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INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 2 SUMÁRIO Introdução 3 1- Histórico 4 2- Objeto da Criminologia 6 3- Criminologia e outras disciplinas 8 4- As duas grandes etapas da criminologia 13 5- Escolas Criminológicas 17 6- Diferença entre Criminologia e Criminalística 32 Conclusão 41 Referências INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 3 INTRODUÇÃO A origem da palavra Criminologia, hibridismo greco-latino, tem a sua criação atribuída a Raffaele Garofalo (Itália, 1851-1934), que com ela intitulou sua principal obra. Consta, porém, que tal vocábulo já tinha sido empregado anteriormente na França, por Topinard (1830-1911). Este vocábulo, a princípio reservado ao estudo do crime, ascendeu à ciência geral da criminalidade, antes denominada Sociologia Criminal ou Antropologia Criminal. A criminologia é uma ciência social, filiada à Sociologia, e não uma ciência social independente, desorientada. Em relação ao seu objeto — a criminalidade — a criminologia é ciência geral porque cuida dela de um modo geral. Em relação a sua posição, a Criminologia é uma ciência particular, porque, no seio da Sociologia e sob sua égide, trata, particularmente, da criminalidade. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 4 1- HISTÓRICO As idéias da Criminologia são antigas e remontam desde a antiguidade, senão vejamos: Sócrates certa vez professou: “ se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não reincidirem no crime dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam”. Platão disse:”...a falta de educação dos cidadãos e má organização do Estado são causas geradoras do crime” Em 1875, a criminologia, que não tinha ainda tal nomenclatura, nasce com o médico psiquiatra Cesare Lombroso, que estudou o vínculo ―das características físicas do indivíduo com o delito‖. O estudioso é considerado o genitor da Criminologia.. Para o médico italiano, o indivíduo nasceria com predisposição para a prática de infrações penais, sendo que tal predisposição é delineada pelas suas características físicas. Enrico Ferri, aluno de Lombroso, passa a sustentar que ― o criminoso nato carecia de certos fatores físico ambientais para desenvolver sua potencialidade criminal‖. Em 1894, Rafael Garofalo, utiliza pela primeira vez o termo Criminologia. O estudioso definiu delito como ―Ofensa aos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, na medida média em que os possua um determinado grupo social‖. Frederico Oliveira nos ensina que a fase eclética da Criminologia ou de Política Criminal nasce em 1905, com ―a criação de institutos de Criminologia e de gabinetes penitenciários de Antropologia e ainda a formação de organismos INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 5 internacionais que permitem a reunião dos mais famosos tratadistas para discutir, em congressos, seus pontos de vista.‖ Ainda citando o festejado autor:‖ A diferença entre Criminologia e Política Criminal repousa no fato de que esta é ramo do Direito Penal e não estuda o delinquente, eis que tal estudo é objeto da Criminologia.‖ Para finalizar: a Criminologia estuda os fatores da criminalidade e o delinquente, procurando a maneira de readaptá-lo, enquanto a Política Criminal é ramo do Direito Penal e como tal busca a aplicação, pelo Estado, das medidas necessárias à repressão e prevenção da criminalidade INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 6 2- OBJETO DA CRIMINOLOGIA Segundo o Prof. Frederico Oliveira os objetos da criminologia são o: “a) estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) básicos da criminalidade mediante investigação empírica. (Hurwitz). b) estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime: tratamento e profilaxia”. O autor Frederico de Oliveira explana de maneira formidável os métodos empregados pela Criminologia: ―No que concerne ao método da Criminologia cabe considerar, objetivamente, que a Criminologia, como ciência nova, constrói seus métodos das ciências naturais ou sociais (...) Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são: a) relativamente aos fatores sociais, os da sociologia; b) no concernente aos fatores individuais, os da Psicologia Social, do Exame Médico, do Exame Psiquiátrico e do Exame Psicológico.(...) Os métodos de síntese compreenderiam o estudo das constelações de fatores criminais, a verificação das hipóteses formuladas como resultado desse estudo, a pesquisa do comportamentos pós-pena e o emprego das tábuas de prognóstico. É de se ressaltar que a a finalidade da criminologia se confunde com seu conceito. O nobre colega Marcelo Sales França no trabalho ―Personalidades psicopáticas e delinquentes: semelhanças e dessemelhanças ―nos ensina: INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 7 ―De forma direta e precisa, Roberto Lyra diz que a Criminologia deve atentar para a orientação tanto da Política Criminal – prevenindo diretamente os delitos mais relevantes para a sociedade – como da Política Social – prevenindo genérica e indiretamente os delitos, ou mesmo ações e omissões atípicas, e intervindo quando de suas manifestações e efeitos na sociedade. Um pouco mais exigente, participante da denominada Criminologia Crítica, Orlando Soares enfatiza que a verdadeira Criminologia deve, mais do que ter consciência das condições criminológicas atuais, aplicar concretamente os seus trabalhos a fim de mudar o grave panorama criminal que vivenciamos, uma vez que a Criminologia Tradicional não fez outra coisa senão endossar, legitimar e manter o status quo. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 8 3- CRIMINOLOGIA E OUTRAS DISCIPLINAS Sociologia Criminal Surge com Enrico Ferri, seu criador e para o estudioso três seriam as causas dos crimes: a) biológicas (genética);b) físicas (as condições climáticas) e c) sociais. Sempre nos valendo dos ensinamentos do mestre Frederico de Oliveira, o autor conceitua a sociologia criminal como sendo ―a ciência que cogita do fenômeno social da criminalidade.” Professor Frederico ainda leciona dizendo que a “Sociologia criminal torna o crime como um fato natural da vida em sociedade (...)” “Hoje a Sociologia Criminal estuda o crime como fenômeno social, mas se sabe que é impossível a separação dos fatores exógenos daqueles de ordem individual” Psicologia Criminal A Psicologia Criminal propõe-se desvendar o caráter e as tendências do criminoso, indicando os rumos necessários à avaliação de sua periculosidade e estudando a incidência do fenomenologia psíquica da Criminalidade. Psiquiatria Criminal A função da Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia uma vez que a profilaxia é mais cabível à Psicologia. Biologia Criminal A presente foi fundada por Cesare Lombroso. Também chamada de Antropologia Criminal, segundo Guaracy Moreira Filho, ―é a ciência que estuda o homem delinquente, a sua constituição física, as causas que o levam a cometer crime‖. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 9 ―Hoje a Antropologia Criminal é o estudo integral da personalidade do delinquente, onde não só os fatores endógenos do delito, mas tambémos coeficientes sociais que condicionaram ou provocaram a ação criminosa devem ser focalizados e equacionados”. A reação social à criminalidade e a prevenção do delito Acompanhado de Antônio García-Pablos de Molina, meu mestre Luiz Flávio Gomes nos ensina que: “A resposta tradicional ao problema da prevenção do delito é concretizada em dois modelos muito semelhantes: o clássico e o neoclássico. Coincidem ambos em supor que o meio adequado para prevenir o delito deve ter natureza "penal" (a ameaça do castigo); que o mecanismo dissuasório ou contramotivador expressa fielmente a essência da prevenção; e que o único destinatário dos programas dirigidos a tal fim é o infrator potencial. Prevenção equivale a dissuasão mediante o efeito inibitório da pena. As discrepâncias não são acentuadas. O modelo clássico polariza em torno da pena, do seu rigor ou severidade a suposta eficácia preventiva do mecanismo intimidatório. Compartilha, ademais, uma imagem estandardizada e quase linear do processo de motivação e deliberação. O denominado modelo neoclássico, por sua vez, no que pertine à efetividade do impacto dissuasório ou contramotivador, confia mais no funcionamento do sistema legal, tal como ele é percebido pelo infrator potencial, que na severidade abstrata das penas. O centro de atenção se desloca, portanto, da lei ao sistema legal, daspenas que o ordenamento contempla à sua efetividade e tudo isso a partir da concreta e singular percepção do autor, cujo processo motivacional se torna mais complexo.(...) a) O modelo clássico De acordo com uma opinião muito generalizada, o Direito Penal simboliza a resposta primária e natural (por excelência) ao delito, a mais eficaz. A referida eficácia, ademais, depende fundamentalmente da capacidade dissuasória do INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 10 castigo, isto é, da sua gravidade. Prevenção, dissuasão e intimidação, conforme tais idéias, são termos correlatos: o incremento da delinqüência explica-se pela debilidade da ameaça penal; o rigor da pena se traduz, necessariamente, no correlativo descenso da criminalidade. Pena e delito constituem os dois elementos de uma equação linear. Muitas políticas criminais do nosso tempo (leia-se: políticas penais), de fato, identificam-se com este modelo falacioso e simplificador que manipula o medo do delito, e que trata de ocultar o fracasso da política preventiva (na realidade, repressiva) apelando em vão às "iras" da lei. O modelo tradicional de prevenção não convence de modo algum, por muitas razões. Antes de tudo, a suposta excelência do Direito Penal como instrumento preventivo - diante de outras possíveis estratégias - parece mais produto de prejuízos ou pretextos defensistas que de uma serena análise científica da realidade. Pois a capacidade preventiva de um determinado meio não depende de sua natureza (penal ou não penal), senão dos efeitos que ele produz. Convém recordar, a propósito, que a intervenção penal possui elevadíssimos custos sociais. E que sua suposta efetividade está longe de ser exemplar. A pena, na verdade, não dissuade: atemoriza, intimida. E reflete mais a impotência, o fracasso, a ausência de soluções que a convicção e energia imprescindíveis para abordar os problemas sociais. Nenhuma política criminal realista pode prescindir da pena; porém, tampouco cabe denegrir a política de prevenção, convertendo-a em mera política penal. Que um rigor desmedido, longe de reforçar os mecanismos inibitórios e de prevenir o delito, tem paradoxalmente efeitos criminógenos, é algo, de outro lado, sobre o que existe evidência empírica. Mais dureza, mais Direito Penal, não significa necessariamente menos crime. Do mesmo modo que o incremento da criminalidade não pode ser explicado como conseqüência exclusiva da debilidade das penas ou do fracasso do controle social. Não faltava razão, portanto, a Beccaria quando sustentava já em 1764 que o decisivo não é a gravidade das penas, senão a rapidez (imediatidade) com que são aplicadas; não o rigor ou a severidade do castigo, senão sua certeza ou infalibilidade: que todos saibam e comprovem - incluindo o infrator potencial, dizia o autor - que o cometimento do delito implica inevitavelmente a pronta imposição do castigo. Que a pena não é um risco futuro e incerto, senão um mal próximo e certo, inexorável. Pois se as leis nascem para ser cumpridas, temos que concordar com o INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 11 ilustre milanês que só a efetiva aplicação da pena confirma a seriedade de sua cominação legal. Que a pena que realmente intimida é a que se executa: e que se executa prontamente, de forma implacável, e ainda caberia acrescentar a que é percebida pela sociedade como justa e merecida. b) O modelo neoclássico Para a denominada escola neoclássica (ou moderno classicismo), o efeito dissuasório preventivo aparece associado mais ao funcionamento (efetividade) do sistema legal que ao rigor nominal da pena. Seus teóricos, de fato, atribuem a criminalidade ao fracasso ou fragilidade daquele, isto é, a seus baixos rendimentos. Melhorar a infra-estrutura e a dotação orçamentária do sistema legal seria a mais adequada e eficaz estratégia para prevenir a criminalidade: mais e melhores policiais, mais e melhores juízes, mais e melhores prisões. Deste modo, os "custos" do delito se "encarecem" para o infrator, que desistirá de seus planos criminais ao comprovar a efetividade de um sistema em perfeito estado de funcionamento. A sociedade, concluem os partidários deste enfoque neoclássico, tem o crime que quer ter, pois sempre poderia melhorar os resultados da luta preventiva contra ele, incrementando progressivamente o rendimento do sistema legal, aperfeiçoando a sua estrutura material e dotação orçamentária, invertendo mais e mais recursos em suas necessidades (humanas e materiais); assim se poderia sempre esperar e conseguir, de forma sucessiva e ilimitada, mais êxitos e melhores resultados. Mas este modelo de prevenção tampouco é convincente. Para a prevenção do crime, a efetividade do sistema legal é, sem dúvida, relevante, sobretudo a curto prazo e com relação a certos setores da delinqüência (p. ex. ocasional). Porém, não cabe esperar muito dele. Porque o sistema legal deixa intactas as "causas" do crime e atua tarde demais (do ponto de vista etiológico), quando o conflito se manifesta (...). Sua capacidade preventiva (prevenção primária), em conseqüência, tem alguns limites estruturais insuperáveis. A médio ou longo prazo não resolve por si mesmo o problema criminal, cuja dinâmica deriva de outras razões. Em segundo lugar, e contrariamente ao que com freqüência se supõe, já não parece razoável atribuir os movimentos da criminalidade (o incremento ou o INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 12 descenso de seus índices) à efetividade maior ou menor do sistema legal. Tampouco a fragilidade deste, sem mais, determina um ascenso correlativo da criminalidade (da criminalidade "real", naturalmente, não da "oficial" ou da "registrada"), nem uma melhora sensível de seu rendimento reduz na mesma proporção os índices de criminalidade. Não existe tal correlação, porque o problema é muito mais complexo e obriga a ponderar outras muitas variáveis. Pela mesma razão, melhorar progressiva e indefinidamente os resultados da prevenção do delito por meio do sistema legal, potencializando o rendimento e a efetividade dele, é uma pretensão pouco realista, condenada ao fracasso a médio prazo. De uma parte, porque não falta razão, provavelmente, àqueles que invertem a suposta relação de causa e efeito, afirmando que não é o fracassodo sistema legal (causa) que produz o incremento da delinqüência (efeito), senão este último (aumento da criminalidade) que ocasiona a fragilidade e o fracasso do sistema legal. De outra parte, porque não podemos confundir a criminalidade "real" e a "registrada", supondo erroneamente que os números desta última constituem um indicador seguro da eficácia preventiva do sistema legal. Mais e melhores policiais, mais e melhores juízes, mais e melhores prisões, dizia a propósito um autor, significam mais infratores na prisão, mais condenados, porém não necessariamente menos delitos. Uma substancial melhora da efetividade do sistema legal incrementa, desde logo, o volume do crime registrado, se apuram mais crimes e se reduz a distância entre os números "oficiais" e os "reais" (cifra negra). Porém, nem por isso se evita mais crime, nem se produz ou gera menos delito em idêntica proporção: só se detecta mais crime. (...) É péssima a política criminal que esquece que as chaves de uma prevenção eficaz do delito residem não no fortalecimento do controle social "formal", senão numa melhor sincronização do controle social "formal" e do "informal", e na implicação ou compromisso ativo da comunidade. É imprescindível distinguir a "política criminal" da "política penal", se não se quer privar de conteúdo e autonomia o próprio conceito de "prevenção", que reclama uma certa política criminal (de base etiológica, positiva, assistencial, social e comunitária), não fórmulas repressivas ou intimidatórias, meramente sintomatológicas, policiais, que não cuidam das raízes do problema criminal e prescindem de toda análise científica do mesmo”(Grifei). INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 13 4- AS DUAS GRANDES ETAPAS DA CRIMINOLOGIA A) ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA A.1) FILÓSOFOS E PENSADORES – Aqui podemos citar Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Marquês de Beccaria. A.2) FISIONOMISTAS – Vem de fisionomia. Os fisionomistas preocupam-se com o estudo da aparência externa do indivíduo, ressaltando a inter-relação entre o somático (corpo) e o psíquico. Como métodos de estudo, eles visitavam presos e realizavam necrópsias (exame do cadáver) A.3) FRENÓLOGOS – Os frenólogos estudavam o caráter das pessoas pela observação não apenas dos traços fisionômicos, mas também da configuração do crânio. A.4) PSIQUIATRAS – Felipe Pinel é o pai da psiquiatria moderna. Deu base para posteriores estudos relacionando a loucura com o cometimento do crime. Depois dos estudos promovidos pelo médico, iniciou-se uma nova concepção psiquiátrica: a loucura moral (indivíduo que apresenta nível de conhecimento, mas com psicopatologia grave). B) CIENTÍFICA B1) ANTROPOLOGIA CRIMINAL – Fundada por Cesare Lombroso, com o lançamento do livro ―O homem delinquente‖. Nele, Lombroso diz: ―O estudo antropológico do homem criminoso deve necessariamente basear-se nas suas características anatômicas”. Baer (médico das cadeias de Berlim), verificou por meio de inúmeras investigações, que os ocupantes das cadeias não distinguem da população não- criminosa por qualquer sinal particular, e, assim o criminoso nato não existe como variedade morfológica da espécie. A Criminologia moderna embora não consagre a teoria do criminoso nato, admite a hipótese da tendência para a prática de infrações. Reconhecendo que o homem pode nascer com uma inclinação para a violência. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 14 B.2) SOCIOLOGIA CRIMINAL – Como já foi dito, Enrico Ferri é o criador da Sociologia Criminal. Classifica o criminoso em: 1) nato, 2) louco, 3) ocasional, 4) habitual e 5) passional. Rafael Garofalo cria o termo Criminologia. Classifica o criminoso em 1) assassino, 2) violento ou energético, 3) ladrões ou neurastênicos, 4) cínicos. Enquanto na Antropologia Criminal os fatores orgânicos eram os causadores da criminalidade; na Sociologia Criminal, os fatores ambientais eram efetivamente os mais importantes ocasionadores do delito. B.3) POLÍTICA CRIMINAL – A característica primordial deste período é ter estabelecido uma espécie de trégua entre aqueles filiados às teorias lombrosianas e aqueles crentes na influência exclusiva dos fatores sociais no cometimento do crime. A pessoa com predisposição para a prática de infrações poderá se tornar um criminoso, desde que esteja colocada em um ambiente apto para que tal fato ocorra, por conta da influência do ambiente em que vive. As concepções de prevenção primária, secundária e terciária estão abaixo: Para a prevenção primária deve-se dar especial relevo para aspectos como, a educação, a habitação, o trabalho, a inserção do homem no meio social, a qualidade de vida, sendo estes elementos essenciais que contribuem para a prevenção do crime, operando sempre a longo e médio prazo, com a especialidade de que se dirige a todos os cidadãos e não somente à pessoa do delinquente. O campo de atuação se dá em estratégias voltadas para a economia, o social e o cultural, para que os cidadãos tenham melhor qualidade de vida e consequentemente capacidade social para superar os conflitos cotidianos de forma produtiva. Enfim, a melhor qualidade de vida é proporcionalmente influente sobre a delinquência. Fala-se em prevenção secundária a atuação onde os conflitos criminais podem se manifestar ou exteriorizar. É a atuação de curto e médio prazo seletivamente sobre grupos ou subgrupos concretos, que apresentam maiores INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 15 riscos de eclosão de problemas criminais. Basta lembrar-se da política legislativa penal e de ações policiais em determinadas localidades, assim como políticas de ordenação urbana com escopo de se evitar a criminalidade. Por fim, a prevenção terciária se dá sobre um sujeito já identificado como delinquente, naturalmente o condenado, recluso, tendo por objetivo evitar que ele reincida novamente em práticas criminosas e que se ressocialize para sua volta ao meio social. O Estado Democrático de Direito e a prevenção da infração penal Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes, na obra Criminologia, 5.ed.rev. e atual.- São Paulo: Revista dos Tribinais, 2007, ensinam: “O crime não é um tumor nem uma epidemia, senão um doloroso "problema" interpessoal e comunitário. Uma realidade próxima, cotidiana, quase doméstica: um problema "da" comunidade, que nasce "na" comunidade e que deve ser resolvido "pela" comunidade. Um "problema social", em suma, com tudo que tal caracterização implica em função de seu diagnóstico e tratamento A Criminologia "clássica" contemplou o delito como enfrentamento formal, simbólico e direto entre dois rivais - o Estado e o infrator -, que lutam entre si solitariamente, como lutam o bem e o mal, a luz e as trevas; é uma luta, um duelo, como se vê, sem outro final imaginável que a incondicionada submissão do vencido à força vitoriosa do Direito. Dentro deste modelo criminológico, a pretensão punitiva do Estado, isto é, o castigo do infrator, polariza e esgota a resposta ao fato delitivo, prevalecendo a face patológica sobre seu profundo significado problemático e conflitual. A reparação do dano causado à vítima (a uma vítima que é desconsiderada, "neutralizada" pelo próprio sistema) não interessa, não constitui nem se apresenta como exigência social; tampouco preocupa a efetiva "ressocialização" do infrator (pobre pretexto defensista, mito inútil ou piedoso eufemismo, por desgraça, quando tão sublimes objetivos fazem abstração INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 16 da dimensão comunitária do conflito criminal e da resposta solidária que ele reclama). Nem sequer se pode falar dentrodeste modelo criminológico e político- criminal de "prevenção" do delito (estricto sensu), de prevenção "social", senão de "dissuasão penal". A moderna Criminologia, pelo contrário, é partidária de uma imagem mais complexa do acontecimento delitivo, de acordo com o papel ativo e dinâmico que atribui aos seus protagonistas (delinqüente, vítima, comunidade) e com a relevância acentuada dos muitos diversos fatores que convergem e interatuam no "cenário" criminal. Destaca o lado humano e conflitivo do delito, sua aflitividade, os elevados "custos" pessoais e sociais deste doloroso problema, cuja aparência patológica, epidêmica, de modo algum mediatiza a serena análise de sua etiologia, de sua gênese e dinâmica (diagnóstico), nem o imprescindível debate político-criminal sobre as técnicas de intervenção e de seu controle. Neste modelo teórico, o castigo do infrator não esgota as expectativas que o fato delitivo desencadeia. Ressocializar o delinqüente, reparar o dano e prevenir o crime são objetivos de primeira magnitude. Sem dúvida, este é o enfoque cientificamente mais satisfatório e o mais adequado às exigências de um Estado "social" e democrático de Direito. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 17 5- ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS As causas do crime sempre foram objeto de estudo para diversos pensadores. Platão (428-7 a.C. – 348-7 a.C) sem dúvida foi um deles e, no livro ―As Leis‖, descreveu o crime como uma doença, com causas de natureza tríplice, quais sejam: as paixões (inveja, ciúme, ambição, cólera, etc.), a procura do prazer e por último a ignorância. Ainda na mesma obra, Platão descreveu a pena como um remédio, capaz de curar o delinquente. No entanto, apontou a chamada ―pena de morte‖ como à sanção ideal para os resistentes ou irrecuperáveis ao tratamento penal. Guiado pela mesma linha de raciocínio, Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), na obra ―Ética a Nicómaco‖, descreveu o criminoso como um inimigo da sociedade, que deveria ser castigado. Aristóteles via na política o principal fator determinante do crime, pois ela atribuía grandes desigualdades e miséria o que gerava a revolta. O Iluminismo, Humanitarismo, Liberalismo Burguês ou “Filosofia das Luzes” Após a Idade Média a Europa vivenciou um período de terror, onde o tiranismo, autocratismo e o arbitrarismo dos reis dominavam o Estado. Assim muitos inocentes foram cruelmente condenados e castigados, enquanto muitos culpados ficaram impunes. As execuções dos culpados aconteciam da seguinte forma, segundo ensinamentos de Farias Júnior (1993, p. 25): As execuções tinham que seguir um ritual de teatralismo e de ostentação do condenado à execração e a irrisão pública, as carnes eram cortadas e queimadas com líquidos ferventes, os membros eram quebrados ou arrebentados na roda, ou separados do corpo através de tração de cavalos, o ventre era aberto para que as vísceras ficassem à mostra. Todos INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 18 deveriam assistir as cenas horripilantes. O gritar, o gemer, as carnes cortadas e queimadas, a expressão de dor, enfim, todas as cenas horríveis deveriam ficar vivas na memória de todos. Por volta dos séculos XVII e XVIII na Europa, houve grande crescimento da burguesia classe que detinha o comando do desenvolvimento do capitalismo da época. A brutalidade do rei e a crueldade com que os condenados eram castigados não agradavam os burgueses o que causou conflitos entre os burgueses e a nobreza. Tais conflitos originaram o iluminismo. Os principais pensadores iluministas originalmente foram: O filósofo inglês John Locke (1632 – 1704) considerado o pai do iluminismo, que escreveu o livro ―Ensaio Sobre o Entendimento Humano‖. O jurista francês Charles de Montesquieu (1689 – 1755), que escreveu ―O Espírito das Leis‖, onde defendeu a separação dos três poderes do Estado. François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694 – 1778), filósofo francês que críticava a extremismo religioso, o clero católico e os detentores do poder da época, escritor do livro ―Ensaio Sobre os Costumes‖. Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), também filósofo francês, foi um defensor assíduo da burguesia e um grande inspirador das ideias da revolução francesa, escreveu vários livros dentre eles ―O Contrato Social‖ e ―Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens‖. E os filósofos franceses Denis Diderot (1713 – 1784), e Jean Le Rond D'Alembert(1717 – 1783) elaboraram juntos a "Enciclopédia ou Dicionário Racional das ciências, das Artes e dos Ofícios", composta de 33 volumes publicados, pretendia reunir todo o conhecimento humano disponível, que se tornou o principal vínculo de divulgação de suas ideias naquela época. Por sua vez, Della Porta (1535 – 1616) autor da obra ―A Fisionomia Humana‖, observou através do estudo de cadáveres de vários criminosos concluiu, que através dos dados fisionômicos de uma pessoa pode-se deduzir seus caracteres psíquicos. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 19 Cesare Bonesana, Marquês De Beccaria Não obstante a todos esses pensadores que defendiam a ideia de que o homem deveria conhecer a justiça. É evidente que o iluminismo ganhou força no ano de 1764 com a publicação da obra ―Dei Delitti e Delle Pene‖ do italiano Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria (1738 – 1794). Segundo Dias e Andrade (1997, p. 08), Beccaria fundamentou: [...] legitimidade do direito de punir, bem como definir os critérios da sua utilidade, a partir do postulado contratual. Serão ilegítimas todas as penas que não revelem da salvaguarda do contrato social (sc., da tutela de interesses de terceiros) e inúteis todas as que não sejam adequadas a obviar às suas violações futuras, em particular as que se revelem ineficazes do ponto de vista da prevenção geral. Seguindo os mesmos autores, Dias e Andrade ( 1997, p. 09), Beccaria defendeu ainda que: O homem atua movido pela procura do prazer, pelo que as penas devem ser previstas de modo a anularem as gratificações ligadas a pratica do crime. Em conexão com isto, sustentou Beccaria a necessidade, como pressuposto da sua eficácia preventiva, de que as sanções criminais fossem certas e de aplicação imediata. Escola Clássica ou Iusnaturalismo A denominação ―Escola Clássica‖ foi dada pelos criadores da Escola Positivista. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 20 A Escola Clássica se difundiu por toda a Europa através de escritores, pensadores e filósofos que adotaram as teses e ideias de Beccaria. Os principais escritores dessa corrente doutrinaria foram: Gian Domenico Romagnosi (1761 – 1835) na Itália, Jeremias Bentham (1748 – 1832) na Inglaterra e na Alemanha Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach (1775 – 1833) na Alemanha. A partir destes autores vários outros escreveram sobre o crime no âmbito da Escola Clássica. Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 176), os autores do iusnaturalismoidealizavam o crime: [...] fato individual, isolado, como mera infração à lei: é a contradição com a norma jurídica que dá sentido ao delito, sem que seja necessariamente uma referencia à personalidade do autor (mero sujeito ativo do fato) ou à sua realidade social, para compreendê-lo. O decisivo é o fato não o autor. A determinação sempre justa da lei, igual para todos e acertada, é infringida pelo delinquente em uma decisão livre e soberana. No que diz respeito à pena a Escola Clássica apresentava três teorias. Absoluta: que via a pena como exigência de justiça.Relativa: que lhe apontava que lhe apontava um fim pratico de prevenção geral e especial. E por fim a mista que resultava da fusão das duas primeiras. A fisionomia e a frenologia da Escola Clássica foram abordadas pelo suíço Johann Kaspar Lavater (1741 – 1801), guiou seus estudos nas obras do italiano Della Porta, preocupou-se com a aparência externa do individuo, ou seja, entre o corpo e o psíquico. Tanto Lavater quanto para Della Porta adotaram a seguinte teoria, ―quando se tem duvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio‖. Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179), Lavater sustentava que: [...] existe uma correlação entre determinadas qualidades do individuo e os órgãos ou partes do corpo onde se supõe que INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 21 têm sua sede e concentração física e as correspondentes potências humanas. A vida intelectual podia ser observada na fronte (testa); a moral e sensitiva nos olhos e no nariz; a animal e vegetativa no mento (maxilar inferior). De acordo com Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179), Lavater defendia que o delinquente ―de maldade natural‖ se diferenciava das demais pessoas por características físicas tais como: [...] nariz oblíquo em relação com o rosto, que é disforme, pequeno e amarelo; não tem a barba pontiaguda; olhos grandes e ferozes, brilhantes sempre iracundos (coléricos), as pálpebras abertas, ao redor dos olhos pequenas manchas amarelas e, dentro, pequenos grãos de sangue brilhante com fogo, envolvidos por outros brancos, círculos de um vermelho sombrio rodeiam a pupila, olhos brilhantes e pérfidos e uma lagrima colocada nos ângulos inferiores; as sobrancelhas rudes, as pálpebras direitas, a mirada feroz e às vezes atravessada. Apesar da grande contribuição da Escola Clássica para a criminologia, essa apresentava falhas por não indagar as ―causas‖ do comportamento criminoso. Eis que para ela a principal origem do delito era a livre decisão de seu autor em cometê- lo. Escola Positiva ou Escola Italiana No século XIX notou-se a falência das ideias Iluministas tanto pelo crescente aumento da criminalidade e diversidade de crimes que se criaram quanto pelas altas taxas de reincidência. Assim ano de 1876, foi publicada a primeira edição do livro ―L’Uomo delinquente‖ escrita pelo médico italiano Cesare Lombroso (1835 – 1909), dando inicio assim, a INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 22 Escola Positiva Italiana. Lombroso teve como discípulos Enrico Ferri (1856 – 1929) e Rafael Garófalo (1851 – 1934) que foram de fundamental importância para os estudos da criminologia. É evidente que os três escreveram sobre a criminologia. No entanto, é interessante ressaltar que cada um deles estudou a criminologia de uma óptica diferente. Sendo que Lombroso atribuiu à criminologia o fator antropológico, Ferri por sua vez atribuiu a criminologia as condições sociológicas do criminoso, enquanto Garófalo atribuiu a criminologia o fator psicológico. A Antropologia de Cesare Lombroso Além do livro ―L’Uomo delinquente‖ Lombroso escreveu outros tantos sobre esse tema, entre eles ―La Donna delinquente, la prostituta e la donna normale‖ (1859), ―Genio e degenerazione‖ (1908) e ―Crime: It’s Causes and Remedies‖ (1913). A principal tese da teoria de Lombroso foi sem sombra de duvidas a do criminoso atávico, que havia sido criada anteriormente por Charles Robert Darwin (1809 – 1882) e foi por ele desenvolvida e ampliada. O criminoso atávico (nato), para Lombroso seria um homem menos civilizado que os demais membros da sociedade em que vive, sendo representado por um enorme anacronismo, ou seja, esses indivíduos reproduzem física e mentalmente características primitivas do homem. Essas deduções basearam-se em pressupostos de que os comportamentos humanos são biologicamente determinados. Assim, sendo o atavismo tanto físico quanto mental, poder-se ia identificar, valendo- se de sinais anatômicos, aqueles indivíduos que estariam hereditariamente destinados ao crime. Ainda, reduziu o crime a um fenômeno natural, pois considerava o criminoso como um indivíduo primitivo e doente. Dessa forma ele rejeitava uma definição estritamente legal a respeito do criminoso. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 23 Para suas deduções sobre o criminoso examinava o crânio de criminosos conhecidos, onde costumava encontrar, conforme ensinado por Garcia; Molina; Gomes (2002, p.193): […] uma grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga à que se encontra nos vertebrados inferiores”. E baseou o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do comportamento de certos animais e plantas, no de tribos primitivas e selvagens de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece uma serie de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliais, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maças do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de um determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.). Do ponto de vista tipológico defendeu a classificação do criminoso em seis categorias: criminoso nato (atávico), louco moral (doente), epilético, ocasional, passional, e louco. Lombroso ainda fazia uma inter-relação entre a criminalidade atávica, loucura moral e epilepsia, que segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 193): [...] o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um individuo que, ademais, sofre alguma forma de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 24 Lombroso buscava, entre outras coisas, estabelecer uma divisão entre o ―bom‖ e o ―mau‖ cidadão, buscando nos maus patologias, para justificar a pena como meio de defesa da sociedade. A Sociologia Criminal de Erico Ferri Ferri se sobressaiu nos estudos sobre criminologia através dos fatores sociológicos. Ao contrário do que defendia Lombroso, não acreditava que o delito era produto exclusivo de patologias individuais. Entendia que a criminalidade originava-se de fenômenos sociais. Assim defendeu as causas do crime como sendo individuais ou antropológicas (constituição orgânica e psíquica do individuo, características pessoais como raça, idade, sexo, estado civil, etc.) físicas ou naturais (clima, estação, temperatura, etc.) e sociais (opinião pública, família, moral, religião, educação, alcoolismo, etc.). Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 196): [...] o cientista poderia antecipar o numero exato de delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e em um número concreto, se contasse com todos os fatores individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz de quantificar a incidência de cada um deles. Porque, sob tais premissas, não se comete um delito mais nem menos (lei da “saturação criminal”). Ferri defendia também, a teoria dos ―substitutivos penais‖, pois para ele a pena, por si só, seria ineficaz, se não viesse precedida ou acompanhada das oportunas reformas econômicas, sociais, etc., orientadaspor uma analise cientifica e etimológica do delito. Para ele os pilares dessa reforma seriam a Psicologia Positiva (defendida por Garófalo), a Antropologia Criminal (apontada por Lombroso) e a Estatística Social. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 25 Quanto à tipologia, Ferri acreditava na existência de seis categorias de delinquentes: nato, louco, habitual, ocasional, passional e involuntário ou imprudente. Mas apesar das tipologias, acreditava na combinação da vida cotidiana e nas características de diferentes tipos em uma mesma pessoa. Sustentou ainda, a tese da pena indeterminada e da indenização da vítima como medida de caráter penal. O marco em sua carreira foi à publicação do livro ―Sociologia Criminale‖ (1892). A Psicologia Positiva de Rafael Garófalo Por sua vez, Garófalo foi o primeiro autor da Escola Positiva, a utilizar a denominação ―Criminologia‖, tal nome foi dado ao livro ―Criminologia‖ publicado no ano de 1885. Além deste Garófalo escreveu outro de importância semelhante, tais como: ―Ripparazione e vittime Del delitto‖ (1887) e ―La supertition socialiste‖ (1895). Em suas obras preocupava-se com a definição psicológica do crime, eis que defendia a teoria do ―crime natural‖, para definir os comportamentos que afrontam os sentimentos básicos e universais de piedade e probidade em uma sociedade. Para ele a ausência desses sentimentos no delinquente o conduziriam ao crime. Segundo Dias e Andrade (1997, p. 17): A sua obra ficou assinalada pela tentativa de definição dum conceito <<sociológico>> de crime, capaz de satisfazer as exigências de universalidade que a criminologia deveria respeitar para justificar o qualificativo de crime. Garófalo acreditava ainda, que o criminoso tinha um déficit na esfera moral da personalidade, de base endógena, e uma mutação psíquica, transmissível hereditariamente e com conotações atávicas e degenerativas. Com relação à tipologia, definiu quatro categorias de delinquentes: o assassino, o criminoso violento, o ladrão e o lascivo. Entendia que as penas deveriam servir INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 26 como castigos e ter como referência as características particulares de cada criminoso. A Sociologia Criminal ou Escola Franco-Belga No século XIX em Bruxelas (1892) no 3º Congresso Internacional de Antropologia Criminal, que ocorreu o desequilíbrio da Escola Positiva e começou a se consolidar a Sociologia Criminal. Os principais estudioso dessa nova linha de estudos a respeito da criminologia foram: Alexandre Lacassagne (1843 a 1924), Émile Durkheim (1858 a 1917) e Lambert Adolphe Jacques Quetelet (1796 a 1874). A sociologia criminal baseia-se nos estudos do ambiente (miséria, ambiente moral e material, a educação, a família, etc.), para a caracterização do criminoso e assim do crime. A partir da concepção de que o ambiente é um fator determinante da criminalidade, começou a aplicar-se e desenvolverem os métodos e os instrumentos próprios da sociologia criminal, nomeados métodos clássicos a recolha e interpretação de dados estatísticos. No fim do século XIX iniciou-se a Criminologia Socialista, que entendia como explicação do crime como egoísmo, que nasce a partir da natureza da sociedade capitalista. Para esses autores, o desaparecimento ou redução sistemática do crime aconteceria a partir do momento em que fosse instaurado o socialismo. Dias e Andrade (1997, p. 27) salientam que: A representação do capitalismo como um sistema virado para a obtenção do lucro e a competição, propício ao exacerbamento do egoísmo e hostil ao florescimento dos sentimentos de altruísmo e solidariedade. O capitalismo tornaria, por isso, os homens mais individualistas e << mais propensos à prática do crime>>. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 27 Criminologia Nova ou Criminologia Crítica No ano de 1960 ocorreu a mais arrebatadora virada no estudo da criminologia. Esses estudos surgiram de um conjunto de perspectivas, tais como: o labeling approach(perspectiva interacionalista), a etnometodologia e a criminologia racial. O labeling approach reporta-se ao delinquente ou até mesmo ao crime propriamente dito e ao sistema de controle. Essa linha de raciocínio se pergunta: por que determinadas pessoas são tratadas como criminosos, quais as consequências desse tratamento e qual a fonte de sua legitimidade. Essa perspectiva sofre a influencia do interacionalismo simbólico, ou seja, de que o delinquente apenas de difere do homem normal pela estigmatização que sofre. O labeling approach ainda, rejeita o pensamento determinista e os modelos estruturais e estatísticos do comportamento do delinquente. O objetivo etnometodologia é entrar no cotidiano dos participantes de determinada sociedade e descobrir as regras e os rituais que eles assumem como garantidos para se assegurar. A criminologia radical, por sua vez, apresentou um desenvolvimento das premissas do interacionalismo em um sentido oposto ao da etnometodologia, eis que crítica sistematicamente tanto o interacionalismo como a própria etnometodologia. Nesse sentido Dias e Andrade (1997, p. 27) observam que: As normas penais passaram a serem vistas dentro de perspectivas de pluralismo axiológico/conflito, como expressão do domino de um grupo ou classe Em resumo o direito criminal passa agora a ser encarado como um instrumento nas mãos de moral entrepreneurs ou serviço dos interesses dos detentores do poder. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 28 A criminologia nova ou crítica, de modo sistemático e original, confronta as aquisições das teorias sociológicas sobre crime e controle social com os princípios da ideologia e da defesa social. Como se observa criminologia crítica apresentou uma mudança de foco do autor de crime para o contexto social no qual ele se insere propenso às relações de poder de ordem macro e microssocial, à estigmatização e ao etiquetamento, à reação social e à criminalização anterior e posterior ao delito. A Criminologia no Brasil Foi nas ultimas décadas do século XIX que a criminologia começa a ganhar força no Brasil. Sendo João Vieira de Araújo (1844 – 1922) o maior recepcionador no país das ideias sobre criminologia expostas pelo médico italiano Cesare Lombroso. No entanto, Tobias Barreto (1839 – 1889), foi o primeiro crítico brasileiro de Cesare Lombroso, pois segundo ele pelos princípios dados por Lombroso, seria preciso recolher ao hospital a humanidade inteira. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 80), Barreto escreveu sobre o criminoso: O criminoso é fato natural sujeito a outras leis que não as leis de liberdade e o homem é todo feito à imagem, não de Deus, porém da natureza. Pregou a reforma do homem pelo homem mesmo, acrescentando que “não se corrige o homem, matando-o ou aviltando”. Silvio Romero (1851 – 1914), por sua vez estudou os tipos étnicos, os caracteres das coletividades, a alma dos grupos, as índoles individuais, moldadas nos vícios ambientais, os e os vincos deixados nos espíritos pela atmosfera social. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 84), Romero definia o bem como: INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 29 O bem é uma flor do cérebro do próprio homem; a fisiologia é a alma da psicologia; o homem tem afeição do meio que habita pela tirania dos fatos exteriores; há uma espécie de paralisia moral ou intelectual determinada pela ignorância, os criminosos saem das prisões três vezes piores; assim como há ideias com a cor da bílis, existem atos com a cordo sangue; o homem é o que ele come. Já Clóvis Beviláqua (1859 – 1944), publicou no ano de 1896 a primeira obra sobre criminologia, denominada ―Criminologia e Direito‖, onde ele retratou a criminologia no Estado do Ceará em relação ao tempo e à população, a distribuição geográfica dos crimes, etc.. Euclides da Cunha (1866 – 1909) foi o primeiro estudioso sobre criminologia a aplicar a Sociologia Criminal no Brasil. Cunha ainda comparou a teoria de Lombroso a uma topografia psíquica. Escrito do livro ―Os Sertões‖ (1902), examinou as causa da denominada por ele ―delinquência sertaneja‖, que segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 94) ele eram: Vastas galerias de indivíduos que são índices ou sumários de um meio [...] como feixes de fatos, cada um com seu rótulo, sua rubrica inapagável e eterna [...]. Cada indivíduo é um resumo, um compêndio. E todos são reais e apanhados em flagrante. São cristalizações humanas obtidas por quatrocentos anos de labutar em meia-cultura. Euclides da Cunha ainda, revelou que fatores naturais ou sociais retardam ou interrompem o desenvolvimento mental, criam à loucura do deserto, excitam a fraqueza irritável das gentes supersticiosas e incultas predispostas ao desafogo máximo das paixões. Nina Rodrigues (1862 – 1906), uma das receptoras da teoria lombrosiana no Brasil. Foi considerada pelo próprio Lombroso apostolo da Antropologia Criminal na INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 30 América do Sul. Criadora da teoria da criminalidade étnica defendia que na em uma mesma sociedade, poderiam ser encontradas raças em diferentes fases de evolução (moral e jurídica). Acreditava ainda, que a civilização era boa para os brancos e má para os negros. Acreditava que para o Brasil deveria ser criado quatro tipos de códigos penais, para que assim, pudesse atender às diversidades principalmente as de clima e raça. Nina como Lombroso também costumava estudar crânios, sendo que começou seus estudos por meio de experiências com o ―exame do crânio de Lucas‖. Afrânio Peixoto (1876 – 1947) foi um crítico assíduo da concepção de Durkhein e Lacassagne, costumava dizer que, conforme ensinamentos de Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 94): A sociedade tem os criminosos que merece; o meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio é o criminoso que só tem importância quando encontra o caldo que o faz fermentar. Peixoto defendia ainda, que o código penal deveria ser reescrito de tempos em tempos. Júlio Pires Porto-Carrero (1887 – 1937), costumava dizer que a Pedagogia destruirá a Penologia. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 101), costumava dizer que: Determinar o destino a dar ao criminoso, de um ponto de vista humano, do verdadeiro ponto de vista do interesse social. O homem que delinquiu continua a ser homem, como qualquer de INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 31 nós, que não estamos livres de um dia também cair nas malhas da lei. Luis Carpenter (1876 – 1957) foi o primeiro estudioso da criminologia a aplicar suas visões criminológicas ao Direito Militar. Escreveu os livros ―O Velho Direito Penal Militar Clássico e as Ideias Modernas da Sociologia Criminal‖ (1914). Descreveu os segundo ele denominados crimes propriamente militares, as contravenções disciplinares e os chamados crimes impropriamente militares (entidades bifrontes, híbridas, da cintura para cima crime comum, da cintura para baixo crime militar). O presidente da Sociedade Brasileira de Criminologia foi Evaristo de Moraes (1871 – 1939). Sobre criminologia escreveu os livros ―Crianças Abandonadas e Crianças Criminosas‖ (1900); ―Teoria Lombrosiana do Delinquente‖ (1902); ―Ensaios de Patologia Social‖ (1921); ―Criminalidade da Infância e da Adolescência (1927); ―Criminalidade Passional‖ (1933) e ―Embriaguez e Alcoolismo‖. Joaquim Pimenta (1886 – 1963), estudava o alcoolismo como fonte direta da criminalidade e as lutas das famílias e sua persecução na sociedade sertaneja. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 32 6- DIFERENÇA ENTRE CRIMINOLOGIA E CRIMINALÍSTICA Criminalística é uma ciência que se utiliza do conhecimento de outras ciências para poder realizar o seu mister, qual seja, o de extrair informações de qualquer vestígio encontrado em um local de infração penal, que propiciem a obtenção de conclusões acerca do fato ocorrido, reconstituindo os gestos do agente da infração e, se possível, identificando-o. (...) É uma ciência que objetiva a individualização e a identificação dos vestígios materiais relacionados aos delitos em geral, valendo-se das suas próprias regras e metodologias e do conhecimento das demais ciências, a fim de saber o que aconteceu, a maneira como se desenvolveu os fatos e quem cometeu o crime.‖ Espíndula, 2007 A criminalística é definida por Aurélio (2004) como ―Ciência auxiliar do Direito Penal, a qual tem por objeto a descoberta de crimes e a identificação de seus autores.‖ Os objetos presentes na cena de um crime possuem características gerais e específicas, que quando analisadas por técnicas cientificamente comprovadas ou caracterizadas, podem proporcionar dados suficientes para a identificação de um crime e criminoso. A nomenclatura Criminalística, às vezes, é associada como sinônimo de ciências forenses. Criminalística é uma palavra derivada do alemão kriminalisticI, que engloba os diversos aspectos dos métodos científicos e tecnológicos aplicados a investigação e resolução de matérias legais. Criminalística é uma área da ciência forense que envolve a coleta e análise de evidências físicas geradas por atividades criminais (Houck e Siegel, 2006). No entanto, muitos autores consideram os criminalistas, os cientistas forenses ou como é denominado aqui no Brasil, peritos criminais. Criminalística é a profissão e a disciplina científica diretamente relacionada ao reconhecimento, a identificação, a individualização e a avaliação da evidência física pela aplicação das ciências aplicadas às questões legais. Um criminalista utiliza o princípio científico da química, da biologia e da física para deduzir informações da cena do crime e da evidência física (Gialamas, 2001). INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 33 Traduzindo do inglês forensic science – ciência forense – termo mais comumente utilizado para definir a ciência relacionada aos estudos judiciais, ou melhor, a ciência forense é descrita como o estudo de associação entre pessoa, lugares e coisas que envolvem atividades criminais, na qual diferentes disciplinas assistem na investigação de casos criminais e civis. Como profissão, seria aquela composta por cientistas cujo trabalho é responder questões para a corte por intermédio de informações e testemunhas (Houck e Siegel, 2006). No Brasil, o termo mais comumente utilizado é o de perícias criminais, mas o termo ciências forenses também pode ser utilizado, mas para definir o estudo das questões judiciais que envolvem casos criminais e civis, e não somente a criminal. Para um melhor entendimento acerca das perícias criminais, se fazem necessários o entendimento e a diferenciação da mesma com a perícia cível. Dessa maneira, serão explicados a seguir alguns conceitos básicos da perícia cível e criminal: Segundo o Código de Processo Civil (Lei Federal n. 5.869, de 11/01/73) em seu artigo 420. ―A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação‖. Silva (1999) define que as perícias são operações destinadas a ministrar esclarecimentos técnicos à justiça e França (2001) como ―um ato pelo qual a autoridade procuraconhecer, por meios técnicos e científicos, a existência ou não de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem ou que com ele tenha relação‖. A perícia é requisitada pela autoridade que legalmente estiver conduzindo o inquérito e a ação judicial, como o juiz, que poderá ou não nomear um perito (França, 2001; Espíndula, 2007). O perito nomeado deverá possuir os conhecimentos técnicos ou científicos para a realização da mesma. As perícias mais frequentes são realizadas no foro civil e criminal. A palavra Criminologia deriva do latim ―crimen‖ (delito) e do grego ―logos‖ (tratado). Em resumo, seria o ―Tratado do Crime‖. Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo (designando-a como a ―ciência do crime‖), contudo, já havia sido muito estudada e utilizada (embora não com esta denominação) pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 34 Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinque. Definindo a criminologia como o tratado do delito, confundi-laemos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve abranger esses três elementos. A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida de maneira uniforme, existindo muitas e variadas definições. - Nelson Hungria: ―Criminologia é o estudo experimental do fenômeno crime, para pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos‖. - Jean Merquiset: ―Criminologia é o estudo do crime como fenômenos social e individual e de suas causas e prevenção‖. - Kinberg: ―Criminologia é a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno natural da práticado crime, como também o fenômeno da luta contra o crime‖. - Edwin H. Sutherland: ―Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo‖. Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e humanas no controle e ressocialização do criminoso, com vistas á prevenção da delinquência. A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que o fim último da Criminologia é a promoção do homem ou a ascenção da condição humana. Poder- se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia que foram formulados pelos mais variados autores. Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes todos os conceitos até hoje formulados pecam por não incluírem na Criminologia o estudo da vítima, também denominado de vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 35 apenas do crime e do criminoso, mas, igualmente, da vítima. Assim, na definição desses dois autores, ―Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinquente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao agrupamento social‖. Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do fenômeno criminal, das suas causas e características, da sua prevenção e do controle de sua incidência. A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas da criminalidade; as manifestações e os efeitos da criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade; a política a opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á periculosidade preparatória da criminalidade. Em resumo: ―Criminologia é o estudo do crime, do criminoso, da vítima e das causas e fatores da criminalidade‖. Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a Criminologia representa: a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) básicos da criminalidade; b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime (tratamento e profilaxia), objetivando a ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade. Assim, podemos dizer que o objeto da Criminologia é: ―O estudo do fenômeno natural, considerando os fatores individuais (personalidade) e os fatores sociais (ambiente), e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em conta a necessidade de ressocialização do delinqüente (tratamento) e de prevenção do crime (profilaxia)‖. Em resumo, o objeto da Criminologia é, pois, o crime e o criminoso, o que a confunde, muitas vezes, com o Direito Penal, já que este também tem por objeto o crime e o criminoso. Já chegou-se até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas uma parte do Direito Penal, portanto, dependente deste. Sabe-se, contudo, INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 36 que embora o Direito Penal e a Criminologia estudem ambos o crime, são duas ciências autônomas e independentes, e o enfoque dado por uma e por outra, relativamente ao delito, é diferente. O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal de conduta, contra o qual estabelece o gravame, o castigo, a punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a ciência de repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele mesmo elabora. O seu objeto, portanto, é o crime como um ente jurídico, e como tal, passível de sanções. Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a incumbência de não só se preocupar com o crime, mas também de conhecer o criminoso, montando esquemas de combate á criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando empenhos terapêuticos para cuidar dos delinqüentes a fim de que eles não venham a reincidir. Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão social contra o delito, através de regras jurídicas coibitórias cuja transgressão implica em sanções, a Criminologia é uma ciência causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o oferecimento de estratégicas, por intermédio de modelos operacionais, de molde a minimizar os fatores estimulantes da criminalidade, bem como, o emprego de táticas estribadas em fatores inibidores do conjunto do crime. O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que constituem delito e á Criminologia importa saber as causas pelas quais devam ser consideradas como delitos. Conseqüentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a Criminologia, é que enquanto o primeiro nos indica que os atos merecem uma pena, a segunda nos indica a causa desses atos. Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto ambas as ciências estudam o delinqüente, o Direito Penal só indaga o grau de responsabilidade do mesmo (autor, co-autor, partícipe); enquanto que á Criminologia interessa conhecer o homem delinquente, aspecto que mais tem INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 37 preocupado as escolas filosóficas, ou seja, trata de compreender a personalidade do homem delinquente. Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma inequívoca atividade de verificação, de análise da conduta antissocial, de pesquisa das causas geradora do delito, e do efetivo estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não se torne recidivista. O objeto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como fenômeno comunitário, além das causas do crime como fenômeno individual e o embate contra a delinquência. Por conseguinte, o homem somente diz respeito ao objeto da criminologia quando é o homem delinquente, antes não. Porque delinquente o homem e as causas porque o faz, são as matérias essenciais com que preocupa a Criminologia. Exato afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia trabalham em cima da mesma matéria prima, mas a forma de operação,de elaboração do trabalho, é bem diferenciada, o que torna legítimo concluir que o objeto de uma ciência não é o mesmo da outra. Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não 10 possam entender-se; pelo contrário, completam-se, pois estão unidas por uma finalidade única, que é conhecer e estudar o delinquente. A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é essencialmente biológica, experimental e dedutiva, enquanto que o Direito Penal é uma ciência normativa e valorativa. A Criminologia vem injetando no Direito Penal um sentido biológico. A paixão irresistível, a força coercível, a coação, o louco ou alienado, etc, são conceitos médico-biológicos da Criminologia adotados pelo Direito Penal. É o que se tem denominado ―o sentido biológico do Direito Penal‖. Método Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, ensina Vitorino Prata Castelo Branco: ―Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento humano procura encontrar a explicação de um fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade‖. E prossegue: ―Só o método científico, isto o é, sistematizado, por observações e experiências, comparadas e repetidas, pode INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 38 alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores‖. Diz, ainda, Vitorino Prata: ―O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do crime como ação humana, abrangendo as forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento reprovável, etc.‖. Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste gabaritado criminólogo, deflui, que em termos de pesquisas criminológicas, dois seriam os métodos utilizados: a) biológico; b) sociológico. De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e mesológicas, no fundo significam a mesma coisa, ou seja, algo ligado ao meio ambiente, ao meio social. Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin, argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e sociológico. E, como não poderia deixar de ser a uma disciplina que estuda o crime como um fato biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia não fica adstrita a um só terreno científico, porque este não teria, por si só, o condão de conseguir explicar o fenômeno delinquencial e a vasta caudal de causas delituógenas, dentre elas aquelas de natureza social, biológica, psicológica, psiquiátrica, etc. Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se utiliza dos métodos de outras ciências. Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na constituição da equipe criminológica – ―team work‖ – (médico, psiquiatra, psicólogo, assistente social, educador, enfermeiro, etc., que tenham recebido treinamento criminológico). Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são: a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia; b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia, Psicologia, Psiquiatria, Endocrinologia, etc. A criminologia como ciência Genericamente, considera-se ciência o conjunto de conhecimentos relativos á um determinado objeto, em especial os obtidos mediante a observação, a experiência INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 39 dos fatos e um método próprio. Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que deve ser considerado ciência. Muitos exigem que para uma disciplina de conhecimentos poder ser considerada uma ciência, 12 deve ter um objeto específico, seguir um método determinado e ter uma aplicação universa. Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não uma ciência, sob a alegação de que não possui objeto, não tem um método determinado, tampouco é universal. Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta carece de objeto, porquanto estuda o delito, que pertence ao Direito Penal. Porém, sabemos que não é bem assim, pois como visto, ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos diferentes. Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a Criminologia uma ciência, por não ter um método determinado, uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico e o sociológico. Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e sociológico e exemplifica: ―se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja a Criminologia, que usa o seu método‖. E acresce: ―A Criminologia usa o método experimental, naturalístico, indutivo, para o estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer as causas da criminalidade. Por isso, recorremos aos métodos estatísticos, históricos e sociológicos‖. O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a categoria de ciência? É claro que não. A Criminologia não é um campo de conhecimento empírico, que vive a carecer de método científico para a comprovação de suas experiências e experimentos. Ao contrário, ao invés de um, a Criminologia possui dois métodos de trabalho: o biológico e o sociológico. Por último, aqueles que negam o caráter científico à Criminologia, que esta não é universal, pois o que num país pode ser estabelecido como uma verdade incontestável, noutro poderá ser diferente, a ponto de existirem as chamadas Criminologia nórdica, européia, americana, etc., que guardariam aspectos diferentes entre si. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 40 Contudo, quanto á condição de não universalidade da Criminologia, para ser considerada uma ciência, de recordar que, em Congresso Internacional de Criminologia realizado há menos de 20 anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia, consensuou-se o seguinte: ―A delinqüência é um fenômeno social complexo que tem suas próprias leis e que aparece num meio sociocultural determinado, não podendo ser tratada com regras gerais, mas particulares a cada região‖. Diante disso, é oportuno citar ainda uma vez Vitor ino Prata, que reconhecendo a condição de ciência da Criminologia, sublinha: ―Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm características diferentes em cada continente, devido á cultura e á história própria de cada um. Há, pois, uma Criminologia brasileira, como uma Criminologia chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma Criminologia própria de cada raça ou nacionalidade‖. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 41 CONCLUSÃO Diante do exposto, podemos concluir que a criminalidade hoje em dia, vem aumentando consideravelmente, o que gera muita insegurança a sociedade em geral. Os fatores que levam a esse aumento podem ser chamados como biopsicossociais. Em contrapartida, percebe-se que houve uma evolução, na história do pensamento humano no que se refere aos delitos e as penas. Assim, as penas que anteriormente eram cruéis e degradantes, passaram a ser mais justas, eis que o que se busca hoje em dia é dissuadir a pratica de crimes e ressocialização dos criminosos. Ainda, não podemos dizer que o Estado finalizou seu intento, mas caminha gradativamente para isso. Podemos perceber que a tendência atual, em alguns casos, considerados menos graves, é à substituição da pena privativa de liberdade por outras opções menos aflitivas, como as multas. A jornada é longa e árdua, mas não podemos negar a evolução que ocorreu, ainda á que se modificar muitas coisas, mas estamos no caminho. INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 42 REFERÊNCIAS http://www.egov.ufsc.br JUS BRASIL Oliveira, FredericoAbrahão de, Manual de Criminologia – 2ª Ed -Porto Alegre: Sagra: C Luzzatto, 1996. ARAÚJO JÚNIOR, João; Marcello de LYRA, Roberto. Criminologia. 2. ed. Rio de Janeiro, 1990. BARATA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 1999. BENEVIDES, Paulo Ricardo. Caos: superlotação x penas alternativas. Revista Visão Jurídica. São Paulo, ano VI, n. 59, p. 70-71, abril/2011. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARVALHO, Maria C. Neiva de; MIRANDA, Vera Regina. Psicologia jurídica: temas de aplicação. 2. reimpressão. Curitiba: Juruá, 2009. DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: O delinquente e a Sociedade Criminógena. 2. ed. 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