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ELABORAÇÃO DE ROTEIROS TURÍSTICOS AULA 1 Profª Daniella Pereira Barbosa 2 CONVERSA INICIAL Seja muito bem-vindo à nossa disciplina. Nesta aula iremos trabalhar o conceito de roteiro turístico, tendo em vista a funcionalidade de um roteiro, seus elementos essenciais e sua importância no contexto da atividade turística. Ao final deste encontro esperamos que você seja capaz de definir o que é um roteiro turístico, identificar alguns dos elementos essenciais para sua implantação, e perceber a sua relação direta com o desenvolvimento dos destinos turísticos. Preparado? Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Imagine que você acaba de ganhar uma viagem para Buenos Aires em um concurso, porém você terá apenas três dias para conhecer a cidade. A capital argentina é a oitava cidade mais populosa da América Latina, com aproximadamente três milhões de habitantes. O que você faria? Como organizaria o seu tempo durante a viagem? Quanto tempo você gostaria de gastar em cada um dos atrativos visitados? Você é do tipo de turista que prefere ver muita coisa em pouco tempo ou prefere visitar menos lugares e saber mais sobre a história de cada um deles? Onde pode achar mais informação sobre os atrativos? Todos esses questionamentos fazem parte da rotina de quem planeja uma viagem, seja de forma independente ou por intermédio de uma agência/operadora de viagens. E a melhor maneira para responder a essas perguntas de forma eficiente é elaborar um roteiro de viagem com base nas necessidades do viajante e nas potencialidades oferecidas pelo destino turístico. Mas antes de colocarmos a mão na massa e elaborarmos um roteiro turístico por Buenos Aires, precisamos entender alguns conceitos e elementos fundamentais do processo de construção de um roteiro, e qual a sua importância na cadeia produtiva do turismo. TEMA 1 – CONCEITO E FUNCIONALIDADE De uma maneira bem simplificada, podemos dizer que a atividade turística pode ser organizada na forma de roteiros turísticos, uma vez que ela se desenvolve por meio da articulação entre oferta e demanda. Ou seja, para elaborar um roteiro turístico, é preciso pensar na combinação de atrativos, 3 equipamentos, informações e serviços, infraestrutura oferecida no destino, sempre em relação com as preferências e expectativas da demanda, ou seja, de quem visitará o local. Moletta (2002) define roteiro como sendo um pequeno plano de viagem, em que o turista tem a descrição de todos os pontos a serem visitados, o tempo de permanência em cada local e a noção dos horários de parada. Para Petrocchi e Bona (2003), o roteiro turístico é constituído por uma ou mais atrações turísticas, interligadas a um percurso que deve conter instalações e serviços turísticos, como transporte, hospedagem, alimentação, entre outros. Bahl (2004) define um roteiro turístico como sendo todo o processo de ordenação de elementos intervenientes na efetivação de uma viagem. O roteiro pode estabelecer as diretrizes para desencadear a posterior circulação turística, seguindo determinados trajetos, criando fluxos e possibilitando um aproveitamento racional dos atrativos a visitar. Segundo o Ministério do Turismo (Brasil, 2007), entende-se roteiro turístico como sendo um itinerário caracterizado por um ou mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística das localidades que formam o roteiro. Para Richter et al. (2016) o principal objetivo de um roteiro é oferecer aos turistas a maior gama de informações sucintas possível, mostrando o local a ser visitado, com seus principais diferenciais, estimulando no visitante o interesse para conhecer a região. Sendo assim, os roteiros turísticos podem ser tanto um instrumento de ordenamento de atrativos turísticos em uma determinada localidade, a fim de atrair visitantes, bem como um componente na criação de um produto turístico, que será posteriormente comercializado pelas operadoras e agências de viagens. 1.1 Estudo de Caso: Estrada Real Nada melhor do que observarmos na prática um roteiro turístico consolidado para assimilarmos os conceitos acima apresentados. Vocês já ouviram falar na Estrada Real? Localizada na Região Sudeste, a Estrada Real é uma rota turística com mais de 1.630 quilômetros de extensão, e passa pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A sua história surge em 4 meados do século 17, quando a Coroa Portuguesa decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes extraídos de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro. As trilhas que foram delegadas pela realeza ganharam o nome de Estrada Real. Em 2001, foi criado um projeto turístico para a Estrada Real, com a finalidade de valorizar o patrimônio histórico-cultural, estimular o turismo, além de garantir a preservação e revitalização das localidades no entorno dos antigos caminhos pelos quais as riquezas extraídas das minas percorriam até chegar ao litoral. Trata-se de um importante roteiro turístico planejado pelo poder público, com itinerários chamados de caminhos. São eles: Caminho Velho (Ouro Preto/Paraty), Caminho Novo (Ouro Preto/Rio), Caminho dos Diamantes (Diamantina/Ouro Preto) e Caminho Sabarabuçu (Glaura/Cocais). A Estrada Real passa por seis parques, como o Parque Estadual de Itacolomi e o Parque Nacional da Serra do Cipó. Ao longo dos caminhos, os visitantes encontraram inúmeros atrativos naturais, como cachoeiras, grutas e trilhas na natureza. Outro ponto forte da Estrada Real são seus atrativos histórico-culturais: edifícios históricos, igrejas e até mesmo pinturas rupestres. Figura 1 – Estrada real Crédito: Instituto Estrada Real, S.d. 5 Saiba mais Saiba mais sobre os roteiros da Estrada Real em: ESTRADA REAL. Disponível em: <http://www.institutoestradareal.com.br/estradareal>. Acesso em: 26 set. 2019. 1.2 Estudo de Caso: Game of Thrones Agora vamos ver um exemplo de um roteiro turístico internacional bastante criativo que também partiu de uma iniciativa do poder público. O departamento de turismo da Irlanda do Norte lançou em 2015 um roteiro específico para quem deseja visitar as diversas locações da aclamada série de TV norte-americana Game of Thrones. O roteiro foi lançado na época da estreia da quinta temporada da série. Game of Thrones se baseia no livro de George R. R. Martin. A série foi filmada em diversos lugares do mundo: Canadá, Croácia, Islândia, Malta, Marrocos, Espanha, Irlanda do Norte, Escócia e Estados Unidos. A Irlanda do Norte oferece aos fãs da saga uma gama de experiências únicas. No roteiro Discover Westeros os turistas podem visitar o Castelo Ward, que serviu como cenário de Winterfell e arredores, na primeira temporada da série. O visitante tem a opção de fazer o tour guiado ou ainda conhecer as locações do filme de forma independente. Para isso, é possível baixar um aplicativo no celular contendo todas as informações sobre os lugares das filmagens. No site do departamento de turismo do país, é possível encontrar uma sessão inteira destinada aos visitantes interessados no roteiro Game of Thrones, com seus diversos passeios. Crédito: Joaquin Ossorio Castillo/Shutterstock. 6 Saiba mais Saiba mais sobre os roteiros da Estrada Real em: GAME OF THRONES: discover NI TV Ad. Discover Northern Ireland, 14 fev. 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7pATXGPCpBw&fea ture=youtu.be>. Acesso em: 26 set. 2019. TEMA 2 – TIPOS E CARACTERÍSTICASOs roteiros turísticos podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: Local de elaboração; Agente organizador; Comercializados ou não; Natureza do roteiro. 2.1 Local de elaboração Os roteiros podem ser elaborados por agências, operadoras, publicações ou instituições do polo emissor, ou seja, do local de onde o turista irá partir. Os roteiros emissivos têm como desafio atender as expectativas dos turistas, sejam elas individuais ou coletivas (viagens de grupos). A escolha e apresentação dos atrativos são elementos centrais neste tipo de roteiro, uma vez que são fortes motivadoras das viagens. Os roteiros também podem ser elaborados no polo receptor, ou seja, no destino que irá receber os turistas. Os chamados roteiros receptivos têm como desafio alinhar as expectativas dos visitantes às possibilidades da oferta existente. 2.2 Agente organizador Os roteiros podem ser elaborados por órgão públicos ou pela iniciativa privada, caso em que são chamados de roteiros organizados. Dentre os órgãos públicos, destaque para as secretarias de turismo municipais e estaduais. A elaboração de roteiro turístico é uma das suas atribuições – iremos tratar o tema com mais detalhes em uma aula sobre políticas de roteirização turística. Quando 7 elaborados de forma independente pelos turistas, os roteiros são classificados como roteiros espontâneos. 2.3 Comercializados ou não Os roteiros podem ainda ser caracterizados quanto aos aspectos operacionais de elaboração e comercialização. Podem ser pensados de uma forma genérica, quando o foco de comercialização for o público em geral, ou podem ainda ser elaborados com foco em públicos e nichos de mercado específicos. Os roteiros elaborados com base em motivações genéricas apresentam uma programação pouco flexível, em que os horários de chegada, de saída e as refeições, bem como o tempo de permanência nos atrativos, devem ser seguidos à risca. Ao comercializar um roteiro, é importante que os profissionais envolvidos na sua elaboração conheçam os locais a serem visitados e a infraestrutura que será ofertada ao cliente. Roteiros elaborados por viajantes independentes são bons exemplos de roteiros não comerciais. A vantagem de se elaborar um roteiro por conta própria certamente é a liberdade de escolha individual e a flexibilidade em relação a horários, tempo de permanência e atividades a serem realizadas. 2.4 Natureza do roteiro Os roteiros podem ainda ser classificados de acordo com a natureza dos atrativos selecionados, podendo ser divididos em imateriais, materiais e temáticos. Os roteiros imateriais são elaborados, como o próprio nome diz, tendo com base principal bens culturais intangíveis, como gastronomia, literatura e tradições populares, como crenças e festas. Um exemplo de roteiro imaterial é o Tour Curitidoce, um passeio por cafés, sorveterias e confeitarias, que oferece ao visitante a experiência de degustação de guloseimas doces em diferentes estabelecimentos na cidade. Já os roteiros materiais são elaborados com base em atrativos monumentais, históricos, arquitetônicos, dentre outros. Se vocês visitarem o site da Estrada Real, no exemplo mostrado acima, verão bons exemplos de roteiros materiais. 8 Os roteiros temáticos são baseados em temas específicos. Resultam do agrupamento de municípios ou regiões com atrativos semelhantes, reunidos sob a ótica da temática escolhida. A Rota do Vinho na Serra Gaúcha é um ótimo exemplo de roteiro temático, assim como o Roteiro Game of Thones apresentado no início da aula. TEMA 3 – TIPOS DE VIAGENS Ao tratar de viagens, logo associamos o ato de viajar ao período de férias, bem como à atividades de lazer e descanso. Embora uma grande parcela da população global de fato consiga viajar apenas durante as férias, em busca justamente de lazer e descanso, vale destacar que nem sempre as viagens estão associadas a esses dois fatores motivacionais, como iremos ver nesta aula. Existem diferentes tipos de viagens. Bahl (2004) destaca que a programação de uma viagem pode ser proposta e elaborada com formatos e objetivos diferentes, indo além da ideia de uma viagem empreendida no período de férias, feriados e finais de semana. O autor traz as seguintes modalidades de viagens: Viagens de estudo: estão geralmente relacionadas a atividades acadêmicas em que se busca observar e analisar um determinado assunto, localidade ou serviço específico. Em resumo, são viagens associadas à obtenção ou aprimoramento de conhecimento. As visitas são orientadas e vinculadas a uma atividade posterior, em que os participantes elaboram relatórios sobre o que foi percebido e visitado durante a viagem. Viagens de incentivo: comuns no meio empresarial. São viagens propostas como um estímulo profissional. Em geral, uma viagem de incentivo é concedida pela empresa a um funcionário ou a uma equipe inteira por atingirem as metas propostas pela organização durante um determinado período. Viagens de inspeção ou de experimentação: são viagens que antecedem o lançamento de um determinado produto ou serviço. No caso do turismo, podem ser anteriores ao lançamento de um novo roteiro turístico ou empreendimento. O principal objetivo desse tipo de viagem é avaliar a qualidade dos serviços e produtos que serão ofertados, antecipando possíveis falhas que devem ser corrigidas. 9 Viagens de familiarização: direcionadas para alguns segmentos específicos de profissionais, como jornalistas e agentes de viagens (mais recentemente, incluem-se neste grupo os especialistas digitais, como bloggers e youtubers). Tem como propósito apresentar um determinado produto, serviço ou destino turístico para que os profissionais obtenham informações detalhadas e possam avaliar ou comercializar os produtos demonstrados. Viagens individualizadas ou especiais: assemelham-se às viagens de familiarização, porém, como o próprio nome propõe, são pensadas para atender um determinado profissional, que posteriormente pode divulgar e promover a localidade turística visitada. Viagens especializadas: são viagens organizadas com a intenção de que, ao seu término, o participante tenha aprendido algo específico. Exemplo: degustação de vinhos, cervejas, cafés, cursos de idiomas, aulas de culinária, dentre outras. Viagens para eventos: viagens cuja finalidade principal é a participação em um evento. Atualmente, um bom exemplo no mercado brasileiro são os pacotes e excursões organizados para grandes festivais de música, como o Rock in Rio e o Lollapalooza. Viagens de observação: organizadas para observação da fauna e da flora de determinada localidade ou região. Viagens surpresas: nelas, os participantes adquirem o pacote sem saber o destino da viagem, o que geralmente é relevado na véspera ou até mesmo no dia da viagem. Pode parecer um tanto excêntrico, mais é uma modalidade que tem ganhado espaço no mercado brasileiro. Viagens turísticas: vínculo maior com a ocupação do tempo livre das pessoas. Profissional tour: programação de viagem cujo objetivo principal é atender o interesse específico de um grupo de profissionais em viagem a trabalho e negócios. Saiba mais Saiba mais sobre as viagens surpresas: EMPRESAS ganham espaço no negócio de produtos surpresa. Época Negócios, 19 mar. 2018. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Em 10 presa/noticia/2018/03/empresas-ganham-espaco-no-negocio-de-produtos- surpresa.html>. Acesso em: 26 set. 2019. 3.1 Bleasure Além da tradicional classificação de viagens apresentada,precisamos ficar atentos às movimentações e tendências do mercado global de viagens. Já ouviram falar no termo “bleasure”? O conceito é uma combinação dos termos em inglês: business + pleasure, cuja tradução literal é negócios e prazer. Bleasure é um conceito que reflete as mudanças na maneira de se viajar a negócios, marcada por maior flexibilidade de horários e estilos de trabalho. Os profissionais e empresas passaram a ver as viagens de negócio com um olhar diferente; além dos compromissos formais de trabalho agendados, são viagens que possibilitam que os profissionais façam atividades de lazer, lhes permitindo conhecer o destino, visitando para além do aeroporto e das salas de reunião, como acontece nas tradicionais viagens de negócios. Em resumo, as empresas permitem que seus executivos em viagem deem aquela esticadinha de um ou dois dias para conhecerem o destino em que estão. Saiba mais Ficou curioso? Leia mais em: CARVALHO, R. Bleasure: entenda a nova tendência de mercado. FlyTour, 19 jul. 2018. Disponível em: <https://viagensanegocios.com.br/bleasure- entenda-a-nova-tendencia-de-mercado/>. Acesso em: 26 set. 2019. TALA, M. L.; SCHIOPU, A.; MÜLLER, C. N. Bleisure: a new trend in tourism industry. Reserch Gate, fev. 2011. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/232747813_Bleisure_- _a_new_trend_in_tourism_industry>. Acesso em: 26 set. 2019. TEMA 4 – MOTIVAÇÕES DAS VIAGENS TURÍSTICAS Para o profissional do turismo, tão importante quanto conhecer os diferentes tipos de viagens, é entender quais motivações podem levar a tomada de decisão sobre a realização de uma viagem. Ao entender o que leva uma pessoa a querer viajar, o profissional tem a possibilidade de trabalhar um produto turístico que se encaixe no perfil de seu futuro cliente, caso trabalhe em uma agência de viagens. Ou ainda, ajudar esse profissional a planejar com maior 11 assertividade um novo roteiro turístico para um município ou região, com foco voltado a turistas com motivações específicas, como aqueles que viajam em busca por aventura e contato com a natureza. Nas próximas aulas, vamos ver alguns roteiros temáticos pensados para turistas com motivações específicas. De Stefani (2015) lembra que, diferentemente dos produtos tangíveis, o consumo do produto turístico acontece ao mesmo tempo em que é produzido. Portanto, o produto turístico requer que a demanda (o turista) tenha vontade de viajar, condições financeiras para tal, além de tempo disponível para a viagem. A partir da reflexão da autora, já podemos identificar três fatores que motivam ou não uma pessoa a realizar uma viagem: tempo, dinheiro e vontade de viajar. A ausência de um deles pode levar à tomada de decisão pela não realização da viagem. Swarbrooke e Horner (2002) afirmam que um amplo leque de fatores motiva os consumidores a comprar um produto turístico; portanto, as possibilidades são muitas. Vamos trazer aqui um esboço feito pelos autores sobre a série de motivações tidas como fatores que influenciam os turistas. Segundo os autores, os fatores motivacionais em turismo podem ser divididos em dois grupos: os que motivam uma pessoa a tirar férias e os que motivam uma pessoa a tirar determinadas férias em determinada destinação e determinado período. Vamos refletir juntos sobre essa divisão. No primeiro grupo, estão aquelas pessoas que simplesmente decidem tirar férias porque estão cansadas, porque têm férias vencidas no trabalho, ou porque querem usar as férias para fazer um curso que lhes trará novas habilidades, como culinária ou fotografia, por exemplo. As motivações podem ser as mais diversas possíveis, mas a decisão das férias não depende de outras variáveis. Já o segundo grupo decide tirar férias tendo em mente motivações bem específicas, que dependem de outras variáveis além do puro desejo de férias, e que tornam o planejamento das viagens bem menos flexível. Por exemplo, famílias com filhos em idade escolar que só podem tirar férias durante o recesso de aulas, pessoas interessadas em eventos específicos, como festivais de música, que acontecem anualmente no mesmo período do ano, ou ainda pessoas que querem observar fenômenos da natureza sazonais, ou seja, que só acontecem em determinadas épocas do ano, como a colheita das uvas em uma vinícola ou os campos floridos de tulipa na Holanda. Em resumo, localização 12 geográfica e períodos específicos do ano são fatores motivacionais importantes para esse grupo na decisão de tirar férias. A partir da identificação desses dois grupos, Swarbrooke e Horner (2002) propuseram uma categorização sobre os principais fatores que motivam uma pessoa a realizar uma viagem. Figura 3 – Categorização Fonte: Swarbrooke; Horner, 2002, p. 86. Em sua pesquisa, os autores fazem mais algumas considerações sobre os fatores motivacionais que merecem destaque. Swarbrooke e Horner (2002) afirmam que os turistas são diferentes entre si; portanto, os fatores que os motivam também são diferentes. Ao analisar as motivações individuais de cada turista, é importante considerar fatores como personalidade, estilo de vida (um contexto relevante no processo de decisão de compra), experiências passadas na condição de turista, histórico de vida (experiências vivenciadas pelo turista no passado que podem gerar nostalgia, um fator motivacional a ser considerado), percepção de suas próprias forças e fraqueza, e por fim imagem pessoal (como deseja ser vista por outras pessoas). Os autores reconhecem ainda que as motivações individuais podem mudar com o tempo em reposta a mudanças na trajetória pessoal de cada indivíduo, como ter filhos, aumento ou redução de renda, problemas de saúde, entre outros aspectos. 13 Outro ponto destacado por Swarbrooke e Horner (2002) é que raramente um turista será movido apenas por um fator motivacional isolado. A tomada de decisão por uma viagem geralmente acontece pelo que chamam de motivações múltiplas, ou seja, o turista é movido por um conjunto de motivações em um dado momento. Portanto, a questão da motivação não é tão simples quanto parece à primeira vista. Trata-se de um campo de estudo que ainda precisa ser melhor explorado dentro do universo do turismo. Podemos concluir com base nas pesquisas existentes que a motivação de um turista depende de um casamento de fatores: sua personalidade e estilo de vida, suas experiências passadas, a pessoa com quem está planejando tirar férias (vai viajar sozinho, com a família, com amigos etc.), suas características demográficas (jovens tem motivações diferentes de pessoas mais velhas; pais planejam as férias se preocupando com a satisfação dos desejos dos filhos; pessoas solteiras buscam destinos diferentes de casais etc.), e o tempo de antecedência em que se planeja uma viagem. TEMA 5 – TIPOLOGIA DE ROTEIROS TURÍSTICOS Quando falamos em tipologia de roteiros turísticos, vale ressaltar que a literatura acadêmica apresenta diversas formas de se classificar um roteiro turístico, que variam de acordo com o critério adotado por cada autor. A Organização Mundial do Turismo sugere a definição de roteiros de acordo com o tipo de deslocamento das pessoas, classificando-os em doméstico e internacional. Os roteiros domésticos, também chamados de roteiros internos, são aqueles realizados pelos moradores de determinado país dentro dos limites do seu próprio território. O turismo doméstico dá suporte ao turismo internacional, uma vez que é responsável pela consolidação de atrativos e regiões turísticas, que passam a ser conhecidos para além das fronteiras nacionais.A vocação turística de cada região varia de acordo com suas características específicas; a ênfase pode ser cultura, arquitetura, culinária, natureza, dentre outros aspectos. No Brasil, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) registrou em 2017 mais de 92 milhões de desembarques nacionais de passageiros nos aeroportos brasileiros. Segundo dados do Ministério do Turismo, o PIB Turístico cresceu 3,1% em 2018 (Sebrae, 2018). 14 Já os roteiros internacionais, como o próprio nome sugere, são os roteiros realizados por turistas para outros países, que não o de sua residência. Podem ser subdivididos ainda entre emissivo e receptivo. Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), em 2018, o turismo mundial injetou 8,8 trilhões de dólares na economia e registrou um crescimento de 3,9%, maior do que o crescimento do PIB global que foi de 3,2% (Sebrae, 2018). Bahl (2004) sugere a definição de roteiro a partir do critério da dimensão, referente à abrangência espacial e geográfica de um roteiro. A Figura 4 mostra a tipologia de roteiros quanto à dimensão. Figura 4 – Dimensões Fonte: Elaborado com base em Bahl, 2004. Além da classificação por dimensão, De Stefani (2015) sugere ainda que os roteiros podem ser classificados quanto aos modais de transporte utilizados, ou levando em consideração fatores como a comercialização e a exclusividade. Ao falar de modais de transporte, a autora se refere à força motriz empregada pelo respectivo meio de transporte. De Stefani lembra que, no turismo, temos quatro modais: rodoviário, aeroviário, hidroviário e ferroviário. Sob a perspectiva dos modais de transportes, os roteiros podem ser classificados em isolados (quando utilizam apenas um modal) ou conjugados (quando utilizam mais de modal). Quanto à comercialização, a autora classifica os roteiros turísticos em institucionais e comercializáveis. Os institucionais são elaborados com a finalidade de promover uma localidade turística, e os comercializáveis, como o 15 próprio nome sugere, são elaborados pelas operadoras e agência de turismo para serem vendidos ao público. A exclusividade é a última variável apresentada por De Stefani (2015), segundo a qual os roteiros podem ser separados em dois tipos: excursões e forfaits. São chamados de excursões os roteiros elaborados pelas operadoras de turismo para atender a demanda de grupos. Já os forfaits são os roteiros elaborados sob encomenda de acordo com o interesse e a necessidade do cliente. Podem ser tanto individuais quanto destinados aos interesses de um grupo específico. Vamos falar em maiores detalhes sobre esses dois tipos de roteiros, bastante populares no mercado. Segundo Silva e Novo (2010), os roteiros turísticos apresentam características diversas, e a combinação de seus componentes determina a nomenclatura utilizada para identificá-los. Por uma razão meramente didática, vamos destacar a tipologia utilizada por Tavares (2002) na classificação dos roteiros turísticos. A tipologia apresentada pelo o autor é muito usual no mercado de turismo, quando se fala em elaboração de roteiros, e retoma com mais detalhes alguns dos conceitos apresentados. Acompanhe. 5.1 Pacotes Os pacotes são provavelmente o tipo de roteiro mais popular entre o grande público, uma vez que sua comercialização é promovida pelas agências de turismo por diversos canais de comunicação. Inclusive, aparecem constantemente em propagandas na internet e na televisão. Pacotes podem ser elaborados por agências ou operadoras de turismo. Um pacote básico é composto por transporte (geralmente aéreo), translado e hospedagem. Alimentação e programação de lazer também podem compor um pacote. De modo geral, a programação de um pacote não permite alteração e raramente ultrapassa duas localidades, o que torna o produto mais barato e acessível. 5.2 Forfait Forfait são roteiros personalizados. São elaborados com base nas expectativas e interesses do consumidor final, sendo importante considerar as motivações do cliente, seu tempo disponível de viagem, a disponibilidade financeira para aquela viagem, tipos de serviços desejados, número de pessoas 16 que irão viajar, dentre outros aspectos. Diferentemente de um pacote, o forfait não permite a comercialização generalizada, uma vez que é delineado com base nas necessidades de clientes específicos. 5.3 Excursões As excursões são roteiros elaborados para viagens em grupo. Em geral, incluem a visitação a diversos atrativos no destino, além de atrativos menores ao longo do percurso. É bastante comum terem como principal meio de deslocamento o transporte terrestre, ou o casamento de aéreo e terrestre em viagens internacionais. As excursões são compostas por transporte, hospedagem, programação de lazer e alimentação, bem como roteiros menores chamados de city tours. Dentro da terminologia turística, excursão pode ainda se referir a passeios curtos de ida e volta no mesmo dia. Nesse caso, o roteiro é realizado em ônibus fretados para grupos de pessoas que geralmente já se conhecem: grupos escolares, empresas ou grupos de amigos, por exemplo. 5.4 City tour City tour é uma modalidade de roteiro menor criado para apresentar os atrativos de uma cidade, geralmente com foco em história, cultura e fatos curiosos sobre a localidade. Também chamados de sightseeing, são passeios com explicações contextualizadas que ajudam os turistas a se localizarem melhor no espaço urbano, facilitando o consumo do produto turístico e estimulando a permanência dos turistas tempo na cidade. Podem ser realizados a pé ou em veículos motorizados, como ônibus com vista panorâmica. Podem ser acompanhados por um guia de turismo profissional ou ainda fornecer informações previamente gravadas em audioguias. Um city tour pode ainda ser aquele básico, com os principais atrativos da cidade, ou temático. No Brasil, um exemplo interessante de city tour é a Linha Turismo da cidade de Curitiba. Trata-se de uma linha de ônibus especial que passa por 24 pontos turísticos da cidade. Para embarcar, o passageiro adquire um cartão individual, que dá direito a um número ilimitado de embarques na linha em um período de 24 horas após o primeiro embarque. 17 Outro exemplo de city tour interessante são os walking tours em Berlim. São city tours temáticos realizados a pé na companhia de um guia de turismo, e podem ser gratuitos ou pagos. É uma ótima maneira de conhecer uma cidade e saber mais sobre a sua história. Saiba mais Conheça os detalhes sobre a Linha Turismo e alguns exemplos de walking tours em Berlim: CURITIBA. Linha Turismo. URBS. Disponível em: <https://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/transporte/linha-turismo/>. Acesso em: 26 set. 2019. WALKING TOURS and activities in Berlin. NewEurope. Disponível em: <https://www.neweuropetours.eu/berlin-walking-tours/>. Acesso em: 26 set. 2019. TROCANDO IDEIAS Ao longo da aula, estudamos conceitos referentes aos roteiros turísticos e tivemos contato com alguns exemplos. Para que possamos refletir sobre o impacto de um roteiro no destino, trago como sugestão de leitura o artigo acadêmico “Espaços turísticos construídos no Complexo do Alemão por roteiros comerciais”. Acesse o link e leia o texto para que possamos discutir suas características e sua importância para a comunidade onde foi desenvolvido. Durante a leitura, tente identificar em que classificações esse roteiro poderia se encaixar. Vamos compartilhar as impressões sobre o texto em um fórum. MEES, L. A. L. Espaços turísticos construídosno Complexo do Alemão por roteiros comerciais. Revista Iberoamericana de Turismo, v. 5, 2015. Disponível em: <http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur/article/view/1672/122 6>. Acesso em: 26 set. 2019. NA PRÁTICA Agora que você já sabe as características e classificações de um roteiro turístico, está na hora de colocar os novos conhecimentos em prática. Vamos retornar a ideia da viagem para Buenos Aires apresentada no início da aula? Considerando que você foi o sortudo que ganhou a viagem de três dias para a capital argentina, agora está na hora de planejar o roteiro turístico da viagem. 18 Descreva o roteiro turístico que você pretende fazer com base nas seguintes perguntas: Qual a sua motivação ou motivações para a realização dessa viagem? O que você pretende ver em Buenos Aires? Quais as principais características do seu roteiro de acordo com o conteúdo estudado? Como você classificaria o seu roteiro? Justifique suas escolhas por meio dos conceitos apresentados. FINALIZANDO Esperamos que agora você seja capaz de conceituar o que é um roteiro turístico e quais suas principais características. Vimos que os roteiros podem variar muito de acordo com público-alvo, objetivos e temas. Saber a motivação de quem vai viajar e quais os atrativos que um destino pode oferecer são importantes aspectos na hora de elaborar um roteiro turístico, seja ele comercial ou institucional. Vale ressaltar que um roteiro turístico tem como principais objetivos: promover um destino turístico; divulgar atrativos turísticos consolidados, bem como aqueles menos conhecidos; incentivar a permanência do turista no destino por mais dias, contribuindo consequentemente para que ele gere renda para a localidade visitada, uma vez que seus gastos aumentam; além de atrair novos turistas e contribuir para a sustentabilidade do produto turístico. 19 REFERÊNCIAS BAHL, M. Viagens e roteiros turísticos. Curitiba: Protexto, 2004. BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de regionalização do turismo: roteiros do Brasil. Módulo Operacional 7: Roteirização Turística. Brasília: Ministério do Turismo, 2007. DE STEFANI, C. Elaboração de roteiros turísticos: do planejamento a precificação. Curitiba: InterSaberes, 2015. MOLETTA, V. F. Comercializando um destino turístico. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002. PETROCCHI, M.; BONA, A. Agências de turismo: planejamento e gestão. São Paulo: Futura, 2003. RICHTER, M. et al. Elaboração de roteiros. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2016. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Turismo: relatório de inteligência. Brasília: Sebrae, 2018. SILVA, G. T.; NOVO, C. B. M. C. Roteiro turístico. Manaus: Cetam, 2010. SWARBROOKE, J.; HORNER, S. O comportamento do consumidor no turismo. São Paulo: Aleph, 2002. TAVARES, A. M. City tour. São Paulo: Aleph, 2002.
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