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ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: DEFICIÊNCIA FÍSICA Autora: Jamile Delagnelo Fagundes da Silva Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS 371.9 S586a Silva, Jamile Delagnelo Fagundes da Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física / Jamile Delagnelo Fagundes da Silva. Indaial : Uniasselvi, 2013. 94 p. : il ISBN 978-85-7830-788-2 1. Educação especial. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Profa. Gisele Cristina de Souza Revisão Gramatical: Profa. Sandra Pottmeier Revisão Pedagógica: Profa. Bruna Alexandra Franzen Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Jamile Delagnelo Fagundes da Silva Possui graduação em PEDAGOGIA pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2002) e MESTRADO pela mesma Universidade (2009). É especialista em Educação de Jovens e Adultos pela Escola Aberta do Brasil e em Pedagogia Gestora com Ênfase em Supervisão, Administração e Orientação Escolar pela Associação Catarinense de Ensino. Atua como docente na EJA e desenvolve pesquisas na área da Educação com ênfase principalmente nos temas relacionados à Educação de Jovens e Adultos, Educação Inclusiva e Formação Docente. Participa do Grupo de Pesquisa Educação e Saúde com pesquisas e estudos na Linha Educação Intercultural. Também participou com comunicação oral em renomados eventos, dentre eles: III Congresso Internacional de Educação: Educação na América Latina nestes Tempos de Império (São Leopoldo), Oitavo Circulo de Estudos Linguísticos do Sul (Porto Alegre), I Congresso Internacional da Cátedra Unesco de Educação de Jovens e Adultos (Paraíba), ANPED Nacional (Natal), socializando pesquisas realizadas na área da Educação. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA fíSiCA .............................. 11 CAPÍTULO 2 PoSSibilidAdeS e eStrAtégiAS PArA inCluSão do Aluno Com defiCiênCiA fíSiCA .............................................................. 45 CAPÍTULO 3 A defiCiênCiA fíSiCA e o ProCeSSo eduCAtivo ............................. 69 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Neste caderno de estudos você vai ter a oportunidade de refletir sobre algumas questões acerca do atendimento especializado ao deficiente físico, bem como aprofundar seus conhecimentos sobre essa temática. Iniciamos esta conversa abordando alguns aspectos históricos sobre deficiência e inclusão social para, em seguida, aprofundar as questões específicas da deficiência física. O processo de reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência iniciou, ainda que lentamente, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948. De acordo com Rodrigues (2006), os Direitos enumerados nessa Declaração podem ser classificados em três grandes categorias: a primeira categoria compreende os direitos civis relativos à proteção da integridade física, psicológica e moral dos indivíduos; na segunda categoria se encontram os direitos econômicos, sociais e culturais e, por fim, na terceira categoria, se encontram os direitos que se referem ao poder de participar da vida pública de uma nação, de exercer a cidadania. O autor ainda salienta que a história da pessoa com deficiência corresponde ao reconhecimento progressivo dessas três categorias. Ainda, recentemente, na década de noventa 1990, esses Direitos foram reforçados pela Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtiem, na Tailândia, no mês de março de 1990. Essa Conferência teve como objetivo gerar um compromisso mundial de buscar uma solução conjunta dos países para a crise na área educacional (UNESCO, 1990). Outro documento que contribui para a construção de um consenso mundial em torno do combate à exclusão escolar e à redução da taxa de analfabetismo foi a Declaração de Salamanca, “inspirada nos princípios de integração e de escolas para todos” (UNESCO, 1994). A Declaração de Salamanca além de reforçar a importância de se garantir a inclusão de uma educação para todos, também ressalta a importância de se educarem algumas crianças em escolas especiais ou de garantir a presença de salas com atendimento especializado nas escolas regulares. Rodrigues (2006) salienta que a Declaração de Salamanca é considerada um marco referencial para as instituições educacionais, inclusive para a educação especial. Essa Declaração também já ampliava a concepção de necessidades especiais, englobando crianças que vivem nas ruas, crianças que trabalham, crianças que vivem em situações de vulnerabilidade social, enfim, apresenta uma preocupação com outras categorias que vão além da deficiência. 8 Nessa mesma perspectiva o Parecer 11/2001, do Conselho Nacional de Educação, apresenta o conceito de necessidades especiais com uma “nova abordagem”. Esse Parecer propõe ampliar o atendimento escolar com sistemas de apoio específicos para todos os estudantes que apresentam algum tipo de necessidade. Dessa maneira, o Parecer enfatiza três grupos de pessoas com necessidades especiais, que serão apresentados no quadro abaixo: Quadro 1 – Grupos de pessoas com necessidades especiais 1- Aquelas que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem, tanto as não vinculadas a uma causa orgânica específica quanto às necessidades relacionadas às condições, disfunções, limitações ou deficiências; 2- Aquelas pessoas que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais estudantes, particularmente os que apresentam surdez, cegueira, surdo-cegueira ou distúrbios acentuados de linguagem; 3- Aquelas pessoas que apresentam altas habilidades/superdotação e que, recebendo apoio especifico, podem concluir em menor tempo a série ou etapa escolar. Fonte: Parecer 11/2001. A proposição do conceito de necessidades especiais, nessa perspectiva, representa uma tentativa de reconfigurar as possibilidades de inclusão, transpondo o foco do diagnóstico de deficiência para as necessidades de aprendizagem. Ainda, de acordo com o Parecer 11/2001, No caso da inclusão destes sujeitos na vida escolar, ao invés de focalizar a deficiência da pessoa, busca-se enfatizar o ensino e a escola, bem como as formas e condições de aprendizagem. Ao invés de se atribuir ao estudante a origem de um problema, define-se seu tipo de inserção no contexto escolar pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola deve proporciona-lhe para que se tenha sucesso escolar. Ao invés de esperar que o estudante se ajuste unilateralmente a padrões de “normalidade” para aprender, interpela-se a própria organização escolar a reestruturação para atender a diversidade de seus educandos (BRASIL, 2001, p. 14). Nesse mesmo contexto, Rodrigues (2006) ressalta que o desafio de garantir a inclusão desses sujeitos no ambiente escolar, está em articular as diversidades de contextos, linguagens, de ações de produções culturais de modo a potencializarsuas diferenças para favorecer a construção de processos singulares e contextos socioeducacionais críticos e criativos. O autor, ainda, afirma que a Rodrigues (2006) ressalta que o desafio de garantir a inclusão desses sujeitos no ambiente escolar, está em articular as diversidades de contextos, linguagens, de ações de produções culturais de modo a potencializar suas diferenças para favorecer a construção de processos singulares e contextos socioeducacionais críticos e criativos. 9 “Educação Inclusiva pressupõe uma participação plena numa estrutura em que os valores e práticas são delineados tendo em conta todas as características, os interesses, os objetivos e direito de todos os participantes no ato educativo.” (RODRIGUES, 2006, p. 73). Podemos dizer que hoje assistimos no Brasil um grande movimento para promover uma educação inclusiva nas instituições educacionais, como também a inclusão das pessoas com deficiência no mundo do trabalho. Porém, é importante lembrar que a obrigatoriedade legal, assegurada pelo Decreto 3.298 de 20 de dezembro de 1999, da inserção dessas pessoas nas instituições educacionais e empresarias são resultados de lutas históricas, dos movimentos que buscam pela cidadania e igualdade de oportunidades para todos. Ainda, cabe ressaltar, que a inserção dessas pessoas nas instituições educacionais e empresarias, requer muito mais que uma obrigatoriedade legal. São necessárias, além de adaptações circunstanciais, transformações paradigmáticas no sistema organizacional da nossa sociedade. Nas instituições educacionais o grande desafio perpassa pela formação continuada dos educadores e consiste em criar e desenvolver processos de aprendizagem que não anulem as diferenças, mas que sejam capazes de respeitar essas diferenças e integrá-las em seus respectivos contextos. Para contribuir nesse processo de formação continuada no contexto da educação inclusiva e com o objetivo de familiarizar você com alguns conceitos básicos sobre a deficiência física e o atendimento especializado às pessoas que possuem essa deficiência, organizamos este caderno em três capítulos. No primeiro capítulo apresentamos o conceito de deficiência física, seus tipos e definições, a relação entre educação sexual e o deficiente físico, bem como a relação entre estabilidade postural e aprendizado. Encerramos esse capítulo como uma breve reflexão sobre as adaptações necessárias às atividades diárias do deficiente físico. No capítulo 2, apresentamos algumas possibilidades e estratégias que podem ser utilizadas no processo de inclusão, enfocaremos as Tecnologias Assistivas e suas modalidades, também realizaremos uma breve análise sobre a avaliação e a implementação dessas tecnologias. O fechamento desse capítulo se dá com a abordagem do conceito e objetivos da Comunicação Aumentativa e Alternativa e seus principais sistemas. Finalizamos o caderno de estudos, já no capítulo 3, no qual procuramos discutir a relação entre deficiência física e o processo de escolarização. Nesse capítulo vamos apresentar algumas possibilidades de recursos e materiais adaptados que visam a atender e potencializar o processo de aprendizagem do 10 deficiente físico, dentre os quais destacamos o papel da Informática como uma grande aliada à superação das limitações apresentada por esses sujeitos. Você pode saber mais sobre os documentos citados na introdução, pesquisando os sites abaixo: Documento: Declaração Universal dos Direitos Humanos, do ano de 1938. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_ intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. Documento: Declaração de Salamanca, de 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 15 maio 2013. Documento: Decreto 3.298 de 20 de dezembro de 1999, de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/ D3298.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. Documento: Parecer 11/2001, de 2001. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB011_2001.pdf>. Acesso em: 15 maio 2013. A autora. CAPÍTULO 1 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA fíSiCA A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Definir deficiência física e descrever seus principais tipos. 3 Compreender a relação existente entre estabilidade postural e aprendizado. 3 Apontar possibilidades de adaptação dos materiais escolares e pedagógicos visando atender a necessidade do deficiente físico. 3 Refletir sobre a educação sexual da pessoa com deficiência física. 13 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 ContextuAlizAção A concepção de educação especial a partir da nova política da educação especial na perspectiva da Educação Inclusiva elaborada no Brasil em 2010, modifica a lógica do processo de escolarização e a sua organização. De acordo com a Política, a educação especial se configura “como modalidade que não substitui a escolarização de alunos com deficiência, com transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação, essa educação supõe uma escola que não exclui alunos que não atendam ao perfil idealizado institucionalmente.” (BRASIL, 2010a, p. 6). A educação especial oferece aos alunos serviços especializados através de recursos e estratégias que promovam a acessibilidade, sendo que esta perpassa todos os níveis e modalidades de ensino sem substituí-los. Assim, a educação especial deixa de ser um sistema paralelo, passa a promover novas práticas educacionais que garantam o direito de uma escola de qualidade para todos. Nessa nova perspectiva, a educação especial, abre uma possibilidade de reinventar os princípios e as práticas escolares, com o objetivo de atender à necessidade e especificidades de cada aluno. Este caderno de estudos visa contribuir com conhecimentos que propiciem um atendimento especializado com qualidade para suprir as necessidades de cada aluno, vamos abordar especificamente o atendimento especializado ao deficiente físico. Assim, iniciamos este primeiro capítulo com uma abordagem inicial sobre a condição de deficiência física, seus tipos e definições, apresentando alguns conhecimentos sobre a organização do nosso sistema nervoso. A seguir, realizaremos uma breve reflexão sobre a relação existente entre estabilidade postural e aprendizado, sendo que nesse item serão oferecidas aos educadores, noções básicas que permitem identificar a necessidade de cada aluno bem como fornecer recursos que auxiliem no seu processo de aprendizado. Finalizamos, apresentando algumas possibilidades de adaptações que são necessárias nas atividades diárias de um deficiente físico e discutindo a relação entre sexualidade e deficiência física. entendendo A defiCiênCiA fíSiCA: tiPoS e definiçõeS A educação especial oferece aos alunos serviços especializados através de recursos e estratégias que promovam a acessibilidade, sendo que esta perpassa todos os níveis e modalidades de ensino sem substituí-los. Assim, a educação especial deixa de ser um sistema paralelo, passa a promover novas práticas educacionais que garantam o direito de uma escola de qualidade para todos. 14 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física O conceito de “condição de deficiência” tem sido objeto de estudo de muitos autores e apresenta diferentes perspectivas em sua definição. Neste caderno de estudos, vamosabordar as discussões em torno desse conceito que se aliam a uma perspectiva inclusiva. Assim, apresentamos abaixo partes do documento da Classificação Internacional de Funcionalidade, publicada em 2003 pela Organização Mundial de Saúde que conceitua a “condição de deficiência” como a interação entre as condições de saúde e os fatores do envolvimento. Na Classificação Internacional de Funcionalidade (2003, p. 19-20), afirma-se que: (...) a funcionalidade de um indivíduo num domínio especifico é uma interação ou relação complexa entre a condição de saúde e os fatores contextuais (i.e.fatores ambientais e pessoais). Há uma interação dinâmica entre estas entidades uma intervenção num elemento pode, potencialmente, modificar um ou vários outros elementos. Estas interações são específicas e nem sempre ocorrem numa relação unívoca previsível. A interação funciona em dois sentidos: a presença da deficiência pode modificar até a própria condição de saúde. Inferir uma limitação da capacidade devido a uma ou mais deficiências, ou uma restrição de desempenho por causa de uma ou mais limitações, pode parecer muitas vezes razoável. No entanto é importante colher dados sobre estes construtos de maneira independente e, então, explorar as associações e ligações causais entre eles. Se a nossa intenção é descrever uma experiência de saúde, no seu todo, todos os componentes são úteis. Por exemplo, uma pessoa pode: • ter deficiências sem limitações de capacidade (e.g. uma desfiguração resultante da Doença de Hansen pode não ter efeito sobre a capacidade da pessoa); • ter problemas de desempenho e limitações de capacidade sem deficiências evidentes (e.g. redução de desempenho nas actividades diárias associado a várias doenças); • ter problemas de desempenho sem deficiências ou limitações de capacidade (e.g. indivíduo VIH positivo, ou um ex. doente curado de doença mental, que enfrenta estigmas ou discriminação nas relações interpessoais ou no trabalho); • ter limitações de capacidade se não tiver assistência, e nenhum problema de desempenho no ambiente habitual (e.g. um indivíduo com limitações de mobilidade pode beneficiar, por parte da sociedade, de ajudas tecnológicas de assistência para se movimentar); • experimentar um grau de influência em sentido contrário (e.g. a inatividade dos membros pode levar à atrofia muscular; a institucionalização pode resultar numa perda da socialização). Nesse mesmo cenário, Rodrigues (2006) afirma que atualmente encara-se a condição de deficiência de uma forma interativa e não só com base em fatores 15 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 intra-individuais e extra-individuais. Para Schirmer (2007, p. 21), “as terminologias da Organização Mundial de Saúde colaboram no sentido de não concebermos a deficiência como algo fixado no indivíduo”. Vale lembrar que a deficiência não deve sofrer um processo de naturalização ao ponto de ser ignorada, mas sua conceituação deve subsidiar políticas de atendimentos, recursos materiais, condições sociais e escolares. De acordo com Schirmer (2007) a deficiência é marcada pela perda de uma das funções do ser humano, seja ela física, psicológica ou sensorial, sendo que o indivíduo que tem uma deficiência não é necessariamente incapaz, pois a incapacidade poderá ser minimizada se o meio lhe oferecer acessos. Ainda, nesse contexto apresentamos o conceito de deficiência e deficiência física apresentado pelo Decreto no. 3.298 de 1999 da legislação brasileira. O Decreto afirma que: I – Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; Art.4º. – Deficiência Física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldade para o desempenho das funções. Assim, tal como o nome indica, deficiência física se refere a uma perda ou comprometimento de uma função física do indivíduo. Vale lembrar que essa perda ou esse comprometimento pode ter origens muito diversas, ocorrer em períodos de vida muito diversos e assumir formas muito diferentes. Para Rodrigues (2006) a deficiência física é a mais heterogênea das designações de deficiência, pois agrupa quadros de dificuldades muito diferentes, sendo que essa heterogeneidade é fruto das estruturas do corpo que se encontram lesadas. Tanto as estruturas do sistema nervoso central como as estruturas do sistema musculoesquelético podem apresentar alguma disfunção que se configure num quadro de deficiência física. Para melhor entender os tipos de deficiência física precisamos compreender A deficiência é marcada pela perda de uma das funções do ser humano, seja ela física, psicológica ou sensorial, sendo que o indivíduo que tem uma deficiência não é necessariamente incapaz, pois a incapacidade poderá ser minimizada se o meio lhe oferecer acessos. Assim, tal como o nome indica, deficiência física se refere a uma perda ou comprometimento de uma função física do indivíduo. 16 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física o percurso das vias nervosas do cérebro até o músculo. A origem de todo movimento voluntário está nos centros corticais. Na sequência esse impulso de movimento vai encontrar sua regulação nos centros do tronco cerebral e na espinal medula para, por fim, chegar através dos neurônios periféricos aos grupos musculares. Apresentamos abaixo duas figuras com o objetivo de exemplificar esse percurso. Figura 1 - Percurso das vias nervosas do cérebro até o músculo 01 Fonte: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano- sistema-nervoso/imagens/sistema-nervoso-15.jpg>. Acesso em: 04 jun. 2013. 17 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Figura 2 - Percurso das vias nervosas do cérebro até o músculo 02 Fonte: Disponível em: <http://www.paedu.com.br/ resources/dor.jpg>. Acesso em: 04 jun. 2013. Ao observar as figuras é importante compreender que uma lesão em qualquer um dos níveis que se encontram durante o percurso pode caracterizar um quadro de deficiência física. O tipo de deficiência física é definido de acordo com a disfunção ou parte do corpo afetada. Abaixo apresentamos um quadro com os tipos e definições de deficiência física: Quadro 2 - Tipos deficiência física Tipo Definição Paraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores. Paraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores. Monoplegia Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Monoparesia Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Tetraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Tetraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores. O tipo de deficiência física é definido de acordo com a disfunção ou parte do corpo afetada. 18 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Triplegia Perda total das funções motoras em três membros. TriparesiaPerda parcial das funções motoras em três membros. Hemiplegia Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Hemiparesia Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Amputação Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento de mem- bro. Paralisia Cerebral Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental. Ostomia Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, ostio) na parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta; processo cirúrgico que visa à construção de um caminho alternativo e novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia: ostoma intestinal; urostomia: desvio urinário). Fonte: Disponível em: <http://www.deficienteonline.com.br/deficiencia- fisica-tipos-e-definicoes___12.html>. Acesso em: 05 out. 2012. Nas instituições educacionais vamos encontrar alunos com diferentes quadros de deficiência física, por isso é importante o diálogo com esse aluno e sua família para saber mais sobre o diagnóstico apresentado. Segundo Bersch e Machado (2007, p. 23), para os professores será importante a informação sobre quadros progressivos ou estáveis, alterações ou não da sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa; se existem outras complicações associadas como epilepsia ou problemas de saúde que requerem cuidados e medicações (respiratórios, cardiovasculares, etc.). Essas informações auxiliarão o professor especializado a conduzir o trabalho com o aluno e orientar o professor de classe comum sobre questões específicas de cuidado. Outra questão importante é saber diferenciar as lesões neurológicas que não evoluem como a paralisia cerebral ou traumas medulares de outros quadros progressivos como distrofias musculares ou tumores que agridem o sistema nervoso. De acordo com as autoras, no primeiro caso, havendo lesão com características não evolutivas, as limitações do aluno tendem a diminuir quando são colocados em contato com recursos e estimulações específicas. Já no segundo caso, existe um aumento progressivo de incapacidades funcionais e os problemas de saúde poderão ser mais frequentes (BERSCH; MACHADO, 2007). 19 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 As autoras ainda destacam que muitas vezes a deficiência física pode estar associada a outras privações que podem ser visuais, auditivas ou de comunicação, como geralmente acontece nos casos de paralisia cerebral. Também é comum esses alunos necessitarem de atendimento hospitalar se afastando frequentemente ou por um longo período da escola. Nesses dois casos o atendimento especializado, que pode ser realizado pelo educador no hospital ou até mesmo na casa do aluno, se torna fundamental para que seja garantido a esse aluno seu direito de aprender. Diante destes diferentes quadros de deficiência física que podem ser apresentados pelos alunos, é fundamental que o educador conheça essa diversidade para que possa elaborar estratégias de ensino que visem desenvolver o potencial de cada aluno, pois dependendo da lesão física apresentada, esse aluno vai necessitar de recursos e materiais específicos. Ao elaborar recursos e estratégias é fundamental que o educador possua conhecimentos sobre a relação que existe entre a estabilidade postural e o aprendizado, pois de nada adianta elaborar materiais didáticos adaptados se não forem resolvidas as questões fundamentais de alinhamento e estabilidade postural desse aluno. Assim, a seguir vamos apresentar a discussão entre a estabilidade postural e o aprendizado. A eStAbilidAde PoSturAl e o APrendizAdo A base da atividade motora é constituída pela postura e pelo equilíbrio, base esta que, por sua vez, apoia os processos de aprendizagem. Dessa maneira, precisamos resolver as questões fundamentais de alinhamento e equilíbrio postural para explorar e interferir no meio em que vivemos. No caso dos alunos com deficiência física, é possível, através de recursos específicos como encostos, cadeiras adaptadas, encostos para os pés entre outros, suprir essas necessidades posturais e buscar o alinhamento adequado que contribua no processo de aprendizado. Bersch (2007, p. 112) ressalta que “desconfortáveis, as crianças terão dificuldade de manter o contato visual com o professor e os colegas, elas utilizarão grande parte de suas energias, preocupadas em não cair”. Uma criança que não se sente confortável e relaxada, dificilmente, vai conseguir manusear e explorar os recursos, os materiais didáticos do ambiente escolar. Apresentamos abaixo duas figuras que demonstram como simples Diante destes diferentes quadros de deficiência física que podem ser apresentados pelos alunos, é fundamental que o educador conheça essa diversidade para que possa elaborar estratégias de ensino que visem desenvolver o potencial de cada aluno, pois dependendo da lesão física apresentada, esse aluno vai necessitar de recursos e materiais específicos. No caso dos alunos com deficiência física, é possível, através de recursos específicos como encostos, cadeiras adaptadas, encostos para os pés entre outros, suprir essas necessidades posturais e buscar o alinhamento adequado que contribua no processo de aprendizado. 20 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física adequações posturais e podem modificar a reação do aluno, fazendo com que ele se torne confortável e disponível para as questões do aprendizado. Figura 3 - Exemplo 01 de adequação postural Fonte: Brasil (2007, p. 111). Figura 4 - Exemplo 02 de adequação postural Fonte: Brasil (2007, p. 111). 21 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Bersch (2007) ressalta que ao corrigirmos a postura dessas crianças, dando-lhes ponto de apoio e estabilidade, obteremos ganhos como a melhora do tônus muscular, ou seja, do estado de tensão do músculo, bem como a diminuição de movimentos involuntários. Ao educador, cabe observar que cada aluno vai apresentar uma determinada necessidade de adaptação e, por isso, é fundamental que saiba identificar as dificuldades e os problemas enfrentados por esse aluno. Nesse contexto, a adequação postural se configura como uma das modalidades da Tecnologia Assistiva (TA), que “se ocupa das avaliações, indicações e confecções de recursos que melhorem a postura e consequentemente a condição funcional de pessoas com deficiência” (BERSCH, 2007, p. 112). Todas essas avaliações, indicações e recursos confeccionados têm por objetivo contribuir no processo de autonomia desse aluno, criando condições para seu desenvolvimento e aprendizagem. A seguir, apresentamos um quadro com os principais objetivos da adequação postural. Quadro 3 - Objetivos da adequação postural Principais objetivos da Adequação Postural • Normalização ou diminuição da influência do tônus postural anormal e atividade reflexa; • Facilitação dos componentes normais do movimento e de sua sequência evolutiva; • Obtenção e manutenção do alinhamento postural neutro, da mobilidade articular passiva e ativa em seus limites normais, controle e prevenção de deformidades em contraturas musculares; • Prevenção de úlceras de pressão; • Incremento do conforto e tolerância em permanecer na posição; • Diminuição da fadiga; • Melhora das funções respiratórias, oral motoras e digestivas; • Obter estabilidade para melhorar a função; • Facilitação de cuidados (terapia, enfermagem e educação). Fonte: Cook e Hussey (1995, p. 239). Diante dessesobjetivos, Bersch (2007) apresenta aos educadores alguns passos com orientações que buscam avaliar detalhadamente a condição postural de cada aluno e visam identificar se a maneira como esse aluno está sentado é a melhor e mais adequada para propiciar o aprendizado e a sua autonomia no ambiente escolar. A autora ainda ressalta que a parceria com outros profissionais, como terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, é fundamental nos projetos de A adequação postural se configura como uma das modalidades da Tecnologia Assistiva (TA), que “se ocupa das avaliações, indicações e confecções de recursos que melhorem a postura e consequentemente a condição funcional de pessoas com deficiência” (BERSCH, 2007, p. 112). 22 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física adequação postural. Vamos agora conhecer cada uma das orientações que foram sintetizadas por Bersch (2007) em cinco passos. 1º. Passo: Condição Muscular e Esquelética O primeiro passo é observar a atitude postural espontânea do aluno e, em seguida, promover o máximo de correção. Podemos fazer as correções utilizando nossa própria mão, como demonstra a Figura 5. Essas correções são fundamentais para que possamos identificar a localização, a pressão e os pontos de apoio que cada aluno necessita. Figura 5 - Atitude postural espontânea e condição muscular e esquelética para o realinhamento Fonte: Brasil (2007, p. 114). Na figura 5 temos duas imagens, a imagem da esquerda apresenta uma atitude postural com enrolamento anterior do tronco e inclinação lateral, ou seja, uma criança com uma cifoescoliose. É possível perceber na segunda imagem, a da direita, que quando o educador nivela o quadril da criança e exerce força lateral no seu tronco se tem um realinhamento parcial. De acordo com Bersch (2007), isso significa que existe uma viabilidade do sistema músculo esquelético para a correção postural. Nesse caso, seria adequada uma poltrona projetada especialmente para as necessidades desse aluno, de modo que essa poltrona possa propiciar seu conforto quando está sentado, bem como a correção e a estabilidade postural. O terapeuta ocupacional pode prescrever esse encosto. 2º. Passo: posição da pelve na postura sentada O posicionamento adequado da pelve é fundamental para que se tenham condições de ajustar o tronco e as pernas. Apresentamos abaixo uma figura com 23 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 duas imagens, sendo que na imagem da esquerda podemos observar que o posicionamento errado da pelve está causando um enrolamento da coluna. Já na imagem da direita a pelve está ajustada e mantém uma melhor postura do tronco e das pernas. A autora nos lembra que depois de realizar esse ajustamento da pelve o educador pode manter esse posicionamento com cintos e almofadas laterais ou entre as pernas, de modo que o aluno se sinta seguro e confortável. Figura 6 - Posicionamento da pelve Fonte: Brasil (2007, p. 115). 3º. Passo: Informações sobre a sensibilidade Esse passo é muito importante, pois o aluno com deficiência física permanece, na maioria das vezes, por muito tempo numa determinada posição e se esse aluno não tem sensibilidade em determinadas áreas do corpo, o risco de ter uma lesão (ferida ou úlcera na pela) é grande. Assim, é fundamental sabermos sobre a preservação ou déficit de sensibilidade do aluno. Bresch (2007) afirma que o aluno com deficiência sensorial não saberá informar sobre as pressões e forças excessivas. Nesses casos, um grande indicador pode ser a coloração da pele. Quanto maior for a área de contato do corpo sobre o assento e o encosto, melhor será a distribuição de forças, o que pode evitar lesões na pele. Recursos como almofadas de água, de ar ou de gel podem ser de grande valia neste processo de realinhamento postural. 24 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física 4º. Passo: Tomada de medidas e indicações de formas Quando falamos de tomada de medidas e indicações de formas estamos nos referindo à necessidade de se adaptar o aluno ao seu local espacial. É muito comum, de acordo com Bresch (2007, p. 115), “encontrarmos crianças sentadas em cadeiras enormes em situação de grande instabilidade ou, ao contrário, em cadeiras muito pequenas em situação de desconforto e completo desajuste postural.”. Para que a cadeira e a carteira sejam adequadas é fundamental levar em conta as medidas do aluno que vai utilizá-las, pois, na maioria das vezes, é necessária uma cadeira personalizada, para que se atendam as reais necessidades de cada aluno. O educador deve estar atento a essas situações, sendo que para a tomada de medidas, a autora orienta o seguinte: “sentar o aluno, em sua melhor condição postural possível, mantendo ângulos de 90º a 110º de flexão de quadril, 90º de flexão de joelhos e tornozelos” (BERSCH, 2007, p. 116). A seguir apresentamos uma figura que orienta os procedimentos básicos para a tomada de medidas na construção de um projeto de adequação postural. Figura 7 - Modelo de tomada de medidas Fonte: Brasil (2007, p. 116). 25 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 5º. Passo: TILT – Inclinação do módulo postural O TIL é indicado nos casos em que o aluno apresenta um grande déficit de controle de tronco ou cabeça, geralmente quando o aluno não consegue se sustentar contra a força da gravidade. Nesses casos indica-se o TIL em que a poltrona postural é inclinada para trás sem alterar o ângulo de flexão do quadril. Com a poltrona inclinada, o aluno não tombará para frente e manterá seu tronco encostado no apoio posterior. Bersch (2007) ressalta que essa alternativa pode diminuir o contato visual do aluno com a atividade ou material que estiver sobre a sua mesa, assim é importante que se busquem alternativas para inclinar o tampo da mesa ou colocar um plano inclinado sobre ela, de modo que as gravuras e materiais fixados possam ser visualizados pelo aluno. A seguir, apresentamos uma gravura com duas imagens: a cadeira em sua inclinação normal e a cadeira em TIL. Figura 8 - TIL – inclinação do módulo postural Fonte: Brasil (2007, p. 117). 26 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Os passos apresentados por Bresch (2007) se constituem em orientações importantes para o educador que atende algum aluno com deficiência física, pois uma inadequação postural e a falta de mobilidade podem se configurar em uma enorme barreira para o aprendizado desse aluno. Além desses passos, a autora apresenta algumas questões para reflexão dos educadores. Sintetizamos essas questões no quadro abaixo, com a intenção de auxiliar o educador a identificar problemas de adequação postural e realizar os encaminhamentos necessários. Quadro 4 - Questões para avaliar e identificar a necessidade de um projeto de adequação postural Questões para reflexão e orientação do educador no atendimento ao aluno com deficiência física • O aluno manifesta dificuldade na respiração e sua expressão não é tranquila; • É difícil alimentar o aluno em sua cadeira, sua cabeça permanece voltada para trás e ele tem dificuldade de engolir; • O aluno mostra desconforto com sua cadeira, tenciona seu corpo e isto dificulta sua participa- ção, atenção e exploração das atividades propostas na turma; • O aluno chega bem sentado, mas com o tempo sai da posição e não consegue retornar sozinho para uma boa postura; • A cadeira é muito grande e não lhe dá segurança e estabilidade; • O aluno tem dificuldade de manter a cabeça e o tronco em posição reta, sua coluna cai para frente e para os lados; • A cadeira é muito pequena e apresenta desconforto; • O aluno permanecesentado de forma aparentemente desconfortável, não muda de posição sozinho e não reclama de desconforto; • A cadeira é muito alta e o aluno não consegue acessar a mesa dos colegas; • Há muita dificuldade de sustentar a cabeça, e o apoio não é adequado; • Há muita dificuldade em sustentar o tronco, e os contos existentes não conseguem mantê-lo em conforto; • As rodas da cadeira são pequenas impedindo que o aluno consiga mobilidade independente; • A mesa não possui ajustes de altura, e por isso, é inacessível; • A inclinação posterior da poltrona faz o aluno a perder o contato visual com seu material e precisaria nova alternativa de mesa; • O apoio dos braços na mesa não é adequado por conta da desproporção nas alturas da cadeira e mesa; • O aluno cansa ao utilizar seus recursos de mobilidade e com isso não acompanha os colegas; • Os deslocamentos na escola são restritos por conta da falta de acessibilidade do prédio. Fonte: Brasil (2010b, p. 23-24). É fundamental que todo educador que atenda um aluno com deficiência física reflita sobre as questões apresentadas no quadro acima e, a partir do 27 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 momento em que o educador identificar alguns problemas em relação ao equilíbrio e à adequação postural de algum de seus alunos, o ideal é que se construa uma rede de profissionais para trabalhar na busca de estratégias que solucionem os problemas encontrados. Outra questão que a autora destaca como sendo importante a ser observada pelo educador que atende o aluno com deficiência física, é referente à qualidade do tônus muscular e a presença de reflexos. Conforme já afirmamos anteriormente, o tônus muscular é o estado de tensão dos nossos músculos, sendo que esse estado está a todo tempo se modificando para garantir nossa postura e permitir nosso deslocamento. Quem regula o tônus muscular é o nosso Sistema Nervoso Central (SNC) que está em constante ajuste. Quando existe uma lesão no SNC com sequelas motoras, o tônus pode sofrer alterações que são manifestadas por uma hipertonia (tensão muscular exagerada), hipotonia (frouxidão dos músculos e ligamentos) ou dificuldade de regulação do tônus (tônus flutuante). Em relação à presença de reflexos, a autora destaca que os reflexos que são mais comuns encontrados em crianças com lesão neurológica são desencadeados pela posição da cabeça, sendo que “a forma como a cabeça da criança é posicionada determina a postura de todo o seu corpo.” (GIACOMINI, 2010, p. 32). Os reflexos mais comuns são o Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA), o Reflexo Tônico Cervical Simétrico (RTCS) e o Reflexo Tônico Labiríntico (RTL). Abaixo apresentamos um quadro com a explicação de cada um desses reflexos. Esse quadro foi construído com base nas informações apresentadas por Giacomini (2007). Quadro 5 - Conceito dos principais tipos de reflexos Reflexo Explicação RTCA Quando a cabeça é rodada para um dos lados observamos uma resposta de extensão de todo o lado do corpo para o qual a criança se volta e o lado oposto fica flexionado, conforme ilustração apresentada na Figura 9. RTCS A flexão da cabeça causa flexão da parte superior do corpo e extensão na parte inferior do corpo. A extensão da cabeça causa a extensão na parte superior do corpo e flexão na parte inferior do corpo, conforme ilustração apresentada na Figura 10. RTL Com a extensão da cabeça percebemos um aumento de tônus extensor em todo o corpo e com a flexão da cabeça há um aumento do tônus flexor em todo o corpo, conforme Figura 11. Fonte: Brasil (2007, p. 118-119). A partir do momento em que o educador identificar alguns problemas em relação ao equilíbrio e à adequação postural de algum de seus alunos, o ideal é que se construa uma rede de profissionais para trabalhar na busca de estratégias que solucionem os problemas encontrados. 28 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física A seguir apresentaremos as Figuras 9, 10 e 11 que ilustram cada um dos reflexos do quadro acima: Figura 9 - RTCA Fonte: Brasil (2007, p. 118). Figura 10 - RTCS Fonte: Brasil (2007, p. 118). 29 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Figura 11 - RTL Fonte: Brasil (2007, p. 119). A partir do momento que o educador reconhece a presença e a interferência desses reflexos sobre a motricidade das crianças ele pode encontrar estratégias de inibição e com isso vai permitir que a criança tenha maior possibilidade de manter sua postura e realizar seus movimentos. Os reflexos são desencadeados pela alteração da cabeça, assim o ideal é que a criança permaneça com a cabeça na linha média, sem muitas rotações, flexões ou extensões. Portanto, quando o professor vai auxiliar no momento da postura de reflexo, deve-se sempre iniciar por posicionar a cabeça do aluno em posição neutra e depois auxiliar nos movimentos do corpo. Bersch (2007) ressalta que o ideal é que o material escolar e pedagógico seja colocado numa altura em que o aluno olhe para frente, sendo que objetos e pessoas devem ser apresentados na altura dos olhos desse aluno, evitando que ele tenha que baixar a cabeça ou olhar muito para cima. Observe a figura abaixo: A partir do momento que o educador reconhece a presença e a interferência desses reflexos sobre a motricidade das crianças ele pode encontrar estratégias de inibição e com isso vai permitir que a criança tenha maior possibilidade de manter sua postura e realizar seus movimentos. 30 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Figura 12 - Orientação de posicionamento no caso de RTCA Fonte: Brasil (2007, p. 120). Observando a figura você sabe dizer qual o tipo de reflexo que acontece na imagem da esquerda quando a professora está ao lado da criança? Quando a professora está ao lado da criança ela estimula a rotação de sua cabeça e com isso é possível observar a alteração do tônus pelo RTCA. O ideal é que a professora permaneça na frente, conforme imagem da direita, pois, dessa forma, a criança consegue permanecer com a cabeça na linha média do corpo e, possivelmente, conseguirá levar suas mãos ao centro. A seguir, apresentamos mais duas situações de crianças em frente ao computador. A Figura 13 traz orientação de posicionamento em caso de RTL, já a Figura 14 traz orientação para posicionamento em caso de RTCS. É possível observar que ambas orientam para que se criem estratégias que permitam à criança manter a qualidade do seu tônus postural, evitando levantar ou baixar excessivamente a cabeça. Figura 13 - Orientação de posicionamento no caso de RTL Fonte: Brasil (2007, p. 120). 31 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Figura 14 - Orientação de posicionamento no caso de RTCS Fonte: Brasil (2007, p. 121). É importante ressaltar que além de se criar estratégias que possibilitem uma melhoria na estabilidade postural do aluno, o educador deve ter um planejamento para o acompanhamento após implementação dessas estratégias. Vale lembrar, que cada criança apresenta um determinado tipo de necessidade, assim, é necessário garantir as etapas de avaliação, implementação e acompanhamento para que se possam realizar os ajustes necessários a fim de garantir um aprendizado de qualidade para cada aluno. AtividAdeS dA vidA diáriA: mAteriAl eSColAr e PedAgógiCo AdAPtAdo Vimos anteriormente diversas estratégias que podem ser criadas para garantir a melhoria na estabilidade postural dos alunos e, consequentemente, um processo de aprendizagem com mais qualidade. Mas, além das adaptações que dizem respeito à adequação postural,uma pessoa com deficiência física pode ter dificuldade em realizar muitas outras atividades rotineiras, tanto na escola como na sua vida diária, sendo que, muitas vezes, dependem de ajuda e cuidados para realizar tarefas básicas que dizem respeito à higiene, à alimentação entre outras. De acordo com Bresch e Machado (2007) um aluno que não participa ativamente das atividades escolares fica em desvantagem, pois não tem oportunidade de se desafiar e criar com seus colegas. As autoras ainda salientam que é muito comum encontrarmos alunos com deficiência física que assistem aos seus colegas em muitas atividades realizadas na escola, não sendo autores do processo de aprendizagem e aquisição do conhecimento. Nesse contexto, existe uma área da Tecnologia Assistiva que se É importante ressaltar que além de se criar estratégias que possibilitem uma melhoria na estabilidade postural do aluno, o educador deve ter um planejamento para o acompanhamento após implementação dessas estratégias. Um aluno que não participa ativamente das atividades escolares fica em desvantagem, pois não tem oportunidade de se desafiar e criar com seus colegas. 32 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física preocupa com o desenvolvimento de recursos que auxiliam o deficiente físico a desenvolver suas atividades diárias. Bersch e Machado (2007, p. 41) afirmam que quando falamos em tecnologia assistiva, significa que desejamos resolver com criatividade os problemas funcionais de pessoas com deficiência e nos remetemos a encontrar alternativas para que as mesmas tarefas do cotidiano sejam realizadas de outra forma. Nesse sentido, pode-se tanto criar e desenvolver um recurso para realizar a atividade pretendida, como também pode-se modificar a atividade, ou seja, fazer a mesma atividade, mas de outra maneira. A seguir apresentamos algumas imagens que trazem possibilidades de estratégias para mobilidade do aluno com deficiência física. Figura 15 - Modelos de Andadores Fonte: Brasil (2010b, p. 37-38). 33 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Figura 16 - Modelos de cadeira motorizada ativada pelo movimento da cabeça Fonte: Brasil (2010b, p. 38). É importante estar atento à acessibilidade espacial para que o aluno possa se deslocar com autonomia pelo ambiente, sem a garantia dessa acessibilidade de nada vai adiantar um recurso como a cadeira ou o andador. Sabemos que a questão da acessibilidade é um problema social, pois não é só na escola que ainda os deficientes físicos precisam enfrentar determinadas barreiras, a luta já inicia ao sair de casa. De acordo com Bersch (2010, p. 39), a acessibilidade arquitetônica é fundamental para que os alunos com deficiência ou com mobilidade reduzida, bem como professores e funcionários possam acessar a todos os espaços de sua escola e participar de todas as atividades com segurança, conforto e com a maior autonomia possível, de acordo com as suas possibilidades. Não existe um modelo único de acessibilidade, cada espaço requer uma avaliação e uma adaptação necessária. Nesse sentido, temos no Brasil o Decreto n 5.296/2004, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. É importante que se tenha uma equipe multidisciplinar para realização desse trabalho na escola, com avaliação e implementação constante de recursos que garantam a acessibilidade. Dentre esses recursos podemos destacar os mais comuns utilizados nas escolas como: colocação de rampas, modificação no tamanho e largura das portas, adequação de carteiras, salas, banheiros, refeitório, identificação dos espaços com diferentes sinalizações: tátil, visual, motora entre outras. O importante nesse processo de adaptação dos recursos é garantir o acesso a todos. Não existe um modelo único de acessibilidade, cada espaço requer uma avaliação e uma adaptação necessária. 34 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Bersch e Machado (2007) também apresentam possibilidades de adaptações dos materiais escolares para que os alunos com deficiência física possam desenvolver atividades do cotidiano da escola como: recorte, pintura, desenho, manusear um livro, desenvolver a escrita, participar dos jogos pedagógicos entre outras. Apresentaremos, a seguir, figuras que ilustram alguns materiais que foram criados e utilizados pelas autoras. Figura 17 - Tesouras adaptadas Fonte: Brasil (2007, p. 42). Figura 18 - Pulseira implantada para desenho Fonte: Brasil (2007, p. 44). 35 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Figura 19 - Engrossadores de espuma Fonte: Brasil (2007, p. 45). Figura 20 - Jogos matemáticos Fonte: Brasil (2007, p. 48). 36 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Figura 21 - Escrita alternativa Fonte: Brasil (2007, p. 50). Você pode ter acesso a todos os materiais criados pelas autoras acessando o seguinte livro: BERSCH, R.; MACHADO, R. Auxílio em atividades de vida diária - material escolar e pedagógico adaptado. In: SCHIRMER, C. R. et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2012. 37 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 Atividade de Estudos: Trabalho Prático: 1) Vamos conhecer a realidade de uma pessoa com deficiência física. Para isso você deverá realizar uma entrevista com algum deficiente físico, o ideal é que você visite uma escola para a realização dessa entrevista. Você deverá realizar a entrevista com base no roteiro abaixo, porém podem ser acrescentadas outras informações que você considere importante. Essa entrevista tem por objetivo vivenciar na prática todos os conhecimentos abordados até o momento, então, vamos lá! Roteiro para entrevista 1º. Defina o local e a pessoa com deficiência física que será entrevistada; 2º. Caracterize as dificuldades motoras dessa pessoa, considerando o tipo de deficiência física e as zonas do corpo que foram afetadas; 3º. Relate se essa pessoa apresenta alguma outra dificuldade associada, como na linguagem, outros problemas de saúde ou até mesmo outras deficiências associadas; Investigue o que foi realizado ao longo da vida dessa pessoa para amenizar essas dificuldades; 4º. Observe a postura desse aluno no ambiente escolar e, de acordo com os conhecimentos apresentados, realize uma breve avaliação. Você considera que ele está numa postura adequada para a aquisição do conhecimento? Justifique. 5º.Registre a trajetória escolar dessa pessoa com deficiência, sucessos, dificuldades, adaptações que foram realizadas entre outros. 6º. Com base nas informações coletadas durante a entrevista, você acredita que poderiam ser utilizadas outras estratégias para enriquecer o processo de aprendizado dessa pessoa? Quais? Justifique sua resposta. 38 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física 7º. Socialize no ambiente virtual de aprendizagem o seu roteiro preenchido. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Atenção!!!!!! Se você tiver dificuldade em encontrar uma pessoa com deficiência física para realizar a entrevista, você pode visitar o site: <http://www.reocities.com/HotSprings/7455/depoimentos.html> e fazer contato com várias pessoas com deficiência física que relatam, através de depoimentos, os obstáculos que já venceram. 39 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 SexuAlidAde e defiCiênCiA fíSiCA Uma das questões que sempre tem preocupado os pais e os profissionais, tanto do ensino regular como do atendimento educacional especializado, é a de quem, quando e como tratar sobre a educação sexual com seus filhos, no caso do atendimento ao aluno com deficiência física essas angústias não são diferentes. De fato, abordar a sexualidade torna-se uma tarefa bastante complexa, as dúvidas são muitas e as respostas não são simples. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: As manifestações de sexualidade afloram em todas as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas mais habituais dadas pelos profissionais da escola. Essas práticas se fundamentam na idéia de que o tema deva ser tratado exclusivamente pela família. De fato, toda família realiza a educação sexual de suas crianças e jovens, mesmo aquelas que nunca falam abertamente sobre isso. O comportamento dos pais entre si, na relação com os filhos, no tipo de “cuidados” recomendados, nas expressões, gestos e proibições que estabelecem são carregados de determinados valores associados à sexualidade que a criança apreende (BRASIL, 1997, p. 77). Ainda, é importante considerar que a criança sofre influência de muitas outras fontes: dos livros, das pessoas que não pertencem a sua família, da escola e principalmente da mídia. A mídia, por diferentes manifestações, assume hoje um relevante papel na divulgação de informações sobre a sexualidade. A mídia divulga imagens e informações que vão auxiliando e interferindo nas visões e comportamentos das crianças. De acordo com Brasil (1997), a mídia veicula imagens eróticas, que estimulam crianças e adolescentes, incrementando a ansiedade e alimentando fantasias sexuais. O documento, ainda, afirma que a sexualidade no espaço escolar não se inscreve apenas em portas de banheiros, muros e paredes. Ela “invade” a escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e da convivência social entre eles. Por vezes, a escola realiza o pedido, impossível de ser atendido, de que os alunos deixem sua sexualidade fora dela. Hoje, tanto crianças como adolescentes testam, questionam e tomam como referência a percepção que têm da sexualidade de seus familiares e seus professores, por vezes desenvolvendo fantasias, em busca de seus próprios parâmetros. De uma forma ou de outra a escola intervém nessa relação quando cria suas regras, determina proibições, informa aos pais sobre determinado comportamento, mesmo que muitas vezes não tenha consciência disso. A escola 40 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física está sempre transmitindo valores acerca da sexualidade, esses valores podem ser mais ou menos rígidos, dependendo dos profissionais envolvidos no momento. Nesse contexto, vale ressaltar que quando buscamos na escola um trabalho integrado com as experiências vividas pelos alunos, é necessário reconhecer que necessitamos abordar as questões sobre a sexualidade, uma vez que muitas dúvidas e angústias acerca dessa temática são apresentadas já na educação infantil. Quando pensamos na educação sexual para a pessoa caracterizada como deficiente físico, devemos considerar suas manifestações sexuais como parte dos demais comportamentos desses indivíduos. Pois, na medida em que colocamos os ditos deficientes com um grupo diferente, corre-se o risco de pensar uma educação sexual também estigmatizante para esse grupo. Para refletir sobre a relação entre sexualidade e deficiência física numa perspectiva de educação sexual não estigmatizante, propomos que se considere a sexualidade desse aluno com deficiência física não como um fenômeno isolado, mas sim integrado ao contexto do relacionamento humano em geral. Pais e educadores poderão perceber que os indivíduos caracterizados como deficientes físicos possuem desejos, sentimentos e necessidades sexuais, somente na medida em que se libertarem dos preconceitos. Nesse contexto, a escola tanto regular quanto especial, desempenha um papel importante na educação sexual de seus alunos, uma educação que deve estar ligada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar e que englobe as diversas dimensões do ser humano. AlgumAS ConSiderAçõeS Neste capítulo, procuramos compreender o conceito de deficiência física e seus principais tipos. Vimos que a deficiência física é a condição de deficiência que abrange uma maior diversidade, pois, dependendo da parte do corpo que for afetada pela disfunção ou paralisia, são dadas diferentes designações. Assim, cabe ao educador que trabalha com o atendimento especializado ao deficiente físico conhecer essa diversidade para melhor atender às reais necessidades de seu aluno. É importante lembrar que cada aluno é único, tem uma história de vida e, Quando pensamos na educação sexual para a pessoa caracterizada como deficiente físico, devemos considerar suas manifestações sexuais como parte dos demais comportamentos desses indivíduos. Pois, na medida em que colocamos os ditos deficientes com um grupo diferente, corre-se o risco de pensar uma educação sexual também estigmatizante para esse grupo. 41 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 consequentemente, vai interagir com o meio de acordo com as suas experiências. Dois alunos até podem ter o mesmo tipo de deficiência, mas dependendo das experiências que vivenciaram ao longo de suas vidas vão apresentar potencialidades e limitações diferenciadas. Ao educador, além de adquirir conhecimentos técnicos sobre a deficiência apresentada por determinado aluno, cabe conhecer a história de vida desse aluno, a idade com que foi adquirida essa deficiência, os estímulos já propostos, sua rotina diária, sua experiência com o processo de escolarização, o grau de autonomia que possui no desenvolvimento de atividades do cotidiano, enfim o diálogo aberto com o alunoe a família são passos fundamentais para garantir o sucesso no processo de aprendizagem. Realizado todo esse diagnóstico sobre a condição de deficiência e a história de vida desse aluno, o educador deve iniciar um processo de planejamento, desenvolvimento e avaliação das estratégias e atividades propostas para a aquisição do conhecimento. Durante esse planejamento é fundamental que o educador esteja atento à relação entre a estabilidade postural e o aprendizado desse aluno. Desse modo, apresentamos neste capitulo uma série de perguntas e orientações que podem nortear o trabalho do educador a fim de garantir o equilíbrio e a estabilidade postural de seu aluno. Pois, se o aluno não se sentir seguro e confortável no ambiente escolar, dificilmente estará disposto para a aquisição do conhecimento, sua preocupação com certeza vai estar em não cair da cadeira, tentar visualizar os materiais, se equilibrar, entre outras. Ainda, vimos neste capitulo uma série de recursos de Tecnologias Assistivas (TAs) que podem ser utilizados por esses alunos na escola, lembrando que não existe um modelo único de adaptação ou acessibilidade, cada espaço e cada aluno requerem uma avaliação e adaptações necessárias. Assim, no próximo capítulo, abordaremos questões mais específicas que envolvem o conceito, a implementação e avaliação das TAs. Acreditamos que a TA é um meio que permite ao aluno realizar as atividades propostas e assumindo seu papel de protagonista no processo de aprendizagem. Finalizaremos o capítulo abordando o conceito e principais tipos de Comunicação Aumentativa e Alternativa. referênCiAS BERSCH, R. Alinhamento e estabilidade postural: colaborando com as questões do aprendizado. In: SCHIRMER, C. R. et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2012. 42 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física BERSCH, R.; MACHADO, R. Auxílio em atividades de vida diária - material escolar e pedagógico adaptado. In: SCHIRMER, C. R. et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2012. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Orientação Sexual. Brasília: MEC/ SEF, 1997. _____. Decreto nº 3.298 de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/D3298.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. _____. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 2000. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. _____. Decreto nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que específica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296. htm>. Acesso em: 15 maio 2013. _____. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2009. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 15 maio 2013. _____. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010a. 43 ConheCendo o Aluno Com defiCênCiA físiCA Capítulo 1 _____. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: orientação mobilidade, adequação postural e acessibilidade espacial. Brasília: MEC/SEE, 2010b. CONSELHO NACIONAL DA EDUCAÇÃO. Parecer nº 11 de 3 de abril de 2001. Consulta tendo em vista a Resolução CEE/SC 64/98 e CNE/CEB 01/2000. Relatora: Sylvia Figueiredo Gouvêa. Documenta, Brasília, DF, p. 69, 2001. GIACOMINI, L.; SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. de C. R.. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: orientação e mobilidade, adequação postural e acessibilidade espacial. Ceará: Universidade Federal do Ceará, 2010. 7 v. Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Direcção Geral da Saúde, 2003. RODRIGUES, D. (org). Atividade motora adaptada: a alegria do corpo. São Paulo: Artes Médicas, 2006. SCHIRMER, C. R. et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/aee_df.pdf>. Acesso em: 8 maio 2012. CAPÍTULO 2 PoSSibilidAdeS e eStrAtégiAS PArA inCluSão do Aluno Com defiCiênCiA fíSiCA A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conceituar Tecnologia Assistiva e suas modalidades. 3 Apontar e avaliar a implantação de tecnologias assistivas utilizadas pelo deficiente físico de acordo com suas necessidades. 3 Conceituar Comunicação Aumentativa e Alternativa. 3 Identificar e descrever os principais sistemas de comunicação aumentativa e alternativa. 47 Possibilidades e estratégias Para inclusão do aluno com deficiência física Capítulo 2 ContextuAlizAção No capítulo anterior vimos que existe uma diversidade de tipos e graus de deficiência física e que, dependendo do grau de comprometimento que a deficiência impõe, cada aluno necessita de um apoio/atendimento específico. Buscando incluir o aluno com deficiência física a fim de garantir o seu direito de acessar o conhecimento escolar e interagir com esse ambiente, faz-se necessário criar condições adequadas para que esse aluno possa se locomover e comunicar com conforto e segurança no ambiente escolar. Nesse sentido, as Tecnologias Assistivas podem e devem auxiliar nesse processo de inclusão do aluno com deficiência física nas instituições escolares. Neste capitulo compreenderemos o conceito e as modalidades de TA para, posteriormente, refletir sobre o seu processo de avaliação e implantação no ambiente escolar. Vale lembrar que o principal objetivo do atendimento especializado, sendo que este deve ser realizado preferencialmente em escolas regulares, é fazer com que o aluno tenha um maior grau de autonomia, mobilidade e comunicação. Assim, para alcançar esse objetivo, os profissionais que atuam com esses alunos lançam mão das TAs, sendo esta um auxilio fundamental para propiciar a realização das atividades pelo aluno com deficiência física no processo de aquisição do conhecimento. Após compreender o conceito e conhecer as principais modalidades de TA, vamos abordar especificamente uma área da TA que pode ser utilizada com os alunos que apresentam algum tipo de comprometimentona comunicação oral ou escrita. Estamos falando da Comunicação Aumentativa e Alternativa, área da TA que permite ao aluno participar mais ativamente na construção do conhecimento e interagir com os colegas, professores, enfim, com o ambiente escolar. Finalizamos este capitulo conhecendo os principais sistemas de comunicação Aumentativa e Alternativa. teCnologiA ASSiStivA: ConCeito e modAlidAdeS Quando os educadores proporcionam aos alunos com deficiência física um atendimento especializado, buscando recursos e estratégias que permitem sua inclusão no ambiente escolar, estão proporcionando ao educando com deficiência uma maior qualidade na vida escolar, uma autonomia na realização de suas tarefas e, consequentemente, uma ampliação de suas habilidades e potencialidades. Os professores especializados são os principais responsáveis 48 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física pela garantia de recursos que permitam a esse aluno acessar o conhecimento. A TA é uma expressão utilizada para identificar todas as estratégias, recursos e serviços utilizados nesse processo de inclusão, sendo seu principal objetivo contribuir para a autonomia desse aluno com deficiência. De acordo com Bersch (2006, p. 2 apud BERSCH; MACHADO 2007, p. 27), a Tecnologia Assistiva “deve ser entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função desejada e que se encontra impedida por circunstância da deficiência”. A TA, de acordo com Rita de Cássia Bersch e Mara Lúcia Sartoretto, pode ser conceituada como uma “área do conhecimento e de atuação que desenvolve serviços, recursos e estratégias que auxiliam na resolução de dificuldades funcionais das pessoas com deficiência na realização de suas tarefas” (BERSCH; SARTORETTO, 2010, p. 8). A TA é composta por recursos e serviços, sendo que, de acordo com Bersch e Sartoretto (2010), recursos são os equipamentos utilizados pelos alunos e os serviços são aquelas ações que objetivam resolver os problemas funcionais dos alunos com deficiência no espaço escolar. Quando resolvemos fazer uso das TAs no espaço escolar estamos permitindo que o aluno seja sujeito do seu processo de aprendizagem, estamos valorizando suas potencialidades e estimulando suas habilidades, estamos lidando com diferentes alternativas para a construção do conhecimento, estamos também aprendendo, porque ao fazer uso de TAs estamos constantemente exercitando nossa capacidade de criatividade para encontrar uma estratégia que permita ao aluno com deficiência realizar a atividade proposta de outro jeito. Como já vimos anteriormente, a nova Política de Educação Especial propõe uma abordagem inclusiva, assim, quando esse aluno com deficiência física chega em nossas classes regulares, o professor que atua com o atendimento educacional especializado deve voltar-se para o conhecimento e as necessidades desse aluno, sem perder de vista sua inclusão nesse ambiente. Esse professor provavelmente vai lidar com muitas dúvidas e angústias no momento em que vai identificar, avaliar e registrar as necessidades do aluno com deficiência física. Nesse sentido, Bersch e Sartoretto (2010) propõem um roteiro de perguntas com o objetivo de auxiliar na coleta de dados para selecionar os recursos que serão necessários para esse aluno. Organizamos essas questões em um quadro e apresentamos a seguir: 49 Possibilidades e estratégias Para inclusão do aluno com deficiência física Capítulo 2 Quadro 6 - Roteiro de perguntas para auxiliar na seleção de recursos para o atendimento do aluno com deficiência física • Quem é o aluno? • Quais as principais habilidades manifestadas pelo aluno e/ou relatadas por seus familiares? • Quais as necessidades específicas deste aluno, decorrentes da deficiência ou imposta pelo ambiente escolar? • Como a família pode resolver os problemas decorrentes destas necessidades no ambiente familiar? • Que tipo de atendimento na área da saúde ou educação o aluno já recebe e quais são os profis- sionais envolvidos neste atendimento? • Qual a impressão do professor da escola comum sobre o aluno? • Como está organizado o plano pedagógico do professor comum e quais são os objetivos educa- cionais e as respectivas atividades que ele propõe a sua turma? • Quais são as necessidades relacionadas a recursos pedagógicos ou de acessibilidade apontadas pelos professores para atingir os objetivos propostos para o aluno? • Como é a participação do aluno nas atividades propostas a sua turma da escola comum? Ele partici- pa das atividades integralmente, parcialmente ou não participa? • Quais as barreiras existentes a participação e ao aprendizado do aluno nas tarefas escolares e que poderão ser eliminadas com a utilização de recursos pedagógicos acessíveis? • Quais as condições de acessibilidade física da escola? Há rampas, banheiros adequados, sinalizações, entre outros? • Há auxilio de mobilidade para o aluno, tais como cadeiras de roda simples ou motorizadas, bengalas, corrimões nas escadas, auxilio para transferência de cadeira de rodas? • Os materiais pedagógicos são adequados? Há lápis e canetas ajustadas às condições deste aluno, alfabeto móvel, prancha com letras e palavras, computador, teclados e mouses especiais, acionadores, órtese de mão funcional para a escrita e digitação, ponteiras de boca ou cabeça? Fonte: Bersch e Sartoretto (2010, p. 8-9). A coleta de dados realizada através do roteiro de perguntas proposta pelas autoras é fundamental para que o professor que atua com o atendimento educacional especializado possa elaborar seu planejamento. Durante a elaboração desse planejamento provavelmente o professor vai se deparar com a seleção dos recursos necessários para esse aluno. Assim, é importante avaliar constantemente a utilização desse recurso, de modo que essa avaliação envolva a participação dos profissionais e, principalmente, do aluno que o utiliza. Você sabia que os recursos selecionados pelo professor de atendimento educacional especializado (AEE) podem ser classificados como recursos de alta tecnologia ou baixa tecnologia? 50 Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física Recursos de baixa tecnologia são os que podem ser construídos pelo professor de AEE e disponibilizados ao aluno que os utiliza na sala comum ou nos locais em que tiver necessidade deles. Recursos de alta tecnologia são os adquiridos após a avaliação das necessidades do aluno, sob a indicação do professor de AEE. Fonte: Bersch e Sartoretto (2010, p. 9). A TA é organizada em especialidades ou modalidades, sendo que essa forma de classificação pode variar de acordo com o autor ou com a instituição que faz uso dessa tecnologia. Vamos utilizar neste caderno a classificação apresentada pela autora Bersch (2007) que apresenta as seguintes modalidades: • Auxílio para a vida diária e vida prática; • Comunicação Aumentativa e Alternativa; • Recursos de acessibilidade ao computador; • Adequação postural (posicionamento para a função); • Auxílios de mobilidade; • Sistemas de controle de ambiente; • Projetos arquitetônicos para a acessibilidade; • Recursos para cegos ou para pessoas com visão subnormal; • Recursos para surdos ou pessoas com déficits auditivos; • Adaptações em veículos (BERSCH, 2007 p. 37). A autora ainda afirma, que no AEE o professor, visando proporcionar ao aluno com deficiência física a realização de suas tarefas e a adequação no espaço escolar, pode fazer uso mais especificamente das seguintes modalidades: a) Uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa, para atender as dificuldades dos educandos com dificuldades de fala e escrita; b) Adequação
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