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Professor como intelectual transformador

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Curso: 
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
	Módulo:
	Ano/Semestre:
2019.2
	Disciplina: 
Seminários Temáticos III
	Nome Completo do Aluno (a): 
	Polo: Dom Pedro Data: 05 / 10 / 2019
São vários os aspectos da cultura de massa dentro do ambiente escolar, para traça-los devemos inicialmente elucidar o conceito em questão. Podemos exemplificá-lo da seguinte maneira: uma determinada gravadora resolve lançar um novo cantor no mercado, para isso ela produz sua música, compra espaço no rádio, na TV e na internet, e lá começa a divulgá-la, para centenas de milhões de pessoas que, além da música, consomem outros produtos derivados, como camisas, pôsteres, miniaturas, etc. Dessa forma funcionam a cultura de massa e a indústria cultural, um emissor comercializa uma informação para milhões de receptores que a recebem de forma passiva, sem serem capazes de dar uma opinião ou questioná-la.
Ao observar o dia a dia de uma escola pública de um povoado no interior do Maranhão, é possível perceber que nem lugares pequenos e pouco desenvolvidos como esse estão imunes aos efeitos da produção cultural massiva comercializada hoje em dia. Isso é nítido ao observarmos que a grande maioria dos alunos observados são usuários de objetos vendidos pela mídia, como roupas ditas da “moda”, entre outros objetos, sem falar no uso do celular, que além de ser um produto da indústria cultural, também reproduzia músicas do momento, que são consumidas pela maior parte da população.
Os efeitos disso são bem controversos:
A TV e os demais produtos da cultura de massa são fenômenos, sem dúvida, controversos e complexos. Ora manipulam, ora servem como resistência frente a uma cultura do status quo. Ora educam, segundo uma lógica hedonista, ora educam para a emancipação (SETTON, 2004, apud KELLNER, 2001; THOMPSON, 1995; MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 61).
No entanto, o principal problema no relacionamento entre a cultura de massa e a escola não está no que os professores e os alunos vestem ou consomem, mas, sim, no paralelo que existe entre a atividade da indústria cultural e a do docente. Nós somos diariamente bombardeados por informações e produtos, principalmente por meios midiáticos, que nos oferecem conteúdos e produtos que não têm nenhum compromisso qualitativo, apenas quantitativo, e que visam somente o capital. Mesmo assim, as grandes massas não são capazes de questionar o que está por trás disso, elas simplesmente consomem, de maneira quase que irracional, tudo que lhes é repassado e dito como adequado. 
A prática pedagógica representa uma política específica de experiência, isto é, um campo cultural no qual o conhecimento, o discurso e o poder se juntam de forma a produzir práticas de regulação moral e social (Giroux, 1997). Semelhante ao que a indústria cultural faz, a escola também tem capacidades semelhantes, que é a capacidade de controle social guiada por diretrizes criadas por determinados grupos e indivíduos, segundo suas convicções e ideologias. Giroux (1997, p. 124) ainda diz que:
[...] as escolas não são de forma alguma ideologicamente inocentes, e nem simplesmente reproduzem as relações e interesses sociais dominantes. Elas, contudo, de fato exercitam formas de regulação moral e política intimamente relacionadas com as tecnologias de poder que “produzem assimetrias na capacidade de grupos e indivíduos de definir e compreender suas necessidades”. Mais especificamente, as escolas estabelecem as condições sob as quais alguns indivíduos e grupos definem os termos pelos quais os outros vivem, resistem, afirmam e participam na construção de suas próprias identidades e subjetividades.
Nós estamos sujeitos constantemente a formas de dominação e controle muito claras. É nítido que na nossa sociedade atual que algumas das ferramentas mais poderosas são as manifestações midiáticas que, com seu grande apelo e alcance popular, e sua capacidade de manipulação através de uma linguagem simplificada e impositiva, é capaz de moldar pensamentos e incentivar ações que não aconteceriam de forma natural muito facilmente, como a derrubada de um governo, por exemplo. E sendo isso uma manifestação social, também existem reflexos em outras esferas, como a escolar, onde o discurso no qual o professor é posicionado geralmente tende a privilegiar determinadas ideologias e representações da vida cotidiana, discurso esse que pode se manifestar através dos currículos e das relações sociais escolares (Foucault, 1980). 
Dentro dessa pedagogia impositiva, o aluno é um mero espectador, moldado por um discurso de administração e controle onde a consideração de experiências próprias e a construção de subjetividades não é levada em frente. Foi nítido nas aulas observadas que os professores, no geral, seguiam um roteiro semelhante, que era o de apresentação do conteúdo teórico e logo depois o treinamento prático com exercícios. Na grande maioria das vezes a única participação do aluno é durante a manifestação de alguma dúvida quanto à matéria. Quanto a isso, Giroux (1997, p. 127) argumenta:
[...] a experiência do estudante é reduzida a seu desempenho imediato e existe como algo a ser medido, administrado, registrado e controlado. Sua particularidade, suas disjunções e sua qualidade vivida são todas diluídas numa ideologia de controle e administração.
Ele, no entanto, diminui a culpa do professor, dividindo-a com suas condições de trabalho dizendo que “ao mesmo tempo, as condições sob as quais os professores trabalham são mutuamente determinadas pelos interesses e discursos que fornecem a legitimação ideológica para a promoção de práticas escolares hegemônicas (Giroux, 1997, p. 127). 
A escola é um órgão social muito peculiar pois, como já foi dito, ela reflete outros âmbitos, ela faz parte de toda uma estrutura cultural e política, de forma a estar intimamente ligada a todas as áreas que compõem a estrutura de nossa sociedade. E além de incorporar práticas destas outras esferas, ela também as reproduz (Giroux, 1997). 
Dentro dessas relações de poder existentes na escola, um agente muito importante é a linguagem, que tem papel central tanto na emancipação, quanto na sujeição do aluno, dependendo de como ela é usada, pois “a sala de aula deve ser um espaço de narrativas plurais, descentralizando o discurso autoritário (do/a professor/a, da instituição, do Estado), pois para o autor a ―língua constitui a realidade, mais do que meramente a reflete” (CORTEZ, 2015, p. 36, apud MCLAREN, 2000).
Sobre isso Giroux (1997, p. 135) diz:
[...] as escolas são locais de contestação e luta que, enquanto locais de produção cultural, incorporam representações e práticas que constroem bem como bloqueiam as possibilidades de agência humana entre os estudantes. [...] um dos elementos mais importantes em funcionamento na construção da experiência e subjetividade nas escolas é a linguagem. Neste caso, a 7linguagem intersecciona-se com o poder na maneira como uma forma linguística particular é usada nas escolas para legitimar e estruturar as ideologias e modos de vida específicos. A linguagem, neste caso, está intimamente relacionada com o poder, e funciona tanto para posicionar quanto constituir a forma na qual os professores e estudantes definem, medeiam e compreendem sua relação uns com os outros e com a sociedade mais ampla.
Diante das observações feitas em sala e do conteúdo teórico já abordado, percebemos que a escola tem se tornado um ambiente de repreensão das capacidades críticas do aluno, inibindo cada vez mais sua criatividade e falhando no processo de criação do conhecimento, deixando de levar em conta as experiências e as subjetividades de cada um, isso tudo por causa de um currículo prejudicial ao processo educacional, um processo de formação docente ineficaz e metodologias falidas. 
Na tentativa de mudança desse cenário o professor ocupa uma posição capital. Um dos principais pontos é a formação desse profissional: “[...] os programas de treinamentode professores que enfatizam somente o conhecimento técnico prestam um desserviço tanto à natureza do ensino quanto a seus estudantes” (GIROUX, 1997, p. 159 apud DEWEY, 1904). Nestes hábitos criticados por John Dewey o professor não é estimulado a refletir sobre a prática em sala de aula e mais, as vezes aprendem metodologias que até desestimulam o uso do pensamento crítico.
Sobre isso Giroux (1997, p. 159) argumenta:
Em vez de aprenderem a levantar questões acerca dos princípios que subjazem os diferentes métodos didáticos, técnicas de pesquisa e teorias da educação, os estudantes com frequência preocupam-se em aprender o "como fazer", "o que funciona" ou o domínio da melhor maneira de ensinar um "dado" corpo de conhecimento. Por exemplo, os seminários obrigatórios de prática no campo consistem na partilha das técnicas utilizadas pelos estudantes para administrar e controlar a disciplina em sala de aula, organizar as atividades do dia e aprender a trabalhar dentro de cronogramas específicos.
Ante essa situação se faz necessário desconstruirmos essa ideia do professor e passarmos a tê-lo como um profissional intelectual transformador, que significa um profissional comprometido a ajudar os estudantes serem experientes, críticos e bravos o suficiente para encontrar novos caminhos justos para suas comunidades, isto é, se desenvolverem como cidadãos ativos e engajados em mudanças sociais.
REFERÊNCIAS
CORTEZ, Cinara Monteiro. Que escola é possível? Gerando entendimentos sobre os desafios no cotidiano escolar e nas aulas de língua portuguesa em uma escola pública na favela. Tese (Doutorado em Letras) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 36. 2015.
FOUCAULT, Michel. Power/Knowledge: Selected Interviews and Other Writings 1972-1977. Nova Iorque: Vintage, 1980.
GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
SETTON, Maria da Graça Jacintho (março/maio de 2014). A educação popular no Brasil: a cultura de massa. Revista USP(61), 58-77.

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