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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA AGROSTOLOGIA / MEV-137 Marciara de Souza Cardoso e Verônica Fabiana Alves Santos Produção de leite a pasto: Uma abordagem empresarial Salvador 2019 Marciara de Sousa Cardoso e Verônica Fabiana Alves Santos Produção de leite a pasto: Uma abordagem empresarial Salvador 2019 Trabalho escrito apresentado à disciplina Agrostologia, sob orientação do professor Jonival Costa, como componente de avaliação parcial do semestre de 2019.1. SUMÁRIO 1. Introdução ......................................................................................................4 2. Objetivo ...........................................................................................................5 3. A Atividade Pecuária Leiteira Brasileira......................................................6 3.1. Fatores relacionados ao desempenho da pecuária................................6 4. Viabilidade econômico-financeira.................................................................8 5. Conclusão.......................................................................................................11 6. Referências.....................................................................................................12 7. Anexos............................................................................................................13 Produção de leite a pasto: uma abordagem empresarial 1. Introdução: Nas últimas décadas, a atividade leiteira brasileira evoluiu de forma contínua, resultando no crescimento consistente da produção, o que colocou o país como um dos principais do setor no mundo. Segundo a Embrapa, em 2018 o Brasil ocupava o 4º lugar como maior produtor leiteiro do mundo, produzindo em média 35 bilhões de litros/ano. Castro (Paraná), por exemplo, foi a cidade com maior média em produtividade leiteira do país, com 7.478 litros/vaca/ano, um número muito superior à média nacional, de 1.709 litros, e de países especializados, como Argentina, Uruguai e Nova Zelândia. No plano estadual, Santa Catarina foi apontada como o estado de maior destaque na produção de leite em 2018. Em 11 anos, sua produção cresceu 92%, atingindo, no ano passado 3,7 bilhões de litros. Segundo seus produtores, contribuíram para tal salto, principalmente, vocação, clima e topografia. A mesma ordem vale para os outros dois estados do Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) que, juntos, fazem a produtividade da região ser bem superior à de qualquer outra do país. Em volume, deve ultrapassar a região Sudeste este ano. No sistema confinado, os animais ficam o tempo todo em galpões, recebem alimentação no cocho, normalmente contam com ambiente climatizado, com animais de alta genética e alta produção. No semi-confinado, os animais passam também a maior parte do tempo em galpões, mas possuem áreas de pastejo na qual ficam algumas horas por dia. Os dois sistemas tem um alto custo de produção devido à altos investimentos iniciais, alta demanda por mão de obra e aos alimentos concentrados da dieta. No sistema à pasto, os animais passam a maior parte do tempo nas pastagens, normalmente dividida em piquetes, ficando nos galpões somente para a ordenha e para receber uma pequena quantidade de concentrado, que irá suplementar sua dieta (RUBEZ, 2003). Por possuir grandes extensões latifundiárias, a criação de animais no Brasil a pasto é uma área de crescente atividade. Destacando sistema a pasto para a produção leiteira, onde atualmente é considerado aquele que apresenta o menor custo. Porém, pastagem de baixa qualidade não condiz com vacas de alto potencial, como também animal de baixa produção não apresenta desempenho em pastagens de alta qualidade. É preciso manter o equilíbrio entre o potencial dos animais, a qualidade da pastagem e o sistema de manejo. Sendo assim, para a implantação de um sistema de produção de leite a pasto objetivando grandes lucros, é preciso avaliar alguns fatores. Dentre os que interferem na produção, têm-se alguns primordiais, como a escolha da raça, o sistema de produção a ser adotado e a alimentação. 2. Objetivo: O presente trabalho tem como objetivo avaliar os pontos essenciais para o produtor na aplicação de um sistema de produção de leite a pasto, descrevendo pontos essenciais a serem analisados no sistema em questão. 3. A Atividade Pecuária Leiteira Brasileira A pecuária leiteira tem atravessado profundas mudanças nos últimos anos, no setor econômico, falta de regulamentação governamental, exposição à concorrência externa que, crescentes custos de produção e queda no preço pago pelo litro de leite, tornaram a atividade um verdadeiro desafio. Ainda faz parte do cenário da produção leiteira brasileira uma cadeia produtiva distorcida, o qual o produtor de leite ainda se apresenta de descapitalização o que inviabilização o incremento da produção. Apesar dos números gerais impressionarem pelo volume alcançado, a atividade esconde índices zootécnicos, produtivos e econômicos fracos e muito aquém dos observados em outros países produtores, como Austrália e Nova Zelândia. 3.1 Fatores relacionados ao desempenho da pecuária leiteira a) A rentabilidade: A falta de um modelo estruturado e uma cadeia produtiva confiável, aliado a crescente valorização dos insumos e o não acompanhamento dos preços recebidos pelo litro do leite, tem descapitalizado ano após ano os produtores, de forma tal que atualmente a busca por maneiras de equacionar o custo de produção tornou-se o ponto crucial da atividade. O preço do litro fechou em maio em R$ 1,4183 (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea). b) Acesso escasso a informações: Compromete tanto a escolha de equipamentos, materiais e alimentação, que somados influem diretamente no desempenho e qualidade da produção. c) Baixa escolaridade dos criadores: Acarreta no manejo inadequado dos utensílios e equipamento de produção. Necessário e importante investir na capacitação e treinamento dos criadores e ordenhadores. d) Ausência de inovações tecnológicas: Contribui para queda na produção, no que diz respeito a eficiência, qualidade e rendimentos da produção. e) Escolha da alimentação: A produção de leite a pasto é o sistema mais econômico. A pastagem é a fonte de nutrientes mais econômica em qualquer parte do mundo, mas principalmente em países em desenvolvimento. Além do aspecto econômico, a utilização mais racional das pastagens auxilia na preservação dos recursos renováveis e permite a produção de leite sob condições mais naturais. Deve-se pensar na espécie de planta forrageira que será implantada, bem como seu valor nutritivo para o animal, palatibilidade, índice pluviométrico característico daquela planta, acidez do solo, entre outras considerações. Considerando que a alimentação constitui o principal componente do custo da produção de leite, uso de pasto, por ser um alimento mais barato do que as forrageiras conservadas, pode contribuir significativamente para reduzir o custo da atividade. Diante disso, a intensificação da produção de leite a pasto tem por base a utilização de espécies ou cultivares forrageiras de elevada a produção de matéria seca com alta qualidade, que associadas ao uso de práticas racionais de manejo contribuem para aumentar a taxa de lotação, e, conseqüentemente, a produtividade. f) Escolha das forrageiras: O processo de intensificação da produção de leite sob pastejo objetiva o aumento dacapacidade de suporte da pastagem, aumento da produção e produtividade, economia no uso de concentrados, melhoria da qualidade das pastagens, maior aproveitamento e sobra de áreas da propriedade para outras atividades. Nesse processo são empregadas forrageiras de alto potencial produtivo e boa qualidade associadas ao manejo intenso da pastagem. Dentre as forrageiras recomendadas destacam-se algumas cultivares de capim elefante (P. purpureum), Panicum maximum, brachiaria brizantha, cynodon dactylon. O capim-elefante e a cynodon dactylon são as forrageiras que têm sido mais utilizadas em pastejo rotativo (devido ao porte alto e ereto), apresentando os resultados significativos em termos de aumento da produtividade de leite. O capim-elefante é uma forrageira tropical de origem africana apresentando como principais características: hábito de crescimento cespitoso (formato de toupeira ou tapete), plantas de porte alto, propagação vegetativa e elevado potencial de produção de massa seca de boa qualidade. A espécie encontra-se amplamente distribuída nos trópicos, sendo tradicionalmente utilizada pelos produtores de leite sob a forma de forragem cortada. Diversos pesquisadores consideram o capim-elefante como uma das forrageiras de maior potencial para a intensificação da produção de leite a pasto. Escolha da área deve considerar as exigências da forrageira em relação a fertilidade do solo, declividade do terreno e facilidade de manejo. Para o capim-elefante deve-se escolher uma área de solo fértil, de topografia plana ou levemente inclinada e não sujeita ao encharcamento. Pode-se considerar a possibilidade de uso da irrigação e aproveitamento dos dejetos animais oriundos dos currais de manejo. Além da adoção de um sistema produtivo eficiente, o pecuarista leiteiro precisa aprender a controlar os dados zootécnicos de sua propriedade afim de torná-la competitiva. Fatores como preço da energia utilizada, custos de financiamentos, remuneração da mão-de-obra, custos de insumos e grãos são itens que compõem o custo econômico da atividade. 4. Viabilidade econômico-financeira: Segundo Ronaldo Silva, um sistema de produção de leite a pasto, racionalmente conduzido, torna a atividade leiteira competitiva, uma vez que eleva a disponibilidade de forragem e permite sua utilização de forma mais eficiente pelo rebanho leiteiro, visto que pesquisas estimam uma perda entre 50 a 80% das pastagens pelos mais diversos fatores. a. Investimento É um desembolso visando gerar benefícios futuros, acima de um ano geralmente. Com isso o benefício futuro éjustificado se houver recebimento (Souza e Clemente, 2004). O grande impasse na criação de animais, sem dúvida é a alimentação. Entretanto, em comparação com a produção intensiva, a extensiva mostra-se mais barata. Todavia, para a implantação de um sistema de produção de leite a pasto é necessário um investimento inicial. Esse investimento dependerá de fatores, como: área a de plantação das forrageiras, formação das pastagens (adubação, tipo de forrageira), equipamentos para manutenção do solo, mão de obra, rebanho, sala de ordenha, equipamentos/máquinas (ordenhadeira, cocho, bebedouro), etc. b. Custos de produção: É todo gasto realizado pela empresa na aquisição dos fatores fixos e variáveis que foram utilizados no processo produtivo. Que pode ser dado pela seguinte fórmula: CT= CFT x CVT Onde, • CT: Custo Total; • CFT: Custo Fixo Total; • CVT: Custo Variável Total. Dentre os principais custos da atividade, pode-se ressaltar o manejo das pastagens, manejo animal e custo com energia, salário dos operadores, gasto com água, manutenção dos equipamentos (ordenhadeira por exemplo). Cabe salientar que os custos variáveis são valores que aumentam oudiminuem direta e proporcionalmente com as flutuaçõesocorridas na produção e vendas. Um exemplo de aplicabilidade que reduz os custos variáveis de um sistema de produção a pasto é a instalação da irrigação, visto que contribui para a manutenção do pasto, principalmente nos períodos de seca, aumentando assim a disponibilidade do alimento nesse período. Já o custo fixo, é todo aquele que permanece constante dentro de umintervalo de tempo, independente das variações ocorridas novolume de produção e vendas durante esse período. Este apresenta cerca de 20% dos custos totais. Na bovinocultura leiteira, a alimentação é o componente de maior participação no custo da produção. Sendo assim, por minimizar o uso de concentrados e tornar o pasto relativamente autossuficiente na alimentação do rebanho leiteiro, a utilização adequada de pastagens pode reduzir consideravelmente os custos de produção de leite (Silva, 2011). A atividade leiteira deve ser dividida em quatro setores principais de produção: as máquinas, produção de alimentos, produção de animais e produção de leite. c. Depreciação Redução do valor de um bem ao longo do tempo de vidaútil. A dedução anual dos resultados antes do imposto de renda, os efeitos do uso e do tempo sobre o bem são refletidos nos financeiros anuais da empresa, assim determinando a depreciação contábil. Nada mais é que a diferença entre o preço de compra de um bem e seu valor de troca no final de um determinado tempo. Ao longo do tempo, cada ferramenta e equipamento vão perdendo gradativamente sua funcionalidade. Isso implica na importância das manutenções sejam anuais ou de acordoa exigência do equipamento/ferramenta. No caso da produção leiteira, cabe destaque para os equipamentos como a ordenhadeira, cercas e a própria renovação do rebanho. No caso do rebanho, depreciação deve ser calculada considerando a vida útil, iniciando quando este apresentar condições de reproduzir. O que vai variar de acordo a raça em questão. Vale salientar que a renovação do rebanho será preciso na escala de produção, visto que a produtividade do animal diminuirá com o decorrer do tempo. d. Preço O mercado é o que determina a formação de preços devendas, isso basicamente através da oferta e procura dos produtos, o que gera competitividade. Desta forma a empresa só pode atribuir preço máximoao seu produto conforme o mercado está pagando, sendo assimum fator essencial para a formação dos custos e despesas. Dessa forma, o preço da de leite não pode ser inferior ao custo de produção para não trazer perdas ao produtor. Todavia, a produção leiteira não traz retorno imediato sobre os investimentos iniciais, o que será discutido mais à frente. e. Receita A rentabilidade do projeto é ofator fundamental que determina a viabilidade, as receitas são ofluxo de recursos financeiros que direta ou indiretamenterecebe em cada ano da sua vida útil, devido as suas operações. A receita pode ser definida pela seguinte expressão: Receita = Quant. de produtos vendidos X Preço de comercialização De uma forma simples, a receita representa a quantia de dinheiro que entra em caixa, proveniente da venda de produtos ou serviços. f. Ponto de equilíbrio É a principal ferramenta para determinar a quantidademínima a ser vendida a fim de que o faturamento seja igual aoscustos assim coloca o projeto em ponto de equilíbrio. Assim entende-se por ponto de equilíbrio a receita totalcom a soma dos custos e despesas, relativamente ao produtovendido (EMATER-DF, 2008). O cálculo do ponto de equilíbrio em termos de venda éatravés da seguinte fórmula: PE= CFT/Preço – CVU Onde: • PE: Preço de Equilíbrio; • CFT: Custos fixos Total; • CVU: Custos variáveis unitário. g. Demonstração do resultado do exercício (DRE) A demonstração doresultado do exercício (DRE), demostra se o resultado foipositivo ou negativo,se no período obteve-se lucro ou prejuízo. As receitas, despesas, ganhos e as perdas do regime sãoenvolvidas para a demonstração do resultado do exercício.Através da DRE é medido o desempenho da empresadurante um tempo específico, geralmente um ano. h. Taxa mínima de Atratividade (TMA) Simplificadamente, a TMA (taxa mínima de atratividade) representa a taxa de juros mínima que um investidor se propõe a ganhar quando investe em algo, ou o máximo que uma pessoa se propõe a pagar quando financia determinado valor. Ao investir em algum projeto, deve-se levar em conta a perda de oportunidade de estar recebendo remuneração pela aplicação do mesmo capital em outro projeto. Essa proposta para ser atrativa deve render, no mínimo, a taxa de juros equivalente a rentabilidade das aplicações e de pouco risco. i. Payback simples É o período de tempo necessário para recuperar o investimento inicial, a partir das entradas de caixa. Em geral o retorno lucrativo é visto com 4-6 anos após o investimento inicial. Isso dependerá se o produtor já possui a área, o rebanho, etc. 5. Conclusão: O processo de produção de leite a pasto é o mais utilizado no país o que justifica a importância de estudos na área. Para o produtor, é de suma importância avaliar os custos benefícios do investimento. Sendo o preparo do solo, a escolha da forrageira, raça do rebanho, investimentos tecnológicos em maquinarias, fatores que ao longo prazo trará retornos viáveis para o investidor. Cabe salientar que nem sempre o produtor optará por medidas que trará lucros a longo prazo, devido aos custos iniciais para determinada melhoria. Sendo assim, o estudo detalhado de quanto o produtor está disposto a investir, são pilares essenciais para o desenvolvimento de qualquer sistema de produção. A substituição da mão de obra, juntamente com medidas de preservação/conservação, contribui muito para o resultado final. 6. Referências: ✓ EMBRAPA. Indicadores, tendências e oportunidades para quem vive no setor leiteiro. Anuário Leiteiro. ed. Embrapa Gado Leiteiro. 2018. disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/36560390/anuario-do- leite-2018-e-lancado-na-agroleite > Acesso em 29 de maio de 2019. ✓ SABBAG, O. J., & Costa, S. M. A. L. (2015). Análise de custos da produção de leite: aplicação do método de Monte Carlo. 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