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1 2 3 SUMÁRIO 1. Introdução ....................................................................................................................... 4 2. Ideário Católico ................................................................................................................ 5 3. Matriz Positivista ............................................................................................................. 7 4. A Renovação Profissional ................................................................................................. 9 5. O Serviço Social nos anos 80: As tendências Históricas e Teóricas- Metodológicas do Debate Profissional. ...................................................................................................................... 11 6. Os Fundamentos Teóricos Teóricos-Metodológicos do Serviço Social no século XXI ......... 16 7. As Particularidades dos Fundamentos Teórico-Metodológicos no Serviço Social Brasileiro. ......................................................................................................................................... 17 8. As Teorias Sociais: fontes inspiradoras para o desenvolvimento das ações no Serviço Social ......................................................................................................................................... 19 8.1. O Positivismo .............................................................................................................. 23 8.2. O Positivismo Sociológico ............................................................................................ 24 8.3. A Fenomenologia ........................................................................................................ 30 8.4. O Marxismo ................................................................................................................ 31 QUESTÕES DE PROVAS....................................................................................................... 41 GABARITO ......................................................................................................................... 49 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 50 4 1. INTRODUÇÃO O tema consiste em explicitar como se constituem e se desenvolvem, no Serviço Social brasileiro, as tendências de análise e as interpretações acerca de sua própria intervenção e sobre a realidade na qual se movem. Estas tendências derivadas das transformações sociais que peculiarizam o desenvolvimento do capitalismo em nossa sociedade, se configuram heterogêneas, são permeadas por tensões e confrontos internos. A compreensão teórica metodológica da realidade é fundada no acervo intelectual que se constituem a partir das principais matrizes do pensamento social e de suas expressões nos diferentes campos do conhecimento humano, é processo que se constrói na interação com a sociedade. De início, o tema consiste da análise sumária do processo de incorporação pela profissão: ✓ Das ideias e conteúdos doutrinários do pensamento social da Igreja Católica, e em seu processo de institucionalização pela profissão; ✓ Das principais matrizes teórico-metodológica acerca do conhecimento da sociedade burguesa. Desenvolver algumas considerações sobre este processo é tentar compreender diferentes posicionamentos, lógicas e estratégias, que permeiam a ação profissional do Serviço Social, em sua trajetória histórica que persistem até os dias atuais com novas expressões. 5 2. IDEÁRIO CATÓLICO O primeiro aspecto é por demais conhecido a relação entre a profissão e o ideário católico na gênese do Serviço Social brasileiro no contexto de expansão e secularização do mundo capitalista. Relação que vai imprimir à profissão caráter de apostolado, fundada em uma abordagem da questão social como problema moral e religioso e uma intervenção que prioriza a formação da família e do indivíduo para solução dos problemas e atendimento de suas necessidades materiais, morais e sociais. A contribuição do Serviço Social incidirá sobre valores e comportamentos de seus clientes na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações vigentes. Os referenciais orientadores do pensamento e da ação emergente do Serviço Social tem sua fonte na Doutrina Social da Igreja, no ideário franco-belga e de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino (séc. XII): o tomismo e o neotomismo (fins do séc. XIX do pensamento tomista, por Jacques Maritain, na França, e pelo Cardeal Mercier, na Bélgica). É, portanto, na relação com a Igreja Católica que o Serviço Social brasileiro vai fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos político-sociais, orientando-se, por posicionamentos de cunho humanista conservador, contrários aos ideários liberal e marxista na busca de recuperação da hegemonia do pensamento social da Igreja diante da questão social. O conservadorismo católico que caracterizou os anos iniciais do Serviço Social brasileiro começa, a partir dos anos 40, o seu tecnificado entrar em contato com o Serviço Social norte americano e suas propostas de trabalho permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista. 6 A reorientação da profissão para atender as configurações do desenvolvimento capitalista, exige a qualificação sistematizada de seu espaço ocupacional, tendo em vista atender ás requisições de um Estado que começa a programar políticas no campo social. Nesse contexto, a legitimidade do profissional, expressa em seu assalariamento e ocupação um espaço na divisão sócio técnica do trabalho, vai colocar o emergente Serviço Social brasileiro diante da matriz positivista, na perspectiva de ampliar referencias técnicos para a profissão. Este processo que vai constituir o que Iamamoto (1992:21) denomina de arranjo teórico doutrinário, caracterizado pela junção do discurso humanista cristão com o suporte técnico-científico de inspiração na teoria social positivista, reitera para a profissão o caminho do pensamento conservador (agora pela mediação das Ciências Sociais). Nem o doutrinarismo, nem o conservadorismo constituem teorias sociais. A doutrina caracteriza-se por ser uma visão de mundo abrangente, fundada na fé em dogmas. O conservadorismo, como forma de pensamento e experiência prática, é resultado de um contra movimento aos avanços da modernidade e, nesse sentido, suas reações são restauradoras e preservadoras, particularmente da ordem capitalista. A teoria social por sua vez constitui conjunto explicitado totalizante, ontológico, portanto, organicamente vinculado ao pensamento filosófico, acerca do ser social na sociedade burguesa e a seu processo de constituição e de reprodução. A teoria reproduz conceitualmente o real sentido, portanto, construção intelectual que proporciona explicações aproximadas da realidade, deste modo, supõe uma forma de auto constituição, um padrão de elaboração: o método é a trajetória teórica, o movimento teórico que se observa na explicação sobre o ser social. É o posicionamento do sujeito que investiga, diante do investigado, e desta forma é questão da teoria social e não problema particular desta ou daquela disciplina. (Netto, 1984:14). Cada teoria social é um método de abordar o real. O método é a trajetória teórica que se observa na explicação sobre o ser social. É o posicionamento do sujeito que investiga, diante do investigado. 7 3. MATRIZ POSITIVISTANo caso do serviço social um primeiro suporte teórico metodológico necessário à qualificação técnica de sua prática e a sua modernização vai ser buscada na matriz positivista e em sua apreensão manipuladora, instrumental e imediata do ser social. Este horizonte analítico aborda as relações sociais dos indivíduos no plano de suas vivências imediatas, como fatos (dados) que se apresentam em sua objetividade e imediaticidade. É a perspectiva positivista que restringe a visão da teoria ao âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação. Não aponta para mudanças, senão dentro da orem estabelecida, voltando-se antes para ajustes e conservação. Particularmente em sua orientação funcionalista esta perspectiva é absorvida pelo Serviço Social, configurando para a profissão propostas de trabalho ajustadoras e um perfil manipulatório voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas para a intervenção com a metodologia da ação, coma busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise, diagnóstico e planejamento: enfim uma tecnificação da ação profissional que é acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais (Yasbek, 1984:71). O questionamento a este referencial tem início no contexto de mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais que expressam, nos anos 60, as novas configurações que caracterizam a expansão do capitalismo mundial, que impõem à América Latina um estilo de desenvolvimento excludente e subordinado. A profissão assume as inquietações e insatisfações deste momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço Social tradicional através de um amplo movimento, de um processo de revisão global, em diferentes níveis: teórico, metodológico, operativo e político. Este movimento de renovação que surge no Serviço Social e na sociedade latino-americana impõe aos assistentes sociais a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com as demandas das classes subalternas, particularmente expressas em suas mobilizações. 8 É no bojo desse movimento, de questionamentos à profissão, não homogêneos e em conformidades com a realidade de cada país que a interlocução com o marxismo vai configurar a teoria social de Marx. Embora esta apropriação se efetive em tortuoso processo. É no âmbito do movimento de reconceituação e em seus desdobramentos, que se definem de forma mais clara e se confrontam diversas tendências voltadas à fundamentação do exercício e dos posicionamentos teórico do Serviço Social. Tendências que resultam de conjunturas sociais particulares dos países do continente e que levam, por exemplo, no Brasil, o movimento em seus primeiros momentos, (em tempos de ditadura militar e de impossibilidade de contestação política) a priorizar um projeto tecnocrático modernizador, do qual Araxá e Teresópolis são as melhores expressões. 2014/FGV/PROJETOS. O Serviço Social nos anos 1940 se reorganiza visando atender às novas configurações do desenvolvimento capitalista, que exigiu a qualificação do seu espaço sócio ocupacional. Nesse processo, articulam-se novos arranjos teórico- metodológicos inspirados na (o): (A) fenomenologia e marxismo. (B) estruturalismo e modernização. (C) funcionalismo e pós-modernismo. (D) psicologismo e desenvolvimentismo. (E) humanismo e positivismo Resposta Correta: Letra E) humanismo e positivismo. Comentário: O primeiro arranjo teórico-metodológico tem características humanistas (corrente filosófica e moral) e positivista (doutrina filosófica, sociológica e política). 9 4. A RENOVAÇÃO PROFISSIONAL A renovação profissional: vertente modernizadora, a vertente da reatualização do conservadorismo e a vertente da intenção de ruptura. O desenvolvimento do debate e da produção intelectual do serviço social brasileiro foi resultado das seguintes vertentes que emergiram no bojo do Movimento de Reconceituação: ✓ Vertente modernizadora (Netto, 1994:164 e ss) caracterizada pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e mais tarde sistêmicas (matriz positivista), voltadas a uma modernização conservadora e melhoria do sistema pela mediação do desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da pobreza. Na perspectiva da integração da sociedade. Os recursos para alcançar estes objetivos são baseados na modernização tecnológica e em processo de relacionamentos interpessoais. Estas opções configuram um projeto renovador tecnocrático fundado na busca da eficiência e da eficácia, que devem nortear a produção do conhecimento e a intervenção profissional. ✓ Vertente inspirada na fenomenologia que emerge como metodologia dialógica apropriando também da visão e pessoa e comunidade de E. Mounier (1936) dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos e suas vivências, colocando para o Serviço Social a tarefa de auxiliar na abertura desse sujeito existente singular, em relação aos outros, ao mundo das pessoas (Almeida, 1980:114). Essa tendência que no Serviço Social brasileiro vai priorizar as concepções de pessoa, diálogo e transformação social (dos sujeitos) é analisada por Netto (1994:201 sós) como uma forma de reatualização do conservadorismo, presente no pensamento inicial da profissão. ✓ Vertente marxista que remete a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes e que no Brasil vai configurar-se em seu primeiro momento, como uma aproximação ao marxismo sem recursos ao pensamento de Marx. A apropriação da vertente marxista no serviço social brasileiro e latino americano se dão com problemas que se caracterizam pelas abordagens reducionistas dos marxismos de manual, como também pela influência de cientificismo e do formalismo metodológico (estruturalista) presente no marxismo althusseriano (referência a Louis Althusser, filósofo francês cuja leitura da obra de Marx vai influenciar a proposta marxista dos anos 60/70 e o método de B.H). Um Marxismo equivocado que recusou a via institucional e as determinações social e histórica da profissão. É com este referencial precário, mas com posição sociopolítica que a profissão questiona sua prática institucional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo tempo em que se aproxima dos movimentos sociais. Inicia-se a vertente comprometida com a ruptura (Neto, 1994:247e ss) com o Serviço Social tradicional. 10 Essas tendências, que configuram para a profissão linhas diferenciadas de fundamentação teórico-metodológica, tenderão a acompanhar a trajetória do pensamento e da ação profissional nos anos subsequentes ao movimento de reconceituação e se conservarão presentes até aos anos recentes, apesar de seus movimentos, redefinições e da busca e emergência de novos referenciais dentro do novo milênio. 2015/CESGRANRIO/PETROBRÁS. O serviço social brasileiro, no contexto da ditadura militar, passou a experimentar um processo de renovação que modificou, substantivamente, o chamado serviço social tradicional. Sobre quais dimensões essas mudanças incidiram? a- Na teoria social elaborada pela profissão b- No lugar da profissão na divisão do trabalho c- No estatuto científico do serviço social d- Nas condições de autonomia profissional e- Nas práticas e nas concepções profissionais Resposta Correta: Letra e) Nas práticas e nas concepções profissionais. Comentário: Nasce neste cenário o processo de renovação da profissão do Serviço Social no Brasil, assumindo novas posturas, até então consideradas modernas para o período onde estava inserido. Sendo assim, o cenário das teoriasdo Assistente social passa a ser ajustado ao contexto socioeconômico da realidade brasileira, configurando mudanças estruturais na sociedade e na ideologia do Serviço Social no Brasil. 11 5. O SERVIÇO SOCIAL NOS ANOS 80: AS TENDÊNCIAS HISTÓRICAS E TEÓRICAS-METODOLÓGICAS DO DEBATE PROFISSIONAL É com Iamamoto (1982), nos inicios dos anos 80 que a teoria social de Marx inicia sua efetiva interlocução com a profissão. Como Matriz teórico-metodológica esta teoria apreende o ser social a partir das mediações. Ou seja, parte da suposição de que a natureza relacional do ser social não é percebida em sua imediaticidade. Isso porque, a estrutura de nossa sociedade, ao mesmo tempo em que põe o ser social como ser de relações, no mesmo instante e pelo mesmo processo oculta a natureza dessas relações ao observador (Netto, 1995). Ou seja, as relações sociais são sempre mediatizadas por situações, Instituições, etc. que ao mesmo tempo revelam /ocultam as relações sociais imediatas. Por isso nesta matriz o ponto de partida é aceitar fatos ou dados como indicadores, como sinais, mas não como fundamentos últimos do horizonte analítico. Trata-se de um conhecimento que não é manipulador e que apreende dialeticamente a realidade em seu movimento contraditório. Movimento no qual e através do qual se engendram, como realidade, as relações sociais que configuram a sociedade capitalista. É no âmbito da adoção do marxismo como referência analítica que se torna hegemônica no Serviço Social do país a abordagem da profissão como componente da organização da sociedade. Inserida na dinâmica das relações sociais participando do processo de reprodução dessas relações. (Cf Iamamoto, 1982). Sob sua influência ganha visibilidade um novo momento e uma nova qualidade no processo de recriação da profissão, em busca de sua ruptura com o histórico conservadorismo (cf Neto, 1996:111) e do avanço da produção de conhecimentos, nos quais a tradição marxista aparece hegemonicamente como uma das referências básicas. 12 Nesta tradição o Serviço Social vai apropriar-se a partir dos anos 80 do pensamento de: Antônio Gramsci – abordagens acerca do Estado e da sociedade civil, do mundo dos valores, da ideologia, da hegemonia, da subjetividade e da cultura das classes subalternas. Agnes Heller e a sua problematização do cotidiano; George Lukács e a sua ontologia do ser social fundada no trabalho; E.P. Thompson e a sua concepção acerca das experiências humanas; Eric John Ernest Hobsbawm – um dos mais importantes historiadores marxistas da contemporaneidade. O processo de construção da hegemonia de novos referenciais teórico- metodológico e interventivos, a partir da tradição marxista, para a profissão ocorre em um amplo debate, em diferentes formas de natureza acadêmica e/ou organizativa. Trata-se de um debate plural que implica a convivência e o diálogo de diferentes paradigmas, mas que supõe uma direção hegemônica. PLURALISMO Uma das questões em debate, desde os anos 80, objeto de polêmica e reflexões do Serviço Social. Coutinho (1999) problematiza a proposta de hegemonia, ao necessário dialogo e no debate de ideias, apontando os riscos de posicionamentos ecléticos (que conciliam o inconciliável). 2014/FUNCAB/SEDS-TO. Uma das questões a serem enfrentadas pelo serviço social contemporâneo refere-se à denominada crise dos modelos analíticos. O modelo de pensamento, produzido historicamente, que se relaciona com os modos mais flexíveis de acumulação do capital é a (o): A-Marxismo. B-Pós-modernismo C-Teoria crítica D-Macroeconomia Resposta Correta: Letra b) pós-modernismo. 13 Comentários: Do ponto de vista das referências teórico‐metodológicas a questão primeira que se coloca para a profissão já no início da década é o confronto com a denominada “crise" dos modelos analíticos, explicativos nas ciências sociais, que buscam captar o que está acontecendo no fim de século e as grandes transformações que alcançam múltiplos aspectos da vida social. No mundo do conhecimento começam as interferências, não sem conflitos, do denominado pensamento pós-moderno, “notadamente em sua versão neoconservadora" que questiona e nivela os paradigmas marxista e positivista. "O posicionamento pós-moderno busca resgatar valores negados pela modernidade e cria um universo descentrado, fragmentado relativo e fugaz. As características da pós-modernidade são produzidas historicamente e se relacionam com a emergência de modos mais flexíveis de acumulação do capital." No espaço acadêmico, na pós-graduação, o Serviço Social brasileiro: ✓ Desenvolveu-se na pesquisa acerca da natureza de suas intervenções, de seus procedimentos, de sua formação, de sua história e, sobretudo acerca da realidade social, política, econômica e cultural onde se insere como profissão na divisão social e técnica do trabalho; ✓ Avançou na compreensão do estado capitalista, das políticas sociais, dos movimentos sociais, do poder local, dos direitos sociais, da cidadania, da democracia, do processo de trabalho, da realidade institucional; e de outros temas. ✓ Enfrentou o desafio de repensar a assistência social, colocando como objeto de suas investigações Para Iamamoto o debate quanto aos fundamentos do Serviço Social, nas três últimas décadas, centrou-se nos seguintes eixos temáticos: (a) o resgate da historicidade da profissão, seja na reconstituição de sua trajetória na formação histórica da sociedade brasileira, seja na explicitação das particularidades históricas de sua inserção da divisão social e técnica do trabalho; (b) a crítica teórico-metodológica tanto do conservadorismo quanto da vulgarização marxista, introduzindo a polêmica em torno das relações entre história, teoria e método no Serviço Social, que hoje vem recebendo influxos da chamada crise dos paradigmas e do pensamento pós-moderno (Netto, 1996); 14 (c) a ênfase na política social pública, no campo das relações entre o Estado e a sociedade civil, com especial atenção para a seguridade social e, nela, para a política de assistência social e de saúde; (d) o debate teórico e político sobre a questão social: interpretações e expressões no país; (e) o debate sobre a ética e o projeto profissional; (f) o debate sobre a reestruturação produtiva e a centralidade do trabalho nas alterações no mercado de trabalho, nas formas de consumo da força de trabalho e no perfil dos trabalhadores, considerando suas incidências no trabalho do assistente social; (g) o debate sobre o exercício profissional: trabalho, ideologia ou práxis. 2014/ COSEAC/UFF. Segundo a análise de Iamamoto (2007), o serviço social brasileiro, a partir dos anos 80, registra um processo de ruptura de caráter teórico e prático-político com a herança conservadora. Nesse contexto, os debates sobre os fundamentos do serviço social estiveram presentes através de alguns eixos temáticos. Dentre eles, destacam-se: a) a metodologia e a ideologia do trabalho profissional, com ênfase na teoria crítica. b) a construção da esfera pública e a defesa das políticas sociais ligadas ao Estado. c) a cidadania e a democracia na construção de um novo projeto profissional. d) o resgate da historicidade da profissão, a crítica teórico-metodológica e a ênfase na política social pública. e) a apropriação de novas vertentes teóricas e o aprofundamento das discussões sobre a formação do Estado brasileiro. Resposta Correta: Letra d) o resgate da historicidadeda profissão, a crítica teórico- metodológica e a ênfase na política social pública. Autores contemporâneos da profissão chamaram de “maturidade acadêmica e profissional do Serviço Social” (Netto, 1996), que procurou definir novos requisitos para o status da competência profissional. Iamamoto (2004), após realizar uma análise dos desafios colocados para o Serviço Social nos dias atuais, apontou 03 dimensões que devem ser do domínio do Assistente Social. 15 ✓ Competência ético-política – o Assistente Social não é um profissional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica em assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais (Resolução CFAS nº 273/93)5, e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade; ✓ Competência teórico-metodológica – o profissional deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais; Competência técnico-operativa – o profissional deve conhecer, se apropriar, e sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações Não- governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social. Essas três dimensões de competências nunca podem ser desenvolvidas separadamente – caso contrário, cairemos nas armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social (Carvalho & Iamamoto, 2005). Articular essas três dimensões coloca-se como desafio para os profissionais de Serviço Social. A necessidade da articulação entre teoria e prática, investigação e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como dimensões separadas. 16 6. OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS TEÓRICOS- METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL NO SÉCULO XXI A exposição sobre o tema parte da análise dos significados dos fundamentos teórico-metodológicos no âmbito da acumulação capitalista, uma abordagem através das dimensões que são o lapso da compreensão do significado do serviço social. Diante de toda a complexidade da sociedade contemporânea, o serviço social, ao legitimar-se enquanto uma especialização inserida na divisão sociotécnica do trabalho, chama a atenção para a questão. Portanto, pensando em desenvolver um debate a partir das questões da praticidade, o presente texto vem desenvolver uma reflexão a partir dos fundamentos teórico-metodológicos da profissão, pontuados nas concepções: O atual quadro sócio histórico não se reduz a um pano de fundo para que se possa, depois, discutir o trabalho profissional. Ele atravessa e conforma o cotidiano do exercício profissional do assistente social, afetando as suas condições e as relações em que se realiza o exercício profissional, assim como a vida da população usuária dos serviços sociais. A análise crítica desse quadro requer um diagnóstico mais complexo sobre os processos sociais e a profissão neles inscrita (IAMAMOTO, 2007, p. 76). Por fim, para que se possa compreender o significado da ação social, é preciso discutir o quadro do desenvolvimento contemporâneo do capitalismo, nas suas mais diversas crises, as quais fazem parte da dinâmica deste modelo societário, ou seja, nos aportes do capitalismo monopolista. 17 7. AS PARTICULARIDADES DOS FUNDAMENTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO A compreensão do serviço social como resultado do confronto da relação entre o Estado e Sociedade, no âmbito da divisão internacional do trabalho, fruto de determinantes macrossociais, inscrito na divisão sociotécnica do trabalho e nas relações de propriedade, vêm sendo palco de um profundo e amplo referencial bibliográfico, acompanhada de inúmeros estudos, no qual seu agente vem buscando uma compreensão das particularidades desta profissão no Brasil. Na contemporaneidade, podem-se visualizar diferentes transformações societárias, advindas da relação entre estado e sociedade, submetidos à ordem do capital, principalmente as forças sociais e políticas, que vêm interferindo no cenário mundial, consequentemente nos espaços profissionais dos assistentes sociais, onde se amplia o conservadorismo mascarado nas controvérsias desta realidade. O serviço social nos anos 80 e 90, após o seu processo de renovação, através de um aporte crítico dialético, (re) desenha seu objeto de trabalho, que são as manifestações e expressões da questão social. A questão social é um conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado, que este, por ora, é provocado por uma tensão de conflitos pelas classes subalternas a implantar direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos. É neste terreno de disputas que os assistentes sociais são chamados para realizar a sua intervenção profissional, a qual o objeto concreto são os programas focalistas de combate à pobreza, que muitas vezes passam a ser caso de polícia pelas repressões como os sujeitos são tratados (IAMAMOTO, 2012). Diante destes desafios, é preciso que o profissional disponha de clareza teórica e estratégias políticas, apoiado em um olhar sobre as novas expressões da questão social, que se transmutam nas demandas sociais. Isso requer um posicionamento diferenciado na concretização da ação profissional, ou seja, um patamar inovador no uso dos aspectos teórico-metodológicos. 18 Todavia, para compreender os fundamentos do serviço social, na atual conjuntura política, é preciso reconhecer que as funções históricas, teóricas e metodológicas na profissão fazem parte de um único conjunto, conforme contemplados nas diretrizes curriculares, com maior aprofundamento feito pela ABEPSS. Assim sendo, se nesta mesma tese, defende-se tal posição, no desenvolver da aplicabilidade da disciplina, em um campo prático, ainda é necessário reforçar a ideia de como se pode explicar, mesmo que sinteticamente a questão da abordagem metodológica, reconhecendo que seu cariz é reforçado pelas dimensões teórico- metodológicos, ética-políticas e técnica-operativas, na compreensão marxista. Os fundamentos teórico-metodológicos do serviço social podem ser explicados, a partir do olhar dos métodos, técnicas e instrumentos utilizados pelo profissional, no exercício diário de sua função, no qual, com um posicionamento direcionado ao projeto ético-político, este, diante das manifestações e expressões da questão social, e numa abordagem crítico-dialética, o profissional deve decidir qual a melhor forma de aplicá-lo,em um posicionamento retido na práxis profissional. Por ora, reconhece-se que tal concepção é verdadeira, na formação profissional dos discentes do curso de serviço social, é válida a vertente reconhecida, mesmo que empiricamente, estes recebam diante de sua caminhada pela formação, um conteúdo motriz, capaz de impulsioná-los para a atuação em quaisquer lócus dos espaços sócios profissionais existentes e que ainda necessitam dos mesmos. 19 8. AS TEORIAS SOCIAIS: FONTES INSPIRADORAS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS AÇÕES NO SERVIÇO SOCIAL Nos últimos anos, principalmente no processo conhecido pela categoria como de "reconceituação do serviço social", a categoria, mesmo que muitos não reconheçam as ideias expressas, estas vêm direcionando as críticas a questão da metodologia. Nesta mesma vertente, exponho que não se trata aqui de retomar a questão do metodologismo no âmbito da profissão, mas expor que diante de um estudo preliminar, tem-se que compreender a questão dos fundamentos metodológicos do serviço social a partir de três elementos complementares: Método, Técnica e Instrumentos. As questões dos métodos são discutidas e estudadas por grande parte da categoria, expressando-se em três principais correntes: Positivismo, Marxismo e Fenomenologia entre outras, que são tidas pela profissão ao longo do seu processo de ruptura com o conservadorismo. A vertente positivista, em uma abordagem prática, aparece no bojo profissional, como sendo uma prática imediatista, ou seja, uma resposta dada imediatamente às diversas expressões e manifestações da questão social, vertente também conhecida como "vertente modernizadora", caracteriza-se pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e, mais tarde, sistêmicas, voltadas a uma modernização conservadora (NETTO, 2005, p. 164). Esta vertente, na contemporaneidade, passou por algumas modificações. Os assistentes sociais retiraram de seu conteúdo, pontos que justificam algumas práticas coerentes, mesmo que esteja no subjetivo da ação profissional, a questão do progresso é vista de forma fragmentada. Parafraseando o professor Dr. José Paulo Netto no ultimo seminário de serviço social promovido pela editora Cortez, os aspectos do progresso social é preciso debatê-los na atualidade. Nesta mesma perspectiva, [...] a teoria centraliza-se na análise dos indivíduos e grupos cujas atitudes e comportamentos estão defasados em relação aos parâmetros exigidos pela sociedade industrial. Neste nível de interpretação trata-se, em última instância, da aquisição de um conjunto de padrões referentes ao processo de modernização. 20 A vertente marxista, essa perspectiva também ingressa como referência teórica a ser considerada no universo de discussão teórica da profissão por ocasião do Movimento de Reconceituação nas décadas de 60 e 70. Sendo uma fonte inspiradora pelas teorias capital versus trabalho, principalmente no reconhecimento da questão social, como sendo o foco central das situações problemáticas que encontram o público alvo do trabalho do serviço social. [...] “o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”. Enquanto as condições nas quais o marxismo se debruçou permanecerem o capitalismo, o marxismo continuará sendo o instrumento analítico mais adequado, mais poderoso, mais abrangente, mais percuciente para revelar esse mundo. É um instrumento adequado ao seu objeto, que é a análise da realidade capitalista. Enquanto o capitalismo existir, nas suas formas, nas suas consequências, o marxismo continuará sendo o mais importante instrumento analítico de intervenção. Instrumento de crítica e autocrítica de visualização e de superação dessa realidade. As fontes do pensamento de Marx são constituídas por uma concepção de mundo e método que é a filosofia dialética, na qual se percebe que tudo que existe é um permanente devir, uma permanente superação, um permanente movimento (PAULA, 1995, p. 30). Assim sendo, remete a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes, introduzindo novas reflexões e compromissos para os assistentes sociais. Claramente rompe com a herança conservadora das concepções teóricas e metodológicas que não permitiam a crítica radical das relações econômicas e sociais vigentes. 2014/CESPE/SUFRAMA. A respeito da história e das influências teórico-metodológicas do serviço social no Brasil, julgue o item a seguir. A influência da teoria social de Marx na categoria profissional vincula-se à compreensão de que as relações sociais são sempre mediatizadas por situações e instituições que revelam/ocultam relações sociais imediatas. Certo / Errado 21 Resposta Correta: Certo. Comentário: A partir da década de 1980 e 1990 é destacado o protagonismo do Serviço Social crítico. Ou seja, a teoria social de Marx passa a ser articulada de maneira mais efetiva com a profissão, por intermédio, inicialmente, das análises de Iamamoto em 1982 no livro Relações sociais e Serviço Social no Brasil, teoria que apreende o ser social a partir de mediações. Portanto, os fatos e dados passam a ser vistos como indicadores, e não como fundamentos do horizonte analítico. Isto é, as relações sociais são sempre mediatizadas por situações, instituições que ao mesmo tempo revelam/ocultam as relações sociais imediatas. Assim sendo, remete a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes, introduzindo novas reflexões e compromissos para os assistentes sociais. Claramente rompe com a herança conservadora das concepções teóricas e metodológicas que não permitiam a crítica radical das relações econômicas e sociais vigentes. A vertente fenomenológica estava presente nas primeiras formulações teóricas do Serviço Social no Brasil, ingressando no universo de discussão teórica da profissão por ocasião do denominado Movimento de Reconceituação nas décadas de 60 e 70, cujo cunho é centrado no vivido e nas vivências dos sujeitos, rompendo, assim, com as formas de controle, ajuda, adaptação, cooptação e desajustes, situando-se como uma proposição inovadora e de orientação psicossocial. Apresenta uma metodologia baseada na tríade: diálogo, pessoa e transformação social. 2013/AOCP/Colégio Pedro II. Segundo José Paulo Netto (2005), o recurso da fenomenologia foi inicialmente utilizado pela perspectiva: a) da transformação. b) da atualização. c) modernizadora. d) da intenção de ruptura e) da reatualização do conservadorismo. 22 Resposta Correta: Letra e) da reatualização do conservadorismo. Comentário: A vertente inspirada na fenomenologia, que emerge como metodologia dialógica, apropriando‐se também da visão de pessoa e comunidade de E. Mounier (1936) dirige‐se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, colocando para o Serviço Social a tarefa de "auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular, em relação aos outros, ao mundo de pessoas. ” Esta tendência que no Serviço Social brasileiro vai priorizar as concepções de pessoa, diálogo e transformação social (dos sujeitos) é analisada por Netto (1994) como uma forma de reatualização do conservadorismo presente no pensamento inicial da profissão. Por fim, estas vertentes estão presentes no desenvolvimento da ação social dos profissionais, e é preciso um olhar diferenciado e dinâmico no escolher destes para concretizar a prática operativa do serviço social, onde diante de toda a complexidade do sistema vigente, requer um melhor rigor teórico na seleção dos mesmos, vistos que as suas ações são polarizadaspelos interesses das classes burguesas, neste mesmo sentido reproduz, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro pela mediação de seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo dá resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história (IAMAMOTO, 2012). No breve estudo, pode-se visualizar que o serviço social se renovou no âmbito da sua interpretação teórico-metodológica e política, adequando as exigências do seu tempo, como se pode visualizar no desenvolver dos princípios e valores contidos no seu Código de Ética de 1993, seja pela construção de uma nova ordem societária, como também pelo novo modo de operacionalizar suas ações profissionais, onde aguça a crítica à hegemonia da configuração social. Outros pilares de fomentação encontram-se na Lei de Regulamentação da profissão e nas diretrizes curriculares que conseguem materializar um projeto de formação que vem sendo construído coletivamente, avançando na qualificação das múltiplas e diferenciadas expressões da questão social como objeto de trabalho dos assistentes sociais. 23 Mesmo diante destas mudanças, existem muitas questões que necessitam ser reconstruídas e inseridas nas agendas profissionais, principalmente no tratamento dos fundamentos teórico-metodológicos, que caracterizam as intervenções profissionais de natureza crítica, pois no trato as manifestações e expressões da questão social, o serviço social detém de atribuições e competências específicas para responder às suas demandas concretas e subjetivas. POSITIVISMO | FENOMENOLOGIA | MARXISMO 8.1. O Positivismo Augusto Comte é considerado o fundador do positivismo. Isso se dá devido ao fato de Comte realizar a conversão da visão de mundo positivista em um sistema conceitual que tende à defesa da ordem estabelecida. Constituído enquanto corpo teórico sistematizado, no final da primeira metade do século XIX, o positivismo passou a ser a forma de explicar o funcionamento do mundo, melhor aceita pela classe dominante, pois foi organizado com base nos progressos que a ciência e a técnica haviam alcançado até então. Dessa forma, essa concepção se apresentava alicerçada na crença da ciência enquanto instrumento capaz de oferecer a solução para os problemas da humanidade. Daí resulta também um dos principais pressupostos dessa teoria, que é o cientificismo e a neutralidade científica. O investigador deve viver o real, tentar entendê-lo e explicá-lo, porém, sem se deixar influenciar pelo espírito de seu tempo. Para Comte o pensamento teria que ser totalmente positivo. Isto é, eliminado todo o conteúdo crítico de sua análise, os cientistas descobririam as leis da sociologia. E como consequência, a partir de seu método positivo, o cientista deveria se consagrar teórica e praticamente a defesa da ordem social. O positivismo em Comte e seus sucessores tem uma conotação política conservadora, contrária ao que consideram “negativismo” perigoso das doutrinas críticas, destrutivas, subversivas e revolucionárias da Revolução Francesa e do Socialismo. 24 Comte formulou uma teoria social, a que, num primeiro momento, denominou Física Social. Afirma ele: “A física Social é uma Ciência que tem por objetivo o estudo dos fenômenos sócias, considerados no mesmo espírito que os fenômenos astrônomos, físicos, químicos e fisiológicos. ” 8.2. O Positivismo Sociológico O positivismo constitui a corrente filosófica que ainda atualmente mantém o domínio intelectual no seio das Ciências Sociais. Teses básicas do positivismo: a. A realidade se constitui naquilo que nossos sentidos podem perceber; b. As Ciências Sociais e as Ciências Naturais compartilham de um mesmo fundamento lógico e metodológico, elas se distinguem apenas no objeto de estudo; c. Existe uma distinção fundamental entre fato e valor: a ciência se ocupa do fato e deve buscar se livrar do valor. Hipótese central A sociedade humana é regulada por leis naturais que atingem o funcionamento da vida social, econômica, política e cultural de seus membros. Portanto, as ciências sociais, para analisar determinado grupo ou comunidade, têm que descobrir as leis invariáveis e independentes de seu funcionamento. O cientista deve se comportar frente a seu objeto de estudo- a sociedade, qualquer segmento ou setor dela - livre de juízo de valor, tentando neutralizar, para conseguir objetividade, na sua própria visão de mundo. Na prática, a postura positivista advoga uma ciência social desvinculada da posição de classe, dos valores morais e das posições políticas dos cientistas. Denominam “pré-juízos”, “pré-conceitos”, “pré-noções” ao conjunto de valores e opções a serem transpostos para que ele faça ciência (Durkheim: 1978, 46). 25 Émile durkheim (1858-1917) No campo da sociologia foi Émile Durkheim quem primeiro fundamentou as possibilidades teórico-metodológicas do positivismo para compreensão da sociedade. Reconhecendo-se como discípulo de Comte, Durkheim se aplicou a pensar a especificidade do objeto da sociologia, relacioná-las com outras ciências e lançar fundamentos de um método para a pesquisa social. Para ele o escopo da sociologia é estudar fatos que obedeçam às leis invariáveis, de forma objetiva e neutra. Os “pré-juízos” e as “pré-noções” provenientes da ideologia e da visão de mundo do sociólogo têm que ser combatidos e eliminados do trabalho através de regras do método científico: “a sociologia não é nem individualista e nem socialista”. Durkheim insiste, com todo rigor, que a sociedade é um fenômeno moral, na medida em que os modos coletivos de pensar, perceber, sentir e agir incluem elementos de coerção e obrigação, constituindo-se assim uma consciência coletiva que se expressa na religião, na divisão do trabalho e nas instituições. Sua preocupação foi criar um método que pudesse descrever os fatos sociais, classificá-los com precisão e de forma independente das ideias do cientista sobre a realidade social. Para ele, a tarefa do cientista é: a. Descrever as características dos fatos sociais; b. Demonstrar como eles vêm a existir; c. Relacioná-los entre si; d. Encontrar sua organicidade e. Tentar separar as “representações” dos fatos dadas pelas ideias que fazemos deles, da “coisa- real”. Durkheim distingue as categorias do “senso comum” como sendo os conceitos usados pelos membros da sociedade para explicar e descrever o mundo em que vivem; e os conceitos científicos que descrevem, classificam, explicam, organizam e correlacionam os “fatos sociais” de forma “objetiva”. Insiste que as causas dos fatos 26 sociais devem ser buscadas em outros fatos sociais e não na teologia ou nos indivíduos (1978, 73-161). Por “fato social”, Durkheim entende “toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior” ou ainda “o que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das manifestações individuais” (1978,92s). Para descobrir as regularidades, Durkheim e os positivistas em geral invocam a imagem do organismo humano, enfatizando os termos “estrutura” e “função”, “morfologia” e “fisiologia” que diferenciam maneiras de fazere de ser cristalizadas, onde apenas a diferença de grau distingue essa ordem de fatos observáveis interligados (1978,90-93). Alguns conceitos fundamentais elaborados por Durkheim: ✓ Solidariedade (laços que unem os indivíduos entre si) como fundamento da sociedade; ✓ A divisão do trabalho produz dois diferentes tipos de solidariedade: mecânica (sociedade primitiva, baixa diferenciação entre os indivíduos), orgânica (alta diferenciação e interdependência entre os indivíduos ocorrem na sociedade complexa); ✓ Consciência coletiva: são as crenças e sentimentos comuns aos membros de uma sociedade, sendo um sistema autônomo que persiste (embora possa modificar-se) no tempo, unindo as gerações. Envolve dimensões morais da mentalidade. ✓ Moral ("um sistema de normas de conduta que prescrevem como o sujeito deve conduzir- se em determinadas circunstâncias") é vista como fonte e fim da sociedade. A moral é derivada da sociedade, assim como a religião e a ciência, tendo fins similares de coesão e organização social. ✓ E o conceito de anomia (desregramento ou dissolução social) é entendido como derivado de uma crise na moralidade da época. Uma obra clássica: O Suicídio (1895) ✓ Suicídio como fato social, não psicológico; ✓ Estudo, por meio de análise estatística (suicídio como coisa), que busca compreender relações entre variáveis (grupos religiosos, sexo, profissões etc.) e extrair disso uma explicação social do fenômeno; 27 Refuta tese patológica (por meio da análise estatística) e elabora uma tipologia de três tipos de suicidas: ✓ Egoísta - em função da melancolia, depressão, desamparo social; ✓ Altruísta - forma de cumprir um dever social - (religião, moral, militar...); ✓ Anômico - relacionado com a situação de desregramento social, ou seja, a anomia (o rompimento do equilíbrio moral) que caracterizaria a sociedade moderna. O positivismo sociológico domina ainda hoje as Ciências Sociais, porém é alvo de muitas críticas. O primeiro problema que surge a partir da concepção positivista é a constatação de que os seres humanos não são simples forma, tamanho e movimentos: possuem uma vida interior que escapa à observação primária. Daí a dificuldade na prática de pesquisa da “neutralidade” e da “objetividade”. A história do positivismo tem revelado que a concepção que se julga independente dos juízos de valor se encaminhou na prática para a utilização dos termos de tipo matemático e um deles é a linguagem das variáveis. A consequência foi o desenvolvimento rápido de métodos de pesquisa de base estatística, tais como amostragem, escala, métodos de análise de dados (como a regressão, a correlação e técnicas as multivariadas). Sociologia – Max Weber (1864-1920) Max Weber era alemão. Obras Principais: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905) e economia e sociedade, publicação póstuma (1922). Na sociologia foi Max Weber quem estabeleceu as bases teórico- metodológicas da Ciência Compreensiva. Contra os princípios do positivismo, ele diz que: “A sociologia exige um ponto de vista especifico já que os fatos de que se ocupa implicam um gênero de causação desconhecido das ciências da natureza”. Sua definição de Sociologia passou a ser marco para essa corrente, dentro das Ciências Sociais: 28 “E uma ciência que se preocupa com a compreensão interpretativa da ação social, para chegar à explicação causal de seu curso e de seus efeitos. Em ação está incluído todo o comportamento humano quando e até onde a ação individual lhe atribui um significado subjetivo. A ação neste sentido pode ser tanto aberta quanto subjetiva (...). A ação é social quando, em virtude do significado subjetivo atribuído a ela pelos indivíduos, leva em conta o comportamento dos outros e é orientada por ele na sua realização (Weber, 1964, 33). Weber retoma aqui o tema central das Ciências Sociais, a relação entre o indivíduo e sociedade que os sociólogos necessariamente têm que tratar dos significados subjetivos do ato social. Weber quer dizer que a sociedade é fruto de uma inter-relação de atores sociais, onde as ações de uns são reciprocamente orientadas em direção às ações dos outros. Segundo Weber, a sociologia requer uma abordagem diferente das ciências da natureza, e isso se consegue através de: ✓ A pesquisa empírica a fim de fornecer dados que deem conta das formulações teóricas; ✓ Tais dados derivam de algum modo da vida dos atores sociais; ✓ Os atores sociais dão significados a seus ambientes sociais de forma extremamente variada; ✓ Eles podem descrever, explicar e justificar suas ações que são sempre motivadas por causas tradicionais, sentimentos afetivos ou não racionais. Para Weber a conduta social se apresenta em quatro formas ou categorias: ✓ A conduta tradicional, relativas às antigas tradições; ✓ A conduta emocional, reação habitual ou comportamento dos outros, expressando-se em termos de lealdade ou antagonismo; ✓ A conduta valorizada, agindo de acordo com o que os outros indivíduos esperam de nós; ✓ A conduta racional-objetiva, que consiste em agir segundo um plano concebido em relação à conduta que se espera dos demais. 29 A sociologia compreensiva em Weber nos diz que as realidades sociais são construídas nos significados e através deles e só podem ser identificadas na linguagem significativa da interação social. Weber propõe para conseguir compreender a realidade social dois princípios metodológico: a. Neutralidade de valor; b. A construção do tipo ideal; Partindo do princípio de que a história humana se constitui de “constelações singulares”, do “caso concreto”, o autor propõe a teoria dos tipos ideais como instrumento racional e teórico de aproximação da realidade. Os “tipos-ideais” não existem empiricamente, são artifícios criados pelo cientista para ordenar os fenômenos, para indicar suas articulações e seu sentido. Sintetizam e evidenciam os traços típicos, originais de determinado fenômeno tornando-o inteligível. O tipo ideal é um guia para a pesquisa empírica, pois serve (por comparação) para conduzir o cientista numa realidade complexa. Weber constrói vários tipos ideais sendo os mais conhecidos, a ética protestante e o espírito do capitalismo, a burocracia, e as formas de dominação. Sua intenção ao propor esse instrumento metodológico de compreensão da realidade é tornar as Ciências Sociais rigorosas e fidedignas, mas de uma perspectiva diferente da abordagem positivista. Através de sua tentativa de “objetividade” que se concretiza na construção dos tipos ideais e na crença de isenção de valores durante o processo de pesquisa, Weber reencontra-se com Durkheim. Cai na malha do idealismo que prevê a verificação e a validade a partir dos métodos e técnicas e os crê isentos de ingerência dos valores tanto históricos, provenientes de seu processo de produção, quanto pessoais referentes à ideologia do investigador. Weber é considerado um clássico da sociologia e sua influência se estende por várias abordagens teóricas. Com relação ao campo qualitativo, em duas correntes de pensamento encontramos o peso da sua contribuição, embora cada uma delas conserve seu esquema conceitual peculiar: a fenomenologia sociológica e a Etnometodologia. 30 8.3. A Fenomenologia A Fenomenologia é considerada, dentro das Ciências Sociais, a Sociologia da Vida Cotidiana. A fenomenologia sociológica apresenta: a) uma crítica radical ao objetivismoda ciência, na medida em que propõe a subjetividade como fundante do sentido; b) uma demonstração da subjetividade como sendo constitutiva do ser social e inerente ao âmbito da auto-compreensão objetiva; c) a proposta da descrição fenomenológica como tarefa principal da sociologia. Na fenomenologia há um curioso desconhecimento dos fenômenos estruturais e uma ausência de discussão sobre questões do poder, da dominação, da força, da estratificação social. Sua abordagem atomiza a realidade como se cada ato ou grupo constituísse um mundo social independente. Para os fenomenólogos, são os pequenos grupos como a família, as entidades religiosas, as associações voluntárias, os responsáveis, pelas identidades dos indivíduos, pela sua estabilidade e por seu sistema de significados, na medida em que os integra uma visão de mundo compartilhada. Contrapõem-se ao positivismo nos mais diferentes aspectos: ✓ À ambição dessa teoria de construir explicações totalizantes e invariáveis como nas ciências naturais /a fenomenologia afirma que a vida humana é essencialmente diferente e só pode ser compreendida através do mergulho na linguagem significativa da interação social; ✓ À separação entre fatos sociais e valores no positivismo/ a fenomenologia diz que a linguagem, práticas, coisas e acontecimentos são inseparáveis. E a linguagem é essencial para que a realidade seja do jeito que é, isto é, a realidade é a própria vida cotidiana nos indivíduos onde eles se comunicam, concordam, discordam justificam-se, negam ou criam; ✓ A pretensão de construir conhecimentos objetivos e neutros/ a fenomenologia diz que só há conhecimento subjetivo, pois é o homem que imprime leis ao real, e o ato de conhecimento reúne o observador e o observado, ambos possuidores de significados pelo próprio homem; 31 ✓ À coerção da sociedade sobre o indivíduo/ a fenomenologia proclama a liberdade do ator social que através de sua história biográfica e em inter-relação com seus semelhantes, cria significados e constrói sua realidade; ✓ Desta forma a fenomenologia proclama e absolutiza o componente ético na relação da ciência com a sociedade. Diz que o conhecimento deve estar sempre submetido a exigências morais, pois ele é uma forma dentre as possíveis de confirmação da realidade. E ao contrário do positivismo que confere primazia ao reinado da ciência, a fenomenologia advoga sua submissão aos princípios da ética e da moral de determinada sociedade. A principal crítica marxista é de que a estrutura social é captada de forma unilateral pela fenomenologia. Ao enfatizar a autonomia dos indivíduos, dos pequenos grupos, dos sistemas de crenças e valores, os fenomenólogos desconhecem as bases sociais dos valores e crenças e o caráter de totalidade, historicamente construído das relações de dominação econômica, política e também ideológica do sistema capitalista. 8.4. O Marxismo KARL MARX Fundador do materialismo histórico, Karl Marx (1818-1883), na realidade um filósofo social e economista, contribuiu para o desenvolvimento da Sociologia, salientando que as relações sociais decorrem dos modos de produção (fator de transformação da sociedade), numa tentativa de elaborar uma teoria sistemática da estrutura e das transformações sociais. Sua Obra principal: O capital (1867-1895). O postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade. O homem, para satisfazer suas necessidades, atua sobre a natureza, criando relações técnicas de produção. Todavia, essa atuação não é isolada: na produção e distribuição necessárias ao consumo, o homem relaciona-se com outros 32 seres humanos dando origem as relações de produção. O conjunto dessas relações leva ao modo de produção. Os homens desenvolvem as relações técnicas de produção através do processo de trabalho (força humana e ferramentas), dando origem as forças produtivas que, por sua vez geram um determinado sistema de produção (distribuição, circulação e consumo de mercadorias); o sistema de produção provoca a divisão de trabalho (proprietários e não proprietários das ferramentas de trabalho ou dos meios de produção) e o choque entre as forças produtivas e o proprietário dos meios de produção determina a mudança social. Para Marx, a sociedade divide-se em infraestrutura e supre estrutura. A infraestrutura é a estrutura econômica, formada das relações de produção e forças produtivas. A superestrutura divide-se em dois níveis: o primeiro, a estrutura jurídica política, é formada pelas normas e leis que correspondem a sistematizações das relações já existentes; o segundo, a estrutura ideológica (filosofia, arte e religião et.), justificativa do real, é formada por um conjunto de ideias de determinadas classe social que através de sua ideologia defende seus interesses. Sendo a infraestrutura determinante, toda mudança social se origina das modificações nas forças produtivas e relações de produção. De acordo com esta teoria, Marx, juntamente com Engels, chegou a uma classificação de sociedades segundo o tipo predominante de relações de produção: a comunidade tribal, a sociedade asiática, a cidade antiga, a sociedade germânica, a sociedade feudal, a sociedade capitalista burguesa (comercial; manufatureira e industrial; financeira e colonialista) e a sociedade comunista sem classes que se instalaria através da ditadura do proletariado). A obra de Marx é coerente com o princípio básico de sua metodologia de investigação científica: tem a marca da totalidade. Esse caráter de abrangência, que tenta a partir de uma perspectiva histórica, cercar o objeto do conhecimento através da compreensão de todas as mediações e correlações, constitui a riqueza, a novidade e a propriedade da dialética marxista para explicação do social. O princípio da união dos contrários abrange as totalidades parciais e as totalidades fundamentais. Isso significa perceber que existe uma relação dialética: 33 a) entre os fenômenos e sua essência, entre as leis e o fenômeno; b) entre o singular e o universal; c) entre a imaginação e a razão; d) entre base material e a consciência; e) entre teoria e prática; f) entre objetivo e subjetivo; g) entre indução e dedução; Dentro da perspectiva marxista como sociologia do conhecimento, os princípios fundamentais que explicam o processo de desenvolvimento social, podem ser resumidos nos termos MATERIALISMO HISTÓRICO E MATERIALISMO DIALÉTICO. Enquanto materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade (nos grupos de classes sociais) e realizar a crítica da ideologia. Lowy afirma que devemos preservar o que há de essencial no pensamento marxista, o seu caráter histórico, “o historicismo é o centro, o elemento motor, a dimensão dialética e revolucionária do método” (Lowy:1986,26). Marx tomando a história como centro, tem um diálogo com os que ele denomina “materialistas vulgares”, os contrapõe aos “ideólogos alemães, e critica ambos: “Para os materialistas vulgares a produção real da vida aparece como não histórica, ao passo que o histórico é mostrado à vida comum supraterrestre” (1973, 27). Um exame do prefácio Contribuição à Crítica da Economia Política- nos mostra que a expressão “material” em Marx é usada para designar as condições primárias da vida humana. Suas expressões: “vida material”, “condições materiais de existência”, “forças materiais de produção”, “transformação das condições materiais de produção” estão relacionadas com uma historiografia. Visam promover uma interpretação científica das transformações sociais que baixam do céu para a terra, isto é, das ideias como fonte, para o homem-natureza-sociedade como geradores. Neste sentido sua historiografia é uma “sociologia histórica”. 34 São dois os conceitos fundamentais que resumem materialismo dialético, conceitos que carregam um alto grau de totalidade: Modo de produção e Formação Social. ➢ Modo de Produção: a) uma estrutura global formada por estruturas regionais (ou instâncias), ou seja, uma estrutura econômica, uma estrutura jurídica-política; uma estrutura ideológica; b) uma estrutura global na qual existe sempre uma estrutura regional que domina os demais. Esta dominância de qualquer uma das instâncias se dá historicamente; c) uma estrutura global na qual é sempre o nível econômico que determina as outras instâncias. Modo de Produção é um conceito abstrato formal que não existe na realidade, mas pretende ser um modelo teórico de aproximação da realidade. A ele Marx associa o de Formação Social que se refere ás dimensões dinâmicas das relações sociais concretas numa sociedade dada. ➢ Formação Social se constitui uma unidade complexa de articulação das várias instâncias da organização social que pode conter vários modelos de produção, entre as quais um é dominante e determina os outros. Pode ser entendida como a realidade que se forma processualmente na história, seja ela mais ou menos organizada ou institucionalizada, macro ou micro sociológico. O estudo de uma formação social inclui tanto as mudanças e transformações como as permanências e suas formas estruturais. É dentro do conceito abrangente de Formação Social que podemos analisar uma determinada sociedade, o desenvolvimento das forças produtivas e a relações sociais de produção; as classes sociais básicas e as lutas de classe; a divisão do trabalho; as formas de produção, circulação e consumo de bens; a população; as migrações; o Estado; o desenvolvimento da Sociedade civil; as relações nacionais e internacionais de comércio, de produção e de dominação; as formas de consciência real e possível dos diferentes grupos sociais e por fim o “modo de vida”, conceito que em Marx está vinculado a “modo de produção”. 35 A Sociologia Marxista Marx nas Ciências Sociais e no mundo social O pensamento de Marx tende ao holístico, suas ideias tiveram enorme impacto nas Ciências Sociais – constituindo-se numa das fontes mais importantes da Sociologia assim como na política e em vários outros âmbitos intelectuais e sociais. A dialética de Hegel. Talvez a influência mais significativa no pensamento de Marx seja a do filósofo Hegel (1770-1831) que postulava a dialética como um movimento histórico e um método de apreensão do conhecimento; Na dialética hegeliana a compreensão dos fenômenos ocorre pela captura intelectual de uma unidade dialética, que só pode ser vislumbrada em algo (por exemplo, o “finito”) se o seu oposto (o “infinito”) também for articulado à reflexão. O pensamento dialético operaria a partir da “tese” e da “antítese”, em busca de uma “síntese”, que seria um raciocínio superior, mas ainda passível de superação nesse movimento contínuo da reflexão entre o particular e a totalidade; Marx funda seu método de análise, o chamado materialismo histórico (ou materialismo dialético histórico) na crítica (e potencial superação) ao “idealismo” da posição de Hegel. Isso porque enquanto para Hegel haveria uma Ideia Absoluta que regeria a marcha rumo à sua própria realização, entre teses/antíteses e contínuas sínteses provisórias, para Marx são os homens historicamente situados que fazem esse movimento. O materialismo histórico dialético Em termos sintéticos, para Marx, o “ideal” nasce do material, da realidade que os homens vivem (daí o “materialismo”), situado na história (o “histórico”), realizando-se em lutas (contradições) sociais que – em sua trajetória histórica – possuem um caráter “dialético”; Desse modo: “Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a ótica dialética cuida de apontar as contradições constitutivas da vida social que resultam na negação e superação de determinada 36 ordem” (Oliveira e Quintaneiro, 2002, 29); É por isso que se nota que na essência do método marxista de análise está a contradição. Superestrutura e infraestrutura social De acordo com o ponto de vista materialista de Marx, o elemento primordial da realidade social é o modo como os homens produzem suas condições de existência, ou seja, a base econômica da sociedade. E esta base é o fundamento das instituições políticas e sociais do Estado, bem como das diferentes estruturas ideológicas de uma sociedade (arte, política, filosofia, religião, direito etc.); assim, segundo o conhecido esquema marxista, as ideias (superestrutura) derivam, em última análise, da base material de uma sociedade (infraestrutura); e as ideias dominantes em qualquer época são as da classe dominante, procurando manter sua dominação. Modos de produção e mudança social Para compreender como Marx vê o desenvolvimento histórico, é importante detalhar mais a noção de “base econômica”. Esta é constituída de determinadas relações sociais de produção e forças produtivas, que possuem determinado estágio de desenvolvimento conforme a época. A ideia de “forças produtivas” resume os elementos essenciais à produção (tecnologia, instrumentos, matéria-prima etc.) e as “relações sociais de produção” dizem respeito ao modo como os meios de produção são distribuídos e o produto é apropriado; Da conjunção entre certa organização de forças produtivas e relações sociais de produção resulta determinado modo de produção (por exemplo, o capitalismo) e é a partir da sucessão entre modos de produção que se dá a mudança histórica, segundo Marx. A “luta de classes” como motor (e lei) da história Se for a sucessão entre os modos de produção que gera a mudança histórica e social, o que faz com que um modo de produção supere outro? 37 Segundo Marx, isso ocorre devido à luta de classes. A luta de classes seria o motor da história, sendo um conceito que permitiria compreender o passado e o futuro da humanidade (até a síntese final que seria o “comunismo”). A luta de classes pode ser definida como as relações de antagonismo existentes entre classes sociais (a dominante e a explorada), que levam a uma superação dialética no plano da história, em outro estágio. São exemplos de situações de lutas de classe (e correspondentes modos de produção): escravos e patrícios na Antiguidade (escravismo), servos e senhores feudais (feudalismo), trabalhadores e capitalistas (capitalismo). Grosso modo, no esquema dicotômico apresentado, a classe dominante é a proprietária dos meios de produção, ao contrário da classe explorada. É no sentido exposto que Marx afirma no Manifesto Comunista que toda história humana tinha sido a história da luta de classes, na qual a classe explorada era a agente de mudança. A crítica do capitalismo em Marx Marx dedicou grande parte de sua obra – principalmente seu trabalho mais elaborado, O Capital (Livro 1 – 1867) – à análise do capitalismo.De um lado, Marx reconhecia o caráter revolucionário, dentro da história humana, desse modo de produção e o papel da burguesia no mesmo. De outro lado, criticava os aspectos alienantes e anti emancipação humana que observara, afirmando que o estágio de superação do capitalismo e consequentes relações sociais – via luta de classe – seria a posterior sociedade sem classes do “comunismo” (após a “ditadura do proletariado” e o socialismo que a vitória dos explorados pelo capitalismo produziria). Um dos pontos criticados por Marx no capitalismo era a alienação que o sistema produzia no trabalhador, já que este: Não se reconhecia nos produtos que elaborava; (Perdia o domínio em relação às condições do trabalho que poderia sequer ser compreendido pelo ele), sendo sua energia mental e física sugada por atividades que não lhe diziam respeito; e por fim, o capitalismo fazia com que o trabalho humano – o que distingue os homens dos animais – não fosse livre, passando a ser algo apenas ligado à sobrevivência. Assim, Marx acreditava que a existência humana se degradava, em função do capitalista só reconhecer o homem enquanto um ser a explorar. Ao não reconhecer 38 a humanidade de todos os homens, o próprio burguês estaria desumanizando-se. Por isso, a transformação no modo de produção (rumo ao socialismo) também emanciparia o capitalista. A “mais-valia” e o “fetichismo da mercadoria” O capitalismo, para Marx, era o reino da mercadoria, sendo esta uma categoria central desse sistema, e toda mercadoria possuiria dois tipos de valor: Valor de uso, correspondente ao tipo de necessidade a que ela responde (comer, vestir etc.); Valor de troca, que é derivado do tempo de trabalho socialmente necessário para produzir a mercadoria. Assim, no mercado do capitalismo, as trocas são regidas por essa abstração do trabalho humano (o “valor de troca”) e, mesmo, do valor de uso. Como para Marx o trabalho é a única fonte de geração do valor, e o trabalhador vende sua força de trabalho (uma mercadoria) por um valor menor do que aquele que cria, essa diferença gera a “mais valia” que é apropriada pelo capitalista, tornando-se parte da riqueza do mesmo. Essa taxa de exploração do trabalhador é mascarada pela ideologia igualitária do capitalismo. Ao mesmo tempo, a ideologia capitalista, segundo Marx, obscurece a relação (homens/trabalho) que existe na troca de mercadorias, alienando os homens de suas reais relações (humanas) no mercado. Desse modo, parece a muitas pessoas que as mercadorias possuem vida própria, uma relação mágica entre si. Isso é o que Marx chamou de o “fetichismo da mercadoria”, que faz com que os valores pareçam uma propriedade natural das coisas. “Através da forma fixa em valor-dinheiro, o caráter social dos trabalhos privados e as relações entre os produtores se obscurecem. É como se um véu nublasse a percepção da vida social materializada na forma dos objetos, dos produtos do trabalho e de seu valor” (Oliveira e Quintaneiro, 2002, 55). O marxismo como teoria crítica revolucionária Ao dedicar-se à crítica do capitalismo a obra marxista buscou afirmar-se como um meio para a tomada de consciência necessária para o fim da exploração capitalista, ou seja, uma 39 teoria voltada à práxis. O fim do capitalismo, que traria em si seus elementos de superação, seria inevitável, segundo o modelo histórico marxista, e o grupo social que mudaria a realidade seria aquele em situação de antagonismo com a burguesia dominante: o proletariado. É famosa, como uma síntese do que imaginava ser a tarefa de sua filosofia, a frase de Marx: “os filósofos até agora apenas interpretaram o mundo, de vários modos; agora é preciso transformá-lo”. Fundamentos históricos, teórico-metodológicos do serviço social POSITIVISMO Apreensão manipuladora, instrumental e imediata do ser social; Aborda as relações sociais dos indivíduos e suas vivências imediatas, como fatos (dados) que se apresentam em sua objetividade e imediaticidade; Restringe a visão de teoria ao âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação; Volta-se para ajustes e conservação. FUNCIONALISMO Propostas de trabalhos ajustadoras; Perfil manipulatório; Aperfeiçoamento de instrumentos e técnicas; Metodologia da ação; Busca de eficiência, satisfação de modelos de análise, diagnóstico e planejamento; Tecnificação da ação profissional Crescente burocratização Aumento as atividades institucionais FUNCIONALISMO, ESTRUTURALISMO – (POSITIVISMO) Vertente modernizadora: abordagem funcionalista, estruturalista e sistêmica da matriz positivista; Modernização tecnológica; Integração da sociedade; 40 Relacionamentos interpessoais; Configurações de um projeto renovador tecnocrático na busca da eficiência e da eficácia. FENOMENOLOGIA Metodologia dialógica; Visão de pessoa e comunidade de E. Mounier (1936) - dirigido ao vivido humano; sujeitos e vivências; Netto (1994) analisa como forma de naturalização do conservadorismo presente no pensamento inicial da profissão. MARXISMO A consciência da inserção da sociedade de classe; No primeiro momento aproximação do Marxismo sem o recurso ao pensamento de Marx; Vertente comprometida com a ruptura do Serviço Social tradicional e conservador. 41 QUESTÕES DE PROVAS 1. 2014/FGV/PROJETOS. O Serviço Social nos anos 1940 se reorganiza visando atender às novas configurações do desenvolvimento capitalista, que exigiu a qualificação do seu espaço sócio ocupacional. Nesse processo, articulam-se novos arranjos teórico-metodológicos inspirados na (o): A) fenomenologia e marxismo. B) estruturalismo e modernização. C) funcionalismo e pós-modernismo. D) psicologismo e desenvolvimentismo. E) humanismo e positivismo 2. 2015/CESGRANRIO/PETROBRÁS. O serviço social brasileiro, no contexto da ditadura militar, passou a experimentar um processo de renovação que modificou, substantivamente, o chamado serviço social tradicional. Sobre quais dimensões essas mudanças incidiram? a) Na teoria social elaborada pela profissão b) No lugar da profissão na divisão do trabalho c) No estatuto científico do serviço social d) Nas condições de autonomia profissional e) Nas práticas e nas concepções profissionais 3. 2014/FUNCAB/SEDS-TO. Uma das questões a serem enfrentadas pelo serviço social contemporâneo refere-se à denominada crise dos modelos analíticos. O modelo de pensamento, produzido historicamente, que se relaciona com os modos mais flexíveis de acumulação do capital é a (o): a) Marxismo. b) Pós-modernismo c) Teoria crítica d) Macroeconomia. 42 4. 2014/ COSEAC/UFF. Segundo a análise de Iamamoto (2007), o serviço social brasileiro, a partir dos anos 80, registra um processo de ruptura de caráter teórico e prático-político com a herança conservadora. Nesse contexto, os debates sobre os fundamentos do serviço social estiveram presentes através de alguns eixos temáticos. Dentre eles, destacam-se: a) a metodologia e a ideologia do trabalho profissional, com ênfase na teoria crítica. b) a construção da esfera pública e a defesa das políticas sociais ligadas ao Estado. c) a cidadania e a democracia na construção de um novo projeto profissional. d) o resgate da historicidade da profissão, a crítica teórico-metodológica e a ênfase na política social pública. e) a apropriação
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