja alfabetizada. Para exemplos que serão utilizados para cada fase, contamos com imagens disponíveis por Costa (2009). PRÉ - SILÁBICA: a criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada, pode fazer uso indiscriminado de garatujas e números, associa a quantidade de letras necessárias ao tamanho do objeto, é também comum utilizar letras do seu próprio nome, e sua leitura da palavra é global, na verdade só a criança consegue ler a sua intenção de escrita. “(...) escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica da mesma.” (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p.193) Observe a figura: SILÁBICA SEM VALOR SONORO: a criança interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma, já um pouco mais avançado em sua hipótese percebe que não precisa de tantas letras e que não deve misturar números e Figura 1 Pré-Silábica 14 garatujas para representar a escrita, pode ainda, usar uma letra como indicativa de cada palavra na frase, pois para ela criança, a sílaba é a menor unidade da escrita, na frase a menor unidade é a palavra. Observe a figura: • SILÁBICA COM VALOR SONORO: A criança relaciona a escrita e a fala dando um valor sonoro às letras, ela utiliza uma letra para cada sílaba, às pode colocar mais letras por entender que há essa necessidade, mas ainda não sabe distinguir quais são as letras necessárias. Figura 3 Silábica com valor sonoro Figura 2 Silábica sem valor sonoro 15 SILÁBICA-ALFABÉTICA: a criança agora está em uma fase intermediária, na qual mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas, ele já escreve algumas sílabas utilizando as letras correspondentes ao valor, e outras apenas com uma letra representante que varia entre a vogal e a consoante, assim: SAPT = SAPATO; CAVLO = CAVALO. ALFABÉTICA: a criança já domina o valor das letras e sílabas, elas são consideradas sonoras, dominam as letras do alfabeto, no entanto ainda apresentam certas dificuldades ortográficas. Mas enfim, dominam o código escrito, e são capazes de diferenciar letras, sílabas, palavras e frases. Figura 5 Alfabética Figura 4 Silábica Alfabética 16 CONCLUSÃO Não se pretende aqui finalizar o estudo, ao contrário ainda muitas questões permeiam nossas ânsias no que diz respeito à alfabetização e letramento e ao desenvolvimento das hipóteses da escrita. No entanto, ficamos satisfeitos com resultado da pesquisa realizada, pois nos proporcionou uma amplitude de conhecimento sobre temas citados, de forma que nos trouxe condições para uma melhor atuação na missão de alfabetização e letramento. Dentre todo o aprendizado, o que fica de mais significativo é a importância da reflexão sobre as fases pelas quais os alunos passam desde os primeiros contatos com a escrita até em que se atinja a alfabetização. Como a formação da cidadania deve ser uma preocupação desde os primeiros anos da vida escolar, o professor alfabetizador precisa sem duvida, empenhar-se em conhecer novos caminhos e estratégias que possibilitem a melhor mediação do conhecimento, para contribuir com a formação de seus alunos. Espero que letrar alfabetizando e alfabetizar letrando, venha a ser o objetivo almejado por todos os professores alfabetizadores, em especial, a partir da leitura deste artigo. REFERÊNCIAS FERREIRO, Emília Uma Reflexão sobre a Língua Oral e Aprendizagem da Língua Escrita. Pátio, 29, 2004, p. 8-12. ______ Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana: A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. SOARES, Magda, Alfabetização e Letramento, Caminhos e Descaminhos. Pátio, 29, 2004. 17 SOARES, Magda, Alfabetização e Letramento. 6ª ed., São Paulo: Contexto, 2014. Sites consultados COSTA, Luciana dos Santos Tapajós da: As hipóteses de leitura e escrita: Uma forma de compreender porque e como a criança aprende. 2009. Disponível em: http://cantinhocriativodalu.blogspot.com.br/2009/08/textos-e-artigos.html. Acesso em 02 jan. 2016. MEC. Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa. Disponível em: http://pacto.mec.gov.br/o-pacto. Acesso em: 02/01/2016 RODRIGUES, Teresinha Luisa; RODRIGUES, E. R. Docência e discência: a arte de ensinar e de aprender. Revista Científica Semana Acadêmica. Fortaleza, ano MMXIII, Nº. 000037, 10/07/2013. Disponível em: http://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_8.pdf. Acesso em: 10 jan. 2016.
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