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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS PRODUÇÃO DE MATERIAIS AUTOINSTRUTIVOS PARA A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Autores: Elisabeth Penzlien Tafner Janes Fidélis Tomelin Josias Ricardo Hack Norberto Siegel 371.335 T124p Tafner, Elisabeth Penzlien. Produção de Materiais Autoinstrutivos para a Educação a Distância/ Elisabeth Penzlien Tafner; Janes Fidélis Tomelin; Josias Ricardo Hack [e] Norberto Siegel. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010. x ; 90 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-243-6 1. Educação – Métodos e Materiais I. Centro Universitário Leonardo da. Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Lidiane Goedert Revisão Gramatical: Profa. Marcilda Regina Cunha da Rosa Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Possui graduação em Filosofia, pelas Faculdades Associadas do Ipiranga (1994), especialização em História Social, pela Universidade Severino Sombra, e mestrado em Educação, pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2000). Atualmente, é professor de Filosofia na Faculdade Metropolitana de Blumenau (FAMEBLU) e coordenador do Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI. Também é professor no Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG). Tem experiência na área de Educação, atuando, principalmente, com os temas Educação a Distância e Filosofia. Na EAD, publicou: História Antiga, Filosofia Geral e da Educação e Fundamentos Epistemológicos da Geografia. Janes Fidélis Tomelin Possui graduação em Letras, pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2001), e mestrado em Linguística, pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Atualmente, é professora de Comunicação e Expressão na Faculdade Metropolitana de Blumenau (FAMEBLU). Também é professora no Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG) e em outras instituições de Ensino Superior no Vale do Itajaí. Tem experiência na área de Língua Portuguesa, Produção Textual, Linguística, Linguística Aplicada, Sociolinguística e Metodologia do Trabalho Científico. Na EAD, publicou: Morfologia da Língua Portuguesa, Laboratório de Texto e Metodologia do Trabalho Acadêmico. Faz parte da Equipe Multidisciplinar da UNIASSELVI-Pós. Elisabeth Penzlien Tafner Graduado em História, pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Especialista em Formação de Professores na Modalidade de Educação a Distância, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre e Doutor em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Professor da graduação em Cinema e da pós-graduação em Linguística da disciplina Cinema, na graduação, e Linguística, na pós-graduação, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde também atua como Coordenador de Tutoria e Coordenador de Ambiente Virtual no Curso de Letras- Português na modalidade a distância. Desenvolve atividades voltadas à produção audiovisual e à capacitação de professores e tutores para a educação superior a distância. Suas pesquisas e publicações versam, principalmente, sobre: a) processo comunicacional docente para a midiatização do conhecimento; b) gestão da EAD; c) linguagem audiovisual na EAD. Josias Ricardo Hack Possui graduação em Filosofia, pela Fundação Educacional de Brusque (1990), graduação em Teologia, pelo Instituto Teológico de Santa Catarina (1994), especialização em Filosofia e Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência, pela Fundação Educacional de Brusque (2001), e mestrado em Educação, pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2005). Atualmente, é professor titular no Centro Universitário Leonardo da Vinci e no Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG). Tem experiência na área de Filosofia e Educação, com ênfase em Ética. Na EAD, publicou: Fundamentos da Educação: Temas Transversais e Ética, Filosofia Geral e da Educação e Fundamentos Epistemológicos da Geografia. Faz parte da Equipe Multidisciplinar da UNIASSELVI-Pós. Norberto Siegel Sumário APRESENTAÇÃO .......................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EAD ................... 9 CAPÍTULO 2 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais Impressos .............................................................. 31 CAPÍTULO 3 Linguagem Virtual e Audiovisual na EAD ................................ 61 APRESENTAÇÃO Caro(a) Pós-Graduando(a): As constantes mudanças econômicas e políticas que vivenciamos nos últimos tempos permitiram a uma parcela significativa da população o contato com a educação. Seja pela situação financeira, seja pela distância, muitos sujeitos não tinham como envolver-se com o mundo dos livros, da sala de aula, da interação, enfim da aprendizagem. Hoje, com os programas de incentivo à educação e a ampliação da oferta de vagas, especialmente na educação a distância, muitos brasileiros estão tendo a chance de estudar pela primeira vez ou, em outro extremo, de aprimorar seus conhecimentos. Esta população atendida pelos vários programas de educação a distância espalhados pelo país motivou a atenção do Ministério da Educação e Cultura para a qualidade dos cursos oferecidos. Neste sentido, é que pensamos nesta disciplina. A elaboração de materiais didáticos para cursos a distância exige um planejamento e uma produção específicos, isto é, com características pedagógicas, estruturais e linguísticas atentas a um aluno que, apesar de toda a diversidade em termos de perfil (região, idade, classe social, recursos tecnológicos à disposição), deve ser levado a construir seu conhecimento a partir dos materiais que recebe da instituição à qual está vinculado. Para tanto, esta disciplina tem como objetivo trazer algumas diretrizes em relação à produção de materiais para a EAD, visto que muitos docentes do ensino presencial também estão se tornando docentes na EAD, o que enseja algumas alterações na forma como conduz(imos) nossa metodologia de ensino, como você já deve ter notado nas disciplinas anteriores. A fim de ajudá-lo a preparar materiais para a EAD, nossa caminhada neste caderno inicia com algumas considerações em relação à concepção pedagógica dos cursos e aos referenciais de qualidade propostos pelo MEC. A seguir, você encontrará referenciais linguísticos para a escrita do material didático impresso e, no último capítulo, características da linguagem para o planejamento e a produção de ambientes virtuais e produtos audiovisuais na EAD. CAPÍTULO 1 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EAD A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Analisar algumas concepções pedagógicas que estão presentes na educação a distância e que são inerentesao processo de produção de materiais autoinstrutivos. 9 Apresentar os referenciais de qualidade para a produção de materiais didáticos na EAD. Janes Fidélis Tomelin e Norberto Siegel 10 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância 11 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Contextualização Ao escolher o curso Gestão e Tutoria na Educação a Distância, provavelmente você analisou algumas possibilidades profissionais a partir de suas preferências, habilidades e competências. É uma escolha de interesse no desenvolvimento pessoal e profissional. Para tal, você considerou o contexto atual da educação e suas tendências futuras a partir de uma compreensão histórica. Neste sentido, abriremos a discussão deste capítulo com o propósito de analisar os modelos de nossa formação escolar e pensar as possibilidades e modelos para a EAD. Ainda neste sentido, vamos trocar algumas ideias sobre as influências, os fundamentos pedagógicos para a produção de materiais na EAD, as necessidades específicas para a elaboração de materiais instrutivos, a capacitação dos envolvidos e os referenciais de qualidade na elaboração de materiais didáticos. Fundamentos Pedagógicos para a Produção de Materiais na EAD Nesta seção, abordaremos algumas concepções pedagógicas que estão muito presentes na educação presencial e que são transpostas para a educação a distância. Isto não que dizer que seja um erro, mas que deve haver alguns cuidados para não transpor teorias que não condigam com a prática pedagógica na EAD. Por outro lado, também podemos afirmar que algumas teorias que não se efetivam na prática pedagógica presencial podem se potencializar no processo educativo da EAD. O que pretendemos discutir é a questão da concepção pedagógica que está presente em um projeto de curso, na escrita de algum material, enfim, no desenvolvimento e fundamento de toda estrutura de um curso na modalidade a distância. A elaboração de um material autoinstrutivo para a EAD segue, no mínimo, a concepção política e pedagógica da instituição e do professor envolvido. Isto fica evidente na linguagem utilizada nos textos para EAD e na maneira de dispor uma ferramenta tecnológica, ou seja, O desafio de uma práxis emancipadora, mediada por linguagens e tecnologias, exige atenção e vigilância no desenvolvimento de políticas de democratização das oportunidades educacionais. A despeito das dificuldades que permeiam a ação dos sujeitos, ora como restrições físicas, sociais, econômicas, legais e psicológicas que os afetam continuamente, ora como mecanismos internos que influenciam a tomada de decisão, como expectativas, crenças, 12 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância motivos, sabemos que os valores aqui assumidos direcionam o nosso pensar, conhecer, atuar e realizar. (FIORENTINI, 2003, p. 9). A partir das reflexões de Fiorentini, você pode analisar o seguinte: a ação dos atores envolvidos na gestão e produção de materiais autoinstrutivos na EAD está permeada de intencionalidades, vontades, expectativas e concepções. Desta forma, o empenho de cada ator é proporcional à sua vontade e clareza política e pedagógica. Pense no seguinte: com que empenho trabalhará o professor que não “acredita” na EAD? Que estilo terá o texto de um professor com concepção mecanicista? Vamos refrescar um pouco a memória: concepção mecanicista refere-se ao tipo de doutrina que afirma que toda realidade natural tem uma estrutura comparável à de uma máquina e que segue modelos mecânicos. Esta reflexão permite perceber que o contexto sociocultural, os modelos de ensino e aprendizagem formam a competência comunicativa do professor e dos demais profissionais da EAD. O modo como os professores selecionam os conteúdos, a forma como o apresentam e a metodologia que aplicam são originários dos modelos vivenciados na formação escolar e construídos no exercício da docência. O que queremos dizer, em síntese, é que, na EAD, há um modelo convencional de tradição expositivo-descritiva que torna o processo comunicativo demasiado informativo, arbitrário, técnico e unidirecional. O que esperamos, na EAD, é a superação deste modelo convencional para que promovamos um processo educativo instigante, a partir de uma comunicação dialógica, interdiscursiva e bidirecional. No capítulo 2, exploraremos, detalhadamente, o estilo dialógico e bidirecional que desejamos nos materiais para a educação a distância. O que esperamos, na EAD, é a superação deste modelo convencional para que promovamos um processo educativo instigante, a partir de uma comunicação dialógica, interdiscursiva e bidirecional. 13 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Afinal, do outro lado do texto e dos materiais autoinstrutivos, está o aluno que reescreve o texto a partir de seus modelos e concepções. Nas relações sociais entre professores e alunos, dá-se uma síntese dialética entre a linguagem do educador e a linguagem do educando, como momentos de um processo educativo, num contexto socioculturalmente dado, cuja compreensão requer considerar sua natureza intersubjetiva, a participação ativa e a influência decorrente da competência comunicativa de seus participantes. (FIORENTINI, 2003, p. 15). O desafio, portanto, está em desenvolver textos e materiais flexíveis, abertos e hipertextuais, que permitam uma participação ativa dos diferentes atores do processo, que garantam uma aprendizagem cooperativa e que contem com uma inteligência coletiva. Objetivos Pedagógicos da EAD Quando preparamos uma aula, escrevemos um texto para a EAD, gravamos uma vídeoaula ou realizamos uma webconferência, cumprimos alguns objetivos implícitos no processo educativo. Quais seriam eles? Atividade de Estudos: Para pensar e registrar... Antes de continuar sua leitura, registre aqui sua resposta para a seguinte pergunta: quais os objetivos pedagógicos implícitos na elaboração de materiais autoinstrutivos da EAD? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ O desafio, portanto, está em desenvolver textos e materiais flexíveis, abertos e hipertextuais, que permitam uma participação ativa dos diferentes atores do processo, que garantam uma aprendizagem cooperativa e que contem com uma inteligência coletiva. 14 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância De forma geral, consideramos que dois objetivos são imprescindíveis e, muito provavelmente, sua resposta está relacionada com eles. São eles: • gerar conhecimento; • desenvolver competências. Para melhor fundamentar esta reflexão, trataremos destes objetivos separadamente para, assim, identificar sua intricada relação. a) Gerar Conhecimento Para tratar deste objetivo, precisamos nos fazer algumas perguntas: posso gerar conhecimento no outro? Posso presentear as pessoas com conhecimento? O conhecimento pode ser transferido? O professor pode transmitir seu conhecimento aos alunos? Para dar continuidade à nossa reflexão, consideremos o pensamento que segue: O conhecimento implica informação interiorizada e adequadamente integrada nas estruturas cognitivas de um sujeito. É algo pessoal e intransferível: não podemos transmitir conhecimentos,só informação, que pode (ou não) ser convertida em conhecimento pelo receptor, em função de diversos fatores (os conhecimentos prévios do sujeito, a adequação da informação, sua estruturação etc.). (ADELL apud FIORENTINI, 2003, p.17). Assim, notamos que o autor diferencia informação e conhecimento. Na concepção convencional, não fazemos muita diferença e, desta forma, entendemos que a retenção mecânica de uma informação já é conhecimento. De acordo com esta concepção, educar é informar. Contudo, você percebeu que não é o que está dito na citação, pois o autor nos adverte de que a informação pode ou não converter-se em conhecimento. A partir desta dúvida, perguntamos: quando uma informação gera conhecimento? Ou mais especificamente: quando um material autoinstrutivo da EAD gera conhecimento? Para esta resposta, uma consideração: todo material autoinstrutivo da EAD é organizado a partir de um conjunto de informações de uma dada área. A diferença está na metodologia com que é apresentado ao estudante e no consequente resultado, o aprendizado. A metodologia com que é apresentada a informação deve torná- la flexível, reflexiva, inquietante, dialógica, bidirecional, hipertextual, aberta. É uma metodologia que orienta o professor-autor a escapar Todo material autoinstrutivo da EAD é organizado a partir de um conjunto de informações de uma dada área. A diferença está na metodologia com que é apresentado ao estudante e no consequente resultado, o aprendizado. 15 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 das “armadilhas” do modelo prescritivo, formado por um amontoado de receitas, normas e padrões. Atenção: você conhecerá mais sobre esta metodologia nos próximos capítulos. Quanto ao resultado, o aprendizado, vale lembrar que ele pode ser apenas um acúmulo de informação (memória mecânica) como pode ser conhecimento. Neste contexto, Morin (2003, p. 24) nos adverte de que “uma cabeça bem- feita é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com isso, evitar sua acumulação estéril”. Vamos aprofundar esta reflexão? Acompanhe a seguinte ideia: O crescimento ininterrupto dos conhecimentos constrói uma gigantesca torre de Babel, que murmura linguagens discordantes. A torre nos domina porque não podemos dominar nossos conhecimentos. T. S. Eliot dizia: ‘Onde está o conhecimento que perdemos na informação?’ O conhecimento só é conhecimento enquanto organização, relacionado com as informações e inserido no contexto destas. As informações constituem parcelas dispersas de saber. Em toda parte, nas ciências como nas mídias, estamos afogados em informações. O especialista da disciplina mais restrita não chega sequer a tomar conhecimento das informações concernentes a sua área. Cada vez mais, a gigantesca proliferação de conhecimentos escapa ao controle humano. Além disso, como já dissemos, os conhecimentos fragmentados só servem para usos técnicos. Não conseguem conjugar-se para alimentar um pensamento capaz de considerar a situação humana no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios de nossa época. Não conseguimos integrar nossos conhecimentos para a condução de nossas vidas. (MORIN, 2003, p. 16-17). Neste sentido, é importante lembrar ao professor-autor e aos demais envolvidos no processo de construção de materiais autoinstrutivos que, do outro lado, está o aluno; que a informação que chega até ele se potencializa com seus conhecimentos prévios e que se organiza como conhecimento à medida que se integra ao que é significativo em seu contexto. Desta forma, o conhecimento se constitui como tradução e reconstrução do cotidiano permitindo teses, análises, antíteses e sínteses. 16 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Para início de conversa, é bom lembrarmos que os materiais mais comuns na EAD são: cadernos de estudo, hipertextos, conteúdos em apostilas digitalizadas, videoaulas, webconferências, videoconferências, audioconferências, programas de televisão e programas de rádio. b) Desenvolver Competências O que são competências e como desenvolvê-las? Qual a relação entre conhecimento e competência? Na dimensão anterior tratamos do desafio que é gerar conhecimento e discutimos sobre a necessidade de mudança do paradigma tradicional que se sustenta no acúmulo de informações. Agora vamos abordar a dimensão do desenvolvimento das competências. Veremos que, para desenvolver competências, é preciso gerar conhecimento. Conhecimento e competência são as duas faces de uma mesma moeda. Desenvolver competências implica desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes, ou seja, exige um saber, um saber fazer e um saber conviver. Desta forma, o processo educativo se volta para o desenvolvimento da capacidade de reconhecer um problema, tomar decisões, encontrar soluções e intervir. Um exemplo clássico é o do aluno que acabou de sair de uma aula de ecologia e preservação ambiental e joga o plástico da bala no chão. Neste caso, ele recebeu várias informações sobre os problemas ambientais, mas não formou um conhecimento autêntico e não desenvolveu uma atitude favorável ao que acabou de ouvir. Neste sentido: a pedagogia da competência assume duas dimensões: uma psicológica, em que a noção de competência é apropriada sob a ótica das teorias psicológicas da aprendizagem; outra sócioeconômica, pela qual essa noção adquire um significado no âmbito das relações sociais de produção. (RAMOS, 2001, p. 35). 17 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Para que você tire suas próprias conclusões sobre esta dimensão, leia a seguir o caso da professora Judith. O que são competências? O caso da professora Judith Antunes conta que um dia, ao entrar na sala, a professora de Geografia foi questionada pelos alunos sobre o significado da palavra restinga. Ao invés de responder, ela os instigou a procurar o significado da palavra de duas maneiras distintas: pelo dicionário tradicional e pelo geológico. Em seguida, disse a eles que criassem definições para restinga sem repetir os termos utilizados nos livros, incentivando-os a aprender o significado daquele e de outros termos da Geografia sem utilizar o velho método da `decoreba´, mas, sim, recorrendo a recursos como a memória, capacidade de associação, entre outras competências. Antunes conta que, na época, considerou esta uma estratégia da professora para fugir de perguntas cujo significado desconhecia. Ao final da aula, foi até a mestre e lhe disse: “professora, fiquei decepcionado pois a senhora não responde às perguntas de seus alunos”. Em contrapartida, ouviu a seguinte resposta de uma professora muito segura de si: “Respondo sim, Celso. Só não me atrevo a dizer aquelas que eles podem descobrir sozinhos”. O educador, no entanto, conta que, mesmo após a brilhante justificativa da professora, passou anos acreditando que ela se negava a responder os questionamentos por pura ignorância, sem imaginar que aquela poderia ser sua técnica de fugir à mesmice e fazê-los aprender de forma inovadora. Fonte: BURGARDT, Lilian. Desenvolvendo Competências: novos métodos de apredizagem ganham espaço no desenvolvimento das competências dos alunos. Disponível em: <http://www.universia.com. br/docente/materia.jsp?materia=7829>. Acesso em: 8 dez. 2009. Muito bem! Como você está acompanhando, estes fundamentos são considerações que nos ajudam a pensar o processo de produção de materiais em sua totalidade. Como dizemos no cotidiano, “ninguém nasce sabendo”. É no processo de mediação com o mundo e com os outros que nos fazemos e descobrimos o mundo. Neste sentido, agora discutiremos,brevemente, sobre a necessidade de capacitação do professor para a produção de materiais para a EAD. 18 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Capacitação Na EAD, um dos maiores desafios é encontrar profissionais com perfil para o desenvolvimento de materiais autoinstrutivos. Neste sentido, a seleção desses profissionais precisa ser feita com alguns cuidados: • um professor que faz “sucesso” na sala de aula nem sempre é um bom escritor; • um professor que tem muitos artigos publicados pode ter dificuldade em escrever, de forma dialógica e bidirecional, um material autoinstrutivo para a EAD; • uma pessoa muito comunicativa na relação com as pessoas pode ter dificuldade para se expressar diante das câmeras. Você lembra que o caderno de Tutoria na Educação a Distância também já abordou o aspecto de que nem sempre um professor do presencial tem o mesmo desempenho na EAD? Perceba, então, como é delicada a tarefa de elaborar os materiais para a EAD. Enfim, em cada profissional, encontraremos diferentes competências e habilidades. Porém, é importante lembrar que, independentemente deste aspecto, é indispensável capacitar toda a equipe de trabalho: do professor ao diagramador. Pequenas dificuldades podem ser superadas e grandes problemas podem ser previstos e solucionados. Desta forma, a capacitação é um fator crítico para a garantia do sucesso de qualquer programa de Educação a Distância. Para Belloni (2001), a capacitação dos profissionais da EAD, em especial os professores, deve comportar três grandes dimensões: pedagógica, tecnológica e didática. Dimensões que podem ser conhecidas na docência presencial, mas que tomam novas nuances na docência a distância. Neste sentido, a autora afirma que: Para fazer frente a esta nova situação, o professor terá necessidade muito acentuada de atualização constante, tanto em sua disciplina específica, quanto em relação às metodologias de ensino e novas tecnologias. A redefinição do papel do professor é crucial para o sucesso dos processos educacionais presenciais ou a distância. Sua atuação tenderá a passar do monólogo sábio da sala de aula para o diálogo dinâmico dos laboratórios, salas de meios, e-mail, telefone e outros meios 19 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 de interação mediatizada; do monopólio do saber à construção coletiva do conhecimento, através da pesquisa; do isolamento individual aos trabalhos em equipes interdisciplinares e complexas; da autoridade à parceria no processo de educação para cidadania. (BELLONI, 2001, p. 82-83). Quando você fez a disciplina Tutoria na Educação a Distância, o capítulo 2 do caderno de estudos trouxe uma abordagem mais completa acerca das dimensões pedagógica, tecnológica e didática. Capacitar os professores para este novo perfil de docência é crucial para o sucesso educacional na EAD. Neste contexto, é importante que o gestor se pergunte: quais são as necessidades pedagógicas, tecnológicas e didáticas dos docentes da instituição para desenvolverem um trabalho de qualidade na EAD? Para ampliar esta reflexão, trataremos, agora, dos referenciais de qualidade para a EAD. Referenciais de Qualidade na Elaboração de Materiais Didáticos Provavelmente, você já ouviu algumas destas indagações ou pensou sobre elas: queremos uma educação de qualidade, melhoria na qualidade do sistema de ensino, professores de qualidade, material didático de boa qualidade, qualidade total, entre tantas outras. Mas, afinal, o que significam estas expressões? O que é qualidade? Como é uma instituição que tem uma boa qualidade no ensino a distância? Quais os critérios para avaliar a qualidade de uma instituição ou de um material didático? Não existe somente uma resposta para estas questões. As definições de qualidade estão sujeitas à influência de muitos fatores. Assim, as tradições de uma determinada cultura, o contexto histórico, social e econômico do país, os valores nos quais as pessoas acreditam e os programas políticos do governo são fatores que interferem no referencial de qualidade. As definições de qualidade estão sujeitas à influência de muitos fatores. Assim, as tradições de uma determinada cultura, o contexto histórico, social e econômico do país, os valores nos quais as pessoas acreditam e os programas políticos do governo são fatores que interferem no referencial de qualidade. 20 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Sendo assim, a qualidade pode ser compreendida de diferentes formas, conforme os fatores que acabamos de enumerar. Neste sentido, o processo de definir ou avaliar a qualidade de uma instituição educativa ou de um material didático deve ser participativo e envolver toda a comunidade, e não só alguns grupos. Atualmente, existe um amplo debate sobre o que é qualidade. Nesta seção, discutiremos o que é qualidade e, posteriormente, identificaremos os critérios de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para a produção de materiais didáticos. a) O que é Qualidade? Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação a Distância (AbraEAD) de 2008, um em cada 73 brasileiros estuda na modalidade a distância, ou seja, mais de 2 milhões e 500 mil alunos estudam nesta modalidade de ensino. Tabela 1 – Número de brasileiros em cursos de Educação a Distância em 2008 Projeto ou pesquisa Nº de alunos Instituições credenciadas (AbraEAD/2008) 972.826 Educação corporativa (AbraEAD/2008) 582.985 Senai * 53.304 Sebrae 218.575 Senac 29.000 CIEE 148.199 Fundação Bradesco 164.866 OI Futuro 175.398 Secretaria de Educação a Distância do MEC** 8.552 Governo do Estado de São Paulo 119.225 Fundação Telefônica 9.000 Fundação Roberto Marinho*** 22.553 TOTAL 2.504.483 Fonte: Adaptado de AbraEAD (2008, p. 15). Você notou os asteriscos na tabela 1? Eles sempre trazem dados que ajudam a entender melhor os números da tabela. Veja: * Exclui alunos em cursos autorizados oficialmente. ** Exclui o projeto Mídias na Educação (20 mil alunos), já informado pelas instituições credenciadas. *** Exclui alunos do Telecurso 2000. 21 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Diante do crescimento da EAD no Brasil, surge a seguinte pergunta: como está a qualidade dos cursos na modalidade a distância? Para responder a esta questão, recorremos à história. A expressão qualidade teve sua origem no meio produtivo e passou por três grandes fases: era da inspeção, era do controle estatístico e era da qualidade total. Veja como Oliveira (2004, p. 4) apresenta cada uma destas fases: Na era da inspeção, o produto era verificado (inspecionado) pelo produtor e pelo cliente, o que ocorreu pouco antes da Revolução Industrial, período em que atingiu seu auge. Os principais responsáveis pela inspeção eram os próprios ‘artesãos’. Nessa época, o foco principal estava na detecção de eventuais defeitos de fabricação, sem haver metodologia preestabelecida para executá-la. Na era seguinte (controle estatístico), o controle da inspeção foi aprimorado por meio da utilização de técnicas estatísticas. Em função do crescimento da demanda mundial por produtos manufaturados, inviabilizou-se a execução da inspeção produto a produto, como na era anterior, e a técnica da amostragem passou a ser utilizada. Nesse novo sistema, que obedecia a cálculos estatísticos, certo número de produtos era selecionado aleatoriamente para ser inspecionado, de forma que representasse todo o grupo e, a partir deles, verificava-se a qualidade de todo olote. [...] Na era da qualidade total, na qual se enquadra o período em que estamos vivendo, a ênfase passa a ser o cliente, tornando- se o centro das atenções das organizações que dirigem seus esforços para satisfazer às suas necessidades e expectativas. A principal característica dessa era é que ‘toda a empresa passa a ser responsável pela garantia da qualidade dos produtos e serviços’ – todos os funcionários e todos os setores. Em síntese, essas três grandes fases da evolução da qualidade podem ser representadas na figura 1. Figura 1 – Eras da qualidade Fonte: Maximiano (2000 apud OLIVEIRA, 2004, p. 5). ERA DA QUALIDADE TOTAL - Processo produtivo é controlado. - Toda empresa é responsável. - Ênfase na prevenção de defeitos. - Qualidade assegurada. ERA DA INSPEÇÃO - Produtos são verificados um a um. - Cliente participa da inspeção. - Inspeção encontra defeitos, mas não produz qualidade. ERA DO CONTROLE ESTATÍSTICO - Produtos são verificados por amostragem. - Departamento especializado faz inspeção da qualidade. - Ênfase na localização de defeitos. 22 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Como podemos notar, a noção de qualidade teve diferentes sentidos ao longo de suas principais fases. Além disso, cada setor – seja ele produtivo ou não – estabeleceu princípios ou parâmetros de análise que podem variar entre as organizações e as instituições. Trata-se de um termo cada vez mais presente em nosso dia-a-dia: em conferências, propagandas, jornais, TV, empresas, instituições de ensino, desde em um produto que possui um selo de qualidade até nos serviços ofertados. Mas, qual é o significado da palavra qualidade? Ao pesquisar o sentido da palavra qualidade em diferentes autores, encontramos diversas respostas, tais como: • Qualidade é “estabelecer critérios permanentes e revelar uma base de conhecimento inquestionável [que tem] se mostrado inatingível”. (SCHWANDT, 1996 apud DAHLBERG; MOSS; PENCE, 2003, p. 138). • “Qualidade Total é uma filosofia que vem sendo adotada atualmente em diferentes organizações, no sentido de incorporar nas pessoas e na própria organização uma postura de melhoria contínua.” (DRÜGG; ORTIZ, 1994, p.13). • No mundo do ensino: [...] a busca da qualidade se refere à passagem das melhorias quantitativas, às qualitativas. Não apenas mais, mas melhores professores, materiais e equipamentos escolares, ou horas de aula, por exemplo. Mas a palavra de ordem da qualidade encerra também um segundo significado: não o melhor [...] para todos mas para uns poucos e igual ou pior para os demais. (ENGUITA, 1996, p.107). Como podemos perceber nos parágrafos anteriores, não há apenas um conceito para a palavra qualidade, mas diferentes maneiras de compreendê-la, dependendo da situação e do momento de análise. b) Indicadores de Qualidade para a EAD Na educação, a questão da qualidade está atrelada às determinações do MEC, que orienta, regula e legisla sobre o seu funcionamento no Brasil. Como a EAD se desenvolveu muito nestes últimos anos, o MEC publicou, em agosto de 2007, os “Referenciais de qualidade para a Educação Superior a Distância”, em que define diretrizes, princípios e critérios para autorizar novos cursos ou para avaliar a qualidade dos cursos que são ofertados no Brasil. O objetivo do MEC em estabelecer os indicadores de qualidade para a EAD é “orientar alunos, professores, técnicos e gestores de instituições de ensino superior”. (FRAGALE FILHO, 2003, p.120). O objetivo do MEC em estabelecer os indicadores de qualidade para a EAD é “orientar alunos, professores, técnicos e gestores de instituições de ensino superior”. (FRAGALE FILHO, 2003, p.120). 23 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Se você quiser aprofundar seus estudos sobre os indicadores de qualidade para EAD, leia: FRAGALE FILHO, Roberto. Educação a distância: análise dos parâmetros legais e normativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. Embora os indicadores de qualidade não tenham força de lei, são “um referencial norteador para subsidiar atos legais do poder público no que se refere aos processos específicos de regulação, supervisão e avaliação da modalidade citada”. (BRASIL, 2007, p. 2). Geralmente, a qualidade de um programa de graduação ou pós-graduação a distância é avaliada pela estrutura da instituição, pelos estudantes, pelo grau de formação dos professores, pelo material didático, pela estrutura tecnológica, pelos serviços de apoio. Enfim, pela organização de toda a instituição. A seguir, apresentamos os itens que compõem o referencial de qualidade para os cursos na modalidade a distância. São eles: (i) Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; (ii) Sistemas de comunicação; (iii) Material didático; (iv) Avaliação; (v) Equipe multidisciplinar; (vi) Infra-estrutura de apoio; (vii) Gestão acadêmico-administrativa; (viii) Sustentabilidade financeira. (BRASIL, 2007, p. 8). Os itens citados não são entes isolados, mas se integram e se desdobram em outros subtópicos. Nosso objetivo não é apresentar cada um dos tópicos, mas fomentar a curiosidade de pesquisa e de estudo sobre os principais elementos que compõem o referencial. Nossa atenção, neste caderno de estudos, se volta para a produção de materiais que é o ponto de destaque. Por isto, a partir de agora, queremos destacar as orientações deste documento para a elaboração de materiais didáticos para a EAD. Geralmente, os textos impressos utilizados em sala de aula presencial se constituem de artigos ou capítulos de livros que são organizados pelo professor responsável por administrar a disciplina durante o semestre. Já nos cursos ofertados na modalidade a distância, o material didático “[...] deve estar concebido de acordo com os princípios epistemológicos, metodológicos e políticos explicitados no projeto pedagógico, de modo a facilitar a construção do conhecimento e mediar a interlocução entre estudante e professor [...]. (BRASIL, 2007, p. 13). 24 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Com o propósito de assegurar a qualidade do material didático, o MEC estabeleceu algumas orientações que ajudam as instituições a desenvolverem suas políticas e ações, as quais consideramos importante destacar. De acordo com o MEC (BRASIL, 2007, p. 15-16), o material didático deve: • com especial atenção, cobrir de forma sistemática e organizada o conteúdo preconizado pelas diretrizes pedagógicas, segundo documentação do MEC, para cada área do conhecimento, com atualização permanente; • ser estruturado em linguagem dialógica, de modo a promover autonomia do estudante desenvolvendo sua capacidade para aprender e controlar o próprio desenvolvimento; • prever [...] um módulo introdutório - obrigatório ou facultativo - que leve ao domínio de conhecimentos e habilidades básicos, referentes à tecnologia utilizada e também forneça para o estudante uma visão geral da metodologia em educação a distância a ser utilizada no curso, tendo em vista ajudar seu planejamento inicial de estudos e em favor da construção de sua autonomia; • detalhar que competências cognitivas, habilidades e atitudes o estudante deverá alcançar ao fim de cada unidade, módulo, disciplina, oferecendo-lhe oportunidades sistemáticas de auto- avaliação; • dispor de esquemas alternativos para atendimento de estudantes com deficiência; • indicar bibliografia e sites complementares, de maneira a incentivar o aprofundamento e complementação da aprendizagem. Você deve ter notado que uma das orientações do MEC se refere a um módulo introdutório. Certo? Foi assim que vocêcomeçou a fazer sua pós-graduação: conhecendo, ao cursar a disciplina Educação a Distância e Métodos de Autoaprendizado, o funcionamento do Programa de Pós-Graduação a Distância da UNIASSELVI e seus pressupostos. Estes são alguns dos indicadores que ajudam a avaliar e revelam a qualidade de um bom material didático segundo as determinações do MEC. Os materiais Nos cursos ofertados na modalidade a distância, o material didático “[...] deve estar concebido de acordo com os princípios epistemológicos, metodológicos e políticos explicitados no projeto pedagógico, de modo a facilitar a construção do conhecimento e mediar a interlocução entre estudante e professor [...]. (BRASIL, 2007, p. 13). 25 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 didáticos têm um papel determinante na qualidade de um curso ou de um programa de educação a distância, pois são fontes de estudos aos estudantes. Geralmente, os melhores materiais são aqueles que possuem as seguintes características: metodologia apropriada, coerência com o Projeto Político-Pedagógico do curso e qualidade de conteúdo. A incorporação destas características nas revisões dos materiais didáticos garante a qualidade dos recursos de aprendizagem e a eficácia no ensino a distância. Atualmente, existem algumas produções sobre a elaboração de materiais didáticos. Como sugestão, pesquise os sites indicados a seguir: • Referenciais para elaboração de material didático para EAD no ensino profissional e tecnológico: http://www.etecbrasil.mec.gov.br/gCon/recursos/upload/file/ref_ materialdidatico.pdf • Elaboração de material didático impresso para EAD: orientações aos autores http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/ 1552009214304.pdf A Produção de Material Didático é um Trabalho em Equipe Até aqui, discutimos os critérios de qualidade na elaboração do material didático para a EAD. Agora, nossa atenção se volta para a composição da equipe de produção e sistematização do material didático. Para iniciarmos nossas discussões sobre a formação da equipe de produção de material didático, queremos destacar a importância da formação de uma equipe que pensa todo o processo de ensino e aprendizagem em EAD. Moreira (2009, p. 370) afirma que: Embora utilize como lócus do processo de ensino e aprendizagem diferentes ambientes ou tempos, a EAD é praticada por uma equipe de Os melhores materiais são aqueles que possuem as seguintes características: metodologia apropriada, coerência com o Projeto Político- Pedagógico do curso e qualidade de conteúdo. A EAD é praticada por uma equipe de atores envolvidos em sua concepção, em seu planejamento, em sua implementação, em seu processo de mediação pedagógica, nos mecanismos de avaliação adotados e nas inter-relações dos mais diversos papéis. 26 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância atores envolvidos em sua concepção, em seu planejamento, em sua implementação, em seu processo de mediação pedagógica, nos mecanismos de avaliação adotados e nas inter-relações dos mais diversos papéis. A partir da citação de Moreira, é possível perceber que a educação a distância envolve várias pessoas (atores) que formam um todo organizado. Para compreender a composição da equipe de produção de material didático, convém identificar alguns aspectos históricos que marcaram o seu desenvolvimento nestes últimos anos. Resumidamente, Moreira (2009, p. 371) apresenta a história do desenvolvimento dos materiais didáticos, seguindo as gerações por que passou a EAD. A primeira geração de EAD foi marcada pelo ensino por correspondência, com a produção e distribuição de materiais impressos. A segunda geração, cujos projetos envolviam principalmente o uso de diferentes tecnologias, como o rádio, a TV, a teleconferência e o videotape, demandavam um processo de produção mais complexo, com o envolvimento de profissionais com diferentes competências. A terceira geração envolveu o uso das redes de computadores, as videoconferências e CD-ROOM. Foi marcada pelo desenvolvimento de programas de computadores e softwares educacionais. A quarta geração, a atual, considera o início do uso mais intensivo da Internet [...] relacionada à composição e funcionamento de equipes. Como vocês puderam perceber, ao longo de cada uma das gerações, o processo de produção de materiais foi se tornando mais complexo, pois envolvia mais tecnologia e pessoas especializadas para desenvolvê-la em cada uma das suas etapas. Fica evidente que, com o passar das gerações, a ideia de equipe se acentuou. Por isso, queremos destacar não só a equipe de produção, mas as principais equipes que estão envolvidas, direta ou indiretamente, na produção do material didático e suas competências profissionais: equipe de autores, equipe pedagógica, equipe de design instrucional, equipe de arte, equipe de tutores, entre outras. A seguir, apresentamos as competências profissionais destas equipes. 27 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 Quadro 1 – Competências profissionais das equipes: de autores, pedagógica, de design instrucional, de arte e de tutores Equipe de arte Equipe de tutores É composta por profissionais que participam de todas as etapas de desenvolvimento de materiais para EAD. É a responsável pela direção de arte, desenho gráfico, animações, ilustrações, entre outras atividades. O professor tutor é o profissional que acompanha a turma de alunos durante o período da atividade. Cabe ao tutor criar situações interativas de aprendizagem, animar as inteligências coletivas, orientar as discussões, amenizar conflitos, entre outros. A participação do tutor na equipe de produção pode contribuir, em grande parte, para a apropriação das estratégias de aprendizagem e contextualização dos materiais. PROFISSIONAIS COMPETÊNCIAS Equipe de autores Equipe pedagógica Equipe de design instrucional É constituída por profissionais que desenvolvem os conteúdos, selecionam e reúnem os materiais, organizam e propõem dinâmicas e recursos pedagógicos a serem desenvolvidos. Em algumas instituições, os autores são chamados de mentores ou conteudistas. Geralmente, os autores são professores universitários e possuem uma formação específica na área em que atuam. É composta por especialistas em EAD e assume diferentes papéis, tais como: - Coordenar os subsistemas de concepção, produção e avaliação dos cursos nos processos de ensino e aprendizagem. - Desenvolver pesquisas que permitam o conhecimento da realidade dos cursos. - Promover discussões pedagógicas para que tenham funções educativas. - Formar e acompanhar os tutores. - Dinamizar a comunicação interativa entre os tutores e os cursistas. - Assessorar a redação, a seleção e a compilação de materiais didáticos para os cursos. Em geral, é formada por profissionais com perfil interdisciplinar, em especial nas áreas de educação, comunicação e tecnologia. Em geral, desenvolve as seguintes atividades: - Levantamento do perfil dos usuários. - Conversão ou adaptação dos conteúdos em materiais impressos ou digitais. - Definição de estratégias pedagógicas, como organização e distribuição dos conteúdos. - Colaboração com a autoria na programação de estratégias de aprendizagem e avaliações. Fonte: Adaptado de Moreira (2009, p. 373). 28 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância A produção do material didático é um trabalho de equipe. Além dos profissionais apontados por Moreira (2009), no Programa de Pós- Graduação da UNIASSELVI,também há o revisor de conteúdo, o revisor ortogramatical, os monitores e os alunos que contribuem, direta ou indiretamente, para a elaboração do material didático. A interação do professor-autor com toda a equipe de produção possibilita “sua familiarização com o desenho pedagógico do curso para o qual produz material didático” (SARTORI; ROESLER, 2005, p. 72). Por fim, a finalidade de todos esses profissionais envolvidos no processo de elaboração do material didático é garantir os critérios de qualidade comentados anteriormente e corroborar o processo de ensino e aprendizagem. Atividade de Estudos: 1) A partir do estudo deste capítulo, defina qualidade. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Apresente cinco referenciais de qualidade que você considera essenciais saber para a produção de materiais. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 29 Fundamentos Pedagógicos e Referenciais de Qualidade para a Produção de Materiais na EADCapítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Se você quiser saber mais sobre a produção de materiais didáticos ou conhecer mais sobre EAD, consulte o livro de: LITTO, Fredric Michael; FORMIGA, Manuel Marcos Maciel (Org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. Algumas Considerações As instituições de ensino que oferecem cursos de educação a distância, estudantes ou profissionais da área da educação precisam estar atentos a alguns aspectos que procuramos destacar neste capítulo e que consideramos essencial relembrar, tais como: a concepção pedagógica do curso estar em sintonia com a escrita do material didático; os referenciais de qualidade estabelecidos pelo MEC para a produção de materiais didáticos para os cursos a distância; a necessidade de formação de uma equipe de produção de materiais didático na instituição. No próximo capítulo, trataremos, especificamente, da produção de materiais impressos na EAD e do estilo redacional desses materiais. Referências ABRAEAD. AbraEAD2008: Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. Coordenação: Fábio Sanchez. 4. ed. São Paulo: Instituto Monitor, 2008. Disponível em: <http://www.abraead.com.br/anuario/anuario_2008.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2009. 30 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1. pdf>. Acesso em: 15 ago. 2009. DAHLBERG, Gunilla; MOSS, Peter; PENCE, Alan. Qualidade na educação da primeira infância: perspectivas pós-modernas. Porto Alegre: Artmed, 2003. DRÜGG, Kátia Issa; ORTIZ, Dayse Domene. O desafio da educação: a qualidade total. São Paulo: Makron Books, 1994. ENGUITA, Mariano Fernández. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: GENTILI, Pablo A. A.; SILVA, Tomaz Tadeu da. Neoliberalismo, qualidade total e educação. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 93-110. FIORENTINI, Leda Maria Rangearo. A perspectiva dialógica nos textos educativos escritos. In: FIORENTINI, Rangearo; MORAES, Raquel de Almeida (Orgs.). Linguagens e identidade na educação a distância. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 15 – 50. FRAGALE FILHO, Roberto. Educação a distância: análise dos parâmetros legais e normativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. MOREIRA, Maria da Graça. A composição e o funcionamento da equipe de produção. In: LITTO, Fredric Michael; FORMIGA, Manuel Marcos Maciel (Org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. p. 370-378. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. OLIVEIRA, Otávio José de. Gestão da Qualidade: Introdução à História e fundamentos. In: OLIVEIRA, Otávio José de. (Org.). Gestão da qualidade: tópicos avançados. São Paulo: Thonsom Learning, 2004. p. 3-20. RAMOS, Marise. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? São Paulo: Cortez, 2001. SARTORI, Ademilde Silveira; ROESLER, Jucimara. In: Educação superior a distância: gestão da aprendizagem e da produção de materiais didáticos impressos e on-line. Tubarão: Ed. Unisul, 2005. CAPÍTULO 2 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais Impressos A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender as características que os materiais impressos devem apresentar. 9 Analisar estratégias linguísticas para promover a abordagem dialógica no texto. 9 Identificar os recursos para organização dos materiais impressos. Elisabeth Penzlien Tafner 32 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância 33 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 Contextualização Se você atua, hoje, na educação ou formação continuada, na condição de leitor ou de autor, possivelmente já fez algum curso na modalidade a distância. E, diante de tantos materiais que recebemos/elaboramos nesta modalidade, você já parou para observar se esses textos têm alguma diferença em relação aos demais? Se sim, o que você notou? Às vezes, temos a sensação de que quem os elaborou está ao nosso lado, calculando cada ação, prevendo cada pergunta, enfim, dialogando e nos estimulando a prosseguir. Infelizmente, em outros, parece que o material foi feito para ser engavetado, já que, nem de longe, o leitor foi previsto, ou pelo menos essa abordagem não foi evidenciada no texto. Esta reflexão procura mostrar que elaborar materiais na EAD é uma tarefa delicada, pois constantemente precisamos prever, convidar, incitar, aproximar, cativar, provocar, dialogar com o leitor, com quem não compartilhamos o mesmo tempo e espaço. Este contexto faz do exercício da escrita um desafio, especialmente para quem tem o hábito de escrever textos acadêmicos, dentro do rigor científico, em linguagem neutra. De fato, a alternância de estilo interfere muito na hora de produzir um material autoinstrutivo. Encontramo-nos diante de um dilema: se escrevemos numa linguagem muito informal, caímos no ridículo e corremos o risco da superficialidade; se escrevemos numa linguagem muito rígida, o leitor se perde. Por isto, este capítulo traz algumas orientações em termos de características, organização e estilo da linguagem para a elaboração de materiais impressos na EAD cujo público-alvo pressupomos autônomo, disciplinado, mas que precisa de um texto que favoreça a leitura e potencialize a aprendizagem Elaborarum material autoinstrutivo é um exercício de colocar-se no lugar daquele que receberá o texto. Na EAD, é essencial considerar o leitor e sua situação de leitura, o qual, possivelmente, manipulará sozinho o material. Por isto é que primamos por um texto dialógico que o faça refletir, relacionar, analisar, enfim, aprender a partir do que essa leitura lhe proporciona, ou melhor, que o material que está lendo seja apenas um dos que explorará enquanto faz o curso. Neste sentido, organizamos este capítulo da seguinte forma: primeiro, identificamos, rapidamente, os atores envolvidos na produção de materiais didáticos para a EAD. A seguir, apresentamos as características dos materiais impressos na EAD e, finalmente, descrevemos os recursos a serem usados nesses materiais, passando por questões ligadas à extensão/organização das unidades/capítulos e ao estilo redacional. 34 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Materiais Didáticos Impressos na EAD Você já parou para se perguntar por que a elaboração de materiais impressos na EAD requer tanta atenção? Julgamos que o maior desafio esteja em como escrever prevendo o outro, o leitor, nosso aluno, o qual pretendemos que se torne sujeito de seu próprio aprendizado. Para continuar esta conversa, você pode ler a obra A mediação pedagógica, de Gutierrez e Prieto, referenciada ao término deste capítulo. Ao realizar um curso a distância, o aluno encontra mediação humana e tecnológica; contudo, o material impresso já estará pronto, o que significa dizer que qualquer ajuste em relação ao tratamento dos conteúdos terá que ser feito somente quando a instituição realizar uma nova tiragem do seu material. Na prática, teremos um aluno que abordará o material, com suas expectativas e desejos, mas não poderemos rever nossas estratégias com a mesma agilidade como na modalidade presencial. O ônus de um material impresso, preparado sem o devido rigor, ficará para a tutoria e equipe multidisciplinar, já que o sentimento de insatisfação encontra, primeiramente, a figura do tutor. Daí a necessidade de planejarmos cuidadosamente nossa produção. No primeiro caderno deste curso, você deve estar lembrado (a), salientamos que o perfil do aluno autônomo e independente na EAD era essencial, certo? Precisamos retomar esta ideia, mas, agora, na perspectiva de quem escreverá o material. Classificar o aluno como independente não significa que ele seja o único responsável pela sua aprendizagem. Ora, o material de estudos deve cooperar, promover, auxiliar, enfim, potencializar a aprendizagem. Decorrem da clareza do que entendemos por autonomia do aluno, as exigências e a atenção que a seleção (a partir da titulação e aderência do professor) e o acompanhamento do professor-autor requerem da equipe multidisciplinar, visto que, na EAD, todos os profissionais envolvidos, direta ou indiretamente, são responsáveis pela aprendizagem do aluno. Assim, entendemos que os materiais usados na EAD: Classificar o aluno como independente não significa que ele seja o único responsável pela sua aprendizagem. Ora, o material de estudos deve cooperar, promover, auxiliar, enfim, potencializar a aprendizagem. 35 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 [...] sejam pedagogicamente diferentes dos materiais utilizados na educação de presença (professor-aluno) e, naturalmente, muito mais diferentes dos documentos científicos. A diferença passa inicialmente pelo tratamento dos conteúdos que estão a serviço do ato educativo. De outra forma: o temático será válido na medida em que contribua para desencadear um processo educativo. Não interessa uma informação em si mesma, mas uma informação mediada pedagogiamente. (GUTIERREZ; PRIETO, 1994, p. 62). Os autores salientam que o autor deve produzir um material que atenda às especificidades de ensinar e aprender a distância, o que nos leva à ideia de que o aluno não pode ser mero expectador. Nesses materiais, deve haver concessão ao leitor, aos seus conhecimentos prévios, às suas experiências “[...] a fim de tornar possível o ato educativo dentro do horizonte de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e relacionalidade” (GUTIERREZ; PRIETO, 1994, p. 62). Assim, na figura de professores- autores, a quem compete elaborar o material, temos um desafio, como bem descreve Kenski (2003, p. 27): Os desafios da concepção de cursos a distância e seus materiais didáticos são complexos e não podem ser minimizados. As bases conceituais norteadoras das propostas são determinantes de sua qualidade e podem favorecer avanços na construção de conhecimentos pelos cursistas em vez de lhes oferecer um simples repasse de informações sistematizadas existentes na sociedade. Podem contribuir para formar pessoas, a despeito das distâncias geográficas, das dificuldades de afastamento dos locais de trabalho por longos períodos para frequentar cursos, atender a demandas sociais emergentes, por meio de programas de atualização, aperfeiçoamento, formação inicial e continuada de profissionais. Um material a ser desenvolvido com objetivos tão prementes em nossa sociedade não pode ser resultado de um trabalho solitário. A elaboração do material didático impresso envolve, portanto, uma equipe: coordenador pedagógico do curso, professor-autor, professor-revisor (conteudista e ortogramatical), designer instrucional, diagramador, webdesigner, entre outros. Um exemplo da participação de cada um destes autores pode ser vista na figura a seguir: O aluno não pode ser mero expectador. Nesses materiais, deve haver concessão ao leitor, aos seus conhecimentos prévios, às suas experiências. 36 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Figura 2 – Fluxograma do material autoinstrutivo Fonte: Equipe Multidisciplinar UNIASSELVI-PÓS (2009). No capítulo 1, detalhamos os profissionais e suas atribuições na elaboração de materiais didáticos, se for necessário, resgate essa leitura. Esta equipe atua em conjunto, numa relação transparente, de diálogo constante, visando a um único objetivo: à qualidade do material e à aprendizagem do aluno. Para tanto, é essencial o cuidado no planejamento do curso, na escolha e no acompanhamento desses profissionais (autores, tutores, revisores, designers etc.). O feedback de cada um desses atores é que indica os acertos e as carências dos materiais. Iniciando nossa conversa sobre a elaboração de materiais impressos, na seção a seguir, trataremos detalhadamente das características textuais que os textos voltados à EAD devem apresentar. DIAGRAMAÇÃO c/ re co m en da çõ es c/ recomendações c/ recomendações c/ re co m en da çõ es aprovado aprovado aprovado UNIASSELVI-PÓS VERSÃO FINAL ENTREGA DO MATERIAL NA LOGÍSTICAUNIASSELVI-PÓS - ENCAMINHA MATERIAL PARA REVISÃO CONTEÚDO CONTRATADO CONTEUDISTA CONTEUDISTA ELABORA PLANO DE DESENVOLVIMENTO UNIASSELVI-PÓS APROVA MATERIAL ORTOGRAMATICAL CONTEUDISTA FAZ ADEQUAÇÕES Gráfica UNIASSELVI-PÓS VERSÃO FINAL PLANO DE DESENVOLVIMENTO CONTEUDISTA DESENVOLVE O MATERIAL E ENVIA PARA A UNIASSELVI-PÓS 37 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 Características Didáticas do Texto Escrito para EAD As reflexões que realizaremos, nesta e nas próximas seções, a respeito das características didáticas do texto escrito para a EAD não têm a pretensão de soar como imposições, como uma receita de bolo, sobre como escrever na EAD, e sim como a combinação de vários olhares, cada um a seu modo, que contribuam parauma tarefa muito delicada, que vai além do mero reunir, resumir, organizar e referenciar. Isto porque conversam conosco, agora, pessoas cuja preocupação é similar a nossa, qual seja, a de escrever para quem não está ao nosso lado, mas precisa aprender a aprender a partir do que organizamos nas linhas de que dispomos. Comecemos, então, com um conceito que você já leu em outros cadernos deste curso, o conceito de mediatizar e sua relação com a produção de materiais na EAD: [...] mediatizar significa definir as formas de apresentação de conteúdos didáticos, previamente selecionados e elaborados, de modo a construir mensagens que potencializem ao máximo as virtudes comunicacionais do meio técnico escolhido no sentido de compor um documento auto-suficiente, que possibilite ao estudante realizar sua aprendizagem de modo autônomo e independente. (BELLONI, 1999, p. 64). A ação, então, de mediatizar, na perspectiva de quem elaborará o material escrito (meio técnico escolhido, neste caso), sugere que o texto (lembramos que este envolve tanto o verbal e quanto o não- verbal) e sua organização devem ser apresentados de modo a prever a manipulação de um leitor, além de estimulá-lo a pesquisar, a aprender. O que esta postura busca, em relação ao texto planejado para a EAD, é a mediação pedagógica dos conteúdos, capaz de produzir uma aprendizagem significativa. Essa postura também pode ser percebida no quadro a seguir, na coluna caracterizada pela escrita de materiais na EAD. As reflexões que realizaremos, nesta e nas próximas seções, a respeito das características didáticas do texto escrito para a EAD não têm a pretensão de soar como imposições, como uma receita de bolo, sobre como escrever na EAD, e sim como a combinação de vários olhares, cada um a seu modo, que contribuam para uma tarefa muito delicada, que vai além do mero reunir, resumir, organizar e referenciar. 38 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância Quadro 2 – Diferenças entre a produção textual de livro-texto e de EAD Fonte: Franco (2007, p. 26). A análise atenta do quadro anterior permite perceber que a escrita na EAD deve convidar o leitor a participar do texto, a partir dos seus conhecimentos e experiências. Assim, para reforçar que o aluno deve ser foco de todo o planejamento do material, transcrevemos as características desejáveis que os textos educativos escritos devem contemplar, apontadas, agora, por Fiorentini (2003, p. 17): Esperamos que os textos escolares superem sua convencional tradição expositivo-descritiva, tornando-se mais flexíveis, abertos e hipertextuais, possibilitando múltiplas relações, conexões, redes, nas quais os aprendentes autores e leitores possam vivenciar sua condição ativa de co-autores e co-produtores, num processo comunicativo dialógico, bidirecional, e interdiscursivo. Como resultado desses comentários, talvez a ideia de alterar um pouco o estilo expositivo-descritivo o incomode, já que sua experiência anterior está relacionada a publicações em periódicos científicos, cuja exigência fosse justamente uma redação marcada, entre outros aspectos, pela imparcialidade e pelo rigor da nomenclatura científica. Contudo, após este diálogo com outras perspectivas a respeito da produção de textos para a EAD, percebemos que este estilo precisa ser alterado, pois o texto que você produzirá tem um público-alvo e um objetivo diferentes. Unidade de EADLivro - Texto Comunicação bidirecional – dialogada.Comunicação unidirecional. O aluno interage ativamente.O aluno recebe a informação. A estrutura é apresentada ao aluno.A estrutura é oculta. O aluno é guiado.Aprendizagem autodirigida. Diálogo.Preleção. Dialogada, problematizadora.Impessoal. Prioriza o desenvolvimento de novos conhecimentos e competências. Pouca aplicação de conhecimentos e competências. Atividades permeando todo o texto.Sem atividades ou somente ao final do capítulo. Conteúdo dividido em pequenas partes.Conteúdos em capítulos ou em grandes blocos. Avaliação perpassa todo o processo de formação.Não pressupõe avaliação processual. A escrita na EAD deve convidar o leitor a participar do texto, a partir dos seus conhecimentos e experiências. 39 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 A pergunta é, neste caso, para quem escreve o autor: para seus colegas, a fim de aumentar seu prestígio? Para demonstrar alguma tese importante? Para apoiar um processo de autoaprendizagem em que passe a primeiro plano o estudante como sujeito? Poderíamos dar muitos outros exemplos de autores que partem da obsessão pelo julgamento dos colegas e todo seu esforço orienta-se nessa direção. Por isso não é possível avançar numa proposta de educação alternativa sem ter presente a regra de ouro mencionada. (GUTIERREZ; PRIETO, 1994, p. 65). Quem lerá seu texto não serão outros mestres e doutores (também podem o ser eventualmente, mas não em sua maioria); seu texto terá alunos como leitores, cuja formação está em processo e, por isso, precisa ser aproveitada, resgatada ao longo do texto, daí a constante lembrança de que precisamos escrever para um sujeito “[...] compreendendo-o quanto [sic] ser indiviso que constrói o conhecimento usando sensações, emoções, razão e intuição”. (FIORENTINI, 2003, p. 34). Fique atento(a): lembra quando comentamos, no parágrafo anterior, que mestres e doutores não seriam exatamente o seu público-alvo? Contudo, vale mencionar que o intenso crescimento de cursos na EAD já tem despertado o interesse desses pesquisadores acerca dos materiais produzidos para a EAD, o que só tem a contribuir com a qualidade desses materiais. Não é possível que o leitor, aluno, continue a ler nosso texto, quando não consideramos suas hipóteses, suas dúvidas, suas leituras anteriores. Ora, na EAD, é essencial prepararmos o texto para um leitor que é diferente de você, professor(a), cuja biblioteca não armazena os mesmos saberes, como bem nos explica Goulemot (2001). O autor se refere ao leitor como fora-do-texto e retrata sua relação com a situação de leitura. Conheceremos um pouco mais essa relação, tão importante para os objetivos deste capítulo. Goulemot (2001) refere-se ao leitor como fora-do-texto. Apresentaremos, rapidamente, alguns conceitos deste autor em relação ao leitor e à construção de sentidos. Descrevendo o leitor: 40 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância O leitor, nessa relação com o texto, é definido por: a) história (envolve conteúdo fisiológico, afetivo, cultural ou político): o sentido nasce do trabalho que esse fora-do-texto opera sobre o texto; b) fisiologia • posição (atitude do corpo): sentado, solitário... • rito: bocejamos, experimentamos dores... • atitudes de leitor: leituras profundas, sonhadoras... A possibilidade de construir sentido se dá por meio dessas atitudes de leitor. O livro (gênero) indica o lugar de sua leitura. Nosso corpo lê. O corpo do leitor é uma livre escolha e uma imposição. c) Formas de história presentes no fora-do-texto • História cultural: é história política e social que trabalha aquilo que lemos. • A história, aceitemos ou não, orienta mais nossas leituras do que nossas opções políticas. d) Biblioteca • Há dialogismo e intertextualidade da prática da própria leitura. • Ler será, portanto, fazer emergir a biblioteca vivida. É raro que leiamos o desconhecido. • Também é verdadeiro que a cultura institucional nos predispõe a uma recepção particular do texto. Goulemot também sugere que não existe compreensão autônoma, mas articulação em torno de uma biblioteca do texto lido (intertextualidade). Assim, o sentido seriaa soma do exterior cultural e do próprio texto. Esperamos, até aqui, ter sensibilizado você para a delicada tarefa que o(a) aguarda – escrever para o aprender de outro –, o que nos parece bem delineado nas palavras de Freire (1998, p. 47): “Conhecimento não se transfere, conhecimento se discute. Implica uma curiosidade que me abre, sempre fazendo perguntas ao mundo. Nunca demasiado satisfeito, ou em paz com a própria certeza”. É certo que o pensamento de Freire tinha outro contexto. Contudo, é 41 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 nossa responsabilidade, ao aceitarmos elaborar materiais para a educação a distância, estimular a curiosidade do aluno, sua busca por novas perspectivas acerca do que o rodeia. Nas seções a seguir, abordaremos como as características apresentadas nesta seção podem se manifestar na prática. Iniciaremos com algumas orientações para a seleção/organização dos capítulos/unidades e seguiremos para as estratégias linguísticas a serem observadas na elaboração dos materiais. Estratégias de Seleção e Organização dos Capítulos/ Unidades Os materiais de cada disciplina devem ser preparados a partir do projeto do curso, da concepção política e pedagógica da instituição, como você estudou no capítulo 1 deste caderno de estudos. Entretanto, o professor-autor, quando se encontra diante da delicada tarefa de elaborar materiais para a EAD, pode se sentir confuso ao ter que selecionar o conteúdo. Tudo parece importante, não é mesmo? Então, como fazer o recorte dos conteúdos? Uma alternativa seria pensar nos objetivos que o aluno deve alcançar e, então, repensar a delimitação dos conteúdos a partir deste critério, pois, assim, nosso foco de atenção, ao elaborar cada parte do material, será a sua função pedagógica em relação ao aluno. Desta forma, evitamos outros focos de interesse do professor-autor, como divulgar parte da pesquisa que está desenvolvendo no seu mestrado ou doutorado, defender determinadas abordagens teóricas etc. Em relação aos objetivos, vale também lembrar a orientação de Gutierrez e Pietro (1994, p. 63-64): os autores salientam que o estudante tenha uma visão global do conteúdo, já que esta lhe indica para onde pretendemos ir com o texto. Contudo, alertam para que essa percepção em totalidade não seja confundida como simples apresentação de objetivos chamados terminais. O foco deve ser, segundo estes autores, “[...] o sentido que o estudante encontra em sua incorporação a este processo, pelo conhecimento global do mesmo. Por outro lado, vale a pena lembrar de uma frase valiosa para os processos de educação a distância: ‘quem não pega aonde vai, é possível que não chegue’”. 42 Produção de materiais autoinstrutivos para a educação a distância O trabalho de elaborar materiais didáticos a partir dos objetivos de aprendizagem auxilia não só a determinar quais conteúdos, mas também a dosar a profundidade com que serão abordados. Voltaremos a tratar dos objetivos mais adiante. Agora, seguiremos com a atenção direcionada à organização dos capítulos/ unidades. Cada disciplina deve ser desenvolvida a partir de capítulos/unidades, os quais, por sua vez, serão organizados em estruturas menores, as seções, a fim de tratar o conteúdo de maneira objetiva e sistemática. A organização do texto em seções deve atender a uma estrutura lógica bem sequenciada, que garanta uma percepção clara da continuidade e gradualidade do conteúdo. Nesta orientação, talvez um tanto quanto óbvia para alguns leitores, queremos evidenciar uma das características sugeridas no quadro 2: a divisão de conteúdos em pequenas partes, o que facilita o estudo do conteúdo, o qual pode ser mais bem explorado e aproximado do aluno. No entanto, é necessário preocuparmo-nos com o diálogo entre esses capítulos/unidades para que percebamos a ideia de complementaridade entre uma e outra, inclusive explicitando as relações que um capítulo/unidade mantém com o outro. Desta forma, salientamos, aqui, outras duas características do quadro 2: a necessidade de apresentar a estrutura ao aluno e guiá-lo ao longo do material. Agora, trataremos da organização do capítulo/unidade, a qual deve apresentar: identificação, introdução, corpo e fechamento. Paralelamente à descrição de cada uma destas estruturas, contemplaremos as questões relativas à linguagem do material. a) Identificação do capítulo/unidade A identificação de cada capítulo/unidade (assim como os títulos de cada seção) deve ser coerente com o conteúdo abordado. A escolha adequada do título já se configura como uma postura cooperativa e facilitadora do professor- autor em relação à autoaprendizagem do aluno, visto que, se este for um leitor experiente, reconhecerá o valor antecipatório dos títulos e, assim, elaborará as primeiras hipóteses quanto ao conteúdo. O título deve representar, de forma clara e objetiva, o assunto a ser trabalhado no capítulo/unidade. A priori, esta orientação quanto à identificação do capítulo/unidade e dos títulos de seção pode parecer demasiadamente extensa; porém, títulos mal elaborados (obscuros, incoerentes) quebram as expectativas do leitor e diminuem a sua receptividade em relação ao material. Na abertura de cada capítulo/unidade, também apresentamos ao aluno os objetivos que devem ser contemplados para que este alcance uma aprendizagem A organização do texto em seções deve atender a uma estrutura lógica bem sequenciada, que garanta uma percepção clara da continuidade e gradualidade do conteúdo. 43 Referenciais Linguísticos para a Elaboração de Materiais ImpressosCapítulo 2 significativa. Os objetivos devem ser formulados na perspectiva do aluno, focalizando conhecimentos e desempenhos resultantes da aprendizagem. Na Pós EAD, orientamos os professores-autores a determinar seus objetivos atendendo aos itens: saber e fazer, para sintonizá-los com a identidade pedagógica da UNIASSELVI, que parte do princípio: ”Não basta saber, é preciso saber fazer”. Assim, cada capítulo/unidade é estruturado a partir de: • objetivos ligados ao campo do saber: conceitos a serem aprendidos (indica o que o aluno deverá saber); • objetivos ligados ao campo do fazer: competências/capacidades a serem desenvolvidas (indica o que o aluno estará apto a fazer). Definir objetivos claros é essencial ao professor que elabora material didático. Vejamos, no quadro a seguir, como os objetivos são importantes, tanto para o professor quanto para o aluno. Quadro 3 – O papel dos objetivos para o aluno e para o professor Fonte: Franco (2007, p. 24). O autor também recomenda que, ao concluir o material, o professor procure testar sua produção, a fim de avaliar (mediante testes e listas de verificação) se os objetivos estão claros e se realmente permitem o alcance das competências. No Programa de Pós-Graduação da UNIASSELVI, como você já deve ter percebido, existem as figuras do professor conteudista e da equipe multidisciplinar que ajudam o professor a identificar se o material cumpre os objetivos aos quais se propõe. ProfessorAluno O que os alunos deverão saber? O que os alunos deverão estar aptos a fazer? Em que aspectos os alunos deverão comportar-se de maneira diferente após o estudo da unidade? Se o aluno souber o que está tentando alcançar, poderá avaliar melhor seu próprio progresso. Facilita a execução de tarefas, diminuindo ambiguidades e dificuldades de interpretação. A especificação dos objetivos permite que, à medida que os estudantes aprendem, o desempenho seja monitorado e medido. Na Pós EAD, orientamos os professores- autores a determinar seus objetivos atendendo aos itens: saber e fazer, para sintonizá-los
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